Soneto: Quando olho para mim não me percebo
ÀLVARO DE CAMPOS
Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei.
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante às sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
PESSOA, Fernando. Obra
poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1974. p. 301.
Fonte: Português. Série
novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão.
Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 447.
Entendendo o soneto:
01 – Qual é a principal
angústia expressa pelo eu lírico no poema?
A principal
angústia do eu lírico é a dificuldade em definir a própria identidade e a
incerteza sobre a autenticidade de suas sensações. Ele questiona se o que sente
é realmente verdadeiro e se a imagem que tem de si mesmo corresponde à
realidade.
02 – Como o eu lírico descreve
sua relação com as próprias sensações?
O eu lírico se
sente perdido em meio às próprias sensações, como se elas o desviassem de si
mesmo. Ele menciona que o ar que respira e a bebida que consome fazem parte de
seu modo de existir, mas não consegue concluir o que sente.
03 – Qual a metáfora utilizada
no último verso do poema e qual o seu significado?
No último verso,
o eu lírico se compara a um "ateu" diante de suas próprias sensações.
Essa metáfora expressa a descrença e a dúvida em relação à autenticidade do que
sente, como se não acreditasse que as sensações realmente emanassem dele.
04 – Qual é o tema central
abordado no soneto?
O tema central do
soneto é a busca pela identidade e a dificuldade em definir o "eu". O
eu lírico questiona a própria existência e a veracidade de suas sensações,
expressando uma profunda angústia existencial.
05 – Como a estrutura do
soneto contribui para a expressão da angústia do eu lírico?
A estrutura do
soneto, com seus 14 versos e rimas precisas, cria um ritmo que intensifica a
sensação de aprisionamento e reflexão introspectiva. A forma fixa do soneto
contrasta com a fluidez das dúvidas existenciais do eu lírico, criando um
efeito de tensão que ressalta a angústia expressa no poema.