sexta-feira, 15 de outubro de 2021

PEÇA TEATRAL: A FUGA - RENATO ARLEM - COM GABARITO

 Peça teatral: A fuga

   Renato Arlem

Maria Lúcia (lugar-tenente)

Helena (chefe)

Jorge (chefe)

Gabi (medrosa)

Lúcia (medrosa)

Joana (quieta)

Mariana (brigona)

Renata

Juliana

Paulo

(Uma casa vazia só com um telefone. O bando chega, menos Paulo e Juliana.)

Helena: É aqui?

Gabi: De quem é essa casa?

Jorge: É do meu pai. Está desalugada.

Joana: E se descobrem?

Helena: Como vão descobrir?

Gabi: E se chamam a polícia?

Jorge: Claro que vão chamar a polícia, mas nunca vão pensar que viemos para uma casa vazia.

Renata: E quando é que a gente vai viajar?

Maria Lúcia: Calma, Renata. Primeiro a gente se instala aqui.

Joana: Minha mãe vai ficar muito nervosa.

Helena: E não é isso que a gente quer? Quando eles ficarem bem velhos a gente telefona e exige respeito.

Joana: Vou telefonar agora.

Jorge: Vai coisa nenhuma. Primeiro o susto. Depois a gente apresenta nossas reivindicações.

Gabi: Não quero, não.

Renata: Nem eu. Quero a minha mãe.

Helena: Olha aqui, menina covarde, se você pegar neste telefone vai se ver comigo.

Joana: Cadê Juliana e o Paulo?

Helena: Devem estar chegando. Olha na janela, anda Gabi.

(Gabi volta.)

Gabi: Lá vêm eles.

(Entram Juliana e Paulo cheios de compras de supermercado.)

Juliana: Legal esta casa.

Paulo: Compramos tudo.

Mariana: Trouxe o meu Toddy?

Paulo: Não. Nescau.

Mariana: Mas eu pedi Toddy.

Paulo: E daí?

Mariana: Você é um chato.

Paulo: Leite, Nescau, pão, chocolate.

Mariana: Me dá um.

Helena: Agora não. Temos que economizar.

Gabi (Gorda.) Quando é o almoço?

Helena: Calma, Gabi. Primeiro vamos nos instalar. Vamos ver a casa.

Gabi: Tô com uma fome!

(Saem Helena, Jorge, Maria Lúcia, Mariana, Juliana e Paulo.)

Lúcia: Não sei o que estou fazendo aqui.

Gabi: Nem eu.

Renata: Vamos fugir?

Lúcia: Helena me mata.

Gabi: Será que isto vai dar certo?

Lúcia: Se os pais da gente caírem, dá.

Renata: Meu pai não vai cair e ainda vai me dar uma surra.

Gabi: O que é que vocês vão pedir?

Lúcia: Vou exigir que papai se case de novo com mamãe.

Renata: Mas isto não vale, nós combinamos. Isto é assunto deles. A gente não pode se meter.

Gabi: Eu vou exigir da minha mãe que ela fique mais em casa.

Renata: Mas por que é que ela tanto sai?

Gabi: Cabelo, unha, jogo, amigas.

Renata: Mas ela não está separada do teu pai, está?

Gabi: Não, isto não. Mas é pior. Está separada da gente. Vive na rua.

Lúcia: À minha, vou exigir que pare de me pôr de castigo quando não estudo. Afinal, não sou mais uma criancinha.

Renata: Ao meu pai, que pare de tanto viajar e depois pare também de fingir que é um pai bom.

Lúcia: O que ele faz?

Renata: Quando chega de viagem começa a beber, a ler jornal e ainda diz que ama a família acima de tudo.

Lúcia: E vocês, que fazem?

Renata: A gente vê logo que é bafo porque ele só pensa em ganhar dinheiro. Bebe, bebe, bebe e dorme. Mamãe diz que ele está cansado e assim ele nunca conversou com a gente. Ignora nossa existência. E compra a gente com ­dinheiro. Por isso é que pude dar mais para o bolo.

