sábado, 25 de maio de 2024

RELATO: HISTÓRIA DE VINÍCIUS CAMPOS DE OLIVEIRA - COM GABARITO

 Relato: História de Vinícius Campos de Oliveira


        "Tudo começou na verdade... f... com o meu irmão, meu irmão mais velho, né? Ele começou a trabalhar no aeroporto Santos Dumont primeiro do que eu, antes de mim, é... como engraxate, porque já tinha uns outros... outros amigos ali da área...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyvggFXu0-q4bLb_lWjEqb4bNCZSeOUMCYb8PTChh_zOU6evvrCrwio2ugYc3uV0aLnTGWx0A2_OVXsYDhHosh0fBXnM6kL0odNOCctFM8SZgdCdC3Z1Ew3omQUuRX0iIpkjTKrs1PqIlAH1iFsuNQAcnRkx-MOPWGogKILUphjtiZCekIbcwtBXG_IuM/s1600/RJ.jpg


        Teve um momento, um dia, em que eu tava dentro do saguão, e aí por um acaso o Walter Salles, né?, o diretor do filme, ele tava... é... ia pegar uma ponte aqui pra São Paulo e... resolveu parar na lanchonete pra fazer um lanche e ele era o último da fila, mas, evidentemente, eu não sabia quem era o Walter Salles é... e eu... mas eu o vi de longe, no fi... no final da fila, pensei “ah, vou chegar até esse rapaz pra ver se eu consigo engraxar o sapato dele, né?” e quando eu fui me aproximando, eu percebi que ele tava de tênis. E... eu falei “ah, bom, de tênis não... não dá pra fazer o serviço, né?”. E aí na hora que eu dei as costas pra ir embora, eu parei pra pensar cinco segundos e falei “ah, acho que eu vou voltar lá e pedir pra esse cara me pagar um sanduíche”. Foi quando eu voltei e perguntei se ele podia me pagar um hambúrguer, tal, uma Coca-cola. Ele falou “claro”. E, aí, depois que ele terminou de comer, ele foi falar comigo, né?, perguntar se eu queria... fazer um teste pra um filme. É... eu falei “ah, claro, tudo bem”, mas eu não sabia o que era, né? Ele perguntou se eu conhecia cinema, se eu já tinha feito alguma coisa. E eu falei: “não, não sei o que que é. E eu nunca fui ao cinema também, então não tenho ideia do que cê... esteja falando”. Ele falou: “bom, então se você puder ir nesse lugar, nesse dia, nessa data, nesse horário, você vai lá fazer um testezinho e a gente conversa melhor”.

        Eu voltei pra casa, contei pra minha mãe a história, a situação, ela não tinha entendido nada, porque também ela não sabia o que era, não entendia da coisa. Ficou superpreocupada porque era um momento em que... é... tava muito forte a coisa de... de... raptar crianças e aí vender os órgãos, essa coisa toda. Esse negócio tava saindo direto na mídia, e... e aí eu não fui. Simplesmente esqueci e os dias passaram, até que um dia, também fim da tarde, eu andando do lado de fora do aeroporto, me para uma Kombi do lado e aí descem duas pessoas, perguntando se eu era o Vinícius. E eu falei: “ah, sou, sou eu, sim”. E, aí, que eles contaram a história do Walter: “A gente veio aqui a pedido do Walter, estamos o dia inteiro te caçando no aeroporto. Ele quer que você faça o teste” e... foi quando tudo deu certo. Acabou dando certo e, aí, a gente começou a filmar o Central, enfim, é... antes de filmar eu conheci a Fernanda, claro, ensaiei um pouco com ela pra pegar intimidade e... foi quando aconteceu o Central."

Disponível em: http://www.museudapessoa.net/pt/conteudo/historia/a-carta-inerente-3085. Acesso em: 2 out. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 195-197.

Entendendo o relato:

01 – As informações temporais são parte importante de um relato.

a)   Escreva no caderno os fatos que marcam o início e o final do período abarcado pelo relato de Vinícius.

Início: trabalho no aeroporto como engraxate; final: início das filmagens.

b)   Explique a função da referência ao irmão mais velho no início do texto.

A referência ao irmão explica por que Vinícius passou a trabalhar no aeroporto onde foi visto pelo diretor de cinema.

c)   Que expressões temporais foram empregadas para indicar o momento da ação central desse relato? Elas são precisas?

