sábado, 11 de maio de 2024

CRÔNICA: VIDA DE CACHORRO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Vida de Cachorro

              Walcyr Carrasco

         Ando com vontade de virar cachorro. Não pagam contas de luz nem seguro de carro e ainda se dão ao direito de deitar de patas para cima, oferecendo o corpo aos carinhos de quem querem. Comportamento que não atingi em quase duas décadas de terapia.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhspmI8i3s6B8wwzAGOndGqXPIQ_KmeDidNH0Jsc_efxNUEYY43YpDCCN-iQU4fJkSQoVb_zkuvmmmu68hPfMcBGTCMLmFaK91j2ljBCYQp15y-t_dGIsTvzxUVAv-MrGAk0IxuCHoRUGqF_kXzZMjG0vp7njZ4pH_oqIXhoZI-aAXOWAxkKBk3pgzVjRg/s320/CACHORRO.jpg


         Quem ama os cães enlouquece por eles. É uma vocação. Minha vizinha não pode ver um filhote: leva para casa. Chegou a dez. Todos de raças diferentes, mas com um ponto em comum: hoje são enormes. Decidida a transformar a paixão em negócio, ela montou um pet shop. O primeiro filhote, trazido em consignação, era um poodle de cor champanhe. Sem coragem de vender, aumentou a coleção. O pai da moça anda preocupado: nesse ritmo, toda a ração da loja será consumida pelos seus próprios cachorros.

         Amigos do melhor amigo do homem não podem se encontrar sem passar horas e horas descrevendo as qualidades dos bichinhos:

         — O Gandhi entende o que eu falo. Outro dia eu estava na maior deprê. Ele abanou o rabinho e deitou no meu colo, com um jeito triste, triste.

         — O Fidel é apaixonado por mim. Cada vez que meu ex-marido chega, ele rosna!

         Atenção para um detalhe: o bom dono confere ao seu bicho o nome de uma personalidade, nunca um nome de cachorro! Meus amigos Vera e Fúlvio são donos da Cora Coralina, uma gigantesca cadela rottweiler. Da poetisa, ela ostenta o olhar meigo, mas apenas quando quer conquistar um osso ou um pãozinho francês.

         Venderam o sítio onde Cora vivia em liberdade e trouxeram-na para sua nova e ampla residência, no Alto da Boa Vista. No primeiro dia Cora tentou devorar Florbela, uma altiva cadelinha fox-terrier, já habitante da casa. Com o coração partido, a rottweiler foi entregue a um criador da raça. No dia seguinte Fúlvio pegou o carro, juntamente com um beneficiário, para buscar, também no sítio, o companheiro da cadela, Pablo Neruda. No céu, percebeu algumas nuvens escuras. — Vai chover — comentou Fúlvio. — E melhor voltarmos. — Mas não caiu nem um pingo!

         Fúlvio entrou no acostamento, com o rosto transformado na máscara da

tragédia.

         — Quando chove, à estrada inunda. Há batidas. As pessoas se afogam.  Acelerou até a casa do outro, no Morumbi. Desceu e pegou Cora Coralina de volta. Resumindo: o casal recontratou os antigos caseiros do sítio. Alugou uma casa para os dois, na estrada.

         Paga um salário para que cuidem dos cães e os visita regularmente, como pessoas da família. Pensaram até em comprar o sítio de volta.

         Não são os únicos. Há um florescente comércio em torno dos peludos. Outro dia houve uma feira funerária no Anhembi. Um dos grandes sucessos: caixõezinhos para cães. O detalhe: tinham a forma de um Y invertido, para caber as patinhas abertas. Quem é cachorreiro, como se diz no jargão, vive em busca de veterinários melhores. Há um, na Vila Mariana, onde se formam filas de senhoras com cachorrinhos do tamanho de luvas. Entre elas, comentam os espirros de cada bichinho, o melhor corte de pelo. Meu amigo Rogério levou o seu, da raça Akita, branco e magro como um varapau. Enfrentou, na fila, um macaco de circo com boné, sentado, que fingia ler uma revista, e dez papagaios gripados, que tossiam como gente, uma aflição. O diagnóstico: anorexia nervosa. Talvez causada porque o cão fora proibido de entrar em casa e comer as almofadas do sofá.

