quarta-feira, 2 de maio de 2018

TEXTO: O FECHO - LYGIA BOJUNGA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: O FECHO


          A bolsa amarela não tinha fecho. Já pensou? Resolvi que aquele dia mesmo eu ia arranjar um fecho pra ela.
          Peguei um dinheiro que eu vinha economizando e fui numa casa de conserto e reforma bolsas. Falei que queria um fecho e o vendedor me mostrou um, dizendo que era o melhor que ele tinha. Custava muito caro, meu dinheiro não dava.
          - E aquele? – apontei. Era um fecho meio pobre, mas brilhando que só vendo.
          O homem fez cara de pouco caso, disse que não era bom. Experimentei.
          - Mas ele abre e facha bem.
          O homem disse que o fecho era muito barato: ia enguiçar. Vibrei! Era isso mesmo que eu estava querendo: um fecho com vontade de enguiçar. Pedi pro vendedor atender outro freguês enquanto eu pensava um pouco. Virei pro fecho e passei uma cantada nele:
          - Escuta aqui, fecho, eu quero guardar umas coisas bem guardadas aqui dentro dessa bolsa.
          Mas você sabe como é, não é? Ás vezes vão abrindo a bolsa da gente assim sem mais nem menos; se isso acontecer, você precisa enguiçar, viu? Você enguiça quando eu pensar “enguiça!”, enguiça? – O fecho ficou olhando pra minha cara. Não disse que sim nem que não. Eu vi que ele estava querendo uma coisa em troca.
          - Olha, eu já vi que você tem mania de brilhar. Se você enguiçar na hora que precisa, eu prometo viver polindo você pra te deixar com essa pinta de espelho. Certo?
          O fecho falou um clique bem baixinho com todo o jeito de “certo”. Chamei o vendedor e pedi pra ele botar o fecho na bolsa. Cheguei em casa e arrumei tudo o que eu queria na bolsa amarela.
          Peguei os nomes que eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido eu deixei vazio, esperando uma coisa bem magra pra esconder lá dentro. No bolso bebê eu guardei um alfinete de fralda que eu tinha achado na rua, e no bolso de botão escondi os retratos do quintal da minha casa, uns desenhos que eu tinha feito, e umas coisas que eu andava pensando. Abri um zíper; escondi fundo minha vontade de escrever; fechei. No outro fundo de botão espremi a vontade de ter nascido garoto (ela andava muito grande, foi um custo pro botão fechar).
          Pronto! A arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades estavam presas na bolsa amarela, ninguém mais ia ver a cara delas.

 BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. Rio de Janeiro:
Casa Lygia Bojunga, 2003.

Entendendo o texto:
     a) Qual é o assunto sobre o qual a narradora fala na primeira parte do texto?
      A narradora fala sobre como era a bolsa amarela por fora.

     b) Quantos parágrafos existem nessa primeira parte?
      Quatro parágrafos.

     c) Como você justificaria a divisão dos parágrafos do texto?
      Os parágrafos estão divididos para organizar melhor as ideias do texto. Cada parágrafo corresponde a um assunto diferente. Professor, esse texto oferece a oportunidade de visualização dos tópicos de cada parágrafo. É interessante chamar a atenção do aluno para essa informação e retomar com eles o conceito de parágrafos.

     d) Identifique o assunto tratado em cada parágrafo dessa parte.
      1ª parte – A bolsa por fora. Parágrafo 1; a cor da bolsa.
      Parágrafo 2: o tamanho da bolsa amarela.
      Parágrafo 3; a alça da bolsa.
      Parágrafo 4; sobre o tecido (fazenda com que a bolsa é confeccionada).

      



POESIA: A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Poesia: A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO
             Carlos Drummond de Andrade


          Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
          A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
          Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu leva-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
          - Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um caso de poesia.

                                          ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis.
                                                                     7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.

