sexta-feira, 15 de outubro de 2021

ROMANCE: A NUVEM(FRAGMENTO) - GUDRUN PAUSEWANG - COM GABARITO

 Romance: A nuvem (fragmento)

     […]

        – Vamos embora sozinhos! – disse Janna-Berta com determinação. – De bicicleta.

        Um sorriso iluminou o rosto de Uli. Adorava andar de bicicleta. Janna-Berta ordenou que ele buscasse a sacola de plástico com as roupas no porão e vestisse sua jaqueta. […] Já conformada com a ideia de que Uli não sairia de casa sem ele, autorizou o urso de pelúcia que ele segurava decididamente nos braços. Fechou rapidamente a porta do terraço, pegou sua jaqueta e saiu de casa com Uli. Pediu que ele se apressasse.

        Desceram correndo a escada e tiraram suas bicicletas da garagem. Janna-Berta prendeu a sacola de plástico, o urso e a jaqueta na garupa de Uli. Na dela, colocou a mochila e em seguida partiram.

        […]

        Passando as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham todo para si.

        […]

        O caminho ficava cada vez mais estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli. Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.

        Uli chorava e Janna-Berta também sentia dificuldades em segurar as lágrimas. Desceram das bicicletas, deixando-as cair no chão. Janna-Berta arrependia-se por não terem ido com os Jordan. Uli agarrou-se a ela e Janna-Berta o abraçou. E agora? Voltar à aldeia e procurar um outro caminho para o norte?

        Já eram quase três horas.

        De repente escutaram motores vindo de trás do elevado. Levantaram as bicicletas e arrastaram- -nas para cima do elevado. Janna-Berta tropeçou e caiu escorregando para baixo. Uli foi o primeiro a chegar ao topo.

        – Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!

        Ela empurrou a bicicleta para cima do elevado. Viu Uli do outro lado, subindo no selim, e percebeu o ruído de um carro passando logo abaixo. Enquanto carregava sua bicicleta por sobre os trilhos, notou o imenso campo de colza em flor, antes escondido de sua vista. Como brilhava!

        Depois, viu ainda como Uli, triunfante, levantava os braços antes de largar-se declive abaixo, montando em sua bicicleta.

        – Cuidado! – gritou ela. – Você não pode… pelo cascalho…

        Nesse momento, Uli já voava por cima do guidão e caia sobre o caminho largo, onde um carro se aproximava em alta velocidade. A bicicleta tinha virado. O urso de pelúcia foi arremessado da garupa e parou no sopé do declive.

        – Uli! – gritou Janna-Berta.

        O motorista do carro não freou. Ouviu-se um baque surdo, e o carro continuou disparado, deixando atrás uma nuvem de poeira.

        Petrificada de espanto, Janna-Berta permaneceu no elevado. A nuvem de poeira dissipou-se e lá embaixo estava Uli estendido no chão. Não muito longe dele, o ursinho de pelúcia e a bicicleta. Apenas o guidão estava amassado. A roda dianteira ainda rodava. A cabeça de Uli, coberta pelo capuz, parecia estranhamente achatada sobre uma poça de sangue que aumentava a cada momento. Janna-Berta jogou a bicicleta no chão, desceu correndo pelo declive e ajoelhou-se ao lado de Uli. Acariciou sua mão, que ainda estava quente. Ela não se importava com a fila de carros vinda atrás de si. Ali estava Uli. Por ali ninguém podia passar. Ela permanecia agachada no meio do caminho.

        O primeiro carro freou. Um homem de barba e uma mulher ruiva desceram. Atrás deles, as buzinas disparavam furiosamente. O barulho aumentava cada vez mais. A ruiva levantou Janna-Berta:

        – Vocês também queriam ir à estação de Bad Hersfeld, não é?

        – Entre! – disse o barbudo. – Vamos levar você. As crianças se apertam um pouco.

        – Uli tem de vir também – disse Janna-Berta.

        – Uli? – perguntou a mulher. – Você quer dizer…

        Janna-Berta jogou a cabeça para trás e enfrentou a mulher com um olhar furioso.

        – Ele é meu irmão! – gritou.

        – Você não pode mais ajudá-lo agora – sussurrou o barbudo.

        […]

        Ele jogou a bicicleta de Uli nas moitas, levantou Uli do chão, entrou alguns passos no campo de colza e o deitou ali. Quando voltou, sua camisa estava cheia de sangue.

        – Não! – gritou Janna-Berta. – Não!

