domingo, 1 de maio de 2022

ENTREVISTA: CHEGA DE MÁGICA - THAÍS OYAMA - COM GABARITO

 Entrevista: Chega de mágica

                  Thaís Oyama

  Menos mago e mais interessado em prestígio, Paulo Coelho diz que telepatia é “sacal” e se proclama de vanguarda

        Fama e fortuna Paulo Coelho já tem de sobra. Agora, quer respeito. O escritor de 32 milhões de livros vendidos no mundo, amado pelo público e espinafrado pela crítica, decidiu partir para um novo patamar; o que ele escreve não só vende como, afirma, tem qualidade, sim. “Estou absolutamente convencido de que o que faço é bom”, diz. Aos que chamam de tosco seu estilo, que ele prefere classificar de “direto”, replica: “Burro é quem não sabe explicar”. Nessa trajetória em busca do reconhecimento, o escritor parece ter sacrificado o mago, como ele próprio se classificava na fase esotérica. O novo Paulo Coelho não troca uma discussão acadêmica (até na própria Academia Brasileira de Letras, se o destino assim o permitir) por encontro algum com mestres enigmáticos e entidades de outros planos. Diz que não faz mais ventar, afirma ter preguiça de conversar com seus discípulos e declara preferir o fax à telepatia, agora definida como “um negócio sacal”. Mágica mesmo continua sua autoestima: na entrevista a seguir, Paulo Coelho alinha entre suas referências literárias vultos do porte de Henry Miller e Jorge Luís Borges.

        Veja – Seus livros têm falado cada vez menos de esoterismo. O senhor ainda se considera um mago?

        Coelho – A ideia do mago é muito mais uma questão de percepção do universo. É uma maneira de olhar o mundo além da realidade concreta. Mas eu tenho vários livros que não tocam em magia. Meus livros falam de questões filosóficas.

        Veja – Seria esse o ponto comum entre eles, na sua opinião?

        Coelho – O ponto em comum é uma coisa chamada estilo. Do meu primeiro livro até agora, eu tenho mantido um estilo que é absolutamente direto, enxuto. Vou cortando, cortando, até chegar à essência da coisa. No começo, isso foi mal interpretado. Achavam que era uma coisa superficial. Mas é essa característica que dá aos meus livros o seu aspecto único.

        Veja – Depois de tanto sucesso, as críticas ainda o incomodam?

        Coelho – Eu sou um autor muito polarizador: as pessoas me amam ou me odeiam. Estou acostumado. Mas a única crítica que me magoou não foi dirigida a mim. Foi quando disseram que meu leitor era burro. Eu não quero generalizar, mas existe um fascismo cultural no país.

        Veja – O senhor se sente perseguido pela crítica?

        Coelho – Acho que são perseguidos por ela todos os que não se enquadram num certo padrão, que é o de valorizar o que é incompreensível e inacessível. Só que, felizmente, isso só vale para a crítica, que se isolou da realidade. As pessoas que escrevem esse tipo de coisa ficam numa torre de marfim, sem saber o que se passa em torno delas. Acham que estão abafando, que está todo mundo escutando o que elas dizem. Só que não sabem que ninguém dá ouvidos a elas. De que adianta um livro que impressiona mas que não é lido? O que eu disse sobre James Joyce é verdade: ele é ilegível, ilegível.

        Veja – Mas livros como Ulisses e Finnegans Wake, de Joyce, são considerados marcos do modernismo, talvez dos mais geniais do século XX. O senhor acha que a sua obra irá sobreviver também?

        Coelho – O fato de uma obra sobreviver não quer dizer que ela seja lida. Eu tentei ler Ulisses, não consegui e achei que era burro. Só que eu não sou burro, Ulisses é que é ilegível. Mas as pessoas se acovardam muito para falar dessas coisas. Você tem sempre de passar a ideia de que entendeu tudo. E a culpa não é sua, a culpa é dos caras que escreveram. Eles têm a obrigação de ser claros. Burro é quem não sabe se explicar. Mesmo um livro como Sidarta, do Hermann Hesse, é uma coisa mal-acabada. O cara não soube acabar o livro, entendeu? Termina com aquela frase: “Tem que olhar o rio”. Que rio, pô? Acho que Hermann Hesse não sabia como terminar o livro e meteu essa história aí de rio.

        Veja – Hesse é um prêmio Nobel...