As expressões “um momento, um dia”, que não são precisas.

02 – O relato narra o encontro do falante com o diretor de cinema Walter Salles.

a)   Que informações justificam o uso de “evidentemente” no trecho “mas, evidentemente, eu não sabia quem era o Walter Salles?

Na continuação do relato, Vinícius informa que nunca tinha ido ao cinema nem tinha qualquer intimidade com a área e, portanto, não teria como reconhecer o diretor.

b)   Que imagem do diretor o ouvinte constrói a partir do relato? Como ela é construída?

A de um jovem generoso e simples. A imagem é construída pela descrição física do diretor, que calçava tênis e é chamado de “rapaz”, o que evidencia sua simplicidade e juventude, e por seu comportamento, pois atendeu ao pedido do menino, o que mostra sua generosidade.

03 – Como a condição financeira do falante é evidenciada ao longo do relato? Por que ela ganha destaque?

      O falante menciona que trabalhava como engraxate, assim como seu irmão, o que indica ser ele de família pobre, algo confirmado pelo fato de pedir o lanche a um desconhecido e por jamais ter ido ao cinema. trata-se de uma informação importante para entendermos o efeito, na vida do falante, daquele encontro com o jovem diretor.

04 – No último período do relato, o tom de voz do falante vai progressivamente diminuindo e ele termina a fala em um tom bastante baixo. O que isso pode significar?

      O relato tem por foco o momento em que o garoto foi descoberto pelo diretor e convidado a fazer o teste e não a explicação sobre as filmagens, que constitui uma informação menos relevante dentro do recorte específico que ele propôs. Assim, o tom de voz baixo parece indicar que o relato está sendo concluído.

 

CRÔNICA: UNI, DUNI, TÊ - RUBEM PENZ - COM GABARITO

 Crônica: Uni, duni, tê

              Rubem Penz

        Nunca me dei bem com os números. Primeiro, apanhei nas aulas de matemática durante toda a vida escolar. Agora, sofro para decorar telefones, senhas, datas e, principalmente, apartamentos. Batata: chego diante de um prédio, sei que é ali o endereço em que devo ir, mas não decoro o bendito número do apartamento.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPXEtL5TcstuqbBkROtUaPz_iDfpZrmlo-3m1hTr4TjZFFyIZmQrewBP77erwEMGFzfJ8bS15H-XhroagN6WbBCXjfkvjqhiFqzEIv7WJ1hFU455PhABrygjlQadLe80eEZg_Tlqm3yMowXeF2FuT7DT2e01wbCizXjexzBL4y4UYK7zwZcakZPOxuAC0/s320/ALFABETO.jpg

        Quando há porteiros, o problema pode ser sanado com uma pequena dose de constrangimento. Digo o nome do morador, confesso que esqueci o apartamento dele, recebo um pouco de boa vontade e consigo ser anunciado. Pior é quando fico diante daquele painel de botões, todos com os mesmos números: 101, 102, 103 etc. Na base da sorte, lembro o andar. Também parto para deduções: é nos fundos e, por convenção, os primeiros números contemplam os apartamentos de frente. Logo, é 505, 506, 507 ou 508. Uni, duni, tê…

        A violência urbana entra como fator complicador. Quando escolho o apartamento na base do palpite, e erro, quem está ao interfone fica muito desconfiado. Menos quando é uma idosa, que abre a porta sem medo. Mas aí corro outro risco: estou dentro do prédio, mas ainda não sei qual é o apartamento. Em edifícios antigos tudo é mais fácil – as portas já estão repletas de diferenças. Ou tem uma samambaia, ou um vaso com espada de Espada de São Jorge, ou o modelo da grade é diferente, ou tem aquele capacho peculiar… Pior são os edifícios novos e seu padrão rígido de design, tão mais harmônico quanto impessoal. Aí é torcer para que o amigo seja judeu e tenha à direita de sua porta o Mezuzá.

        Minha redenção chegou em forma de tecnologia: telefone celular. Em sua agenda, posso colocar nome, números e endereço. Ou basta ligar para o morador e avisar que estou ali na rua, já defronte ao prédio. O celular ainda conta com uma vantagem adicional, que é a de não precisar mais decorar o número do sujeito. Digito o nome e ele já sabe (agora mesmo que desaprendi os telefones dos amigos). Se eu perder o aparelho ou o chip, estou frito.

