sexta-feira, 5 de maio de 2017

CRÔNICA: RACONTO DE NATIVIDADE – HELENA SILVEIRA - COM GABARITO

CRÔNICA - RACONTO DE NATIVIDADE
          O relato apresenta uma situação de contraste social: como o dinheiro (ou a falta dele) pode alterar o comportamento  das pessoas.
RACONTO DE NATIVIDADE
          – Senhor doutor, estou aqui no bolso com um milhão de cruzeiros de uma boiada que vendi e quero lhe comprar aquelas suas terras para cima do ribeirão. Pago à vista.
          O médico mediu de alto a baixo seu interlocutor. Era moço, feições de caboclo, vestido com decente modéstia.
          – Um milhão de cruzeiros, à vista, pelas terras? Pois o que lastimo é que elas não sejam minhas. O senhor se enganou. São de um meu primo advogado. O nome é parecido com o meu. Eu sou médico.
          Com fala mansa, o visitante pediu ao médico que interviesse no negócio. Tinha urgência em comprar as terras. Não pagava muito, mas pagava à vista. O dinheiro estava ali no bolso. Houve uma telefonada e o dono disse que não queria vender as mesmas. Nem por um, nem por dois milhões. O outro coçou a cabeça, triste. Da segunda vez que viu o rapaz, o médico estava em seu hospital. Era o único bom hospital da zona. Nessa ocasião, o caboclo vinha acompanhado da esposa que esperava o primeiro filho. O médico ofereceu um quarto pequeno, sem banheiro, com diária razoável, mas o moço indagou, com certa impertinência, se não havia nada melhor do que aquilo tudo.
         – Há. Mas é um apartamento de grande luxo. Quase nunca está ocupado. Da última vez que serviu, foi para a nora do coronel Quinzinho.
          Sim, aquele, sim, servia. Duas sala s com tapetes e rádio, com terraço e até gaiola de passarinho, para não falar no telefone e no quarto de banho. Chegando à casa, o médico relatou o fato à esposa.
          – Você veja. Aqui em Goiânia tem gente de dinheiro que nem se suspeita. O apartamento de grande luxo foi ocupado por uma moça, acaboclada, mulher do homem que me procurou, não faz muito tempo, com um milhão de cruzeiros no bolso…
          A esposa do médico estava regando sua lata de gerânios. Suspendeu a operação e disse:
          – Eu vi quando aquele moço veio. Ninguém dava nada por ele. E com um milhão no bolso!
          O parto foi difícil, mas o médico era hábil. A parturiente teve a melhor assistência. Dez dias depois de ter ela dado à luz um menino forte, o pai, muito contente, procurou o diretor do hospital. Iriam embora ao dia seguinte. Acontecia que estava lá embaixo, com o carro, um irmão seu e a mulher começara a chorar com saudades de casa. Não fazia diferença que fossem àquela tarde e não na manhã seguinte?
          Claro que não fazia diferença. A cliente e a criança estavam passando muito bem. Mas o diabo era que o moço havia esquecido em casa seu talão de cheques. O médico sorriu:
          – Pois a coisa é assim. O parto vai lhe custar muito menos que um milhão.Vá embora para casa, sossegado, e venha amanhã saldar sua conta.
          Nem em uma semana, nem em duas o estranho rapaz apareceu. Ao fim desse tempo, o médico foi procurar o endereço da cliente. Tomou seu carro e rodou para lá. Fora da cidade, localizou o caboclo, de manga arregaçada, lavrando um mofino campo.
          – Que é isso, rapaz? Você se esqueceu da conta?
       O outro retrucou, manso, que não se esquecera. Nem da conta, nem de toda a gentileza de que sua esposa fora alvo. Apenas não podia pagar nem um tostão, pelo menos naquela dura época do ano. Talvez, depois da colheita, se Deus ajudasse, ele saldaria pelo menos a quinta parte da dívida. E prosseguia olhando a sua terra mesquinha.
          – Mas não posso entender! O senhor é um homem à míngua de recursos! Como é que ainda outro dia tinha um milhão no bolso?
          – Ter um milhão, eu não tinha, seu doutor. O que tinha era vontade que meu primeiro filho nascesse em quarto de gente rica e minha patroa fosse tratada a modo de mulher de fazendeiro. Por isso, maquinei aquela história das terras. Agora que a criança nasceu, se o senhor quiser me prender, me prenda.
       O médico estava furioso quando tornou à casa e contou o fato à mulher. Por coincidência, ela regava os mesmos gerânios. Estacou no gesto. Ouviu o relato inteiro e começou a chorar:
          – Se você puser aquele pobre coitado na cadeia, eu rasgo seu diploma de médico. Nunca ouvi história mais bonita em toda a minha vida!
          Eu também não. E é por isso que a passo aos leitores, à guisa de crônica de Natividade.
 (SILVEIRA, Helena. In:____Sombra Azul e Carneiro Branco. São Paulo, Cultrix, 1960)
GLOSSÁRIO
Raconto – narração, relato, narrativa
Intervir – servir de mediador
À míngua – em extrema pobreza
Mofino – infeliz, pequeno, acanhado
À guisa de –  à maneira de
_____________________________________________________
Vamos, então, à análise do texto.
I – Marque com um X o sinônimo adequado das palavras grifadas, de acordo com o texto:
1. “Pois o que lastimo é que elas não sejam minhas.”
a. (   ) desejo           b. (   ) invejo     c. (   ) lamento     d.(   ) agradeço
2. “Tinha urgência em comprar as terras.”
a. (   ) pressa     b. (   ) necessidade    c. (   ) desejo     d. (   ) prazer
3. “… até que o rapaz indagou…”
a. (   ) reclamou     b. (   ) perguntou   c. (   ) resmungou   d. (   ) exclamou
4. “Por isso, maquinei aquela história das terras.”
a. (   ) apresentei    b. (   ) inventei    c. (   ) fabriquei    d.(   ) alterei
5. “O médico estava furioso quando tornou à casa…”
a. (   ) triste     b. (   ) aflito      c. (   ) curioso     d. (   ) enfurecido

