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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

CONTO: A MENOR MULHER DO MUNDO - FRAGMENTO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: A menor mulher do mundo – Fragmento

           Clarice Lispector

        Nas profundezas da África Equatorial o explorador francês Marcel Pretre, caçador e homem do mundo, topou com uma tribo de pigmeus de uma pequenez surpreendente. Mais surpreso, pois, ficou ao ser informado de que menor povo ainda existia além de florestas e distâncias. Então mais fundo ele foi.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkARKZonRB3Lv6t0lB-JzG1OjQrhtQy-8YeHxBhebcYRhxfAmaHVQc0Wdyh5mynLR5cnvrLhJe2G3QcNvn-Ld7pFvWjJyh3MkI4F2jOUzDKJCHWFGmwHrhtnRygHdhM3to8GFemn8CBkBdx4gTadFxVc0X_l1dsUN2tZzB1l-E7LO551ENrayZqe4xs4g/s320/pigmeia.jpg


        No Congo Central descobriu realmente os menores pigmeus do mundo. E — como uma caixa dentro de um caixa — entre os menores pigmeus do mundo estava o menor dos menores pigmeus do mundo, obedecendo talvez à necessidade que às vezes a Natureza tem de exceder a si própria.

        Entre mosquitos e árvores mornas de umidade, entre as folhas ricas do verde mais preguiçoso, Marcel Pretre defrontou-se com uma mulher de quarenta e cinco centímetros, madura, negra, calada. "Escura como um macaco", informaria ele à imprensa, e que vivia no topo de uma árvore com seu pequeno concubino. Nos tépidos humores silvestres, que arredondam cedo as frutas e lhes dão uma quase intolerável doçura ao paladar, ela estava grávida.

        Ali em pé estava, portanto, a menor mulher do mundo. Por um instante, no zumbido do calor, foi como se o francês tivesse inesperadamente chegado à conclusão última. Na certa, apenas por não ser louco, é que sua alma não desvairou nem perdeu os limites. Sentindo necessidade imediata de ordem, e dar nome ao que existe, apelidou-a de Pequena Flor. E, para conseguir classificá-la entre as realidades reconhecíveis, logo passou a colher dados a seu respeito.

        [...]

        A fotografia de Pequena Flor foi publicada no suplemento colorido dos jornais de domingo, onde coube em tamanho natural. Enrolada num pano, com a barriga em estado adiantado. O nariz chato, a cara preta, os olhos fundos, os pés espalmados. Parecia um cachorro.

        Nesse domingo, num apartamento, uma mulher, ao olhar no jornal aberto o retrato de Pequena Flor, não quis olhar uma segunda vez "porque me dá aflição".

        Em outro apartamento uma senhora teve tal perversa ternura pela pequenez da mulher africana que — sendo tão melhor prevenir que remediar — jamais se deveria deixar Pequena Flor sozinha com a ternura da senhora. Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho. A senhora passou um dia perturbada, dir-se-ia tomada pela saudade. Aliás era primavera, uma bondade perigosa estava no ar.

        Em outra casa uma menina de cinco anos de idade, vendo o retrato e ouvindo os comentários, ficou espantada. Naquela casa de adultos, essa menina fora até agora o menor dos seres humanos. E se isso era fonte das melhores carícias, era também fonte deste primeiro medo do amor tirano. A existência de Pequena Flor levou a menina a sentir — com uma vaguidão que só anos e anos depois, por motivos bem diferentes, havia de se concretizar em pensamento — levou a sentir, numa primeira sabedoria, que "a desgraça não tem limites".

        Em outra casa, na sagração da primavera, a moça noiva teve um êxtase de piedade:

        — Mamãe, olhe o retratinho dela, coitadinha! Olhe só como ela é tristinha!

        — Mas — disse a mãe, dura e derrotada e orgulhosa — mas é tristeza de bicho, não é tristeza humana.

        — Oh! Mamãe — disse a moça desanimada.

        Foi em outra casa que um menino esperto teve uma ideia esperta:

        — Mamãe, e se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho enquanto ele está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Que berro, vendo ela sentada na cama! E a gente então brincava tanto com ela! A gente fazia ela o brinquedo da gente, hein!

