domingo, 16 de abril de 2017

CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO - RUTH ROCHA - COM GABARITO

CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO
                      Ruth Rocha

         Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.
         Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...
         Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.
         É, no vidro!
         Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!
         O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
         Se a gente reclamava?
         Alguns reclamavam.
         E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
         Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso é que ela tinha boa postura.
         Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer à vontade.
         Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior...
         Tinha menino que tinha até que sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
         Mas uma vez, veio para a minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.
         Aí não tinha vidro pra botar esse menino.
         Então os professores achavam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...
          Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.
         O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firula respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...
         E os professores não gostavam nada disso...
         Afinal, o Firuli podia ser um mau exemplo pra nós...
         E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até meio que gozava a cara da gente que vivia preso.
         Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.
         Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.
         Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:
         --- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?
        Mas Dona Demência não era sopa.
        Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...
        Já no outro dia a coisa tinha engrossado.
        Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.
        Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo, que era o diretor lá da escola.
        Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:
        --- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!
        A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.
        E seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar os meninos um por um e enfiar à força dentro dos vidros.
        Mas nós estávamos loucos para sair também, e para cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro --- já tinha dois fora.
        E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.
        E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais e doa Demência já estava na janela gritando --- SOCORRO! VÂNDALOS! BÁRBAROS!
         (Pra ela bárbaro era xingação).
         Chamem os Bombeiros, o Exército da Salvação, a Polícia Feminina...
         Os professores das outras classes mandaram, cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.
         E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6ª série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.
         Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.
         Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.
         Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria toda de novo.
         Então diante disso seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais.
         E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
         Dona Demência, que apesar do nome era louca nem nada, ainda timidamente:
         --- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...
         Seu Hermenegildo não se perturbou:
         --- Não tem importância. A gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...
         E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
         Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...

  ROCHA, Ruth. Este admirável mundo louco. São Paulo: Salamandra, 1986.

1 – Por que os alunos se acostumaram a estudar nessa escola em que tinham que ficar dentro de recipientes de vidro?
       Eles não conheciam nenhuma escola diferente, e todos diziam que aquela era a forma de aprender.

2 – Que consequências o hábito de estudar dentro de vidros causava aos alunos?
       Eles se tornavam tímidos, com medo de das opiniões ou de agir de maneira diferente da escolhida pelos outros, porque ficavam inseguros e dependentes.

3 – O que acontecia com os meninos que reclamavam?
      Eram informados que aquela era a única maneira de estudar. Mudavam de escola, mas nem sempre perdiam a postura adquirida por ficarem dentro dos vidros.

4 – Que acontecimento alterou, aos poucos, as regras da escola? Por quê?
      A chegada de um novo aluno que ficou fora do vidro por ser pobre e não poder pagar a escola.

5 – Por que a liberdade de Firuli, o novo aluno, começou a incomodar os professores?
       Firuli aprendia com mais facilidade, era melhor que os outros alunos e alegre. Tudo isso causava inveja nos colegas que começaram a reagir.

6 – Qual foi a atitude de Dona Demência ao ver que os alunos queriam ficar fora do vidro?
       A professora repreendeu os alunos, no início, com um coque; depois, pediu ajuda ao diretor que também não conseguiu evitar a rebelião da classe.

7 – Por que os vidros, ao se quebrarem, facilitaram as mudanças na escola?
       A compra de novos vidros ficaria muito cara, por isso o diretor achou melhor não usar mais vidros e deixar os alunos livres, assim como faziam em outras escolas.

8 – A ideia de alunos obrigados a estudar dentro de vidros nos permite pensar em situações reais. Identifique-as.
       Permite-nos pensar em alunos obrigados a permanecer quietos em seus lugares, sem dizer nada, apenas ouvindo e obedecendo. São coagidos a fazer tudo exatamente o que os professores mandam, calados e submissos.