        Ela tentou correr para o campo de colza, mas a mulher a segurou. Janna-Berta quis se soltar batendo para todos os lados, até que o barbudo deu-lhe uma sonora bofetada. Aí ela desmoronou e se deixou levar para o carro, sem resistência.

        Assustadas, as três meninas espremeram-se no banco de trás.

        – Rápido! – gritou a ruiva. – Senão eles vêm para cima da gente.

        O homem e a mulher pularam em seus assentos, bateram à porta e partiram, seguidos pela fila de carros. A parada não consumiu mais que três minutos. Os dois adultos ficaram em silêncio. As crianças também. Janna-Berta não registrava mais nada. Apenas levantou a cabeça quando pararam num gramado ao lado do rio Fulda e a mulher tirou as meninas do carro. Por perto havia algumas casas. Isso deveria ser Bad Hersfeld. Ouviam-se trovões.

        […]

PAUSEWANG, Gudrun. A nuvem. São Paulo: Global, 2002.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 44-6.

Entendendo o romance:

01 – Que sentimentos esse texto despertou em você?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Releia os três primeiros parágrafos para responder às questões a seguir:

a)   Nesse trecho inicial da história, são narradas várias e sucessivas ações das personagens de forma bastante breve. Que efeito isso produz, considerando o contexto vivido por Janna-Berta e seu irmão?

As ações narradas dessa forma transmitem a pressa, a ansiedade e o desespero dos irmãos ao tentar sair logo de casa.

b)   Uli sorri ao saber que ele e a irmã fugirão de bicicleta e insiste em levar seu ursinho de pelúcia. O que esses fatos revelam sobre ele?

Que ele ainda é uma criança pequena, bastante inocente, e que não tem noção do risco que ele e a irmã estão correndo.

03 – Onde Janna-Berta e Uli pretendiam chegar?

      A uma estação de trem de Bad Hersfeld.

04 – Releia:

        “Passando as últimas casas, chegaram a uma linha férrea que se encontrava num elevado paralelo à estrada nacional para Bad Hersfeld. Uma trilha estreita margeava o elevado. Janna-Berta decidiu tomar aquele caminho. Já que ele era estreito demais para os carros, eles o tinham todo para si.

        […]

        O caminho ficava cada vez mais estreito. Dos dois lados a vegetação quase se fechava, batendo no rosto de Uli. Os últimos rastros do caminho perdiam-se num pasto.”

a)   Por que Janna-Berta decidiu não ir pela estrada e sim por uma trilha paralela?

Porque imaginou que os carros não conseguiriam passar por ali, deixando o caminho só para ela e Uli, que seguiam de bicicleta.

b)   O que foi acontecendo com a trilha, conforme os dois irmãos seguiram por ela?

A trilha foi se estreitando, diminuindo, perdendo-se em meio ao pasto e terminando em um morro.

05 – Na sequência do texto, o que fez Janna-Berta e Uli sentirem vontade de chorar?

      O fato de perceberem que o caminho em que seguiam havia acabado em um morro, deixando-os amedrontados.

06 – Ao ouvirem barulho de motores, o que os dois irmãos concluíram sobre o que havia do outro lado do elevado?

      Concluíram que havia uma estrada, já que carros estavam passando por ali.

07 – Releia este trecho:

        “– Janna-Berta – gritou agitado –, lá embaixo tem um caminho ótimo, tão bom quanto uma estrada!”

• Considerando o contexto, conclui-se que a agitação de Uli era positiva ou negativa?

      Era positiva, pois ele viu que havia um caminho por onde poderiam prosseguir.

08 – Explique como foi a morte de Uli.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Uli decidiu descer o declive de bicicleta, mas o morro estava coberto de cascalho. Ele escorregou da bicicleta e caiu na estrada, onde um carro passou por cima de sua cabeça.

09 – Ao assistir ao que aconteceu ao irmão, Janna-Berta ficou “petrificada de espanto”. O que isso significa?

      Significa que ela ficou sem reação, paralisada.

10 – Ao aproximar-se do irmão morto, Janna-Berta ficou agachada ao seu lado, no meio da estrada.

• Por que as pessoas buzinavam furiosamente, ignorando o fato?

      Porque Janna-Berta estava impedindo o caminho.

11 – Por que o homem barbudo deu uma bofetada em Janna-Berta?

      Porque ela estava agitada com a morte do irmão e era preciso controlá-la para todos saírem dali com urgência.

• Qual é a sua opinião sobre essa atitude do homem?