        A mãe dele estava nesse instante enrolando os cabelos em frente ao espelho do banheiro, e lembrou-se do que uma cozinheira lhe contara do tempo de orfanato. Não tendo boneca com que brincar, e a maternidade já pulsando terrível no coração das órfãs, as meninas sabidas haviam escondido da freira a morte de uma das garotas. Guardaram o cadáver num armário até a freira sair, e brincaram com a menina morta, deram-lhe banhos e comidinhas, puseram-na de castigo somente para depois poder beijá-la, consolando-a. Disso a mãe se lembrou no banheiro, e abaixou mãos pensas, cheias de grampos. E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor. Então olhou para o filho esperto como se olhasse para um perigoso estranho. E teve terror da própria alma que, mais que seu corpo, havia engendrado aquele ser apto à vida e à felicidade. Assim olhou ela, com muita atenção e um orgulho inconfortável, aquele menino que já estava sem os dois dentes da frente, a evolução, a evolução se fazendo, dente caindo para nascer o que melhor morde. "Vou comprar um terno novo para ele", resolveu, olhando-o absorta. Obstinadamente enfeitava o filho desdentado com roupas finas, obstinadamente queria-o bem limpo, como se limpeza desse ênfase a uma superficialidade tranquilizadora, obstinadamente aperfeiçoando o lado cortês da beleza. Obstinadamente afastando-se, e afastando-o, de alguma coisa que devia ser "escura como um macaco". Então, olhando para o espelho do banheiro, a mãe sorriu intencionalmente fina e polida, colocando, entre aquele seu rosto de linhas abstratas e a cara crua de Pequena Flor, a distância insuperável de milênios. Mas, com anos de prática, sabia que este seria um domingo em que teria de disfarçar de si mesma a ansiedade, o sonho, e milênios perdidos.

        Em outra casa, junto a uma parede, deram-se ao trabalho alvoroçado de calcular com fita métrica os quarenta e cinco centímetros de Pequena Flor. E foi aí mesmo que, em delícia, se espantaram: ela era ainda menor que o mais agudo da imaginação inventaria. No coração de cada membro da família nasceu, nostálgico, o desejo de ter para si aquela coisa miúda e indomável, aquela coisa salva de ser comida, aquela fonte permanente de caridade. A alma ávida da família queria devotar-se. E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si? O que, é verdade, nem sempre seria cômodo, há horas em que não se quer ter sentimentos:

        — Aposto que se ela morasse aqui terminava em briga — disse o pai sentado na poltrona, virando definitivamente a página do jornal. — Nesta casa tudo termina em briga.

        — Você, José, sempre pessimista — disse a mãe.

        — A senhora já pensou, mamãe, de que tamanho será o nenenzinho dela? — disse ardente a filha mais velha de treze anos.

        O pai mexeu-se atrás do jornal.

        — Deve ser o bebê preto menor do mundo — respondeu a mãe, derretendo-se de gosto. — Imagine só ela servindo a mesa aqui de casa! E de barriguinha grande!

        — Chega de conversas! — engrolou o pai.

        — Você há de convir — disse a mãe inesperadamente ofendida — que se trata de uma coisa rara. Você é que é insensível.

        E a própria coisa rara?

        Enquanto isso na África, a própria coisa rara tinha no coração — quem sabe se negro também, pois numa Natureza que errou uma vez já não se pode mais confiar — enquanto isso a própria coisa rara tinha no coração algo mais raro ainda, assim como o segredo do próprio segredo: um filho mínimo. Metodicamente o explorador examinou com o olhar a barriguinha do menor ser humano maduro. Foi neste instante que o explorador, pela primeira vez desde que a conhecera, em vez de sentir curiosidade ou exaltação ou vitória ou espírito científico, o explorador sentiu mal-estar.

        É que a menor mulher do mundo estava rindo.

        Estava rindo, quente, quente. Pequena Flor estava gozando a vida. A própria coisa rara estava tendo a inefável sensação de ainda não ter sido comida. Não ter sido comida era que, em outras horas, lhe dava o ágil impulso de pular de galho em galho. Mas, neste momento de tranquilidade, entre as espessas folhas do Congo Central, ela não estava aplicando esse impulso numa ação — e o impulso se concentrara todo na própria pequenez da própria coisa rara. E então ela estava rindo. Era um riso como somente quem não fala, ri. Esse riso, o explorador constrangido não conseguiu classificar. E ela continuou fruindo o próprio riso macio, ela que não estava sendo devorada. Não ser devorado é o sentimento mais perfeito. Não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida. Enquanto ela não estava sendo comida, seu riso bestial era tão delicado como é delicada a alegria. O explorador estava atrapalhado.

        Em segundo lugar, se a própria coisa rara estava rindo, era porque, dentro dessa sua pequenez, grande escuridão pudera-se em movimento.

        É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de Amor. Ela amava aquele explorador amarelo. Se soubesse falar e dissesse que o amava, ele inflaria de vaidade. Vaidade que diminuiria quando ela acrescentasse que também amava muito o anel do explorador e que amava muito a bota do explorador. E quando este desinchasse desapontado, Pequena Flor não compreenderia por quê. Pois, nem de longe, seu amor pelo explorador — pode-se mesmo dizer seu "profundo amor", porque, não tendo outros recursos, ela estava reduzida à profundeza — pois nem de longe seu profundo amor pelo explorador ficaria desvalorizado pelo fato de ela também amar sua bota. Há um velho equívoco sobre a palavra amor, e, se muitos filhos nascem desse equívoco, tantos outros perderam o único instante de nascer apenas por causa de uma suscetibilidade que exige que seja de mim, de mim! que se goste, e não de meu dinheiro. Mas na umidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonita uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha. Pequena Flor piscava de amor, e riu quente, pequena, grávida, quente.

