terça-feira, 30 de maio de 2017

TEXTO: SÓLIDO - DÂMARIS VERSIANI CALDEIRA GONÇALVES - COM GABARITO

TEXTO  - Sólido

Quase quatro anos atrás, estava eu escolhendo em que instituição cursar o 3º ano do Ensino Médio. À época, eu já era conhecida entre os colégios da cidade pelo bom desempenho escolar, além de pelo hábito de “mudar de escola como se trocasse de meias”. Fiz listas comparando um colégio com o outro, tentando matematicamente acertar na minha escolha – afinal, os vestibulares ao fim do 3º ano representavam uma etapa decisiva na minha vida, e eu precisava me preparar da melhor forma possível. Foi então que resolvi abandonar meus algoritmos, que mais me atrapalhavam do que me ajudavam a decidir, e passei a considerar o convite de um grande amigo, me matriculando no novo colégio da cidade: o Sólido. Ao primeiro momento, a ideia, antagonicamente, pareceu-me muito “Gasosa”, conforme a piada da época. Era uma concepção diferente de ensino, que prometia tanto o suporte teórico necessário para as provas, quanto também um apoio emocional – este colocado tão em primeiro plano quanto a teoria ministrada em sala de aula. Os primeiros dias de aula foram um pouco tensos. Professores de quem já havia ouvido falar muito, apesar de nunca ter tido aula com eles antes. Poucos colegas conhecidos. O sinal para a troca de horários tocava uma marchinha de carnaval, a princípio, muito assustadora. A carga horária do 3º Federal relativamente puxada, e as minhas incertezas: será que esse esquema de rever a matéria dos anos anteriores e ainda a deste ano vai prestar? Aos poucos, o medo foi se dissipando, e o aconchego que consegui encontrar em sala de aula realmente “solidificou” as minhas ideias, reestruturou minha confiança em mim mesma. Encontrei, naquela sala no Ibituruna Center, uma extensão da minha família, a qual eu alegremente adicionei ao meu “genograma”. Conheci pessoas que acrescentaram a mim novas experiências de vida, e que entendiam a minha apreensão sobre o futuro, mas que sabiam me aconselhar sem que eu me sentisse pressionada. Por fim, o caminho para a faculdade de medicina na Unimontes, tão almejado pela maioria dos estudantes do nível médio, tornou-se muito mais natural, ao menos mais confortável de ser percorrido. Hoje, sinto-me feliz por ainda ser lembrada pela equipe do Sólido, e gostaria de expressar que essa consideração é recíproca. Um dia – dependendo dos rumos que a profissão médica tomar neste país –, retribuirei a vocês todo o carinho na forma de assistência à saúde. Só não prometo à professora Eva que a letra continuará legível; o apreço, porém, esse os anos não alteram.
Grande abraço!
 Dâmaris Versiani Caldeira Gonçalves.
 QUESTÃO 01
 De acordo com o texto, pode-se afirmar quanto à decisão da autora de vir estudar no Sólido, EXCETO:
 A) teve a influência do convite de um grande amigo.
 B) chegou a cogitar que a escola poderia ser adversa ao significado de seu próprio nome e à modalidade de ensino proposta.
 C) fez comparações entre várias escolas, pois sua decisão não devia ir de encontro às expectativas já bem delineadas para o fim do seu 3º ano.
 D) fez uma escolha imediata e imponderada.

 QUESTÃO 02
Depreende-se do texto que a autora não só encontrou no Sólido o respaldo para suas expectativas em relação a resultados em vestibulares, mas também valores que foram somados à sua formação. Qual o trecho que endossa a afirmação?
 A) “... o aconchego que consegui encontrar em sala de aula realmente ‘solidificou’ as minhas ideias...”
 B) “Hoje, sinto-me feliz por ainda ser lembrada pela equipe do Sólido...”
 C) “Encontrei, naquela sala do Ibituruna Center, uma extensão da minha família...”
 D) “Conheci pessoas que acrescentaram a mim novas experiências de vida, e que entendiam a apreensão sobre o meu futuro, mas que sabiam me aconselhar sem que eu me sentisse pressionada.”


