sábado, 11 de maio de 2024

CRÔNICA: ELEGÂNCIA ESCALDANTE - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Elegância Escaldante

              Walcyr Carrasco

        Boto meu novo paletó de lã. É marrom, com um corte superlegal. Enfio as calças cinza, também de lã. Completo o traje com um par de meias bem quentes. Ponho os sapatos e me admiro no espelho. Em dois segundos começo a suar como se estivesse em uma sauna. Disfarço. Existem ocasiões em que a gente tenta se enganar. Como agora. Comprei todas as roupas novas para aproveitar a liquidação. Cinquenta por cento, de uma grife sensacional. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZc1Y4sg6P0zi0q3KOEqZJVp3znCCzAdZ5kfssy7WZn4OBWb3_6SsIk6ybwILsxng2K47SkIY_fgrZWYO84fBqol_NPJgCB2_q6m5DvFtgUdGNoyZewdFyFlAeoEcf2CdJNg-HYOghZ4B64yARoXnDQ3g0Dl070NKU4p6jxjg7Lf7NjpvVOVn1W1elSJc/s320/agasalhado.png


Pensei que o inverno fosse durar mais um pouquinho. Não devia ter pensado. Vivo dizendo que "pensar que...", "achar que...", "deduzir que..." são expressões que levam ao precipício. Sempre que a gente "pensa que", alguma coisa dá errado. Deixei as calças para fazer a barra e o paletó para encurtar as mangas. Sina de quem tem barriga: quando o paletó abotoa, a manga fica comprida. Uma tragédia. Quando comprei, fazia um friozinho. Eu me achei muito esperto por aproveitar a liquidação. Devia saber. Espertos são os donos de loja, capazes de farejar a onda de calor com muito mais precisão do que a moça do tempo. Quando entregaram, havia acabado o frio. Abro a janela. Faço esforço para sentir a friagem. Um amigo chega para me dar carona.

        — Você vai de paletó de Iã? 

        — Achei que pudesse esfriar... — digo, à espera de que ele me elogie o traje.

        O elogio não vem. Apenas um olhar de esguelha. Peço para ligar o ar do carro. 

         — Não é melhor você tirar o paletó?

     Estou quase sufocado, mas faço que não. Não vou levar um paletó daqueles, com aquela grife, pendurado nas costas. Talvez ainda faça frio. Senti uma aragem. Nunca se sabe. As calças de lã me pinicam. Chegamos ao Teatro Municipal. Enquanto ele discute o preço com um flanelinha — que exige o mesmo valor do ingresso do concerto —, fujo do carro. Preciso de ar. Talvez desmaie. Mas não tiro o paletó.

         Entramos, finalmente. Um sujeito de camiseta me observa surpreso. Será minha elegância? Vejo uma conhecida com um casaco de pele. De longe, parece uma ratazana branca. Qualquer dia desses será atacada com um spray. Nós nos cumprimentamos como cúmplices. Afinal, ambos havíamos percebido que naquela noite fazia frio, ao contrário do que diziam os termômetros. Ela deve ter posto cola na maquiagem. Pois, apesar dos riachos que descem pela testa, o rimei continua intato. O amigo que me deu carona se aproxima. Nós o contemplamos com desprezo. Camisa de mangas curtas, coitado! Entramos. A jovem senta-se algumas fileiras à frente. Mal começa o concerto, despe a pele, irritando todos ao lado. Aproveito e tiro o casaco. Um alívio. Se pudesse, arrancava as calças também.

         É o mal desta cidade. Não se pode confiar no clima. Muitas vezes de manhã faz frio. Saio para trabalhar de suéter. No meio do dia começa o strip-tease. À tarde chego em casa com a aparência de quem dormiu vestido. Calças amassadas, gravata torta, suéter e paletó na mão, os cabelos idênticos a uma vassoura de piaçaba. Vejo as mulheres. Retocam a maquiagem a cada dez minutos. O penteado despenca. Mas o contrário também acontece. Às vezes o dia está lindo. Saio com roupa de verão. Dali a pouco começa um ventinho. Finjo que não é nada. O ventinho me corta os ossos. Continuo fingindo que não é nada. Passo dois dias de cama com gripe. Dizem que é culpa da poluição. Na televisão, falam em frente fria que não chega por causa de uns ventos que vieram da Argentina. Então é culpa dos argentinos? Ou será o contrário? O caso se repete todo ano. Tempo de seca. Todos ansiamos por chuva, para refrescar (e para usar as roupas de liquidação). Quando a chuva vem, parece o dilúvio. Suspiramos pela seca.

