sábado, 15 de junho de 2024

CRÔNICA: A NOVATA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: A Novata

                 Luís Fernando Veríssimo

     Sandrinha nunca esqueceu o seu primeiro dia na redação.

        Os olhares que recebeu quando se encaminhou para a mesa do editor. De curiosidade. De superioridade. Ou apenas de indiferença. Do editor não recebeu olhar algum.

        — Quem é você? — ele perguntou, sem levantar a cabeça. Sandrinha se identificou.

        — Ah, a novata — disse ele. — Você deve ser das boas.

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        Recém-formada e já botaram a trabalhar comigo. Você sabe o que a espera?

        — Bem, eu...

        — Esqueça tudo o que aprendeu na escola. Isto aqui é a linha de frente do jornalismo moderno. Aqui você tem que ter coragem. Garra. Instinto. Você acha que tem tudo isso?

        — Acho que sim.

        Ele a olhou pela primeira vez. Seu sorriso era cruel.

        — É o que veremos — disse. — Já vi muita gente quebrar a cara aqui. Desistir e pedir transferência para a crônica policial. É preciso ter estômago. Você tem estômago?

    — Tenho.

        Ele gritou:

    — Dalva!

    Uma mulher aproximou-se da mesa. Tinha a cara de quem já viu tudo na vida e gostou de muito pouco. O editor perguntou:

     — Você já pegou o Rudi?

     — Estou indo agora.

     — Leve ela.

    Dalva olhou para Sandra como se tivesse acabado de tirá-la do nariz. Voltou a olhar para o editor.

    — Não sei, chefe. O Rudi...

    — Quero ver do que ela é feita.

   — Está bem.

Luís Fernando Veríssimo. In: Comédias para se ler na escola, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Entendendo o texto

01. O que Sandrinha nunca esqueceu?

       a. O seu primeiro dia na escola.

      b. O seu primeiro dia na redação.

      c. O seu primeiro dia na faculdade.

      d. O seu primeiro dia de férias.

 02. Como eram os olhares que Sandrinha recebeu ao se encaminhar para a mesa do editor?

       a. De admiração.

       b. De inveja.

       c. De curiosidade, superioridade ou indiferença.

       d. De medo.

03. Qual foi a reação do editor ao conhecer Sandrinha?

      a. Ele sorriu e a cumprimentou.

      b. Ele a ignorou completamente.

      c. Ele perguntou "Quem é você?" sem levantar a cabeça.

      d. Ele a elogiou imediatamente.

04. O que o editor disse para Sandrinha esquecer?

       a. Tudo o que aprendeu na escola.

       b. Seus medos e inseguranças.

       c. Suas expectativas de sucesso.

       d. Seu trabalho anterior.

 05. Quais são as qualidades que o editor mencionou serem necessárias para trabalhar lá?

      a. Inteligência, paciência e criatividade.

      b. Coragem, garra e instinto.

      c. Organização, pontualidade e ética.

      d. Honestidade, lealdade e dedicação.

 06. O que o editor quis verificar sobre Sandrinha?

      a. Se ela tinha um bom currículo.

      b. Se ela tinha coragem e estômago.

      c. Se ela conhecia bem a redação.

      d. Se ela sabia trabalhar em equipe.

 07.  Quem é Dalva na crônica?

      a. Uma secretária.

      b. Uma jornalista veterana.

      c. Uma amiga de Sandrinha.

      d. A chefe de Sandrinha.

08.  Como Dalva reagiu ao ser chamada pelo editor?

     a. Com entusiasmo.

     b. Com indiferença.

     c. Com uma expressão de quem já viu tudo na vida e gostou de muito pouco.

    d. Com um sorriso.

  09.  O que o editor perguntou a Dalva sobre Rudi?

       a. Se ela já tinha terminado um relatório.

     b. Se ela já tinha pegado o Rudi.

     c. Se ela conhecia o Rudi.

     d. Se ela sabia onde estava o Rudi.

10. Como Dalva olhou para Sandrinha após o pedido do editor?

      a. Com carinho e compreensão.

      b. Como se tivesse acabado de tirá-la do nariz.

     c. Com admiração.

     d. Com desaprovação.

