sábado, 11 de julho de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: NOSSA FOME - JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Nossa fome

        José Fernandes de Oliveira

        Que pequenos ou grandes países em guerra ou vítimas de catástrofes impossíveis de contornar tenham conhecido e ainda conheçam a fome é compreensível, ainda que não se explique.

        Que países vítimas de clima ingrato e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a ração alimentar de seus filhos, entende-se.

        Que um país da extensão do nosso, com um oceano a lhe banhar as costas, com terras cultiváveis, inclusive as do ressequido Nordeste, conheça o triste espetáculo da fome no campo e nos pequenos e grandes centros é mais do que triste e lamentável: é revoltante.

        O país apontado como o futuro celeiro do mundo está vendo seus filhos remexer monturos e latas de lixo, saquear depósitos e armazéns, minguar de fome, e, no desespero de não saber onde encontrar a próxima ração dos filhos, cair na tentação da violência.

        Até agora o fenômeno, que já existia há muitos anos no campo e na periferia das cidades, não sensibilizava a imprensa porque parecia pequeno e contido. Agora, porém, explode na casa do vizinho desempregado e vem para pertinho de todos. Perto demais para deixar o brasileiro indiferente. Não é possível disfarçar a fome de agora com consumismo, sexo, futebol e palavras de esperança. A fome está doendo demais.

        O Zé e a Maria começam a cair nas filas e no emprego, de noite o estomago dói e o dia inteiro as crianças choram de fome, enquanto pai esmurra a parede com ódio do governo e dos que deixaram o país chegar a esse estado de coisas.

        Aumentam os assaltos, a violência, o medo e o desespero. E as explicações já não explicam por que um país como o nosso se endividou tanto, planejou tão mal e plantou de maneira tão errada, permitindo preços extorsivos que dificultam o plantio e a colheita e tornam impossível a compra do que o solo produziu.

        Na terra que, segundo Pero Vaz de Caminha, “é boa e dá de tudo”, o povo passa fome.

        Em 1980, o Papa repetiu isso em Teresina. A Igreja vive dizendo isto. Os brasileiros mais conscientes previam isto. E nada foi feito. E o governo, a oposição e as lideranças precisam achar a resposta antes da anarquia. Um povo com fome devora tudo, inclusive seus líderes.

        No momento, o Brasil tem muitos problemas, e graves, mas um que não pode esperar é a comida. Matar a fome do povo é uma urgência. E não adianta explicar. A fome do brasileiro não pode ser explicada nem justificada. Não é acaso, é desgoverno mesmo.

                      OLIVEIRA scj, José Fernandes de. “O recado”. Revista Mensal de Problemas Humano-Cristãos, abr. 1984.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 110/2.

Entendendo o texto:

01 – Identifique o significado, no texto, das palavras em destaque:

a)   “... ou vítimas de catástrofes impossíveis de contornar...”

Pessoas que sofrem infortúnios / grandes desgraças / solucionar.

b)   “Que países de clima ingrato e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a ração alimentar, entende-se”.

Inconstante, improdutivo.

c)   “Que um país da expansão do nosso, com um oceano a banhar-lhe a costa, com terras cultiváveis, inclusive as do ressequido Nordeste, conheça o triste espetáculo da fome no campo...”

Que podem ser cultivadas: terras onde se pode plantar e colher.

02 – Substitua as locuções adjetivas pelo adjetivo equivalente. Escolha quatro e forme frases. Faça tudo em seu caderno.

a)   Com fomeFaminto.

b)   Fome que não se explicainexplicável.

c)   Nordeste com secaressequido.

d)   Brasileiro com indiferençaindiferente.

03 – “A fome do brasileiro não pode ser explicada nem justificada”. Qual é a diferença entre explicar e justificar a fome do brasileiro?

      Explicar: é identificar as causas.

      Justificar: é legitimar as causas.

04 – “... enquanto o pai esmurra a parede com ódio do governo e dos que deixaram o país chegar a esse estado de coisas”. Substitua a expressão em destaque sem alterar o sentido do texto.

      Essa situação / a esse ponto.

05 – Identifique a diferença de sentido entre:

·        “A igreja vive dizendo isso”.