         Mesmo agora, quando estou escrevendo, temo que o tempo me engane. Pode haver outra virada. Todo mundo estará batendo os dentes de frio, sem entender por que falo de calor. Que coisa, hein? Decidi pendurar meu paletó de inverno no armário, para um longo período de hibernação. No ano que vem, é capaz de estar fora de moda. Com um tempo tão volúvel, é difícil até aproveitar uma boa liquidação.

 Entendendo a crônica:

01 – Por que o narrador comprou um novo paletó e calças de lã?

a)   Porque estavam em promoção.

b)   Porque estava muito frio na época da compra.

c)   Porque ele sempre quis ter uma roupa de grife.

d)   Porque queria se preparar para o inverno iminente.

02 – Qual foi o problema enfrentado pelo narrador com o paletó e as calças comprados na liquidação?

a)   As roupas eram de má qualidade.

b)   As roupas não serviam direito.

c)   As roupas eram caras demais.

d)   As roupas eram de uma grife desconhecida.

03 – Como o narrador se sentiu ao usar o paletó de lã quando já não fazia mais frio?

a)   Confortável e fresco.

b)   Desconfortável e suado.

c)   Satisfeito com seu estilo.

d)   Arrependido da compra.

04 – Por que o narrador não tirou o paletó mesmo sentindo calor?

a)   Porque queria mostrar sua elegância.

b)   Porque estava esperando que esfriasse novamente.

c)   Porque tinha medo de estragar o paletó.

d)   Porque estava esperando elogios.

05 – Como o narrador descreveu uma conhecida que estava usando um casaco de pele?

a)   Como uma ratazana branca.

b)   Como uma rainha elegante.

c)   Como uma pessoa desinformada.

d)   Como uma celebridade de cinema.

06 – O que o narrador acha ser o "mal desta cidade"?

a)   O excesso de calor.

b)   A imprevisibilidade do clima.

c)   A falta de liquidações.

d)   O comportamento das pessoas nos eventos.

07 – Por que o narrador se refere às mulheres retocando a maquiagem constantemente?

a)   Porque elas querem parecer bonitas o tempo todo.

b)   Porque o clima faz a maquiagem derreter.

c)   Porque elas estão sempre se divertindo.

d)   Porque elas não têm o que fazer.

08 – O que acontece com a roupa do narrador quando o tempo muda abruptamente?

a)   Ela se encaixa perfeitamente.

b)   Ela precisa ser trocada no meio do dia.

c)   Ela fica mais bonita.

d)   Ela nunca se adapta ao clima.

09 – Por que o narrador decide pendurar seu paletó no armário?

a)   Porque ele está fora de moda.

b)   Porque ele quer hibernar.

c)   Porque o clima está muito quente.

d)   Porque ele não gosta mais da roupa.

10 – Qual é a principal crítica do narrador em relação ao clima e à moda?

a)   A moda é sempre muito cara.

b)   O clima nunca é favorável para usar as roupas compradas.

c)   As lojas não oferecem liquidações suficientes.

d)   O clima e a moda nunca combinam.