        Coelho – Sim, mas eu tenho o direito de dizer isso sobre ele, até porque foi um escritor que me marcou muito. O fato de Sidarta acabar mal não invalida o resto do livro.

        Veja – Houve uma época em que o senhor dizia que era capaz de promover magias como fazer ventar, por exemplo. Hoje se arrepende dessas declarações?

        Coelho – Não me arrependo, porque isso é verdade.

        Veja – O senhor pode fazer ventar agora?

        Coelho – Não, não faço mais. Isso é bobagem. Não preciso mais fazer demonstrações públicas.

        Veja – E magias em benefício próprio? O senhor dizia que costumava abrir o trânsito com a força do pensamento. Ainda faz isso?

        Coelho – Não, de jeito nenhum. Não vou gastar energia com isso. Já fiz, já passou.

        Veja – Não fica mais invisível, como dizia ficar?

        Coelho – Não, isso é inútil. Gasto minha energia em outras coisas agora.

        Veja – Então, o senhor abriu mão da magia?

        Coelho – Talvez desse tipo de magia. Acho que faz parte do aprendizado brincar um pouquinho. Depois, tem de falar sério. Descobri que essas coisas não são importantes. Esse negócio de fazer chover, por exemplo. Pô, o que que isso vai me ajudar? Além disso, já cheguei a dar três grandes demonstrações públicas do que eu sou capaz e acho que basta.

        Veja – Quais foram elas?

        Coelho – Uma foi para o jornal O Globo, em 1987. Eu disse que fazia ventar, a jornalista pediu para eu fazer e eu fiz (na reportagem mencionada, a jornalista não pede ao escritor que faça ventar. Relata ter ficado impressionada com o fato de uma forte ventania ter ocorrido logo após ela ter perguntado se ele era de fato um mago). A segunda foi para a Marília Gabriela, assim que o presidente Fernando Collor foi eleito. Ela me perguntou como seria o seu governo. Eu disse: daqui a dois anos ele se ferra (a apresentadora informou, por meio de sua assessoria, que o episódio não ocorreu em seu programa). A terceira foi quando o Jô Soares me perguntou se eu sabia o nome do namorado da Zélia (então ministra da Economia, que teve um romance com o colega Bernardo Cabral). Eu dei as iniciais (o apresentador disse que nunca perguntou a Paulo Coelho o nome do namorado da ex-ministra. Informado de que o próprio escritor havia relatado o episódio, disse que talvez não se lembrasse).

        Veja – É uma etapa ultrapassada, então?

        Coelho – Digamos que foi um período de brincadeira, e brincar é permitido a todo mundo, até porque a vida é muito lúdica. Eu não tiro o valor dessa época em que via essa coisa da magia até com um certo deslumbramento.

        [...]
        Veja – O senhor não se acha devidamente respeitado?

        Coelho – O respeito principal eu tenho, que é o respeito do meu leitor. E não tenho complexo. Eu sou um ótimo escritor. Um ótimo escritor. Eu sou vanguarda.

        Veja – Quais as características de sua obra que a fazem ser vanguarda, na sua opinião?

        Coelho – Primeiro o fato de ela ser rejeitada pelo sistema acadêmico. E depois o fato de o público gostar dela. Porque o público sempre pensa à frente.

        [...]

        Veja – O senhor tem uma boa autoestima, não?

        Coelho – Eu diria que sou uma pessoa absolutamente convencida do que faço e absolutamente convencida de que o que faço é bom.

         Veja – O dizia que, na qualidade de mago, tinha alguns discípulos no Brasil e fora dele. Ainda tem?

        Coelho – Infelizmente. Quer dizer, retiro o infelizmente. Tenho porque sou obrigado. Mas eu não tenho o menor saco. Tenho muita preguiça e muito pouca paciência.

        Veja – E o senhor ainda fala com J., empresário que mora na Holanda e a quem o escritor se refere como seu mestre em alguns de seus livros?

        Coelho – Falo eventualmente.

        Veja – O senhor dizia que costumava falar com ele inclusive por telepatia.

        Coelho – Não, não. Telepatia dá muito trabalho, um negócio sacal. É por telefone ou fax mesmo.

          COELHO, Paulo. Chega de mágica. In: Veja, Abril, São Paulo, p. 15, 22 ago. 2001. Entrevista concedida a Thaís Oyama.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – IBEP. 2004, p. 137-9.

