quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

CONTO: LUZ E EMOÇÃO - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM GABARITO

 Conto: LUZ E EMOÇÃO

JOÃO GUIMARÃES ROSA

        De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro da roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.

        -- Deus te abençoe, pequenino. Como é o teu nome?

        -- Miguilim. Eu sou irmão do Dito.

        -- E o seu irmão Dito é dono daqui?

        -- Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.

        O homem esbarrava o avanço do cavalo, que ere zelado, manteúdo, formoso como nenhuma outro. Redizia:

        -- Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas, que é que há, Miguilim?

        Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.

        -- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em sua casa?

        -- É Mãe, e os meninos...

        Estava Mãe, estava Tio Terêz, estavam todos. O Senhor alto e claro se apeou. O outro que vinha com ele era uma camarada. O senhor perguntava a Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: __ “Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”

        Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.

        -- Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim...

        E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.

        -- Olha, agora!

        Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava o que tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha, a Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu: -- “Miguilim, você é piticego...” E ele respondeu: -- “Donazinha”...                                                   

        Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.

        “Você está triste, Miguilim?” __ Mãe perguntou.

        Miguilim não sabia. Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente, eram grandes demais.

        -- Pra onde ele foi?

        -- A foi pra a Vereda do Tipã, onde os caçadores estão. Mas amanhã ele volta, de manhã, antes de ir s’embora para a cidade. Disse que, você, querendo, Miguilim, ele junto te leva... -- O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava para a escola, depois aprendia ofício. -- “Você mesmo quer ir?”

        Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava. Mas Mãe disse:

       Vai meu filho. É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar. Vai. Fim do ano, a gente puder faz a viagem também. Um dia todos se encontram...

 Corpo e alma. Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro, Jose Olympio. V. 1. P. 100-102.

           Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 105-8.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Está em glória: está morto.

·        Descompassado: num ritmo irregular.

·        Esbarrava: impedia, detinha.

·        Careceu: precisou.

·        Manteúdo: bem cuidado.

·        Piticego: que tem problemas de visão.

·        Apeou: desceu do animal, desmontou.

02 – Faça um resumo do texto, completando o parágrafo abaixo:

        Miguilim é a personagem principal dessa história. Seu irmão Ditomorreu. O visitante chama-se José Lourenço. Ele é um homem poderoso. Percebe que Miguilim precisa de óculos e faz à mãe do menino a seguinte proposta: leva-lo à cidade, comprar óculos para o menino, matriculá-lo numa escola e ensinar-lhe um ofício.

03 – O texto é narrado em terceira pessoa. Entretanto, o narrador identifica-se com Miguilim em seu modo de ver e interpretar a realidade. O que o narrador procura passar para o leitor com as duas orações iniciais do texto?

      A dificuldade de Miguilim em enxergar. Ele vê apenas um velho, inicialmente, que depois se desdobra em dois vultos.

04 – Observe a primeira fala de Miguilim. O que ela nos revela?

      Ela nos revela sua forte ligação com o irmão que morrera, pois é como “irmão do Dito” que ele se apresenta ao estranho.

05 – É possível imaginar como seria a vida dessa família no lugar onde morava? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É um lugar bastante afastado, sem nenhum recurso. Um lugar onde o progresso ainda não chegou.

06 – Qual a reação do menino diante da experiência de enxergar com clareza o mundo à sua volta?

      O menino ficou extremamente emocionado, querendo falar sobre o que via.

07 – Por que o coração de Miguilim bateu descompassado ao colocar os óculos do doutor?

      Ele emocionou-se com a riqueza de detalhes de tudo que o rodeava. O que viu era tudo novidade para ele.

08 – Copie a alternativa correta:

        Miguilim não sabia se estava triste porque o médico partira.

        “Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente...” Esse trecho do texto quer mostrar que Miguilim:

a)   É muito criança e precisa da mãe para ajudá-lo em tudo.

b)   Sente-se imaturo e não quer aceitar as imposições do mundo adulto.

c)   Sente-se impotente diante dos fatos que ocorrem e escapam de seu controle.

09 – É sempre difícil a uma mãe separar-se de um filho, principalmente quando ele é pequeno. Por que, então, a mãe de Miguilim o incentiva a partir?