        Em tudo sou diferente dos profissionais de portaria. Para eles, decorar os números é questão de qualidade. Os apartamentos passam a ser uma espécie de sobrenome dos moradores. Se o jardineiro perguntar quem entrou agora mesmo, o porteiro responderá que foi o seu João do 403. Quem? O esposo da dona Maria Rita do 403. Ah, o pai do Julinho do 403! Nem Cunha, nem Santos, nem da Silva. A família (incluindo o cachorro) passa a ser os do 403. E não apenas para consumo interno: se um prestador de serviços perguntar quem é o síndico, dirão o nome do seu Ivo do 607.

        Saudade do tempo em que a maioria das pessoas com quem eu me relacionava habitava casas localizadas em bairros. Bastava ir uma única vez e já estaria decorado. E, se fosse o caso de referir, dizia: o Roberto, da casa verde, de esquina. Ou aquela do telhado alto, com janelas brancas, muro marrom. Nada de números, apenas imagens. Muito mais humano! Afinal, quando estou diante do porteiro especulando um apartamento e o morador está em dúvida de quem seja eu, ele não informa o RG. Sempre escuto: é um rapaz magrinho, branquinho, assim meio calvo…

PENZ, Rubem. Uni, duni, tê. Rubem: Revista da Crônica – Notícias, entrevistas, resenhas e textos feitos ao rés-do-chão. Publicado em 17 out. 2014. Disponível em: https://rubem.wordpress.com/2014/10/17/uni-duni-te-rubem-penz. Acesso em: 8 out. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 225-227.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado da palavra “Mezuza”?

      Pequeno rolo com uma inscrição religiosa, colocado em um estojo e fixado no batente direito das casas de famílias judaicas.

02 – Que recurso, no primeiro parágrafo, marca a aproximação pessoal do cronista em relação ao assunto?

      O cronista mostra sua relação pessoal com o assunto, lembrando suas dificuldades com a matemática quando era estudante. Utiliza, portanto, uma experiência particular.

03 – Que imagem do cronista o leitor constrói, estimulado pelo tom de lamentação desse parágrafo? Tal imagem distancia ou aproxima o cronista do leitor?

      Ao mostrar sua confusão, o cronista parece ser uma pessoa comum, como tantas outras que se atrapalham com os números, e isso o aproxima do leitor.

04 – Que palavra, típica das construções faladas, o narrador usou para relacionar períodos nesse parágrafo?

      “Aí”.

05 – Releia o primeiro parágrafo da crônica.

a)    Quais são as expressões populares empregada pelo cronista?

“Batata” e “bendito”, usado em situações que envolvem ironia.

b)    Que efeito o cronista obtêm ao utilizar esse tipo de expressão?

As expressões populares tornam o discurso menos formal, mais próximo dos bate-papos cotidianos.

c)    As expressões identificadas marcam variedades linguísticas de grupos sociais diferentes. Alguma delas faz parte da linguagem que você usa no dia a dia?

Resposta pessoal do aluno.

 

 

CONTO: A MENINA DO NARIZINHO ARREBITADO(FRAGMENTO) - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: A Menina do Narizinho Arrebitado – Fragmento 

            Monteiro Lobato

        O SOMNO Á BEIRA DO RIO

        Naquella casinha branca, — lá muito longe, móra uma triste velha, de mais de setenta annos. Coitada! Bem no fim da vida que está, e tremula, e catacega, sem um só dente na bocca – jururú... Todo o mundo tem dó d'ella: — Que tristeza viver sozinha no meio do matto...

