domingo, 25 de outubro de 2020

ARTIGO: POR QUE AS CIDADES COSTUMAM SER MAIS QUENTES DO QUE O CAMPO? UFMT- COM GABARITO

 Artigo: Por que as cidades costumam ser mais quentes do que o campo?

       A sua percepção de que as áreas rurais quase sempre são mais fresquinhas do que as urbanas está correta. Pelo menos, é o que dizem os cientistas. As pesquisas informam que as cidades são mais quentes por conta do fenômeno denominado “ilha de calor urbana”. Simplificando: o calor fica preso nas metrópoles, de onde não consegue sair. O resultado é que as áreas urbanas podem ficar de três a 12 graus mais quentes do que as rurais. Daí, a razão de muita gente desejar trocar a cidade pelo campo no verão.

        Durante o dia, nós absorvemos o calor emitido pelo Sol, os bichos absorvem, assim como as máquinas, as construções... Durante a noite, tudo isso tende a emitir o calor absorvido. Esse calor fica preso na superfície da atmosfera, deixando a temperatura mais quente. Para o calor ir embora, ele tem que ir cada vez mais para cima, como uma pipa subindo no céu.

        Os cientistas achavam que a habilidade de guardar e liberar calor das coisas e das pessoas era o principal motivo das ilhas de calor. Porém, um novo estudo mostrou que o principal responsável é outro: a convecção. Não se espante! Convecção é a forma de transmissão do calor pelo movimento do ar. Ou seja: quando o ar quente sobe para a atmosfera e o ar frio desce para o solo, é a convecção que está atuando. Portanto, aqui está o segredo de o campo ser mais fresco do que a cidade: a superfície da vegetação tem mais convecção do que as paredes lisas de prédios da cidade grande!

        Porém, as coisas não acontecem de forma tão simples assim: o efeito da convecção depende também do clima e do tipo de vegetação. Por exemplo, em áreas secas, como na Caatinga, no Nordeste do Brasil, a vegetação é mais curta e rasteira, tendo menos liberação de calor, se comparada com as cidades. Mas em áreas onde chove mais o campo ganha da cidade em liberação de calor, porque a vegetação frondosa possui mais convecção. Nas cidades, as construções de concreto que estão em todo lugar, como em prédios e asfaltos, são boas em absorver calor e não tão boas em liberá-lo.

        Não é possível eliminar totalmente as ilhas de calor, pois elas resultam das mudanças da paisagem que vêm com o crescimento das cidades. Mas é importante dizer que seus efeitos e impactos podem ser diminuídos. Uma das maneiras é a reflexividade das cidades. Como fazer isso? Pintando os telhados de branco ou instalando telhados verdes, aqueles cobertos por grama ou plantas [...].

        As coberturas claras fazem um melhor trabalho refletindo calor, enquanto os verdes armazenam o calor do Sol, utilizando-o para desenvolver as plantas. Tanto o telhado branco quanto o de cobertura vegetal, ao refletirem o calor, atuam como isolante térmico. Assim, não é necessário usar tanto o ar-condicionado para fazer a casa ficar fresquinha. Resultado: economia de energia.

Raphael de Souza Rosa Gomes; Paulo Vinicius dos Santos Benedito; Deógenes Pereira da Silva Júnior. Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, Universidade Federal de Mato Grosso. Por que as cidades costumam ser mais quentes do que o campo? Ciência Hoje das Crianças, ano 29, n. 279, p. 11, jun. 2016. Disponível em: https://34.213.240.202/revista/chc/279/files/assets/basic-html/index.html#13.  Acesso em: 16 ago. 2018.

Entendendo o artigo:

01 – O texto explica o que é convecção.

a)   Explique esse conceito.

Convenção é a transformação de calor entre o solo e a atmosfera por meio do movimento do ar.

b)   Que conhecimento anterior foi modificado com o estudo desse fenômeno?

A ideia de que as “ilhas de calor” eram provocadas, principalmente, pela habilidade de pessoas e coisas de guardar e liberar calor.

c)   Cite a frase que indica que houve uma mudança no conhecimento que se tinha do assunto.

“Porém, um novo estudo mostrou que o principal responsável é outro: a convecção.”

02 – Releia o primeiro parágrafo.

a)   Qual conceito os produtores do artigo sentiram necessidade de explicar ao leitor?

O conceito de ilha de calor urbana.

b)   Que palavra empregaram para introduzir a explicação?

Simplificando.

c)   O que essa palavra revela sobre como será feita a explicação?