CRÔNICA: ANTENA LIGADA - LOURENÇO DIAFÉRIA - LINGUAGEM INFORMAL E FORMAL- COM GABARITO

 CRÔNICA: ANTENA LIGADA  
Lourenço Diaféria

LINGUAGEM INFORMAL E LINGUAGEM FORMAL

         Troquei meu televisor em branco e preto por um televisor em cores com controle remoto, para facilitar a vida de meus filhos, que agora, sabem como é, época de provas, estão se virando mais que pião na roda. Imaginem que outro dia um professor teve a coragem de mandar meu filho gavião-da-fiel fazer um trabalho sobre o Sócrates.
         Fiquei uma arara.
         Em todo o caso, apanhei a revista Placar e recomendei que o garoto procurasse os arquivos esportivos da Folha e do Jornal da Tarde. Não é por ser meu filho, mas o guri caprichou do primeiro ao quinto.
         Tirou zero.
         Puxa, assim também é demais. Resolvi levar um papo com o professor, ver se não era perseguição. O professor foi muito gentil, porém ninguém me tira da cabeça que ele é palmeirense disfarçado de são-paulino. Garantiu-me que havia ocorrido um equívoco. O Sócrates que ele queria é um craque da redonda que tomou cicuta. Essa é boa. Por que não avisou antes? Como é que eu vou adivinhar que o homem andava dopado? Me manquei, mas o professor percebeu meu azedume. Disse que ia dar uma nova oportunidade. Falou e disse.
        Preveni meu garoto que ficasse de orelha em pé, lá vinha chumbo. Dito e feito. O professor, deixando cair a máscara alviverde, deu uma de periquito campineiro e pediu um trabalho completo sobre o Guarani.
        Deixa que eu chuto, falei a meu filho. Pode contar comigo na regra três. Eu mesmo cuido da pesquisa.
        Peguei a escalação completa do guarani, botei o Neneca no gol, fiz a maior apologia ao time da terra das andorinhas. Pra me cobrir e não deixar nenhum flanco desguarnecido, telefonei pro meu amigo Antônio Contente, que transa em assuntos culturais e conexos (como seja a imprensa) e pedi que me mandasse uma camisa oito autografada. Diretamente de Campinas e pelo malote.
         Não é pra falar, mas o trabalho escolar ficou um luxo.
         Sem falsa modéstia, estava esperando pro meu filho no mínimo aprovação com laude e placa de prata, pra não dize medalha de honra ao mérito.
         Pois deu zebra.
         Começo a desconfiar que o tal professor me armou uma arapuca e entrei fácil, como um otário. O homem deve ser primo de Dicá. Sabem o que mestre fez? Hein? Querem saber? Deu outro zero pro meu filho. O pior é que não devolveu a camisa autografada.
         Essa não deixei barato. Fui de peito aberto, às falas.
         Ilustre --- eu disse --- com perdão da palavra, mas que diabo de safadeza Vossa Senhoria anda armando pro meu garoto gavião-da-fiel? Então eu perco tempo, pesquiso, consulto a história gloriosa da equipe campineira, faço a maior zorra com o time do Brinco da Princesa, e o garoto ganha cartão vermelho?
         Que grande cínico! O homem me olhou com aqueles olhos de olheiras --- acho que tem almoçado e jantado mal, sei lá, dizem que professor padece um bocado --- coçou a cabeça, murmurou:
         --- Foi o senhor quem dez a lição?
         Fiquei meio sem jeito.
         --- Bem, fazer não fiz. Dei uma orientação didática. Pai é para essas coisas...
         Ele não se comoveu. Foi até rude.
         --- Se aceita um conselho, pare de dar palpite na lição de casa de seu filho. O senhor não conhece nada do Guarani.
         Falar isso na minha cara! Tive de aguentar calado. Nunca soube que no diacho do time campineiro figurasse a dupla Peri e Ceci. E com essa constante mudança de técnico, como podia sacar que o técnico atual é o Zé de Alencar?
         Tá bem --- eu disse --- não vamos brigar por tão pouco. O professor pode dar outra colher de chá ao menino
         Deu. O professor quer agora os capítulos completos de um romance, por coincidência com o mesmo nome do time de Caminas: o Guarani. É qualquer coisa com índio sioux que, de repente, se vê obrigado a salvar uma mulher biônica das águas da enchente. Deve ser telenovelas em cores. Mas só pra complicar a vida do meu filho, o professor não revelou o horário. Porém desta vez ele não me fera. Pela dica do enredo que deixou escapar, deve ser mais uma dessas sucessões de cenas de violência que a gente é obrigado a engolir todas as noites na televisão. Estou de antena ligadona meu chapa.
                                                                                                 DIAFÉRIA, Lourenço.
Entendendo o texto

1 – Esse texto é um bom exemplo de linguagem informal. Com que objetivo o narrador usou esse tipo de linguagem?
         O narrador quis adequar as falas à linguagem própria dos personagens, por isso usou uma linguagem informal, de acordo com as características do pai.