Lúcia: Valeu!... O meu, para dizer a verdade, prefere ler jornal a conversar com a gente.

(Voltam os outros.)

Helena: A casa está toda depredada.

Jorge: O único lugar bom é este aqui.

Maria Lúcia: Acho melhor a gente se arrumar aqui mesmo.

Mariana: Cadê o rádio, Jorge?

Jorge: Tá aqui na mochila. Será que dizem alguma coisa?

Mariana: Liga. Tá na hora das notícias.

(Ouve-se música, depois a voz do repórter.)

Repórter: (Alto-falante.) E de novo o caso do desaparecimento de 10 crianças de um dos bairros mais elegantes da cidade. Depois dos comerciais. “Se você se sente presa, incomodada, use Sempre Livre.” E agora ouviremos o apelo de Dona Lúcia, mãe de uma das crianças.

Mariana: É mamãe!

Voz: Estou desesperada. Minha filhinha querida sumiu de casa desde ontem. Não aguento mais. Minha filhinha adorada foi raptada, garanto!

Mariana: Agora sou filhinha adorada! Nunca deu a menor bola para mim. Vivia na rua. Seus clientes eram muito mais importantes.

Todos: Psiu!!!

Repórter: Vai falar o Dr. Souza Aguiar, pai da menina Helena.

Pai: Se é dinheiro que querem estes raptores, pago o que quiserem. Quero minha filhinha de volta.

Helena: Ué, hoje não é dia de jogo? O que é que ele está fazendo no rádio?

Jorge: Desliga isto. (Desligam.)

Juliana: E agora, gente?

Paulo: Deixa eles sofrerem um pouco.

Joana: Minha mãe, garanto que ainda nem reparou. Está ocupada demais com o novo namorado.

Mariana: Os meus vão ter que ver comigo. Me prendem tanto em casa que não vou a uma festa!

Juliana: A minha mãe vai largar meu pai, não é? Pois então vou largar ele também.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Helena: Vamos comer.

(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)

Maria Lúcia: Tô com fome.

Renata: Eu também.

Helena: Para de ter fome, Maria Lúcia.

Gabi: Quero ir para casa!

Renata: Quero minha mãe.

Helena: Covardes!

Jorge: É preciso aguentar mais um pouco.

Mariana: E você vai arrumar mais comida, vai?

Jorge: Claro que vou.

Mariana: Com que dinheiro?

Helena: Acabou tudo. Também, vocês comem demais.

Juliana: E você, não?

Gabi: Não quero mais fugir não. Quero meu pai!

Joana: Estou me sentindo mal. Tô com dor de barriga.

Paulo: Essa casa é uma droga. Não sei quem teve essa ideia!

Joana: Quero voltar para minha casa. Quero meu pai, quero minha mãe.

Helena: Mas sua mãe não é uma chata?

Joana: É chata, sim, mas eu quero ela!

Gabi: Estou toda torta. Não aguento mais dormir neste chão. Quero minha cama.

Maria Lúcia: Tô com fome.

Joana: Droga! Droga! Droga!

Jorge: Então vamos telefonar para nossos pais e fazer as reivindicações.

Juliana: Não quero reivindicação nada, quero minha mãe!

Helena: Vou ligar o rádio. (Toca alguma música da moda.)

Jorge: Vamos dançar. (Os dois tentam dançar.)

Mariana: Dançar coisa nenhuma! Quero minha mãe.

(Todos gritam em cima da música.)

Todos: Quero minha mãe!! Quero meu pai! Quero minha casa!

 Machado, Maria Clara. Exercícios de palco. 2. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 98-102.

Entendendo a peça teatral:

01 – Por que as crianças fugiram de casa? O que reivindicavam?

      Reivindicavam mais atenção dos pais, possibilidade de convivência com eles e mais liberdade.

02 – É possível supor a idade das personagens? Como você chegou a essa conclusão?

