POEMA – NAVIO
NEGREIRO
Castro Alves
Senhor Deus dos desgraçados
Dizei-me Vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão? ...
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das intensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em Vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!
São filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz,
Onde vive um campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão,
Ontem simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...
CASTRO ALVES.
1 – Assinale a afirmativa que NÃO representa
uma característica romântica presente no poema:
a)
Sentimentos
arrebatadores.
b)
Personificação
da natureza.
c)
Atitude
poética melancólica.
d)
Tonalidade
declamatória do discurso.
e)
Contraste
entre elementos do plano real e de plano ideal.
2 – O discurso eloquente, índice da poesia
condoreira, revela-se no poema pela presença de:
a)
Apóstrofes
e imagens bucólicas.
b)
Interrogações
e versos curtos.
c)
Reticências
e ausências de rimas.
d)
Exclamações
e imperativos.
e)
Temática
social e hipérboles.
3 – Assinale a opção que NÃO condiz com o
conteúdo geral do poema:
a)
O
poeta demonstra perplexidade diante da condição desumana em que se encontra o
negro embarcado.
b)
Na
sua indignação interroga a Deus e a natureza sobre a “origem” e o “destino” dos
escravos.
c)
Na
ânsia de obter resposta, questiona a própria inspiração poética sobre a vida
daqueles “desgraçados”.
d)
O
poeta situa no tempo e no espaço o negro escravo.
e)
Conclui
que, mesmo outrora, a vida desses, ora miseráveis, já era de sofrimento.
4 – São consideradas ricas as rimas que se
fazem com palavras de classe gramatical diferente, como “apagas/vagas” (versos
5 e 6). Assinale as rimas do texto que também podem ser consideradas ricas:
a)
Deus
/ céus (versos 2 e 4).
b)
Borrão
/ tufão (versos 7 e 10).
c)
Cala
/ desvala (versos 15 e 16).
d)
Fugaz
/ audaz (versos 17 e 20)
e)
Confusa
/ musa (versos 18 e 19).
5 – Com base no texto enuncie três
características da poesia condoreira:
- Uso de exclamações e reticências.
- A presença de metáforas e hipérboles.
- O tom declamatório do discurso.