      Ela sabe que, se o menino continuar naquele lugar, além de continuar não enxergando, não terá nenhuma perspectiva de vida futura.

10 – O doutor oferece melhores perspectivas de vida para Miguilim, mas ele parece não se estusiasmar. Por quê?

      Ele está dividido entre ter a oportunidade de uma vida melhor e separar-se dos entes queridos.

11 – Que frase do texto mostra uma sensação muito forte de Miguilim, que poderia ser interpretada como medo de mudar de vida ou de enfrentar o desconhecido?

      “Sua alma, até ao fundo, se esfriava”.

12 – Escolha as alternativas que se apliquem a esta frase e copie-as: “É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar”.

a)   “Luz” significa não apenas “enxergar melhor” mas também uma oportunidade, uma saída para a vida do menino.

b)   A mãe agradece a Deus pelo fato de o menino poder vir a enxergar melhor.

c)   O aparecimento de José Lourenço é visto pela mãe como uma providência divina.

13 – O que você notou quanto ao vocabulário e às construções sintáticas desse texto?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

CRÔNICA: BOM PROVEDOR - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Bom provedor

                 Luís Fernando Veríssimo

        Foi um escândalo quando a Vaninha – logo a Vaninha, tão delicada – apresentou o noivo às amigas. Era um troglodita.

        -- Não – contou a Ceres, depois. – Não é força de expressão. É um troglodita mesmo. Ele babou na minha frente. Ele babou na minha frente!

        O noivo babava. Seu vocabulário era limitado. Duas ou três interjeições e algumas palavras que só a Vaninha entendia e interpretava para os outros.

        -- Ele disse que tem muito prazer em conhecê-la, mamãe.

        -- Pensei que estivesse latindo.

        É preciso dizer que a Vaninha, coitada, vinha de um casamento malsucedido, com intelectual brilhante mas complicado, e tinha dois filhos para criar. E quando sua mãe, incapaz de se controlar depois de ver o futuro genro tirar o sapato e a meia e coçar a sola do pé na frente de todo o mundo, enquanto a Vaninha fingia que não via, disse "Francamente!", respondeu simplesmente:

        -- Digam o que disserem, ele é um bom provedor.

        Para espanto e indignação de todos, Vaninha casou com o troglodita. As amigas se distanciaram dela. Não era possível. O que a Vaninha, logo a Vaninha, formada em História da Arte, vira naquele monstro? Mas um dia, meses depois do casamento, a Ceres encontrou a mãe da Vaninha. E ouviu dela, estarrecida, um elogio ao genro.

        -- É um bom provedor.

        As amigas resolveram investigar. A Ceres, designada como patrulha avançada, foi visitar a Vaninha. Encontrou-a na cozinha da casa de subúrbio para onde se mudara com o troglodita e os dois filhos, retalhando um boi inteiro. O marido estava sentado no chão, num canto da cozinha, chupando um osso. Vaninha explicou que ele só se interessava por um determinado osso do boi. Saía de casa sem dizer para onde ia e voltava com um boi inteiro, ainda quente, sobre os ombros. E salivando com a antecipação do osso. O que sobrava do boi ficava para o resto da família. A Vaninha não perguntava para onde ele ia nem como matava o boi. O importante era que o freezer estava cheio de carne. A Ceres não queria levar um pedaço de carne para casa?

        Naquela mesma noite o marido da Ceres, Carlos Augusto, um homem elegantíssimo, bem articulado, campeão de gamão, depois de avisar que era preciso cortar as despesas da casa, que a situação na galeria não estava boa não, ouviu da mulher uma palavra forte e inédita.

        -- O que foi que você disse, Ceres?

        -- Imprestável!

        A Ceres passou a visitar a Vaninha regularmente. Aliás, todas as amigas da Vaninha foram se reaproximando dela, uma a uma. Passavam a tarde com a Vaninha, conversavam, riam muito, e sempre levavam um pedaço de carne para casa. Comentando que "Marido era aquele! Não o que elas tinham em casa! Babava, mas e daí?".

Novas comédias da vida privada. 123 crônicas escolhidas. São Paulo, L&PM, 1996.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 115-17.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Troglodita: homem primitivo, brutal.

·        Designada: nomeada, indicada para a realização de uma tarefa.