        Pois estão enganados. A velha vive feliz e bem contente da vida, graças a uma netinha órfã de pae e mãe, que lá móra des'que nasceu. Menina morena, de olhos pretos como duas jaboticabas – e reinadeira até alli!... Chama-se Lucia, mas ninguem a trata assim. Tem appellido. Yayá? Nenê? Maricota? Nada disso. Seu appellido é "Narizinho Rebitado", – não é preciso dizer porque. Alem de Lucia, existe na casa a tia Anastacia, uma excellente negra de estimação, e mais a Excellentissima Senhora Dona Emilia, uma boneca de panno, fabricada pela preta e muito feiosa, a pobre, com seus olhos de retroz preto e as sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma cara de bruxa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJUCOkKiSa3jkrzjMt58FRc9axIX9lkMOoDzh7hBWlCd9-fYHBLy5c0iJnMOWQ1O_cp8M13cq1olcovOqaDRHwbhv6vtrjCVsCCI-BJd1PhNPGQFp07yjOSzR8_IYm4wBr9LNw5a88LZZuZhT_5pUUgvsC6GbB8_XMLkJzIX49L9nzUoFXueV5dW28IH0/s320/NARIZINHO.jpg


LOBATO, Monteiro. A menina do narizinho arrebitado. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia., 1920. p. 3 – 4. Fragmento.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 243-244.

Entendendo o conto:

01 – Entre 1920 e a atualidade, o Brasil passou por três reformas ortográficas, três mudanças nas regras de escrita das palavras. Transcreva do texto cinco vocábulos ou expressões que tenham sofrido alterações ao longo do tempo.

      Somno, naquella, móra, annos, tremula, bocca, jururú, d’ella, matto, pae, des’que, alli, Lucia, ninguem, apellido, alem, Anastacia, excellente, excellentissima, Emilia, panno, retroz, porque, á beira.

02 – Que palavras são empregadas mais comumente hoje no lugar de jururu e reinadeira?

      Desanimada, triste; travessa, sapeca.

03 – Releia o trecho “que lá mora des’que nasceu”. Por que essa é uma construção estranha para o leitor atual?

      Na língua portuguesa escrita atual do Brasil, não são comuns supressões ou “apagamentos” de sílabas finais de uma palavra por serem semelhantes às iniciais das palavras seguintes. As elisões indicadas por apóstrofos, em geral, marcam a supressão de uma vogal.

04 – Tia Anastácia é apresentada como uma “excellente negra de estimação”. Qual era a provável função dessa personagem na casa?

      Assim como uma antiga escrava doméstica, tia Anastácia seria responsável por preparar as refeições e manter a casa e as roupas limpas.

05 – A abolição da escravatura aconteceu em 1888, portanto três décadas antes da publicação dessa obra de Monteiro Lobato. Como se explica, então, o uso da expressão “negra de estimação” e seu tratamento por “preta”?

      A declaração da extinção da escravidão não foi suficiente para eliminar, imediatamente, práticas muito semelhantes às escravagistas, assim como não conseguiu alterar a mentalidade da população branca em relação à negra.

06 – Com base na reflexão proposta no item 5, explique como a linguagem revela a ideologia em vigor no contexto histórico do início século XX. Expressões como as citadas para referir-se a tia Anastácia seriam aceitáveis nos dias de hoje?

      O uso da expressão “negra de estimação” e o tratamento por “preta” revelam que, naquele momento histórico, não havia consciência por parte de muitas pessoas acerca do preconceito presente nas relações sociais e evidenciado na linguagem. Atualmente, seriam inaceitáveis construções como essas.

CRÔNICA: EMBARQUE - ANTÔNIO PRATA - COM GABARITO

 Crônica: Embarque

              Antônio Prata

        “Rodrigo?!, soltou a mulher, uns cinco metros adiante, olhando pra mim. Confuso, parei de empurrar o carinho de bagagens, olhei pra trás, olhei em volta, mas, antes que eu terminasse a busca, ela insistiu; “Rodrigo!” – agora já não mais uma pergunta, e sim uma afirmação. Um vento frio soprou no meu estômago: senti como se tivesse cruzado uma aduana invisível que separa o embarque de Congonhas de um livro do Kafka.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3xV5TjvafHhPkGqi5Xa7vTKBLAS1a5a2bpGQ335zmoOGnyaV3ijcA_Ym97SDEJab5UfUaWusQmxNPNIImY63H11Wvm_xx0_zjslO8ltYMQ4RkjFtu4zQ0hsMmXYuJXzi0v6D5zQwcJBr8-5CAMxyOTiHYSvogoQmFxV3vkcfF4eSxnkFiSDoVKgBUqMQ/s320/aeroporto-congonhas-infraero-divulgacao_widelg.jpg

        Há, sem dúvida, aspectos meus que desconheço; há, talvez, rincões de minh’alma que nem com cinco décadas de análise conseguirei acessar, mas, depois de 37 anos sobre a Terra, algo posso afirmar sobre mim, sem titubear: eu não me chamo Rodrigo. A mulher, porém, não pensava assim – e, a julgar pela voz trêmula, pela boca cerrada e pela sobrancelha franzida, isso não era muito promissor.