        O explorador tentou sorrir-lhe de volta, sem saber exatamente a que abismo seu sorriso respondia, e então perturbou-se como só homem de tamanho grande se perturba. Disfarçou ajeitando melhor o chapéu de explorador, corou pudico. Tornou-se uma cor linda, a sua, de um rosa-esverdeado, como a de um limão de madrugada. Ele devia ser azedo.

        Foi provavelmente ao ajeitar o capacete simbólico que o explorador se chamou à ordem, recuperou com severidade a disciplina de trabalho, e recomeçou a anotar. Aprendera a entender algumas das poucas palavras articuladas da tribo, e a interpretar os sinais. Já conseguia fazer perguntas.

        Pequena Flor respondeu-lhe que "sim". Que era muito bom ter uma árvore para morar, sua, sua mesmo. Pois — e isso ela não disse, mas seus olhos se tornaram tão escuros que o disseram — pois é bom possuir, é bom possuir, é bom possuir. O explorador pestanejou várias vezes.

        Marcel Pretre teve vários momentos difíceis consigo mesmo. Mas pelo menos ocupou-se em tomar notas e notas. Quem não tomou notas é que teve que se arranjar como pôde:

        — Pois olhe — declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão — pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz.

LISPECTOR, Clarice. A menor mulher do mundo. In: Laços de família. 10. ed. Rio de Janeiro. José Olympio, 1978. p. 77-86.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 247-251.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Concubino: amante.

·        Tépido: morno.

·        Humor: umidade.

·        Engrolar: pronunciar mal.

·        Inefável: indizível, encantador.

·        Fluir: gozar, desfrutar.

02 – Qual a principal característica física de Pequena Flor?

      Pequena Flor é descrita como a menor mulher do mundo, com apenas 45 centímetros. Sua aparência exótica e sua condição de menor a tornam um objeto de curiosidade e fascínio.

03 – Como Pequena Flor é vista pelos outros personagens e pela sociedade?

      Pequena Flor é vista como uma curiosidade, um objeto de estudo e de contemplação. Sua pequenez a torna um símbolo da diferença e da excentricidade.

04 – Quais são os sentimentos de Pequena Flor em relação à sua condição?

      O conto não explora em profundidade os sentimentos de Pequena Flor, mas sugere que ela aceita sua condição e encontra felicidade em sua vida simples. Seu riso é descrito como "quente" e "macio", indicando uma sensação de bem-estar e contentamento.

05 – Qual o impacto do encontro de Marcel Pretre com Pequena Flor?

      O encontro com Pequena Flor provoca uma crise existencial em Marcel Pretre. Ele se questiona sobre a natureza humana, a felicidade e o significado da vida.

06 – Como a relação entre Marcel Pretre e Pequena Flor se desenvolve?

      A relação entre os dois personagens é marcada pela curiosidade e pela incompreensão. Marcel Pretre tenta classificar e entender Pequena Flor, enquanto ela o observa com um olhar enigmático.

07 – Como as diferentes pessoas reagem à notícia sobre Pequena Flor?

      As pessoas reagem de forma diversa ao saber da existência de Pequena Flor. Algumas sentem pena, outras curiosidade, e outras ainda, um desejo de posse ou de exploração.

08 – Qual a crítica social presente nas reações das pessoas?

      O conto critica a curiosidade mórbida, a superficialidade e a falta de empatia das pessoas. As reações das pessoas revelam a tendência humana a julgar e a categorizar os outros com base em suas diferenças.

09 – Quais os temas principais do conto?

      Os temas principais do conto são a diferença, a identidade, a felicidade, a exploração e a natureza humana.

10 – Qual a importância da natureza no conto?

      A natureza é um personagem fundamental no conto. A floresta, com sua exuberância e mistério, serve como pano de fundo para a história e simboliza a liberdade e a espontaneidade.

11 – Qual a mensagem final do conto?

      O conto nos convida a refletir sobre o significado da felicidade e da existência. Pequena Flor, com sua simplicidade e alegria, nos mostra que a felicidade não está ligada à posse ou ao status social, mas sim à aceitação de si mesmo e à capacidade de encontrar prazer nas pequenas coisas da vida.

 

 

CONTO: AS CARIDADES ODIOSAS - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: As caridades odiosas

            Clarice Lispector

        Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos.

