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domingo, 3 de dezembro de 2023

HISTÓRIA: DA FEITICEIRA CEGA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Da Feiticeira Cega

        Vamos contar uma história dos antigos. Em nossa fala chama-se Nete Beku nome de uma mulher cega.

        Diz que chegou um repiquete e alagou tudo. A água carregou essa mulher, que não teve por onde escapar. A alagação cobriu mato, terra, tudo. Terra alta também cobriu.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha69k9xF53ZBnW99DScrJbDtMqWS3t9cj86CiR0L82erRPGKuofmlB9CulVq7ObSiTbZOjTBQ9A8Rty3Yq3jEaV8V1c4FEV34Wa2SigBJwHCZtRQnBlmtOwrNKp-oKKDC3XFB4bvqiA4yOHWzQ_gd4rZPbvV_2IWGEZr8835n_Mh5v706po9B_uL2YnUQ/s320/CEGA.jpg


        Quando estava passando um pau bem grosso carregado pelas águas, essa mulher conseguiu sentar em cima dele. Lá sentada, esperou a alagação baixar. Depois o rio começou a baixar, baixar, baixar... Até que findaram as águas.

        Mas a terra continuou toda molhada e não tinha canto para a mulher andar. Sozinha, ela chorava, chorava, chorava. Seu pessoal tinha morrido todinho. Chorava... Então, juntou muita abelha ao redor da mulher. As abelhas picaram seus olhos e ela ficou cega, sem poder enxergar mais nada.

        Foi passando o tempo, até quando as águas secaram. Diz que a mulher pegou duas abelhas, achou uma cabaça, furou, botou as abelhas dentro e tampou. Passada uma semana, a mulher espocou a cabaça e dela saíram dois meninos. Ela pegou esses meninos para criar. Dava de mamar num peito e no outro. Os meninos foram crescendo, pouco a pouco, até que começaram a sair na praia sozinhos. Um dia, acharam um pé de mudubim e trouxeram para a mãe de criação, que não enxergava mais nada.

        ─ Mãe, o que é isto aqui?

        ─ Cadê, meu filho?

        A mulher pegou na folha, apalpou e pegou na raiz até reconhecer:

        ─ Bem, meu filho, este aqui é um pé de mudubim, uma planta. A gente planta isso. A gente come. É nosso. Foi o repiquete que trouxe lá de cima. Vamos guardar pra nós plantarmos.

        No outro dia, andando de novo na praia, o menino achou um pé de macaxeira e mostrou para a mãe:

        ─ Mamãe, que folha é essa aqui?

        A velha pegou na folha, apalpou, mexeu e disse:

        ─ Essa daqui, meu filho, é folha de macaxeira que nós plantamos. O rio alagou e trouxe esse pau de maniva que está nascendo aqui. Vamos pegar e guardar pra gente plantar.

        Uns dias depois:

        ─ Bem, meu filho, andei pensando que melhor é nós voltarmos pra nossa terra. Aqui não é a nossa terra. Vamos andar.

        ─ E pra onde nós vamos, mamãe?

        ─ Vamos pela praia buscar um tio que mora bem longe, lá dentro, longe. Vamos encontrar com ele. Bem, vamos andar.

        Então saíram andando, andando... E acharam no caminho um pé de milho.

         ─ Mamãe, o que é isto aqui?

         ─ Esse daí, meu filho, é um pé de milho. É pé que a gente come, a gente planta. Vamos levar pra nós plantarmos. Essa é planta nossa, que a gente come assada no fogo, faz pamonha, prepara caiçuma para tomar e mistura com mudubim. Vamos embora andando, meu filho.

        Saíram andando, andando... Até que chegaram no outro rio, um igarapé de água preta que quando se andava nele ficava marca na terra. Eles foram andando e fazendo marca até chegar na outra boca.

        ─ Bem, meu filho, vamos entrar nesta água daqui. É outro do. Este daqui é de água branca.

        Eles foram andando, andando. E iam andando e fazendo aquela marca branca, e deixando a marca na areia branca do rio.

        ─ Bem, água branca, vai pra acolá. Agora vamos entrar nessa outra boca.

        Entraram, então, num rio de água verde, verdinha. Entraram no rio de água verde e foram andando e fazendo marca, outra marca. A primeira foi feita na água preta. A segunda, na água branca. A terceira, na água verde.

        E andaram, andaram, andaram.