II – Marque com um X a alternativa correta, de acordo com o texto:
6. Quando procurou o médico pela primeira vez, o caboclo queria:
a. (   ) internar a esposa que esperava o primeiro filho
b. (   ) comprar terras
c. (   ) comprar gado
d. (   ) vender terras
7. Quando procurou o médico pela segunda vez, o caboclo queria:
a. (   ) conversar       b. (   ) vender gado       c. (   ) internar a esposa       d. (   ) insistir na compra das terras
8. Dentre os quartos do hospital, o caboclo escolheu:
a. (   ) o mais barato                            b. (   ) um quarto pequeno
c. (   ) um apartamento de luxo        d. (   ) um apartamento médio
9. O caboclo não pagou a conta do hospital porque:
a. (   ) não gostou do atendimento dado à esposa
b. (   ) não costumava pagar suas contas
c. (   ) esqueceu
d. (   ) não tinha dinheiro
10. Quando o caboclo disse que não tinha dinheiro para pagar a conta, a reação do médico foi de:
a. (   ) compaixão       b. (   ) tristeza     c. (   ) raiva       d. (   ) compreensão
11. O caboclo maquinou a história das terras porque queria:
a. (   ) dar um trote no médico.
b. (   ) queria que seu filho nascesse em quarto de gente rica e que sua  esposa fosse bem tratada.
c. (   ) que todos, na cidade, pensassem que era rico.
d. (   ) ficar com as terras e não pagar.
12. Ao saber do fato, a esposa do médico reagiu da seguinte maneira:
a. (   ) ficou furiosa e aconselhou o marido a mandar prender o caboclo
b. (   ) não se interessou pelo caso
c. (   ) chorou e disse ao marido que se mandasse prender o caboclo ela rasgaria o seu diploma
d. (   ) deu boas gargalhadas
13. Levando em consideração o atendimento que é dado às pessoas nos hospitais, o caboclo teve razão ou não para agir do modo que agiu? Por quê? Dê sua opinião e justifique-a.
_________________________________________________________________
GABARITO
1. c    2. A      3. B    4. B     5. D    6. B    7. C     8. C    9. D     10. C     11. B   12. C
13. resposta pessoal (mostre-a a um amigo ou pessoa do seu relacionamento e discuta a situação que levou o caboclo, o médico e sua esposa a terem as ações descritas)