        Ela aparentava uns 40, 50 anos, tinha um cabelo preto, farto e olhos espantados, circundados por rugas profundas – vincos que, suspeitei, não deviam ser totalmente desvinculados do tal Rodrigo. Havia dor e susto ali, mas havia afeto também. Pensei menos num estelionatário que tivesse dado um golpe na venda de um carro do que num namoro de fim catastrófico.

        Quem sabe o Rodrigo tinha prometido casar, ter filhos, passarem a aposentadoria juntos num sítio e, um belo dia, escafedeu-se? Agora, numa terça de manhã, assim, do nada, ela o encontra – ou acha que o encontra – na sala de embarque do aeroporto. Dava mesmo pra entender o choque – caso eu fosse o Rodrigo.

        Como eu não era – e continuo não sendo –, resolvi desfazer a confusão e fui caminhando em direção à mulher. Quem sabe eu nem precisasse falar nada? Quem sabe bastaria ela me ver de perto pra sorrir, envergonhada, “Nossa, achei que...”, “Tranquilo, acontece”. Eu seguiria andando, atravessaria o corredor que separa o Franz Kafka do Franz Café, compraria um pão de queijo e leria o meu jornal. A um metro da mulher, no entanto: “Rodrigo...”.

        Se o primeiro “Rodrigo?!” foi um “Meu Deus, é você?!” – e me deixou confuso –, se o segundo “Rodrigo!” foi um “Sim, é você!” – e me deixou com medo –, o terceiro “Rodrigo...” tava mais pra um “Você, hein?” – que me encheu de culpa. O Rodrigo sem duvida havia pisado na bola, grandão, com aquela mulher, a havia feito sofrer, chorar, espernear e esperar noites a fio: agora estava ali – ou, pelo menos, era o que ela pensava – para receber o troco.

        Fui chegando perto, já pegando o RG para o caso de precisar desfazer, oficialmente, o mal-entendido, mas nem consegui sacar o documento: num salto, ela veio pra cima de mim. Esperei unhadas, mordidas, uma facada talvez.

        Em vez disso, me deu um abraço e começou a chorar: “Rodrigo! Ah, Rodrigo!”. Fiquei ali por um tempo, imóvel e perplexo, sentindo o cheiro, o calor e os tremeliques daquela estranha. Então ela se afastou, olhou pro chão, olhou pra mim e disse, baixinho: “Rodrigo, você me perdoa?”.

        Olhei no fundo dos olhos dela e acabei, finalmente, com aquele absurdo: “Perdoo”. Aos poucos, os soluços foram diminuindo, ela enxugou as lágrimas, disse “Brigada” e, atendendo à última chamada para o embarque do voo 1047, pra Maringá, sumiu pelo portão nove.

PRATA, Antônio. Embarque. Folha de S. Paulo, 7 dez. 2014. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/12/1558637-embarque.shtml. Acesso em: 6 out. 2015.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 222-223.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com a crônica, qual o significado das palavras abaixo:

    Aduana: antigo nome da repartição pública que, no aeroporto, é responsável pela inspeção de bagagens e mercadorias; alfândega.

·         Congonhas: aeroporto localizado na cidade de São Paulo.

·         Rincões: lugares afastados, longínquos.

02 – A crônica relata uma experiência vivida pelo narrador. 

a)    Que acontecimento deu origem à crônica?

A crônica relata um mal-entendido provocado por uma mulher que, em um aeroporto, confundiu o narrador com alguém chamado Rodrigo.

b)    Em que espaço aconteceram as ações narradas e em que período de tempo? 

As ações aconteceram no aeroporto de Congonhas e duraram poucos minutos.

c)    Que recurso o narrador usou, no primeiro parágrafo, para sugerir que a situação foi inesperada? 

A crônica é iniciada pela fala da mulher que chamava o narrador de Rodrigo, surpreendendo-o.