     Entendendo o texto:
     a) Que motivos conduziram as pessoas a achar que Paulo era mentiroso?
       Ele chegava em casa relatando que viu seres imaginários, falando coisas improváveis, mencionando acontecimentos fantásticos – considerando-se a realidade concreta, ele falava coisas improcedentes.

     b) Apesar de ser castigado, Paulo continua relatando à mãe situações fantasiosas. Por que você acha que isso ocorre?
       Professor, espera-se que o aluno reconheça que Paulo tem uma imaginação fértil e que, possivelmente, como escritor, gosta de imaginar situações, inverter histórias.

     c) Releia o diagnóstico do médico:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um caso de poesia.
- A afirmação do médico confirma a ideia de que Paulo é mentiroso? Explique sua resposta.
       Não, o médico acha normal a imaginação criadora do menino e diz que ele tem dons poéticos.

d)Depois de ler o texto, explique por que Paulo é incapaz de ser verdadeiro.
      O menino é incapaz de ser verdadeiro conforme o que a mãe julgava correto. Ele criava outra realidade, a “realidade” da fantasia, do sonho, da imaginação. Professor, o título revela a capacidade da personagem de ir além de uma visão comum das coisas. O poeta é alguém que dá outro significado às palavras e à forma de ver o mundo.

     e) Que outro título poderia ter o texto?
      Um título possível seria: “Poeta por natureza”.

     f) Você costuma escrever textos poéticos? Já mostrou para alguém? Por quê?
      Resposta pessoal.

g) Quando Paulo chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas, a mãe:
(A) colocou-o de castigo.    
(B) deixou-o sem sobremesa.
(C) levou-o ao médico.    
(D) proibiu-o de jogar futebol.

h) A mãe de Paulo ficou preocupada com o filho porque ele
(A) machucou-se no pátio da escola.   
(B) contava histórias criativas.
(C) desistiu de jogar futebol.    
(D) queixou-se do médico.

i) A preocupação da mãe que a fez levar o filho ao médico deveu-se à:
(A) fábula dos dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
(B) história do pedaço de lua, cheio de queijo no pátio da escola.
(C) passagem das borboletas pela chácara de Siá Elpídia formando um tapete voador.
(D) imaginação do menino ao criar suas histórias fantasiosas.

j) O parecer do médico "Este menino é mesmo um caso de poesia", sugere que Paulo
(A) agia dessa forma pelo excesso de castigo.     
(B) brincava com coisas verdadeiras.
(C) era um menino imaginativo e criativo.           
(D) estava precisando do carinho familiar.

k) Dona Coló castigava o filho porque acreditava que ele estivesse
(A) brincando.   
(B) sonhando.   
(C) mentindo.   
(D) teimando.

l) O texto sugere que
(A) mentira e teimosia andam juntos.   
(B) mentira e fantasia são sinônimos.
(C) mentira e sonho parecem brincadeiras.   
(D) mentira e imaginação são diferentes.







POEMA: À MESMA - BOCAGE - COM GABARITO

 Poema: À Mesma

Texto I

        Neste soneto, Bocage fala sobre os prazeres vividos pelos amantes em um cenário acolhedor.


Se é doce no recente, ameno Estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo-se as areias, e os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio:

Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando, e seus ardores
Dentre os aromas do pomar sombrio:

Se é doce mares, céus ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados:

Mais doce é ver-te de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida.

                   Bocage, Manuel Maria Barbosa du. Obras de Bocarge.
                                     Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 423.


Texto II: Doçura de, no estio recente

        Manuel Bandeira reelabora, neste poema, o soneto de Bocage.

Doçura de, no estio recente,
Ver a manhã toucar-se de flores
E o rio mole queixoso
Deslizar, lambendo areias e verduras;

Doçura de ouvir as aves
Em desafio de amores
Cantos, risadas
Na ramagem do pomar sombrio.

Doçura de ver mar e céus
Anilados pela quadra gentil
Que floreia as campinas
Que alegra os corações.

Doçura muito maior
De te ver
Vencida pelos meus ais
Me dar nos teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, muito melhor do que a vida,
Puxa!
                                      Bandeira, Manoel. Poesia completa e prosa.
                                          Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. p. 78.