         As rações melhoram de sabor a cada dia. Um rapaz, recém-separado, chegou a comprar um saco para comer no jantar. Alimentou-se durante um mês com os biscoitinhos, e até me aconselhou:

         — Para regime, nada melhor. E uma refeição completa.

         Eu me imagino entrando no pet shop e experimentando Bonzo, Purina, Canadian...

         — Levo dois sacos de vinte quilos daquela lá. — Está feita a compra do mês.

         E um caso raro em que a língua não evoluiu juntamente com a realidade. A expressão "vida de cachorro" relaciona-se com uma existência desagradável. Agora o significado está mais para o de mordomia. Vou ser franco: hoje em dia tornou-se mais fácil para um cão encontrar um lar do que para uma criança abandonada. Nada contra os amigos caninos, porque também amo os meus. Mas há alguma coisa errada, não há não?

 Entendendo a crônica:

 01 – Qual é a crônica em que Walcyr Carrasco discute a relação entre os donos e seus cães?

a)   Vida de Cachorro.

b)   Amor Incondicional.

c)   A Paixão Canina.

d)   Filhotes e Companheiros.

02 – Qual é o principal sentimento expresso pelo autor em relação aos cachorros?

a)   Pena.

b)   Admiração.

c)   Desprezo.

d)   Descontentamento.

03 – O que a vizinha do autor fez com os filhotes que adotou?

a)   Levou para a casa.

b)   Devolveu para o criador.

c)   Vendeu os filhotes.

d)   Mantém todos em casa.

04 – Segundo a crônica, por que os amigos dos cachorros se reúnem?

a)   Para descrever suas qualidades.

b)   Para contar histórias engraçadas.

c)   Para discutir problemas pessoais.

d)   Para compartilhar receitas de petiscos.

05 – Qual é a sugestão do autor sobre como os bons donos devem nomear seus cachorros?

a)   Com nomes de personalidades.

b)   Com nomes exóticos.

c)   Com nomes de outros animais.

d)   Com nomes de lugares famosos.

06 – O que aconteceu com a cadela Cora Coralina ao ser trazida para a nova casa?

a)   Ela se adaptou rapidamente.

b)   Ela tentou atacar outra cadela.

c)   Ela se tornou agressiva.

d)   Ela ficou doente.

07 – O que o autor comenta sobre o comércio relacionado aos cachorros?

a)   Está em declínio.

b)   Está crescendo.

c)   Está perdendo popularidade.

d)   Está sendo regulamentado.

08 – O que um rapaz recém separado fez com a ração de cachorro?

a)   Alimentou-se dela.

b)   Vendeu para os amigos.

c)   Jogou fora.

d)   Doou para um abrigo de animais.

09 – Qual é a visão do autor sobre a expressão "vida de cachorro"?

a)   Está ultrapassada.

b)   Deve ser desencorajada.

c)   Mudou seu significado.

d)   Deve ser preservada.

10 – Segundo o autor, o que ele acha mais fácil do que encontrar um lar para uma criança abandonada?

a)   Adotar um gato.

b)   Comprar um cachorro.

c)   Adotar um cachorro.

d)   Criar um canário.

 

CRÔNICA: ELEGÂNCIA ESCALDANTE - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Elegância Escaldante

              Walcyr Carrasco

        Boto meu novo paletó de lã. É marrom, com um corte superlegal. Enfio as calças cinza, também de lã. Completo o traje com um par de meias bem quentes. Ponho os sapatos e me admiro no espelho. Em dois segundos começo a suar como se estivesse em uma sauna. Disfarço. Existem ocasiões em que a gente tenta se enganar. Como agora. Comprei todas as roupas novas para aproveitar a liquidação. Cinquenta por cento, de uma grife sensacional. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZc1Y4sg6P0zi0q3KOEqZJVp3znCCzAdZ5kfssy7WZn4OBWb3_6SsIk6ybwILsxng2K47SkIY_fgrZWYO84fBqol_NPJgCB2_q6m5DvFtgUdGNoyZewdFyFlAeoEcf2CdJNg-HYOghZ4B64yARoXnDQ3g0Dl070NKU4p6jxjg7Lf7NjpvVOVn1W1elSJc/s320/agasalhado.png


Pensei que o inverno fosse durar mais um pouquinho. Não devia ter pensado. Vivo dizendo que "pensar que...", "achar que...", "deduzir que..." são expressões que levam ao precipício. Sempre que a gente "pensa que", alguma coisa dá errado. Deixei as calças para fazer a barra e o paletó para encurtar as mangas. Sina de quem tem barriga: quando o paletó abotoa, a manga fica comprida. Uma tragédia. Quando comprei, fazia um friozinho. Eu me achei muito esperto por aproveitar a liquidação. Devia saber. Espertos são os donos de loja, capazes de farejar a onda de calor com muito mais precisão do que a moça do tempo. Quando entregaram, havia acabado o frio. Abro a janela. Faço esforço para sentir a friagem. Um amigo chega para me dar carona.

