domingo, 22 de maio de 2022

CONTO: A ESPERTEZA DO TATU - ROSANE PAMPLONA - COM GABARITO

 Conto: A ESPERTEZA DO TATU

           Rosane Pamplona

        No tempo em que os animais falavam (mas nem todos se entendiam, como veremos...), ia certo dia um lenhador pela floresta, quando ouviu os urros de uma onça, que caíra numa armadilha preparada por alguns caçadores.

        O lenhador se aproximou da armadilha e a onça suplicou-lhe que a tirasse dali. O homem ficou desconfiado:

        -- Eu, hein?! Você é uma onça, bicho perigoso. Se eu a soltar, depois você vai querer me devorar.

        Mas a onça jurou por todas suas pintas que não, imaginem, jamais faria algo contra seu próprio benfeitor. Se ele a soltasse ela, ela lhe seria eternamente agradecida, eternamente reconhecida, eternamente sua devedora, e tanto falou que acabou convencendo o homem.

        Porém... assim que ele a soltou das cordas que a prendiam, a falsa o agarrou:

        -- Sinto muito, amigo, mas estou faminta e você será meu almoço!

        -- O quê?! – bradou o lenhador. – Você promete, jura e ainda me faz uma ingratidão dessas?

        -- Ingrato é o ser humano – Filosofou a onça. – Pois não estraga a floresta que lhe dá vida? Eu sou apenas uma onça, animal que come carne, como você sabe, e estou seguindo meus instintos.

        Mas o lenhador argumentou: naquele caso, quem tinha razão era ele, a ingrata era ela e, já que não chegavam a um acordo, teriam que chamar um juiz para decidir a contenda.

        A onça concordou.

        O primeiro a passar ali foi um tatu, logo chamado para intervir na questão e julgar as partes contrárias. O tatu ouviu os argumentos dos dois e depois decidiu:

        -- Não posso fazer um julgamento perfeitamente justo se não souber exatamente como é que a onça estava antes de ser solta. Por favor senhora onça, queira voltar a sua posição na armadilha.

        A onça, distraída caiu no logro. Voltou a armadilha e tornou-se novamente prisioneira.

        -- Vamos embora – Disse o esperto tatu ao homem. – Ela que suplique agora aos caçadores e aprenda que o bem não se paga com o mal.

Rosane Pamplona. Almanaque bichos do Brasil. São Paulo: Moderna, 2014.

Fonte: livro – Língua portuguesa – Buriti mais português – 4° ano – ensino fundamental – Anos iniciais – 1ª edição, São Paulo, 2017. Moderna. p. 24-9.

Entendendo o conto:

01 – Converse com os colegas.

a)   Quando aconteceu essa história?

A autora diz ironicamente que a história se passou “no tempo em que os animais falavam”. Não há definição precisa de quando tudo aconteceu.

b)   Se você fosse o lenhador, teria soltado a onça? Explique.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Você acha que o leitor pode aprender algo com essa história? Explique.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, porque ela ensina que não se paga o bem praticando o mal.

02 – Releia o início do conto.

        “No tempo em que os animais falavam (mas nem todos se entendiam, como veremos...) [...]”.

·        Por que o trecho sublinhado está entre parênteses?

Porque é uma observação do narrador que não tem relação direta com o acontecimento da história; foi feita apenas para tornar o conto divertido.

03 – Releia este trecho.

        “Mas a onça jurou por todas suas pintas que não, imaginem, jamais faria algo contra seu próprio benfeitor. [...]”.

a)   Por que a onça jurou pelas suas pintas?

Porque as pintas são o que ela tem de mais precioso.

b)   Por que a palavra imaginem foi usada no trecho?

(   ) Porque a onça quer que o lenhador se imagine sendo devorado por ela.

(X) Porque a onça quer demonstrar indignação com a ideia de fazer mal a seu benfeitor.

04 – Sublinhe a palavra desta fala da onça que demostra ironia “-- Sinto muito, amigo, mas estou faminta e você será meu almoço!”

·        Por que o uso dessa palavra é irônica?

Porque, se a onça realmente considerasse o lenhador seu amigo, não o comeria no almoço.

05 – Nesse conto, há duas personagens protagonistas e uma antagonista.

a)   Quem são as protagonistas? Quem é o antagonista?

Protagonistas: o lenhador e o tatu; Antagonista: a onça.

b)   Que personagem foi a mais esperta?