 

 

 

 

CRÔNICA: REIS DO CONSUMO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Reis do Consumo

                Walcyr Carrasco

Tenho mania de comprar livros. É uma fixação, pois acabo levando para casa muito mais do que consigo ler. Frequentemente, faço a promessa de não adquirir mais nenhum. Não cumpro. Basta entrar em uma livraria para descobrir títulos essenciais. Como se o simples fato de ter os livros pertinho de mim aumentasse minha sapiência. (Nossa, há quanto tempo não via a palavra sapiência! Deve ser de algum livro que não li.) 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYAH7h8HYYcOMulJa57-s_LbxGr5UOv0QI02ErPdiEqch1g61aBNJqV6wHnLjqe5eGjoHCxHq-OgQC-Vai0d-Yf0xDBfsFsu-HByVJYvyoOekh5EabVby_PZi-_hlCzcw7bq7Rr8v1ArJbNy0M7vnDVvkO4XQrW6ZQaKfiCSW-S6X2wooyOVbc8ROrBwk/s320/HOMEM.jpg


Faço a festa de vendedores de livros. Cida, a simpática gerente de uma livraria na Vila Madalena, sorri feliz quando me vê entrar. Oferece cafezinho e começa:

         — Olha o que saiu!       

Já me convenceu a levar, certa vez, um catatau romântico de umas quinhentas páginas só porque comentei estar procurando um livro para "me distrair". Uma história tão melosa que botaria um diabético no hospital. Mas esse, pelo menos, li, embora não devesse confessar a ninguém ter gasto tempo com tão baixa literatura. (O pior é que torci pelos personagens!)

Lamentei-me com Cida. Segundo ela disse, meu caso não é dos mais graves.    

— Tive um amigo que comprava os dez volumes da obra completa de Marx, por exemplo. Ficava sem dinheiro para pagar a pensão. Era despejado e acabava deixando os livros. Ia para outra e, novamente, comprava a coleção. Era despejado mais uma vez. Dava pena.

Minha loucura é especial, pois se restringe a livros e, pasmem, sabonetes cheirosos. Não posso ver um sabonete diferente. Compro. Como sou alérgico, jamais posso usá-lo. Jogar fora, nem pensar. Seria desperdício demais. Dezenas de sabonetes empesteiam minhas gavetas. Um amigo é assim com roupas. Ligou-me para avisar de uma liquidação numa loja elegante. Expliquei que não precisava de nada.

— Mas você não pode perder as ofertas!

Recusei-me a ir. Ele me tratou como se eu tivesse uma grave falha emocional. Na sua opinião, só uma personalidade problemática não aproveitaria a chance de torrar uma grana em calças e camisas. Mais tarde veio me visitar feliz da vida.

— Comprei uma calça preta!

— Outra?

Tem quatro ou cinco. Nem usa todas. E incapaz de, resistir a uma roupa bonita. A mãe de outro amigo adorava sapatos. Mostrou-me o armário cheio. Nem que fosse a pé daqui até as Cataratas do Iguaçu gastaria tanta sola. Era capaz de se emocionar com um par de escarpins de couro de cobra.

— Não são lindos? — mostrava, os olhos marejados com tanta formosura.

Alguns nunca punha, para não estragar. Adorava contemplá-los, como Ali Babá ao tesouro.

A mania de comprar não tem nada a ver com classe social ou necessidade. Já vi gente com pouquíssimo dinheiro entrar em um brechó e sair de sacola carregada de inutilidades. A última loucura de consumo é a do sujeito que adora vinhos. Não estou falando de conhecedores, que identificam uma safra pelo aroma. Más de gente como eu, capaz de confundir qualquer vinagre mais encorpado com um tinto especialíssimo. Tornou-se chique conhecer vinhos, ter adega. Fui visitar um amigo em sua nova casa no Morumbi Lá pelas tantas me arrastou até um armário repleto. Mostrou garrafa por garrafa.

 — Esta custou tanto, esta tanto...

Observei, de olhos arregalados. Qual seria o sabor de vinhos daqueles preços? Comentei, amigável: Deve ser uma delícia tomar um vinho desses.

Assustou-se:

— Tomar? Nunca.

Não escondi minha surpresa. Explicou candidamente: Tenho dó. São muito caros para ficar bebendo.

Dá para entender?

Entendendo o texto

01. Qual é a fixação do narrador que é mencionada no texto?

a. Comprar livros e perfumes.

b. Comprar livros e roupas.

c. Comprar livros e vinhos.

d. Comprar livros e eletrônicos.