 
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIaVzh7Wwf8GFOtJLnfRiEzSzSuDcnmTigpDENJyxTqeQBSEPAIRuKMbVChws5cJrc1vUj5ot-PHPmCOHDtfIXjxQ-VhAqr2qxFFxneZ6_t-XxHz9yODwDY638JgRwN5-fCbFd8Evm1HiWkbbXTrBNJUS2P7JkTIsK1_sHC6UXxkc90GILnabte0frvKo/s320/DOCE.jpg

        -- Um doce, moça, compre um doce para mim.

        Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.

        Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: Um doce para o menino.

        De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, queria que a cena, humilhante para mim, terminasse logo. Perguntei-lhe: que doce você…

        Antes de terminar, o menino disse apontado depressa com o dedo: Aquelezinho ali, com chocolate por cima. Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.

        -- Que outro doce você quer? Perguntei ao menino escuro.

        Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me um instante e disse com delicadeza insuportável, mostrando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava a minha bondade.

        -- Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para a frente. O menino hesitou e disse: Aquele amarelo de ovo. Recebeu um doce em cada mão, levantando as duas acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo os doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A caixeirinha olhava tudo:

        -- Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.

        Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De vergonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamentos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento, gratidão, revolta e vergonha. Mas como se costuma dizer, o Sol parecia brilhar com mais força. Eu tivera a oportunidade de…E para isso fora necessário um menino magro e escuro…E para isso fora necessário que outros não lhe tivessem dado um doce.

        E as pessoas que tomavam sorvete? Agora, o que eu queria saber com autocrueldade era o seguinte: temera que os outros me vissem ou que os outros não me vissem? O fato é que, quando atravessei a rua, o que teria sido piedade já se estrangulara sob outros sentimentos. E, agora sozinha, meus pensamentos voltaram lentamente a ser os anteriores, só que inúteis.

LISPECTOR, Clarice. As caridades odiosas. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1984. p. 380-3.

Fonte: livro Língua e Literatura – Faraco & Moura – vol. 3 – 2º grau – Edição reformulada 9ª edição – Editora Ática – São Paulo – SP. p. 233-4.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal emoção experimentada pela narradora ao longo do conto?

      A narradora experimenta uma gama de emoções complexas, como culpa, vergonha, gratidão e revolta. O encontro com o menino a leva a questionar suas próprias atitudes e a refletir sobre a condição humana.

02 – Como a narradora descreve seus próprios pensamentos antes de encontrar o menino?

      A narradora se descreve como "emaranhada nos meus pensamentos", sugerindo um estado de distração e introspecção. Seus pensamentos são vagos e não são revelados ao leitor.

03 – Qual a atitude inicial da narradora em relação ao pedido do menino?

      Inicialmente, a narradora se sente incomodada com o pedido do menino e demonstra certa relutância em atendê-lo. Ela parece mais preocupada com sua própria imagem e com o que os outros pensarão do que com a necessidade da criança.

04 – Qual o papel do menino na narrativa?

      O menino representa a pobreza, a necessidade e a vulnerabilidade. Seu pedido desperta na narradora uma série de sentimentos conflitantes e a leva a confrontar suas próprias contradições.

05 – Como a narradora descreve o menino?

      A narradora descreve o menino como magro, sujo e com um olhar de "paciente aflição". Sua aparência física contrasta com a opulência da confeitaria e da sociedade em que a narradora vive.

06 – Por que a narradora se sente envergonhada após ajudar o menino?

      A narradora se sente envergonhada porque percebe que seu ato de caridade foi motivado mais pela culpa e pela necessidade de aliviar sua própria consciência do que por um genuíno desejo de ajudar o menino.

07 – Qual a diferença entre a caridade da narradora e a caridade esperada pela sociedade?

      A caridade da narradora é marcada pela culpa e pela vergonha, enquanto a caridade esperada pela sociedade é vista como um ato de bondade e generosidade. A narradora questiona a sinceridade e as motivações por trás dos atos caridosos.

08 – Qual o tema central do conto "As caridades odiosas"?

      O tema central do conto é a hipocrisia da sociedade e a complexidade da natureza humana. A narradora explora a questão da caridade e da compaixão, questionando as motivações que levam as pessoas a ajudar ou a ignorar o sofrimento alheio.

09 – Qual a crítica social presente no conto?

      O conto critica a indiferença e a desigualdade social. A figura do menino faminto em frente a uma confeitaria luxuosa evidencia as disparidades sociais e a falta de empatia de muitas pessoas.

10 – Qual a importância do título "As caridades odiosas"?

      O título reflete a ambivalência da experiência da narradora. A caridade, que deveria ser um ato de bondade, torna-se odiosa quando motivada por sentimentos como culpa e vergonha, em vez de compaixão genuína. O título também sugere que a forma como a caridade é praticada pode ser tão importante quanto o ato em si.