Foi o tatu.

c)   Qual foi a esperteza desse personagem?

Pedir à onça que voltasse à sua posição na armadilha.

d)   Que outro personagem mostrou esperteza no conto?

A onça.

e)   Qual foi a esperteza dela?

Enganou o lenhador, dizendo que não o devoraria se ele a soltasse.

06 – Relacione cada personagem à ação praticada na história.

A – Tatu.

B – Onça.

C – Lenhador.

(C) Desconfiou, mas ajudou assim mesmo.

(A) Foi chamado para ajudar.

(B) Suplicou por ajuda.

07 – Que argumentos a onça usou para justificar seu desejo de devorar o lenhador mesmo após ele soltá-la da armadilha?

      Ela disse que era um animal que comia carne e que estava apenas seguindo seus instintos.

08 – Que argumento o lenhador usou para não ser devorado?

      Ele disse que a onça era ingrata e que, já que não chegavam a um acordo, teriam que chamar um juiz para decidir a contenda.

09 – Assinale a frase que demonstra a esperteza do tatu para convencer a onça a voltar para a armadilha.

(X) O tatu ouviu com atenção a onça e o lenhador e falou com seriedade que a onça deveria voltar para o lugar onde ela estava.

(   ) O tatu não deu muita atenção à onça e ao lenhador e foi logo chegando a uma conclusão.

10 – Qual é o desfecho da História?

      A onça cai na esperteza do tatu e volta para a armadilha, tornando-se novamente uma prisioneira.

11 – Releia este trecho.

        “[...] Se ele a soltasse ela, ela lhe seria eternamente agradecida, eternamente reconhecida, eternamente sua devedora, e tanto falou que acabou convencendo o homem.”.

a)   Copie a palavra que se repete.

Eternamente.

b)   Qual foi a intenção do autor ao repetir essa palavra?

O autor usou a palavra três vezes com a intenção de mostrar que a onça falou muito e insistiu bastante até convencer o lenhador de que não o devoraria.

12 – Releia o trecho.

        “A onça, distraída, caiu no logro.”. Marque a alternativa que indica o significado da palavra logro.

(   ) Habilidade para não se deixar enganar.

(X) Artifício ou manobra com que se engana ou ilude alguém.

CONTO: PRA DAR NO PÉ - PEDRO ANTÔNIO DE OLIVEIRA - COM GABARITO

 Conto: Pra dar no pé

            Pedro Antônio de Oliveira

        Da varanda lá de casa, eu a avistava: linda, exuberante e charmosa. Nela moravam: bem-te-vi, pintassilgo, pombo, juriti, marimbondo e formiga alpinista, Papagaio de seda também! Desses do mês de julho que, em vez de ficar requebrando no céu, decidem embaraçar a rabiola nos galhos mais altos e ficar por ali mesmo. Teve um que gostou tanto de morar na árvore que nunca mais foi embora.

        No meio do ano, começavam a aparecer pequenas flores naquele pé de manga. Os frutos só chegaram em meados de dezembro. As chuvas do fim de tarde, muitas vezes, aprontavam: jogavam no chão as suculentas frutas. Umas se esborrachavam feio na lama. A dona Tina, na manhã seguinte, distribuía tudo entre a vizinhança. Era bom.

        Um dia, surgiu uma notícia que não agradou a molecada, Iriam derrubar o pé de manga. E, no lugar, construir uma casa. Achei um absurdo! Será? Os bichos ficariam sem lar, o ar sem oxigênio e eu sem minhas mangas! Ora, onde já se viu um negócio desses?!

        Corri como foguete pra chamar a turma. Fomos pra debaixo da mangueira. Criamos grito de guerra e tudo, só pra tentar salvar a árvore. Improvisamos cartazes e fizemos o maior auê.

        Logo conseguimos mais adeptos para a manifestação. A rua inteira ficou tomada de gente. Vieram tevê, rádio, jornal... Eu não parava de dar entrevistas. Fiz discurso inflamando, precisava ver, com direito a lágrimas e voz rouca pra causar emoção. O pior foi quando me empolguei. Estava agradando tanto, que comecei a dirigir adjetivos pouco delicados à dona Tina. Ela que não deixasse cortar a árvore!

