Mostrando postagens com marcador LYGIA BOJUNGA NUNES. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador LYGIA BOJUNGA NUNES. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 19 de junho de 2019

CONTO: O MEU AMIGO PINTOR - (FRAGMENTO) - LYGIA BOJUNGA - COM GABARITO

Conto: O meu amigo pintor – Fragmento
                 
                   Lygia Bojunga
        [...] 

        O meu amigo mora, quer dizer morava no apartamento aqui em cima. Eu ia lá jogar gamão com ele, a gente conversava, e ele tinha um relógio de parede que batia hora e meia-hora também. O meu pai e a minha mãe reclamavam "ô, mas que coisa enjoada essa bateção!" E a minha irmã me perguntava " será que o teu amigo nunca vai se esquecer de dar corda no relógio não?"
        Mas cada um é de um jeito, não é? E eu gostava demais de ouvir o relógio batendo. De noite ainda mais. [...]
        Pra mim, ouvir o relógio batendo era que nem ouvir o meu amigo andando. [...]

    Lygia Bojunga. O meu amigo pintor. 22. ed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2004.

Entendendo o conto:

01 – Retire trechos do fragmento que exemplifiquem a língua informal. 
      "Ô, mas que coisa enjoada essa bateção!"; a expressão “a gente”; “se esquecer de dar corda no relógio não?”; “ouvir o relógio batendo era que nem ouvir o meu amigo andando.”

02 – Identifique o verbo do primeiro período do trecho é classifique-os. 
      Mora/morava: verbo intransitivo.

03 – Quais são os complementos verbais do verbo jogar? Classifique-os. 
      “Gamão”: objeto direto; “com ele”: objeto indireto.

04 – Como é classificado o verbo conversar nesse fragmento?
      Verbo intransitivo.

05 – Retire do trecho uma oração que contenha um verbo transitivo direto e outro com um verbo transito indireto. 
      “Ele tinha um relógio de parede que batia hora e meia-hora também.” / “E eu gostava demais de ouvir o relógio batendo.”
     


sábado, 18 de maio de 2019

TEXTO: CARTA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Carta

        Lorelai:

        Era tão bom quando eu morava lá na roça. A casa tinha um quintal com milhões de coisas, tinha até um galinheiro. Eu conversava com tudo quanto era galinha, cachorro, gato, lagartixa, eu conversava com tanta gente que você nem imagina, Lorelai. Tinha árvore para subir, rio passando no fundo, tinha cada esconderijo tão bom que a gente podia ficar escondida a vida toda que ninguém achava. Meu pai e minha mãe viviam rindo, andavam de mão dada, era uma coisa muito legal da gente ver. Agora, tá tudo diferente: eles vivem de cara fechada, brigam à toa, discutem por qualquer coisa. E depois, toca todo mundo a ficar emburrado. Outro dia eu perguntei: o que é que tá acontecendo que toda hora tem briga? Sabe o que é que eles falaram? Que não era assunto para criança. E o pior é que esse negócio de emburramento em casa me dá uma aflição danada. Eu queria tanto achar um jeito de não dar mais bola pra briga e pra cara amarrada. Será que você acha um jeito pra mim?
        Um beijo da Raquel.
        [...]
                                          Nunes, Lygia Bojunga. A Bolsa Amarela –
                                                      31ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1998.
Entendendo o texto:

01 – Em “Agora  tudo diferente”: a palavra destacada é um exemplo de linguagem:
           a)   Ensinada na escola.
           b)   Estudada nas gramáticas.
           c)   Encontrada nos livros técnicos.
           d)   Empregada com colegas.

02 – O termo em destaque funciona como pronome indefinido em:
a)   “A casa tinha um quintal com milhões de coisas […]”
b)   “[…] eu conversava com tanta gente que você nem imagina […]”
c)   “[…] era uma coisa muito legal da gente ver.”
d)   Que não era assunto para criança.”

03 – “Outro dia eu perguntei: o que é que tá acontecendo que toda hora tem briga?”. Identifique os pronomes indefinidos que compõem essa parte do texto:
      É “outro” e “toda”.