·        O padre vive dizendo isso.

      A 1ª frase, a posição da instituição está sendo apresentada e, a 2ª frase, a opinião de apenas um dos membros da instituição.

06 – “Que pequenos ou grandes países em guerra ou vítimas de catástrofes impossíveis de contornar tenham conhecido e ainda conheçam a fome é compreensível, ainda que não se explique.”

a)   Que catástrofes poderiam ser impossíveis de contornar?

Aquelas causadas pela própria natureza, independentemente da ação humana.

b)   No Brasil, inúmeras pessoas ainda atravessam dificuldades devido ao excesso ou à falta de chuva. Milhares de pessoas que vivem em encostas de morros, por exemplo, ficam desabrigadas e desamparadas após grandes enchentes. Nesses casos, você acha que as catástrofes são também compreensíveis? Por quê?

Em casos como esse, a ausência de condições adequadas de habitação provocou a tragédia e não a natureza.

07 – “O país apontado como futuro celeiro do mundo está vendo seus filhos remexer monturos e lata de lixo, saquear depósitos e armazéns...”

a)   Qual o sujeito do verbo estar?

O país apontado como futuro celeiro do mundo.

b)   Que país é apontado como futuro celeiro do mundo?

O Brasil, devido às grandes áreas potencialmente cultiváveis.

c)   No lugar do nome do país, foi empregada uma expressão. Ela oferece informações a respeito do país. Qual a relação entre a informação oferecida e a ideia apresentada no terceiro parágrafo.

A expressão futuro celeiro do mundo reforça a ideia defendida no terceiro parágrafo.

d)   Conclua: qual o efeito de usarmos uma expressão no lugar de um nome para indicarmos o sujeito de uma ação?

Oferecer informações a respeito do sujeito relevantes em relação à tese apresentada.

08 – Quem são o Zé e a Maria a que o autor se refere?

      Os nomes utilizados não são indivíduos, o autor usou nomes comuns na sociedade brasileira para representar todo o povo.

09 – De acordo com o texto, quem teria deixado o país chegar a “esse estado de coisas”?

      O governo, a oposição, as lideranças.

10 – “Na terra que, segundo Caminha, ‘é boa e dá tudo’, o povo passa fome”. Pero Vaz de Caminha, na época do descobrimento do Brasil, escrevia cartas ao governo português. Muitas vezes, exaltava as belezas e os recursos do país. Qual a importância, para o texto, de se mencionar as palavras de Caminha?

      É uma referência ao início da história da colonização do Brasil e ao fato de que o país sempre contou com recursos naturais suficientes para que não houvesse fome.

11 – “Em 1980 o papa repetiu isso em Teresina. A igreja vive dizendo isso. Os brasileiros mais conscientes previam isso.” Explique a ideia que está sendo substituída pelo pronome isso.

      A ideia de que em uma terra em que há tantos recursos o povo passa fome.

12 – “E o governo, a oposição e as lideranças precisam achar a resposta antes da anarquia. Um povo com fome devora tudo. Inclusive seus líderes”.

a)   O verbo devorar está sendo utilizado no sentido denotativo ou conotativo?

Conotativo. Porque não possui somente o significado de comer “com fúria” mas de “engolir” os causadores de sua fome, miséria, estado de calamidade.

b)   Explique de que maneira a escolha dessa palavra está relacionada ao tema abordado pelo autor.

Devorar está relacionado à fome.

13 – “É desgoverno mesmo!”

a)   Considerando a afirmação em destaque, responda: para o autor, quem é o responsável pela fome no Brasil? Por quê?

O governo, pois ele considera que os governantes e os demais políticos não têm feito a sua parte.

b)   A escolha de uma palavra que é a negação de governo tem um significado. Que significado é esse?

Para o autor, o governo é omisso.

c)   De acordo com o texto, a fome provocada pela omissão dos governantes pode levar à anarquia. Veja mais uma vez o significado de anarquia e de desgoverno no dicionário e procure explicar qual seria a diferença entre a anarquia e o desgoverno mencionado pelo autor.

Anarquia – seria a ausência de uma autoridade estabelecida ou o estabelecimento de uma ordem em que o povo faz valer os seus direitos.