        Mas o tiro saiu pela culatra. Nós nunca mais chupamos mangas daquela mangueira. Nunca mais mesmo! Dona Tina ficou irritada com as coisas que eu disse a respeito dela durante o protesto. Berrou para a vizinhança toda ouvir que se arrependeu amargamente de ter plantado a mangueira e falou ainda que, se pudesse, plantaria era a mão na minha orelha!

        A notícia boa é que o pé de manga não foi derrubado. Os bichos não ficaram sem lar, o ar não perdeu oxigênio... A ruim é que tudo não passou de boato. Ninguém jamais quis destruir a árvore. Dá pra acreditar? Veja que mico. Ah, por falar nisso, tem mesmo um mico morando lá nas alturas. O danado vive bem. Chupa manga que só vendo! Quem sabe não pinta uma amizade e ele arremessa de lá umas frutinhas pra gente?! Porque manga, de agora em diante, só assim.

        Descobri que espírito ecológico não combina com fofoca.

                         Pedro Antônio de Oliveira. Uma história, uma lorota... e fiquei de boca torta! Belo Horizonte: Editora Formato, 2008.

Fonte: livro – Língua portuguesa – Buriti mais português – 4° ano – ensino fundamental – Anos iniciais – 1ª edição, São Paulo, 2017. Moderna. p. 38-42.

Entendendo o conto:

01 – Após a leitura do texto, responda as questões abaixo, se preciso for procure no dicionário.

a)   O que quer dizer papagaio de seda? E rabiola?

Papagaio de seda: papagaio (pipa) feito com papel de seda. Rabiola: rabo ou cauda de papagaio de papel.

b)   Você conhece o significado de boato? Se não conhece, é possível descobrir o que a palavra significa pela leitura do conto?

Mexerico.

c)   Encontre no texto outra palavra que tenha o mesmo significado de boato.

Fofoca.

02 – Converse com os colegas.

a)   Quem é o narrador do conto? Justifique sua resposta.

O narrador parece ser um menino. Ele conta que a notícia não agradou a “molecada” e que foi chamar a “turma”.

b)   Que acontecimento faz o narrador organizar uma manifestação?

A notícia da derrubada do pé de manga.

c)   O que você acha que o narrador deveria ter feito antes de tomar essa atitude?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: ele deveria ter conversado com a principal pessoa envolvida, dona Tina, para conhecer as razões dela.

d)   Existe, na região onde você mora, um elemento da natureza que você gostaria de ver sempre preservado? Qual?

Resposta pessoal do aluno.

e)   Você conhece alguém que já ficou em situação complicada por causa de fofoca?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Assinale o trecho que mostra que o narrador, além de contar a história, também é personagem.

(   ) No meio do ano, começavam a aparecer pequenas flores naquele pé de manga. Os frutos só chegaram em meados de dezembro. As chuvas do fim de tarde, muitas vezes, aprontavam: jogavam no chão as suculentas frutas. Umas se esborrachavam feio na lama.

(X) Achei um absurdo! Será? Os bichos ficariam sem lar, o ar sem oxigênio e eu sem minhas mangas! Ora, onde já se viu um negócio desses?!

(   ) Mas o tiro saiu pela culatra.

04 – Explique como você descobriu a resposta da questão anterior.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: as palavras eu e minha deixam claro que é a personagem que está contando a história.

05 – Quais são as outras personagens do conto?

      Dona Tina e a turma de amigos do narrador.

06 – Dona Tina era uma pessoa generosa ou egoísta em relação aos vizinhos? Explique.

      Era generosa. No início do conto, o narrador informa que ela distribuía mangas pela vizinhança.

07 – O narrador apresenta três razões contra a derrubada do pé de manga. Quais são elas?

      Os bichos ficariam sem lar; o ar, sem oxigênio; e ele, sem as mangas.

08 – Por que Dona Tina acabou ficando irritada com o narrador?

      Porque, além de mobilizar muita gente contra ela, ele a criticou sem se preocupar em verificar o que, de fato, ela pensava fazer.

09 – Escreva o significado que estas expressões têm no texto.

a)   Veja que mico.

Veja que vexame.

b)   O tiro saiu pela culatra.

O ato prejudicou a quem o praticou.

c)   Fazer o maior auê.

Fazer uma grande confusão.

d)   Plantar a mão na orelha.

Dar um tapa na orelha.

e)   Onde já se viu um negócio desses?