        ─ O teu tio já está perto, meu filho. Escuta aí. Estio partindo lenha: «pou, pou, pou”... Estio partindo lenha. Taí o teu tio que já está perto. Escuta aí que estio partindo lenha.

        Então andaram, andaram... E escutaram barulho da casa do homem que estava partindo lenha.

        ─ Já está peno, meu filho. Que perto, que nada!

        Fazia mais de uma semana que eles estavam andando. Andavam e andavam. Como a velha não enxergava nada, eram os filhos que pegavam ela nos braços e iam carregando e andando, andando.

        ─ Bem, meu filho, espera aí. Suba esta terra. Tem uma escada que está em cima da terra. Pega essa escada e bota no chio pra nós descermos com ela.

        O filho dela só via terra. Diz que era uma terra que não tinha tamanho. Lá em cima, só uma escada que os homens deixaram para ninguém acertar aonde é que iam.

        ─ Pega essa escada.

        ─ Toma, mamãe.

        Então, ela fez ele subir até chegar lá em cima.

        ─ Vamos por aqui.

        E não tinha nada que cortasse. A velha era tão sabida que acertava tudo. Não enxergava, mas estava no rumo.

        ─ E para onde vamos, mamãe?

        ─ O caminho e por aqui.

        Entraram no caminho, andaram e andaram, até que saíram no outro igarapé.

        ─ E aqui, mamãe?

        ─ Espera aí. Teu tio está pra acolá.

        Andaram e chegaram em cima da terra alta.

        ─ E aqui, mamãe? Por onde nós vamos?

        ─ Vamos por aqui, todo tempo por cima da terra. Teu tio já está perto. Vamos sentar aqui para descansar. Estou cansada.

        No dia seguinte, andaram, desceram no igarapé e atravessaram até que saíram no caminho. E de lá, saíram no roçado do tio.

        ─ Está aqui. Ele mora pra acolá. Vamos embora por aqui.

        Então, chegaram na casa do tio.

        ─ Eu estou chegando, meu irmão!

        Quando a cunhada viu a mulher cega, animou-se, correu para peno dela, pegou e abraçou, chorando. Chegando em casa, gritou para o marido:

        ─ Chegou aqui nossa mãe.

        De lá mesmo, saiu o homem gritando.

        ─ Quem mandou ela vir aqui? Eu não quero ela aqui. Quem foi que trouxe? Nós vamos matar essa velha, pra não empatar nós.

        ─ Não, não faz isso com nossa mãe. É nossa mãe. Não faz isso!

        ─ Estamos morando aqui sozinhos e a velha chegou. Mas ela vai morrer nesses dias. Não vai durar tempo, não. Vai morrer.

        Passaram-se dois dias e a velha morreu. Morreu mesmo.

        Ficaram os dois rapazes que tinham vindo com ela para conhecer o tio.

        ─ Nosso tio matou nossa mãe. Como nós vamos fazer? Temos que viver com ele, pois não temos pra onde ir.

        No outro dia, o tio deles foi trabalhar. Quando estava limpando o roçado, diz que os ovos dele iam arrastando daqui para acolá. Ele ia trabalhando, limpando o roçado, e os ovos dele se arrastando daqui para acolá.

        Então esses dois rapazes passaram veneno nas flechas.

        ─ O que nós podemos fazer pra matar esse homem que matou nossa mãe?

        ─ Vamos matar ele também.

        Quando o homem ia pro roçado, com os ovos arrastando no chão, os rapazes lascaram o bico da flecha nos ovos dele.

        ─ Ai, ai! Que coisa me ferrou? Será um inseto que me ferrou aqui?

        O homem se pôs a procurar, para lá, para cá e nada. Procurava tudo e não achava nada que pudesse ter ferrado ele:

        ─ Que coisa me ferrou nos meus ovos?

        Matou o formigão e matou todos os insetos que passavam peno, achando que tinham ferrado ele.

        Voltou para casa e disse para a mulher:

        ─ Eu não sei que bicho ferrou os meus ovos. Estio doendo muito! Saiu para acolá e foi tomar um banho.

        Quando chegou de volta, não aguentou e foi deitar na rede. No outro dia, sofrendo com muita dor, morreu.

        Os dois rapazes então viveram com a mulher desse homem que matou a mãe deles. Dai para cá, eu nem sei contar mais essa história. Então, finda assim.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem é Nete Beku na história?