Entendendo o poema:
01 – O que há de comum entre os dois poemas?
      Os dois poemas dizem essencialmente o mesmo, tanto que podemos reconhecer no poema de Bandeira quase todos os versos presentes no soneto de Bocage.

02 – Em termos formais, em que eles se diferenciam?
      O poema de Bocage é um soneto composto por versos decassílabos que apresentam rimas interpoladas (ABBA ABBA CDC CDC). Manuel Bandeira abandona a forma fixa utilizada por Bocage (soneto); ele não faz uso de uma métrica regular nem de rimas.

03 – As três primeiras estrofes do soneto de Bocage introduzem um raciocínio baseado em hipóteses. A conclusão desse raciocínio é apresentada na última estofe do soneto.
a)   Que raciocínio é esse?
      As hipóteses propostas nas três estrofes dizem respeito às alegrias e prazeres provocados pela possibilidade de alguém usufruir os dons da natureza.
      Na primeira estrofe, o eu lírico destaca o prazer de ver uma manhã de verão se enfeitar de flores e acompanhar a trajetória do rio, que banha as areias e os prados.
      Na segunda estrofe, a alegria de desfrutar o canto dos pássaros em um pomar.
      Na terceira estrofe, o eu lírico fala da doçura de ver os mares e céus azulados pela primavera, que traz alegria para os corações e enche os prados de flores.

     b) Qual a conclusão a que chega o eu lírico?
      O eu lírico conclui que o prazer associado à natureza é menor do que aquele oferecido pelos braços da amada.

04 – A linguagem é um elemento fundamental da releitura que Bandeira faz do soneto de Bocage. Por quê?
      Bandeira elimina as inversões sintáticas e usa sinônimos para alguns dos termos utilizados por Bocage. Ao fazer isso, produz quase uma “tradução” moderna do poema de Bocage.

05 – O poema de Bandeira apresenta palavras organizadas de forma diferente. O que essa disposição sugere ao leitor?
      Na primeira estrofe, os adjetivos mole e queixoso foram separados em dois versos independentes, que sugerem o caminho da água do rio, que desliza “lambendo areias e verduras”.
      Na segunda estrofe, a sobreposição dos substantivos amorescantos e risadas em verso diferentes pode ilustrar o efeito dos cantos dos pássaros, que se confundem na alegria do pomar, ou também criar uma imagem gráfica que lembra a presença dos pássaros, nos galhos das árvores, enquanto cantam.

06 – Considere, agora, as diferenças identificadas.
     a) Com base nelas é possível afirmar que o segundo poema é mais moderno do que o primeiro? Explique.
      Sim. O fato de não ser um poema com forma fixa, de haver uma disposição diferente das palavras, de haver uma estrutura sintática mais direta, tudo isso caracteriza um estilo mais despojado, que soa mais atual.

     b) A interjeição, puxa! presente no final do poema de Bandeira, ajuda a caracterizar um olhar mais atual para o tema do amor? Por quê?
      Sim. A interjeição puxa! traduz uma certa irreverência e ironia sobre tantas maravilhas associadas ao tema do amor no poema de Bocage. Esse é um cenário positivo demais para ser apresentado por um poeta do século XX.




terça-feira, 1 de maio de 2018

TEXTO: CULTURA - COLIN CHERRY - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: CULTURA


          O desenvolvimento humano e o avanço das civilizações dependeram principalmente da evolução dos meios de receber, comunicar e de registrar o conhecimento e, particularmente, do desenvolvimento da escrita.
       O homem é essencialmente um animal comunicativo; a comunicação constitui uma de suas atividades essenciais. Enquanto os seres mais rudimentares enfrentam o seu meio ambiente numa base de momento, o homem possui a faculdade de aprender, em graus variáveis. Consequentemente, suas ações são influenciadas por experiências passadas. A experiência humana não é uma questão momentânea: apresenta continuidade; o homem tem um contato com seus antepassados e descendentes, e um sentido de história e tradição. Tudo isso é possível graças à linguagem. Essa capacidade de comunicação possibilitou a organização do homem em sociedades complexas além de o manter em contínuo estado de mudança.
        A linguagem humana está em perene mudança. A linguagem e as outras atividades sociais se correlacionam; os interesses e necessidades de cada época impõem mudanças à linguagem.
        A comunicação implica essencialmente uma linguagem, quer seja este um dialeto falado, uma inscrição em pedra, um sinal de código Morse. A linguagem tem sido chamada “o espelho da sociedade”.
        A Linguagem é um elemento da cultura de um povo. É, ao mesmo tempo, condição essencial para que haja cultura.
        Cultura, é todo fazer humano que pode ser transmitido de geração a geração. A cultura é a soma de todas as realizações do homem.