Onde já se viu acontecer algo parecido? / Como é possível isso acontecer?

10 – O uso dessas expressões torna o texto:

(X) Divertido.

(   ) Sério.

(   ) Formal.

(X) Informal.

PINTURA: PERSPICÁCIA - RENÉ MAGRITTE - COM GABARITO

 Pintura: Perspicácia

 


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnU1sB-53eLcMq-nt-LeHhu-jcMZRPnGqxSEdqKoHXdhhEi12kD-p_8vZmkBEnVF96KEM6d9PkVTTaCJcVCfbdNOArf0Xs4s32d7e-W6Ao0WNfJEa0FhwTlBHs4OEw-j0Y843xptjwUwwx-4IbrXZmVgFRgt5IXnwx06cOufS13CB8FlSvcXzjkTNY/s1600/rene.jpg

Perspicácia. René Magritte, 1936.

Fonte: livro – Língua portuguesa – Buriti mais português – 4° ano – ensino fundamental – Anos iniciais – 1ª edição, São Paulo, 2017. Moderna. p. 11.

Entendendo a pintura:

01 – Observe a imagem e converse com os colegas. Responda:

a)   O que o homem está fazendo?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pintando um quadro.

b)   O que ele observa?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Provavelmente, o ovo, que está encima da mesa ao lado.

c)   O que ele está pintando?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Um pássaro.

02 – Agora, fale de você.

a)   Você se considera uma pessoa observadora e atenta?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Gosta de buscar explicações e significados para as coisas?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Você se considera uma pessoa esperta?

Resposta pessoal do aluno.

ROMANCE: OS SERTÕES - CAPÍTULO III - EUCLIDES DA CUNHA - COM GABARITO

 Romance: OS SERTÕES – Capítulo III

                  Euclides da Cunha

        O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

        A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

        É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço `geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo – cai é o termo – de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.

        É o homem permanentemente fatigado.

        Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

        Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.

        Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes, aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro, reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Nova Cultural, 2002.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 277-9.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Acobreado: amorenado.

·        Atonia: perda de tônus; inércia.

·        Canhestro: desajeitado, torto.

·        Combalido: abalado, enfraquecido.

·        Desempeno: elegância.

·        Empertigar-se: aprumar-se, endireitar-se.

·        Espenda: parte da sela em que se apoia a coxa do cavaleiro.

·        Estadear: demonstrar, ostentar.

·        Hércules-Quasímodo: substantivo formado a partir de: Hércules (indivíduo de força incomum, assim como o herói grego) e Quasímodo (indivíduo monstruoso, feio, assim como a personagem literária).

·        Remorado: adiado.

·        Sofrear: suspender ou modificar a marcha de uma cavalgadura puxando as rédeas.

·        Tabaréu: caipira.

·        Titã: pessoa de características físicas ou morais extraordinárias.

·        Translação: movimento de um corpo em que todos os componentes se deslocam paralelamente e mantêm as mesmas distâncias entre si.

·        Umbral: local de entrada, cada uma das peças verticais que compõem as aberturas em que se encaixam portas ou janelas.

02 – Euclides da Cunha afirma: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.

a)   Se, de acordo com o pensamento desse autor, o sertanejo é antes de tudo um forte, por que sua força não se revela numa observação inicial?

Porque, de acordo com o texto, suas características físicas mostrariam-no, à primeira vista, como alguém desgracioso, desengonçado. Seus gestos e sua postura indicariam uma pessoa preguiçosa, ou seja, sua presença acabaria contrariando a ideia de que ele é um forte.

b)   Considerando o texto, em que situação essa força se revelaria?

Quando aparecesse um incidente que exigisse dele algum tipo de reação. Daí sua postura e seus gestos se modificariam, ele se tornaria um gigante ágil e determinado na realização de seus intentos.

03 – A forma é fundamental na construção desse trecho. O termo “Hércules-Quasímodo” resume as ideias apresentadas pelo autor sobre aquilo que, para ele, seria a essência contraditória do sertanejo. Mas o autor não se restringe a esse termo; ele enumera diversas características para construir sua visão.

a)   Aponte no caderno algumas expressões do texto que aproximam o sertanejo de um Hércules.

Ombros possantes, olhar desassombrado e forte, aspecto dominador de um titã acobreado e potente, desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.

b)   Aponte agora algumas expressões que o relacionam a um Quasímodo.