·        Força de expressão: exagero ao emitir julgamento sobre alguém ou alguma coisa.

·        Bem articulado: que fala bem.

·        Interjeições: palavras que exprimem emoções.

·        Gamão: tipo de jogo com tabuleiro.

·        Provedor: aquele que sustenta a casa.

·        Galeria: loja onde se vendem quadros e objetos de arte.

·        Estarrecida: muito espantada.

·        Inédita: nunca usada; original, incomum.

·        Imprestável: que não presta para nada.

02 – Compare Vaninha com o marido “troglodita”. O que você percebe?

      Vaninha é totalmente diferente ao marido. São pessoas opostas: ela é delicada e ele, um troglodita, um tipo grosseiro.

03 – Compare o primeiro marido da Vaninha com o segundo. O que você percebe?

      Também são pessoas totalmente diferentes. O primeiro é intelectual e complicado, o segundo, troglodita e simples.

04 – Quais são as informações sobre o marido da Vaninha presentes no texto? Ele é uma pessoa normal?

      O marido não fala, baba, coça o pé na frente dos outros, come osso de boi sentado no chão. Não parece ser uma pessoa normal.

05 – A personalidade de Vaninha é descrita em todos os detalhes ou apenas alguns pontos dela são ressaltados?

      Apenas alguns pontos, como sua delicadeza, sua formação intelectual e o fracasso do casamento anterior são mencionados.

06 – Por que Vaninha se casou com o troglodita? Comente a escolha feita.

      Vaninha casou-se porque ele era um bom provedor. Comentário pessoal.

07 – Como o casamento dela foi recebido pelas amigas?

      O casamento foi recebido com espanto e indignação.

08 – Por que, afinal, as amigas aceitaram o casamento da Vaninha?

      Porque perceberam que ela viva bem com o marido, pois ele, como bom provedor, não permitia que o freezer ficasse vazio.

09 – Por que Ceres ofendeu o marido chamando-o de “imprestável”?

      Porque, embora educado e gentil, Carlos Augusto não era um bom provedor.

10 – Você acredita que seria possível a história contada por Luís Fernando Veríssimo acontecer na realidade? Fundamente sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O autor leva as situações ao extremo para obter um efeito cômico, por meio do qual tece sua crítica de costumes.

11 – Indique quais das frases abaixo refletem o mesmo posicionamento de Vaninha e de suas amigas diante da vida e do casamento.

a)   “Prefira sempre necessitar menos a possuir mais”. (Thomas Kempis).

b)   “Felicidade: uma boa conta bancária, uma boa cozinheira e uma boa digestão”. (Rousseau).

c)   “O marido que quiser ter um casamento feliz deve aprender a conservar a boca fechada e o talão de cheques aberto”. (Groucho Marx).

d)   “A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte / ...A gente não quer só dinheiro / A gente quer inteiro e não pela metade”. (Titãs).

e)   “Meu marido bebe e me maltrata, mas não me separo dele porque não deixa faltar nada em casa”. (Depoimento na TV).

f)    “Beleza não se põe na mesa.” (Provérbio).

12 – Para você, qual teria sido o objetivo do autor ao escrever o texto?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

CRÔNICA: QUANTAS PALAVRAS VOCÊ DISSE HOJE? RAUL DREWNICK - COM GABARITO

 Crônica: Quantas palavras você disse hoje?

              Raul Drewnick

    A vontade de conversar anda cada vez mais em falta em São Paulo. Cansado, acossado pelas contas a pagar, mal-humorado por mil e um motivos, o paulistano hoje fala a língua travada dos monossílabos. Com os parentes, com os vizinhos, com os amigos – também cada vez mais raros –, nós nos limitamos ao sim, ao não, ao é, ao fui, ao sei, quando não recorremos aos grunhidos: ahn, hem, ohm, uhm.

        Se nada mudar, logo as 150 ou 200 palavras que usamos para expressar nossas emoções e nossos sentimentos, nossas frustações e nossas alegrias, nosso carinho e nosso rancor, nossos sonhos e nossas desilusões, nosso afetos e nosso desamor estarão reduzidas a 40 ou, quem sabe, 50.