Entendendo a entrevista:

01 – Pra você, em uma entrevista, o diálogo travado é totalmente espontâneo? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Na sua opinião, no cotidiano, as conversas são tão ordenadas como na entrevista reproduzida? Justifique.

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Qual é a impressão que você tem de Paulo Coelho ao ler essa entrevista? Comentem entre todos.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Paulo Coelho é um escritor que, apesar de vender milhões de livros e ter uma vaga na Academia Brasileira de Letras, continua taxado pela crítica de escritor ruim e suas obras, superficiais. A entrevista parece conduzir-se na defesa do escritor que vende milhões de livros ou coloca em xeque as veleidades literárias dele?

      Coloca em xeque.

05 – Muitas obras de Paulo Coelho fazem menção a um suposto poder mágico que o escritor declarou possuir em entrevistas anteriores. A entrevista dá a entender que esse poder mágico é legítimo ou uma farsa?

      É uma farsa.

06 – Em geral, o tom da entrevista é favorável ao entrevistado ou não? Explique.

      Não é favorável. A entrevistadora questiona o tempo todo as afirmações de Paulo Coelho, atribui-lhe características negativas como presunção, vaidade excessiva, e faz questão de pedir “provas” de suas habilidades como mago.

 

TEXTO: A NOTÍCIA - EUA CRIAM NÚCLEO PARA MENTIRA OFICIAL - COM GABARITO

 Texto: A notíciaEUA criam núcleo para mentira oficial

     A notícia, como você já viu, é um texto em que predomina a informação. Observe, agora, como se costuma organizar notícias curtas como a que você leu. É possível analisar a estrutura da notícia de duas maneiras: a partir da estrutura de um parágrafo informativo clássico: tópico frasal, desenvolvimento e conclusão; ou a partir da pirâmide invertida, técnica que os jornalistas usam para hierarquizar as informações de uma notícia. Assim, a disposição das informações de uma notícia segue uma ordem de importância, estabelecida pelo jornalista.

TÍTULO

Tem como função adiantar e sintetizar o assunto da notícia. Além disso, o jornalista considera que é preciso atrair a atenção do leitor, sobretudo se a notícia figura na primeira página.

TÓPICO FRASAL

Na notícia, o tópico frasal costuma responder à questão-chave do jornalismo: o que aconteceu? Muitos jornalistas consideram essa primeira frase o “guia-mestre” do texto: é o tópico que orienta o tom e o desenvolvimento do que se escreve.

DESENVOLVIMENTO

É preciso desenvolver o tópico, ou seja, acrescentar informações relevantes sobre o assunto. Costuma-se responder a questões como: por que aconteceu? Quem são as pessoas envolvidas, como aconteceu?

CONCLUSÃO

Não aparecem em todas as notícias, mas, em geral, apresenta opiniões de especialistas sobre o assunto e/ou possíveis consequências, hipóteses para o fato noticiado.

        EUA criam núcleo para mentira oficial

        Com autorização de George Bush, o Pentágono criou um núcleo para difundir notícias, inclusive falsas, na mídia de países aliados ou inimigos. A decisão foi justificada como parte da guerra de propaganda contra o terror. O Departamento de Influência Estratégica teve seu plano de ação elaborado por um antigo assessor do presidente Carter. Em Washington, militares consideraram a iniciativa ilegal e nociva à credibilidade dos EUA. Os alvos do novo órgão americano de inteligência incluem até a Europa Ocidental.

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro, 20 fev. 2002. Primeira página.

PIRÂMIDE INVERTIDA

        Técnica de redação jornalística pela qual as informações mais importantes são dadas no início do texto e as demais, em hierarquização decrescente, vem em seguida, de modo que as mais dispensáveis fiquem no final. A técnica da pirâmide invertida é útil tanto para os editores de jornal quanto para os leitores.

        Os eleitores do jornal quando precisam diminuir a extensão de determinada notícia por quaisquer motivos (a chegada de uma notícia importante, a consideração de que a notícia em questão não merece muito destaque, etc.), limitam-se a cortar os parágrafos ou as linhas finais.

        Para os leitores, o procedimento da pirâmide também é igualmente útil: pode-se interromper a leitura na altura que desejar, já que as informações principais são dadas nas primeiras linhas.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – IBEP. 2004, p. 101-2.