02. O que o narrador lamenta ter comprado, mesmo sendo alérgico e incapaz de usar?

a. Livros melosos.

b. Sabonetes cheirosos.

c. Roupas elegantes.

d. Garrafas de vinho caro.

03. Qual era a loucura de consumo do amigo do narrador que o levou a comprar os dez volumes da obra completa de Marx repetidamente?

a. Livros de arte.

b. Roupas de grife.

c. Perfumes raros.

d. Garrafas de vinho caro.

04. O que a mãe de outro amigo adorava colecionar?

a. Livros antigos.

b. Relógios de pulso.

c. Sapatos.

d. Brinquedos de infância.

05. O que o amigo do narrador adquiriu em uma liquidação, mesmo já tendo várias?

a. Livros.

b. Sabonetes.

c. Calças pretas.

d. Garrafas de vinho.

06. Qual era a reação do narrador ao ver o armário cheio de garrafas de vinho caro na casa do amigo?

a. Ficou impressionado e com vontade de experimentar.

b. Ficou surpreso e questionou se ele realmente os bebia.

c. Ficou desconfiado da autenticidade das garrafas.

d. Ficou com inveja da coleção do amigo.

07. Qual é a última loucura de consumo mencionada no texto?

a. Comprar livros raros.

b. Comprar roupas de grife.

c. Comprar garrafas de vinho caro.

d. Comprar itens inúteis em brechós.

08. O que o amigo mencionado no texto nunca faz com as garrafas de vinho caro que compra?

a. Vende.

b. Bebe.

c. Presenteia.

d. Exibe.

09. Qual é a conclusão final do narrador sobre a mania de comprar?

a. Está relacionada com classe social.

b. Está relacionada com necessidade.

c. Está relacionada com emoções e comportamento.

d. Está relacionada com a influência da mídia.

10. Qual é a característica marcante dos colecionadores e compradores mencionados no texto?

a. São todos conhecedores profundos de seus itens de coleção.

b. São todos incapazes de usar ou consumir seus itens.

c. São todos influenciados pela mídia e tendências sociais.

d. São todos impulsionados por emoções e impulsos de consumo.

 

 

CRÔNICA: A SEREIA E O MERGULHADOR - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: A Sereia e o Mergulhador

                Walcyr Carrasco

 Amor pela internet? Nada mais comum hoje em dia. Meg Ryan e Tom Hanks não se conheceram assim em Mensagem para Você. Por que eu não posso ter a mesma sorte? Teclar e dar de cara (ou melhor, de teclas) com Meg Ryan! Romeu e Julieta não se amaram em uma sacada de pedra? Muito mais confortável descobrir a alma gêmea numa cadeira macia, comendo batatinhas fritas e entrando nas salas de bate-papo da internet. Ouvi histórias. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMdxJlpA2YfIe6yPrCyhcqpANKoO0PpvUQZMvzypgM0Y3zXjBrbmF1T1Aa1efYy-eHybrb5Jm-EQm3_-3lVO-NwezxqzPuuOuuHjNPJBNpibkbuw6oUH3qp-r_nAr0-TpwAl14PA2oeegNRs2i0AmVkSVa5_tsOxziwZYBoMkr-rvrBnBstU5FyoOKMoY/s320/SEREIA.jpg


Uma jovem casou-se dessa forma com um alemão. Só se viram em Berlim, um ano depois do primeiro contato. Mandou um postal com letra trêmula, dizendo que estava muito feliz, embora nunca mais tenha enviado nenhuma outra notícia. Como conhecer alguém numa cidade onde todos são anônimos? Certa moça foi à luta pela internet. Buscou o amor sob o pseudônimo de "Gata Amorosa". Recebeu cantadas com detalhes impublicáveis da anatomia masculina. Tentou "Sereia". Entrou em uma sala de conversa para casais. Choveram mensagens. Descartou imediatamente o "Garanhão" e "Marido/SP", por oferecerem poucas perspectivas de amor eterno.

Foi quando o "Mergulhador 27/SP" respondeu:

— Tenho 1,80 metro, 71 quilos, cabelos castanho-claros.

Gosto de mergulhar. E você, como é?