 

 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

CRÔNICA: BOMBOU NA REDE (SOBRE RACISMO) - COM GABARITO

 

CRÔNICA: BOMBOU NA REDE

 

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A turma que finge que o Brasil é o paraíso da igualdade racial deu “piti” na internet. Um esquete do programa “Tá no Ar”, do humorista Marcelo Adnet, causou arrepios ao discutir o racismo no país. O roteiro intitulado “Ser Branco Brasil” faz uma paródia de comercial do Banco do Brasil, evidenciando os privilégios dos brancos: “Eu tive acesso às melhores escolas e universidades (...) Eu tenho acesso aos melhores empregos, às melhores oportunidades e, claro, tenho sempre os melhores salários” , afirmam os personagens centrais, todos eles homens ou mulheres brancas de alto poder aquisitivo.          

In: Brasil de Fato, p 3.                                                                                                                                                                                                            

Entendendo o texto

01-Ao dizer “a turma que finge que o Brasil é o paraíso da igualdade racial”, o jornal sugere:              

a- que ninguém acredita que haja racismo no Brasil;

b- que os racistas brasileiros são dissimulados;

c- que os racistas brasileiros são abertamente declarados

2-A expressão deu “piti” na internet sugere:

a- apreciação positiva do quadro humorístico do programa “Tá no Ar”;

b- comentários irritados acerca do quadro humorístico do programa “Tá no Ar”;

c-  muitos risos acerca do quadro humorístico do programa “Tá no Ar”

03-A palavra esquete usada no texto possui como conceito qual das duas alternativas abaixo:

a- é uma peça de curta duração, geralmente de caráter cômico, produzida para teatro, cinema, rádio ou televisão. Os temas para os esquetes são variados, mas geralmente incluem paródias sobre política, cultura e sociedade.

b- Conjunto de depoimentos ou de pesquisas com o intuito de esclarecer uma questão, geralmente organizado por uma autoridade, por um jornal, por uma empresa privada ou por uma organização pública; pesquisa de opinião.

04- A palavra paródia usada no texto possui como explicação qual das duas alternativas abaixo:

a- É um texto que faz uma espécie de imitação do discurso original, ainda que recorrendo a uma linguagem diferente.

b- É a recriação de um texto, geralmente célebre, conhecido, uma reescritura de caráter contestador, irônico, zombeteiro, crítico, satírico, humorístico, jocoso.

05-A paródia “Ser branco no Brasil – Há mais de 500 anos levando vantagem” sugere quais efeitos de sentidos? Explique.

A paródia sugere que os brancos no Brasil têm mantido uma posição de privilégio e vantagem social, econômica e política desde a colonização do país. Este privilégio é histórico e continua a influenciar as desigualdades raciais contemporâneas, evidenciando a falta de igualdade racial no Brasil.

06-No esquete apresentado, o que proporciona “vantagens sociais” às pessoas seria?

a- o fato de ser rico; 

b- o fato de ser cliente do Banco do Brasil;

c- o fato de ser branco;

d- o fato de estar aqui há 500 anos

07-Retire do texto um discurso que revele privilégio social.

      “Eu tive acesso às melhores escolas e universidades (...) Eu tenho acesso aos melhores empregos, às melhores oportunidades e, claro, tenho sempre os melhores salários.”

08-Uma das críticas sociais de fundo do texto-discurso em análise é:

a- a igualdade histórica entre brancos e negros brasileiros;

b- o privilégio histórico que os brancos brasileiros sempre possuíram em relação aos negros brasileiros;

c- o fingimento de que não há racismo no Brasil

09-O título BOMBOU NA REDE sugere:

a- sucesso na internet;

b- grande repercussão na internet;

c- grande polêmica na internet.

10-A que ou a quem se referem as palavras grifadas no texto em questão?

"eles" refere-se aos personagens centrais da paródia, que são homens e mulheres brancos de alto poder aquisitivo.

"piti" refere-se aos comentários irritados e à reação negativa que a paródia causou na internet.

11-No trecho “mulheres brancas de alto poder aquisitivo”, o adjetivo grifado caracteriza-qualifica positivamente a palavra?

a-   mulheres;

b-   brancas;

c-   poder;

d-   aquisitivo.