Desgracioso, desengonçado, torto; fealdade típica dos fracos; andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso, membros desarticulados; humildade deprimente; uma simplicidade ridícula e adorável.

04 – A descrição do sertanejo feita por Euclides da Cunha confirma ou contraria a visão que Lentz, do livro Canaã, tem do brasileiro em geral? Justifique sua resposta.

      Contraria. Lentz considera os brasileiros preguiçosos, diz que a mestiçagem é negativa. O narrador de Os sertões escreve que o sertanejo tem certo aspecto aparentemente fatigado, o que parecia confirmar a visão de Lentz, mas logo destaca a força, o aspecto dominador e ágil revelado diante de uma necessidade.

05 – A visão da personagem Lentz sobre o outro – ou seja, o diferente – é francamente negativa e preconceituosa, já que considera a mestiçagem dos brasileiros algo que os tornaria inferiores aos europeus. De outro lado, o escritor brasileiro Euclides da Cunha, ao descrever o brasileiro do sertão, enumera diversos aspectos que também demonstram a sua visão sobre o outro. Pensando nisso, responda:

a)   De acordo com o ponto de vista atual, que tipos de preconceito podem ser percebidos no discurso apresentado em Os sertões? Explique.

O autor de Os sertões, embora procure compreender o outro, baseia-se em preconceitos relacionados ao aspecto físico do sertanejo, que ele considera inferior, “desgracioso”, “desengonçado”, para construir o seu discurso.

b)   Qual a sua relação com pessoas que possuem características diferentes das suas? É difícil par você compreender essas diferenças?

Resposta pessoal do aluno.

 

ROMANCE: CANAÃ - FRAGMENTO - GRAÇA ARANHA - COM GABARITO

 Romance: Canaã – Fragmento  

                  Graça Aranha

Fragmento 1

        Milkau e Lentz caminham floresta adentro. Seguem em direção às terras onde viverão. Enquanto caminham, conversam: Lentz expõe sua visão preconceituosa e racista, Milkau, seu idealismo.

        E mudos continuavam a caminhar pela estrada coberta, os olhos de ambos a desmancharem-se de admiração.

        Passado algum tempo, Lentz exprimiu alto o que ia pensando:

        — Não é possível haver civilização neste país… A terra só por si, com esta violência, esta exuberância, é um embaraço imenso…

        — Ora, interrompeu Milkau, tu sabes bem como se tem vencido aqui a natureza, como o homem vai triunfando…

        — Mas o que se tem feito é quase nada, e ainda assim é o esforço do europeu. O homem brasileiro não é um fator do progresso: é um híbrido. E a civilização não se fará jamais nas raças inferiores. Vê a História…

        — Um dos erros dos intérpretes da História está no preconceito aristocrático com que concebem a ideia de raça. Ninguém, porém, até hoje soube definir a raça e ainda menos como se distinguem umas das outras; fazem-se sobre isto jogos de palavras, mas que são como esses desenhos de nuvens que ali vemos no alto, aparições fantásticas do nada… E, depois, qual é a raça privilegiada para que só ela seja o teatro e agente da civilização?

Fragmento 2

        Milkau e Lentz, no dia seguinte, prosseguiam a caminhada. O tema propriedade privada também evidencia a diferença de ponto de vista dos dois alemães. Milkau questiona:

        — Não seria muito mais perfeito que a terra e as suas coisas fossem propriedade de todos, sem venda, sem posse?

        — O que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse. O que está hoje fora do domínio, amanhã será a presa do homem. Não acreditas que o próprio ar que escapa à nossa posse será vendido, mais tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a terra? Não será uma nova forma da expansão da conquista e da propriedade?

        — Ou melhor, não vês a propriedade tornar-se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia de aquisição popular, que se vai alastrando e que um dia, depois de se apossar dos jardins, dos palácios, dos museus, das estradas, se estenderá a tudo?… O sentimento da posse morrerá com a desnecessidade, com a supressão da ideia da defesa pessoal, que nele tinha o seu repouso…

        — Pois eu, ponderou Lentz, se me fixar na ideia de converter-me em colono, desejarei ir alargando o meu terreno, chamar a mim outros trabalhadores e fundar um novo núcleo, que signifique fortuna e domínio… Porque só pela riqueza ou pela força nos emanciparemos da servidão.