        Ninguém precisa falar conosco, para nos definir. Basta olhar para nós. Somos o que o nosso rosto não esconde e nosso olhar inamistoso revela: magoados, sofridos, desencantados. Sorrir para quem, se aquele para quem sorrimos pode nos cercar na próxima esquina e nos apontar um revólver para roubar os minguados reais de nossa carteira? Falar com quem, se ninguém quer falar com ninguém? Somos robôs programados para o essencial e já faz muito tempo que o essencial não inclui a convivência.

        Se bater um papo é difícil, manter um diálogo é uma impossibilidade. Já reparou nas caras feias que logo se armam quando numa reunião alguém comete o pecado mortal de tentar pôr em circulação um assunto que não seja o futebol, a vida íntima dos astros do cinema e da TV ou a nova maravilha em dietas ou regimes?

        Experimente citar, ainda que bem de leve, aquele programa que você às vezes vê na TV Cultura ou manifeste sua indignação com a Globo por ela ter tirado do ar os Concertos Internacionais.

        Ninguém lhe dirá nada, porque falar cansa. Mas você lerá em todos os rostos algo mais ou menos assim: – Ah, qual é a desse cara? Se a dona da casa não enfiar logo um sanduíche na boca desse cretino, já já ele vai vir com aquela caretice de literatura engajada e imortalidade da alma.

        Sem ter com quem conversar, às vezes um dos nossos se põe a falar sozinho por aí. Você já viu alguns deles pela cidade – um na Avenida Paulista, um no Largo do Arouche, um na Avenida São João. Alguns, mais modestos, andam pelos bairros da periferia. E falam, falam, falam sem parar. Falam para os carros, para os passarinhos, para as árvores, para os postes. Não falam conosco. Já tentaram, em outro tempo, e enlouqueceram de tanto tentar.

        Ontem, vi um desses desvairados. Entrei numa dessas agências bancárias em que não há funcionários, só máquinas, e o vi conversando com uma delas.

        A máquina pedia: – Digite sua senha.

        Ele digitava e dizia: – OK.

        A máquina sugeria: – Digite o valor dos cheques depositados.

        Ele digitava e agradecia: – Obrigado.

        Aí ele errava, e a máquina repetia: – Digite o valor dos cheques depositados.

        Ele digitava de novo e se eximia: – Desculpe, hoje eu estou atrapalhado.

        A conversa continuou, enquanto eu, na minha máquina, muda, sacava um dinheirinho. Enfiei as notas no bolso, saí e fiquei um minuto ou dois lendo as manchetes numa banca. Quando me dispus a retomar meu caminho, quem foi que se aproximou de mim? O homem, aquele. Olhou-me com simpatia e me perguntou: – Tudo bem?

        Entrei em pânico. Ele, então, levantou a mão e me cumprimentou: – Até logo e boa sorte.

        Enquanto eu, estupefato, não sabia se respondia ou não, ele atravessou a rua e se foi. Era um louco, só podia ser. Falava e, além de falar, sorria.

O Estado de São Paulo, 25 nov. 1997.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 95-7.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fvariosexemplos.blogspot.com%2F2019%2F08%2Fcomo-separar-em-silabas-palavra-exemplo.html&psig=AOvVaw2WA-bDHIXJPAFZHN_SC7R_&ust=1607125808068000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIjCibeAs-0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo a Crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Acossado: pressionado.

·        Convivência: ação ou efeito de conviver, trato diário.

·        Recorremos: lançamos mão de, usamos.

·        Engajada: comprometida com a vida política.

·        Grunhidos: resmungos.

·        Periferia: subúrbio, região afastada do centro da cidade.

·        Rancor: raiva.

·        Desvairados: loucos, dementes.

·        Desamor: ausência de amor.

·        Digite: use o teclado de uma máquina.

·        Inamistoso: agressivo.

·        Eximia-se: desculpava-se.

·        Minguados: poucos.

·        Estupefato: espanto.

02 – Onde se ambienta a ação do texto?

      A ação do texto ocorre em São Paulo.

03 – O problema apresentado pelo texto pode acontecer somente naquele local? Como é isso na sua cidade?

      Não, esse problema pode acontecer em qualquer grande cidade do mundo. Resposta pessoal do aluno.

04 – Segundo o texto:

a)   Quais as razões para o silêncio das pessoas nas ruas?