 

 

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

NOTÍCIA: POLICIAIS SE COMOVEM, PAGAM FIANÇA E FAZEM COMPRAS PARA LADRÃO DO DF - FRAGMENTO - RAQUEL MORAIS - COM GABARITO

 Notícia: Policiais se comovem, pagam fiança e fazem compras para ladrão no DF – Fragmento

 

Compras feitas por policiais para ajudar desempregado que tentou furtar 2 kg de carne no Distrito Federal (Foto: Ricardo Machado/Arquivo Pessoal)

        [...]

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhitYZa_cvOyjfA_1rD2LVTaDa-JFqX5Rur5fQ3uFJlKOs8Zl9cjCUx2iB44QVQk3Ow5lyBYCFsENb5weq4VgpVN26en0i8ltz4hchGqHX7-Bw6aTCWzID6kQVvksc8rdPe3PDVh8kOs-a7Mpi0LEW7-xofvXlZ27-QAFftRwE5xdeWaqJ4zQw2wDTpdVY/s320/fiana.jpg


        Policiais civis do Distrito Federal se sensibilizaram com a história de um ladrão e deram um final surpreendente a uma tentativa de furto de 7 kg de carne: pagaram a fiança e fizeram compras para o eletricista desempregado, que contou em depoimento ter praticado o crime para alimentar o filho de 12 anos. Mario Ferreira Lima cria o menino sozinho desde que a mulher se mudou para a casa de um filho mais velho, de outro casamento, para se recuperar das sequelas de um acidente.

        [...] De acordo com o agente Ricardo Machado, o desempregado contou em depoimento que se confundiu com as datas e achou que já tivesse caído na conta os R$ 70 que recebe mensalmente por meio do Programa Bolsa Família. [...]

        Na hora de passar as compras no caixa, o homem descobriu que o valor que tinha de saldo – R$ 7 – era insuficiente e tentou esconder a carne na bolsa. O alimento custava R$ 26. A ação foi flagrada pelas câmeras de segurança, e o dono do estabelecimento não aceitou as desculpas do ladrão e acionou a polícia.

        Machado conta que o desempregado desmaiou pouco depois de chegar à delegacia. Questionado se estava bem, o homem respondeu que estava havia dois dias sem comer, porque deixou o filho consumir sozinho o pão que restava em casa.

        [...] narrou ter perdido o emprego com carteira assinada por ter precisado acompanhar a mulher nos oito meses em que ela ficou internada em coma no hospital – e procurou os colegas. “Dei a ele R$ 30 para pagar a carne e depois fui contar aos colegas o que estava acontecendo no plantão. Ficou todo mundo comovido [...]”, lembra.

        [...] a fiança foi estipulada em R$ 270. Sensibilizada, uma agente pagou sozinha o valor, enquanto os colegas arrecadavam mais dinheiro para comprar mantimentos para o ladrão.

        [...].

MORAIS< Raquel. “Policiais se comovem, pagam fiança e fazem compras para ladrão no DF”. G1. 14 maio 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2015/05/policiais-se-comovem-pagam-fianca-e-fazem-compras-para-ladrao-no-df.html. Acesso em: 16 mar. 2021.

Entendendo a notícia:

01 – O que motivou o eletricista desempregado a tentar furtar 7 kg de carne?

      Ele tentou furtar a carne porque estava desesperado para alimentar seu filho de 12 anos. Ele achava que já tinha recebido o valor do Bolsa Família, mas ao descobrir que não tinha dinheiro suficiente, tentou esconder a carne na bolsa.

02 – Como os policiais reagiram ao caso do desempregado?

      Os policiais civis se comoveram com a situação do homem e, além de pagarem a fiança, também arrecadaram dinheiro para comprar mantimentos para ele e seu filho.

03 – Qual foi a justificativa do homem para o crime?

      O homem alegou que estava há dois dias sem comer, pois havia deixado o pouco alimento que tinha para o filho. Ele também mencionou que havia perdido o emprego por precisar acompanhar sua esposa, que estava em coma no hospital.

04 – Quanto foi a fiança estipulada, e como ela foi paga?

      A fiança foi estipulada em R$ 270. Uma das agentes, sensibilizada pela situação, pagou a fiança sozinha, enquanto outros policiais arrecadaram dinheiro para ajudar o homem.

05 – Qual foi a reação do dono do estabelecimento ao flagrar o furto?

      O dono do estabelecimento não aceitou as desculpas do homem e decidiu acionar a polícia após flagrar a tentativa de furto pelas câmeras de segurança.

06 – O que aconteceu com o homem ao chegar na delegacia?

      Ao chegar na delegacia, o homem desmaiou, e ao ser questionado pelos policiais se estava bem, revelou que estava há dois dias sem comer.

07 – Como os policiais decidiram ajudar o homem após ouvirem sua história?