ARTIGO DE OPINIÃO: A CRÍTICA DESTRUTIVA E A COCHINCHINA - GUSTAVO IOSCHPE - COM GABARITO

 A CRÍTICA DESTRUTIVA E A COCHINCHINA

    Toda semana, abro contente a caixa de correio pra receber os e-mails de leitores. As reações são sempre interessantes. A correspondência se divide em quatro tipos. O primeiro é o escritor folgado que, com o jeitinho hipertrofiado e a cara de pau a toda prova, pede favores. Quando estava nos EUA, eram indicações de faculdades, bolsa, passagem aérea e o escambau. Agora, pedem dicas da Europa e até, pasme, que vá a uma loa para ver se é de confiança(?!).
        O segundo tipo é o leitor que elogia. A esses, meus mais sinceros agradecimentos.
        O terceiro é o que critica ideias. São os merecedores da mais entusiasmada recepção e apreço. O objetivo aqui sempre foi suscitar discussões, trazer ideias novas e também ouvi-las. Quando se nota que isso acontece, há uma sensação recompensadora de dever cumprido. As vezes, as críticas são ásperas, mas é do jogo – até porque a pancadaria é recíproca, e este escriba não é lá muito diplomático. Mas em geral as críticas mais ferozes são de grupos protegidos, que se veem afrontados por denúncias, o que me deixa feliz, sinal de que a carapuça serviu.
        O último tipo é o que incomoda. É o ataque pessoal, agressivo e desrespeitoso, que não visa construir nada. A esses, uma minoria, só cabe o olímpico desprezo. Mas, como os argumentos são repetidos e não passam de distorções, fico pensando até que ponto são repartidos por uma maioria silenciosa e que, talvez, essas falsas concepções funcionem como uma muralha que proíbe a contemplação das ideias. Como as personalidades são irrelevantes e o que fica são as ideias, tratemos de destruir esse véu.
        O primeiro argumento é que este espaço deveria ser usado com mais “responsabilidade”, dada a importância do veículo. Gostaria de compreender o conceito de responsabilidade dessas pessoas – ao que me parece, se é irresponsável quando se é contrário a elas. Passo por irresponsável. Se os dois lados reclamam, sinal de que não se está tomando partido. Seguirei, assim, no livre exercício da minha irresponsabilidade, contemplando apenas a honestidade intelectual como lema.
        A segunda tecla, que não cansa de ser martelada como uma falha: só aponto problemas, sem mostrar soluções. Fico lisonjeado por imaginar que alguns leitores pensam que eu tenho todas as respostas e as guardo por maldade. Não as tenho. Quando desconheço a solução, prefiro ficar calado a dar chute, o que é meio estranho em um país de ambidestros, que falam até sobre a bauxita refratária. Pretendo continuar respeitando a minha ignorância. Mas não acho que apontar problemas seja um desserviço. Toda solução começa com a percepção do problema, e discutir o problema é um passo no caminho da solução.
        O terceiro ponto, que reaparece mais frequentemente quando o cacete desce sobre o andar de cima, é que este escriba também seria da referida elite e, assim, não teria direito de criticar. Ora, pelo contrário. Não escondo o berço, que não me parece defeito, mas trunfo: as críticas e os questionamentos são mais legítimos e contundentes justamente quando feitos por quem pertence ao grupo avantajado. Somos, você e eu, elite: Lemos jornal. Mas acredito na criação de uma elite responsável, que entenda que esse país precisa mudar, e só espero poder botar mais minha minhoca na cabeça de quem acha que não precisa se preocupar.
        Por último, os escritos são desacreditados por virem de alguém que teria abandonado o seu país e agora cospe no prato em que comeu. Essa é a mais engraçada de todas. Nunca gostei tanto do Brasil quanto agora. Todo esse tempo fora do país tem servido como um grande laboratório para entender como e por que os países desenvolvidos funcionam enquanto nós patinamos, e aguardo o tempo de voltar à pátria e ajudar na criação de um grande país. Retorno esse que deve ser breve, pra desespero de todos que me escrevem sugerindo passagem só de ida pra Cochinchina.

                                 IOSCHPE, Gustavo. Folha de São Paulo, p. 7, 6 dez. 1999.

1 – Por que o autor afirma que aqueles que criticam suas ideias “são merecedores da mais entusiasmada recepção e apreço”?
       Porque são aqueles que dialogam com ele: são capazes de contra argumentar, discutir e sustentar suas próprias ideias.

2 – De início, ele diz que aqueles que o criticam à base do ataque pessoal deveriam ser ignorados porque suas críticas não visam construir nada. No entanto, em seguida, ele resolve responder a essas críticas. Por quê?
       Como as críticas com ataques pessoais se repetem, o autor pensa que elas podem ser compartilhadas por muita gente e, por isso, ele resolve atacá-las.

