Texto: O Futuro da Comida: Cinco
passos para alimentar o mundo.
Embora
as pequenas propriedades sejam menos produtivas que as do agronegócio, elas
geram maior proporção de alimentos para o consumo humano
Jonathan
Foley
Onde encontrar comida para 9 milhões de
pessoas?
Ameaças ao meio ambiente costumam ser
logo associadas à fumaça emitida por carros e chaminés – jamais a almoços e
jantares. Nossa fome, porém, tem sido um perigo para a natureza.
A agricultura está hoje entre
os maiores responsáveis pelo aquecimento global por lançar na
atmosfera uma quantidade de gases associados ao efeito estufa maior
que a de todos os carros, caminhões, trens e aviões juntos – sobretudo sob a
forma de gás metano (produzido na digestão do gado e em plantações de arroz),
do óxido nitroso (oriundo dos campos cultivados) e do dióxido de carbono
(liberado pelo desmatamento em regiões tropicais com o objetivo de abrir novas
plantações e pastagens). O setor agrícola é o maior usuário dos nossos
preciosos suprimentos de água doce e um dos maiores poluidores, na medida em
que a drenagem de água, mesclada a fertilizantes e excrementos, perturba o
frágil equilíbrio de lagos, rios e ecossistemas litorâneos em todo o mundo. A
atividade também contribui para a perda de biodiversidade. Sempre que a
fronteira agrícola avança sobre campos e florestas, estamos destruindo hábitats
cruciais.
Os desafios ambientais postos pela agricultura
são imensos e tendem a ficar mais urgentes à medida que nos empenhamos em
satisfazer a fome crescente no planeta. Vamos ter mais 2 bilhões de bocas para
alimentar até meados deste século – seremos 9 bilhões de pessoas. O mero
crescimento demográfico não é o único motivo de necessitarmos de
mais comida. A redução da pobreza ao redor do mundo, sobretudo na China e
na Índia, levou ao crescimento da demanda por carne, ovos e laticínios, assim
como ao aumento da pressão para cultivar mais milho e soja, essenciais na
manutenção dos rebanhos de vacas, porcos e galinhas. Confirmando-se tais
tendências, até 2050 será preciso nada menos que dobrar a quantidade de
alimentos cultivados na Terra.
Infelizmente, a discussão sobre a
melhor maneira de enfrentar o desafio global dos alimentos tornou-se
polarizada demais. Opõe de um lado a agricultura convencional e o agronegócio
global e, de outro, os métodos e os produtores dedicados aos cultivos locais e
orgânicos. Modernas técnicas de mecanização e irrigação, fertilizantes e
sementes geneticamente modificadas podem aumentar a produção. Se priorizados
nas políticas de governos, sitiantes também poderiam produzir mais – sem
recorrer a aditivos sintéticos.
Todos os argumentos estão certos. E, no
fim das contas, não é preciso decidir entre uma coisa e a outra. Há acertos e
erros dos dois lados. O mais sensato seria que explorássemos todas as boas
ideias, o melhor de ambas as posições.
Eu tive o privilégio de liderar um
grupo de cientistas no exame de uma questão simples: de que maneira o mundo
pode duplicar a oferta de alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir os danos
ambientais? Concluímos que, cumprindo cinco etapas, será viável solucionar o
dilema.
PRIMEIRO PASSO Interromper
o aumento do impacto ambiental da agricultura.
Ao longo de quase toda a história,
sempre que se colocava a questão de obter mais comida, derrubavam- se florestas
ou semeavam-se campos de pastagens, ampliando assim a área de cultivo. Hoje
reservamos no mundo para as plantações uma área mais ou menos equivalente à de
toda a América do Sul. Para criar animais, usamos uma quantidade de terras
ainda maior – uma área similar à da África. O impacto da agricultura já
resultou na perda de ecossistemas de uma extremidade a outra do planeta, entre
os quais as pradarias na América do Norte e a Mata Atlântica no
Brasil. Não temos mais condições de aumentar a área de cultivo. Substituir a
floresta tropical por áreas agrícolas é uma das coisas mais destrutivas que
podemos fazer em relação ao ambiente – e raras vezes isso ocorre em benefício
dos 850 milhões de pessoas que ainda passam fome no mundo. A maior parte da
terra desmatada nos trópicos não contribui para a segurança alimentar global:
em vez disso, acaba sendo destinada à criação de gado, ao cultivo de soja para
a produção de rações animais, assim como para o aproveitamento da madeira e do
óleo de palma. Impedir o desmatamento deveria ser uma prioridade absoluta no
mundo atual.