      Nete ​​Beku é o nome de uma mulher cega que sobreviveu a uma inundação e adota dois meninos após um evento trágico.

02 – Como Nete Beku perdeu a visão?

      Ela perdeu a visão depois de ser picada por abelhas enquanto chorava pela perda de seu povo durante uma inundação.

03 – O que Nete Beku encontrou dentro de uma cabana após uma semana?

      Ela encontrou dois meninos, que ela desenvolveu como filhos, dentro da cabaça.

04 – Para onde Nete Beku decide ir com os meninos?

      Ela decidiu voltar para sua terra natal, indo em busca de um parente que vive longe, adentrando uma jornada com os meninos.

05 – Como Nete Beku conheceu plantas como mudubim, macaxeira e milho mesmo sendo cega?

      Ela conheceu as plantas através do toque, achando as folhas e raízes para identificá-las.

06 – Como Nete Beku e os meninos atravessaram diferentes tipos de rios?

      Eles atravessaram rios de água preta, branca e verde, marcando caminho na terra enquanto caminhavam neles.

07 – Qual foi a ocorrência do tio de Nete Beku ao vê-la cega?

      Ele ficou contrariado e não queria que ela ficasse lá, afirmando que ela logo morreria e não queria ser incomodado por ela.

08 – Como Nete Beku morreu?

      Ela morreu dois dias depois de chegar à casa do tio, sofrendo com as consequências da exclusão e do tratamento hostil.

09 – Como os dois rapazes lidaram com a morte de Nete Beku?

      Eles planejaram vingança contra o tio, passando veneno nas flechas e matando após ele sofrer uma dor misteriosa.

10 – O que aconteceu com os dois rapazes depois que o tio morreu?

      Eles viveram com a mulher do tio e a história não detalha mais o que aconteceu depois desse evento.

 

HISTÓRIA: O SEGREDO DA COBRA - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: O Segredo da Cobra

        Aconteceu assim:

        A mãe e o pai do menino saíram para tirar mudubim. O menino ficou com o avô em casa, flechando cobra pequena para amansar. Ele ficou flechando e a cobra foi crescendo, levantando devagarzinho.

        ─ Ah, o menino quer me matar! Eu vou é criar ele.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPS0kPtie7VuYH8BZTKzzSu_5r_Yj81m8Th9w0J4W8A9NcIZ1ukrJUTtprwP42ehqQ6KPCmpLO9WXgy_Ty3MIczJLFxsYuuL9062F1VjwN2kG9aPLvcY_3CfxepDQrWEWNHog3RLrwj4FERUUmiprPUw8PcPKlGyjZeA9BI7rAljF5aUDf8T2WkWHtepg/s320/IGARAP%C3%89.jpg


        A cobra carregou o menino, descendo no igarapé. Lá ficou à ruma.

        Chegaram o pai e a mãe do menino, caçaram ele e não encontraram. Caçaram a cobra que tinha descido no igarapé.

        ─ Pronto, então a cobra engoliu o menino.

        Já era tarde quando a cobra chegou com o menino. Então, disse:

        ─ Bem, menino, você quer me matar? Vamos matar o Jaminawa, né? Chama Kukuxinawa. O Kukuxinawa é valente para matar. Vamos embora!

        A cobra matou cutia e comeu. Na manhã seguinte foi baixando igarapé, igarapé, igarapé. De tarde, disse:

        ─ Vamos dormir aqui!

        No dia seguinte, matou namhu e comeu mais o menino. Dormiu. Quando o dia amanheceu, partiu de novo, mais ele. E o menino ia crescendo a cada dia. E eles foram baixando, baixando até chegar na boca do igarapé.

        ─ Chegamos no rio grande. Agora está perto para matar um Jaminawa, Kukuxinawa. Eles andam de noite, assim como lanterna.

        ─ Vamos ficar aqui. E vamos fazer flecha para matar.

        E foram ajeitando flecha e prepararam arpão para matar. Três dias passaram até ajeitarem flecha.

        ─ Agora nós vamos matar Kukuxinawa.

        Eles baixaram devagarinho e pararam para dormir. Kukuxinawa, diz, que vem passando de noite mesmo, caçando de noite mesmo. Dormiram em cima do uricuri novo, sentados, atrepados no pau.

        ─ Não conversa, senão Kukuxinawa nos mata de manhã.

        ─ Vamos embora. Vamos matar Kukuxinawa.