                CHERRY, Colin. A comunicação humana. Trad. de José Paulo Paes.
                                                        São Paulo, Cultrix, 1972. p. 64-5. Adaptado.

Entendendo o texto:
01 – As questões seguintes referem-se ao texto lido:
     a) De acordo com a definição de cultura, a linguagem é um fato natural ou cultural? Justifique sua resposta.
      Cultural, pois é uma criação humana.

     b) Transcreva do texto a frase que expressa a seguinte ideia: sem linguagem não há comunicação.
      “A comunicação implica essencialmente uma linguagem(...)”.

     c) “Sem a língua, cada geração receberia de precedente coisas, mas não ideias, e se encontraria na condição penosa de ter sempre de recomeçar do princípio.”
Copie o trecho do texto que apresente ideia semelhante à do parágrafo transcrito acima.
      “A experiência humana não é uma questão momentânea: apresenta continuidade (...)”.

02 – Relacione as duas séries:
     a - Fenômeno individual.                                     1 – linguagem. B
     b - Fenômeno universal.                                      2 – língua.  C
     c - Fenômeno limitado a grupos sociais              3 – fala. A

03 – “– Joãozinho! Sua redação sobre o cachorro está exatamente igual à do seu irmão! – É que o cachorro é o mesmo, professora!”.
Considerássemos como aceitável a resposta do Joãozinho, estaríamos contrariando o conceito de linguagem, língua ou fala? Justifique sua resposta.
       DE FALA. Dois emissores podem descrever o mesmo ser, mas suas mensagens serão diferentes, uma vez que cada um utiliza a língua de maneira particular, individual.




TEXTO: CAMPING - J.G.FRAGA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: CAMPING


       04 de janeiro. Querido diário: amanhã vamos procurar um lugar para acampar. Não aguentamos mais essa cidade.
     07 de janeiro. Querido diário: achamos um lugar maravilhoso para camping. É tão bonito que papai combinou com uns amigos para voltarmos.
        11 de janeiro. Querido diário: foi fantástico. Havia mais de dez casais com crianças, apaixonados pela natureza. A primavera está uma beleza. Limpamos um pouco o local, derrubamos algumas árvores e agora há mais espaço para todos.
        27 de janeiro. Querido diário: o camping está cada vez melhor. Os vendedores ambulantes descobriram nosso acampamento e agora se pode comprar de tudo lá. O número de famílias aumentou muito e já tem gente que nunca vi mais gorda. Os casamentos são sempre comoventes. Já tem churrasqueiras e sanitários.
        03 de fevereiro. Querido diário: conheci um amigo, Paulo. O pai dele é dono de uma farmácia e isso foi sorte porque sempre se precisa de quem entenda de saúde no mato. E de quem entenda de matemática também. Ah, fizeram umas ruas pelo meio da floresta. Falam em instalar água e luz no camping. É mais conforto.
        27 de fevereiro. Querido diário: instalaram água e luz em boa hora, porque o camping está tão grande que precisava mesmo. Os ambulantes decidiram que é melhor ficar fixo lá e montaram umas tendas que não fecham a semana inteira, de tanta gente que vai lá. Paulo disse que o pai dele vai botar um ambulatório lá.

                            FRAGA, J. G. Camping. In Ficção. Rio de Janeiro, abr. 77.

Entendendo o texto:
01 – Inserimos algumas frases impertinentes no texto. Quais são elas?
       Frases impertinentes: A primavera está uma beleza, Os casamentos são sempre comoventes, E de quem entenda de matemática. Elas nada têm a ver com o que está sendo apresentado.