      Resposta pessoal do aluno.

PEÇA TEATRAL: A FUGA - RENATO ARLEM - COM GABARITO

 Peça teatral: A fuga

   Renato Arlem

Maria Lúcia (lugar-tenente)

Helena (chefe)

Jorge (chefe)

Gabi (medrosa)

Lúcia (medrosa)

Joana (quieta)

Mariana (brigona)

Renata

Juliana

Paulo

(Uma casa vazia só com um telefone. O bando chega, menos Paulo e Juliana.)

Helena: É aqui?

Gabi: De quem é essa casa?

Jorge: É do meu pai. Está desalugada.

Joana: E se descobrem?

Helena: Como vão descobrir?

Gabi: E se chamam a polícia?

Jorge: Claro que vão chamar a polícia, mas nunca vão pensar que viemos para uma casa vazia.

Renata: E quando é que a gente vai viajar?

Maria Lúcia: Calma, Renata. Primeiro a gente se instala aqui.

Joana: Minha mãe vai ficar muito nervosa.

Helena: E não é isso que a gente quer? Quando eles ficarem bem velhos a gente telefona e exige respeito.

Joana: Vou telefonar agora.

Jorge: Vai coisa nenhuma. Primeiro o susto. Depois a gente apresenta nossas reivindicações.

Gabi: Não quero, não.

Renata: Nem eu. Quero a minha mãe.

Helena: Olha aqui, menina covarde, se você pegar neste telefone vai se ver comigo.

Joana: Cadê Juliana e o Paulo?

Helena: Devem estar chegando. Olha na janela, anda Gabi.

(Gabi volta.)

Gabi: Lá vêm eles.

(Entram Juliana e Paulo cheios de compras de supermercado.)

Juliana: Legal esta casa.

Paulo: Compramos tudo.

Mariana: Trouxe o meu Toddy?

Paulo: Não. Nescau.

Mariana: Mas eu pedi Toddy.

Paulo: E daí?

Mariana: Você é um chato.

Paulo: Leite, Nescau, pão, chocolate.

Mariana: Me dá um.

Helena: Agora não. Temos que economizar.

Gabi (Gorda.) Quando é o almoço?

Helena: Calma, Gabi. Primeiro vamos nos instalar. Vamos ver a casa.

Gabi: Tô com uma fome!

(Saem Helena, Jorge, Maria Lúcia, Mariana, Juliana e Paulo.)

Lúcia: Não sei o que estou fazendo aqui.

Gabi: Nem eu.

Renata: Vamos fugir?

Lúcia: Helena me mata.

Gabi: Será que isto vai dar certo?

Lúcia: Se os pais da gente caírem, dá.

Renata: Meu pai não vai cair e ainda vai me dar uma surra.

Gabi: O que é que vocês vão pedir?

Lúcia: Vou exigir que papai se case de novo com mamãe.

Renata: Mas isto não vale, nós combinamos. Isto é assunto deles. A gente não pode se meter.

Gabi: Eu vou exigir da minha mãe que ela fique mais em casa.

Renata: Mas por que é que ela tanto sai?

Gabi: Cabelo, unha, jogo, amigas.

Renata: Mas ela não está separada do teu pai, está?

Gabi: Não, isto não. Mas é pior. Está separada da gente. Vive na rua.

Lúcia: À minha, vou exigir que pare de me pôr de castigo quando não estudo. Afinal, não sou mais uma criancinha.

Renata: Ao meu pai, que pare de tanto viajar e depois pare também de fingir que é um pai bom.

Lúcia: O que ele faz?

Renata: Quando chega de viagem começa a beber, a ler jornal e ainda diz que ama a família acima de tudo.

Lúcia: E vocês, que fazem?

Renata: A gente vê logo que é bafo porque ele só pensa em ganhar dinheiro. Bebe, bebe, bebe e dorme. Mamãe diz que ele está cansado e assim ele nunca conversou com a gente. Ignora nossa existência. E compra a gente com ­dinheiro. Por isso é que pude dar mais para o bolo.

Lúcia: Valeu!... O meu, para dizer a verdade, prefere ler jornal a conversar com a gente.

(Voltam os outros.)

Helena: A casa está toda depredada.

Jorge: O único lugar bom é este aqui.

Maria Lúcia: Acho melhor a gente se arrumar aqui mesmo.

Mariana: Cadê o rádio, Jorge?

Jorge: Tá aqui na mochila. Será que dizem alguma coisa?

Mariana: Liga. Tá na hora das notícias.