        Chegaram lá. Kukuxinawa estava dormindo de dia. Todos nus. Mulher mijando assim, com o filho nu. Outro bocado, todos pinicando. Eles ficaram espiando. De dia mesmo, pois diz que Kukuxinawa não enxergava como de noite.

        ─ Como nós fazemos?

        ─ Deixa. Quando dormirem, nós matamos.

        Os Kukuxinawa deitaram e dormiram. Então, a cobra e o menino mataram eles com cacete e com flecha. Mataram tudinho.

        O menino já estava um homão. Cresceu, cresceu... E ficou homem.

        ─ Bom, você já está matando gente. Agora nós vamos subir no outro igarapé. Nós vamos por aqui, subindo, subindo, subindo, bem na cabeceira.

        Passaram perto da boca e depois seguiram uma perna do igarapé.

        ─ Agora, nós vamos matar rancho para levar para sua mie.

        Ficaram no tapiri, matando veado, anta, porco... todos os bichos que passaram. Então muquiaram, muquiaram bem as carnes.

        ─ Agora, vamos fazer uma peira para levar as carnes dentro.

        Fizeram uma peira bem grande.

        ─ Cadê todas as carnes muquiadas? Onde você botou?

        ─ Está tudo aqui.

        ─ Você não pode com o peso.

        A cobra botou a peira nas costas e saíram andando, andando. Até que chegaram num campo bem perto da casa da mãe do menino.

        ─ Bem, vou deixar você aqui. Agora eu dou ao meu filho um arpão para matar caça. Vou ensinar o segredo. Você não vai contar para ninguém. Vou ensinar só para você. Faz assim como eu estou ensinando, mesmo! Pegue assim!

        ─ Tá.

        ─ Não vai dizer para ninguém, senão eu tomo de volta o arpão e você fica panema.

        ─ Tá.

        ─ Eu vou ficar por aqui, escutando. Não vou sair daqui.

        ─ Tá.

        ─ Quer levar tua carne? Pode levar. Entrega a tua mãe.

        O menino pegou a peira e carregou nas costas até sua mãe.

        ─ A mãe dele andava chorando, chorando, já com a cara inchada. Chorava, chorava.

        Mamãe, mamãe!

        ─ Você não é meu filho. Eu quero meu filho mesmo.

        ─ Sou eu mesmo, mamãe!

        ─ Não, filho de outro eu não quero. Eu quero meu filho mesmo. Não sei onde foi o meu filho. Estou com saudades.

        E continuou chorando de tarde, chorando. Pouco mais, a mãe virou e disse:

        ─ E ele! Meu filho, onde você andou? Como apareceu assim, meu filho?

        ─ Ah, mãe, foi cobra que me carregou. Eu fui com ela matar Kukuxinawa e matei.

        ─ E mesmo!?

        ─ Eu trouxe carne pra senhora poder comer.

        Diz que trouxe tanta carne que a mãe dele admirou. Guisou toda a carne e, todos que quiseram, comeram. Com dois dias de festas, acabou a carne.

        ─ Bem, mamãe, eu vou matar mais caça.

        ─ Vai.

        ─ Vi um rastro de anta e de porco.

        Matou de arpão. Matou seis porcos. Não andava muito não. Só no rastro mesmo, fazendo feito folha.

        ─ Mamãe, matei porco e anta.

        ─ Então teu pai vai buscar. Eu não vou. Vou só preparar a carne.

        Então o cunhado dele, diz que era o cunhado dele, foi mais ele buscar anta, veado, porco.

        O cunhado disse:

        ─ Rá, rá!! Como eu não sou feliz assim para matar veado, anta, rá, rá!

        Mangou do menino, o cunhado dele.

        O pai do menino viu:

        ─ Como foi que você matou tanta caça?

        ─ Como foi? Foi que a cobra me deu urucum para ficar feliz.

        ─ Foi?

        ─ Foi.

        ─ Então, corno a gente faz?

        ─ A gente passa o urucum e urna ruma de folha e mata com arpão.

        ─ Então me ensina, tá? Vamos embora.

        ─ Vou ensinar.

        Ele foi na frente. Lá, encontrou rastro de anta. Passou o urucum. E, cheio de folha no corpo, atirou o arpão. A anta não morreu, não. A cobra já tinha levado dele o segredo do urucum.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Quem ficou responsável pelo menino quando seus pais saíram?

      O avô ficou responsável pelo menino enquanto seus pais estavam fora.