        — O meu quinhão de terra, explicou Milkau, será o mesmo que hoje receber; não o ampliarei; não me abandonarei à ambição, ficarei sempre alegremente reduzido à situação de um homem humilde entre gente simples. Desde que chegamos, sinto um perfeito encantamento: não é só a natureza que me seduz aqui, que me festeja, é também a suave contemplação do homem. […]

GRAÇA ARANHA. Canaã. São Paulo: Ática, 1997.

        Franz Kraus é um dos colonos do Jequitibá, lugar distante de Porto do Cachoeiro. Alguns anos após a morte de seu pai, as autoridades da região resolveram ir a sua casa exigir um inventário — soma dos bens deixados pelo falecido. Leia o trecho sobre o encontro de Kraus com essas autoridades e atente ao tipo de relação que ali se estabelece.

Fragmento 3

        — Você se chama Franz Kraus? Perguntou o mulato de cima da montaria, desdobrando uma folha de papel, que tirara do bolso.

        O colono disse que sim.

        — Pois, então, tome conhecimento disto. E desdenhoso entregou o papel ao outro.

        Kraus olhou o escrito e, como, apesar de estar no Brasil havia trinta anos, não sabia ler o português, ficou embaraçado.

        — Não posso ler… Que é?

        — Também vocês vivem aqui na terra a vida inteira e estão sempre na mesma, bradou o mulato. Venho por aqui furando este mundo, e de casa em casa sempre a mesma coisa: ninguém sabe a nossa língua… Que raça!

        O colono ficou aturdido com aquele tom insolente. Ia replicar meio encolerizado, quando o mulato continuou:

        — Pois fique sabendo que isto é um mandado de Justiça. É um mandado do juiz municipal para que vosmecê dê a inventário os bens de seu pai Augusto Kraus. Não era assim o nome dele? A audiência é amanhã, aqui, ao meio-dia… A Justiça pernoita em sua casa. Prepare do que comer… e do melhor. E os quartos… São três juízes, o Escrivão e eu, que sou o Oficial do Juízo, que também se conta.

        O colono, ouvindo falar em Justiça, tirou o chapéu submisso, e ficou como fulminado.

        […]

        Na manhã seguinte, a “colônia” estava ordenada. Kraus, vestido como nos domingos, pôs-se inquieto a andar no terreiro, espreitando a chegada dos magistrados. As mulheres, também vestidas com os seus melhores fatos, não se arredavam do trabalho da cozinha.

        […]

        — Mas, senhores, entremos… A casa é nossa em nome da Lei, disse o Juiz de Direito, encaminhando-se para dentro.

        — Mas onde está esse inventariante imbecil? Perguntou com arrogância o Promotor.

        — O sandeu fica todo este tempo a arranjar os animais e nos deixa aqui ao deus-dará, explicou o Escrivão.

        E todos passeavam pela sala com estrépito, batendo com o chicote nos móveis, ou praguejando, ou rindo das pobres estampas nas paredes, ou farejando para dentro, de onde vinha um capitoso cheiro de comida.

        […]

        Ouvindo tanto rumor, Kraus correu à sala atarantado, como se já tivesse cometido o primeiro delito, e pôs-se como um criado à espera das ordens.

        — Traga parati! Ordenou o Escrivão. Mas que seja do bom.

        O colono sumiu-se para logo voltar com uma garrafa e um cálice.

        — Não há mais copos nesta casa? Perguntou com desprezo o Escrivão.

        O colono tornou ao interior e depois reapareceu, balbuciando desculpas, e pôs em cima da mesa quatro copos.

        — Vamos a isto, meus senhores! Propôs o Promotor.

GRAÇA ARANHA, op. cit.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 273-6.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Fato: traje.

·        Sandeu: idiota, tolo.

·        Estrépito: alarido, algazarra.

·        Capitoso: estonteante.

·        Parati: aguardente, cachaça, pinga.

·        Híbrido: aquele que é fruto do cruzamento de dois progenitores de espécies ou genótipos diferentes.

·        Venalidade: condição ou qualidade do que pode ser vendido.

·        Espraiar: lançar para todos os lados.

·        Quinhão: o que cabe ou deveria caber a uma pessoa.

·        Furar: percorrer de ponta a ponta; atravessar.

·        Aturdido: atordoado.

·        Encolerizado: com raiva.