3 – Ele se contrapõe, então, a quatro afirmações típicas dessa crítica que ele considera destrutiva. Quais são essas quatro afirmações e que argumentos ele contrapõe a cada uma?
a)     O espaço deveria ser usado com mais “responsabilidade”.
       Ele questiona o conceito de responsabilidade de seus críticos e diz que, ao que lhe parece, ser irresponsável para estas pessoas é ser contrário a elas. Por isso, ele afirma que seguirá no livre exercício de sua “irresponsabilidade”, adotando a honestidade como lema.

       b) Ele só aponta problemas, sem mostrar soluções.
       Reconhece que não tem (nem pode ter) solução para tudo. Quando não sabe, prefere ficar calado a dar chute. Mas considera que apontar problemas é fundamental para solucioná-los porque compreendê-los com clareza é um passo na busca de sua solução.

       c) Ele seria da elite e não teria direito de criticá-la.
       Reconhece que é da elite (ele e o leitor porque ambos leem jornal) e defende a ideia de que o país precisa de uma elite responsável, que entenda que o país precisa mudar. Por isso, acha que tem sim o direito (e o dever) de criticar.

       d) Ele está desacreditado porque abandonou seu país.
       Ele diz que vai logo retornar e que este tempo fora do país tem sido fundamental para ele entender como e por que os países desenvolvidos funcionam enquanto nós patinamos.

4 -  O texto está escrito em língua-padrão. No entanto, o autor usa, algumas vezes, palavras e expressões que pertencem a uma variedade mais informal da língua, como escambau, cara de pau, dar chute. Que outras expressões tem essa mesma característica? Qual é o efeito dessa seleção lexical no texto?
       “Martelada” / “quando o cacete desce sobre o andar de cima” / “cospe no prato em que comeu” / “passagem só com ida para Conchinchina” / ...
Efeito desta seleção lexical: deixar o texto mais informal, mas em tom de bate-papo e para dar força expressiva àquilo que se está dizendo.


quinta-feira, 4 de maio de 2017

SIMULADO SOBRE REALISMO COM GABARITO

SIMULADO SOBRE  REALISMO  COM GABARITO

Questão 1
A escola realista, que contou com nomes como Machado de Assis, Raul Pompéia e Aluísio Azevedo, teve como principais características:
a) retorno aos ideais românticos defendidos pela literatura indianista de José de Alencar;
b) preocupação com a métrica e com a metalinguagem na arte literária;
c) retratar a sociedade e suas mazelas, em uma linguagem irônica e impiedosa sobre o homem e suas máscaras sociais.
d) confronto direto com o ideário religioso, estabelecendo um paradoxo com a literatura barroca.
e) defesa da cultura popular brasileira, resgatando símbolos e arquétipos do folclore nacional.

Questão 2
O Realismo, escola literária cujo principal representante brasileiro foi Machado de Assis, tem como característica principal a retratação da realidade tal qual ela é, fugindo dos estereótipos e da visão romanceada que vigorava até aquele momento. Sobre o contexto histórico no qual o Realismo está situado, são corretas as proposições:
I- O Brasil vivia tempos de calmaria política e social, havia um clima de conformidade, configurando o contentamento da colônia com sua metrópole, Portugal.
II- Em virtude das intensas transformações sociais e políticas, o Brasil é retratado com fidedignidade, reagindo às propostas românticas de idealização do homem e da sociedade.
III- O país vivia o declínio da produção açucareira e o deslocamento do eixo econômico para o Rio de Janeiro em razão do crescimento do comércio cafeeiro.
IV- Tem grande influência das teorias positivistas originárias na França, onde também havia um movimento de intensa observação da realidade e descontentamento com os rumos políticos e sociais do país.
V- Surgiu na segunda metade do século XX, quando no mundo eclodiam as teorias de expansões territoriais que culminaram nas duas grandes guerras. O Realismo teve como propósito denunciar esse panorama de instabilidade mundial.
Estão corretas:
a) todas estão corretas.
b) apenas I e II estão corretas.
c) I, II e III estão corretas.
d) II, III e IV estão corretas.
e) I e V estão corretas.

Questão 3
“(...) Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. (...)”.
De acordo com a leitura da célebre frase que integra o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, podemos afirmar que Machado de Assis filiou-se à tendência:
a) Modernista.
b) Naturalista.
c) Árcade.
d) Positivista.
e) Realista.