        — Você vai de paletó de Iã? 

        — Achei que pudesse esfriar... — digo, à espera de que ele me elogie o traje.

        O elogio não vem. Apenas um olhar de esguelha. Peço para ligar o ar do carro. 

         — Não é melhor você tirar o paletó?

     Estou quase sufocado, mas faço que não. Não vou levar um paletó daqueles, com aquela grife, pendurado nas costas. Talvez ainda faça frio. Senti uma aragem. Nunca se sabe. As calças de lã me pinicam. Chegamos ao Teatro Municipal. Enquanto ele discute o preço com um flanelinha — que exige o mesmo valor do ingresso do concerto —, fujo do carro. Preciso de ar. Talvez desmaie. Mas não tiro o paletó.

         Entramos, finalmente. Um sujeito de camiseta me observa surpreso. Será minha elegância? Vejo uma conhecida com um casaco de pele. De longe, parece uma ratazana branca. Qualquer dia desses será atacada com um spray. Nós nos cumprimentamos como cúmplices. Afinal, ambos havíamos percebido que naquela noite fazia frio, ao contrário do que diziam os termômetros. Ela deve ter posto cola na maquiagem. Pois, apesar dos riachos que descem pela testa, o rimei continua intato. O amigo que me deu carona se aproxima. Nós o contemplamos com desprezo. Camisa de mangas curtas, coitado! Entramos. A jovem senta-se algumas fileiras à frente. Mal começa o concerto, despe a pele, irritando todos ao lado. Aproveito e tiro o casaco. Um alívio. Se pudesse, arrancava as calças também.

         É o mal desta cidade. Não se pode confiar no clima. Muitas vezes de manhã faz frio. Saio para trabalhar de suéter. No meio do dia começa o strip-tease. À tarde chego em casa com a aparência de quem dormiu vestido. Calças amassadas, gravata torta, suéter e paletó na mão, os cabelos idênticos a uma vassoura de piaçaba. Vejo as mulheres. Retocam a maquiagem a cada dez minutos. O penteado despenca. Mas o contrário também acontece. Às vezes o dia está lindo. Saio com roupa de verão. Dali a pouco começa um ventinho. Finjo que não é nada. O ventinho me corta os ossos. Continuo fingindo que não é nada. Passo dois dias de cama com gripe. Dizem que é culpa da poluição. Na televisão, falam em frente fria que não chega por causa de uns ventos que vieram da Argentina. Então é culpa dos argentinos? Ou será o contrário? O caso se repete todo ano. Tempo de seca. Todos ansiamos por chuva, para refrescar (e para usar as roupas de liquidação). Quando a chuva vem, parece o dilúvio. Suspiramos pela seca.

         Mesmo agora, quando estou escrevendo, temo que o tempo me engane. Pode haver outra virada. Todo mundo estará batendo os dentes de frio, sem entender por que falo de calor. Que coisa, hein? Decidi pendurar meu paletó de inverno no armário, para um longo período de hibernação. No ano que vem, é capaz de estar fora de moda. Com um tempo tão volúvel, é difícil até aproveitar uma boa liquidação.

 Entendendo a crônica:

01 – Por que o narrador comprou um novo paletó e calças de lã?

a)   Porque estavam em promoção.

b)   Porque estava muito frio na época da compra.

c)   Porque ele sempre quis ter uma roupa de grife.

d)   Porque queria se preparar para o inverno iminente.

02 – Qual foi o problema enfrentado pelo narrador com o paletó e as calças comprados na liquidação?

a)   As roupas eram de má qualidade.

b)   As roupas não serviam direito.

c)   As roupas eram caras demais.

d)   As roupas eram de uma grife desconhecida.