03 – Embora o narrador não conhecesse a mulher que o confundia com Rodrigo, estabeleceu certa sintonia com ela. 

a)    Como se evidencia, no terceiro parágrafo, uma relação de simpatia e compreensão? 

Ao olhar para a mulher, o narrador sente pena, pois interpreta as rugas em torno dos olhos dela como sinais de dor, susto e afeto, provocados por alguma coisa que Rodrigo teria feito.

b)    No sexto parágrafo, percebemos que o narrador chega a se confundir com Rodrigo. Transcreva o trecho que faz essa sugestão. 

“...que me encheu de culpa”.

c)    Em outros momentos, o narrador procura marcar sua própria identidade. Cite uma dessas passagens. 

algo posso afirmar sobre mim, sem titubear: eu não me chamo Rodrigo” ou “Como eu não era – e continuo não sendo”.

04 – Pela pontuação, o narrador sugere três maneiras de pronunciar o nome Rodrigo e três diferentes intenções da falante. 

a)    Como o narrador interpretou as frases “Rodrigo?!”, “Rodrigo!” e “Rodrigo...”? 

Para o narrador, “Rodrigo?!” indicava dúvida; “Rodrigo!”, afirmação; “Rodrigo...”, a acusação.

b)    A interpretação do último chamamento corresponde, de fato, ao contexto? Por quê? 

Não. O chamamento não indica uma acusação ou queixa por algum erro de Rodrigo. A mulher pede perdão, sugerindo que ela própria não teria se comportado bem.

05 – A narrativa traz um desfecho imprevisível. Releia: “Olhei no fundo dos olhos dela e acabei, finalmente, com aquele absurdo: ‘Perdoo’”. Por que a resposta do narrador quebra a expectativa do leitor?

      Em vez de revelar sua correta identidade, como desejara fazer durante toda a narrativa, o narrador finge ser, de fato, Rodrigo e oferece o perdão solicitado pela mulher.

06 – O cronista apresenta o relato como uma experiência pessoal.

a)    Na sua opinião, os fatos narrados realmente acontecem ou são fictícios? Justifique.

Resposta pessoal do aluno.

b)    Com a narrativa desse rápido encontro, o cronista estimula certa reflexão sobre as relações humanas. O que chamou sua atenção quanto a esse aspecto?

Resposta pessoal do aluno.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): GEOGRAFIA SENTIMENTAL - BANDA 5 A SECO

 Música(Atividades): Geografia Sentimental

             Banda 5 a Seco

A flecha chamada "ciúme"
Cravada no bonde chamado "desejo"
Correndo no trilho chamado "paúra"
Que fica na rua do "desassossego"

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLt3pFn0A32Orc3nvI75pnIKL-0zIo3fDbGWC4WlIz99r9oxyLezjIMC86EJDbYZ8S55b41n54kX5A_PCu83OZ__VrtYjZN3T0yAINMyN6asDKXtuxzJDaG4vQ0QPNcNBHN4Rd1z7xsis5PI7Vvg8E_j3Rd-sEkM5cil4JG7X_cJytWy9zgsZtRd1D77g/s320/GEOGRAFIA.jpg

Esquina com a praça da "ilusão perdida"
Distante do bairro de nome "aconchego"
Onde fica a casa chamada "carinho"
Vizinha da marginal do "desapego"

Que corre ao lado do rio "melodia"
Sobre o qual um barco chamado "passado"
Navega pro porto chamado "destino"
Com seu marinheiro chamado "chamado"
Com mastro que alguém batizou "desatino"
Com a vela que alguém nomeou "desamparo"
Sob a tempestade que chama o desejo
Que também é o nome do bonde que pego

E dentro do bonde num banco vazio
Repousa uma caixa
Que é toda mistério, mas há uma etiqueta
Em letra de forma escrito

A flecha chamada "ciúme"
Cravada no bonde chamado "desejo"
Correndo no trilho chamado "paúra"
Que fica na rua do "desassossego"

Esquina com a praça da "ilusão perdida"
Distante do bairro de nome "aconchego"
Onde fica a casa chamada "carinho"
Vizinha da marginal do "desapego"

Que corre ao lado do rio "melodia"
Sobre o qual um barco chamado "passado"
Navega pro porto chamado "destino"
Com seu marinheiro chamado "chamado"
Com mastro que alguém batizou "desatino"
Com a vela que alguém nomeou "desamparo"
Sob a tempestade que chama o desejo
Que também é o nome do bonde que pego

E dentro do bonde num banco vazio
Repousa uma caixa
Que é toda mistério, mas há uma etiqueta
Em letra de forma escrito: amor!