      As personagens devem ter uma idade aproximada de 9 a 11 anos. A rádio anuncia o desaparecimento de crianças. O teor da conversa durante a peça auxilia na formação de uma ideia a respeito disso.

03 – É possível afirmar que todas as personagens que falam no texto encontram-se no mesmo espaço físico? Explique sua resposta.

      Não, as crianças estão em uma casa vazia, desalugada, mas, no texto, ainda aparecem falas do repórter e dos pais das crianças desaparecidas, que estão em outro lugar, no estúdio de uma estação de rádio.

04 – Em determinado momento da narrativa, há uma mudança de direção na história. Que mudança é essa? Localize no texto a frase que introduz esse momento.

      Com o tempo, as crianças começam a se cansar da situação e sentem fome e saudade da família. A frase que inicia essa mudança é: “(Aparece um aluno com uma tabuleta ou o alto-falante anuncia: três dias depois, todos estão caídos pelos cantos, meio desgrenhados.)”

05 – Depois dos acontecimentos descritos na história, a que conclusão as crianças chegaram a respeito da vida que levavam com os pais?

      Chegaram à conclusão de que, apesar de tudo, era melhor a vida em casa com os pais do que a aventura.

06 – Em sua opinião, a saída das crianças de casa poderia provocar uma mudança de atitude dos pais e dos filhos? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Se você vivesse problemas parecidos com os das personagens, o que faria para tentar resolvê-los?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Em sua opinião, a que público se dirige essa peça? Por quê?

      A peça se dirige ao público em geral, inclusive aos jovens. Ela tanto interessa aos filhos como aos pais, pois enfoca problemas comuns nas famílias.

09 – Em quanto tempo se passa a história? Que recurso a autora utilizou para indicar esse tempo?

      Três dias. Um aluno entraria no palco com uma tabuleta para anunciar esse tempo ou ele seria informado por um alto-falante.

10 – Nesse texto, é possível identificar claramente algum narrador?

      Não, no texto não há o registro claro de alguém que conta a história.

11 – No texto dramático, para que servem as expressões entre parênteses?

      Elas servem para indicar características, gestos ou ações das personagens, além de detalhes sobre cenário, sonoplastia, etc. 

 

CRÔNICA: O GATO SOU EU - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Crônica: O gato sou eu

              Fernando Sabino

        – Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.

        – Continuou dormindo?

        – Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.

        – Que espécie de gato?

        – Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.

        – A que você associa essa imagem?

        – Não era uma imagem: era um gato.

        – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?

        – Associo a um gato.

        – Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.

        – Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.

        – Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.

        – Uma projeção do senhor?

        – Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.

        – Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.

        – Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.

        – Em quem o senhor está falando?

        – Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.

        – Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e disto não abro mão.

        – Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.

        – Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?

        – Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.

        – Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato sou eu, não é mesmo?

        – Aí é que você se engana. O gato é você, na sua opinião. E sua opinião é suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o gato é uma representação do que significo para você. Portanto, insisto em dizer: o gato sou eu.

        – E eu insisto em dizer: não é.

        – Sou.

        – Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais aqui.

        – Observe como inconscientemente você está rejeitando minha interferência na sua vida através de uma chantagem…

        – Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?

        – É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um gato.

        – Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta até dentro do meu sonho.

        – Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir nele a forma de um gato.

        – Já disse que o gato sou eu!

        – Sou eu!

        – Ponha-se para fora do meu gato!

        – Ponha-se para fora daqui!

        – Sou eu!

        – Eu!

        – Eu! Eu!

        – Eu! Eu! Eu!

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173-6.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p.142-8.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavra abaixo:

·        Onírico: que diz respeito a sonhos.

·        Reverencial: que manifesta reverência, respeito profundo.

·        Subconsciente: que existe na mente, mas não está ao alcance imediato da consciência.

02 – Converse com a turma e o professor a respeito das hipóteses levantadas antes da leitura.

a)   A situação engraçada imaginada por você, com base no título, foi tratada na crônica?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Que situação você imaginou? O que o levou a imaginar essa situação?