Questão 4
Sobre o Realismo, é incorreto afirmar que:
a) Surge em um contexto econômico, social e político conturbado e de grandes transformações.
b) Faz uma dura crítica ao Romantismo e à maneira idealizada com a qual o homem era retratado pelos olhos dos escritores que se dedicaram a essa escola literária.
c) Utiliza uma linguagem repleta de maneirismos, com predominância da subjetividade, cuja estética contemplava a metalinguagem e o ideal da arte pela arte.
d) Foi inaugurado por Machado de Assis, tendo no escritor seu maior expoente, perpetuando a estética realista até os dias de hoje.
e) Influenciado pelos ideais positivistas, o Realismo negava a teoria metafísica, buscando explicação nas coisas práticas e presentes na vida do homem.



Questão 5 . (ENEM) Óbito do autor
(…) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia – peneirava – uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova:
– ”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” (….)
(Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Ilustrado por Cândido Portinari. Rio de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p.1.)

Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a ilustração do pintor:
a) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal.
b) retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis.
c) distorce a cena descrita no romance.
d) expressa um sentimento inadequado à situação.
e) contraria o que descreve Machado de Assis.
 Questão 6.  (UFPR) Eça de Queirós afirmava:
“O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade.”
Para realizar essa proposta literária, quais os recursos utilizados no discurso realista? Selecione-os na relação abaixo e depois assinale a alternativa que os contém:

1- Preocupação revolucionária, atitude de crítica e de combate;
2- Imaginação criadora;
3- Personagens fruto da observação; tipos concretos e vivos;
4- Linguagem natural, sem rebuscamentos;
5- Preocupação com mensagem que revela concepção materialista do homem;
6- Senso de mistério;
7- Retorno ao passado;
8- Determinismo biológico ou social.
a)1, 2, 3, 5, 7, 8
b)1, 3, 4, 5, 8.
c)2, 3, 4, 6, 7.
d)3, 4, 5, 6, 8.
e)2, 3, 4, 5, 8.
Questão 7-  Das características abaixo, assinale a que não pertence ao Realismo:
a) Preocupação critica.
b) Visão materialista da realidade.
c) Ênfase nos problemas morais e sociais.
d) Valorização da Igreja.
e) Determinismo na atuação das personagens.
Questão 8
 Podemos verificar que o Realismo revela:
I   – senso do contemporâneo. Encara o presente do mesmo modo que romantismo se volta para o passado ou para o futuro.
II  – o retrato da vida pelo método da documentação, em que a seleção e a síntese operam buscando um sentido para o encadeamento dos fatos.
III – técnica minuciosa, dando a impressão de lentidão, de marcha quieta e gradativa pelos meandros dos conflitos, dos êxitos e dos fracassos.
Assinale:
a) se as afirmativas II e III forem corretas;
b) se as três afirmativas forem corretas;
c) se apenas a afirmativa III for correta;
d) se as afirmativas I e II forem corretas;
e) se as três afirmativas forem incorretas.
 Questão 9
 (FMTM ) Assinale a alternativa em que se encontram características da prosa do Realismo:

a) Objetivismo; subordinação dos sentimentos a interesses sociais; críticas às instituições decadentes da sociedade burguesa.
b) Idealização do herói; amor visto como redenção; oposição aos valores sociais.
c) Casamento visto como arranjo de conveniência; descrição objetiva; idealização da mulher.
d) Linguagem metafórica; protagonista tratado como anti-herói; sentimentalismo.
e) Espírito de aventura; narrativa lenta; impasse amoroso solucionado pelo final feliz.
  Questão 10
 (Mack) Assinale a alternativa correta.
“Mas Luísa, a Luisinha, saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito simpáticos nos seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinho amiga do ninho e das carícias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua casa um encanto sério. (…)
Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre … E recordando aquela existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela!”
(Eça de Queirós, O primo Basílio)
a) A prosa realista, com intuito moralizador, desmascara o casamento por interesse, tão comum no século XIX, para defender uma relação amorosa autêntica, segundo princípios filosóficos do platonismo.
b) A prosa romântica analisa mais profundamente a natureza humana, evitando a apresentação de caracteres padronizados em termos de paixões, virtudes e defeitos.
c) A prosa realista põe em cena personagens tipificados que, metamorfoseados em heróis valorosos, correspondem à expressão da consciência e valores coletivos.
d) A prosa realista, apoiando-se em teorias cientificistas do século XIX, empreende a análise de instituições burguesas, como o casamento, por exemplo, denunciando as bases frágeis dessa união.
e) A prosa romântica recria o passado histórico com o intuito de ironizar os mitos nacionais.
 Questão 11
 (UEMG) Sobre o conteúdo e a estrutura do romance Dom Casmurro, todos os comentários das alternativas abaixo são coerentes e adequados, EXCETO:
a) Pela leitura da trama que orienta o enredo, o leitor é levado à conclusão de que o narrador-protagonista foi, de fato, traído pela sua amada, Capitu.
b) A reconstrução da casa no Engenho Novo para recuperação do espaço perdido em Mata- Cavalos não permite ao narrador a recuperação do seu passado.
c) O título do romance constitui uma referência irônica ao narrador e aponta o seu estado de conflito em relação ao passado.
d) A força da narrativa não se concentra no enredo, mas nas reflexões, digressões e na maneira ambivalente com que o narrador tenta reconstituir os fatos.