Revela que haverá tentativa de apresentar o conceito de forma acessível, sem dados que possam tornar a exposição excessivamente minuciosa ou técnica.

03 – No terceiro parágrafo, os produtores do artigo dirigem-se diretamente ao leitor com a frase “Não se espante!”.

a)   O que poderia causar o espanto do leitor? Por quê?

O termo convecção, porque não é conhecido e poderia ser considerado muito complexo, ou ainda, algo perigoso.

b)   Qual é o efeito desse comentário sobre o leitor?

O comentário pode chamar a atenção para o conceito ou tranquilizar o leitor que teme uma exposição complexa.

04 – O texto apresenta formas de reduzir o impacto das “ilhas de calor urbanas”. Como isso pode ser feito?

      O calor pode ser reduzido com telhados pintados de branco, para que reflitam o calor, ou cobertos por grama ou plantas, que o armazenam. Nos dois casos, atuam como isolante térmico.

REPORTAGEM: A GUERRA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - EDUARDO SZKLARZ - COM GABARITO

 Reportagem: A guerra da inteligência artificial

                         Eduardo Szklarz

        O robô do teste de Rensselaer, o que demonstrou consciência, [...] não é nenhum gênio. Ele se chama NAO, foi criado em 2010 pela empresa francesa Aldebaran Robotics e consegue manter con – versas simples. Não é um modelo de vanguarda – mas conseguiu fazer algo extraordinário. Na experiência, os cientistas pegaram três robôs desse tipo, e programaram a seguinte instrução na memória deles: “Dois de vocês ficaram mudos”. Os cientistas não informaram quais. Em seguida, perguntaram a cada robô: quem está mudo aqui? Normalmente, os robôs ficam quietos (porque estão mudos), ou respondem “não sei”. Até que, após várias tentativas, um deles teve a sacada: “Desculpe. Eu sei a resposta agora. Eu não estou mudo”. Logo, os mudos são os outros dois. O robô conseguiu enxergar a si próprio “de fora” e raciocinar a respeito. Ou seja, tomou consciência de que existe, e pensou sobre isso. De forma rudimentar, claro. Mas que, até onde se sabe, nenhuma máquina tinha conseguido fazer antes.

        O NAO só conseguiu fazer isso porque foi construído usando o modelo de rede neural artificial – que tenta criar máquinas capazes de pensar por si mesmas. Em vez de programar um conjunto de regras rígidas na memória do robô, ensinando o que ele deve ou não fazer, você deixa que ele aprenda sozinho, por tentativa e erro – o robô experimenta todas as ações possíveis, vê as que apresentam o resultado correto (determinado por você), e passa a adotá-las, eliminando as que não funcionam. É uma estratégia semelhante à da seleção natural. E significa que, quando as circunstâncias mudam, a máquina é capaz de se ajustar a elas e evoluir sozinha, repetindo o processo de tentativa e erro. As redes neurais já estão presentes em algumas coisas do dia a dia (são usadas pelos robôs do Google Imagens para classificar e agrupar as fotos da internet, por exemplo), e são consideradas o caminho mais promissor para a inteligência artificial.

        Mas a capacidade de aprender sozinho também permite agir de forma diferente do esperado. Em junho deste ano, um software de rede neural desenvolvido por dois pesquisadores do Google teve uma reação imprevista. Ele foi treinado para conversar – coisa que aprendeu lendo e analisando 62 milhões de legendas de filmes, baixadas do site. Os pesquisadores fizeram dezenas de perguntas ao robô, como “quantas patas tem um gato?”, “qual a cor do céu?”, “o que é altruísmo?”. Ele acertou, sempre dando respostas bem diretas. Exceto numa das questões. Quando perguntado “de que cor é o sangue?”, a máquina disse: “da mesma cor que um olho roxo”. Uma ameaça velada – que ela certamente aprendeu nos filmes, mas que não tinha sido programada para fazer. Em 2013 o supercomputador Watson, da IBM, passou por um caso parecido. Seus criadores o colocaram para ler o site, que explica os significados de gírias. Não acabou bem. Watson se tornou boca-suja. Um dia, respondeu a um pesquisador dizendo que a pergunta dele era bullshit (expressão chula que significa papo-furado). Ele não tinha sido programado para falar palavrão. Acabou falando.

        Xingar não é o fim do mundo. Mas quando máquinas inteligentes estiverem envolvidas em situações críticas, qualquer surpresa poderá ter consequências graves.