2 – Na sua opinião, a linguagem empregada no texto está adequada? justifique sua resposta.
         Resposta pessoal.

3 – Reescreva os trechos a seguir numa linguagem formal:
a)     “...sabem como é, época de provas, estão se virando mais que pião na roda.”
Sugestão: Naturalmente vocês entendem que, como estão em período de provas, eles estudam com uma dedicação incrível.

b)    “Um professor teve a coragem de mandar meu filho gavião-da-fiel fazer um trabalho sobre o Sócrates.”
Sugestão: Um professor pediu a meu filho, que é torcedor do Corinthians, para fazer um trabalho sobre o Sócrates.

c)     “Fiquei uma arara.”
Sugestão: Fiquei bastante aborrecido.

d)    “Preveni meu garoto que ficasse de orelha em pé, lá vinha chumbo.”
Sugestão: Avisei a meu filho que ficasse atento, pois algo inesperado poderia acontecer.

e)     “Essa não deixei barato. Fui de peito aberto, às falas.”
Sugestão: Esse fato me fez tomar uma atitude e conversei claramente, sem volteios.

f)      “Estou de antena ligadona, meu chapa.”
Sugestão: Estou prestando muita atenção, meu caro.

4 – Indique outras passagens no texto em que se empregou a linguagem informal.
       “Mas o guri caprichou(...)”; “Resolvi levar um papo(...)”; “(...) é um craque da redonda que tomou cicuta. Essa é boa”; “Me manquei (...)”; “(...) deixando cair a máscara alviverde, deu uma de periquito campineiro (...); “deixa que eu chuto (...)”; “(...) botei o Neneca no gol (...)”; “transa em assuntos culturais (...)”; “(...) ficou um luxo”. “Pois deu zebra”; “(...) me armou uma arapuca e entrei fácil”. “(...) faço a maior zorra”. “E o garoto ganha cartão vermelho?”; “(...) no diacho do time”. “(...) podia sacar que (...)”; “(...) dar outra de chá ao menino”; “(...) desta vez ele não me ferra”. “Pela dica do enredo(...)”.

5 – Além de usar gírias, a personagem empregou também diversos termos pertencentes ao jargão do futebol (termos tipicamente relacionados a esse esporte).
       De que maneira o emprego desses termos contribuiu para a construção do texto?
       A personagem preocupa-se de tal maneira com futebol que se tornou alienada de outros temas. O emprego do jargão reforça a apresentação dessa limitação.

6 – Agora, suponha que o pai decidisse redigir uma reclamação formal para o diretor da escola onde trabalha o professor de Português. Por meio de uma escrita cortês e formal, faça reclamações quanto ao nível de exigência do professor do menino, aproveitando certos elementos do texto.
        Lembre-se:
        - não use gírias;
        - respeite as regras de gramática determinadas pela norma culta;
        - não usa expressões típicas da fala (tá, né, etc.);
        - evite o jargão típico do futebol. Dê preferência a termos relacionados ao contexto (reivindicações de um pai a um diretor da escola).
        Resposta pessoal.

7 – Compare a linguagem empregada em seu texto e no de Lourenço Diaféria e explique que diferenças há entre ambos.
        Resposta pessoal.

8 – Como se pode definir, a partir do que você aprendeu, o que é linguagem formal e linguagem informal.
        Sugestão: na linguagem informal, o redator ou falante usa gírias, repetições, expressões coloquiais, contrações. Já na linguagem formal, o vocabulário é mais selecionado, não há repetições, não se empregam gírias ou termos chulos.

