quinta-feira, 30 de julho de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: O RISCO E O PRAZER - BEATRIZ C. COTRIM - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: O Risco e o Prazer

             Beatriz C. Cotrim

        Correr riscos é algo que faz parte do ser humano. As pessoas gostam de desafiar, de ousar, porque quem ousa, quem arrisca, sente-se vivo, aprende mais sobre si próprio e sobre os outros, testa suas habilidades e passa a ter outras que não possuía.

        Além disso, arriscar dá prazer. Muitas vezes, o que se busca quando se corre algum risco, quando se desafia algum limite, é o prazer que isso nos dá – saber, como um jogo, que é possível ganhar ou perder. Vamos ver alguns exemplos para ilustrar essa questão envolvendo risco e prazer.

        Você pode pegar o dinheiro de uma mesada que economizou durante um bom tempo e gastar tudo na compra de uma guitarra, para formar um grupo de rock com os amigos.

        É um risco, porque você apostou tudo o que tinha em uma única coisa, um instrumento. E o que você pretende tirar disso? Prazer. Você pretende criar, fazer algo em comum com pessoas de quem gosta, tocar aquelas músicas. Mas pode ser que tudo dê errado, que a banda seja um fiasco, que as pessoas digam que o som que você faz, bem, não é lá essas coisas...

        E há o risco também de seus pais acharem essa sua ideia uma loucura e ficarem infernizando sua vida porque você gastou sua mesada – onde já se viu? – em uma guitarra. Eles esperavam que você guardasse seu dinheiro para a faculdade. E tocando músicas barulhentas, quando é que você vai arrumar tempo para estudar?

        Mas pode ser que tudo dê certo, que muita gente goste do som e que, ainda por cima, você passe no vestibular. Que tremendo prazer você vai sentir, não?

        Nessa linha de exemplos, resolver fazer uma viagem em cima da hora, para aproveitar um feriado, também tem seu grau de risco. A turma decidiu de repente, você nem imagina como é o lugar, mas e daí?

        Daí pode ser que você tenha de dormir acampado num lugar cheio de borrachudos, que seu café da manhã, seu almoço e sua janta sejam sempre pão de forma com enlatados, que não tenha água nos próximos três quilômetros. Pode ser, porém, que o barato – o prazer desse passeio – seja exatamente este: enfrentar o desconhecido e até passar por alguma privação. Talvez isso faça com que você se sinta mais vivo, de uma maneira muito gostosa.

        [...]

        Mas, e quando o assunto é drogas?

        Se as drogas não oferecessem nenhum tipo de prazer, a gente não se preocuparia com o consumo delas, porque simplesmente ninguém as usaria. E quanto aos riscos?

        Geralmente, as perguntas dizem respeito aos riscos que cada droga comporta. O problema é que esses riscos têm a ver com possibilidades, e não com certezas.

        Se fosse possível medir os riscos, tudo seria muito mais simples e este livro se resumiria a um conjunto de tabelas sobre doses, frequências e os riscos matematicamente exatos de cada droga.

        Mas as coisas não acontecem desse jeito e o que podemos fazer é discutir esses riscos. Para facilitar a discussão, vamos dividi-los em quatro grupos: os riscos relacionados aos efeitos das drogas, os riscos legais, os riscos sociais e os riscos de dependência.

          Riscos relacionados aos efeitos das drogas

        Geralmente, esses são os riscos mais discutidos. Todo mundo já ouviu falar que as drogas causam problemas no fígado, nos rins, nos pulmões, no coração. Que algumas podem matar por overdose. Que pessoas sob o efeito de drogas estão mais sujeitas a acidentes e à violência, na medida em que o controle delas sobre o corpo e a mente fica bastante alterado.

        As drogas têm uma maneira própria de atuar em cada organismo, fazendo com que qualquer tentativa de fazer previsões acerca dos riscos de cada uma caia no terreno das possibilidades.