12-Produza um texto discutindo se você considera que no Brasil há igualdade ou desigualdade racial.

O Brasil, apesar de ser um país multicultural e etnicamente diverso, enfrenta profundas desigualdades raciais que permeiam diversos aspectos da sociedade. Historicamente, a população negra foi submetida à escravidão e, mesmo após a abolição, continuou a ser marginalizada e a ter acesso limitado a direitos e oportunidades. Essa desigualdade manifesta-se de várias formas: na educação, onde estudantes negros têm menos acesso às melhores escolas e universidades; no mercado de trabalho, onde enfrentam maiores dificuldades para conseguir empregos bem remunerados; e na segurança pública, onde a violência policial afeta desproporcionalmente os jovens negros.

Políticas de ação afirmativa, como cotas raciais em universidades e concursos públicos, têm sido implementadas para tentar reduzir essas desigualdades, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A percepção de que o racismo não é um problema no Brasil contribui para a perpetuação dessas desigualdades, pois minimiza a necessidade de ações mais efetivas e abrangentes.

O esquete "Ser Branco no Brasil" do programa "Tá no Ar" de Marcelo Adnet expõe esses privilégios e a hipocrisia de quem acredita que o Brasil é uma democracia racial. A reação negativa ao esquete, mencionada na crônica, revela a resistência de parte da sociedade em reconhecer e confrontar o racismo estrutural. Portanto, é essencial continuar discutindo e expondo essas desigualdades para promover uma sociedade mais justa e igualitária.

 

 

CRÔNICA: SEMPRE QUE ALGUÉM ENTRA EM DISCUTIR O CARÁCTER DO POVO PORTUGUÊS - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 Crônica: Sempre que alguém entra em discutir o carácter do povo português

               Fernando Pessoa

 Sempre que alguém entra em discutir o carácter do povo português, pode adivinhar-se que, a certa altura da análise, dirá que uma das mais notáveis faculdades do nosso espírito é o excesso de imaginação. Por um acaso inexplicável, esta apreciação vulgar resulta justa. É certo que o português sofre duma imaginação excessiva.

Ora as criaturas de imaginação excessiva são fatalmente enfermas dum defeito; esse defeito é

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a deficiência de imaginação.

Isto pode parecer um paradoxo a quem ainda creia, ingenuamente, que há paradoxos neste mundo. A asserção, porém, é tão fácil de demonstrar que não vale a pena reparar no modo como se apresenta.

Tomemos um exemplo conhecido. É o caso desses literatos modernos que em sua obra se entusiasmam pelos loucos, pelos vagabundos e pelos criminosos-natos, ou, em grau menos sangrento, pelos proletários “rotos e oprimidos” e outros objectos análogos. Ora todo o artista, se não por condição social, é, pelo menos por temperamento, o contrário de tudo quanto os loucos, os criminosos-natos ou os proletários realmente e verdadeiramente são. Sucede, pois, que a sua simpatia por tais criaturas só pode nascer da violenta necessidade de sair para fora de assuntos do meio em que vive — tanto no meio social, de gente pacata e apenas palavrosa, que cerca os artistas, como do meio, por assim dizer, nervoso, isto é, aquela disposição requintada e exigente que é a atmosfera espiritual em que o artista vive consigo próprio. E essa necessidade de sair para fora da atmosfera psíquica, onde respira, é manifestamente trabalho da imaginação excessiva. De resto, o género literário que esta espécie de autores vinca — assuntos excessivos, sentimentos exagerados, estilo complexo e doente —, tudo isso confirma que se trata dum fenómeno de excessiva imaginação.

Mas, se colocássemos um destes literatos entre criminosos-natos reais, entre verdadeiros loucos ou entre proletários existentes, condenando-o, não a atravessar esse meio, mas a viver nele, o desgraçado só não fugiria se o não deixassem fugir. A mesma requintada condição nervosa e imaginativa, que lhe faz o entusiasmo por esses meios, lho tiraria, se neles se demorasse.