CRÔNICA: A TURMA - DOMINGOS PELEGRINI - COM GABARITO

CRÔNICA: A TURMA
                                             Domingos Pelegrini

          Eu também já tive turma, ou melhor, fiz parte de turma e sei como é importante em certa idade essa entidade, a turma. A gente é um ser racional, menos quando em turma. Existe, por exemplo, alguma razão para um grupo de pessoas sentar todo dia numa escadaria ou meio-fio e passar horas conversando? Você pode falar a um filho, por exemplo, que refrigerantes engordam e chocolates dão mais espinhas em quem já está na idade das espinhas. Ele nem ouvirá. Mas, se um dia a turma resolver, ele passará a tomar só água com limão e pegará nojo de chocolate. Você pode falar que cabelo tão comprido é incômodo, calorento, atrapalha, mas que nada, ele te pedirá dinheiro para comprar mais xampu. Agora, se a turma resolver cortar careca, ele aparecerá de repente careca no café da manhã e nem quererá falar no assunto – qual o problema em cortar careca? Você pode dizer que bossa nova é bom, e mostrar jornais e revistas, provar que só “Garota de Ipanema” já recebeu centenas de gravações em todo o mundo, mas ele aumentará o volume do rock pauleira ou da tecno-bost. Até o dia em que alguém da turma aparece com um CD de bossa nova e ele troca Axel Rose por Tom Jobim de um dia para o outro. A turma tem modas, como quando resolvem todos arregaçar as barras das calças, que usavam arrastando pelo chão. A turma tem traumas, como quando o namoradinho de uma se apaixona pela namoradinha de outro e ... A turma tem linguagem própria, uma variante local de um ramal regional da vertente adolescente da língua. A turma adora sentar na calçada e na praça e falar sobre o que viram em casa na televisão. A turma tem duplas de amigos e amigas mais chegados, e trios, e quartetos, que num grande minueto anarquista se misturam nas festas de aniversário. Ninguém da turma dança até que alguém da turma começa a dançar, aí dançam todos trocando de par até acabarem dançando todos juntos como turma que são. Um da turma se tatua, todos da turma querem se tatuar. Um bota uma argola no nariz, os outros, para variar, botam no lábio, na sobrancelha e na orelha e... A turma é isso aí, cara, uma reunião diária de espinhas e inquietações, habilidades e temperamentos, o baralho das personalidades se misturando, o jogo das informações e dos sentimentos rolando nas conversas sem fim, nas andanças sem cansaço, nas músicas compartilhadas, no refri com três canudos e uma empadinha pra quatro. Na turma pouco dá pra todos, todo mundo divide, cada um contribui, a turma se une partilhando e repartindo. A turma ri como só na turma se ri. A turma julga quando erramos. A turma castiga com silêncios e ironias.
A turma te chama, te reprime, te liberta, te revela, te rebela, te maltrata, te orgulha, te ama e te envolve, te afasta e te atrai, mas a turma é assim porque a turma é a turma. Até o dia em que – disse a todos meus filhos – cansamos de ter turma e passamos a ser gente. E todos me disseram que sou um chato, mas o primogênito hoje já concorda: o tempo da turma passa. Mas, aqui entre nós, como dá saudade!

 PELEGRINI, Domingos. Ladrão que rouba ladrão e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2004.

 Glossário
 “Garota de Ipanema”: canção de Tom Jobim e Vinícius de Morais, uma das expressões máximas do movimento musical chamado Bossa Nova.
 Meio-fio: arremate das calçadas; guia.

 QUESTÃO 01.
 Conforme sugere o título, o texto tem como tema a turma. Que aspecto relacionado ao tema é abordado nele de modo especial?
 A) A influência da família e da sociedade sobre o comportamento do adolescente.
 B) A influência do grupo de adolescentes sobre cada um de seus integrantes.
 C) A influência dos pais dos adolescentes sobre a turma.
 D) O sentimento de revolta do adolescente em relação às pressões do grupo social.

 QUESTÃO 02.
 Indique, entre os itens que seguem, aquele que traduz melhor a postura do narrador em relação ao tema abordado.
 A) Com um olhar adulto e distanciado, o narrador faz uma crítica ao comportamento infantil e dependente dos adolescentes que participam de uma turma.
 B) Com uma visão saudosista, o narrador se lembra dos bons momentos que viveu com sua turma e do quanto foi feliz naquela época.
 C) O narrador faz uma reflexão crítica sobre o comportamento dos adolescentes que vivem em turmas, mas dá ao tema um enfoque pessoal e sentimental.
D) De uma maneira impessoal, o narrador faz uma reflexão crítica sobre o comportamento dos adolescentes que vivem em turmas.