 Questão 12
(ESPM) Assinale a opção que contenha trecho com a conhecida digressão metalinguística presente na obra de Machado de Assis:
a) Ora bem, faz hoje um ano que voltei definitivamente da Europa. O que me lembrou esta data foi, estando a beber café, o pregão de um vendedor de vassouras e espanadores: “Vai vassouras! vai espanadores!”.
b) Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma cousa que morrer (…).
c) Rubião não sabia que dissesse; Sofia, passados os primeiros instantes, readquiriu a posse de si mesma; respondeu que, em verdade, a noite era linda (…).
d) Assim chorem por mim todos os olhos de amigos e amigas que deixo neste mundo, mas não é provável. Tenho-me feito esquecer.
e) Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às
orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros (…).
Questão 13

 (PUC) Leia os trechos abaixo:
I- “Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela… “
II- “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.”
As duas citações acima integram o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis. Delas pode inferir-se que:
a) em ambas há igual manifestação da relação temporal e espacial.
b) apenas em uma há referência espacial geográfica e sentimental.
c) nenhuma apresenta discrepância semântica entre as relações espaciais.
d) ambas operam com a relação de tempo e de espaço.
e) nenhuma revela discrepância semântica entre as relações temporais.
 Questão 14
 Sobre o Realismo, assinale a afirmativa correta.
a) O romance é visto como distração e não como meio de crítica às instituições sociais decadentes.
b) Os escritores realistas procuram ser pessoais e objetivos.
c) O romance sertanejo ou regionalista originou-se no Realismo.
d) O Realismo constitui uma oposição ao idealismo romântico.
e) O Realismo vê o Homem somente como um produto biológico.
Questão 15
Assim como a obra D. Casmurro, são também obras pertencentes ao Realismo.
a) Grande Sertão: Veredas e Os Sertões
b) Luzia-Homem e Iracema
c) Aves de Arribação e Iaiá Garcia
d) O Mulato e Memórias Póstumas de Brás Cubas
 GABARITO 
Resposta Questão 1
Alternativa “c”. Contrariando a linguagem literária vigente, que até então estava ancorada nos ideais românticos e na metalinguagem da literatura parnasiana, o Realismo rompeu com a subjetividade e com os eufemismos na linguagem que minimizavam a fealdade do caráter humano, representando o mundo exterior tal qual ele é, assim como o homem e suas relações sociais.

Resposta Questão 2
Alternativa “d”.

Resposta Questão 3
Alternativa “e”. Machado de Assis foi o maior expoente da Literatura realista produzida no Brasil, inaugurando o estilo com o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.


Resposta Questão 4
Alternativa “c”. Uma das principais características do Realismo era a objetividade da linguagem, evitando assim uma visão subjetiva sobre o homem e a sociedade. A arte literária ganhou um caráter denunciativo, ao expor, através da Literatura, graves problemas sociais.