Eduardo Szklarz. Disponível em: https://super.abril.com.br/tecnologia/a-guerra-da-inteligencia-artificial. Acesso em: 8 ago. 2018.

Entendendo a reportagem:

01 – O autor da reportagem fez questão de indicar que o NÃO não é um robô sofisticado. Quais trechos informam isso?

      Os trechos são estes: “Não é nenhum gênio”; “Consegue manter conversas simples” e “Não é um modelo de vanguarda”.

02 – Por que a resposta dada por NÃO foi surpreendente?

      Porque ela não estava programada; o robô chegou a uma conclusão “refletindo” sobre a situação em que estava inserido, enxergando a si próprio, tomando consciência de que existe.

03 – Que aspecto físico permitiu a ele dar essa resposta?

      NÃO foi construído usando o modelo de rede neural artificial.

04 – Explique a semelhança existente entre o modo como NÃO e os seres vivos aprendem.

      A aprendizagem ocorre por tentativa e erro, com o indivíduo verificando quais respostas ou ações têm o resultado esperado e descartando as demais.

05 – Por que o caso de NÃO e o de alguns outros computadores têm preocupado os cientistas e inventores?

      Porque as máquinas têm tido reações imprevistas, o que mostra que não é possível o controle total sobre elas.

ARTIGO DE OPINIÃO: FALAR, CALAR - LYA LUFT - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: Falar, calar

                                          Lya Luft

        Hoje eu falo de silêncio. Eu, que amo as palavras, hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas. Fico ausente, estou ausente embora de longe siga pelo milagre da tecnologia tudo o que acontece onde me leem neste instante.

        Ausente presente como tantas vezes tantas pessoas.

        Nas histórias que relato ou invento, hoje não me interessam tanto as tramas e os personagens: somos todos sombras que andam de um lado para o outro, aparecem e desaparecem em quartos, corredores, jardins. Caem de escadas, jogam-se no poço, naufragam como rostos ou ratos.

        A mim seduzem palavras e silêncios, e jeitos de olhar. O formato de uma boca melancólica, ou o baixar de uma pálpebra que esconde o desejo de morrer ou de matar, ódio ou desamparo, hipocrisia, ah, o olhar sorrateiro, o estrábico olhar dos mentirosos.

        A mim interessam as coisas que normalmente ninguém valoriza. Porque o real está no escondido. Por isso escrevo: para esconjurar o avesso das coisas e da vida, de onde nos vem o medo, que impulsiona como a esperança.

        Nas relações amorosas, sou fascinada pela fração de segundo, o lapso mínimo em que os olhares se desencontram e a palavra que podia ser pronunciada se recolhe por pusilanimidade, egoísmo ou autocompaixão. E a cumplicidade se rompe e a gente se sente sozinha.

        O caminho do desencontro é ladrilhado de silêncios, quando se devia falar, e de palavras quando melhor teria sido ficar calado: e a gente sabia, ah, sim, sabia. Pior: é ladrilhado de gestos que não foram feitos quando o outro precisava.

        E no silêncio o peso da omissão, cumplicidade com o erro, se agiganta.

        [...]

Revista Veja, 7/9/2005.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 136-7.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Esconjurar: afastar ou exorcizar; fazer desaparecer.

·        Pusilanimidade: característica de quem é pusilânime (covarde).

02 – Comparem os períodos, depois façam o que se pede no caderno:

·        “Hoje eu falo de silêncio.”

·        “Eu, que amo as palavras, hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas.”         

          a)   Classifiquem os períodos em relação ao número de orações.

          O primeiro período é simples e o segundo é composto.

    b)   A autora se caracteriza por meio de uma oração subordinada adjetiva explicativa. Escreva essa oração.

Que amo as palavras.

c)   Qual oração do segundo período:

·        Se opõe à ideia de silencia?

Que amo as palavras.

·        Se refere ao silêncio?

Eu hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas.

03 – A autora declara que está ausente-presente como tantas pessoas. A palavra ou expressão que melhor indica esse estado é:

a)   Melancolia.

b)   Pusilanimidade.

c)   Silêncio.

d)   Ódio.

04 – Por meio de antíteses, a autora mostra um pouco de sua desilusão. Os pares de palavras que indicam isso são:

a)   Falar x calar.

b)   Ausente x presente.

c)   Aparecem x desaparecem.

d)   Palavras x silêncios.

e)   Tramas x personagens.