02 – Qual foi a ocorrência da cobra quando viu que o menino estava flechando?

      A cobra decidiu criar o menino, em vez de matá-lo.

03 – Para onde a cobra levou o menino?

      A cobra levou o menino para o igarapé.

04 – Quem procurou e encontrou o menino?

      Os pais do menino procuraram por ele e resgataram a cobra no igarapé.

05 – O que a cobra propôs ao menino quando finalmente o trouxe de volta?

      A cobra fez com que eles matassem Jaminawa, chamando Kukuxinawa, um caçador valente.

06 – Como a cobra e o menino mataram os Kukuxinawa?

      Eles os mataram com cacete e flecha enquanto os Kukuxinawa dormiram durante o dia.

07 – O que a cobra ensinou ao menino antes de se separarem?

     A cobra ensinou ao menino o segredo do arpão e do urucum para caçar.

08 – Qual foi a ocorrência da mãe quando o menino voltou depois de ter sido carregado pela cobra?

      Inicialmente, a mãe não conheceu o menino e decidiu que era ele. Depois, ficou emocionado ao ver que era seu filho.

09 – Como o menino conseguiu caçar tanta carne depois que a cobra partiu?

      Usando o conhecimento da cobra sobre o urucum para atrair a caça e o segredo do arpão para caçar.

10 – Por que o pai do menino não teve sucesso ao tentar usar o urucum para caçar?

      A cobra havia levado embora o segredo do urucum, então quando o pai o usou, não teve sucesso na caçada.

 

 

 

HISTÓRIA: FUMAÇA DO TABACO - SHENIPABU MIYUI - COM GABARITO

 História: Fumaça do Tabaco

        Tekã Kuru, um jovem como nós, fez um rapé de tabaco muito forte, o mais forte que tinha. Então, ele tomou o rapé. Pegou o canudo de taboca, botou o tabaco na mão e aspirou. Ficou bêbado e passou um ano na rede, ali deitado. Por isso que hoje em dia o tabaco é forte. Passou um ano curtindo.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW3ovBkmNzm18zScvW4mVr8VZoI0Sttg7s0fowMtAGcznw3Py76G8vecR92asMpP7zQ2TJMSKlmCq6dGqu2Z2k4gKbvypimiE5J3_88ZBsn6CzixjV2JRLeudzcKl298tznnA3xn24DCSvbNDyW-LsW2M1yKiGhk6Iw1xqb3V_BoBBtjHJYXh5EGNrjFo/s1600/FUMA%C3%87A.jpg


        Tekã Kuru tinha uma esposa. Enquanto ele ficou de porre de tabaco, sua mulher sempre andava para lá e para cá. Até que começou a namorar com outro cara. Ela começou a ir muito ao roçado. Às vezes, quando voltava, trazia um nambu. Botava na caçarola de barro e caía depois na rede. Fazia que dormia e ficava rosnando como se tivesse pesadelo.

        A mãe dela perguntava:

        ─ O que é que minha filha tem?

        Pegava no punho da rede e balançava. A filha fingia que acordava e fazia que era encantada. Mandava sua mie abrir a panela. A velha abria e encontrava o nambu.

        A filha fazia que estava estudando o estudo para se pajé. Toda vez que vinha do roçado, aparecia com um macaco, um jabuti e todas aquelas caças.

        Parece que um dia, depois de um ano dentro da rede, o marido não suportou mais. Levantou, pegou sua arma, flecha e borduna e caminhou atrás da mulher.

        Encontrou a mulher conversando com outro cara. Tekã Kuru então empurrou a lança nas costas do homem, furou também a mulher. Bateu depois com a borduna até que matou os dois.

        Quando chegou em casa, a velha estava esperando a filha.

        ─ É, minha sogra, parece que tua filha tá morta.

        A velha correu para o roçado e lá encontrou os dois caídos.

        Enquanto isso, Tekã Kuru sumiu. Acompanhou ele como sua nova mulher uma prima. Foram andando, andando no mundo, até chegarem em outra aldeia na casa de uma irmã dele. Atou sua rede e contou para a irmã que tinha matado sua mulher. Passou ali uns três meses. Depois, seguiu para outra aldeia, onde morava outra irmã. Ela estava viúva. Seu marido tinha sido comido por um encantado. Nesse dia, Tekã resolveu partir uma lenha para ajudar sua irmã, que lhe disse:

        ─ Não, meu irmão, não parte essa lenha não, porque o bicho vem e come a gente.