       

TEXTO: SEDUÇÃO FATAL DOS NEURÔNIOS - MARIANA FREIRE - COM GABARITO

                          
 SEDUÇÃO FATAL DOS NEURÔNIOS

         O cigarro vicia porque o efeito da nicotina diminui com o uso e força a vítima cada vez mais. Se é isso o que você ouviu falar, esqueça. Um único cigarro é capaz de levar ao vício, descobriu a equipe do neurobiologista americano Daniel McGehee, da Universidade de Chicago, depois de analisar fragmentos do cérebro de ratos nos quais se havia injetado nicotina.
         Segundo o cientista, a toxina do cigarro estimula os neurônios a produzirem mais dopamina --- molécula responsável pelas sensações de prazer no organismo. “É isso que leva ao vício”, disse McGehee à super. A grande novidade da pesquisa foi mostrar exatamente como a nicotina produz a sedução fatal: eles verificaram que, logo depois de a nicotina grudar em um neurônio, ele dispara um sinal que incita outras células cerebrais a produzir doses extras de dopamina. O efeito é mais intenso quando os neurônios estão associados à memória e ao aprendizado. Tem-se a impressão de que o cérebro se lembra da delícia e quer mais. E haja medo do câncer para trazê-lo de volta à razão!
               FREIRE, Mariana. Revista SúperInteressante. São Paulo, nov. 2000.

1 – Por que as pessoas sentem vontade de fumar cada vez mais, de acordo com o texto?
       Elas são estimuladas pela sensação de prazer que o efeito da dopamina produz no organismo.

2 – Segundo o texto, quando o vício do cigarro se torna ainda maior?
       O vício do cigarro aumenta, se a toxina estimula os neurônios cerebrais associados à memória e ao aprendizado.

3 – Por que a sedução a que o texto se refere é fatal?
       Porque o hábito de fumar pode levar à morte.

4 – Reescreva este trecho com suas palavras:
       “E haja medo do câncer para trazê-lo de volta à razão!”.
       Resposta pessoal. Sugestão: somente o pavor do câncer pode despertar o cérebro para a verdadeira ameaça que o cigarro representa para a saúde.

5 – Identifique no texto as palavras proparoxítonas.
       Cérebro, molécula, células, vítima, único.
       Não é por acaso que todas as palavras que você identificou são acentuadas.
       Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas.
       Observe agora a acentuação das palavras a seguir:
       “Sedução fatal dos neurônios”.
       “É isso que leva ao vício”.
       A sílaba tônica é a penúltima. Essas palavras são chamadas paroxítonas.

6 – Retire do texto palavras paroxítonas acentuadas e palavras paroxítonas sem acento.
       Responsável, memória, delícia, câncer (acentuadas); cigarro, nicotina, equipe, toxina, organismos, etc. (sem acento).
       Observe que as palavras paroxítonas terminadas em ditongo (neurônio, vício, memória, delícia), em –I (responsável) e em –r (câncer) são acentuadas.

7 – Outras palavras paroxítonas recebem acento gráfico. Dê exemplos de palavras paroxítonas com a mesma terminação das que seguem e observe a acentuação empregada.
- Hífen: abdômen, pólen, líquen.
- Vírus: bônus, ônus, ânus, húmus.
- Próton (s): elétrons, cânon.
- Tórax: ônix, bórax, látex.
- Órfão (s): órgão, sótão, bênçãos.
- Médium (uns): álbum, fóruns.
- Táxi (s): tênis, grátis, biquíni.
- Ímã (s): órfãs.
- Fórceps: bíceps.

Portanto: Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em: ditongo,
-I, -r, -n, -x,-i (s), -us, -ão(s), -ã(s), -on(s), -um, -uns, -ps.
         Veja as palavras destacadas:
         “Se é isso o que você ouviu falar, esqueça”.
         “(...) para trazê-lo de volta à razão!”.
         O acento tônico dessas palavras está na última sílaba (vo-cê, tra-zê), por isso são palavras oxítonas.
         Saiba que: Acentuam-se as palavras oxítonas terminadas em –a(s),
-e(s), -o(s), -em, -ens.

8 – Identifique no texto três palavras oxítonas que não são acentuadas.
       Sedução, fatal, prazer, grudar, sinal, produzir, estão, impressão, razão, etc.
       Chamam-se monossílabas as palavras que tem uma única sílaba.
       Acentuam-se as palavras monossílabas tônicas terminadas em: -a(s),
-e(s), -o(s).