 QUESTÃO 03.
 No trecho “Na turma pouco dá pra todos, todo mundo divide, cada um contribui”, que princípio ou valor é destacado positivamente no comportamento da turma?
 A) a inveja, a ganância.
 B) as partilha, a indiferença.
 C) a solidariedade, a partilha.
 D) a felicidade, a alegria.


 QUESTÃO 04.
 No 2º parágrafo, o narrador afirma que, quando em turma, o adolescente perde a racionalidade. Para comprovar seu ponto de vista, ele apresenta argumentos embasados no comportamento dos adolescentes. Qual argumento NÃO foi utilizado pelo autor?
 A) Ficar horas conversando sentados num meio fio.
 B) Trocar o hábito de comer chocolate por tomar só água com limão.
 C) Trocar o uso de cabelo comprido pelo corte careca.
 D) Não assistir a programas de televisão.

QUESTÃO 05.
Considerando o texto I, é CORRETO afirmar:
 A) defende um ponto de vista.
 B) narra fatos fictícios.
 C) transmite conhecimentos.
 D) orienta comportamentos.

 QUESTÃO 06.
Assinale, entre as alternativas abaixo, a que apresenta uma oração com sujeito oculto.
 A) “o tempo da turma passa.”
 B) “A turma castiga com silêncios e ironias.”
 C) “A gente é um ser racional...”
 D) “... fiz parte da turma...”

 QUESTÃO 07.
 Releia a frase: “Agora, se a turma resolver cortar careca, ele aparecerá de repente careca no café da manhã e nem quererá falar no assunto – qual o problema em cortar careca?” Os verbos em destaque expressam:
 A) ideia de uma ação ocorrida no passado e anterior a outra ação também passada.
 B) ideia de uma ação futura que ocorreria desde que uma condição fosse atendida antes.
 C) ideia de uma ação habitual ou contínua.
 D) ideia de uma ação que ocorrerá num futuro em relação ao tempo atual.

 QUESTÃO 08.
 De acordo com a nova regra de ortografia, qual sequência de palavras se encaixa no mesmo grupo de acentuação?
 A) incômodo / própria.
 B) primogênito / alguém.
 C) silêncios / aniversário
 D) aí / três

QUESTÃO 09.
Em qual das orações um pronome substantivo NÃO foi destacado?
A) “E todos me disseram que sou um chato (...)”.
 B) “Ele nem ouvirá.”
 C) “Até o dia em que – disse a todos meus filhos (...).”
 D) “A turma te chama”.

domingo, 28 de maio de 2017

CONTO: LAVADEIRAS DE MOSSORÓ- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

CONTO:  LAVADEIRAS DE MOSSORÓ
                 Carlos Drummond de Andrade

        As lavadeiras de Moçoró, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo. As pedras tem um polimento que revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo modo à figura física de quem as usa. Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas tem ar próprio, que não se presta a confusão.
        A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento.
        Na pobreza natural das lavadeiras, as pedras são uma fortuna, joias que elas não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos.
                                                                             ANDRADE, C. D. Contos sem propósito. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, Caderno B, 17/7/1979 

a)     Que palavras e expressões o autor usa para falar da hereditariedade das pedras do rio?
Por exemplo: “passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando às águas no tempo”.

b)    Como o autor descreve fisicamente as lavadeiras? Compare a descrição com a das pedras.
A descrição é metafórica: as lavadeiras são descritas como “espelho” das pedras. “Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas tem ar próprio, que não se presta a confusão.”

c)     Como a ideia de trabalho relaciona pedra e lavadeira?
A lavadeira e a pedra formam um ente especial que se divide e se unifica ao sabor do trabalho.

d)    Destaque algumas expressões empregadas conotativamente (em sentido figurado) no texto.
Por exemplo: “Vão passando as águas do tempo”, “Se divide e unifica ao sabor do trabalho”, “A pedra a acompanha em surdina”, “Canto murmurante vem da pedra”.

e)     Imagine se o autor tivesse usado menos “imagens”, tivesse usado outras palavras para falar sobre o trabalho das lavadeiras de Moçoró. O texto poderia continuar como literário? Por que?
Depende de como o autor se expressasse. Poderia manter a poeticidade, com imagens diferentes; como poderia fazer um texto mais “objetivo” e produzir um gênero não literário.


