Texto: O FECHO
A bolsa amarela
não tinha fecho. Já pensou? Resolvi que aquele dia mesmo eu ia arranjar um
fecho pra ela.
Peguei um
dinheiro que eu vinha economizando e fui numa casa de conserto e reforma
bolsas. Falei que queria um fecho e o vendedor me mostrou um, dizendo que era o
melhor que ele tinha. Custava muito caro, meu dinheiro não dava.
- E aquele? –
apontei. Era um fecho meio pobre, mas brilhando que só vendo.
O homem fez cara
de pouco caso, disse que não era bom. Experimentei.
- Mas ele abre e
facha bem.
O homem disse que
o fecho era muito barato: ia enguiçar. Vibrei! Era isso mesmo que eu estava
querendo: um fecho com vontade de enguiçar. Pedi pro vendedor atender outro
freguês enquanto eu pensava um pouco. Virei pro fecho e passei uma cantada
nele:
- Escuta aqui,
fecho, eu quero guardar umas coisas bem guardadas aqui dentro dessa bolsa.
Mas você sabe
como é, não é? Ás vezes vão abrindo a bolsa da gente assim sem mais nem menos;
se isso acontecer, você precisa enguiçar, viu? Você enguiça quando eu pensar
“enguiça!”, enguiça? – O fecho ficou olhando pra minha cara. Não disse que sim
nem que não. Eu vi que ele estava querendo uma coisa em troca.
- Olha, eu já vi
que você tem mania de brilhar. Se você enguiçar na hora que precisa, eu prometo
viver polindo você pra te deixar com essa pinta de espelho. Certo?
O fecho falou um
clique bem baixinho com todo o jeito de “certo”. Chamei o vendedor e pedi pra
ele botar o fecho na bolsa. Cheguei em casa e arrumei tudo o que eu queria na
bolsa amarela.
Peguei os nomes
que eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido eu deixei
vazio, esperando uma coisa bem magra pra esconder lá dentro. No bolso bebê eu
guardei um alfinete de fralda que eu tinha achado na rua, e no bolso de botão
escondi os retratos do quintal da minha casa, uns desenhos que eu tinha feito,
e umas coisas que eu andava pensando. Abri um zíper; escondi fundo minha
vontade de escrever; fechei. No outro fundo de botão espremi a vontade de ter
nascido garoto (ela andava muito grande, foi um custo pro botão fechar).
Pronto! A
arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades estavam presas na bolsa amarela,
ninguém mais ia ver a cara delas.
BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. Rio de
Janeiro:
Casa Lygia Bojunga, 2003.
Entendendo o texto:
a) Qual é o assunto sobre o qual a narradora fala na primeira parte
do texto?
A narradora fala sobre como era a bolsa
amarela por fora.
b) Quantos parágrafos existem nessa primeira parte?
Quatro parágrafos.
c) Como você justificaria a divisão dos parágrafos do texto?
Os parágrafos estão divididos para
organizar melhor as ideias do texto. Cada parágrafo corresponde a um assunto
diferente. Professor, esse texto oferece a oportunidade de visualização dos
tópicos de cada parágrafo. É interessante chamar a atenção do aluno para essa
informação e retomar com eles o conceito de parágrafos.
d) Identifique o assunto tratado em cada parágrafo dessa parte.
1ª parte – A bolsa por
fora. Parágrafo 1; a cor da bolsa.
Parágrafo 2: o tamanho da bolsa amarela.
Parágrafo 3; a alça da bolsa.
Parágrafo 4; sobre o tecido (fazenda com
que a bolsa é confeccionada).