9 – Acentue adequadamente as monossílabas tónicas a seguir: pa, mes, nu, sos, fe, pai, chas, bis, sol, lar, gas, tres, luz, ri, pos, tu.
       Pá, mês, sós, fé, chás, gás, três, pôs.

 10 – Identifique no texto palavras monossílabas átonas cujo pronúncia seja mais fraca que as das monossílabas tônicas. Veja exemplos: de, em, se, com, nem.
        O, e, a, que, um, ao, do, da, nos, os, etc.   




ADIVINHAS - COM RESPOSTAS

ADIVINHAS


O que é, o que é?
O que é, o que é?
Deita a pessoa na cama
Deixa a cabeça mais quente
Faz nariz virar riacho
E molha o dia da gente?
O resfriado.


O que é, o que é?
Simplesmente estraga a vida
Deixa a boca arreganhar
É tão malvada, a bandida,
Que faz a gente chorar?
A dor de dente.

O que é, o que é?
Sempre dói quando começa
Deixa tudo em mau estado
Quem tem vai embora depressa
Pra depois ficar sentado?
A dor de barriga.

O que é, o que é?
Tem pé, mas não caminha,
Tem olho, mas não vê,
Tem cabelo, mas não penteia.
Milho.

O que é, o que é?
Se canta, adormecemos,
Se cantamos, folga e ri,
Se sofremos, também sofre,
Tomando a dor para si.
A mãe.

O que é, o que é?
Ao todo são três irmãos,
O mais velho já morreu,
O mais moço está conosco,
E o caçula não nasceu.
Passado, presente e futuro.

O que é, o que é?
Cintura fina,
Perna alongada,
Toca corneta,
E leva bofetada.
Pilão.

O que é, o que é?
Fui a primeira capital do
Brasil e tenho muitas praias.
Salvador.
O que é, o que é?
No alto vive,
no alto mora,
no alto tece
e isso adora.
Aranha.

O que é, o que é?
Sou grande ao nascer,
bem pequeno ao morrer.
Lápis.

O que é, o que é?
Verde como mato
E mato não é.
Falo como gente
E gente não é.
Papagaio.
O que é, o que é?
Uma fase que todos passam
E muitos sentem saudades.
Infância.
O que é, o que é?
Minha irmã e eu, muito rápidas,
Cortamos de maneira eficaz,
com as pernas na frente
e os olhos atrás.
Tesoura.
O que é, o que é?
Tenho muitas peles;
se quiser todas elas tirar
de chorar não vai escapar.
Cebola.

O que é, o que é?
Esse parece trazer
Um pensamento profundo:
Antes de o pai nascer
A filha já corre o mundo.
O fogo e a fumaça.

O que é, o que é?
Não existe sem fazer,
Quem faz às vezes vai fundo,
Demora de vez em quando,
Transforma a vida e o mundo.
Trabalho.

O que é, o que é?
Revoa, mas não é pássaro,
Rebrilha mais que ouro puro,
Pisca e não é olho,
Tem luz, mas vive no escuro.

Vagalume. 