Resposta Questão 5 .
Alternativa “a”Ao associar o texto e a imagem, percebemos algumas variações na descrição da cena, como por exemplo, a chuva. Os fortes traços na imagem demonstram a presença de uma chuva forte, enquanto que, no velório, o personagem Brás Cubas descreve a situação com uma chuva miúda, fraca. 
 Resposta Questão 6.
Alternativa “b” : Entre as informações analisadas, os únicos itens que não condizem com a estética realista são os números 2, 6 e 7. Uma das principais características do Realismo é o objetivismo e o compromisso com a realidade, desvinculando-se da imaginação e do senso de mistério. Ademais, como o realismo busca retratar as relações sociais do presente, o retorno ao passado seria incoerente ao movimento literário. 
 Resposta Questão 7.
Alternativa “dO movimento realista se desvincula de qualquer relação com os preceitos religiosos. O realismo possui um olhar crítico para as ações dos personagens, que são reflexos do ser humano.
 Resposta Questão 8.
 Alternativa “b”: Todas as alternativas estão relacionadas ao movimento realista.
 Resposta Questão 9.
 Alternativa “aA única alternativa correta é a letra A. As outras alternativas apresentam características de outras escolas literárias, como a idealização amorosa, dos personagens, final amoroso feliz e redenção pelo amor. Esses aspectos estão associados ao Romantismo.
 Resposta Questão 10.
Alternativa “d O realismo acrescenta um olhar crítico sobre as relações, principalmente sobre o casamento que, muitas vezes, é fragilizado por meio dos interesses de ascensão financeira. Na obra de Eça de Queiroz, a personagem Luísa vivia em um casamento ocioso, o que a faz procurar novos anseios e desejos, quando se tornará uma mulher adúltera.
 Resposta Questão 11.
 Alternativa “a”Não é possível concluir se, de fato, houve a traição de Capitu. A narração do narrador-personagem induz o leitor a pensar que sim, entretanto, pelo próprio narrador também atuar como personagem, apenas o seu ponto de vista é analisado dentro do enredo.
 Resposta Questão 12.
 Alternativa “b”Conseguimos perceber a metalinguagem na alternativa B, pois o narrador retoma a ideias de uma capítulo que ele mesmo produziu. 
 Resposta Questão 13.
 Alternativa “b”: Apenas no tópico I, o autor faz uma relação entre a distância espacial e sentimental. Já no tópico II, o autor faz uma referência temporal para expressar o tempo em que ele e Marcela ficaram juntos, baseado nos recursos financeiros de Brás Cubas.
 Resposta Questão 14.
 Alternativa ”dO Realismo rompe com todos os traços do movimento anterior, o Romantismo. Nesse sentido, busca abordar a realidade das relações amorosas e explorar críticas sobre as relações sociais.
Resposta Questão 15
Alternativa “d”.


quarta-feira, 3 de maio de 2017

ARTIGO DE OPINIÃO: AIDS E CARNAVAL - COM INTERPRETAÇÃO/ GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO:  AIDS E CARNAVAL

        Toda vez que lançamos uma campanha de carnaval, somos questionados sobre os resultados desse investimento que o Ministério da Saúde faz desde o início da epidemia de aids no Brasil.
        Os resultados não tem seu impacto imediato mensurável, como numa pesquisa de rua, mas estão aí na redução de quase 13 % nas novas notificações de aids entre 1999 e 2001 e no aumento de mais de 300% no consumo de preservativos masculinos comercializados no Brasil, que, de 1993 a 2000, saltou de 70 milhões para 350 milhões de unidades por ano. Além disso, a distribuição de preservativos, por parte do ministério da Saúde, cresceu de 18 milhões de unidades por ano, no início da década de 1990, para 200 milhões em 2001. Para este ano, a previsão é distribuirmos 300 milhões de preservativos.
        O brasil é um dos poucos países do mundo que tratam da questão da aids de forma tão clara nos veículos de comunicação. Outros países da região e muitos países desenvolvidos até hoje encontram dificuldades para veicular campanhas de massa informando sobre as formas de transmissão da doença e estimulando o uso do preservativo como meio de preveni-la.
        Nossas campanhas são discutidas elaboradas com um comitê técnico-cientifico que inclui representantes de organizações da sociedade civil, universidades e especialistas em prevenção às DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e à aids. O público-alvo escolhido é aquele para o qual as transmissões ocorrem mais: no ano passado foi endereçada aos homens que tem múltiplas parcerias sexuais e a deste ano aos heterossexuais jovens.
        Por que essa insistência? Porque a prevalência da aids vem caindo entre outros segmentos que no passado eram mais vulneráveis à transmissão do HIV (homossexuais e usuários de drogas) e aumentando entre os heterossexuais e as mulheres. A forma de transmissão por relações sexuais entre homens e mulheres já responde por 52% dos casos de aids notificados no país – 215.810 até junho de 2001.
        Quando fazemos uma campanha de massa estamos democratizando a informação. A escolha das datas de veiculação dessas campanhas também é importante. No carnaval atingimos todas as faixas etárias e aproveitamos um momento de alta descontração dos brasileiros para lembra-los de que a aids não acabou e a camisinha ainda é a melhor forma de prevenção contra a doença.
        O lembrete é oportuno, porque nos quatro dias de folia as pessoas costumam fazer uso de álcool e a sexualidade fica em alta. Estamos presentes também nos principais desfiles, com a distribuição de preservativos, folhetos, abanadores e outros materiais impressos. Esse trabalho é feito com a colaboração fundamental da sociedade civil, sem a qual seria impossível distribuir 8 milhões de preservativos em todo o Brasil.
        Mas as estratégias de prevenção à aids não se restringem apenas às campanhas pontuais. O trabalho é feito o ano inteiro com os diversos segmentos da população: estudantes, caminhoneiros, profissionais do sexo, índios, garimpeiros, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis, presidiários, operários, em assentamentos rurais, com mulheres, profissionais da saúde e professores, para citar alguns.
         Os investimentos anuais em prevenção e tratamento chegam perto de US$ 400 milhões, mas os resultados são animadores. A incidência da epidemia, que estava estabilizada em torno de 22 mil novos casos por ano até 1998, caiu para 20 mil novos casos em 1999 e 15 mil em 2000. O uso do preservativo no Brasil chega a 60% entre os jovens, um resultado que só o países do Primeiro Mundo tem alcançado. Isso, sim, é resultado de prevenção.
        Nos principais centros do país, as mortes por aids caíram 70% de 1996 para cá e as internações hospitalares foram reduzidas em 80%. Isso é resultado do tratamento. A soma desses dois polos de atuação – prevenção e tratamento – faz do programa de controle da aids do Brasil um modelo para todo o mundo. Mas isso não significa que devemos relaxar. A aids é uma doença cuja cura e vacina ainda estão distante.
        Os especialistas em comunicação e a experiência brasileira mostram que as campanhas de massa são essenciais. O Brasil é um país privilegiado por poder fazê-las. Além dos esforços da mobilização social, a cultura brasileira de tolerância e solidariedade tem permitido que questões delicadas relacionadas à epidemia de aids sejam tratadas de maneira franca, clara e honesta.
        O carnaval, como uma das maiores manifestações populares do país, além de ser um grande motivo de festa e descontração, tem se mostrado um excelente canal para tratar do assunto. Seria impossível deixarmos passar essa grande oportunidade.