03 – Como o narrador se sentiu ao usar o paletó de lã quando já não fazia mais frio?

a)   Confortável e fresco.

b)   Desconfortável e suado.

c)   Satisfeito com seu estilo.

d)   Arrependido da compra.

04 – Por que o narrador não tirou o paletó mesmo sentindo calor?

a)   Porque queria mostrar sua elegância.

b)   Porque estava esperando que esfriasse novamente.

c)   Porque tinha medo de estragar o paletó.

d)   Porque estava esperando elogios.

05 – Como o narrador descreveu uma conhecida que estava usando um casaco de pele?

a)   Como uma ratazana branca.

b)   Como uma rainha elegante.

c)   Como uma pessoa desinformada.

d)   Como uma celebridade de cinema.

06 – O que o narrador acha ser o "mal desta cidade"?

a)   O excesso de calor.

b)   A imprevisibilidade do clima.

c)   A falta de liquidações.

d)   O comportamento das pessoas nos eventos.

07 – Por que o narrador se refere às mulheres retocando a maquiagem constantemente?

a)   Porque elas querem parecer bonitas o tempo todo.

b)   Porque o clima faz a maquiagem derreter.

c)   Porque elas estão sempre se divertindo.

d)   Porque elas não têm o que fazer.

08 – O que acontece com a roupa do narrador quando o tempo muda abruptamente?

a)   Ela se encaixa perfeitamente.

b)   Ela precisa ser trocada no meio do dia.

c)   Ela fica mais bonita.

d)   Ela nunca se adapta ao clima.

09 – Por que o narrador decide pendurar seu paletó no armário?

a)   Porque ele está fora de moda.

b)   Porque ele quer hibernar.

c)   Porque o clima está muito quente.

d)   Porque ele não gosta mais da roupa.

10 – Qual é a principal crítica do narrador em relação ao clima e à moda?

a)   A moda é sempre muito cara.

b)   O clima nunca é favorável para usar as roupas compradas.

c)   As lojas não oferecem liquidações suficientes.

d)   O clima e a moda nunca combinam.

 

 

 

 

CRÔNICA: REIS DO CONSUMO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Reis do Consumo

                Walcyr Carrasco

Tenho mania de comprar livros. É uma fixação, pois acabo levando para casa muito mais do que consigo ler. Frequentemente, faço a promessa de não adquirir mais nenhum. Não cumpro. Basta entrar em uma livraria para descobrir títulos essenciais. Como se o simples fato de ter os livros pertinho de mim aumentasse minha sapiência. (Nossa, há quanto tempo não via a palavra sapiência! Deve ser de algum livro que não li.) 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYAH7h8HYYcOMulJa57-s_LbxGr5UOv0QI02ErPdiEqch1g61aBNJqV6wHnLjqe5eGjoHCxHq-OgQC-Vai0d-Yf0xDBfsFsu-HByVJYvyoOekh5EabVby_PZi-_hlCzcw7bq7Rr8v1ArJbNy0M7vnDVvkO4XQrW6ZQaKfiCSW-S6X2wooyOVbc8ROrBwk/s320/HOMEM.jpg


Faço a festa de vendedores de livros. Cida, a simpática gerente de uma livraria na Vila Madalena, sorri feliz quando me vê entrar. Oferece cafezinho e começa:

         — Olha o que saiu!       

Já me convenceu a levar, certa vez, um catatau romântico de umas quinhentas páginas só porque comentei estar procurando um livro para "me distrair". Uma história tão melosa que botaria um diabético no hospital. Mas esse, pelo menos, li, embora não devesse confessar a ninguém ter gasto tempo com tão baixa literatura. (O pior é que torci pelos personagens!)

Lamentei-me com Cida. Segundo ela disse, meu caso não é dos mais graves.    

— Tive um amigo que comprava os dez volumes da obra completa de Marx, por exemplo. Ficava sem dinheiro para pagar a pensão. Era despejado e acabava deixando os livros. Ia para outra e, novamente, comprava a coleção. Era despejado mais uma vez. Dava pena.

Minha loucura é especial, pois se restringe a livros e, pasmem, sabonetes cheirosos. Não posso ver um sabonete diferente. Compro. Como sou alérgico, jamais posso usá-lo. Jogar fora, nem pensar. Seria desperdício demais. Dezenas de sabonetes empesteiam minhas gavetas. Um amigo é assim com roupas. Ligou-me para avisar de uma liquidação numa loja elegante. Expliquei que não precisava de nada.