Resposta pessoal do aluno.

c)   O paciente e o psicanalista se entenderam na conversa?

Não.

d)   Você imaginava que eles iriam se entender?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Embora essa seja uma crônica narrativa, ela não apresenta narrador.

a)   A ausência de intervenções do narrador compromete o entendimento da história narrada? Por quê?

Não. As informações sobre os personagens, suas reações e os demais elementos da estrutura narrativa da crônica são todos perceptíveis com base no diálogo entre os personagens.

b)   Essa característica de a ação ser inteiramente construída pelo diálogo entre os personagens aproxima a crônica “O gato sou eu” de outro gênero textual. Qual?

(  ) Conto.

(X) Texto dramático.

(   ) Poema.

Justifique a resposta que você assinalou.

Essa característica aproxima a crônica do texto dramático, no qual comumente não há narrador, pois a ação é toda construída pelos diálogos entre personagens.

04 – O paciente conta ao psicanalista algo que provoca uma tensão na conversa entre eles.

a)   Qual é o fato contado que provoca essa tensão?

O fato de o paciente ter sonhado com um gato é o que provoca a tensão na conversa entre ele e o psicanalista.

b)   Quanto a estrutura narrativa, como pode ser classificada essa tensão?

(   ) Apresentação.

(X) Conflito.

(   ) Clímax.

(   ) Desfecho.

Explique sua resposta.

Do ponto de vista narrativo, isso e um conflito, pois ambos, psicanalista e paciente, acreditam ser o gato, o conflito se dá pois um procura dissuadir o outro dessa ideia.

05 – A palavra , na frase a seguir, costuma ser classificada como um advérbio de lugar.

        – Aí então, eu sonhei que tinha acordado.”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

a)   Considerando o contexto, é possível afirmar que essa palavra faz referência a um lugar? O que ela expressa?

Não faz referência a um lugar; expressa uma continuidade, complemento a algo que já fora dito.

b)   Com base nesse sentido, é possível afirmar que essa frase de abertura coincide com o início da conversa?

Não.

c)   A brevidade é uma das marcas do gênero crônica. Levante hipótese que justifique o uso dessa palavra na abertura do texto.

Uma hipótese possível é que, ao começar a crônica por essa palavra, o autor enfoca, logo na abertura, o conflito da narrativa, o que contribui para a brevidade característica da crônica.

06 – Releia o trecho a seguir e escreva no final de cada parágrafo quem é o personagem que está falando, se paciente ou psicanalista.

        “– [...] Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato. Paciente.

        – A que você associa essa imagem? Psicanalista.

        – Não era uma imagem: era um gato. Paciente.

        – Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela? Psicanalista.

        – Associo a um gato.” Paciente.

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

a)   Na fala do psicanalista, o sentido da palavra imagem é literal ou figurado? Explique.

Para o psicanalista, o sentido de imagem é figurado, pois, para ele o gato “simboliza” algo, no caso, “uma profunda vivência interior”, portanto imagem tem um sentido de representação simbólica.

b)   E na fala do paciente? Explique.

Para o paciente, o sentido de imagem é literal, pois para ele o gato não pode ser uma representação, reprodução visual, daí afirmar: “Não era uma imagem: era um gato”.

07 – Leia o trecho a seguir e as afirmações sobre ele. Depois marque a alternativa correta.

        “– Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 173.

I – O psicanalista acredita despertar temor no paciente.

II – Para o psicanalista, o gato simboliza alguém desconhecido pelo paciente.

III – A palavra que sintetiza o conteúdo da fala do psicanalista é “representação”.

a)   Todas as informações estão corretas.

b)   Somente I e III estão corretas.

c)   Somente I e II estão corretas.

d)   Somente III é correta.

08 – Releia este trecho e, antes de responder às questões, identifique a quem pertence cada turno de fala.

        “– Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu. Psicanalista.

        – Uma projeção do senhor? Paciente.

        – Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você. Psicanalista.

        – Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.” Paciente.