sábado, 8 de abril de 2017

REPORTAGEM: HISTÓRIAS DE PAIS EM ESTÚDIOS DE TATTOO - CADERNO FOLHATEEN - COM GABARITO

TEXTO: HISTÓRIAS DE PAIS EM ESTÚDIOS DE TATTOO

         A lei estadual sobre piercings e tatuagens, que acabar de completar um ano, atingiu em cheio não apenas filhos, mas pais. Há quem esteja satisfeito porque agora tem o apoio legal para o que pensa a respeito de tatuar o corpo ou colocar um piercing antes de completar a maioridade. Mas há também os indignados. Confira abaixo algumas histórias Free-lance para a folha.
         Independentemente da vontade dos pais, a lei nº 9.828, de 6/11/97, proíbe a aplicação de tatuagem e piercing em menores de 18 anos.
         Entre os pais, as opiniões divergem. De um lado, estão os que consideram a lei um instrumento válido para defender o cidadão de um arrependimento futuro. Do outro, os indignados. É o caso do advogado Robson [...], pai de Thais, 16, que, há três semanas, tentava sem sucesso colocar um piercing na clínica [...].
         “Essa lei é inconstitucional, o Estado não pode interferir na minha decisão sobre as vontades da minha filha, principalmente no que diz respeito à aparência dela”, disse o advogado.
         Dias depois, na Clínica [...], outro pai indignado se manifestava. “Para mim, essa lei é ridícula: piercing e tatuagem não prejudicam a sociedade”, disse José Américo [...], cuja filha, Lia [...] 14, havia sido barrada em dois respeitados estúdios de piercing em São Paulo.
         “Eu quero que minha filha aprenda a se indignar, é uma questão de liberdade. Daí, amanhã ela vai em qualquer lugar e volta com um negócio malfeito”, disse ele.
         Foi o que acorreu com as irmãs Ana Paula, 16, e Juliana [...] 15. Com o consentimento dos pais, foram à Clínica [...], um dos melhores estúdios de pierceng do Brasil, que não fez o trabalho. Acabaram na mão de um profissional sem habilitação.


         “O furo das duas infeccionou, e a joia era de ferro” (a joia, como é chamado o pierceng, deve ser de aço cirúrgico), conta a mãe, Vera [...]. “Não associo piercing ou tatuagens à droga ou marginalidade. Há tantos jovens desassistidos com problemas de drogas, por que não fazer algo por eles?”, diz ela.
         Já V. C. S. – ela pediu para não ser identificada – diz que chorou uma semana por causa da filha, B. F. S., 16, dona de dois piercengs e que acaba e tatuar um gnomo de 10 cm na batata da perna.
         “Uma menina de 16 anos não tem cabeça para avaliar as consequências de uma tatuagem. Ela vai ter problemas profissionais porque o preconceito existe. Uma coisa é fazer uma tatuagem com 21 anos de idade, consciente da profissão que vai seguir, e outra, embalada pelos amigos”, diz a mãe.

                       Esperar, sim, mas não à força.

         “Ninguém pode ter o direito de proibir uma pessoa de enfeitar o próprio corpo. Mas é legal esperar ter maturidade”, diz Fernando [...] 19, feliz dono de três tattoos feitas aos 18. Douglas [...], 19, conta arrependido: “Fiz quatro tatuagens com 15 anos e tiraria todas. Elas foram malfeitas, diz o bagulho chapado. Um moleque menor de idade não tem noção e faz muita besteira.”
         A estudante Roberta [...], 18, esperou três anos para imprimir um sol tribal nas costas. “Não fiz antes porque queria que fosse em um lugar legal para ter segurança”, conta ela, que chegou ao estúdio [...] acompanhada das amigas.
         Uma delas, Bruna [...], 15, foi categórica: acha legal ter maturidade, mas acha a lei “ridícula porque tira a liberdade e o direito de as pessoas fazerem o que quiserem com o próprio corpo”.
         Seguir a lei pede paciência e é o que Rachel [...], 15, acredita não ter. Em vez de esperar os 18, a garota pensa em apelar para a Nova Zelândia: “Como eu vou fazer intercâmbio, talvez eu faça por lá, já que para eles tattoo é supercomum.”

           Folha de São Paulo, São Paulo, 7 dez. 1998, Caderno Folhateen, p. 6.
                         (Sobrenome de pessoas e nome de clínicas foram retirados).

1 – Recorde o início da reportagem:
      “A lei estadual sobre piercengs e tatuagens [...]”
a)     O que é uma lei estadual?
Uma lei que só vigora no âmbito do estado em que foi aprovada.

b)    A lei sobre piercings e tatuagens a que se refere a reportagem se aplica a você?
A resposta depende do Estado em que residem os alunos e de sua idade: sim, se residem em São Paulo e são menores, não, se residem em outros estados.

2 – A reportagem começa afirmando que a lei sobre piercings e tatuagens acaba de completar um ano.
         -- Identifique as datas que confirmam essa afirmação.
       A reportagem é publicada em 7 de dezembro de 1998. A lei é de 06 de novembro de 1997.