Desgoverno – é também a ausência de uma autoridade estabelecida, mas por omissão e não por não haver governantes oficiais.

14 – Por que, segundo o autor, é revoltante o fato de haver fome no Brasil?

      Porque a fome no Brasil não é fruto da falta de recursos, mas de administração inadequada dos recursos.

15 – Você concorda com a opinião do autor? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.


quinta-feira, 9 de julho de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): TRISTE, LOUCA OU MÁ - JULIANA STRASSACAPA - COM GABARITO

Música(Atividades): Triste, Louca ou Má

                                                               Juliana Strassacapa

Triste, louca ou má

Será qualificada ela

Quem recusar

Seguir receita tal.

 

A receita cultural

Do marido, da família

Cuida, cuida da rotina.

 

Só mesmo rejeita

Bem conhecida receita

Quem, não sem dores

Aceita que tudo deve mudar.

 

Que um homem não te define

Sua casa não te define

Sua carne não te define

Você é seu próprio lar.

 

Um homem não te define

Sua casa não te define

Sua carne não te define

Você é seu próprio lar.

 

Ela desatinou

Desatou nós

Vai viver só.

 

Ela desatinou

Desatou nós

Vai viver só.

 

Eu não me vejo na palavra

Fêmea: Alvo de caça

Conformada vítima.

 

Prefiro queimar o mapa

Traçar de novo a estrada

Ver cores nas cinzas

E a vida reinventar.

 

E um homem não me define

Minha casa não me define

Minha carne não me define

Eu sou meu próprio lar.

 

E um homem não me define

Minha casa não me define

Minha carne não me define

Eu sou meu próprio lar.

 

Ela desatinou

Desatou nós

Vai viver só.

 

Ela desatinou

Desatou nós

Vai viver só.

 

Ela desatinou (e um homem não me define)

Desatou nós (minha casa não me define)

Vai viver só (minha carne não me define)

Eu sou meu próprio lar.

 

Ela desatinou (e um homem não me define)

Desatou nós (minha casa não me define)

Vai viver (minha carne não me define)

Eu sou meu próprio lar.

          Composição: Sebástian Piracés - Ugarte / Rafael Gomes / Mateo Piracés - Ugarte / Andrei Martinez Kozyreff / Juliana Strassacapa.

Entendendo a canção:

01 – A alternativa que melhor interpreta esta canção, da banda “Francisco, El Hombre”, é:

a)   “Triste”, “louca” e “má” são qualificações sempre atribuídas a mulheres que não se inserem em famílias tradicionais e rompem com preceitos sociais atuais.

b)   A “receita cultural”, por ser “do marido, da família”, está no âmbito do familiar, portanto não se refere à sociedade. Dessa forma, rompe com essa receita é algo indolor, como afirmar os versos “Quem não sem dores / Aceita que tudo deve mudar”.

c)   Nos versos 13 e 14, os termos “casa” e “carne” são metáforas que representam os papéis sociais atribuídas às mulheres.

d)   A construção “ela desatinou” é paradoxal em relação à canção, já que o eu lírico critica a mulher que rompe com essa “receita” por perder o juízo.

e)   A expressão “Desatou nós” é polissêmica, assim como a expressão “queimar o mapa”, e ambas podem ser lidas, inclusive, de modo denotativo na canção.

02 – Que crítica há na canção?

      A canção critica o fato de que, às mulheres, são atribuídos certos papéis sociais, e a problematização da ideia de normatização de certos comportamentos sociais.

03 – Considera-se a letra dessa canção, na qualidade de poesia moderna com que tipo de texto?

      Um texto que narra o processo de emancipação e a busca por direitos iguais das mulheres.

04 – Como é a mulher citada na canção?

      Ela não quer ter filhos, deseja viver sozinha, não pretende ter uma vida que se resume basicamente em limpar a casa, cuidar dos filhos e servir seu marido, que acredita ter um empoderamento sobre ela.

05 – Por que a mulher da canção é vista como triste, louca e má?

      Por ela rejeitar a figura masculina.

06 – A expressão “A receita cultural”, que as mulheres não devem seguir, citada na canção, é imposta por quem?

      É imposta por uma ideologia na sociedade.