05 – A oração subordinada que expressa um fato oposto à ideia da oração principal, confirmando assim as ideias contidas nas questões 2 e 3, é:

a)   “[...] embora de longe siga pelo milagre da tecnologia tudo [...]” (subordinada adverbial concessiva).

b)   “[...] que acontece [...]” (subordinada adjetiva restritiva).

c)   “[...] onde me leem neste instante.” (Subordinada adverbial locativa).

06 – Em seu texto a autora procura explicar o objetivo, a finalidade de sua profissão. A oração subordinada adverbial que indica isso é:

a)   “Porque o real está no escondido.” (Adverbial causal).

b)   “[...] para esconjurar o avesso das coisas e da vida [...]” (Adverbial final).

07 – Leiam a reorganização dos períodos do penúltimo parágrafo:

        “O caminho do desencontro é ladrilhado de silêncios, quando se devia falar, e de palavras quando melhor teria sido ficar calado: e a gente sabia, ah, sim, sabia. Pior: é ladrilhado de gestos que não foram feitos quando o outro precisava.”

        Nesse parágrafo a autora marca os desencontros da vida com momentos. Esses momentos são indicados por orações subordinadas adverbiais temporais. Identifiquem-nas.

      Quando se devia falar; quando o melhor teria sido ficar calado; quando o outro precisava.

TEXTO: INVEJA - KÁTIA FERRAS - COM GABARITO

 Texto: Inveja

            Kátia Ferras

        A jornalista Kátia Ferraz, 40, cresceu ouvindo histórias da avó sobre olho gordo e inveja. Cética, ela nunca deu muita bola e achava que se tratava de folclore.

        Casada e recém-formada com pouco mais de 20 anos, criou com o marido duas empresas: uma de assessoria de comunicação e outra que montava cestas de Natal para empresas.

        Como as encomendas não paravam de chegar, os dois alugaram um galpão grande na Vila Maria, na zona norte de São Paulo. De um dia para o outro, tudo começou a dar errado.

        Eles perderam um cliente grande, em Manaus, que cancelou pedidos, não conseguiram pagar os fornecedores, acabaram perdendo outros clientes, o galpão, acumularam mais dívidas e tiveram que vender os próprios carros para pagar os credores.

        -- "Tudo começou com a visita de um amigo nosso e o padrasto dele lá no galpão", conta.

        Segundo Kátia, o padrasto, desempregado na época, ficou impressionado com as instalações e com aquele monte de cestas.

        -- "Nossa, vocês têm tanta coisa aqui! Tão novinhos e já com tudo isso. A vida é assim: contempla uns e outros não", teria dito ele.

        No dia seguinte, o cliente de Manaus cancelou o pedido. Segundo Kátia, foi um efeito dominó violento. "Chegou uma hora em que não tínhamos dinheiro para mais nada. Começamos a brigar muito e até o nosso casamento acabou", diz a jornalista.

        Para piorar, nos meses em que eles foram afundando, o padrasto do amigo repetia, segundo a jornalista, com prazer, "bem que eu avisei".

        Kátia diz que aprendeu a lição e não conta nada sobre seus planos antes de serem realizados. Um negócio, um emprego, uma compra, ela só mostra depois de realizado. "Não existe inveja boa", diz.

        Além de não existir em versão boa, a inveja é, segundo o psiquiatra e doutor em saúde mental Joaquim Lopes Alho Filho, o único dos sete pecados que pressupõe agressão.

        -- "A inveja é a raiz de toda a violência. O indivíduo pensa "ele é e tem o que eu não sou nem tenho'", diz o médico. "Isso é uma fonte de frustração e o sujeito quer destruir o outro por não ter e não ser."

Folha de São Paulo, 21/4/2005.

Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 52-3.

Entendendo o texto:

01 – Na sua opinião, a inveja pode causar muito mal?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – De que maneiras ela pode afetar as pessoas envolvidas?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – A jornalista narra alguma ação concreta do padrasto do amigo que possa justificar sua conclusão?

      Não. Ela afirma apenas que ele sentiu inveja.

04 – Releiam: “Kátia diz que aprendeu a lição [...]”.

a)   Que lição é essa?

A de que não se deve contar os planos antes de serem realizados.

b)   A lição aprendida por Kátia se baseia em qual raciocínio?

Se ela contar o plano antes de sua realização, ele não dará certo, pois alguém poderá invejá-la.

05 – Que outras causas mais concretas e facilmente comprováveis a jornalista poderia encontrar para o problema da primeira desistência, a da empresa de Manaus?