   Por prudência, inspirou-se em "A Pequena Sereia", a original.

— Sou do tipo mignon, 1,60 metro, loira e muito romântica. Tenho 23 anos. Adoraria trabalhar em um programa infantil. 

Trocaram e-mails. Durante as semanas seguintes, escreveram-se todos os dias. Dispararam confidencias. Falaram de amor.

Só faltava um detalhe: conhecerem-se pessoalmente. Hesitaram.

A hora da verdade sempre dá medo. Finalmente, marcaram o encontro, na área de alimentação do Shopping Paulista. "Se for um estrangulador, é mais seguro", pensou a romântica, mas prática Sereia. 

Foi de preto, como combinado. Passou vinte minutos à procura do Mergulhador. Deveria estar com uma camiseta e casaco de couro. Finalmente, bateu os olhos em um sujeito calvo, de bigodes grisalhos, tipo cantor de tango aposentado. Quando ia fugir, ele ergueu a cabeça e... sorriu! Não de felicidade, mas de susto.

- Sereia????????????

— Mergulhador????????????.

— Pensei que você fosse mais magra.

— Eu era, mas andei comendo muito doce... Foram só uns quilinhos.

— Não me leve a mal, é que a idade também...

— Ih, será que bati o número errado? — disfarçou, inocente.

Falsa, sim. Irritadíssima também. Aquilo era barriga de mergulhador? Só se ele fosse a âncora do barco.

— E você, não se atrapalha com os bigodes na máscara, quando mergulha?

— Ah! Eu mergulhei uma vez, numa excursão em Cancún.

Gostei muito. Nunca esqueci.

         — E os 27?         .         

— Achei que fosse uma forma de começar a conversa. As pessoas são muito preconceituosas quando a gente conta a idade verdadeira. Não tenho ido muito à praia por falta de grana.

Era gerente comercial, mas agora montei uma microempresa, estou começando tudo de novo. Você gosta de praia? Quem sabe algum dia a gente vai numa que eu conheço. Tem uma pensão que dá desconto.

Se a moça pudesse, faria um raio cair naquela careca. Ele também a encarava com tristeza. Como ela ficaria de brilho e tiara da Pequena Sereia? Estaria mais para Orca, a baleia assassina, do que propriamente para uma sereia. Tinham vontade de chamar a polícia e acusar um ao outro de falsidade ideológica. Por educação, continuaram conversando. Quando viram, estavam rindo. Sereia, hein? Mergulhador? Pois sim!

Andam se encontrando até hoje. Ela comprou uma tiara da Pequena Sereia só para fazer piada. Amor pela internet é assim. Escreve-se por linhas tortas. Mas até acaba dando certo.

Entendendo o texto

01.Qual foi o pseudônimo usado pela moça para buscar amor na internet?

a. Gata Amorosa.

b. Sereia.

c.  Garanhão.

d. Marido/SP.

02. O que motivou a moça a escolher o pseudônimo "Sereia"?

a. Ela adorava a história da Pequena Sereia.

b. Era fã de mergulho.

c. Gostava de se identificar com personagens míticos.

d. Era apaixonada por histórias românticas.

03. Como o casal virtual decidiu se encontrar pessoalmente pela primeira vez?

a. Em um restaurante de luxo.

b. Na área de alimentação de um shopping.

c. Em um parque temático.

d. No aeroporto.

04. Como a moça se vestiu no primeiro encontro?

a. De branco.

b. De vermelho.

c. De preto.

d. De azul.

05. Qual foi a reação inicial da moça ao ver o "Mergulhador 27/SP" pessoalmente?

a. Ficou encantada com a aparência dele.

b. Ficou desapontada e surpresa com sua aparência.

c. Ficou intimidada.

d. Ficou indiferente.

06. Qual foi o motivo dado pelo "Mergulhador 27/SP" para o número 27 em seu pseudônimo?

a. Era sua idade.

b. Era seu número de mergulhos.

c. Era uma referência a algo pessoal.

d. Era um número aleatório.