CRÔNICA: ELA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: ELA       

                  Luís Fernando Veríssimo

        Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa. Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso Filho – Naquele tempo só tinha o mais velho – ficou maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir.

        Combinamos que ele só poderia ir para o quarto dos fundos depois de fazer todas as lições.

        -- Certo, certo. – Eu não ligava muito para ela. Só para ver um futebol ou política. Naquele tempo, tinha política. Minha mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. Noites Cariocas… Lembra de Noites Cariocas?

        -- Lembro vagamente. O senhor vai querer mais alguma coisa? E me serve mais um destes. Depois decidimos que ela podia ficar na copa. Aí ela já estava mais crescidinha. Jantávamos com ela ligada, porque tinha um programa que o garoto não queria perder. Capitão Qualquer Coisa. A empregada também gostava de dar uma espiada. José Roberto Kely. Não tinha um José Roberto Kely?

        -- Não me lembro bem. O senhor não me leva a mal, mas não posso servir mais nada depois deste. Vamos fechar.

        -- Minha mulher nem sonhava em botar ela na sala. Arruinaria toda a decoração. Nessa época já tinha nascido o nosso segundo filho e ele só ficava quieto, para comer, com ela ligada. Quer dizer, aos pouco ela foi afetando os hábitos da casa. E então surgiu, surgiu um personagem novo nas nossas casas que iria mudar tudo. Sabe quem foi?

        -- Quem?

        -- O Sheik de Agadir. Eu, se quizesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou o meu lar.

        -- Certo. Vai querer a conta? – Minha mulher se apaixonou pelo Sheik de Agadir. Por causa dele, decidimos que ela poderia ir para a sala de visitas. Desde que ficasse num canto, escondida, e só aparecesse quando estivesse ligada. Nós tínhamos uma vida social intensa. Sempre iam visitas lá em casa. Também saíamos muito. Cinema, Teatro, jantar fora. Eu continuava só vendo futebol e notícia. Mas minha mulher estava sucumbindo depois do Sheik de Agadir, não queria perder nenhuma novela.

        -- Certo. Aqui está a sua conta. Infelizmente temos que fechar o bar.

        -- Eu não quero a conta. Quero outra bebida. Só mais uma.

        -- Está bem… Só mais uma.

        -- Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía de frente dela. Foi praticamente criado por ela. É mais apegado à ela do que a própria mãe. Quando a mãe briga com ele, ele corre pra perto dela pra se proteger. Mas onde é que eu estava? Nas novelas. Minha mulher sucumbiu às novelas. Não queria mais sair de casa. Quando chegava visita, ela fazia cara feia. E as crianças, claro só faltavam bater em visita que chegasse em horário nobre. Ninguém mais conversava dentro de casa. Todo mundo de olho grudado nela. E então aconteceu outra coisa fatal. Se arrependimento matasse…

        -- Termine a sua bebida, por favor. Temos que fechar.

        -- Foi a copa do mundo. A de 74. Decidi que para as transmissões da copa do mundo ela deveria ser bem maior. E colorida. Foi a minha ruína. Perdemos a copa, mas ela continua lá, no meio da sala. Gigantesca. É o móvel mais importante da casa. Minha mulher mudou a decoração da casa para combinar com ela. Antigamente ela ficava na copa para acompanhar o jantar. Agora todos jantam na sala para acompanhá-la.

        -- Aqui está a conta.

        -- E, então, aconteceu o pior. Foi ontem, hora do Dancin’Days e bateram na porta. Visitas. Ninguém se mexeu. Falei para a empregada abrir a porta, mas ela fez “Shhh!” sem tirar os olhos da novela. Mandei os filhos, um por um, abrirem à porta, mas eles nem me responderam. Comecei a me levantar. E então todos pularam em cima de mim. Sentaram no meu peito. Quando comecei a protestar, abafaram o meu rosto com a almofada cor de tijolo que minha mulher comprou para combinar com a maquiagem da Júlia. Só na hora do comercial, consegui recuperar o ar e aí sentenciei, apontando para ela ali, impávida no meio da sala: “Ou ela, ou eu!”. O silêncio foi terrível.