Composição: Leo Bianchini / Vinicius Calderoni. Geografia sentimental. In: 5 a Seco. Policromo. Brasil: Tratore, 2014. 1 CD. Faixa 8.

Fonte: Língua Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem. Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição. São Paulo, 2016. p. 219.

Entendendo a música:

01 – Qual é significado da palavra “paúra”, de acordo com a letra da música?

      De acordo com a música significa medo.

02 – Qual é o nome da flecha mencionada na música?

      A flecha é chamada "ciúme".

03 – Onde a flecha está cravada?

      A flecha está cravada no bonde chamado "desejo".

04 – Por onde o bonde chamado "desejo" corre?

      O bonde corre no trilho chamado "paúra".

05 – Em qual rua o trilho do bonde está localizado?

      O trilho está localizado na rua do "desassossego".

06 – Com qual praça a rua do "desassossego" faz esquina?

      A rua do "desassossego" faz esquina com a praça da "ilusão perdida".

07 – Qual é o nome do bairro distante da praça da "ilusão perdida"?

      O bairro se chama "aconchego".

08 – Qual é o nome da casa localizada no bairro "aconchego"?

      A casa se chama "carinho".

09 – Qual é o nome da marginal próxima à casa chamada "carinho"?

      A marginal se chama "desapego".

10 – Qual rio corre ao lado da marginal do "desapego"?

      O rio se chama "melodia".

11 – O que está escrito na etiqueta da caixa misteriosa dentro do bonde?

      Está escrito "amor!" em letra de forma.

 

quarta-feira, 15 de maio de 2024

ORTOGRAFIA: AFIM / A FIM - COM ATIVIDADES GABARITADAS

 ORTOGRAFIA: AFIM / A FIM

Afim ou a fim? Essa é uma dúvida que surge quando precisamos usar um desses termos. Além de serem escritos de formas diferentes, eles também têm sentidos diferentes. Desse modo, afim” é um adjetivo e significa “semelhante”, já a fim de” é uma locução prepositiva e indica finalidade. Além disso, “afim” tem como plural “afins”, ao passo que “a fim de” é invariável.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5S-VW7LoElVr-kSyC0j4NBOyH_aJuwhC2GI9xnjLrPCWglrgg8STc2Sh7300ULSl-7xRUI_6xw00lLfI85AT8vXoE9B9cnSl6oEMXeNoOltXVy8nXx6ZIutdrcBj_SW-IhcJWn_LOGL_cT-emTXYAuIHeldszvRcS6EYfAouo7xqKO9_Lu2l-uS3hpUQ/s320/a-fim-ou-afim-qual-e-a-diferenca.jpg

Quando usar “afim”?

O termo “afim” é um adjetivo, portanto, caracteriza um substantivo. Seus sinônimos são: semelhante, igual, análogo, parecido.

Observe os seguintes exemplos:

Tínhamos uma sensibilidade afim, mais um sinal de que podíamos viver juntos.

Ou seja: Tínhamos uma sensibilidade semelhante, mais um sinal de que podíamos viver juntos.

Sua vida era afim com a daqueles de seu tempo.

Isto é: Sua vida era parecida com a (vida) daqueles de seu tempo.

Quando usar “a fim”?

A expressão “a fim de” é uma locução prepositiva. É usada para indicar uma finalidade, um objetivo. Pode ser substituída pela preposição “para”.

Veja os seguintes exemplos:

A fim de impedir a greve dos servidores, a governadora reuniu-se com os líderes da classe.

Ou seja: Para impedir a greve dos servidores, a governadora reuniu-se com os líderes da classe.

Eu estou muito a fim de conhecer a cultura ianomâmi.

Isto é: Eu (quero muito, tenho o objetivo de) conhecer a cultura ianomâmi.