— Mas você não pode perder as ofertas!

Recusei-me a ir. Ele me tratou como se eu tivesse uma grave falha emocional. Na sua opinião, só uma personalidade problemática não aproveitaria a chance de torrar uma grana em calças e camisas. Mais tarde veio me visitar feliz da vida.

— Comprei uma calça preta!

— Outra?

Tem quatro ou cinco. Nem usa todas. E incapaz de, resistir a uma roupa bonita. A mãe de outro amigo adorava sapatos. Mostrou-me o armário cheio. Nem que fosse a pé daqui até as Cataratas do Iguaçu gastaria tanta sola. Era capaz de se emocionar com um par de escarpins de couro de cobra.

— Não são lindos? — mostrava, os olhos marejados com tanta formosura.

Alguns nunca punha, para não estragar. Adorava contemplá-los, como Ali Babá ao tesouro.

A mania de comprar não tem nada a ver com classe social ou necessidade. Já vi gente com pouquíssimo dinheiro entrar em um brechó e sair de sacola carregada de inutilidades. A última loucura de consumo é a do sujeito que adora vinhos. Não estou falando de conhecedores, que identificam uma safra pelo aroma. Más de gente como eu, capaz de confundir qualquer vinagre mais encorpado com um tinto especialíssimo. Tornou-se chique conhecer vinhos, ter adega. Fui visitar um amigo em sua nova casa no Morumbi Lá pelas tantas me arrastou até um armário repleto. Mostrou garrafa por garrafa.

 — Esta custou tanto, esta tanto...

Observei, de olhos arregalados. Qual seria o sabor de vinhos daqueles preços? Comentei, amigável: Deve ser uma delícia tomar um vinho desses.

Assustou-se:

— Tomar? Nunca.

Não escondi minha surpresa. Explicou candidamente: Tenho dó. São muito caros para ficar bebendo.

Dá para entender?

Entendendo o texto

01. Qual é a fixação do narrador que é mencionada no texto?

a. Comprar livros e perfumes.

b. Comprar livros e roupas.

c. Comprar livros e vinhos.

d. Comprar livros e eletrônicos.

02. O que o narrador lamenta ter comprado, mesmo sendo alérgico e incapaz de usar?

a. Livros melosos.

b. Sabonetes cheirosos.

c. Roupas elegantes.

d. Garrafas de vinho caro.

03. Qual era a loucura de consumo do amigo do narrador que o levou a comprar os dez volumes da obra completa de Marx repetidamente?

a. Livros de arte.

b. Roupas de grife.

c. Perfumes raros.

d. Garrafas de vinho caro.

04. O que a mãe de outro amigo adorava colecionar?

a. Livros antigos.

b. Relógios de pulso.

c. Sapatos.

d. Brinquedos de infância.

05. O que o amigo do narrador adquiriu em uma liquidação, mesmo já tendo várias?

a. Livros.

b. Sabonetes.

c. Calças pretas.

d. Garrafas de vinho.

06. Qual era a reação do narrador ao ver o armário cheio de garrafas de vinho caro na casa do amigo?

a. Ficou impressionado e com vontade de experimentar.

b. Ficou surpreso e questionou se ele realmente os bebia.

c. Ficou desconfiado da autenticidade das garrafas.

d. Ficou com inveja da coleção do amigo.

07. Qual é a última loucura de consumo mencionada no texto?

a. Comprar livros raros.

b. Comprar roupas de grife.

c. Comprar garrafas de vinho caro.

d. Comprar itens inúteis em brechós.

08. O que o amigo mencionado no texto nunca faz com as garrafas de vinho caro que compra?

a. Vende.

b. Bebe.

c. Presenteia.

d. Exibe.

09. Qual é a conclusão final do narrador sobre a mania de comprar?

a. Está relacionada com classe social.

b. Está relacionada com necessidade.

c. Está relacionada com emoções e comportamento.

d. Está relacionada com a influência da mídia.

10. Qual é a característica marcante dos colecionadores e compradores mencionados no texto?

a. São todos conhecedores profundos de seus itens de coleção.

b. São todos incapazes de usar ou consumir seus itens.

c. São todos influenciados pela mídia e tendências sociais.

d. São todos impulsionados por emoções e impulsos de consumo.