        É claro que as drogas produzem os seus efeitos por conterem substâncias químicas. Por isso, elas podem ser estudadas em laboratórios, da mesma maneira que os medicamentos. Sendo assim, existem algumas variáveis que podem ser estabelecidas dentro de uma certa margem de precisão. [...]

          Riscos legais

        O outro conjunto de riscos é o que chamamos de legais. Todos nós estamos sujeitos às normas da sociedade, sejam elas formais (as que compõem a legislação que rege a sociedade), sejam elas as do dia-a-dia (as regras sociais do grupo em que vivemos).

        Mas, independentemente dos efeitos de qualquer droga, a pessoa que a usa não pode deixar de levar em conta a legislação do lugar onde mora.

        A legislação brasileira, quando se trata de drogas proibidas no país, é muito severa, porque não pune com prisão somente aquele que vende. Ela pune também aquele que passa a droga, mesmo que de graça; aquele que usa, ainda que experimentalmente, sem que isso cause dano a ninguém; aquele que cultiva no seu quintal duas “plantinhas quaisquer” só para usar de vez em quando, num local isolado com os amigos.

        Não dá, portanto, para reduzir a discussão do risco de se usar drogas aos males físicos que elas podem ou não causar ou às possibilidades que uma pessoa tem ou não de controlar os seus efeitos. Afinal, esse uso acontece num mundo que tem regras muito claras – no Brasil, elas são claríssimas – e que pune os que usam drogas.

        [...]

          Riscos Sociais

        Em alguns momentos, os riscos sociais se confundem com os legais, porque as leis, pelo menos teoricamente, espelham de certa maneira a imagem que a sociedade tem de si mesma.

        Pode existir uma pessoa que use drogas e que nunca tenha tido problemas com a polícia ou enfrentando riscos mais sérios advindos dos efeitos da substância que usa. Nem por isso ela está a salvo de um outro tipo de risco, que é o risco do preconceito, do estigma, de ser rejeitada, de não ter acesso a uma série de oportunidades na vida, porque a sociedade encara o uso de drogas como algo condenável, que deve ser punido.

        Vale aqui, novamente, a reflexão de que vivemos num mundo concreto, convivendo com pessoas e com o que elas pensam. Podemos gostar ou não, mas de alguma maneira temos de nos submeter a ele.

        E nesse mundo há um contraste interessante entre as drogas que a sociedade tolera e as que não tolera.

        Se uma pessoa usa de maneira muito intensa, e há vários anos, remédios para emagrecer à base de anfetamina, ela raramente vai estar sujeita a grandes preconceitos ou rejeições por causa disso.

        Ela pode ter começado com meio comprimido e atualmente estar tomando quatro. Isso lhe está trazendo sérios riscos à saúde, mas dificilmente alguém vai dizer que não quer conviver com essa pessoa ou que não quer que ela seja amiga da sua filha. Até porque raramente se vai saber que o remédio é à base de anfetamina.

        Os remédios para emagrecer são tolerados pela sociedade e as pessoas os usam sem que esse comportamento seja associado a alguma coisa mais séria.

        Seria totalmente diferente se fosse alguém que fumasse maconha, por exemplo.

        O uso dessa substância está muito mais sujeito ao preconceito, ao estigma, ao afastamento, à perda de oportunidades na vida, porque a sociedade encara a maconha como algo extremamente perigoso, ameaçador. Afinal, trata-se de uma droga ilegal.

          Riscos de Dependência

        Há em geral um medo muito grande de que quem começa a usar drogas mais cedo ou mais tarde vá abandonar a família, seus valores e seus interesses e passar a viver exclusivamente em função da droga pela qual se “viciou”.

        De fato, existem pessoas assim, que investem seu tempo na busca e no uso de drogas: elas acham que não podem viver se não fizerem isso.