      A empresa de Manaus poderia estar passando por dificuldades, ou então um concorrente ofereceu cestas mais baratas.

06 – E vocês? Para explicar acontecimentos do seu dia-a-dia (com amigos, com a família...), vocês procuram causas que possam ser comprovadas ou apelam para causas “nebulosas”?

      Resposta pessoal do aluno.

TEXTO: INTELIGÊNCIA É FUNDAMENTAL - BIA SANTANA - COM GABARITO

Texto: Inteligência é fundamental

          Você abriria mão da sua inteligência para ser mais bonito? Tem gente que sim, numa boa. Vaidade descontrolada, consumismo, culpa da mídia, que expõe padrões estéticos irreais, ou intolerância?  Pense um pouco – e, para isso, beleza não ajuda.

Bia Santanna

        “Apesar de saber que a inteligência é o que conta no final, certamente trocaria um pouco da minha por beleza. Acho que teria menos conflitos, melhoraria minha autoestima. Na balada, por exemplo, não tem jeito: todo mundo procura gente bonita”, assume Alexandre Ribeiro, de 19 anos, que diz estar sempre de regime e preocupado com a pele e o cabelo.

        Do outro lado do front, o estudante Ivan Petrich, de 17 anos, acredita que “de cara, a beleza ajuda muito mais que o fato de ser inteligente”. E completa: “Já consegui várias coisas na vida por ser ‘mais ajeitadinho’, por pior que isso possa soar. Na noite, por exemplo, sempre pego umas meninas mais bonitas e levo a melhor numa disputa com um cara considerado mais feio”.

        Verdade seja dita: a garota que tem a pele malcuidada ou o cara com vários quilinhos a mais despertam menos interesse numa festa, por exemplo. Mas a obsessão da rapaziada com a beleza e a vaidade descontrolada não estão virando loucura? Não é exagero, pra dizer o mínimo, aceitar de bom grado trocar inteligência por beleza, ainda mais sabendo que a beleza estética é limitada pelo tempo e a inteligência não? E se alguém parasse pra conversar com a garota espinhuda ou com o cara gordinho na festa não poderia se surpreender com outro tipo de beleza – aquela que não se põe na mesa?

        Na versão de 2005 do Dossiê Universo Jovem, uma pesquisa da MTV com brasileiros de 15 a 30 anos para detectar tendências e entender comportamentos, 60% dos 2.359 entrevistados acreditam que pessoas bonitas têm mais oportunidade na vida. Mais que isso: cerca de 350 delas abririam mão de 25% do conhecimento acumulado para serem 25% mais bonitos. Numa interpretação livre dos dados, dá pra dizer, entre aspas mesmo, que “eles preferem ser bonitos e burros a inteligentes e feios”.

        A busca por um visual mais descolado, magro e malhado parece ter mais importância do que ser inteligente, acumular conhecimento, se embrenhar em cursos legais e aprender línguas pelo mundo. Numa espécie de Teoria da Evolução às avessas, vivemos num mundo onde, aparentemente, só os bonitos sobrevivem. E a vaidade estética ganha de lavada da vaidade intelectual, como se ninguém mais pensasse em ler um bom livro, fazer uma faculdade legal ou aprender a tocar um instrumento. O negócio é ser bonito, custe o que custar, e ponto. Há dezenas de reality shows mundo afora que, quanto maior a mudança estética dos candidatos, maior o ibope. Mas não há nenhum em que você possa ficar enfurnado numa casa durante um mês, que seja, alimentando a alma com informação, lendo livros incríveis, tendo palestras com filósofos inspiradores, conversando com poetas e escritores escolhidos a dedo e escutando só sonzeira da boa.

        “Infelizmente, beleza abre muitas portas. Pode ver, todo mundo é pressionado por essa ditadura da magreza, está sempre fazendo mil dietas, se acabando na academia. Eu já fiz plástica pra reduzir os seios. Não tinha problema de coluna nem nada, mas achava que assim ia ficar mais bonita”, conta Regiane Ferreira, de 21 anos, que entrou tranquilamente em uma concorrida universidade pública do interior paulista. “Claro que não queria ficar burra, mas acho que, sei lá, se trocasse um pouco da minha inteligência por um pouco de beleza não ia ter que ficar me matando por um monte de coisas, estudando feito louca. Eu ia ser modelo e pronto!”.