        -- Está bem… mas agora vá para casa que precisamos fechar. Já está quase clareando o dia…

        -- Mais tarde, depois da Sessão Coruja, quando todos estava dormindo, entrei na sala, pé ante pé. Com a chave de parafuso na mão. Meu plano era atacá-la por trás, abri-la e retirar uma válvula qualquer. Não iria adiantar muita coisa, eu sei. Eles chamariam um técnico às pressas. Mas era um gesto simbólico. Ela precisava saber quem é que mandava dentro de casa. Precisava sabe que alguém não se entregava completamente a ela, que alguém resistia. E então, quando me preparava para soltar o primeiro parafuso, ouvi a sua voz. “Se tocar em mim você morre”. Assim com toda a clareza. “Se tocar em mim você morre”. Uma voz feminina, mas autoritária, dura. Tremi. Ela podia estar blefando, mas podia não estar. Agi depressa. Dei um chute no fio, desligando-a da tomada e pulei para longe antes que ela revidasse. Durante alguns minutos, nada aconteceu. Então ela falou outra vez. “Se não me ligar outra vez em um minuto, você vai se arrepender”. Eu não tinha alternativa. Conhecia o seu poder. Ela chegara lá em casa pequenininha e aos poucos foi crescendo e tomando conta. Passiva, humilde, obediente. E vencera. Agora chegara a hora da conquista definitiva. Eu era o único empecilho à sua dominação completa. Só esperava um pretexto para me eliminar com um raio católico. Ainda tentei parlamentar. Pedi que ela poupasse a minha vida. Perguntei o que ela queria, afinal. Nada. Só o que ela disse foi “Você tem 30 segundos”.

        -- Muito bem. Mas preciso fechar. Vá para casa.

        -- Não posso.

        --Por quê? – Ela me proibiu de voltar lá.

Luís Fernando Veríssimo.

Entendendo a crônica:

01 – Identifique as personagens do texto. Quem são?

      A televisão, a empregada, o filho mais velho, o narrador, a mulher, o segundo filho e o filho menor.

02 – O narrador do texto:

a)   Observa de fora e conta a história (narrador-observador).

b)   Participa da história que conta (narrador-personagem).

03 – Em que espaço se passa a história?

      Se passa dentro de casa, quartinho dos fundos, a copa e a sala.

04 – Na crônica o discurso predominante é?

a)   Discurso direto.

b)   Discurso indireto.

05 – Qual é o tempo da crônica, cronológico ou psicológico?

      Cronológico, pois é determinado pela sucessão dos acontecimentos narrados.

06 – O título da crônica é um pronome pessoal. A quem se refere esse pronome?

      Ela – é um pronome pessoal (3ª pessoa do singular). Se refere a televisão.

07 – Do que fala o texto?

      Faz uma crítica que a TV está afetando as relações familiares dentro da sua casa.

08 – Na crônica são citados programas de TV de uma determinada época. Cite os programas falados no texto e diga a que ano referem-se.

·        Programa Noites Cariocas TV Rio 1965. José Roberto Kely.

·        Telenovela Rede Globo 1966/7. Sheik de Agadir.

·        Telenovela Rede Globo 1978/9. Dancin’Days.

·        Sessão de filmes nas madrugadas da Rede Globo 1972/2016. Copa do mundo 74 e Sessão coruja.

·        Clube do Capitão AZA TV Tupi 1966/79. Capitão Qualquer Coisa.

09 – Na crônica temos um objeto que adquire ações próprias dos seres humanos, a esse fato denominamos personificação. Encontre no texto ações humanos realizadas por um objeto e escreva-as abaixo.

      O objeto é a televisão.

      “... Tão pequenininha! Foi uma festa. Botamos ela num quartinho dos fundos”.

      “... Aí ela já estava mais crescidinha...”

      “... Quer dizer, aos pouco ela foi afetando os hábitos da casa”.

 


CRÔNICA: O PAVÃO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

Crônica: O Pavão

               Rubem Braga

        Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

        Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

        Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Rio, novembro, 1958

Simples e ternas. Assim são as lindas crônicas de Rubem Braga.
                      Texto extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 149.  Agradeço ao Antônio pela lembrança.