MÚSICA(ATIVIDADES): CONSTRUÇÃO - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

MÚSICA(ATIVIDADES):  CONSTRUÇÃO


                                                                   CHICO BUARQUE
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com sua passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E acabou no chão como um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público.

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão como um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.

                                                                               Chico Buarque (Chico ao vivo).

1 – Que visão sobre a vida do operário o texto revela?
       O texto mostra o operário como vítima do sistema social.

2 – Algumas das comparações introduzidas pela expressão “como se fosse” são inesperadas. Por quê?
       Primeiramente porque a repetição da estrutura aponta para imagens múltiplas. Depois, porque versos, como, por exemplo, “bebeu e soluçou como se fosse máquina” criam o “inesperado” por atribuírem ações humanas a máquinas. As imagens formadas pelas combinações inesperadas identificam, então, o operário com a máquina. Especialmente na segunda estrofe, existem aparentes incompatibilidades entre as comparações propostas.

3 – Com qual finalidade você acha que o autor fez essas comparações não convencionais?
       Há várias possibilidades de resposta. Uma poderia ser: pelo prazer de “brincar com as ideias” e com as palavras; mas também para desestabilizar uma leitura previsível do texto.

4 – Observe as palavras finais do texto. O que têm em comum? Que efeito causam no leitor ouvinte?
       Partes das estruturas sintáticas são “deslocadas” para outras estruturas e sofrem um rearranjo sintático que provoca novas significações conotativas.

5 – A forma desse poema faz lembrar um jogo de quebra-cabeças. Como as palavras ou expressões linguísticas podem ser deslocadas para funcionar como peças desse quebra-cabeças? Dê alguns exemplos.
       Algumas situações seriam com finalidades lúdicas, com finalidades de crítica ou protesto social, com a finalidade de recuperar as ideias de uma época, com finalidades didáticas...

6 – Cite algumas situações sociais em que seria cantado ou lido esse texto Com quais finalidades?
       Pelo engajamento social, o texto representa uma forma de protesto “escondido” em um gênero poético, artístico.

7 – Escreva, em forma de prosa, algumas das informações que o texto Construção traz.
       No geral, as informações apontam para uma crítica às situações de desigualdade social e exploração do trabalhador.

8 – Compare sua resposta da questão anterior com texto original: o que foi mantido igual? O que ficou diferente?
       No geral, a maneira de expressar as ideias vai ser diferente. Também as finalidades serão diferentes. O tema deve ser mantido.

9 – Os gêneros textuais de seu texto e do texto de Chico Buarque são os mesmos? Por quê?
       Mas, no geral, se não for escrito em forma de poema, os gêneros tendem a ser diferentes: diferentes interlocutores, diferentes situações sócio comunicativas, diferentes explorações das significações linguísticas.

10 – Como o tema aproxima os dois textos?
       Os dois textos apresentam visões semelhantes de mundo a respeito da exploração do trabalhador e da desigualdade social.

11 – Que opinião a respeito do trabalhador você acha que os autores querem formar nos leitores?
       Mas a tônica das mensagens é de crítica social, de tomada de posição contra a exploração capitalista e a desigualdade por ela gerada.

12 – Que características textuais são semelhantes nos dois textos?
       Além de respeitarem o emprego da norma culta, os textos também empregam rimas e métrica, figuras de linguagem, e jogo de significações nas estruturas sintáticas.

13 – As características comuns aos dois textos são suficientes para classifica-los como pertencentes ao mesmo gênero textual? Por quê?

       SIM. Os traços caracterizadores do gênero poesia estão muito marcados nos dois textos.