07. O que a moça pensou em fazer ao ver a barriga proeminente do "Mergulhador"?

a. Fazer piadas sobre mergulho.

b. Chamar a polícia.

c. Fazer um raio cair na careca dele.

d. Fugir do encontro.

08. O que eles acabaram fazendo durante o encontro, apesar das primeiras impressões?

a. Brigaram e foram embora.

b. Riram juntos e continuaram conversando.

c. Decidiram nunca mais se falar.

d. Ficaram em silêncio o tempo todo.

09. Como a moça resolveu fazer piada depois do encontro?

a. Comprou uma fantasia de sereia.

b. Comprou uma tiara da Pequena Sereia.

c. Escreveu uma comédia sobre encontros online.

d. Publicou um meme na internet.

10.Qual foi a conclusão sobre o amor pela internet ao final da história?

a. Sempre acaba em decepção.

b. Pode ser imprevisível, mas às vezes dá certo.

c. É uma perda de tempo.

d. Nunca se deve confiar em relacionamentos virtuais.

 

 

quarta-feira, 8 de maio de 2024

CRÔNICA: GUERREIROS DOS MALOTES - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Guerreiros dos Malotes

                 Walcyr Carrasco

 Quatro horas da tarde. Estou subindo a avenida Rebouças e observo a montanha de carros à minha frente. Trânsito lento. Lentíssimo. Ouço música. De repente, sinto uma pancada no carro. Um motoboy acaba de arrasar com meu espelho. Nem se digna olhar para trás. Continua ondulando por entre os carros paralisados. Dá vontade de descer e persegui-lo. Não seria nem para reclamar o espelho de volta. Mas para exigir respeito. No mínimo, um pedido de desculpas. Tarde demais. Ele está longe. Eu, sem retrovisor.

Já sei. Vão acabar dizendo que tenho obsessão pelos problemas de trânsito.

 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-up1hlIFv1jC-K9R912hOAFEPpjsggMbSkjccO7_2IHsZ4K2O5STCwi6OaTjYB3QtrYH6x_7bcWu5meo3ppuEo94m6vrHDaKwX-GE-_ys9lRUHlinqa-2DPrxqFwqmpGh4oxcnIS5CdRNCMezhDbpsLFf0I74v5i_l6He2O-SrIBhyphenhyphenkUCiEQWR5B0a1g/s1600/REBOU%C3%87AS.jpg

Que durmo pensando em semáforos, assim como tenho pesadelos com minha barriga. Pode ser. Ando louco com os motoboys. Nada mais prático do que usar moto numa cidade como a nossa. Motoboys são uma categoria à parte. Encolhem se para passar entre os carros, atravessam as ruas em diagonal. Pintura raspada é detalhe sem importância. Outro dia uma amiga conversava comigo de janela aberta, o braço para fora. Ouviu um barulhinho, instintivamente puxou o braço. Por um triz não perdeu o cotovelo.

— Ei! Toma cuidado! — gritou.

Como sempre, o rapaz nem diminuiu a velocidade para conferir.

Quando o trânsito flui, também não é fácil. As motos parecem surgir do nada. Cortam pela direita, atravessam na frente, empinam para a esquerda. Sair no Itaim-Bibí domingo à noite é arriscadíssimo. O motivo: a maré de motoboys entregando pizzas. Paulistano que se preza adora uma pizza aos domingos. O Itaim-Bibi possui uma das maiores concentrações de devoradores de pizza do planeta. Pelo menos é o que me contou um morador do bairro. É uma correria total, para que as pizzas cheguem quentinhas. Enquanto isso, os transeuntes correm para não ser atropelados pelas calabresas, margheritas e mussarelas. Às vezes ocorrem tragédias. A família senta-se à mesa, os estômagos ronronam. Abre se a caixa. O presunto da meia portuguesa rolou sobre a meia mussarela. Â família passa parte do jantar arrumando o presunto e capturando as azeitoninhas pretas que se espalharam pela tampa toda. Motoboys têm seus truques. Um deles me explicou:

— E mole cortar ônibus. Presto atenção ao motor. Se está baixinho, é que ainda está pegando passageiro, e eu entro em cima. Se o barulho aumenta, danou-se!

