Texto: O
Segredo da Avenida Rebouças
Quando eu era pequeno, minha mãe tinha
uma linda bolsa de contas brancas, com uma alça curta de argolas, parecida com
uma corrente, e um sistema de abrir que era formidável. Lembro que essa bolsa
me marcou. Eu achava que minha mãe ficava linda quando a usava. Naquela época,
a gente morava em São Paulo, perto de uma avenida chamada Rebouças. Nunca
entendi direito o que queria dizer esse nome.
Era um nome estranho, diferente
das ruas que têm nome de gente (em geral, de gente que a gente nunca sabe quem
foi) ou das ruas que têm nome de datas importantes.
Mais tarde, quando comecei a viajar
pelo Brasil, por causa do meu trabalho, encontrei muitas ruas com o mesmo nome
em cidades diferentes. Toda cidade tem uma rua, que em geral é uma avenida,
chamada “7 de Setembro”. Nas cidades pequenas, quase sempre é a rua principal,
ao lado da matriz. Matriz é a igreja mais importante, a maior, que fica numa
praça no centro das cidades.
Além das ruas “7 de Setembro”, sempre
há uma rua “XV de Novembro” (esse XV quer dizer 15, como os romanos escreviam
os números antigamente). Tanto 7 de setembro como 15 de novembro são datas
importantes da História do Brasil. São o Dia da Independência e o da
Proclamação da República. Por isso, viraram nomes de ruas.
Mas há outras datas tão ou mais
importantes que nunca vi em rua nenhuma. Uma delas é 25 de dezembro, dia do
Natal. Alguém conhece alguma rua chamada “25 de Dezembro”? Tudo bem que é uma
festa de uma religião e há pessoas de outras religiões que não comemoram o
Natal. Mas, de qualquer maneira, mexe com todo mundo e é feriado quase em todos
os países. Certamente o dia 25 de dezembro é mais importante do que o dia 9 de
julho (dia da Revolução Constitucionalista). No entanto, há sempre uma avenida
“9 de Julho”.
E, se o motivo principal para as
pessoas virarem nome de rua é a importância do seu feito, por que não temos uma
enxurrada de ruas “Pedro Álvares Cabral”? Afinal, foi o Pedro quem descobriu o
Brasil.
Mas, voltando a avenida Rebouças, descobri
que existe um túnel no Rio de Janeiro com esse nome. E continuo a saber o que
ele significa. Como desde pequeno a avenida Rebouças me faz lembrar da bolsa de
contas brancas da minha mãe, decidi que o nome Rebouças, para mim, quer dizer
“A Bolsa de Novo”.
Querem saber por quê? Oras, quando você
refaz uma coisa, isso quer dizer que você faz de novo. Quando você lembra, você
lembra de novo. Quando você recomeça, você começa de novo. Então, “Re-bouças”,
seria o mesmo que dizer. A bolsa de contas brancas de novo. Dessa maneira,
quando desço a avenida ou atravesso o túnel, é como se eu estivesse vendo
aquela linda bolsa de novo, no banco do carro, ou no colo de minha mãe. E isso
me dá uma grande sensação de alegria.
Acho que para cada um de nós acontecem
coisas desse tipo. Algumas palavras que, quando você ouve, te fazem pensar numa
outra coisa completamente diferente do que ela significa. E daí, pra você, é
como se ela tivesse um sentido secreto. Tente se lembrar de palavras desse
tipo. Como requeijão. Será que não é “queijo de novo”? Não sei. Pense nas
palavras dessa maneira e tenho certeza de que você vai se divertir.
Nando Reis. Revista Zá. São Paulo:
Pinus, n. 1, julho, 1996.
Entendendo o texto:
01 – Com uma única palavra,
indique qual a sua primeira impressão sobre o texto.
Resposta pessoal do aluno.
02 – Qual é o assunto do
texto?
O assunto do
texto é sobre palavras que, ao serem ouvidas, nos fazem pensar numa outra
coisa. Além disso, o autor faz comentários sobre nomes de ruas.
03 – Qual é “o segredo da
avenida Rebouças”?
Para o narrador,
lembra a bolsa da mãe, juntamente com uma grande sensação de alegria.
04 – Que expressões o autor
utiliza para caracterizar a palavra Rebouças?
A bolsa de novo, nome estranho.
05 – O que levou o narrador
a considerar que “Rebouças” significava “bolsa de novo”?
Se refazer é fazer de novo, se relembrar
é lembrar de novamente, se recomeçar é começar de novo, então “Re-bouças” é o
mesmo que dizer “A bolsa de novo”.
06 – Explique com suas
palavras o que o narrador do texto quis dizer com as ideias apresentadas no
último parágrafo.
Resposta pessoal do aluno.
07 – Releia o segundo
parágrafo e responda:
a)
A que público leitor o autor do texto se
dirige?
Pessoas muito jovens (crianças e pré-adolescentes) devido à
simplicidade da linguagem.
b)
Como você chegou a essa conclusão?
Resposta pessoal do aluno.
08 – Como você pode
comprovar que o texto é uma história e está escrita em primeira pessoa?
O texto foi
estruturado na forma de um relato. Para isso, foram criadas personagens que se
situam num tempo e num espaço. Entre elas, se destaca o narrador-personagem,
responsável pelo relato. Daí o emprego da 1ª pessoa: “Quando eu era pequeno”
... “descobri que existe um túnel” ...
09 – Para você qual é a data
mais importante, relatada no texto? Justifique.
Resposta pessoal do aluno.
10 – Que outras ruas você
conhece que indicam datas ou acontecimentos importantes da história de nosso
país?
Resposta pessoal do aluno.