        Se formos dar uma olhada nas pesquisas, vamos ver que, entre os usuários de drogas, apenas uma minoria vai se comportar dessa maneira.

        Apesar disso, essa informação não pode ser considerada tranquilizadora, pois recuperar usuários compulsivos não é uma tarefa fácil. Calcula-se que apenas 30% dos que se tornam dependentes conseguem se livrar desse quadro.

        Por outro lado, o fato de as drogas não “viciarem” logo de início é uma notícia promissora para quem não quer mais usá-las.

        Mas quando se pode falar em “uso compulsivo”, em “vício”? [...].

          A síndrome de dependência

        A psiquiatria não usa o termo “viciado” para quem usa drogas. Para esse ramo da medicina, trata-se de uma palavra carregada de uma noção moral, em que o vício se contrapõe à virtude. Para a ciência, as pessoas que vivem constantemente atrás das drogas e não conseguem viver sem elas, ou pelo menos acham que não conseguem, não são pessoas com menor formação moral ou com defeito moral. Elas apresentam um distúrbio chamado síndrome de dependência.

        Para que seja dado um diagnóstico definitivo de dependência, a pessoa deverá ter apresentado três ou mais dos seguintes sintomas, contando um ano até a data da consulta:

·        Forte desejo ou compulsão para consumir a droga;

·        Dificuldades para controlar o consumo;

·        Diante da ausência ou diminuição da droga, surgem reações físicas que variam de ansiedade e distúrbios do sono a depressão e convulsões, constituindo o chamado estado de abstinência fisiológico;

·        Necessidade de doses cada vez maiores para conseguir os mesmos efeitos (tolerância). Exemplos claros de tolerância são os indivíduos dependentes de álcool e opiáceos, que podem tomar doses diárias suficientes para incapacitar ou matar pessoas que não sejam usuárias tolerantes;

·        Abandono progressivo de prazeres e outros interesses na vida para dedicar atenção quase exclusiva à droga;

·        Aumento do tempo necessário para usá-la e para se recuperar de seus efeitos;

·        Persistência no uso da droga, apesar das consequências claramente nocivas, como dano ao fígado devido ao álcool, estados depressivos decorrentes do consumo excessivo de determinadas drogas, etc.

          O que leva à dependência?

        O dependente, como se pôde ver acima, é alguém que desenvolveu um comportamento que em grande parte não pode controlar. Mas não há uma fórmula para se saber quem, entre os usuários de drogas, vai se tornar dependente. Aqui, o terreno é novamente de possibilidades, de riscos, de situações relativas...

        Atualmente, apesar de ainda haver polêmicas a respeito, considera-se que de fato existem características genéticas que favorecem o desenvolvimento da dependência em algumas pessoas. Mas elas não são as únicas: para a Ciência, hoje, a dependência é um fenômeno que tem causas múltiplas.

        Dentre essa causas, estariam os fatores psicológicos. Muitas pesquisas mostraram que pessoas sentindo-se infelizes, inseguras e com baixa autoestima tendem mais a usar drogas e a se deixar fascinar por elas.

        Outra causa importante é a pressão social. No caso dos rapazes, se houver um que não goste de bebida alcoólica num grupo de amigos, é muito provável que ele comece a beber só para que os outros parem de dizer gracinhas ou para que seja visto como um igual. Pode ser até que ele comece a abusar de bebidas para provar que é o tal, resistente, que é “machão”.

        No caso das garotas, se uma delas tem amigas que acham que a única maneira de ficarem mais magras é tomando remédios à base d anfetaminas, é possível que ela passe a compra-los e usá-los constantemente. A pressão sobre quem está acima do peso é muito grande; assim, a garota que começou com um comprimido pode facilmente aumentar a dose...

                                 Drogas, mitos e verdades, Beatriz C. Cotrim.

                              Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 40-5.

Entendendo o texto:

01 – Por que é próprio do ser humano ter o prazer de correr riscos?