GÊNEROS TEXTUAIS COMO PRÁTICAS SÓCIO-HISTÓRICAS- A.P.DIONÍSIO - COM GABARITO

1 – Gêneros textuais como práticas sócio históricas

       Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades sócio discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades socioculturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita.
        Quanto a esse último aspecto, uma simples observação histórica do surgimento dos gêneros revela que, numa primeira fase, povos de cultura essencialmente oral desenvolveram um conjunto limitado de gêneros. Após a invenção da escrita alfabética por volta do século VII A.C., multiplicaram-se os gêneros, surgindo os típicos da escrita. Numa terceira fase, a partir do século XV, os gêneros expandiram-se com o florescimento da cultura impressa para, na fase intermediária de industrialização iniciada no século XVIII, dar início a uma grande ampliação. Hoje, em plena fase da denominação cultura eletrônica, com o telefone, o gravador, o rádio, a TV, e, particularmente, o computador pessoal e sua aplicação mais notável, a internet, presenciamos uma explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita.
        Isto é revelador do fato de que os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades linguísticas e estruturais. São de difícil definição formal, devendo ser contemplados em seus usos e condicionamentos sócio pragmáticos caracterizados como práticas sócio discursivas. Quase inúmeros em diversidade de formas, obtêm denominações nem sempre unívocas e, assim como surgem podem desaparecer.
[...]
2 – Novos gêneros e velhas bases

       Como afirmado, não é difícil constatar que nos últimos dois séculos foram as novas tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação, que propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais. Por certo, não são propriamente as tecnologias per se que originam os gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias. Assim, os grandes suportes tecnológicos da comunicação tais como rádio, a televisão, o formal, a revista, a internet, por terem uma presença marcante e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros novos bastante característicos. Daí surgem formas discursivas novas, tais como editoriais, artigos de fundo, notícias, telefonemas, telegramas, telemensagens, teleconferências, videoconferências, reportagens ao vivo, cartas eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais, aulas virtuais e assim por diante.
        Seguramente, esses novos gêneros não são inovações absolutas, quais criações ab ovo, sem uma ancoragem em outros gêneros já existentes. O fato já fora notado por Bakhtin (1997) que falava na transmutação dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro gerando novos. A tecnologia favorece o surgimento de formas inovadoras, mas não absolutamente novas. Veja-se o caso do telefonema, que apresenta similaridade com a conversação que lhe preexiste, mas que, pelo canal telefônico, realiza-se com características próprias. Daí a diferença entre uma conversação face a face e um telefonema com as estratégias que lhe são peculiares. O e-mail (correio eletrônico) gera mensagens eletrônicas que têm nas cartas (pessoais, comerciais, etc.) e nos bilhetes, seus antecessores. Contudo, as cartas eletrônicas são gêneros novos com identidades próprias, como se verá no estudo sobre gêneros emergentes na mídia virtual.
        Um aspecto central no caso desses e de outros gêneros emergentes é a nova relação que instauram com o usos da linguagem como tal. Em certo sentido, possibilitam a redefinição de alguns aspectos centrais na observação da linguagem em uso, como, por exemplo, a relação entre a oralidade e a escrita, desfazendo ainda mais as suas fronteiras. Esses gêneros que emergiram no último século no contexto das mais diversas mídias criam formas comunicativas próprias com um certo hibridismo que desafia as relações entre oralidades e escrita e inviabiliza de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino de língua. Esses gêneros também permitem observar a maior integração entre os vários tipos de semioses: signos verbais, sons, imagens e formas em movimento. A linguagem dos novos gêneros torna-se cada vez mais plástica, assemelhando-se a uma coreografia e, no caso das publicidades, por exemplo, nota-se uma tendência a servirem-se de maneira sistemática dos formatos de gêneros prévios para objetivos novos. Como certos gêneros já tem um determinado uso e funcionalidade, seu investimento em outro quadro comunicativo e funcional permite enfatizar, com maior vigor, os novos objetivos.
        Quanto a este último aspecto, é bom salientar que embora os gêneros textuais não se caracterizem nem se definam por aspectos formais, sejam eles estruturais ou linguísticos, e sim por aspectos sócio comunicativos e funcionais, isso não quer dizer que estejamos desprezando a forma. Pois é evidente, como se verá, que em muitos casos são as formas que determinam o gênero e, em outros tantos, serão as funções. Contudo, haverá casos em que o próprio suporte ou o ambiente em que os textos aparecem que determinam o gênero presente. Suponhamos o caso de um determinado texto que aparece numa revista científica e constitui um gênero denominado “artigo científico”; imaginemos agora o mesmo texto publicado num jornal diário e então ele seria um “artigo de divulgação científica”. É claro que há distinções bastante claras quanto aos dois gêneros, mas para a comunidade científica, sob o ponto de vista de suas classificações, um trabalho publicado numa revista científica ou num jornal diário não tem a mesma classificação na hierarquia de valores da produção científica, embora seja o mesmo texto. Assim, num primeiro momento podemos dizer que as expressões “mesmo texto” e “mesmo gênero” não são automaticamente equivalentes. Desde que não estejam, no mesmo suporte. Estes aspectos sugerem cautela quanto a considerar o predomínio de formas ou funções para a determinação e identificação de um gênero.
[...]
                         Retirado de Dionísio, A.P. et alii. Gêneros Textuais & Ensino.
                                                                  Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002.