Que explicação tem este fenómeno? Aquela que de entrada demos: a deficiência imaginativa que caracteriza os imaginativos em demasia. Se ao construir no seu espírito uma representação nítida dessas figuras que o atraem, o artista conseguisse imaginá-las a valer, com absoluta nitidez, tal nitidez equivaleria a um antegosto desses próprios meios, e resultaria, desde logo, aquele nojo por eles que um contacto real causaria.

Toda esta demonstração veio a propósito do excesso de imaginação do português. E o fim a que veio é podermos estabelecer claramente qual a terapêutica a aplicar neste caso. Com a demonstração, que fizemos, essa terapêutica ficou indicada. Aqui, como na homeopatia, similia similibus curantur, o excesso imaginativo do português, que tão daninho lhe tem sido, só pode ser curado mediante uma cultura cada vez maior da imaginação portuguesa. Educar as novas gerações no sonho, no devaneio, no culto prolixo e doentio da vida interior, vem a dar em educá-las para a civilização e para a vida. Sobre ser fácil e agradável, o tratamento é de resultado seguro.

PESSOA, Fernando. Crónicas da vida que passa. O Jornal, n. 8, Lisboa, v. 8, 11 abr. 1915.  Disponível em: <https://bit.ly/2yuMb4P>. Acesso em: 12 ago. 2018.

Entendendo o texto

01. Marque a opção que se refere ao gênero textual ao qual esse texto pertence.

a.   Apesar de constar na referência que esse texto faz parte de um conjunto de crônicas, esse texto é uma notícia, pois foi publicado em um jornal.

b.   Fernando Pessoa, ao escrever esse texto, em 1915, teve como objetivo levar os leitores a refletir sobre alguns fatos do cotidiano daquela época, por isso, esse texto pode ser considerado uma crônica.

c.   Esse texto pode ser considerado um conto, pois tem personagens e é escrito em uma linguagem formal. 

d.   Esse texto pode ser considerado uma reportagem, pois está publicado em um jornal e é escrito em uma linguagem formal.

02. Qual é a característica notável do espírito português mencionada no texto?

      a. Excesso de racionalidade.

      b. Excesso de imaginação.

      c. Falta de criatividade.

      d. Pragmatismo.

03. Qual é o defeito das criaturas com imaginação excessiva, segundo o texto?

     a. Falta de inteligência.

     b. Deficiência de imaginação.

     c. Falta de disciplina.

     d. Deficiência de memória.

  04. O texto cita artistas que se entusiasmam por quais tipos de personagens?

     a. Reis e rainhas.

     b. Loucos, vagabundos e criminosos-natos.

     c. Heróis e vilões.

     d. Cientistas e inventores.

  05. Por que os artistas têm simpatia por personagens como loucos e criminosos, de acordo com o autor?

    a. Porque se identificam com eles.

    b. Porque querem criticar a sociedade.

   c. Porque necessitam sair do meio em que vivem.

   d. Porque são obrigados pela sociedade.

  06. O que aconteceria se um artista vivesse permanentemente entre loucos ou criminosos, segundo o texto?

    a. Iria se adaptar facilmente.

    b. Iria ficar entusiasmado.

    c. Iria querer fugir.

    d. Iria se tornar um deles.

  07. Qual é a explicação dada pelo autor para o fenômeno de artistas se interessarem por personagens marginalizados?

    a. A deficiência imaginativa dos imaginativos em demasia.

    b. A busca por fama e reconhecimento.

    c. A pressão da sociedade.

    d. A necessidade de sustento financeiro.

  08. O que a nitidez imaginativa de um artista equivaleria, segundo o texto?

    a. A uma experiência real.

    b. A uma fantasia irreal.

    c. A um sonho agradável.

     d. A uma alucinação temporária.

  09. Qual é a terapêutica sugerida pelo autor para o excesso de imaginação dos portugueses?

     a. Reduzir a imaginação.

     b. Aumentar a cultura da imaginação.

     c. Focar em atividades físicas.

    d. Promover a educação técnica.

  10. O autor compara a terapêutica sugerida a qual prática médica?

    a. Alopatia.

    b. Cirurgia.

    c. Homeopatia.

    d. Psicanálise.

 11. Segundo o autor, educar as novas gerações no sonho e no devaneio resulta em quê?

    a. Falta de interesse pela realidade.

    b. Educação para a civilização e para a vida.

    c. Maior alienação social.

    d. Desenvolvimento de habilidades técnicas.