O cansaço, os problemas, as dificuldades econômicas, as decepções, o medo.

b)   Quais são os temas discutidos em reuniões? Faça um comentário a respeito.

Os temas são o futebol, a vida íntima de astros de cinema e televisão e dietas ou regimes novos.

c)   O que acontece com aquelas pessoas que querem conversar sobre assuntos mais sérios?

Algumas dessas pessoas começam a falar sozinhas, consigo mesmas.

05 – Na sua opinião, por que o texto diz que “somos robôs programados para o essencial”?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Qual é o problema humano que o texto discute? Faça um comentário a respeito.

      O texto discute a dificuldade de comunicação entre as pessoas imposta pela correria do dia-a-dia.

07 – Como você entendeu o episódio narrado no final do texto?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: é um recurso do autor para, por meio de uma situação externa, chamar a atenção sobre o problema que comenta na crônica: a incomunicabilidade, o isolamento em que vivemos.

08 – A crônica discute um problema enfrentado por que faixa etária?

      A crônica discute o problema da solidão enfrentado pelos adultos.

09 – Você concorda com a análise do cronista? Faça um comentário a respeito.

      Resposta pessoal do aluno.

CRÔNICA: GENTE DEMAIS - RACHEL DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Crônica: Gente Demais       

                  Rachel de Queiroz

        Ah, vida penosa! Tudo tão difícil, tão sofrido, tão sem jeito. A discórdia, as disputas, as mentiras. O grevismo. Pensando bem, quem sabe os males do mundo não decorrem do fato de, neste mesmo mundo, estar havendo gente demais? Já não se morre tanto como antigamente. A perspectiva de vida das pessoas subiu de modo incrível. Na época da nossa independência, o tempo médio de vida dos brasileiros talvez não passasse dos 40. Hoje alcançou os 70 e, nas áreas mais adiantadas, já estão falando em 80. A medicina evoluiu tanto que, neste final de século, andam esquecidas quase todas as grandes doenças que outrora dizimavam populações. Ninguém morre mais de varíola, de bubônica, de tifo, de febre amarela. O impaludismo acaba onde chega o mata-mosquito. Quase não se morre mais de parto, de apendicite, de hérnia. Fora das faixas de grande pobreza, baixam muito os índices de mortalidade infantil. A tuberculose, a grande Peste Branca, ficou para trás, contemporânea da Dama das Camélias. Até lepra hoje se cura. Os males da velhice são combatidos com êxito e o milagre da ponte de safena já se faz nos hospitais públicos, deixando de ser privilégio dos ricos.

        E quando a ciência se mostra ainda impotente, como acontece com o câncer e com a Aids, os sábios enfrentam com tal gana o desafio que, com certeza, em breve o vencerão.

        E agora eu pergunto: estará mesmo dentro dos planos de Deus tanta gente pululando na fase da terra? Mais de um bilhão de chineses, por exemplo, estriam previstos no Gênese, quando o Senhor contemplou a sua criação e achou que tudo estava bem? Não haverá chineses demais, e russos, e americanos, e indianos – e brasileiros?

        Os criadores de gado e de outros bichos sabem que não se pode ter rebanho acima das possibilidades de pasto. Passando certo limite, tem que vender, mandar para o corte, embora com uma dor no coração. Então nós, que somos o rebanho do Senhor, não teremos excedido as possibilidades do nosso sustento, não careceremos de ser reajustados? Como Deus não dendê corpos (o próprio Diabo só se interessa por almas), Ele então suscita epidemias, terremotos, enchentes, revoluções, guerras. E como tem conosco o compromisso de nos permitir o livre-arbítrio, deixa que a podagem a façamos nós mesmos – e por isso é ela tão imperfeita. Guerras por exemplo: são um método seguro de fazer com que minguem populações. Mas em vez de se recrutarem os inúteis, os descartáveis, os velhos, os estropiados, os frágeis – não: convoca-se para a guerra a fina flor da população, os que estão no esplendor da juventude. Idade entre 18 e 25 anos, boa altura, boas proporções, saúde perfeita. Nem os míopes são aceitos. Dentes impecáveis, como se nas guerras de hoje ainda se brigasse às dentadas. Exemplares perfeitos, hígidos – pra quê? Para fazer deles carne de canhão. Parece que as juntas do recrutamento militar não têm ideia da crueza da guerra; só cuidam de bonitos soldadinhos em parada. Por mim, em caso de guerra, afora os especialistas indispensáveis (que, no caso, precisam é de bons cérebros, não de higidez física), pegaria para carne de canhão somente os dispensáveis, os que são um peso para si e para os outros e – por que não? – os velhos como nós. Passou dos 70, está automaticamente alistado. O prejuízo não seria tão grande, nós já estamos mesmo na hora do ajuste de contas. Nos romances de cavalaria há sempre a figura do velho herói que, somando as cansadas forças ao imperecível valor, ganha a vitória com o seu sacrifício. Lembram-se da última campanha do Cid Campeador? Até depois de morto venceu o combate, correndo à frente no seu corcel de guerra, atado numa grade que o sustinha à sela, preso na mão esquerda o pendão de batalha. Pois há muito velho por aí, ansioso por acabar em glória, numa façanha assim.