04 – Os pronomes indefinidos, identificados na questão anterior, classificam-se como:
(X) pronomes indefinidos adjetivos
(  ) pronomes indefinidos substantivos

05 – Grife os pronomes indefinidos presentes nas frases a seguir:
a)   “[…] que ninguém achava.”
b)   “Agora, tá tudo diferente […]”
c)   “[…] brigam à toa, discutem por qualquer coisa.”
d)   “E depois, toca todo mundo a ficar emburrando.”

06 – Aponte, entre os pronomes indefinidos grifados acima, aqueles:
a)   Que acompanham os substantivos: 
“Qualquer” e “todo”.

b)   Que foram empregados no lugar dos substantivos: 
“Ninguém” e “tudo”.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

TEXTO: LIVRO - A TROCA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO

TEXTO: LIVRO - a troca 
          
              Lygia Bojunga Nunes

        Pra mim, livro é vida; desde muito pequena os livros me deram casa e comida. 
      Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé fazia parede; deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
        De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pra paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.
        Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
        Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim cheia me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.
        Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas – é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
        Mas como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei de um dia alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra em algum lugar uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

(Mensagem de Lygia Bojunga para o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e divulgada nos 64 países membros do IBBY).
                   Lygia Bojunga Nunes. Livro: um encontro com Lygia Bojunga Nunes.
Rio de Janeiro, Agir, 1988. p. 78.
Entendendo o texto:
01 – A autora afirma que, desde criança, os livros lhe deram casa e comida.
a)   Como era essa casa?
Era casa de brinquedo, feita com livros.

b)   O que quer dizer comida, nessa firmação?
Os livros alimentavam a imaginação da autora.

02 – Com o tempo, a autora foi esquecendo de construir novas casas. Por quê?
      Porque passou a ler os livros.
03 – Como o livro pode levar alguém a morar no mundo inteiro?
      Através da imaginação. O livro fala de lugares distantes e o leitor se imagina neles.

04 – Que tipo de tijolo a autora passou a fabricar?
      Os tijolos eram livros. Ela se tornou escritora.

05 – “... quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava”, diz a autora. E você, gosta de livros? O que você busca neles?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Podemos dizer que o texto é uma narração de caráter dissertativo. Justifique essa firmação.
      É uma narração porque a autora narra fatos de sua vida. Tem também caráter dissertativo porque a autora nos demonstra uma ideia: livro é vida.

07 – Mesmo sendo uma narração de caráter dissertativo, a autora faz uso da linguagem conotativa, daí podemos dizer que existe linguagem poética nesse texto em prosa. Lembrando que, como você já viu, denotação corresponde ao sentido de dicionário da palavra; conotação corresponde ao sentido figurado.

Destaque do texto “Livro – a troca” duas frases conotativas:
·        “... e derrubei telhados com a cabeça”.
·        “Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia”.



sexta-feira, 16 de novembro de 2018

CRÔNICA: A PIPOCA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A PIPOCA  - (Lygia Bojunga Nunes)