      Porque é próprio do ser humano desafiar, ousar para sentir-se vivo, testar suas habilidades e sentir-se mais próximo dos outros, e, finalmente, por prazer, sabendo que poderá ganhar ou perder.

02 – Risco e prazer têm ligação? Qual?

      Sim. Correr risco pode ser uma forma de prazer.

03 – Comente o primeiro exemplo dado pelo autor sobre o risco e o prazer.

      Apostar todo o dinheiro para comprar um instrumento que falta a uma banda a fim de que seus componentes possam realizar seu sonho. O risco está no sucesso ou fracasso da banda, na possibilidade de ficar sem o dinheiro da mesada.

04 – Argumente sobre o segundo exemplo dado pelo autor sobre risco e prazer. Sempre justificando sua opinião.

      Enfrentar um passeio sem conhecer o lugar, suas limitações, perigos, desafios. Mas isso poderá trazer: arrependimento se não se tiver espírito de aventura; muito prazer se se tiver o espírito de aventura, mesmo enfrentando dificuldades.

05 – O que o autor fala sobre drogas? Por que as pessoas fumam, cheiram e bebem? Isso dá prazer? É aí que mora o perigo?

      Pelo prazer, pela curiosidade de “experimentar”, por desespero, são inúmeros os motivos. E o perigo é a pessoa se tornar dependente.

06 – Você sabe o que é overdose?

      Dose excessiva.

07 – Cite algumas consequências do uso frequente de drogas.

      Problemas de saúde, depressão, ansiedade, dificuldade de levar uma vida equilibrada.

08 – As drogas atuam da mesma maneira em cada pessoa? Por quê?

      Não. O efeito varia de pessoa para pessoa, porque cada ser humano é único na sua estrutura física e psicológica.

09 – Como é a legislação brasileira em relação às drogas? Quem é punido? Como é punido?

      A droga é ilegal, por isso a legislação brasileira prevê punição severa para os traficantes. Para o usuário, estão previstas consequências mais leves, mas o porte de drogas é sempre ilegal.

10 – O que são riscos sociais no uso da droga? Por que as pessoas têm preconceito contra aqueles que a usam? Argumente.

      A pessoa passa a ser isolada por seu grupo, por ter atitudes e hábitos que não conduzem com o que é comum numa sociedade equilibrada. O uso de drogas, por ser ilegal, torna “foras da lei” aqueles que o praticam.

11 – Por que os remédios para emagrecer, quando já se tornaram um vício, são vistos como drogas pela não sociedade? Opine.

      Porque a sociedade estimula o emagrecimento a qualquer preço, a manutenção de certos padrões estéticos acima da preservação da saúde.

12 – O que acontece quando a pessoa se torna dependente da droga? Por quê?

      Ela passa a viver em função da droga.

13 – É fácil deixar de ser dependente da droga? Por quê?

      Não. Porque a dependência torna a pessoa frágil e o vício, em determinado estágio, não é fácil de ser combatido.

14 – O que significa o uso compulsivo da droga?

      A perda de controle sobre si mesma, a necessidade de consumir sempre a droga.

15 – Por que os que usam drogas não são chamados pela psiquiatria de viciados?

      Para evitar que sejam estigmatizados.

16 – Qual é a principal característica da síndrome da dependência?

      A necessidade de usar a droga constantemente e o aparecimento de sintomas se houver abstinência.

17 – Comente os sintomas das pessoas dependentes.

      São pessoas que sofrem de depressão, distúrbios do sono, convulsões, etc.

18 – Por que algumas meninas e meninos usam as drogas? Comente.