SEGUNDO
PASSO Aumentar a produtividade das plantações existentes.
A partir da década de 1960, a
“revolução verde” ampliou a produtividade agrícola na Ásia e na América Latina
graças a variedades aperfeiçoadas de sementes e ao uso intensivo de
fertilizantes, irrigação e mecanização – ainda que com altos custos ambientais.
Hoje o mundo pode se concentrar em obter melhores resultados em terrenos menos
produtivos – sobretudo na África, na América Latina e no Leste Europeu –, onde
ainda há “hiatos de produtividade” entre os níveis atuais e o que daria para
obter com melhores técnicas agrícolas. Com uso de métodos de cultivo de
tecnologia avançada e de grande precisão, assim como de abordagens
desenvolvidas na agricultura orgânica, seria possível multiplicar várias
vezes a produtividade nessas regiões.
TERCEIRO
PASSO Uso eficiente dos recursos.
A revolução verde dependia do uso
intensivo – e insustentável – da água e de produtos químicos obtidos de
combustíveis fósseis. No entanto, a agricultura comercial vem passando por avanços
enormes, encontrando maneiras inovadoras de aplicar fertilizantes e pesticidas
de forma mais precisa graças a tratores dotados de equipamentos
computadorizados, sensores avançados e aparelhos de GPS. Muitos cultivadores
aplicam misturas de fertilizantes exatamente apropriadas às condições
peculiares do terreno, o que ajuda a minimizar a contaminação por substâncias
químicas das vias fluviais próximas.
O cultivo orgânico também reduz o uso
de água e produtos químicos, ao fazer uso de culturas de cobertura, de
acolchoados e de compostagem para melhorar a qualidade do solo, diminuir a
perda da água e assegurar a contenção de nutrientes. Sitiantes passaram a ter
mais cuidado com a água, substituindo sistemas de irrigação pouco eficientes
por outros mais precisos, como a irrigação por gotejamento sob a superfície.
QUARTO
PASSO Mudanças na dieta.
Vai ser mais fácil alimentar 9 bilhões
de pessoas se uma proporção maior das safras hoje cultivadas servir para a
nutrição humana. Apenas 55% das calorias presentes em safras agrícolas atuais
seguem para a mesa das pessoas. O restante vira ração para animais (cerca de
36%) ou então se converte em biocombustíveis e produtos industriais (por volta
de 9%). Embora muitos de nós consumamos carne, laticínios e ovos de animais
criados em estábulos fechados, apenas uma fração das calorias existentes nas
rações proporcionadas aos rebanhos acaba na carne e no leite que chegam à
nossa mesa. Para cada 100 calorias, nos grãos, com as quais alimentamos os animais,
obtemos apenas 40 novas calorias no leite, 22 nos ovos, 12 na carne de frango,
10 na de porco e meras 3 calorias na carne bovina. Encontrar formas mais
eficientes de criar gado e adotar dietas com menos carne poderia liberar
quantidades substanciais de comida ao redor do mundo. Uma vez que, nos países
em desenvolvimento, é improvável que as pessoas passem a comer menos carne no
futuro próximo, dada a recente melhoria em seu nível de vida, poderíamos nos
concentrar antes nos países já habituados a essa dieta. A redução do cultivo de
safras para a produção de biocombustíveis também seria um jeito eficaz de
ampliar a disponibilidade de alimentos.
QUINTO
PASSO Diminuir o desperdício.
Estima-se que um quarto de todas as
calorias nos alimentos do mundo e até metade do peso total dos alimentos sejam
perdidos ou desperdiçados antes mesmo de chegar aos consumidores. Nos países
ricos, boa parte desse desperdício ocorre em residências, restaurantes e
supermercados. Nos países mais pobres, o alimento em geral se perde no caminho
entre o produtor e o mercado devido à precariedade do armazenamento e do
transporte. No mundo desenvolvido, os consumidores poderiam reduzir o
desperdício por meio de iniciativas simples e fáceis, como servir porções menores,
reaproveitar as sobras e incentivar lanchonetes, restaurantes e supermercados
a tomar medidas contra o desperdício.
EM
CONJUNTO, essas cinco etapas poderiam mais do que duplicar o suprimento
de comida e reduzir o impacto da agricultura sobre o ambiente em todo o mundo.