 

 

 

 

 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

CONTO: A ABÓBORA MENINA - TERESA LOPES - COM GABARITO

Conto: A Abóbora Menina

             Teresa Lopes

 Brotara do solo fecundo de um quintal enorme, de uma semente que mestre Crisolindo comprara na venda. Despontava por entre uns pés de couve e mais algumas abóboras, umas suas irmãs, outras suas parentes mais afastadas.

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Tratada com o devido esmero, adubada à maneira, depressa cresceu e se tornou em bela moçoila, roliça e corada.

Os dias corriam serenos. Enquanto o sol brilhava, tudo era calma naquele quintal. Sombra dos pés de couve, rega a horas devidas, nada parecia faltar para que todos fossem felizes.

As suas conversas eram banais: falavam do tempo, de mestre Crisolindo e nunca, mas nunca, do futuro que os aguardava.

Mas Abóbora Menina, em vez de se dar por satisfeita com a vida que lhe havia sido reservada, vivia entristecida e os seus dias e as suas noites eram passados a suspirar.

Desde muito cedo que a sua atenção se virara para as borboletas de cores mil que bailavam sobre o quintal. E sempre que alguma pousava perto de si, a conversa não era outra se não esta:

― Dizei-me, menina borboleta, como fazeis para voar?

― Ora, menina abóbora, que quereis que vos diga? Primeiro fui ovo quase invisível, depois fui crisálida e depois, olhe, depois alguém me pôs estas asas e assim voei.

― Como eu queria ser como vós e poder sair daqui, ver outros quintais.

― Que me conste, vós fostes semente e vosso berço jaz debaixo desta terra negra e quente. Nunca por aí andamos, minhas irmãs e eu.

A borboleta levantava voo e Abóbora Menina suspirava. E suspirava. E de nada serviam os consolos de suas irmãs, nem o consolo dos pés de couve, nem o consolo dos pés de alface que cresciam ali perto e que todas as conversas ouviam.

Certo dia passou por aqueles lados uma borboleta mais viajada e foi pousar mesmo em cima da abóbora. De novo a mesma conversa, os mesmos suspiros.

Tanta pena causou a abóbora à borboleta, que esta acabou por lhe confessar:

― Já que tamanho é vosso desejo de voar e dado que asas nunca podereis vir a ter, só vos resta uma solução: deixai-vos levar pelo vento sul, que não tarda nada aí estará.

― Mas como? Não vedes que sou roliça? Não vedes que tenho engordado desde que deixei de ser semente?

E a borboleta explicou à Abóbora Menina o que ela devia fazer.

A única solução seria cortar com o forte laço que a ligava àquela terra-mãe e deixar-se levar pelo vento.

Ele não tardaria, pois umas nuvens suas conhecidas assim lhe haviam garantido. Mais adiantou a borboleta que daria uma palavrinha ao tal vento, por sinal seu amigo e aconselhou todos os outros habitantes do quintal a segurarem-se bem quando ele chegasse.

Ninguém gostou da ideia à exceção da nossa menina.

― Vamos perder-te! ― lamentavam-se as irmãs.

― Nunca mais te veremos. ― sussurravam os pés de alface.

― Acabarás por mirrar se te desprendes do solo que te deu sustento.

Mas a abóbora nada mais queria ouvir. E logo nessa noite, quando todos dormiam, Abóbora Menina tanto se rebolou no chão, tantos esticões deu ao cordão que lhe dera vida, que acabou por se soltar e assim permaneceu, liberta, aguardando o vento sul com todos os sonhos que uma abóbora ainda menina pode ter na sua cabeça.

Não esperou muito, a Abóbora Menina. Dois dias passados, logo pela manhãzinha, o vento chegou. E com tal força, que a todos surpreendeu.

Mestre Crisolindo pegou na enxada e resguardou-se em casa. As flores e as hortaliças, já prevenidas, agarraram-se ainda mais à terra.

Só a abóbora se alegrou e, peito rosado aberto à tempestade, aguardou paciente a sorte que a esperava.