 TEIXEIRA, Paulo Roberto. Folha de São Paulo, 9 fev. 2002. Caderno A, p. 3.

1 – “Aids e carnaval” é basicamente um texto de opinião. O autor defende uma tese: a de que a campanha de prevenção da aids no carnaval e eficiente.
Para sustentar sua tese, ele apresenta argumentos quantitativos (dados). Quais são eles? Ou, perguntando de outro modo: porque, na opinião do autor, a campanha é eficiente?
       2º parágrafo – A campanha, segundo o autor, é eficiente porque, em três anos, fez diminuir quase 13% as novas notificações de aids e, em sete anos, fez aumentar em 300% o consumo de preservativos masculinos.

2 – Que justificativa o autor dá para as campanhas dos últimos anos terem sido dirigidas a homens que tem múltiplas parceiras sexuais e a heterossexuais jovens?
       5º parágrafo – O fato de a ocorrência de aids ter caído entre os segmentos da população que eram antes mais vulneráveis (homossexuais e usuários de drogas) e aumentado entre os heterossexuais e as mulheres.

3 – Segundo o autor, qual é a importância de uma campanha de massa?
       6º parágrafo – A campanha de massa democratiza a informação.

4 – Por que as campanhas contra a aids são veiculadas principalmente durante o carnaval?
       6º e 7º parágrafos – Porque é possível, neste período, atingir todas as faixas etárias e, ao mesmo tempo, aproveitando o clima de descontração da festa, lembrar a todos que a aids não acabou e que é preciso prevenir-se contra ela.

5 – Por que o programa de combate à aids do Brasil é modelo para todo o mundo?
       9º e 10º parágrafos – O programa de combate à aids do Brasil é modelo para todo o mundo pelos resultados alcançados pela prevenção e pelo tratamento.

6 – Que justificativa o autor dá aos leitores para afirmar que o Brasil é um país privilegiado quanto às campanhas de massa contra a aids?
       11º parágrafo – O autor acredita que há no Brasil uma cultura de tolerância e solidariedade que tem permitido que questões delicadas relacionadas à epidemia da aids sejam tratadas de maneira franca, clara e honesta.

7 – Por que, segundo o autor, é importante a participação da sociedade civil na campanha durante o carnaval?
       7º parágrafo – Sem a participação da sociedade civil, seria impossível distribuir amplamente os preservativos em todo o país.