      Para mostrar ao grupo com que convivem que não são “caretas” e que topam tudo. No caso das meninas, para se manterem “esbeltas”, dentro dos padrões estéticos estabelecidos.




terça-feira, 28 de julho de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): VALSINHA - VINICIUS DE MORAES/CHICO BUARQUE - COM GABARITO

MÚSICA(ATIVIDADES): VALSINHA

                   VINÍCIUS DE MORAES/CHICO BUARQUE

Um dia ele chegou tão diferente

Do seu jeito de sempre chegar

Olhou-a de um jeito muito mais quente

Do que sempre costumava olhar

E não maldisse a vida tanto

Quanto era seu jeito de sempre falar

E nem deixou-a só num canto

Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar

 

E então ela se fez bonita

Como há muito tempo não queria ousar

Com seu vestido decotado

Cheirando a guardado de tanto esperar

Depois os dois deram-se os braços

Como há muito tempo não se usava dar

E cheios de ternura e graça

Foram para a praça e começaram a se abraçar

 

E ali dançaram tanta dança

Que a vizinhança toda despertou

E foi tanta felicidade

Que toda cidade se iluminou

E foram tantos beijos loucos

Tantos gritos roucos como não se ouvia mais

Que o mundo compreendeu

E o dia amanheceu em paz.

 

(MORAES, Vinícius de & BUARQUE, Chico. In: BUARQUE, Chico. A arte de Chico Buarque. LP Fontana nº 6470 549, 195. L. 1, f.5.)

Entendendo a canção:

01 – Sobre o texto, só NÃO se pode afirmar que:

a)   O texto estabelece uma relação de semelhança entre a dança, o jogo amoroso e as relações humanas.

b)   O gesto amoroso da dança começa no interior da casa e atinge o mundo.

c)   O gesto amoroso da dança produz o efeito de instaurar a paz entre os seres humanos.

d)   O conceito de amor implícito no texto não inclui o prazer físico entre os personagens.

02 – Leia as asserções a seguir para responder à questão abaixo:

I – A expressão “pra”, no verso 8, traz marcas de oralidade.

II – Nos versos 21 e 22 estabelece-se uma relação de consequência.

III – A expressão “ali”, no verso 17, refere-se à palavra cidade.

IV – Este é um texto narrativo que relata uma transformação.

A alternativa que traz os números das asserções corretas é:

a)   I e II.

b)   III e IV.

c)   I, III e IV.

d)   I, II e IV.

03 – A expressão “seu jeito” (verso 06) tem como referente:

a)   O narrador.

b)   O autor.

c)   Ele.

d)   Ela.

04 – Leia a canção e responda. Com relação ao gênero e a tipologia textual referente a esse texto, é correto afirmar que predominam:

a)   O gênero música e a tipologia descritiva.

b)   O gênero música e a tipologia narrativa.

c)   O gênero música e a tipologia expositiva.

d)   O gênero poesia e a tipologia descritiva.

e)   O gênero poesia e a tipologia narrativa.

05 – O texto relata uma transformação: o amante chegava habitualmente de um jeito e passou a chegar de outro. Como ele chegava? Como passou a chegar?

      Ele chegava sempre maldizendo a vida.

      Chegou diferente e a olhou de um jeito muito mais quente.

06 – Em um dia diferente, uma das atitudes dele, de modo especial, causou surpresa para a moça. Que atitude foi essa?

      Declarou-se, olhou para ela de um jeito diferente.

07 – A transformação ocorrida coma personagem masculina desencadeou outra na personagem feminina. Qual foi essa transformação?

      Ela se sentiu amada e se fez bela para ele, colocando um vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar.

08 – Que versos da canção notamos que é um amor antigo e ingênuo?

      “Depois os dois deram-se os braços

       Como há muito tempo não se usava dar

       E cheios de ternura e graça

       Foram para a praça e começaram a se abraçar”.

09 – Nessa canção o eu lírico retrata o quê?

      Retrata uma situação em que o homem redescobre a mulher e isso cria a possibilidade de um encontro erótico, que é descrito na canção.

     


POEMA: À IMPROPRIEDADE - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

Poema: À IMPROPRIEDADE

             José Paulo Paes


De cearense sedentário

Baiano lacônico

Mineiro perdulário.