1 – Por que gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa?
       Porque são eventos textuais altamente maleáveis e estão ligados às atividades socioculturais. São flexíveis e variam de acordo com as necessidades de comunicação.

2 – Por que os gêneros são caracterizados como práticas discursiva, ou práticas sócio comunicativas, e não como práticas linguísticas?
       Por que o mais relevante na sua definição é a situação de comunicação, a prática de sua realização, e não sua forma linguística.

3 – A palavra “suporte” aparece várias vezes no texto para designar algo ligado ao texto e ao gênero. A partir do contexto, a que você acha que ela se refere? Dê alguns exemplos.
       “Suporte” pode ser o veículo, o canal usado para a comunicação; o objeto concreto onde se apoia o texto: livro, som, celular, internet, revistas, etc.

4 – A partir do que diz o texto, como você acha que surgem novos gêneros?
       Surgem a partir de inovações culturais, do uso constante de novos meios de comunicação; mas não são completamente novos: Apoiam-se em gêneros já conhecidos que mantêm com eles alguma semelhança.

5 – Por que desaparecem gêneros antigos?
       Desaparecem porque deixam de ter relevância cultural, quando novas tecnologias os substituem.

6 – Como se comportam os novos gêneros em relação às fronteiras entre oralidade e escrita?
       Os novos gêneros tendem a desfazer ou a enfraquecer as fronteiras entre oralidade e escrita, porque são mais plásticos, mais maleáveis. Integram signos de várias naturezas.

7 – Que aspectos podem servir de critério para a classificação de um gênero?
       Podem ser aspectos formais (linguísticos, estilísticos) e funcionais (culturais); podem estar ligados ao suporte ou ao objetivo.


quinta-feira, 25 de maio de 2017

TEXTO: CULTURA E LIBERDADE - EDSON OLIVEIRA - COM GABARITO

CULTURA E LIBERDADE

        Ser livre implica poder optar racionalmente entre duas coisas. É precisamente o caráter racional dessa opção que faz da cultura a base, por excelência, da liberdade.
        Com efeito, toda e qualquer escolha instintiva, inconsciente ou desavisada pode, inclusive, ser feliz ou correta; mas nunca será gesto de liberdade na plenitude da palavra.
        É, pois, a cultura, entendida como posse, o mais integral possível dos valores científicos, morais ou filosóficos, que nos possibilita julgá-los, elegê-los conscientemente, depô-los ou retificá-los. E isso é ser livre.
        Os sábios antigos, que foram levados à prisão em nome de postulados que seus contemporâneos não admitiam, constituem, paradoxalmente, expressivo exemplo de homens livres. A prisão não os privou de sua eleição íntima e consciente; não os tornou, por conseguinte, menos livres. Certamente, eles viram em sua segregação social, não a perda da liberdade, mas o preço a pagar por tê-la exercido plenamente.
        No mundo atual, em que opções políticas, religiosas, sociais e ideológicas as mais dedicadas se nos impõem, a cultura já não é apenas um meio de chegar à liberdade, porém uma arma a utilizar na preservação dela.
        Continuemo-nos, portanto. Pensar em liberdade sem ter cultura é como querer voar, tendo apenas condições para arrastar-se.
                                                                                                      EDSON OLIVEIRA.
1 – Qual a tese do autor?
       Ser livre implica poder optar, racionalmente, entre duas coisas.