02 – No caderno, relacione as personagens Milkau (1) e Lentz (2) às características abaixo e, em seguida, identifique o trecho do texto que comprova sua resposta.

        Otimista – idealista – insubmisso – ambicioso – racista – desprendido – realista.

      Otimista: 1 – “Ou melhor, não vês a propriedade tornar-se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia de aquisição popular”. Idealista: 1 – “Não seria muito mais perfeito que a terra e as suas coisas fossem propriedade de todos, sem venda, sem posse?”. Insubmisso: 2 – “Porque só pela riqueza ou pela força nos emanciparemos da servidão”. Ambicioso: 2 – “desejarei ir alargando o meu terreno [...] e fundar um novo núcleo, que signifique fortuna e domínio”. Racista: 2 – “O homem brasileiro não é um fator do progresso: é um híbrido. E a civilização não se fará jamais nas raças inferiores”. Desprendido: 1 – “ficarei sempre alegremente reduzido à situação de um homem humilde entre gente simples”. Realista: 2 – “que eu vejo é o contrário disto. É antes a venalidade de tudo, a ambição, que chama a ambição e espraia o instinto da posse”.

03 – Releia este trecho da fala de Lentz:

        “— Mas o que se tem feito é quase nada, e ainda assim é o esforço do europeu. O homem brasileiro não é um fator do progresso: é um híbrido. E a civilização não se fará jamais nas raças inferiores.”

Observe as informações presentes nas entrelinhas do texto:

I – O pouco que foi realizado nesta terra é obra do esforço do europeu e o homem brasileiro não é um fator de pregresso. Conclusão: o homem brasileiro não é esforçado.

II – O homem brasileiro não é um fator de pregresso porque é híbrido. Conclusão: é a mistura de raças que faz com que o homem brasileiro não seja esforçado.

Agora responda: o que torna falha, de acordo com os conhecimentos atuais, a argumentação de Lentz?

      A argumentação de Lentz é falha, de acordo com os conhecimentos científicos atuais, porque usa a características étnica de um grupo para justificar a ausência de progresso de um país.

04 – Releia as duas diferentes visões da relação do homem com a propriedade privada indicadas a seguir, levando em conta também as informações contidas nas entrelinhas, que podem ser pressupostas pela organização geral do trecho.

a)   Vamos compreender primeiro o raciocínio de Milkau: do fragmento 1, releia o trecho das linhas 9 (“Ora, interrompeu Milkau”) a 13 (“Vê a História...”). Complete então as frases a seguir em seu caderno. Segundo Milkau:

·        A propriedade se tornará coletiva à medida que a ânsia de aquisição popular se alastrar e se apossar dos jardins, palácios, museus, etc.

·        A morte do sentimento de posse se dará com a supressão da ideia de defesa pessoal.

·        Ou seja, o sentimento de posse só poderá acabar com a desnecessidade.

·        Conclusão: os conflitos acabarão quando as pessoas não precisarem mais lutar para defender o que é seu, pois todos terão o necessário.

b)   Agora, vamos acompanhar o raciocínio de Lentz. Releia o trecho do fragmento 2 das linhas 20 (“— Pois eu, ponderou”) a 24 (“nos emanciparemos da servidão”). Complete as frases em seu caderno. Segundo Lentz:

·        Sua possibilidade de ter fortuna e domínio está em alargar seu terreno e contratar outros trabalhadores, podendo, assim, fundar um novo núcleo.

·        A riqueza e a força são os únicos meios para livrar-se da servidão.

c)   Complete a frase a seguir no caderno: As ideias de Milkau diferenciam-se das de Lentz, estabelecendo uma oposição clara entre ...............

·        Crença na distribuição dos bens X ênfase no valor da propriedade privada.

·        Distribuição dos bens individuais adquiridos X ampliação das riquezas por meio da força.

·        Crença no esforço pessoal X crença na aquisição cada vez maior de terras.

05 – Releia o fragmento 3.

a)   Aponte as situações que tornam claro o abuso de poder das autoridades da cidade.

A chegada das autoridades à casa do colono, as exigências de bebida, alimento, bom tratamento. A impossibilidade de defesa ou contestação do colono.

b)   Por que, nessa relação, fica evidente o despreparo das autoridades para o exercício de seus cargos?

Eles claramente abusam do poder que têm. Usam o cargo para obter vantagens e não para atender às demandas do estado ou mesmo dos colonos.