        E então ficariam só os moços, os belos, os saudáveis, para repovoar a terra.

As terras ásperas: 96 crônicas escolhidas. São Paulo, Siciliano, 1993.

     Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 66-9.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fjoaokepler.medium.com%2Fa-vida-%25C3%25A9-uma-perspectiva-5ad91f965d04&psig=AOvVaw0dkUZ4PMYjJVKHCJAWh6V3&ust=1607125074308000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJiM8Nb9su0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Discórdia: desavença, falta de concórdia.

·        Pululando: brotando, multiplicando-se com rapidez.

·        Grevismo: movimentos pela paralisação do trabalho.

·        Excedido: superado.

·        Perspectiva: estimativa, possibilidade.

·        Suscita: provoca.

·        Dizimavam: aniquilavam, exterminavam.

·        Livre-arbítrio: faculdade que tem o ser humano de autodeterminar-se, isto é, decidir seus próprios caminhos.

·        Contemporânea: da mesma época.

·        Impotente: que não tem poder.

·        Gana: grande apetite ou vontade de algo.

·        Minguem: dizimem, reduzam.

·        Hígidos: sadios, sãos.

02 – Como você avalia a opinião do narrador sobre o mundo?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A opinião do narrador sobre o mundo é muito pessimista, mostra amargura e descontentamento.

03 – Em que área do conhecimento humano o texto reconhece grandes avanços?

      Na medicina.

04 – Segundo o texto, qual é a causa dos problemas do mundo?

      Segundo o texto, é o excesso de população.

05 – Com que o texto compara a espécie humana?

      O texto compara a espécie humana com gado.

06 – Qual é a explicação presente no texto sobre as catástrofes que atingem a humanidade?

      As catástrofes seriam suscitadas por Deus para diminuir a população.

07 – Quem são os convocados para as guerras?

      São os jovens, de “boa altura, boas proporções, saúde perfeita”.

08 – Que grupo a autora gostaria de enviar à guerra?

      A autora enviaria à guerra os mais velhos, que já estão na hora do “ajuste de contas”.

09 – Numere as afirmações de acordo com a ordem em que aparecem no texto.

(1) Os males do mundo decorrem do fato de haver gente demais.

(8) Há muitos idosos que gostariam de acabar os seus dias praticando um ato de heroísmo.

(2) A perspectiva de vida aumentou muito.

(3) A medicina evoluiu tanto que muitas doenças que dizimavam populações andam esquecidas.

(9) Os melhores repovoariam o mundo.

(5) O ser humano tem livre-arbítrio.

(7) Os velhos deveriam ser soldados.

(4) Com certeza, em breve serão vencidos o câncer e a Aids.

(6) As guerras matam os jovens.

10 – Escolha uma das afirmações da questão anterior e argumente em seu favor.

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Escolha uma das afirmações da questão 9 e argumente contra ela.

      Resposta pessoal do aluno.

12 – Lembre-se do que você discutiu sobre a causa das guerras.

a)   A autora desta crônica posiciona-se contra a guerra?

Ela não critica a guerra em si, mas o fato de se enviarem jovens, “a fina flor da população”.

b)   Como você vê esse posicionamento.

Resposta pessoal do aluno.

13 – De modo geral, você concorda ou discorda das afirmações contidas no texto? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.