3 – Identifique na reportagem e registre em seu caderno, em listas separadas:
a)     Os argumentos dos indignados contra a lei sobre piercings e tatuagens.
A lei é inconstitucional: o Estado não pode interferir na decisão dos pais sobre os filhos; piercing e tatuagem não prejudicam a sociedade; a lei interfere na liberdade das pessoas.

b)    Os argumentos dos satisfeitos a favor da lei.
A lei dá apoio legal para os pais que são contra piercings e tatuagens em filhos menores; defende o cidadão de um arrependimento futuro: menores não tem condições de avaliar as consequências de piercing e tatuagens, que podem trazer problemas profissionais, menores ainda não sabem escolher o que querem.

4 – Releia a fala de Vera, mãe de Ana Paula e Juliana.
a)     Está implícito na fala de Vera que há um preconceito em relação a piercings e tatuagens. Que preconceito?
O preconceito de quem usa piercing e tem tatuagens também usa drogas e é marginal.

b)    Vera é a favor ou contra a lei que proíbe piercings e tatuagens em menores de idade? Justifique sua resposta.
É contra, porque: trouxe prejuízo para suas filhas; piercing e tatuagem não são problemas que mereçam uma lei; a preocupação dos legisladores deveria voltar-se para verdadeiros problemas, como jovens desassistidos que usam drogas.

5 – Que problemas as pessoas entrevistadas apontam como possíveis consequências negativas de piercings e tatuagens?
       Piercings colocados por profissionais sem habilitação podem infeccionar; tatuagens podem ser mal feitas; piercings e tatuagens podem causar problemas profissionais, porque há preconceito contra quem os usa; a pessoa pode se arrepender da tatuagem no futuro.


quinta-feira, 6 de abril de 2017

TEXTO: A LÍNGUA PORTUGUESA - OLAVO BILAC - COM GABARITO

TEXTO: A LÍNGUA PORTUGUESA
       Olavo Bilac
         Estou me vendo debaixo de uma árvore, lendo a pequena história da literatura brasileira. [...]
         Olavo Bilac! – eu disse em voz alta e de repente parei quase num susto depois que li os primeiros versos do soneto à língua portuguesa: última flor do Lácio, inculta e bela / És, a um tempo, esplendor e sepultura.
         Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio que não sabia onde ficava mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia, repensei baixando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos?
         Fui falar com meu pai. Comecei por aquelas minhas sondagens antes de chegar até onde queria, os tais rodeios que ele ia ouvindo com paciência enquanto enrolava o cigarro de palha, fumava nessa época esses cigarros. Comecei por perguntar se minha mãe e ele não tinham viajado para o exterior.
         Meu pai fixou em mim o olhar verde. Viagens, só pelo Brasil, meus avós é que tinham feito aquelas longas viagens de navio, Portugal, França, Itália... não esquecer que a minha avó, Pedrina Perucchi, era italiana, ele acrescentou. Mas por que essa curiosidade?
         Sentei-me ao lado dele, respirei fundo e comecei a gaguejar, é que seria tão bom se ambos tivessem nascido lá. Estaria agora escrevendo em italiano, italiano! – fiquei repetindo e abri o livro que trazia na mão: Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece!
         Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? E as traduções? Renegar a língua é renegar o pais, guarde isso nessa cabecinha. E depois (ele voltou a abrir o livro), olha que beleza o que o poeta escreveu em seguida, Amo-te assim, desconhecida e obscura, veja que confissão de amor ele fez à nossa língua! Tem mais, ele precisa da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora? – acrescentou e levantou-se. Deu alguns passos e ficou olhando a borboleta que entrou na varanda: Já fez a sua lição de casa?
         Fechei o livro e recuei. Sempre que o meu pai queria mudar de assunto ele mudava de lugar: saía da poltrona e ia para a cadeira de vime. Saía da cadeira de vime e ia para a rede ou simplesmente começava a andar. Era o sinal. Não quero falar nisso, chega. Então a gente falava noutra coisa ou ficava quieta.
         Tantos anos depois, quando me avisaram lá do pequeno hotel em Jacareí que ele tinha morrido, fiquei pensando nisso, ah! Se quando a Morte entrou, se nesse instante ele tivesse mudando de lugar. Mudar depressa de lugar e de assunto. Depressa, pai, saia da cama e fique na cadeira ou vá pra rua e feche a porta!
                                           Durante aquele estranho chá: perdidos e achados.
                                                              Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p. 109-111.
1 – O poeta chama a língua portuguesa de flor do Lácio.
a)     Recorde o comentário da narradora:
“O tal de Lácio eu não sabia onde ficava...”
Você sabe onde ficava “o tal de Lácio”: onde?
Na Península Itálica (região onde surgiu Roma)
b)    Por que o poema chama a língua portuguesa de flor do Lácio?
Porque é um produto excepcionalmente bom, bonito (como uma flor) da língua que se falava no Lácio; porque é uma língua tão bela quanto uma flor que tem sua origem no latim, língua falada no Lácio.
2 – O poeta atribui à língua características que se opõem; explique:
a)     A língua é bela, mas é inculta – porque é inculta?
É inculta porque não é produto de cultura, é a língua de um povo ainda sem tradição cultural; É inculta, porque é primitiva, rude.
b)    A língua é esplendor (brilho, grandiosidade), mas é sepultura – por que é sepultura?
Porque, por ser uma língua desconhecida, o que é escrito nela fica fora do alcance dos outros, fica escondido, oculto.
3 – Por que a narradora ficou tão perturbada ao ver a língua portuguesa chamada de sepultura?
       Porque escrevia e assustou-se com a possibilidade de que não tivesse leitores, de que seus textos ficassem inacessíveis.
4 – Para a narradora, a solução para escapar da língua-sepultura seria escrever em italiano:
         “Estaria agora escrevendo em italiano, italiano!”
a)     Por que italiano, e não francês, alemão, inglês...?
Porque era descendente de italianos, poderia ter nascido na Itália, a língua italiana era para ela uma possibilidade que tinha sido perdida.
b)    Escrever em italiano e não em português seria melhor não por causa do número de falantes – observe que o italiano não está incluído no quadro da p. 195. Que vantagem teria o italiano sobre o português?
O italiano é uma língua mais difundida no mundo, mais estudada, mais conhecida, é a língua de um país com mais representação econômica, cultural e literária que os países de língua portuguesa.
5 – Recorde a opinião do pai sobre o poema:
       “O soneto é muito bonito...”
       Veja, na p. 200, o poema de Olavo Bilac – um soneto; conte o número de estrofes, o número de versos em cada estrofe e conclua: qual é a forma de um soneto?
       O objetivo é provocar a leitura do poema de Bilac e aproveitar a referência a soneto, na crônica, para que os alunos conheçam esta forma de composição poética.