        Falaram pouco até chegar no morro.
        O caminho que subiam era estreito. O Tuca foi na frente. Quase correndo. Feito querendo escapar da discussão que crescia lá dentro dele: um Tuca dizendo que amigo-que-é-amigo não tá ligando se a gente mora aqui ou lá; o outro Tuca não acreditando e cada vez mais arrependido da ideia de comer pipoca.
        E atrás dos dois lá ia o Rodrigo, querendo assobiar para disfarçar. Querendo mas não podendo: já estava botando a alma pela boca de tanto subir.
        Quantas vezes, com a luz de tudo que é barraco se espalhando pelo morro, o Rodrigo tinha escutado dizer:
        Que bonito que é favela de noite! As luzes parecem estrelas.
        E o Rodrigo ia olhando cada barraco, cada criança, cada bicho, vira-lata, porco, rato, olhando tudo que passava: bonito? estrela? cadê?!
        Quando chegaram no alto o Rodrigo estava sem fôlego. O Tuca parou:
        — Eu moro aqui. — Entrou.
        Só os irmãos pequenos estavam em casa. Quatro. O Tuca foi apresentando cada um. Os grandes ainda estavam “lá embaixo se virando”; e a irmã mais velha tinha saído.
        — Mas e a pipoca? — o Tuca quis logo saber — ela esqueceu que ia fazer pipoca pra gente?
        — Não, — um irmão explicou — ela já fez. Mas ficou com medo da gente comer tudo antes de você chegar e então guardou ali — espichou o queixo pra uma porta que estava fechada. Fez cara de sabido e piscou o olho: — A chave tá na vizinha...
        Enquanto o garoto falava o Rodrigo ia olhando pro barraco: dois cômodos pequenos, um puxado lá fora pro fogão e pro tanque, e a tal porta fechada que o garoto tinha mostrado e que devia ser um outro quarto; ou quem sabe o banheiro? Juntando tudo o tamanho era menor que a cozinha da casa dele; e eram onze morando ali! e mais a mãe?!
        Uma vez o Tuca tinha contado pro Rodrigo:
       “O meu pai era marinheiro. Só aparecia em casa de vez em quando. Um dia não apareceu mais.”
       “Ele morreu?”
       “Ninguém sabe.”
       “E a tua mãe?”
       “Ela mora lá com a gente. Mas quem faz de mãe lá em casa é a minha irmã mais velha.”
       “Por quê?”
       “É que a minha mãe... é doente.”
       “O que ela tem?”
       “Tem lá umas coisas. Mas a minha irmã é a pessoa mais legal que eu já vi até hoje: aguenta qualquer barra.”
        Lá pelas tantas o Tuca quis acabar com a discussão que continuava dentro dele:
        — Vam’embora, Rodrigo. Você agora já sabe onde eu moro e se quiser aparecer a casa é sua.
        — Mas e a pipoca? — o Rodrigo perguntou.
        Não precisou mais nada: a criançada desatou a falar na pipoca, a querer a pipoca, a pedir a pipoca.
       Uma barulhada! O Tuca ficou olhando pro chão. De repente saiu correndo. Pegou a chave na casa da vizinha. Abriu a porta que estava trancada.
        Era um quarto com uma cama, um armário velho de porta escancarada e uns colchões no chão.
        Tinha uma mulher jogada num colchão.
        Tinha uma panela virada no colchão.
        Tinha pipoca espalhada em tudo.
        A criançada logo invadiu o quarto e começou a catar pipoca do chão.
        Ninguém ligou pra mulher querendo se levantar do colchão.
        O Rodrigo estava de olho arregalado.
        O Tuca olhou pra ele. Olhou pra mulher. Olhou pras pipocas sumindo.
       — Pronto, — ele resolveu — você não vai comer pipoca do chão, vai? então não tem mais nada pra gente fazer aqui. — Empurrou o Rodrigo pra fora do barraco. — Agora você já sabe o caminho. Desce por lá. — Apontou.
        O Rodrigo estava atarantado:
        — Lá onde?
        — Vem! eu te mostro. — E desceu correndo na frente. Num instantinho chegou na curva que ele tinha mostrado. Respirou fundo. Lembrou do perfume do talco. Olhou pro lado: estava um lameiro medonho naquele pedaço do morro: tinha chovido forte na véspera e uma mistura de água e de lixo tinha empoçado ali.
        O Rodrigo chegou de língua de fora: o Tuca tinha descido tão depressa que mais parecia um cabrito.
        — Pô cara! — ele reclamou — assim não dá. Você quase me mata nessa des...
       Mas o Tuca já tinha virado pra ele de cara feia e já estava gritando:
        — Não precisa me dizer! Eu sei muito bem que não dá. Como é que vai dar pra gente ser amigo com você cheirando a talco...
        — Eu?!
        — ... e eu aqui nesse lixo todo. Não precisa me dizer, tá bem? eu sei, EU SEI, que não dá. Você que ainda não sabe de tudo. Quer saber mais, quer? quer? — Pegou o Rodrigo pela camisa. — Quando a minha irmã tranca minha mãe daquele jeito é porque a minha mãe já tá tão bêbada que faz qualquer besteira pra continuar bebendo mais. — Começou a sacudir o Rodrigo. — Você olhou bem pra cara dela, olhou? pena que ela não estava chorando e gritando pra você ver. Ela chora e grita (feito neném com fome) pedindo cachaça por favor.
        — Me solta Tuca!
        — Solto! solto sim. Mas antes você vai ficar igual a mim. — E botou toda a força que tinha pra derrubar o Rodrigo no lameiro.
       [...] E quando sentiu os pés se encharcando se atirou pro lameiro levando o Rodrigo junto. Aí largou.
        O Rodrigo levantou num pulo. Não precisava tanta pressa: ele já estava imundo, pingando lixo.
       O Tuca levantou devagar. E de cabeça baixa foi subindo o morro de volta pra casa.