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 174.

a)   A que classe de palavras pertence a palavra eu na frase do psicanalista “O que se sonha não passa de uma projeção do eu”?

A palavra eu é um substantivo.

b)   E na frase do paciente “Eu sou eu”, a que classe gramatical a palavra eu pertence?

A palavra eu, nessa frase, é um pronome.

c)   Explique o efeito de humor produzido nesse trecho com base nas diferenças de classe gramatical da palavra eu.

O paciente em sua fala, demonstra compreender que o psicanalista se refere à individualidade do ser, ao “eu” como pronome pessoal (1ª pessoa do singular), um ser que se diferencia de outro, enquanto o psicanalista se refere à subjetividade do indivíduo, ao “eu” como substantivo.

d)   Explique som suas palavras o que o psicanalista quis dizer ao paciente com: “O eu, no caso, é você.”

Resposta pessoal do aluno.

09 – Cabe ao psicanalista analisar as falas do paciente. Em um momento da crônica, porém, é o paciente que passa a analisar o psicanalista.

a)   Transcreva a fala do paciente que marca essa mudança de atitude.

“– Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?”

b)   Ao analisar o psicanalista, o paciente busca convencê-lo de quê?

Busca convencê-lo de que ele é o gato, e não o psicanalista.

c)   Que argumento ele usa para isso?

O argumento de que, como o sonho no qual aparece o gato é dele (do paciente), o gato é ele e não o psicanalista.

d)   O psicanalista concorda com esse argumento? Explique.

Não, ele acredita que o argumento do paciente é suspeito porque foi produzido pela consciência, o que contrasta com a imagem do gato que, segundo o psicanalista, é produto do inconsciente.

10 – Releia o trecho:

        “-- Ponha-se para fora do meu gato!

         -- Ponha-se para fora daqui!”

SABINO, Fernando. O gato sou eu. In: ________. Os melhores contos de Fernando Sabino. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 175.          

a)   A primeira fala apresenta um trocadilho. Qual pode ser?

Em vez de o paciente dizer “Ponha-se para fora do meu quarto!”, ele diz “Ponha-se para fora do meu gato!”.

b)   Explique o uso desse trocadilho no contexto da crônica.

O psicanalista e o paciente reivindicam ser o gato. Ao dizer “Ponha-se para fora do meu gato!”, o paciente expressa o desejo de o psicanalista desistir da ideia de ser o gato.

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 12 de outubro de 2021

CRÔNICA: CONSELHO DE UM VELHO APAIXONADO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: CONSELHO DE UM VELHO APAIXONADO

                     Carlos Drummond de Andrade

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem da água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino: O Amor.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida. Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado…

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados… Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite… Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado… Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela… Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua ida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O Amor. Ame muito… Muitíssimo…

Carlos Drummond de Andrade

 

Entendendo o poema

  01. No trecho: “Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos”; o termo em destaque pode ser trocado por

         (A) apoio.

         (B) carinho.

         (C) gentileza.

         (D) elegância.

 

   02. A informação principal desse texto é representada por um provérbio, qual?

         (A) “se conselho fosse bom ninguém dava, vendia.”

         (B) “fazer o bem, sem olhar a quem.”

         (C) “amar ao próximo como a si mesmo.”

         (D) “aqui se faz, aqui se paga.”

  03. O texto de Drummond fala sobre:

        a. A maior capacidade de amar das pessoas mais velhas, porque são mais espertas que as mais moças.

        b. A incapacidade de amar dos velhos, que só podem fazê-lo através de sua imaginação e de suas lembranças.

        c. Uma pessoa madura e apaixonada, que busca aconselhar os mais jovens a estarem atentos aos sinais de um grande amor e a não desperdiçarem a chance de vivê-lo.

        d. O amor como uma coisa divina, o que nos faz concluir que esta seria a razão pela qual, nas cerimônias de casamento, o padre diz que o que Deus uniu o homem não separa.

         e. A magia do amor, que deixa as pessoas sem juízo e sem capacidade de exercerem seu livre-arbítrio.