      Os policiais, ao ouvirem a história do homem, decidiram se unir para ajudá-lo. Um deles deu dinheiro para que o homem pudesse pagar a carne, enquanto outros se mobilizaram para pagar a fiança e comprar alimentos para ele e seu filho.

 

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

ENIGMA: O INCRÍVEL CASO DO VIDEOGAME - JACOB DOS SANTOS BIZIAK - COM GABARITO

 Enigma: O incrível caso do videogame

              Jacob dos Santos Biziak

        Depois de tanto trabalho e tanto ter suas histórias divulgadas pelo mundo, em diversas línguas, Sherlock Homes se aposentou. Inúmeros mistérios foram resolvidos com sua ajuda. No entanto, o maior mistério de sua vida continua em aberto: Seria possível ter sossego um dia? Pensando nisso, resolveu viajar para longe de Londres. O destino escolhido foi o Brasil. A ideia não era conhecer somente um lugar do país, mas vários. Decidiu, então, que poderia ser interessante começar de baixo para cima, do mais frio ao mais quente. Resolveu, também, que iria sozinho, sem seu fiel companheiro Watson. Afinal, acreditava que, assim, seria mais difícil ser reconhecido. A viagem, enfim, começou e seguiu uma ordem: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo... eis que, de repente, o descanso acabou.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQkCmOmKqpy21kV2QJooghbrwEINXqQUCoOKMv9scxa_JM_XRdKM56Xgna5zsFm3IxdGWYNJknMLxyUVCmi1THExHBovwfv2zWoLovww-PD7fwIDoBpI9sxMWbQXf-8rvsgj_4PdtI9vmYY-K_m7Hq12nFBofbQCdZ0-XGWWOAO_mg0jugIEhiJwNk2MU/s320/Sherlock_Holmes_Portrait_Paget.jpg


        Batendo pernas pelo parque Ibirapuera em São Paulo, observando árvores e pássaros, ouviu algo que se parecia com “senhor Holmes”. Como não tinha certeza sobre ter, de fato, ouvido seu nome, resolveu ignorar. Não era possível que alguém ali o reconhecesse. Passados alguns segundos, novamente escutou:

        -- Senhor Holmes, muito prazer, detetive Silveira.

        Sherlock olhou para os céus, apertou bem os olhos e não conseguiu acreditar. Voltou-se para o homem que lhe estendia a mão e disse:

        -- Como é possível o senhor ter me reconhecido?! Estou de férias, algo que nunca fiz na vida. Como me descobriu e justamente aqui?!

        -- Ora, senhor Holmes, eu também sou um bom detetive. Não é porque não consigo encontrar um ladrão de videogame que não conseguiria rastrear o senhor! Na verdade, mesmo em um caso como esse, eu não o chamaria diretamente de Londres para cá. Mas nossas câmeras no aeroporto registraram sua entrada no país. Os policiais ficaram tão curioso com a suposta coincidência do nome até descobrirem que o Holmes que estava chegando ao Brasil era exatamente o mesmo famosíssimo da Inglaterra. Isso tem sido comentado na polícia brasileira há dias. Estamos acompanhando e protegendo o senhor desde sua chegada. Afinal, não queremos que nada de ruim lhe aconteça. Quando eu soube que o senhor estaria em São Paulo, tratei de rastreá-lo. E, agora, cá estamos. Preciso muito de um palpite do senhor sobre um caso. Não quero que se desligue totalmente de suas férias, mas que me dê, ao menos, uma dica. Seria possível?

        -- O que se passa? É urgente?

        -- Não, não é urgente, mas é intrigante. Poderia me acompanhar? Assim lhe ponho a par da ocorrência.

        No caminho, Silveira resumiu o que vinha acontecendo. De fato, o caso não era urgente. Ainda assim, durava meses. A polícia estava sendo fortemente cobrada por uma solução, já que envolvia um poderoso empresário, viúvo, que viajava sempre a trabalho por diversos países.

        O filho desse viúvo, toda semana, sem falta, tem um videogame roubado. Sem deixar vestígios, um aparelho sempre some no espaço de sete dias. Assim, que desaparece, o pai trata – mesmo distante - de repor com um novo eletrônico ainda melhor que o anterior. Assim, aparelhos de todos os lugares do mundo começaram a chegar.

        Nunca foram encontradas marcas de arrombamentos, invasões, sujeiras, pedaços de qualquer coisa quebrada. Todos os funcionários da casa são antigos, antes de o menino nascer. Foram interrogados e descartados como suspeitos, por enquanto, em função de seu ótimo histórico de convivência com a família.

        Nas últimas vezes, até fios de cabelos diferentes que frequentam a casa foram procurados: mais uma vez, sem sucesso. A cada sumiço de videogame, o menino ligava para o pai, chorando, dizendo o quanto se sentia inseguro e uma queixa era feita à polícia. Parecia que os aparelhos simplesmente evaporavam. Em um dia, quando o fim de mais um ciclo de semana se aproximava, a casa foi inteiramente cercada por policiais escondidos, esperando a hora de o ladrão sair com o aparelho. As câmeras, os detetives, nada e nem ninguém capazes de ver qualquer movimentação estranha. Logo pela manhã, os gritos: o novo aparelho tinha sumido também.