(Lygia Bojunga Nunes. Tchau. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1987. p. 38-42.)
Entendendo o texto:

01 – Tuca e Rodrigo são dois amigos da escola. Rodrigo, que mora num luxuoso apartamento, vai conhecer o barraco do amigo, numa favela. No 2o parágrafo do texto, o narrador se refere ao nervosismo de Tuca.
a)   Que comportamento do menino mostra seu nervosismo?
Ele ir à frente, quase correndo.

b)   Por que, segundo o texto, havia dois Tucas dentro dele?
Pois dentro dele ficou meio dividido, um arrependido pela ideia de ir comer pipoca e o outro de que amigo que é amigo não liga pra essas coisas.

02 – Releia o 5° parágrafo do texto. Nele é descrito tudo o que Rodrigo vê.
a)   Pela mistura dos elementos enumera­dos, o que se pode dizer das condições de higiene daquele lugar?
Era péssima, pois era tudo desorganizado.

b)   Por que se pode dizer que Rodrigo, até aquele dia, tinha sido ingênuo em relação ao morro?
Pois ele já tinha ideia que na favela seria tudo desorganizado, pois já que na casa dele era tudo arrumado.

03 – Com a frase "Uma vez o Tuca tinha contado pro Rodrigo", o narrador introduz o flash-back narrati­vo, isto é, conta fatos que ocorreram no passado. Assim, ficamos sabendo que o pai de Tuca havia sumido e que a mãe dele era doente.
a)   Que tipo de problema tem a mãe de Tuca?
A mãe de Tuca era alcoólatra.

b)   Que diferença há entre Tuca dizer "ela mora com a gente" e "a gente mora com ela"?
“Ela mora com a gente” quer dizer que os irmãos que sustentam ela (mãe), e “Agente mora com ela”, estaria querendo dizer que ela sustentava a família.

c)   Quem sustenta a casa? Retire do texto um trecho que justifique sua resposta.
A irmã de Tuca.

d)   Quem cuida da organização da casa?
A irmã da Tuca.

04 – Rodrigo é convidado para ir comer pipoca na casa de Tuca; mas a pipoca é apenas uma desculpa para eles se conhecerem melhor e estreitarem a amizade.
a)   Por que Tuca, em casa, fica nervoso e deseja descer o morro antes mesmo de comerem a pipoca?
Porque ele estava com vergonha da mãe dele.

b)   Que sentimento Tuca revela sentir no momento em que abre a porta do quarto?
Desprezo e uma vergonha.

05 – Tuca desce o morro em disparada. Em certo momento, Rodrigo diz: "assim não dá. Você quase me mata nessa des...".
a)   Provavelmente, do que Rodrigo iria reclamar? Por quê?
Da descida, porque ele estava correndo demais.

b)   O que Tuca supôs que Rodrigo estivesse pensando sobre a Situação?
Ele pensou que Rodrigo já sabia que não iria ter pipoca.

c)   Por esse episódio, pode-se dizer que a discussão que existia dentro de Tuca, no começo do texto, continua agora? Por quê?
Porque ele não queria perder a amizade com o Rodrigo.