(Ouve-se música, depois a voz do repórter.)

Repórter: (Alto-falante.) E de novo o caso do desaparecimento de 10 crianças de um dos bairros mais elegantes da cidade. Depois dos comerciais. “Se você se sente presa, incomodada, use Sempre Livre.” E agora ouviremos o apelo de Dona Lúcia, mãe de uma das crianças.

Mariana: É mamãe!

Voz: Estou desesperada. Minha filhinha querida sumiu de casa desde ontem. Não aguento mais. Minha filhinha adorada foi raptada, garanto!

Mariana: Agora sou filhinha adorada! Nunca deu a menor bola para mim. Vivia na rua. Seus clientes eram muito mais importantes.

Todos: Psiu!!!

Repórter: Vai falar o Dr. Souza Aguiar, pai da menina Helena.

Pai: Se é dinheiro que querem estes raptores, pago o que quiserem. Quero minha filhinha de volta.

Helena: Ué, hoje não é dia de jogo? O que é que ele está fazendo no rádio?

Jorge: Desliga isto. (Desligam.)

Juliana: E agora, gente?

Paulo: Deixa eles sofrerem um pouco.

Joana: Minha mãe, garanto que ainda nem reparou. Está ocupada demais com o novo namorado.

Mariana: Os meus vão ter que ver comigo. Me prendem tanto em casa que não vou a uma festa!

Juliana: A minha mãe vai largar meu pai, não é? Pois então vou largar ele também.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Helena: Vamos comer.

(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)

Maria Lúcia: Tô com fome.

Renata: Eu também.

Helena: Para de ter fome, Maria Lúcia.

Gabi: Quero ir para casa!

Renata: Quero minha mãe.

Helena: Covardes!

Jorge: É preciso aguentar mais um pouco.

Mariana: E você vai arrumar mais comida, vai?

Jorge: Claro que vou.

Mariana: Com que dinheiro?

Helena: Acabou tudo. Também, vocês comem demais.

Juliana: E você, não?

Gabi: Não quero mais fugir não. Quero meu pai!

Joana: Estou me sentindo mal. Tô com dor de barriga.

Paulo: Essa casa é uma droga. Não sei quem teve essa ideia!

Joana: Quero voltar para minha casa. Quero meu pai, quero minha mãe.

Helena: Mas sua mãe não é uma chata?

Joana: É chata, sim, mas eu quero ela!

Gabi: Estou toda torta. Não aguento mais dormir neste chão. Quero minha cama.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Joana: Droga! Droga! Droga!

Jorge: Então vamos telefonar para nossos pais e fazer as reivindicações.

Juliana: Não quero reivindicação nada, quero minha mãe!

Helena: Vou ligar o rádio. (Toca alguma música da moda.)

Jorge: Vamos dançar. (Os dois tentam dançar.)

Mariana: Dançar coisa nenhuma! Quero minha mãe.

(Todos gritam em cima da música.)

Todos: Quero minha mãe!! Quero meu pai! Quero minha casa!

 Machado, Maria Clara. Exercícios de palco. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 98-102.

Entendendo a peça teatral:

01 – Por que as crianças fugiram de casa? O que reivindicavam?

      Reivindicavam mais atenção dos pais, possibilidade de convivência com eles e mais liberdade.

02 – É possível supor a idade das personagens? Como você chegou a essa conclusão?

      As personagens devem ter uma idade aproximada de 9 a 11 anos. A rádio anuncia o desaparecimento de crianças. O teor da conversa durante a peça auxilia na formação de uma ideia a respeito disso.

03 – É possível afirmar que todas as personagens que falam no texto encontram-se no mesmo espaço físico? Explique sua resposta.

      Não, as crianças estão em uma casa vazia, desalugada, mas, no texto, ainda aparecem falas do repórter e dos pais das crianças desaparecidas, que estão em outro lugar, no estúdio de uma estação de rádio.

04 – Em determinado momento da narrativa, há uma mudança de direção na história. Que mudança é essa? Localize no texto a frase que introduz esse momento.

      Com o tempo, as crianças começam a se cansar da situação e sentem fome e saudade da família. A frase que inicia essa mudança é: “(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)”

05 – Depois dos acontecimentos descritos na história, a que conclusão as crianças chegaram a respeito da vida que levavam com os pais?

      Chegaram à conclusão de que, apesar de tudo, era melhor a vida em casa com os pais do que a aventura.