Bela filosofia de vida, não?

Um amigo teve o capo atingido por um apressadinho. Desceu do carro pronto para pegar o número da chapa, fazer ocorrência. Todos os motoboys que passavam por perto perderam a pressa. Pararam em torno, ameaçadores. Unidos.

— Que foi aí?

O motorista passou de vítima a agressor. Em cinco segundos a história era outra. Começaram a ameaçar. Meu amigo refugiou-se no carro, antes que apanhasse.

E uma profissão sofrida. Não se ganha muito, trabalha-se no sol e na chuva. Existe uma complacência a respeito do assunto, devido à questão social. O que se lucra com isso? Entre eles, defendem-se como se pertencessem a uma tribo guerreira. Dirigir moto parece despertar esse tipo de reação. O sujeito se sente cavalgando um corcel árabe pelas dunas do deserto. Mesmo que esteja apenas entregando um malote de burocráticas cartas comerciais. Por baixo do capacete vive um tuaregue. Um beduíno prestes a enfrentar a guarda do sultão e resgatar uma odalisca do harém. Mas e eu, como fico? Só quero sair de um lugar e chegar inteiro a outro. Meu sonho é dirigir sem ter um infarto em cada cruzamento. A salvo dos guerreiros dos malotes.

 Entendendo o texto

 01. Qual é o incidente que acontece com o carro do autor enquanto ele está no trânsito?

a) Um pneu furado.

b) Uma colisão traseira.

c) Um arranhão na pintura.

d) O retrovisor é danificado por um motoboy.

    02. Qual é a reação do motoboy após danificar o retrovisor do carro do autor?

          a) Ele pára para  pedir desculpas.

          b) Ele continua seu caminho sem se importar.

          c) Ele volta para consertar o estrago.

          d) Ele chama a polícia para resolver a situação.

    03. Por que o autor menciona ter pesadelos com sua barriga no início da crônica?

          a) Ele se preocupa com sua saúde.

          b) Ele faz uma analogia entre suas preocupações e o trânsito.

          c) Ele tem medo de dirigir.

          d) Ele teme a má alimentação.

    04. O que o autor observa sobre os motoboys em relação ao trânsito?

          a) Eles obedecem rigorosamente às regras de trânsito.

          b) Eles são rápidos e eficientes para se locomover na cidade.

          c) Eles frequentemente causam acidentes e ignoram os outros motoristas.

          d) Eles preferem usar carros em vez de motos.

    05. O que acontece quando o trânsito flui, de acordo com o autor?

          a) As motos desaparecem.

          b) As motos parecem surgir repentinamente.

          c) Os carros se movem lentamente.

          d) As ruas ficam vazias.

    06. Qual é a situação específica que torna arriscado sair no Itaim-Bibí domingo à noite?

          a) A presença de pedestres distraídos.

          b) A alta concentração de motoboys entregando pizzas.

          c) O trânsito intenso de carros.

          d) O fechamento das ruas para eventos.

   07. Como os motoboys identificam se podem cortar um ônibus, de acordo com um deles?

         a) Pela cor do ônibus.

         b) Pelo motor do ônibus.

         c) Pelo barulho do motor do ônibus.

         d) Pela velocidade do ônibus.

    08. O que acontece quando um amigo do autor tenta resolver um acidente envolvendo um motoboy?

         a) O motoboy pede desculpas imediatamente.

         b) Os motoboys que passam ameaçam o amigo.

         c) A polícia intervém rapidamente.

         d) O autor convence os motoboys a resolverem pacificamente.

    09. Como o autor descreve a profissão de motoboy?

          a) Lucrativa e confortável.

          b) Difícil e pouco remunerada.

          c) Despreocupada e relaxante.

          d) Segura e estável.

   10. Qual é o sentimento do autor em relação aos motoboys ao final da crônica?

          a) Admiração pelo seu trabalho árduo.

          b) Incompreensão pela sua maneira de conduzir.

          c) Solidariedade por suas dificuldades.

          d) Frustração e desejo de evitar conflitos.