        -- Me levem à cena, à casa do empresário. Não vamos perder mais tempo. Se há algo a ser descoberto, é lá. – pediu Sherlock.

        -- Mesmo a casa já tendo sido revirada? – perguntou Silveira.

        -- Talvez exista algo menos óbvio que ainda não tenha sido buscado. Os mistérios, quase sempre, dependem de acreditarmos em determinadas soluções. Por isso, preciso saber se todos estão prontos para o que pode ser descoberto.

        -- Do jeito como o senhor fala, chego a sentir um pequeno medo.

        -- Vamos logo à casa. Em minha cabeça, pelo que você conta, só há uma possibilidade.

        Chegando à mansão, em uma região distante do centro de São Paulo, Sherlock foi logo apresentado ao pai – que, por coincidência, também estava no Brasil naqueles dias – e ao menino. O famoso detetive inglês perguntou ao empresário:

        -- Lamento pela pergunta, mas há quanto tempo a mãe do garoto faleceu?

        -- Há cerca de seis meses – ele respondeu.

        Com isso, Sherlock pediu para ver o quarto do menino. Sem entenderem muita coisa, o detetive Silveira, o pai e o filho levaram Holmes até o local. Lá, Sherlock começou a bater nas superfícies de madeira que formavam os móveis, mesmo nos locais mais escondidos. Fez isso por diversos minutos. Ninguém entendia nada.

        Após cerca de quase uma hora, o detetive inglês abriu o armário de roupas. Algo lhe chamou aa atenção. Conforme batia nas paredes da parte de trás do armário, uma delas parecia oca. Bateu novamente três vezes. Após isso, apertou a parede e percebeu que ela estava bamba. Sem muito esforço, ela caiu, e um vão atrás dela foi revelado. Iluminado com a luz advinha da câmera do celular, o segredo se fez luz! Todos os videogames roubados estavam lá, uns sobre os outros. Sherlock olhou para o pai, que estava incrédulo. Depois, olhou para o menino, de cujos olhos desciam lágrimas.

        -- Como o senhor chegou com tanta facilidade a isso? – perguntou o detetive Silveira.

        -- Elementar, meu caro Silveira. A casa nunca foi arrombada, e ninguém nunca foi visto saindo com algum aparelho: só podia ser alguém de dentro da mansão, logo. Todos os funcionários são antigos e, de início, não teriam motivos para isso, a não ser que alguém tivesse sofrido alguma mudança recente em sua vida, a ponto de precisar roubar. Para minha surpresa, o único que teve a vida drasticamente mudada foi o próprio garoto, dono dos eletrônicos. Sempre que algum some, ele liga para o pai, clamando por sua segurança. Logo, não foi difícil pensar: o próprio menino desaparece com os aparelhos. Com isso, ele não busca ainda mais segurança contratada para a casa, mas, sim, a única que lhe pode salvar neste momento: a do próprio pai. Incapaz de dizer isso, o roubo de cada videogame, ao longo do tempo, poderia chamar a atenção de seu pai e trazê-lo de volta, permanentemente, à casa...

Biziak, Jacob dos Santos.

Entendendo o enigma:

01 – Por que Sherlock Holmes decidiu viajar para o Brasil?

      Para tentar ter um tempo de sossego e paz longe de Londres, viajando por vários lugares do país, começando de baixo para cima, do mais frio ao mais quente.

02 – Quem foi a primeira pessoa a reconhecer Holmes no Brasil e onde isso aconteceu?

      O detetive Silveira, no parque Ibirapuera em São Paulo.

03 – Qual era o caso que o detetive Silveira queria que Holmes ajudasse a resolver?

      O roubo semanal de videogames da casa de um poderoso empresário viúvo.

04 – Como Holmes foi identificado ao entrar no Brasil?

      Pelas câmeras no aeroporto, que registraram sua entrada no país e despertaram a curiosidade dos policiais brasileiros.

05 – Qual era a reação de Holmes ao ser reconhecido e abordado por Silveira?

      Ele ficou surpreso e incrédulo por ter sido reconhecido, especialmente enquanto estava de férias.

06 – O que fez Holmes aceitar acompanhar Silveira e se envolver no caso?

      Embora estivesse de férias, ele se interessou pelo caráter intrigante do caso e decidiu ajudar.

07 – Como o pai do menino reagia a cada vez que um videogame era roubado?

      Mesmo estando distante, ele rapidamente substituía o aparelho roubado por um novo, ainda melhor que o anterior.