        O irmão não se importou. Pegou o machado e começou a abrir a lenha.

        A lenha afastava-se sozinha, O homem tentou três vezes abrir a lenha, até que apareceu um homem encantado. Ele pegou a borduna, bateu e firmou com a lança, até matar o encantado.

        Passado ti m mês, foi para outra aldeia e encontrou outra irmã viúva.

        ─ Irmão, eu não tenho mais marido. Ontem, a onça comeu ele.

        O irmão resolveu pegar essa onça. Perguntou a que horas que ela atacava. A irmã Contou tudinho. Chegava de noite, às doze horas. Quando a pessoa estava dormindo na rede, pegava ela de surpresa e comia.

        Então, o Irmão mandou cercar tudinho. Cercou a casa da irmã e mandou ficar lá na rede a mulher dele e a irmã viúva. Ele ficou na porta esperando até as doze horas. Quando quis dar no sono, ele escutou a onça esturrar. Pegou a flecha. Quando viu o vulto do bicho, apertou a flecha e flechou a onça. A onça caiu morta.

        Passaram-se mais dois meses. Tekã Kuru seguiu para outra aldeia, onde tinha outra irmã. Esta, toda vez que tinha um filho, o gavião real levava para seu ninho, numa samaúma grande no mato. Pegava o menino na hora que ela ia dar banho no terreiro.

        O irmão resolveu pegar o gavião real para salvar seus sobrinhos. Mandou buscar barro e fez uma boneca grande, tipo um menino. Cortou cabelo, colocou no boneco e quando viu o gavião real chegando no pau da samaúma mandou a irmã banhar o boneco no terreiro, como fazia com os filhos.

        Assim a irmã fez. Quando viu o gavião voando para pegar a criança, soltou a boneca e o bicho se atracou com o menino, mas não pôde carregar. Pregou os dois pés e ficou enfiado no barro liguento. O irmão veio e meteu o pau, matou o gavião real.

        Passaram mais dois meses e o irmão resolveu passear em outra aldeia onde estava sua outra irmã.

        ─ Não, não vá, não! Lá no meio cio caminho tem um pica-pau que, quando começa a cantar, ninguém conseguiu sobreviver ao seu canto.

        O homem foi assim mesmo. Quando o pica-pau chegou voando, cantando, foi morto pela sua borduna.

        Chegou assim na casa de sua irmã. Passados uns meses, resolveu seguir viagem para outra aldeia, visitar urna outra irmã.

        ─ Não, não vá, não! No meio do caminho tem uma casinha que faz escurecer, quando alguém vai chegando lá.

        Ele assim mesmo decidiu ir. Seguiu seu caminho e quando chegou no ponto que sua irmã falava, escureceu. Ele ficou lá debaixo da casinha, atou a rede, convidou sua mulher para deitar, acendeu um pedaço de sernambi para alumiar e escondeu a luz debaixo de urna panela. Quando deu base de doze horas, ele ouviu bater de cima para baixo, descendo, um bicho que comia gente. O bicho vinha descendo e, quando chegou pertinho da casa, o homem abriu a panela, clareou a escuridão e meteu a flecha no animal que caiu, “pof”, no chão.

        Conseguiu chegar na casa de sua outra irmã que disse espantada:

        ─ Como é que você vem chegando aqui? Ali ninguém nunca passou. Ali some mesmo!

        O irmão descansou lá uns dias e resolveu continuar seu caminho para visitar outra irmã.

        Chegou em outra aldeia, onde encontrou sua irmã viúva, o marido morto por um macaco. Mais uma vez o irmão conseguiu salvar a vida de sua família, matando o macaco preto com uma flechada certeira no peito.

        Continuou sua viagem para outra aldeia e enfrentou desta vez um caboré encantado que conseguiu abater com a sua borduna.

        Desta aldeia, seguiu viagem para outra aldeia para visitar uma outra irmã. No caminho, enfrentou um bicho encantado com metro e meio de braço, de dois braços. Bateu no calcanhar e então o bicho esmoreceu. Ele meteu o pau, derrubou ele. Matou e continuou o caminho até a casa da irmã.

        ─ Como é que você chegou, meu irmão?

        ─ Matei o rapaz, matei o animal!

        Após uns tempos, seguiu viagem, como de costume, para outra aldeia. Mas, antes, ouviu conselho de sua irmã:

        ─ Não vai, não! Lá tem uma pessoa que come fígado de gente.