06 – Em sua opinião, a saída das crianças de casa poderia provocar uma mudança de atitude dos pais e dos filhos? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Se você vivesse problemas parecidos com os das personagens, o que faria para tentar resolvê-los?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Em sua opinião, a que público se dirige essa peça? Por quê?

      A peça se dirige ao público em geral, inclusive aos jovens. Ela tanto interessa aos filhos como aos pais, pois enfoca problemas comuns nas famílias.

09 – Em quanto tempo se passa a história? Que recurso a autora utilizou para indicar esse tempo?

      Três dias. Um aluno entraria no palco com uma tabuleta para anunciar esse tempo ou ele seria informado por um alto-falante.

10 – Nesse texto, é possível identificar claramente algum narrador?

      Não, no texto não há o registro claro de alguém que conta a história.

11 – No texto dramático, para que servem as expressões entre parênteses?

      Elas servem para indicar características, gestos ou ações das personagens, além de detalhes sobre cenário, sonoplastia, etc. 

 

CRÔNICA: O GATO SOU EU - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: O gato sou eu

              Fernando Sabino

        – Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.

        – Continuou dormindo?

        – Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.

        – Que espécie de gato?

        – Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.

        – A que você associa essa imagem?

        – Não era uma imagem: era um gato.

        – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?

        – Associo a um gato.

        – Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.

        – Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.

        – Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.

        – Uma projeção do senhor?

        – Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.

        – Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.

        – Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.

        – Em quem o senhor está falando?

        – Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.

        – Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e disto não abro mão.

        – Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.

        – Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?

        – Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.

        – Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato sou eu, não é mesmo?

        – Aí é que você se engana. O gato é você, na sua opinião. E sua opinião é suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o gato é uma representação do que significo para você. Portanto, insisto em dizer: o gato sou eu.

        – E eu insisto em dizer: não é.

        – Sou.

        – Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais aqui.

        – Observe como inconscientemente você está rejeitando minha interferência na sua vida através de uma chantagem…

        – Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?

        – É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um gato.

        – Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta até dentro do meu sonho.

        – Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir nele a forma de um gato.

        – Já disse que o gato sou eu!

        – Sou eu!

        – Ponha-se para fora do meu gato!

        – Ponha-se para fora daqui!

        – Sou eu!

        – Eu!

        – Eu! Eu!

        – Eu! Eu! Eu!

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173-6.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p.142-8.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavra abaixo:

·        Onírico: que diz respeito a sonhos.

·        Reverencial: que manifesta reverência, respeito profundo.

·        Subconsciente: que existe na mente, mas não está ao alcance imediato da consciência.

02 – Converse com a turma e o professor a respeito das hipóteses levantadas antes da leitura.

a)   A situação engraçada imaginada por você, com base no título, foi tratada na crônica?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Que situação você imaginou? O que o levou a imaginar essa situação?

Resposta pessoal do aluno.

c)   O paciente e o psicanalista se entenderam na conversa?

Não.

d)   Você imaginava que eles iriam se entender?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Embora essa seja uma crônica narrativa, ela não apresenta narrador.

a)   A ausência de intervenções do narrador compromete o entendimento da história narrada? Por quê?

Não. As informações sobre os personagens, suas reações e os demais elementos da estrutura narrativa da crônica são todos perceptíveis com base no diálogo entre os personagens.

b)   Essa característica de a ação ser inteiramente construída pelo diálogo entre os personagens aproxima a crônica “O gato sou eu” de outro gênero textual. Qual?

(  ) Conto.

(X) Texto dramático.

(   ) Poema.

Justifique a resposta que você assinalou.

Essa característica aproxima a crônica do texto dramático, no qual comumente não há narrador, pois a ação é toda construída pelos diálogos entre personagens.

04 – O paciente conta ao psicanalista algo que provoca uma tensão na conversa entre eles.

a)   Qual é o fato contado que provoca essa tensão?

O fato de o paciente ter sonhado com um gato é o que provoca a tensão na conversa entre ele e o psicanalista.

b)   Quanto a estrutura narrativa, como pode ser classificada essa tensão?

(   ) Apresentação.

(X) Conflito.

(   ) Clímax.

(   ) Desfecho.

Explique sua resposta.

Do ponto de vista narrativo, isso e um conflito, pois ambos, psicanalista e paciente, acreditam ser o gato, o conflito se dá pois um procura dissuadir o outro dessa ideia.

05 – A palavra , na frase a seguir, costuma ser classificada como um advérbio de lugar.

        – Aí então, eu sonhei que tinha acordado.”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

a)   Considerando o contexto, é possível afirmar que essa palavra faz referência a um lugar? O que ela expressa?