02 – Quem você imagina que faz esse diário? Que elementos do texto lhe sugeriram tal autor, ou autora?
       O autor ou autora possivelmente é adolescente, pelo fato de fazer o diário, mais comum nessa idade. (Talvez mais comum ainda entre as meninas).

03 – Valendo-se do gênero diário, o autor faz uma narrativa ficcional, literária. O diário vai até o dia 06 de dezembro.
     a)     Indique o que é a primeira parte de um texto ficcional – a introdução, ou orientação.
       As anotações dos dias 4 e 7 de janeiro.

     b)    Como começa a complicação (apesar de o(a) autor(a) do diário não se dar conta de nenhuma “complicação”)?
       A complicação, como parte da estrutura da narrativa, como com as anotações do dia 11 de janeiro, quando começam a mudar o ambiente.

     c)     Como você acha que continua esse texto? Que acontecimentos poderiam fazer a sequência desse princípio, criando o clímax?
      Resposta pessoal. Mas veja que há um crescendo de problemas, que não podemos ignorar.

     d)    Escreva o que você acha que poderia ser o texto do diário no dia 06 de dezembro, que corresponderia à resolução.
      Resposta pessoal. O importante é que seja coerente (ainda que surpreendente).


TEXTO: "SEU" JOCA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: “SEU” JOCA


        Desde mocinho que o “Seu” Joca tocava pandeiro na bateria de uma escola de samba. Quando ele era moço fazia um sucesso danado: virava cambalhota, jogava o pandeiro pro alto, fazia pirueta, todo mundo gostava de ver. Mas foi ficando velho: jogava o pandeiro pra cima e quem diz que pegava de volta? Era só fazer pirueta que trançava uma perna na outra e se estatelava no chão. Então o pessoal da Escola mandou:
     – Esquece pirueta, cambalhota, não joga mais nada pro alto, “Seu” Joca. Só batuca e pronto, tá?
     “Seu” Joca obedeceu. A coisa que ele mais adorava na vida era fazer parte da bateria da Escola. Ele não tinha família, morava numa casinha muito ruim, ganhava pouco dinheiro, o trabalho no Zoo era chato, a grande curtição era sair com a Escola no Carnaval. Então, tudo que diziam para ele fazer, ele fazia; topava qualquer coisa pra continuar tocando na bateria.
     O tempo passou. “Seu” Joca ainda ficou mais velho; deu pra batucar mal. Um dia, quando ele chegou ao ensaio, disseram:
     – Agora não dá mais pé, “Seu” Joca. Esse negócio de batuque é coisa pra moço. Aproveita o carnaval pra ficar em casa descansando, tá?
    “Seu” Joca foi pra casa de cabeça baixa. Não dormiu a noite toda. Só de tristeza. E a toda hora os vizinhos ouviam um barulhinho – pin: era uma lágrima do “Seu” Joca caindo no chão.
     No dia seguinte, logo que chegou ao Jardim Zoológico, “Seu” Joca foi olhar o Pavão (ele costumava dizer que pra curar tristeza a gente deve olhar coisa bonita). Olhou, olhou. De repente, teve uma ideia maluca: se assustou, nem quis pensar nela outra vez. E empurrou a ideia pro fundo do pensamento, mas ela teimou e voltou. E ficou. Era a ideia de roubar o Pavão. De noite “Seu” Joca foi à Escola de Samba, juntou o pessoal e falou:
     – Negócio é o seguinte: nossa Escola é pobre, nunca fez boa figura no carnaval. Se a gente tivesse destaque a coisa era diferente. Mas destaque precisa de fantasia de luxo; fantasia de luxo custa uma nota alta; quem tem nota alta vai pro Salgueiro, Mangueira. Torce o nariz pra uma Escola feito a nossa.
     – Que tanto blablablá é esse, “Seu” Joca?
  – Negócio é o seguinte: se vocês me deixam na bateria, tocando o panderinho que toda a vida eu toquei, eu arranjo um destaque superlegal pra nossa Escola.
     O pessoal quis ver o destaque. “Seu” Joca mostrou um retrato do Pavão (tinham tirado uma porção de retratos do Pavão lá no Zoo; “Seu” Joca pediu um, ninguém disse não). O pessoal ficou bobo (era retrato colorido, o Pavão estava uma maravilha); nem acreditaram:
      – Você traz ele pra destaque, “Seu” Joca?
      – Amanhã mesmo.
      – Negócio feito! – e apertaram mão e tudo.