        “A beleza pode ser um caminho mais fácil para você mostrar que é também inteligente. Quando se é bonito todo mundo parece mais interessado nas coisas que você tem a dizer”, afirma o estudante de Engenharia Elétrica Lucas Micheletto Sobral, de 22 anos, que emagreceu 20 Kg e viu tudo a sua volta mudar. “O mundo dá muito mais chances e atenção a quem é magro ou bonito. A forma como os outros me tratam mudou junto com o meu corpo. Até quando vou comprar roupa as vendedouras são mais atenciosas do que eram”.

        Afinal, beleza é mesmo fundamental? Sim, pra muita gente é. No Orkut, por exemplo, existem pelo menos 11 comunidades (com quase 3 mil participantes) que defendem esse mundo “mais belo”. Até aí tudo bem. O problema é a busca pelo padrão de beleza se torna o único projeto de vida de uma pessoa. Porque as loucuras, doenças e obsessões que vêm como efeito colateral não costumam ser nada belas.

        Em 2003, depois de ser recusada na última etapa de uma entrevista de emprego porque “meu perfil de beleza não se encaixava no da empresa”, a paulista Viviane Vicente entrou em depressão. Não teve dúvidas: largou a faculdade e se internou num SPA. “Até então meus 80 Kg não incomodavam, mas depois de ouvir que meus cursos, estudos e até os testes da entrevista não bastavam para conseguir a vaga, fiquei neurótica”, conta. Tão neurótica que ganhou mais 70 Kg e se juntou aos mais de 800 mil pacientes por ano que recorrem à cirurgia plástica no Brasil. “Fiz várias cirurgias, redução da mama, reconstrução de umbigo, dez lipos nas costas, lipoescultura e até redução de estômago. Não pensava em mais nada, parei de sair com meus amigos. Só queria ser magra e bonita”. Depois de quase ficar bulímica, ela acredita que são os próprios jovens que se impõem essa neurose de ser bonito. “A menina vê uma outra mais bonita na praia, e ainda o namorado olha para essa outra também, pronto: já quer ser igual. Só pensa nisso”.

        Hoje, com 60 Kg a menos, Viviane retomou os estudos e botou na cabeça a real: o que importa é estar bem consigo mesmo – essa é uma vaidade positiva, que não tem nada a ver com padrões estabelecidos ou com o que os outros pensam sobre você.

Revista MTV, set. 2005.

         Fonte: Língua Portuguesa. Viva Português. 9° ano. Editora Ática. Elizabeth Campos. Paula Marques Cardoso. Silvia Letícia de Andrade. 2ª edição. 2011. P. 159-62.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Bulímico: que sofre de bulimia.

·        De bom grado: com satisfação.

·        Dossiê: conjunto de documentos e informações a respeito de uma pessoa, um grupo, uma instituição, etc.

·        Front: campo de batalha.

·        Embrenhar-se: aprofundar-se, estudar com dedicação.

02 – Faça em seu caderno, um quadro colocando as respostas dadas pelos entrevistados, com relação a estas três perguntas:

·        Beleza ou inteligência?

·        Que reocupações tem ou teve para ficar mais bonito(a)?

·        Qual a vantagem de ser bonito(a)?

a)   Alexandre Ribeiro, 19 anos.

Beleza; Está sempre de regime e preocupa-se com a pele e com o cabelo; Quem é bonito tem menos conflitos, melhora a autoestima e se dá bem nas baladas.

b)   Ivan Petrich, 17 anos.

Beleza; O texto não apresenta nenhuma; A beleza facilita as coisas muito mais do que a inteligência.

c)   Regiane Ferreira, 21 anos.

Beleza; Fez plástica para reduzir os seios; Se fosse bonita seria modelo e não precisaria se esforçar por mais nada.

d)   Lucas Micheletto Sobral, 22 anos.

Beleza; Emagreceu 20 Kg; As pessoas ficam mais interessadas no que as pessoas bonitas têm a dizer.

e)   Viviane Vicente.

Beleza; Redução da mama, reconstrução do umbigo, dez lipos nas costas, lipoescultura e redução de estômago; Atende-se ao padrão autoimposto pelos jovens.

03 – Nas situações abordadas pela reportagem, a preocupação dos jovens entrevistados é com a satisfação pessoal ou com a opinião dos outros? Justifique sua resposta.

      Com exceção de Viviane, que aprendeu que o que importa é estar bem consigo mesma, os demais pensam na beleza como forma de conquistar as demais pessoas, seja essa conquista profissional ou afetiva.

04 – De 1 a 5, que grau de importância você atribui a beleza?