 

Deus nos guarde.

 

De carioca cerimonioso

Gaúcho modesto

Paulista preguiçoso.

 

Deus nos livre e guarde.

José Paulo Paes

Entendendo o poema:

01 – Interpretando-se os sentidos do poema, pode-se afirmar que:

a)   (V) Em seu sentido global, o poema reafirma os estereótipos a respeito dos diversos tipos de brasileiro.

b)   (V) O poema é construído com antíteses parcialmente implícitas: ao conceito de “cearense sedentário”, por exemplo, opõe-se “cearense migrante”.

c)   (V) O poema é bem-humorado por causa das inversões de sentido utilizadas pelo autor.

d)   (F) O título “À impropriedade” funciona como um ornamento dispensável ao texto, sem manter assim relações de sentido com o poema.

02 – Nesse poema há dois aspectos que chamam logo a atenção, quais?

      A presença do tom humorístico com que o eu lírico observa (ironicamente) as contradições do mundo e a simplicidade da escrita, tanto da matéria poética – que é captada no cotidiano.

03 – Que temática é abordada nesse poema?

      Ele aborda a inversão de estereótipos a respeito do povo brasileiro.

04 – Onde se encontra a ironia do texto?

      A ironia está só na inversão – que conduz à frase original –, mas na introdução do ditado popular: “Deus nos livre e guarde” tão mecanicamente usado quanto às expressões que quer retomar.

POEMA: O RELÓGIO - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poema: O Relógio

           João Cabral de Melo Neto


Ao redor da vida do homem

há certas caixas de vidro,

dentro das quais, como em jaula,

se ouve palpitar um bicho.

 

Se são jaulas não é certo;

mais perto estão das gaiolas

ao menos, pelo tamanho

e quadradiço de forma.

 

Uma vezes, tais gaiolas

vão penduradas nos muros;

outras vezes, mais privadas,

vão num bolso, num dos pulsos.

 

Mas onde esteja: a gaiola

será de pássaro ou pássara:

é alada a palpitação,

a saltação que ela guarda;

 

e de pássaro cantor,

não pássaro de plumagem:

pois delas se emite um canto

de uma tal continuidade

 

que continua cantando

se deixa de ouvi-lo a gente:

como a gente às vezes canta

para sentir-se existente.

 

O que eles cantam, se pássaros,

é diferente de todos:

cantam numa linha baixa,

com voz de pássaro rouco;

 

desconhecem as variantes

e o estilo numeroso

dos pássaros que sabemos,

estejam presos ou soltos;

 

têm sempre o mesmo compasso

horizontal e monótono,

e nunca, em nenhum momento,

variam de repertório:

 

dir-se-ia que não importa

a nenhum ser escutado.

Assim, que não são artistas

nem artesãos, mas operários

 

para quem tudo o que cantam

é simplesmente trabalho,

trabalho rotina, em série,

impessoal, não assinado,

 

de operário que executa

seu martelo regular

proibido (ou sem querer)

do mínimo variar.

 

A mão daquele martelo

nunca muda de compasso.

Mas tão igual sem fadiga,

mal deve ser de operário;

 

ela é por demais precisa

para não ser mão de máquina,

a máquina independente

de operação operária.

 

De máquina, mas movida

por uma força qualquer

que a move passando nela,

regular, sem decrescer:

 

quem sabe se algum monjolo

ou antiga roda de água

que vai rodando, passiva,

graçar a um fluido que a passa;

 

que fluido é ninguém vê:

da água não mostra os senões:

além de igual, é contínuo,

sem marés, sem estações.

 

E porque tampouco cabe,

por isso, pensar que é o vento,

há de ser um outro fluido

que a move: quem sabe, o tempo.

 

Quando por algum motivo

a roda de água se rompe,

outra máquina se escuta:

agora, de dentro do homem;

 

outra máquina de dentro,

imediata, a reveza,

soando nas veias, no fundo

de poça no corpo, imersa.