Quando um remoinho de vento pegou nela e a ergueu nos ares, qual balão liberto das mãos de um menino, não sentiu nem medo, nem pena de partir.

― Adeus, minhas irmãs!... Adeus, meus companheiros!...

― Até... um... dia!...

E voou direitinha ao céu sem fim!...

Para onde seguiu? Ninguém sabe.

Onde foi parar? Ninguém imagina.

Mas todos sabem, naquele quintal, que dali partiu, numa bela tarde de vento, a abóbora menina mais feliz que algum dia poderá haver.

 

LOPES, T. Histórias que acabam aqui: contos para a infância. Edições ArcosOnline.com. p. 5-8.

Disponível em: <https://bit.ly/2O8C1f4>. Acesso em: 30 ago. 2018.

 

Entendendo o texto

01. De onde brotou a Abóbora Menina?

      a) De uma árvore mágica.

      b) De uma semente comprada na venda.

      c) De um presente de uma borboleta.

     d) De um feitiço realizado por mestre Crisolindo.

02. Como era o ambiente no quintal onde a Abóbora Menina cresceu?

     a) Agitado e cheio de movimento.

    b) Silencioso e abandonado.

    c) Calmo e sereno.

    d) Perigoso e cheio de predadores.

03. Com quem a Abóbora Menina gostava de conversar?

    a) Com as nuvens.

    b) Com as borboletas.

    c) Com os pássaros.

   d) Com as formigas.

04. O que a Abóbora Menina desejava mais do que tudo?

    a) Crescer ainda mais.

    b) Ser comida pelo mestre Crisolindo.

    c) Voar e ver outros quintais.

    d) Ser a abóbora mais bonita do quintal.

05. O que a borboleta mais viajada sugeriu à Abóbora Menina para realizar seu desejo de voar?

    a) Que esperasse a chegada do vento sul.

    b) Que pedisse ajuda ao mestre Crisolindo.

    c) Que usasse suas folhas como asas.

    d) Que esperasse a próxima chuva.

06. Como a Abóbora Menina conseguiu se soltar do solo?

     a) O mestre Crisolindo a soltou.

     b) A borboleta cortou o cordão que a prendia.

     c) Ela se rebolou e deu esticões no cordão que a prendia.

     d) O vento sul a arrancou diretamente do solo.

07. O que os outros habitantes do quintal achavam da ideia da Abóbora Menina de se soltar?

     a) Ficaram entusiasmados e quiseram fazer o mesmo.

     b) Ficaram tristes e preocupados.

     c) Não se importaram.

     d) Ficaram com inveja.

08. O que fez a Abóbora Menina na noite em que decidiu se soltar?

    a) Chamou todas as borboletas para ajudá-la.

    b) Dormiu profundamente.

    c) Se rebolou e se soltou do cordão que a prendia ao solo.

    d) Pediu ao mestre Crisolindo para a soltar.

09. Qual foi a reação da Abóbora Menina ao ser levantada pelo vento?

    a) Sentiu medo e arrependimento.

    b) Ficou confusa e desorientada.

    c) Sentiu-se alegre e sem medo.

    d) Ficou triste por deixar suas irmãs.

10. Para onde a Abóbora Menina foi levada pelo vento?

    a) Para um quintal próximo.

    b) Para um lugar desconhecido.

    c) Para a casa do mestre Crisolindo.

    d) Para o céu e nunca mais foi vista.

11.  Localize e escreva pelo menos três expressões usadas no conto para indicar a passagem do tempo.

"Os dias corriam serenos."

"Logo nessa noite."

"Dois dias passados, logo pela manhãzinha."

12. Qual foi a postura da Abóbora Menina diante da vida?

     a) O tempo todo ela teve medo diante do desconhecido.

     b) Ela demonstrava ingratidão com os cuidados recebidos de mestre Crisolindo.

    c) Ela poderia ter se contentado com a vida que tinha, mas foi em busca de seus sonhos.

    d) Ela teve apenas sorte, pois não tomou nenhuma atitude para conquistar seus sonhos.

domingo, 9 de junho de 2024

FÁBULA: O RATINHO, O GATO E O GALO - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Fábula: O ratinho, o gato e o galo

             Monteiro Lobato

        Certa manhã, um ratinho saiu do buraco pela primeira vez. Queria conhecer o mundo e travar relações com tanta coisa bonita de que falavam seus amigos. Admirou a luz do sol, o verdor das árvores, a correnteza dos ribeirões, a habitação dos homens. E acabou penetrando no quintal duma casa da roça. 