08 – O que Holmes fez ao chegar à mansão do empresário?

      Ele examinou o quarto do menino, batendo nas superfícies de madeira e investigando cuidadosamente.

09 – Como Holmes descobriu o esconderijo dos videogames?

      Ele percebeu que uma parede do armário de roupas parecia oca e bamba. Após apertar e derrubá-la, encontrou um vão escondido onde estavam todos os videogames roubados.

10 – Qual foi a dedução de Holmes sobre o motivo do menino roubar os videogames?

      O menino estava buscando atenção e segurança do pai. Os roubos constantes eram uma maneira de chamar a atenção do pai e tentar trazê-lo de volta para casa permanentemente.

 

domingo, 23 de junho de 2024

HISTÓRIA: O PEQUENO PRÍNCIPE 1º CAPÍTULO - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY - COM GABARITO

 História: O pequeno príncipe 1º capítulo

              Antoine de Saint-Exupéry

        Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jiboia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiu_YFmlvOv324NyDAeq8JK8BA30rQnnHQbrS2xnoF0gCRESaKtQjFKqO81cH6YS-giTTW-owOPIC51ooxQxBoKsPBQWG26SX39e5JWS235Y_-mjVzxGAcnHQzrit5sniJ2PjuF07FlppHdt76U7KICDBkeDXhdZFcHU9Yyi0mNzTBNJ7R28mvxFqoma2g/s320/PRINCIPE.png 


        Dizia o livro: "As jiboias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses de digestão." 

        Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:

        Mostrei minha obra-prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo. 

        Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?" 

        Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jiboia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jiboia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim: 

        As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática.  Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando. 

        Tive pois de escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo.  E a geografia, é claro, me serviu muito. Sabia distinguir, num relance, a China e o Arizona. É muito útil, quando se está perdido na noite. 

        Tive assim, no correr da vida, muitos contatos com muita gente séria. Vivi muito no meio das pessoas grandes.  Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião. 

        Quando encontrava uma que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada de conhecer um homem tão razoável. 

SAINT-EXUPÉRY, Antoine. O Pequeno Príncipe. Trad.: Dom Marcos Barbosa. Rio de Janeiro: Agir, 1974, p. 9-11.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 10-12.

Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Imponente: grandioso, impactante.

·        Esplêndido: que causa esplendor, grande admiração.

·        Lúcido: que não se ilude, compreensivo, descomplicado.

·        Bridge: jogo de cartas (baralho) de origem inglesa.

02 – Com base no texto que você leu, como começa a história “O Pequeno Príncipe”?

      “O livro começa com o narrador contando que tinha 6 anos e leu num livro que jiboias engoliam feras. Inspirado nisso, fez seu desenho número 1, que não foi bem compreendido. Então, fez um desenho número 2. Enfim, os adultos o aconselharam a estudar Geografia e outras disciplinas e abandonar os desenhos. Por isso ele se tornou piloto de avião.”

03 – O narrador considera adequado o modo como as crianças enxergam o mundo ou o modo como os adultos enxergam o mundo?

      O narrador considera o ponto de vista da criança mais adequado do que o dos adultos no início. Mas, depois considera também o dos adultos quando diz que a Geografia foi importante na vida dele. Se disserem apenas o ponto de vista da criança.

04 – Releia o trecho abaixo:

        “[...] e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo.  E a geografia, é claro, me serviu muito.”. Segundo o narrador, nesse ponto, o conselho dos adultos foi ruim para ele? Explique seu ponto de vista. Por que ele aceitou o conselho, abandonou os desenhos e seguiu outra carreira?

      Não. O ponto de vista do narrador mudou. Ele abandonou o desenho para ser piloto de avião, e o que aprendeu de Geografia foi importante para sua profissão de piloto.

05 – Agora, releia o último parágrafo do capítulo 1 de “O Pequeno Príncipe” e responda: O narrador é um homem ou um menino? Justifique sua resposta com dados do último parágrafo.

      É um homem, porque pilota aviões, conhece Geografia, discute política e usa gravatas, joga baralho e diz que o consideram um homem razoável.

06 – No livro “O Pequeno Príncipe”, combinam-se aspectos formais

Narrativos e aspectos literários. Assinale a alternativa que indica a combinação correta.

a)   Narrativa em 3ª pessoa com história real.

b)   Narrativa em 1ª pessoa com história fictícia.

c)   História real escrita em versos.

d)   Ficção escrita em versos e vida real.

07 – Releia o trecho a seguir e considere a parte destacada.

        “Quando encontrava uma (pessoa grande) que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, [...]. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jiboias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas.

Agora, parafraseie o trecho destacado. Escreva com suas palavras o que o autor disse. Em seguida, discuta com o professor e seus colegas a importância de adequar nosso ponto de vista à circunstância.

      Resposta pessoal do aluno.