quarta-feira, 5 de abril de 2017

ANEDOTA: JOÃOZINHO E SEU PAI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


         Anedota: JOÃOZINHO E SEU PAI

         O pai do Joãozinho fica apavorado
quando este lhe mostra o boletim:
         -- Na minha época, as notas baixas
eram punidas com uma boa surra – comenta contrafeito.
        -- Legal, pai! Que tal pegarmos o professor na saída amanhã?

                                   Donaldo Buchweitz. Piadas para você morrer de rir.
                  Belo Horizonte: Leitura, 2001, p. 38.


1 – Observe a situação em que se dá o diálogo entre pai e filho.
a)     O momento é tenso ou descontraído? Por quê?
Tenso. Pela surpresa das notas baixas.

b)    Como está o pai? Justifique sua resposta com palavras do texto.
Apavorado. Com o que vê no boletim.

2 – Observe a fala do pai de Joãozinho.
a)     O que ele quer dizer ao comentar que, em sua época, as notas baixas eram punidas com surras?
Quis dizer que o Joãozinho merecia uma surra.

b)    Portanto, nesse momento, que imagem ele provavelmente tem de Joãozinho?
Um mal aluno.

c)     Você acha que o pai pretende dar uma surra no filho?
Não.

d)    Então, com que intenção o pai faz esse comentário? Que imagem de si mesmo ele quer passar para o filho?
Com a intensão de que Joãozinho merecia uma surra. Que na época dele, toda nota baixa era castigado com surra.

3 – O humor da anedota está no mal-entendido que há entre pai e filho quanto à compreensão da fala do pai.
a)     De acordo com a fala do pai, quem supostamente merecia algum tipo de punição? Por quê?
Joãozinho. Porque tinha notas baixas.

b)    Por que a resposta de Joãozinho surpreende?
Porque o professor seria o responsável.