Não faz referência a um lugar; expressa uma continuidade, complemento a algo que já fora dito.

b)   Com base nesse sentido, é possível afirmar que essa frase de abertura coincide com o início da conversa?

Não.

c)   A brevidade é uma das marcas do gênero crônica. Levante hipótese que justifique o uso dessa palavra na abertura do texto.

Uma hipótese possível é que, ao começar a crônica por essa palavra, o autor enfoca, logo na abertura, o conflito da narrativa, o que contribui para a brevidade característica da crônica.

06 – Releia o trecho a seguir e escreva no final de cada parágrafo quem é o personagem que está falando, se paciente ou psicanalista.

        “– [...] Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato. Paciente.

        – A que você associa essa imagem? Psicanalista.

        – Não era uma imagem: era um gato. Paciente.

        – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela? Psicanalista.

        – Associo a um gato.” Paciente.

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

a)   Na fala do psicanalista, o sentido da palavra imagem é literal ou figurado? Explique.

Para o psicanalista, o sentido de imagem é figurado, pois, para ele o gato “simboliza” algo, no caso, “uma profunda vivência interior”, portanto imagem tem um sentido de representação simbólica.

b)   E na fala do paciente? Explique.

Para o paciente, o sentido de imagem é literal, pois para ele o gato não pode ser uma representação, reprodução visual, daí afirmar: “Não era uma imagem: era um gato”.

07 – Leia o trecho a seguir e as afirmações sobre ele. Depois marque a alternativa correta.

        “– Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

I – O psicanalista acredita despertar temor no paciente.

II – Para o psicanalista, o gato simboliza alguém desconhecido pelo paciente.

III – A palavra que sintetiza o conteúdo da fala do psicanalista é “representação”.

a)   Todas as informações estão corretas.

b)   Somente I e III estão corretas.

c)   Somente I e II estão corretas.

d)   Somente III é correta.

08 – Releia este trecho e, antes de responder às questões, identifique a quem pertence cada turno de fala.

        “– Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu. Psicanalista.

        – Uma projeção do senhor? Paciente.

        – Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você. Psicanalista.

        – Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.” Paciente.

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 174.

a)   A que classe de palavras pertence a palavra eu na frase do psicanalista “O que se sonha não passa de uma projeção do eu”?

A palavra eu é um substantivo.

b)   E na frase do paciente “Eu sou eu”, a que classe gramatical a palavra eu pertence?

A palavra eu, nessa frase, é um pronome.

c)   Explique o efeito de humor produzido nesse trecho com base nas diferenças de classe gramatical da palavra eu.

O paciente em sua fala, demonstra compreender que o psicanalista se refere à individualidade do ser, ao “eu” como pronome pessoal (1ª pessoa do singular), um ser que se diferencia de outro, enquanto o psicanalista se refere à subjetividade do indivíduo, ao “eu” como substantivo.

d)   Explique som suas palavras o que o psicanalista quis dizer ao paciente com: “O eu, no caso, é você.”

Resposta pessoal do aluno.

09 – Cabe ao psicanalista analisar as falas do paciente. Em um momento da crônica, porém, é o paciente que passa a analisar o psicanalista.

a)   Transcreva a fala do paciente que marca essa mudança de atitude.

“– Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?”

b)   Ao analisar o psicanalista, o paciente busca convencê-lo de quê?

Busca convencê-lo de que ele é o gato, e não o psicanalista.

c)   Que argumento ele usa para isso?

O argumento de que, como o sonho no qual aparece o gato é dele (do paciente), o gato é ele e não o psicanalista.

d)   O psicanalista concorda com esse argumento? Explique.

Não, ele acredita que o argumento do paciente é suspeito porque foi produzido pela consciência, o que contrasta com a imagem do gato que, segundo o psicanalista, é produto do inconsciente.

10 – Releia o trecho:

        “-- Ponha-se para fora do meu gato!

         -- Ponha-se para fora daqui!”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 175.          

a)   A primeira fala apresenta um trocadilho. Qual pode ser?

Em vez de o paciente dizer “Ponha-se para fora do meu quarto!”, ele diz “Ponha-se para fora do meu gato!”.

b)   Explique o uso desse trocadilho no contexto da crônica.

O psicanalista e o paciente reivindicam ser o gato. Ao dizer “Ponha-se para fora do meu gato!”, o paciente expressa o desejo de o psicanalista desistir da ideia de ser o gato.