06 – No final do texto, Tuca joga Rodrigo na lama. Um pouco antes, sentira um cheiro de talco no amigo.
a)   A que se associa o talco?
Associa-se a limpeza.

b)   A que se associa a lama?
A lama se associa a sujeira.

c)   Se Tuca vive num ambiente de lama e Rodrigo cheira a talco, por que, na sua opinião, Tuca teria forçado Rodrigo a cair na lama?
Para ele sentir como é viver em meio a “pobreza”, em meio a sujeira.

07 – “O Tuca levantou devagar. E de cabeça baixa foi subindo o morro de volta pra casa."
a)   O que as expressões devagar e de cabeça baixa revelam quanto ao estado emocional de Tuca?
Tuca ficou triste quanto a sua vida, pois o amigo tinha uma vida “melhor”, além de ficar com vergonha.

b)   O que você acha que ele devia estar pensando, enquanto subia o morro?
Que a vida de Rodrigo era “melhor” do que a vida dele.

c)   E Rodrigo, enquanto voltava para seu apartamento?
Ele certamente pensava em logo se limpar e pensava na sujeira que ele presenciou, além de pensar, também, que foi rude com o “amigo”.

08 – No contato com Tuca, Rodrigo — um garoto até certo ponto ingênuo — aprendeu muitas coisas.
a)   Em algum momento, Rodrigo manifestou preconceito em relação à pobreza de Tuca? Se não, o que sentiu?
Não, ele não se manifestou oralmente, mais sim interiormente.

b)   Você acha que, depois dessa experiência, os dois vão continuar a ser amigos?
Resposta pessoal do aluno.