2 – De que argumentos ele se utiliza para sustentar a sua tese?
       Diz-nos que o caráter racional dessa opção é que faz da cultura a base da liberdade e que a escolha, racionalmente feita, será um gesto de plena liberdade.

3 – De que recursos ele se utilizou para precisar seus argumentos?
       Utilizou-se de exemplos.

4 – Entendido o texto, que relação semântica você percebe no título escolhido?
       Percebe-se a relação de causa e consequência.

5 – Que outro título daria ao texto?
       Resposta pessoal.
6 – Qual o seu ponto de vista quanto ao assunto dissertado?
       Resposta pessoal.



CRÔNICA: O "S" DO PROBLEMA - PAULO MENDES CAMPOS - COM GABARITO

CRÔNICA - O "S" DO PROBLEMA
                 Paulo Mendes Campos
O jovem engenheiro, desde estudante, dividira o tempo entre os livros e os exercícios atléticos, do gênero força e saúde. Assim, quando viu que o encarregado da obra era um português que não tinha mais tamanho, gostou. Gostou porque os fortes se entendem e só confiam na força. Mas uma soturna rivalidade foi também se criando entre os dois. Que, entre dois fortes, fica infalivelmente suspensa no ar a tentação de saber quem é o mais forte. Um dia, o engenheiro chamou o encarregado:
– Mande dois homens para arrancar a moldura do concreto da laje.
O português sorriu com menoscabo:
– Dois homens, doutor?! Eu cá num abrir de olhos faço a coisa.
E zás-trás, plac-ploc, o encarregado foi arrancando com violência as peças de madeira que protegiam o concreto, enquanto o doutor o contemplava na faina hercúlea, entre embevecido e safado da vida. Aquilo lhe chegava como um desafio pessoal e ameaça à autoridade.
Três dias depois, parte-se a peça de ferro que prende a caçamba ao guincho. O engenheiro arranjou um bom pedaço de ferro retilíneo e foi ao português:
– Faça um S com este ferro.
O homem foi saindo com a barra na mão.
– Ei, onde você vai?
– Vou fazer o S no torno.
O engenheiro tomou-lhe a barra.
– Torno? Pra que torno?
Zás-trás, plac-ploc, sob o olhar pasmado do português, nosso amigo fez da peça de ferro um S perfeito.
– Tome isto. E fique sabendo que quem manda aqui sou eu! Tá?
(Paulo Mendes Campos)

Marque a única opção correta.
1. “O jovem engenheiro, desde estudante, dividira o tempo entre os livros e os exercícios atléticos, do gênero força e saúde.” Nesta passagem, o narrador nos leva a concluir que ele:
a.( ) critica o jovem engenheiro porque, como estudante, ele só devia estudar.
b.( ) ridiculariza o jovem engenheiro, porque força bruta não vai bem com capacidade intelectual.
c.( ) elogia o jovem engenheiro por fazer a união entre competência profissional e força física.
d.( ) louva o jovem por aproveitar o tempo livre em exercícios atléticos, ao invés de ficar sem fazer nada.
e.( ) considera irrelevante o fato de o jovem engenheiro ter-se dedicado também a exercícios atléticos.
2. “Soturna rivalidade” é o mesmo que rivalidade:
a.( ) permanente
b.( ) aparente
c.( ) ostensiva
d.( ) irracional
e.( ) dissimulada
3. Com a resposta: “… Eu cá num abrir de olhos faço a coisa”, o português revela-se:
a.( ) insubordinado
b.( ) competente
c.( ) orgulhoso
d.( ) prestativo
e.( ) ofendido
4. “Zás-trás, plac-ploc”, a onomatopeia dá ideia de:
a.( ) força
b.( ) rapidez
c.( ) concentração
d.( ) falta de jeito
e.( ) cautela
5. “Tá?”, esta expressão final, típica da linguagem popular, dá a entender que o engenheiro:
a.( ) fazia uma pergunta
b.( ) mostrava dúvidas
c.( ) afirmava categoricamente
d.( ) exclamava contente
e.( ) queria ouvir a opinião de outra pessoa.