ATIVIDADES

01. Complete as frases com afim ou a fim.

     a) Os alunos esforçaram-se  a fim de conseguir a aprovação.

     b) Não éramos  a fim  daquele tipo de música.

     c) A viagem foi realizada  a fim  de promover um acordo entre os países.

     d) Nossas intenções foram afins, mas tudo mudou.

     e) A professora insistiu no silêncio a fim de iniciar a aula.

 

02. Quais das alternativas possuem o uso correto dos termos afim e a fim de?

     I- Tínhamos ideias a fins. Viajei afim de reencontrá-lo.

    II – Tínhamos ideias afins. Viajei a fim de reencontrá-lo.

   III – Tínhamos ideias afins. Viajei afim de reencontrá-lo.

   VI – Tínhamos ideias a fins. Viajei a fim de reencontrá-lo.

 

03. Reciclar os dejetos oriundos das criações e dos refugos das plantações deve ser encarado não como custo ou gasto “a mais”, mas sim como uma excelente oportunidade de gerar toda ou parte da energia necessária para executar as atividades econômicas (…) O termo em negrito pode ser substituído, sem prejuízo do sentido e da correção, por:

a) afim

b) a fim de

c) afins

d) a fins de

e) afim de 

 

04. Todas as alternativas seguintes empregam o uso adequado dos termos “afim”, “afins” e “a fim”, com exceção de:

a) Estou muito a fim de tomar sorvete com você, mas tem que ser de morango.

b) Não podemos condená-lo por estar afim de sair de um casamento tão infeliz.

c) Os formulários são afins, não vejo por que ela deveria preencher os dois.

d) Os operários compartilham sentimento afim no tocante à redução dos salários.

e) A fim de chamar sua atenção, acabei comportando-me de forma tão desprezível. 

05. Use os termos “afim”, “a fim” ou “afins” para preencher as lacunas do texto seguinte.

Lívio sabia que, ______ de comprar uma passagem para Portugal, seu amigo Rodolfo trabalhara em vários lugares. Os empregos, no entanto, eram ______, pois Rodolfo não podia afastar-se de sua grande paixão: a comida. Assim, trabalhou em um restaurante, em uma pizzaria, em uma sorveteria e até em um sushi bar. E quando chegou à terra de Camões, a primeira coisa que fez foi comer uma bacalhoada, ______ de sentir o sabor lusitano do qual sua mãe portuguesa sempre falava. A sequência correta de preenchimento das lacunas é:

a) afim, afins, a fim.

b) a fim, afim, afins.

c) afim, afim, afim.

d) a fim, afins, a fim.

e) afim, afins, afim.

 

 

ORTOGRAFIA: SENÃO / SE NÃO - COM ATIVIDADES GABARITADAS

 ORTOGRAFIA:  SENÃO / SE NÃO

SENÃO – é usado equivalendo a:

·        do contrário.

Saía daí, senão vai se molhar.

·        a não ser.

Não faz outra coisa senão reclamar.

·        mas sim.

Não tive a intenção de exigir, senão de pedir.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8Owzv3dPWC1Be9I_TeaEF07ozPlWAJGAXobXz4FQ3kRnZBO6U0a9yw0H4SDy89myK2NelUMHyri_Qny0NydN6cOtSgHtbDW6hO5pP_0P_P9GC2yGhKt4IWgmxJpCmaMQMYVkL52Pg6VANmY5PXiJCTcVooqQNdcXGT3RgjRrqyv_w8hYMJMMoLzEMVgQ/s320/senao.png

SE NÃO – é usado equivalendo a caso não.

                  Esperarei mais um pouco; se não vier, irei embora.

Fonte: Gramática: Teoria e Exercícios.– Paschoalin & Spadoto – Teoria – São Paulo: FTD, 1996. p.392-3.

ATIVIDADES

01. Complete as frases com senão ou se não.

a.   Chorarei muito ______________ voltares. se não

b.   Corre, ___________ ele te acerta. senão

c.   Não faz nada _________ estudar. senão

     02. Assinale a opção que completa as frases adequadamente:

           I. Se não
          II. Senão

          a) ( I ) _______________ estudar, não será aprovada.

          b) ( II ) Estude, ____________ será reprovada.

          c) ( II ) Ande logo, __________você vai se atrasar.

          d) ( I ) Iremos à praia _____________ chover.

          e) ( I ) ___________ forem à praia, avise-me.