        Assim mesmo o homem viajou. Chegando lá, encontrou sua irmã e seu cunhado animados esperando por ele. Atou sua rede e deitou.

        O cunhado disse:

        ─ Tua irmã vai cozinhar umas bananas. Vamos tomar um banho. Tem um igarapezinho que dá muito bodó. Daquele bodó amarelinho. Vamos pegar um bocado para comer com banana.

        Os dois cunhados foram então para o igarapé tomar banho. O irmão sempre com cuidado, observando o cunhado que levava um pau. O homem levou sua borduna e, enquanto mergulhava, continuava olhando com cuidado o seu cunhado.

        Em plena claridade do sol, o cunhado pegou o pau para bater nele, mas Tekã Kuru desviou e o cara errou. Tekã foi em direção ao cunhado. Aguentou a borduna e derrubou ele, que foi bater no chão. Pinpinou ele de borduna. Ele começou a gritar. Sua mulher chegou, viu a cena e ficou olhando, esperta. Depois, pegou na saia, começou a dançar, dançar e cantar na língua:

        ─ He, he, he, he...

        Depois Tekã mandou sua mulher matar sua própria irmã, por ser a esposa do homem que já estava morto, o que comia fígado.

        A mulher foi e matou sua cunhada. E os dois continuaram sua viagem.

        Tekã matou assim todos os animais e até a sua irmã e o seu cunhado, aquele que comia fígado. Enfrentara, até então, todos os perigos.

        Um dia, em uma de suas viagens, um conhecido seu matou um urubu para ele comer. Pelou o urubu bem peladinho e convidou Tekã para comer. Dizia que era um gostoso mutum. No começo, Tekã recusou, mas o cara insistiu. Até que ele, valentão, aceitou de comer o urubu. Rasgou a carne bem lá de dentro, tirou um pedaço e comeu. Disse que amargava m oito. Sentiu então q mie ia finalmente morrer.

        ─ Mulher, dessa vez vou cair.

        Passado um mês, Tekã Kuru, que comeu fígado de urubu, morreu.

Organização dos professores indígena do Acre. Shenipabu Miyui. História dos antigos.

Entendendo a história:

01 – Por que Tekã Kuru ficou um ano na rede após tomar o rapé de tabaco?

      Ele ficou bêbado e imobilizado devido à forte experiência de estupro, passando um ano em um estado de torpor.

02 – O que aconteceu com a esposa de Tekã Kuru enquanto ele estava "de porre de tabaco"?

      Ela começou a namorar outro homem e trouxe animais do roçado, fingindo ficar encantada quando confrontada pela mãe.

03 – Como Tekã Kuru reagiu ao descobrir a traição da esposa?

      Ele matou tanto a esposa quanto o homem com quem ela estava envolvida.

04 – Para onde Tekã Kuru foi depois de matar sua esposa e seu amante?

      Ele melhora para outras aldeias, visita suas irmãs e enfrenta desafios para proteger suas famílias.

05 – Quais perigos Tekã Kuru imaginou durante suas viagens para salvar suas irmãs?

      Enfrentou desde animais encantados até pessoas perigosas, incluindo um que comia fígado humano.

06 – Como Tekã Kuru derrotou o gavião real que levou seus sobrinhos?

      Ele usou uma estratégia com uma boneca, enganando o gavião para que este ficasse preso no barro.

07 – Por que Tekã Kuru acabou sendo envenenado e morreu?

      Ele comeu fígado de urubu, pensando ser mutum, o que acabou sendo fatal para ele.

08 – Quais foram as ações finais de Tekã Kuru antes de sua morte?

      Ele continua a jornada, enfrentando perigos e eliminando ameaças até ser envenenado pelo urubu.

09 – Qual foi o destino de Tekã Kuru ao longo de suas viagens?

      Ele desafiou, desafios e perigos em várias aldeias, protegendo suas irmãs e familiares, mas acabou encontrando sua morte devido ao envenenamento.

10 – Como essa história reflete elementos da mitologia e tradições indígenas?

      A história envolve elementos míticos, desafios, ações heroicas e consequências ligadas à cultura e à moralidade indígena, representando a jornada e os confrontos do protagonista dentro desse contexto.

 

 

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

A LENDA DO MANACÁ - COM GABARITO

 A lenda do Manacá

Numa terra bem distante onde as flores encantavam a todos, o rei pediu novas flores a seus súditos.