1 = nenhuma; 2 = alguma; 3 = moderada; 4 = grande; 5 = excessiva.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Ao longo da reportagem, verificamos que a autora apresenta um contraponto a cada depoimento, a fim de questionar algumas ideias comuns entre os jovens. Indique no caderno os trechos em que ela rebate cada um dos depoimentos transcritos a seguir:

        Depoimento 1: “Claro que não queria ficar burra, mas acho que, sei lá, se trocasse um pouco da minha inteligência por um pouco de beleza não ia ter que ficar me matando por um monte de coisas [...]” (Regiane Ferreira).

a)   Opinião da autora.

“Não é exagero, pra dizer o mínimo, aceitar de bom grado trocar inteligência por beleza, ainda mais sabendo que a beleza estética é limitada pelo tempo e a inteligência não?”.

b)   O que pensa o grupo? É um “bom negócio” trocar inteligência por beleza?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O mais importante é que os alunos relacionem os dados e formem uma opinião sobre o assunto, ainda que limitada a princípio.

        Depoimento 2: “Pode ver, todo mundo é pressionado por essa ditadura da magreza, está sempre fazendo mil dietas, se acabando na academia”. (Regiane Ferreira).

a)   Opinião da autora.

“A busca por um visual mais decolado, magro e malhado parece ter mais importância do que ser inteligente, acumular conhecimento, se embrenhar em cursos legais e aprender línguas pelo mundo.”

b)   O que pensa o grupo? A busca por um visual bonito é mais importante que a busca pelo conhecimento, pelo desenvolvimento da inteligência?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É possível aliar beleza e conhecimento/inteligência. O problema é quando a beleza passa a tomar todos os espaços da vida da pessoa.

        Depoimento 3: “Fiz várias cirurgias, redução de mama, reconstrução de umbigo, dez lipos nas costas, lipoescultura e até redução de estômago. Não pensava em mais nada, parei de sair com meus amigos. Só queria ser magra e bonita”. (Viviane Vicente).

a)   Opinião da autora.

“O problema é a busca pelo padrão de beleza se tornar o único projeto de vida de uma pessoa. Porque as loucuras, doenças e obsessões que vêm como efeito colateral não costumam ser nada belas.”

b)   O que pensa o grupo? Vale tudo para ser mais bonito?

Resposta pessoal do aluno.

06 – No quarto parágrafo são apresentadas informações que reforçam as constatações dos três parágrafos anteriores. Em que se baseiam as informações do quarto parágrafo?

      Na versão 2005 do Dossiê Universo Jovem, uma pesquisa da MTV feita com brasileiros de 15 a 30 anos.

07 – De acordo com os dados do Dossiê Universo Jovem, mais de 50% dos jovens abriria mão de 25% da inteligência para ser 25% mais bonito?

      Não. Segundo o Dossiê, 350 dos 2.359 entrevistados fariam isso, ou seja, cerca de 15%.

08 – Copie no caderno a(s) alternativa(s) correta(s): A reportagem “Inteligência é fundamental” apresenta os seguintes elementos:

·        As causas da valorização da beleza.

·        Um histórico sobre o assunto.

·        Depoimentos de pessoas que nunca se preocuparam com o padrão de beleza vigente e nunca foram infelizes por isso.

·        Depoimentos de pessoas que jamais trocariam a inteligência pela beleza.

·        Provas de que as consequências da busca desenfreada pelo padrão de beleza não são nada agradáveis.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nenhuma das alternativas estão corretas.

09 – Com base na sua resposta ao exercício anterior, copie no caderno a afirmativa correta.

a)   O texto trata o tema de forma aprofundada, mostram-se resultados de uma rigorosa pesquisa sobre o assunto, confronto de ideias, depoimentos de especialistas.

b)   O texto trata o tema de forma superficial, restringindo-se a apresentar depoimentos com praticamente o mesmo ponto de vista.

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

TEXTO: VEZ E VOZ DO CIDADÃO - ADAPTADO POR MARIA NILCÉIA DE S. TURETA - COM GABARITO

 TEXTO: VEZ E VOZ DO CIDADÃO

         No século passado, houve duas grandes guerras mundiais, a primeira de 1914-1918 e a segunda de 1939-1945, foram, portanto, dez anos de muita crueldade 42 humana que se alastrou pelo mundo, milhões de pessoas foram assassinadas.

          Após mais de setenta anos, ainda continua a luta pela garantia dos Direitos Humanos. Segundo o Professor e Ex-Ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, “(...) em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, reunida em Paris, adotava a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o primeiro documento de âmbito internacional dedicado especificamente aos direitos humanos.”  