 

Então se sente que o som

da máquina, ora interior,

nada possui de passivo,

de roda de água: é motor;

 

se descobre nele o afogo

de quem, ao fazer, se esforça,

e que ele, dentro, afinal,

revela vontade própria,

 

incapaz, agora, dentro,

de ainda disfarçar que nasce

daquela bomba motor

(coração, noutra linguagem)

 

que, sem nenhum coração,

vive a esgotar, gota a gota,

o que o homem, de reserva,

possa ter na íntima poça.

João Cabral de Melo Neto

Entendendo o poema:

01 – Que temática é abordada no poema?

      A temática é o tempo.

02 – Qual é a primeira metáfora escolhida para o tempo nesse poema?

      É “bicho”, sendo gradativamente amenizada no decorrer das estrofes.

03 – Que mudança sofre o “bicho” no decorrer do poema?

      Passando de um “bicho” de jaula a um pássaro em uma gaiola.

04 – Em relação ao texto, julgue os itens que se seguem:

(F) O entendimento do poema é facilitado pelo fato de o título permitir que o sentido metafórico da terceira estrofe se associe à ideia de relógio.

(F) A utilização de estrofes que são quartetos e de versos de sete sílabas (redondilha maior) comprova que o Modernismo desprezou totalmente as formas tradicionais de construção de poemas.

(V) A noção de trabalho no texto apresenta as oposições: artistas e artesãos versus operários; produção variada, criativa versus produção em série, rotineira; a produção pessoal versus produção impessoal.

05 – Ainda em relação ao texto, julgue os itens seguintes:

(F) No primeiro verso do poema, a contagem das sílabas métricas exige a elisão de uma das vogais idênticas em “do homem” e a desconsideração da última sílaba gramatical do verso, por ser átona.

(F) A ocorrência próxima dos substantivos “jaula”, “jaulas”, “gaiolas”, “gaiola” e “pássaro” e das palavras com o mesmo radical “cantor”, “canto”, “cantando”, intensifica a sonoridade, a coesão e também a convergência e a densidade semântica do texto.

(V) Na interpretação de poemas, deve existir sempre uma margem de flexibilidade em consequência da multiplicidade de sentidos. Assim, na sexta estrofe, as duas ocorrências da expressão “a gente” podem ser interpretadas como nós (eu lírico e leitores) ou como as pessoas, o povo.

06 – Na tentativa de descrever o que há dentro dessas caixas de vidro, como o poema se inicia?

      Inicia-se investigando, buscando respostas diante da sua dúvida: “Se são jaulas não é certo”.

07 – Copie os versos que descrevem a passagem de jaula resistente que detém um ser feroz, para ela passa à delicadeza de uma gaiola que guarda um pássaro, de “alada palpitação”.

      “Uma vezes, tais gaiolas

       vão penduradas nos muros;

       outras vezes, mais privadas,

       vão num bolso, num dos pulsos.

 

       Mas onde esteja: a gaiola

       será de pássaro ou pássara:

       é alada a palpitação,

       a saltação que ela guarda.”

08 – A que se assemelha a imagem dos ponteiros do relógio?

      São semelhantes às asas de um pássaro, remete-nos ao tempo-pássaro, ao desejo da ave de voar, de ganhar o céu e a liberdade, mas que impossibilitada de fazê-lo, tem de contentar-se com o curto bater de suas asas dentro do espaço limitado da gaiola.

09 – O eu lírico através do poema fala da diferença entre o operário e os artesões e artistas. Explique.

      Ele diz que a figura do operário veste bem o ponteiro do relógio que trabalha sem parar, no mesmo ritmo, mecanicamente e diferentemente dos artesãos e artistas que fogem do compasso rotineiro do tempo, procurando evadir-se na arte, o trabalho dos ponteiros-operários.