Em cada casa era cultivada com muito carinho sementes diferentes para levar a apreciação do rei.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXTrzicVnuUBKXgUpUIi1CFIjVG2UBRRQ4WdHRb-hjuzSqdtL-_rvHQLUMinOgjsJarsd3Vty-nf0FQ1-QAEl9jcFAXr__-zu3F-foR1x7fdhM0IFLKMIgMzPFs-nmTxwOL-o650MF49emWxQFqSyst0JP1GqWdBgiqrFN3ueLrTZJqrgKXghBWGdNnBg/s320/manaca.jpg


Neste ano em especial ele não queria as plantas florescidas. Pediu para cada um colocar as sementes em vasos, quando florescessem ele chamaria o ganhador.

O rei também dizia que se a flor conquistasse o coração de alguma de suas filhas o jardineiro poderia com ela se casar.

Numa destas famílias, dois irmãos se mantinham ocupados a criar belas plantas. Um criou uma delicada flor branca e o outro a mesma delicada flor num tom lilás bem suave.

A vontade de vencer era muita. Mas estava deixando os irmãos infelizes. O amor fraternal falava mais alto. Man semeou a flor branca e Acá semeou a lilás.

E em cada vaso tinha o nome do criador da nova planta. Durante a noite Man resolveu mudar as sementes porque acreditava que a sua seria a vencedora.

E assim colocou a sua semente no vaso do irmão. Ele pensou: meu irmão é mais velho e vai ficar muito feliz casando com a filha do rei. Eu tentarei no próximo ano.

Uma fada vendo o acontecido se encheu de ternura e durante a noite dividiu e misturou as sementes. No dia marcado todos levaram ao palácio os vasos com as sementes plantadas.

Caberia as filhas do rei aguá-las até florescerem. E poderiam escolher casar com o dono da mais bela flor, se esta fosse a sua vontade. E assim na primavera todos os vasos estavam floridos. E as princesas se encantaram com dois vasos em especial.

Eles tinham flores lilases e brancas. Em dois vasos nasceram flores idênticas. Flores de duas cores nascidas de uma só planta. Cada vaso tinha o nome de quem plantou. Numa estava escrito Man e no outro Acá.

O rei anunciou que as duas plantas iguais seriam as vencedoras e teriam um só nome e assim nasceu o Manacá.

E as filhas do rei ao conhecerem os nobres irmãos jardineiros, criadores de tão lindas flores se apaixonaram como que por encanto. E neste reino, reina paz e harmonia a sombra dos “manacás”.

 

Entendendo o texto

01. Qual era o desejo do rei em relação às flores cultivadas por seus súditos?

O rei queria que seus súditos cultivassem sementes em vasos, e ele escolhesse o vencedor quando as flores florescessem.

02. Qual foi o escolhido para o vencedor se casar com uma das filhas do rei?

O vencedor teria a chance de se casar com uma das filhas do rei se a flor conquistasse o coração de uma delas.

03. O que os dois irmãos realizaram para a competição de flores? Os dois irmãos empreendedores delicadas flores, uma branca e outra lilás suave.

04. O que um dos irmãos fez para tentar garantir que ele seria o vencedor?

Um dos irmãos, chamado Man, trocou as sensações do vaso do irmão durante a noite na esperança de que sua flor seria a vencedora.

05. O que a fada fez quando viu o que o irmão Man fez?

A fada, ao ver a ação de Man, misturou e dividiu as sensações durante a noite.

06. Como as princesas do rei se envolveram na competição de flores?

As princesas regaram as sementes nos vasos até que florescessem, e tinham a possibilidade de escolher casar com o dono da flor mais bela.

07. O que se tornou os vasos de flores de Man e Acá especiais? Os vasos de flores de Man e Acá tinham flores idênticas, uma lilás e outra branca, nascidas da mesma planta.

08. O que aconteceu quando o rei viu os vasos de flores idênticos?

O rei anunciou que as duas flores idênticas seriam as vencedoras e que teriam um só nome, nascendo assim o "Manacá".

09. Além da competição, o que as filhas do rei sentiram ao conhecer os irmãos noivos?

As filhas do rei se apaixonaram pelos nobres irmãos descobertos, criadores das belas flores.

10. Como o conto termina?

      O reino passou a ser governado com paz e harmonia sob a sombra dos "manacás", nome dado às flores idênticas criadas pelos irmãos.