         Esse documento abarca as dimensões civil, política, econômica, social e cultural, prevendo direitos e deveres aos cidadãos, independente de sexo, etnia e condição social. Surgiu a partir dos dois Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e o de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assim, na Declaração há a Carta Internacional dos Direitos Humanos que fundamenta as convenções, seminários, estudos, palestras, documentos e ampara legislações que abarcam as questões sobre racismo, o papel da mulher na sociedade, a tortura, os direitos à criança e ao adolescente, entre outros.

         Apesar da Declaração ter início em 1948, somente em 1993, na Conferência de Viena sobre Direitos Humanos foi reafirmada a universalidade dos direitos humanos e consagrada a legitimidade da preocupação internacional, fortalecendo o processo de construção para que todos tenham vez e voz nessa sociedade.

         O Professor Luiz Felipe Lampreia relata que: “O Brasil contribuiu muito para a edificação do sistema internacional de promoção e proteção dos direitos humanos e continua a contribuir para seu contínuo aprimoramento. Cabe lembrar que a Delegação brasileira participou ativa e construtivamente dos trabalhos preparatórios da Declaração Universal de Direitos Humanos, por ocasião da Assembleia-Geral de 1948. Naquela época, nossa Delegação, refletindo o clima da Constituição de 1946 e representando um país que começava a re-exercitar-se, com entusiasmo, na prática democrática, sobressaiu por sua postura liberal, colocando-se entre as que defendiam a criação de mecanismos de proteção internacional dos direitos humanos. Mais recentemente, em 1993, coube ao Brasil ocupar a presidência do Comitê de Redação na Conferência de Viena, função na qual nossa diplomacia foi capaz de influir de maneira decisiva para a superação de impasses que ameaçavam o bom êxito da Conferência.”

          O Brasil é um país em desenvolvimento e, de acordo com alguns especialistas, vivemos a “Terceira Revolução Industrial”, a qual vem transformando a vida dos seres humanos, seja na robótica, na informática, na genética, na 43 telecomunicação entre outros setores. Por outro lado, percebe-se que a maioria das pessoas defendem de forma implícita ou explicitamente interesses próprios esquecendo conceitos simples de sentimentos e competências socioemocionais para viver em sociedade, os quais deveriam estar no topo da revolução e construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

         Em suma, esquecer o cenário atual diante da nossa diversidade cultural, desigualdade social, entre tantos outros obstáculos, é apagar a história de toda uma civilização que tem lutado para construção da equidade e valorização humana.

 Texto adaptado por Maria Nilcéia de S. Tureta

 Disponível em:http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/mre000065.pdf. Acesso em: 01 jul 2020.

Após a leitura - Responda às questões:

1)   Conseguiram constatar as expectativas em relação ao texto? Explique.

 Resposta Pessoal

 2)   Qual o assunto abordado no texto?

A luta pelos Direitos Humanos abarcando as dimensões civil, política, econômica, social e cultural, prevendo direitos e deveres aos cidadãos, independente de sexo, etnia e condição social.

 3)   Alguns trechos durante o texto são apresentados entre aspas. O que isso quer dizer?

 As aspas comprovam a fala do Professor e Ex-Ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia e nomeia o novo período que vivemos defendido por alguns especialistas.

4)   Consegue fazer uma relação do texto com o atual contexto do Brasil? Escreva o que você pensa.

Resposta pessoal.

 5)   Assinale a(s)  alternativa(s) que apresenta uma opinião.

I-             “O Brasil é um país em desenvolvimento e, de acordo com alguns especialistas, vivemos a “Terceira Revolução Industrial”, a qual vem transformando a vida dos seres humanos, seja na robótica, na informática, na genética, na telecomunicação, entre outros setores.”

II-           “No século passado, houve duas grandes guerras mundiais: a primeira de 1914-1918 e a segunda de 1939-1945. Foram, portanto, dez anos de muita crueldade humana que se alastrou pelo mundo – milhões de pessoas foram assassinadas.”

III-         “Mais recentemente, em 1993, coube ao Brasil ocupar a presidência do Comitê de Redação na Conferência de Viena [...]”.

IV- “[...] segundo o Professor e Ex-Ministro das Relações   Exteriores Luiz Felipe Lampreia ‘[…] em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia-Geral das Nações Unidas, reunida em Paris, adotava a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o primeiro documento de âmbito internacional dedicado especificamente aos direitos humanos.’”