NUNES, Lygia Bojunga. A Casa da Madrinha. Editora Agir, Rio de Janeiro, 1983.

Entendendo o texto:
Depois da leitura atenta do texto, responda estas questões.
01 – Na frase: “… topava qualquer coisa para continuar…” a palavra em destaque significa:
a. (    ) tropeçar        b. (X) concordar       c. (   ) encontrar.

02 – Substitua, nas frases, a expressão em negrito pela palavra adequada que damos abaixo:
Aborrecido – acabrunhado – aceitava – desprezava – é possível – passou a.
a.   O trabalho de “Seu” Joca no Zoo era chato.
O trabalho do “Seu” Joca no Zoo era aborrecido.
b.   Para tocar na bateria, “Seu” Joca topava qualquer coisa.
Para tocar na bateria, “Seu” Joca aceitava qualquer coisa.
c.   Agora não dá mais pé, “Seu” Joca!
Agora não é possível, “Seu Joca!
d.   “Seu” Joca foi para casa de cabeça baixa.
“Seu” Joca foi para casa acabrunhado.
e.   Depois, “Seu” Joca deu de batucar mal.
Depois, “Seu” Joca passou a batucar mal.
f.     Quem tinha dinheiro, torcia o nariz para essa escola.
Quem tinha dinheiro, desprezava essa escola.

03 – Localize e transcreva do texto, as palavras que tenham os significados abaixo:
a.   Volta que se dá com o corpo, de cabeça para baixo:
Cambalhota.
b.   Giro do corpo sobre um dos pés:
Pirueta.
c.   Treinamento para se obter perfeito desempenho:
Ensaio.
d.   Gota de líquido segregada através dos olhos:
Lágrima.
e.   Figura ou assunto importante, de realce:
Destaque.

04 – “Seu” Joca não recebia dinheiro como integrante da escola de samba. De que ele vivia então?
      Vivia do salário como funcionário do Jardim Zoológico.

05 – Os dirigentes da escola de samba pediram para o “Seu” Joca não fazer piruetas, dar cambalhotas e atirar o pandeiro para o alto. Por fim eles ainda deram outra ordem. Qual foi? E por quê?
      Deixar de tocar na bateria porque “Seu” Joca passou a tocar mal o pandeiro.

06 – “Seu” Joca teve uma ideia maluca, surgida:
a. (   ) quando o proibiram de tocar na escola de samba.
b. (   ) durante a noite em que ficou acordado e chorando o tempo todo.
c. (X) no dia seguinte, no Zoo, ao olhar o pavão para curar a tristeza.
d. (   ) quando lhe disseram que  escola de samba precisava de um destaque.

07 – Quando surgiu a ideia de roubar o pavão, “Seu” Joca tentou empurrá-la para o fundo do pensamento, mas não conseguiu. Por quê?
      Porque o desejo de permanecer na bateria da escola foi maior que seus escrúpulos.

08 – O discurso de “Seu” Joca foi importante, mas alguma coisa a mais foi necessário para que o pessoal da escola concordasse com sua proposta. O que foi?
      Mostrar a fotografia do pavão.

09 – A autora da história procura mostrar que:
a. (   ) a idade não serve de referência para estabelecer o momento de uma pessoa encerrar suas atividades.
b. (X) há pessoas capazes de cometer atos ilícitos para preservarem o que lhes é muito importante.
c. (   ) as tristezas são mais facilmente curáveis quando se utiliza a beleza para tratamento.
d. (   ) o roubo é perdoável quando praticado para a satisfação de uma necessidade.