terça-feira, 28 de agosto de 2018

CRÔNICA: OSARTA - LYGIA BOJUNGA NUNES - COM GABARITO

CRÔNICA: Osarta
                Lygia Bojunga Nunes
  

     A escola pra onde levaram o Pavão se chamava Escola Osarta do Pensamento. Bolaram o nome da escola pra não dar muito na vista. Mas quem estava interessado no assunto percebia logo: era só ler Osarta de trás pra frente.
     A Osarta tinha três cursos: o Curso Papo, o Curso Linha e o Curso Filtro.
    O Curso Papo era isso mesmo: papo. Batiam papo que só vendo. O Pavão até que gostou; naquele tempo o pensamento dele era normal, ele gostava de conversar, de ficar sabendo o que é que os outros achavam, de achar também uma porção de coisas. Só que tinha um problema: ele não podia achar nada; tinha que ficar quieto escutando o pessoal falar. Se abria o bico ia de castigo; se pedia pra ir lá fora ia de castigo; se cochilava (o pessoal falava tanto que dava sono), acordavam ele correndo pra ele ir pro castigo.
        O Pavão então resolveu toda a hora abrir o bico, ir lá fora, cochilar - só pra ficar de castigo e não ouvir mais o pessoal falar. Não adiantou nada, deram pra falar na hora do castigo também. E ainda por cima falavam dobrado.
        O Pavão era um bicho calmo, tranquilo. Mas com aquele papo todo dia, o dia todo a todo instante, deu pra ir ficando apavorado. Se assustava à-toa, qualquer barulhinho e já pulava pra um lado, o coração pra outro. Pegou tique nervoso: suspirava tremidinho, a toda hora sacudia a última pena do lado esquerdo, cada três quartos de hora sacudia a penúltima do lado direito.
        O Curso Papo era pra isso mesmo: pro aluno ficar com medo de tudo. O pessoal da Osarta sabia que quanto mais apavorado o aluno ia ficando, mais o pensamento dele ia atrasando. E então eles martelavam o dia inteiro no ouvido do Pavão:
        – Não sai aqui do Curso. Você saindo, você escorrega, você cai, cuidado, hem?
        Cuidado. Olha, olha, você tá escorregando, tá caindo, não disse?! Você vai ficar a vida toda pertinho dos teus donos, viu? Não fica nunca sozinho. Ficar sozinho é perigoso: você pensa que tá sozinho mas não está: tem fantasma em volta. Olha o bicho-papão.
Cuidado com a noite. A noite é preta, cuidado.
        Inventavam coisas horríveis pra contar da noite. E diziam que se o Pavão não fizesse tudo que os donos dele queriam, ele ia ter brotoeja, dores de barriga horrorosas, era até capaz de morrer assado numa fogueira bem grande.
        O Pavão cada vez se apavorava mais. Lá pro meio do curso ele pegou um jeito esquisito de andar: experimentava cada passo que dava, pra ver se não escorregava, se não caía, se não tinha brotoeja, se não acabava na fogueira. E na hora de falar também
achava que a fala ia cair, escorregar, trancava o bico, o melhor era nem falar. E então as notas dele começaram a melhorar.
        No princípio do curso o Pavão só tirava zero, um, dois no máximo. Mas com o medo aumentando, as notas foram melhorando: três, quatro, cinco; e teve um dia que o Pavão teve tanto medo de tanta coisa que acabou ganhando até um sete. (Nota dez era só pra quando o aluno ficava com medo de pensar. Aí o curso estava completo, davam diploma e tudo.) No dia que o Pavão ganhou nota sete, de noite ele sonhou. Um sonho muito bem sonhado, todo em tom amarelo, azul e verde alface. Sonhou que o
pessoal do Curso Papo falava, falava, falava e ele não escutava mais nada: tinha ficado surdo. Acordou e pensou: tai, o jeito é esse. Foi pra aula. Estavam encerando o corredor da escola. Pegou um punhado de cera e, com um jeito bem disfarçado, tapou o ouvido. Daí pra frente o Pavão ficava muito sério olhando o pessoal do Curso falando, falando, e ele - que bom! - sem poder escutar.
        Fizeram tudo. Falaram tanto que ficaram roucos. Um deles chegou até a perder a voz. Mas não adiantava: o medo do Pavão não aumentava; não se espalhava; tinha empacado na nota sete e pronto. Resolveram então levar o Pavão pro Curso Linha.
        E o Pavão foi. Com um medo danado de cair. Examinando a perna a toda hora, pra ver se uma coceirinha que ele estava sentindo já era a tal brotoeja.
        Suspirando tremidinho. Sacudindo a última pena e a penúltima também. Mas fora disso – normal.
NUNES, Lygia Bojunga. A casa da madrinha.
Rio de Janeiro: Agir, 1985. p.24-26.
Entendendo o texto:
01 – Segundo a narração, o que caracteriza um pensamento atrasado?
      Segundo o texto, pensamento atrasado é essencialmente marcado pela dependência e pelo medo.

02 – Como os “donos” garantem a submissão dos alunos?
      Os donos disseminavam a crença nos mais diferentes tipos e níveis de perigo da vida longe deles.

03 – Você conhece escolas parecidas com a Osarta? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O texto de Lygia traz uma metáfora de uma forma de “educar”: educar para o conformismo, para o pensamento igual, sem crítica nem originalidade, para o comportamento domesticado.

04 – Você percebe no texto um registro formal ou informal? Apresente exemplos que provem sua resposta.
      A linguagem do texto é marcadamente coloquial, tanto na escolha do vocabulário como na sintaxe. A autora usa expressões como “o pessoal”, “medo danado”, “empacar”, “não dar na vista”. Usa “ter” no lugar de “haver” (“tinha um problema”), começa frase com pronome átono (“se assustou”), usa formas reduzidas “pra”, “pro”, suprime preposição: o dia (em) que...

05 – Há professores que pedem aos alunos que “corrijam” textos de Lygia Bojunga, como este, marcados pelo coloquialismo. Como você analisa esta atividade de correção?
      A opinião é pessoal. Sugestão de resposta:
      Primeira: o coloquial pode aparecer na escrita, conforme o grau de formalidade da situação.
      Segunda: no caso desse texto, o próprio narrador busca uma aproximação com o leitor e, assim, o tom coloquial e a informalidade são adequados.