Entendendo a crônica:

01 – No 2° parágrafo do texto, a expressão ATINGIR O MÀXIMO DE MATIZES significa o artista:

a)   Fazer refletir, nas penas do pavão, as cores do arco-íris.

b)   Conseguir o maior número de tonalidades.

c)   Trazer com que o pavão ostente suas cores.

d)   Fragmentar a luz nas bolhas d’água.

02 – No trecho da crônica, os elementos coesivos produzem a textualidade que sustenta o desenvolvimento de uma determinada temática. Com base nos princípios linguísticos da coesão e da coerência, pode-se afirmar que:

a)   Na passagem, “Mas andei lendo livros”, o emprego do gerúndio indica uma relação de proporcionalidade.

b)   O pronome demonstrativo. “Este” (linha 6) exemplifica um caso de coesão anafórica, pois seu referente textual vem expresso no parágrafo seguinte.

c)   O articulador temporal “por fim” (linha 9) assinala, no desenvolvimento do texto, a ordem segundo a qual o assunto está sendo abordado.

d)   A expressão. “Oh! Minha amada” é um termo resumitivo que articula a coerência entre a beleza do pavão e a simplicidade do amor.

e)   O pronome pessoal “ele” (linha 7), na progressão textual, faz uma referência ambígua a “pavão”.

03 – De acordo com o texto, a “leitura” é uma tarefa capaz de:

a)   Apresentar características do pavão.

b)   Divulgar informações sobre arco-íris.

c)   Esclarecer sobre fatos da realidade.

d)   Modificar os hábitos da sociedade.

04 – Ao dizer que “o pavão é um arco-íris de plumas”, o autor pretende mostrar que:

a)   Formar um arco-íris “de pluma” depende das mesmas condições de formação do arco-íris.

b)   Molhar o pavão em dias de sol é um fator que contribui na formação das suas cores.

c)   O fenômeno que forma o arco-íris é similar à formação das cores nas penas do pavão.

d)   O pavão apresenta sete cores durante a formação de cores que dão a vida às suas plumas.

05 – Qual destes trechos, retirados do texto, apresenta uma opinião?

a)   “Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial”.

b)   “Mas andei lendo livros, e descobrir que aquelas cores todas não existem na pena do pavão”.

c)   “O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma”.

d)   “[...] de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos [...]”.


TEXTO: UM PRÍNCIPE MEDROSO - ROSÂNGELA TRAJANO - COM GABARITO

Texto: Um príncipe medroso

          Rosângela Trajano

        Dizem que os príncipes devem ser corajosos. Mas ninguém é igual a outro. E isso é verdade. Vou lhes provar. Havia um príncipe que tinha medo de muitas coisas, o medo fazia parte do seu jeito de ser, ninguém podia modificar aquilo de um dia para o outro.

        As pessoas sorriam do príncipe e diziam: – Quem já viu um príncipe medroso? – E o coitado do príncipe não tinha coragem de enfrentar dragões, pântanos e muito menos bruxas. Ele só queria ter uma vida normal como qualquer outra pessoa da corte.

        Mas, um dia, depois de tanto procurar pela coragem foi pego de surpresa por um leão feroz enquanto caçava. Lutou com o leão. Venceu o duelo. O leão fugiu com medo dele.

        Depois daquele dia descobriu que a coragem estava escondida dentro de si, que tudo na vida desabrocha quando necessitamos. É a lei da sobrevivência que nos faz agir ou falar em nossa defesa.

Rosângela Trajano.

Entendendo o texto:

01 – Como era o príncipe? 

      Ele tinha medo de muitas coisas.

02 – O que as pessoas diziam do príncipe?

      “– Quem já viu um príncipe medroso?”

03 – Onde estava a coragem do príncipe?

      Estava escondida dentro de si.

04 – Por que a coragem do príncipe foi despertada de repente?

      Porque foi pego de surpresa por um leão feroz enquanto caçava.

05 – Do que você tem medo?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Qual medo você queria perder?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Você já precisou enfrentar um medo? Qual?

      Resposta pessoal do aluno.