        — Sim, senhor! É interessante isto! 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2t5faCLLMfRudmUhkyhZIHAAbc3Y81Ks32jeO3YZ3QGBOmXaFAPlkf27Sn3BGV9oHAW2lCGC1_kPPj5SI8NU7rP86X7pjrqdxHgt2zOLFGTTDuGbtyGYd3n8BI-XXfLOYU_wt2bppxloiu9rPC9D-ZtcsUmlp2CWPj4FBiZYQtVDK4JLdMV_Ne0Qa6CM/s320/GALO.jpg 


        Examinou tudo minuciosamente, farejou a tulha de milho e a estrebaria. Em seguida, notou no terreiro um certo animal de belo pelo, que dormia sossegado ao sol. Aproximou-se dele e farejou-o, sem receio nenhum. Nisto, aparece um galo, que bate as asas e canta. O ratinho, por um triz, não morreu de susto.                

        Arrepiou-se todo e disparou como um raio para a toca. Lá contou à  mamãe as aventuras do passeio. 

        — Observei muita coisa interessante — disse ele. — Mas nada me impressionou tanto como dois animais que vi no terreiro. Um de pelo   macio e ar bondoso, seduziu-me logo. Devia ser um desses bons amigos da nossa gente, e lamentei que estivesse a dormir impedindo-me de cumprimentá-lo. O outro… Ai, que ainda me bate o coração! O outro era um bicho feroz, de penas amarelas, bico pontudo, crista vermelha e aspecto ameaçador. Bateu as asas barulhentamente, abriu o bico e soltou um có-ri-có-có tamanho, que quase caí de costas. Fugi. Fugi com quantas pernas tinha, percebendo que devia ser o famoso gato, que tamanha destruição faz no nosso povo. 

        A mamãe rata assustou-se e disse: 

        — Como te enganas, meu filho! O bicho de pelo macio e ar bondoso é que é o terrível gato. O outro, barulhento e espaventado, de olhar feroz e crista rubra, filhinho, é o galo, uma ave que nunca nos fez mal. As aparências enganam. Aproveita, pois, a lição e fica sabendo que:

        Moral da história: Quem vê cara não vê coração

Monteiro Lobato. “O ratinho, o gato e o galo”. In: BRASIL. Contos tradicionais, fábulas, lendas e mitos. Brasília: MEC, 2000, p. 97. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001614.pdf. Acesso em: 8 fev. 2021.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 2. Língua Portuguesa – 6º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 27-28.

Entendendo a fábula:

01 – De acordo com a fábula, qual o significado das palavras abaixo:

·        Estrebaria: local onde ficam os cavalos.

·        Minuciosamente: feito de modo minucioso, com muito cuidado e atenção.

·        Ribeirões: plural de ribeirão, curso de água menor que um rio.

·        Tulha: monte de grãos.

02 – Qual era o desejo do ratinho?

      O ratinho desejava conhecer o mundo e estabelecer relações com muitas coisas bonitas.

03 – Onde o ratinho encontrou o galo e o gato?

      No quintal de uma casa na roça.

04 – De que forma o gato é descrito pelo ratinho?

      O gato é descrito como um animal de belo pelo macio e ar bondoso.

05 – Essa descrição apresenta características positivas ou negativas do gato?

      A descrição apresenta características positivas do gato.

06 – De que forma o galo é descrito pelo ratinho?

      O galo é descrito como um bicho feroz, de bico pontudo e aspecto ameaçador.

07 – Essa descrição apresenta características positivas ou negativas do galo?

      A descrição apresenta características negativas do galo.

08 – O ratinho estava correto em relação às suas observações sobre o gato e o galo?

      Não, pois o ratinho pensou que o galo fosse o animal que ameaçava os ratos, e não o gato.

09 – Qual foi a lição ensinada pela mamãe rata?

      A mamãe rata ensinou que as aparências enganam, pois quem vê cara não vê coração.