Mas não vai ser fácil. Essas iniciativas requerem uma grande mudança de
mentalidade e de comportamento. Ao longo de quase toda a história, ficamos
ofuscados pelo impulso desenfreado de sempre extrair mais da terra – desmatando
cada vez mais, cultivando áreas maiores, consumindo recursos sem parar. Temos
de achar uma forma de conciliar a necessidade de produzir mais alimentos com a
preservação do planeta para as gerações futuras.
Este é um momento crucial, no qual enfrentamos
ameaças sem precedentes para a segurança alimentar e a preservação do ambiente.
A boa notícia é que sabemos o que nos cabe fazer. Precisamos agora achar uma
maneira de realizar isso. Enfrentar os desafios alimentares globais vai exigir
de todos um maior cuidado com a comida que colocamos no prato. Teremos de
estabelecer a ligação entre o alimento e aqueles que o produzem e também entre
o alimento e a terra, as bacias fluviais e o clima, que nos garantem a vida.
Enquanto empurramos os carrinhos por entre as gôndolas dos supermercados, as
escolhas que fizermos vão ajudar a definir o nosso futuro.
National Geographic
Entendendo o texto:
01 – Este texto que você
acabou de ler é um(a):
a)
Crônica.
b)
Conto.
c)
Reportagem.
d)
Artigo.
02 – O que você entendeu
sobre o subtítulo?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Embora sendo uma propriedade pequena, ela produz produtos
diversificados e atende aos consumidores.
03 – Que afirmação inesperada
é feita no primeiro parágrafo?
Que o nosso
almoços e jantares é que está sendo o perigo da natureza.
04 – Qual é a intenção do
autor ao apresentar diversas Informações sobre o setor agrícola no segundo
parágrafo?
Prevenir contra a
destruição e a poluição do meio ambiente.
05 – Quais são as formas de
gazes lançado pela agricultura na atmosfera?
São: gás metano, gás óxido nitroso e gás
dióxido de carbono.
06 – Copie a tabela e
preencha-a com as razões pelas quais o autor responsabiliza o setor agrícola
por problemas sérios provocados ao meio ambiente: Os Problemas e suas causas
a)
O aquecimento global.
Lançar na atmosfera uma quantidade de gazes associados ao efeito
estufa maior que a de todos os carros, caminhões, trens e aviões juntos.
b)
Os recursos hídricos.
Poluição com o fertilizantes e excrementos.
c)
A destruição da biodiversidade.
O avanço da fronteira agrícola sobre os campos e as florestas.
07 – O artigo de opinião
explica que o crescimento demográfico não é o único responsável pelo aumento da
necessidade de comida no Mundo. Que outras razões o texto aponta?
A redução da
pobreza ao redor do mundo e o acréscimo da pressão para cultivar mais milho e
soja.
08 – De que modo as ideias
exploradas no texto são resgatadas na conclusão? Preencha corretamente a tabela
a seguir.
a)
Ideias exploradas: De
um lado a agricultura convencional e o agronegócio global e, de outro, os
métodos e os produtores dedicados aos cultivos locais e orgânicos.
b)
Nossa fome é um perigo para a natureza: Com o aumento da população, há um consumo maior de alimentos;
daí, surge o problema: o desmatamento e o uso de inseticidas que prejudicam a
natureza.
c)
Temos de diminuir o: impacto
ambiental da agricultura.
d)
Impacto da agricultura sobre o meio ambiente:
a perda de ecossistemas de uma extremidade a outra do
planeta.
09 – Qual é a conclusão
apontada no artigo, para atender a demanda?
Achar uma forma de conciliar a
necessidade de produzir mais alimentos com a preservação do planeta para as
gerações futuras.
10 – De acordo com o texto,
enumere a 2ª coluna correspondente a 1ª coluna:
1 – Primeiro passo.
2 – Segundo passo.
3 – Terceiro passo.
4 – Quarto passo.
5 – Quinto passo.
(4) Mudanças na dieta.
(2) Aumentar a produtividade das
plantações existente.
(1) Interromper o aumento do impacto
ambiental da agricultura.
(5) Diminuir o desperdício.
(3) Uso eficiente dos recursos.
11 – O que será necessário
fazermos para enfrentar os desafios alimentares globais?
Teremos de
estabelecer a ligação entre o alimento e aqueles que o produzem e também entre
o alimento e a terra, as bacias fluviais e o clima, que nos garantem a vida.