     


TEXTO: O MENINO QUE QUERIA SER BOMBEIRO - ROSÂNGELA TRAJANO - COM GABARITO

Texto: O menino que queria ser bombeiro

           Rosângela Trajano

        O menino tinha um sonho. Ele sonhava ser bombeiro. Quando ouvia a sirene do carro dos bombeiros, o menino já ficava em alerta. Parecia um soldado em combate. Estava sempre pronto para salvar vidas.

        O menino ganhou do seu pai um carro de bombeiro. Ficou todo feliz com o seu presente. Dizia a todos que quando crescesse seria um bombeiro para ser um herói. Não teria medo de fogo e nem de alturas. Correria riscos para salvar vidas.

Rosângela Trajano.

Entendendo o texto:

01 – Qual o título do texto?

      “O menino que queria ser bombeiro”.

02 – Qual o sonho do menino?

      Sonhava em ser bombeiro.

03 – Como ficava o menino ao ouvir a sirene do carro dos bombeiros?

      O menino já ficava em alerta.

04 – O que o menino dizia a todos?

      Que quando crescesse seria um bombeiro para ser um herói.

05 – Do que o menino não teria medo?

      Ele não teria medo de fogo e nem de alturas.

06 – Escreva um pequeno texto contando sobre o que você quer ser quando crescer?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – O que é um herói?

      É um personagem modelo, que reúne, em si, os atributos necessários para superar, de forma excepcional, um determinado problema.

08 – Como nos tornamos heróis?

      Quando damos um bom exemplo.

09 – Por que é bom ser um herói?

      Para ser uma referência para as pessoas, a família.

10 – O que os heróis sofrem?

      Porque trazem uma carga extremamente pesada, maldições, invejas e até complicações com seus próprios poderes, por isso sofrem.

 


ANÚNCIO PUBLICITÁRIO: O QUE FAZ VOCÊ FELIZ? REVISTA VEJA - COM GABARITO

Anúncio: O que faz você feliz?


A lua, a praia, o mar
A rua, a saia, amar...
Um doce, uma dança, um beijo,
Ou é a goiabada com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde,
Arroz com feijão, matar a saudade...
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?
Um filme, um dia, uma semana
Um bem, um biquíni, a grama...
Dormir na rede, matar a sede, ler...
Ou viver um romance? O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa
Um cafuné, café com leite, rir à toa,
Um pássaro, ser dono do seu nariz...
Ou será um choro que te faz feliz?
A causa, a pausa, o sorvete,
Sentir o vento, esquecer o tempo,
O sal, o sol, um som
O ar, a pessoa ou o lugar?
Agora me diz,
O que faz você feliz?

                         (Anúncio publicitário do Grupo Pão de Açúcar – veiculado na Revista VEJA, edição de 21 de março de 2007).

Entendendo o anúncio:

01 – Nesse texto publicitário predomina um padrão de linguagem coloquial, no qual podem ocorrer desvios do padrão culto da língua. Assinale a alternativa contendo desvio(s).

a)   “Ou é a goiabada com queijo”.

b)   “O aumento, a casa, o carro que você sempre quis”.

c)   “O que faz você feliz”.

d)   “Um cafuné, café com leite, rir à toa”.

e)   “Agora me diz, o que faz você feliz”.

02 – Podemos destacar alguns elementos que caracterizam o texto como propaganda de uma rede de supermercados. Assinale a alternativa que cumpre melhor esse intento.

a)   Referência explícita a produtos industrializados, tais como “saia”, “doce”, “goiabada”, “queijo”, todos potencialmente à venda em supermercados.

b)   Apelo à ideia de que a felicidade depende de elementos naturais, tais como “lua”, “praia” e “mar”, aonde só se chega por meio das relações de compra e venda da sociedade de consumo.

c)   Menção aos atos de “dormir cedo e acordar tarde”, que evocam, por oposição e contraste, o ciclo do trabalho, base da vida voltada para as necessidades do consumo.

d)   Citação dos sonhos, em “ou são os sonhos que te fazem feliz?”, para simbolizar tudo aquilo que a noção do consumo leva as pessoas a almejar.

e)   Evocação da liberdade, na figura do pássaro, em “um pássaro, ser dono do seu nariz”, a qual sugere abandonar as limitações das pessoas compelidas a consumir mais.