Entendendo o texto:

01 – Observe que, apesar de uma aparente objetividade, a notícia não é de forma alguma neutra. Vamos analisa-la?

a)   Comece relendo o título. Que palavra nesse título já pressupõe uma análise crítica por parte do jornalista autor?

A palavra “mentira”, neste título, é bastante expressiva, forte e possui conotação negativa.

b)   E quanto ao tópico frasal? Ele se limita a condensar uma informação de forma objetiva e precisa? Comente.

Não. O tópico frasal endossa a ideia do título: a palavra “inclusive” destaca que notícias falsas também podem se divulgadas.

c)   Na parte do texto em que se desenvolve o tópico frasal, diz-se que a “decisão foi justificada”. Qual é o sentido da palavra “justificar”? Por que essa palavra pode constituir uma marca subjetiva nesse texto?

A palavra “justificar” pode ser usada no sentido de “dar uma desculpa” ou dar boas razões para um procedimento, conduta, atitude e/ou decisão que não são socialmente, moralmente ou legalmente aceitáveis. Ao usar o termo “justificada”, pode-se deduzir que o jornalista considerou tal decisão negativa.

d)   A conclusão do texto apresenta apenas uma opinião. Qual é essa opinião? Por que uma citação como essa também contribui para marcar a posição do autor do texto?

Os militares em Washington consideraram tal decisão ilegal. O fato de apenas uma opinião ser apresentada, de esta ser contrária ao fato noticiado e de vir de uma autoridade (militares de Washington) são fatores que contribuem para marcar a posição do autor do texto.

e)   A última frase reforça o tom escolhido para a notícia – de crítica e avaliação. Que palavras são as mais significativas nesse esforço de julgar criticamente o fato que notícia (mesmo que implicitamente)?

Alvo – a palavra, própria do campo semântico “guerra”, tem o sentido de “mira”, “ponto em que se atira”. Até – a preposição ressalta a indignação do autor do texto. Confronte com “também”, ou com a simples supressão da palavra.

02 – Qual é, enfim, a opinião que o jornalista deixa transparecer sobre o fato noticiado em “EUA criam núcleo para mentira oficial”?

      A opinião é aquela que foi citada como sendo de militares de Washington: a decisão é ilegal.

 

MÚSICA(ATIVIDADES): FILHOS DE GANDHI - GILBERTO GIL - COM GABARITO

 Música(Atividades): Filhos de Gandhi

         Gilberto Gil

Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré
Todo o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Iansã, Iemanjá, chama Xangô
Oxossi também
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Mercador, Cavaleiro de Bagdá
Oh, Filhos de Obá
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Oh, meu pai do céu, na terra é carnaval
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi.

GIL, Gilberto. In: Todas as letras. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 146.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – IBEP. 2004, p. 77.

Entendendo a música:

01 – O que significa respeito pela pluralidade religiosa de um povo? Troque ideias com o professor e colegas a partir da letras da canção presente.

      O respeito pela pluralidade é entender que a convivência em sociedade pressupõe posturas e atitudes não discriminatórias e/ou preconceituosas.

02 – Em muitas regiões do Brasil é interessante observar um sincretismo religioso, ou seja, há uma identificação entre santos do catolicismo com entidades do candomblé. Converse sobre isso com o professor.

      Na letra de “Filhos de Gandhi”, Gilberto Gil evoca o Senhor do Bonfim, no sincretismo religioso representa Oxalá, o orixá que governa a Terra.

03 – Como você observou, no Brasil, a religiosidade é muito forte e se manifesta das mais diversas formas. É comum que as crenças religiosas entrem em conflito com conhecimentos científicos? Comente.

      Sim, A ciência toma como base a investigação, a pesquisa, a experimentação; enquanto que a religião tem, como base, a fé.

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POEMA: OS LUSÍADAS - AS CINCO PRIMEIRAS ESTROFES - LUÍS DE CAMÕES - COM GABARITO

Poema: Os Lusíadas - as cinco primeiras estrofes

             Luís de Camões


Canto I

As armas e os Barões assinalados

Que da Ocidental praia Lusitana

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana,

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

 

II

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis que foram dilatando

A Fé, o Império, e as terras viciosas

De África e de Ásia andaram devastando,

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando,

Cantando espalharei por toda a parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

 

III

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandre e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Netuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

 

IV

E vós, Tágides minhas, pois criado

Tendes em mi um novo engenho ardente,

Se sempre em verso humilde, celebrado

Foi de mi vosso rio alegremente,

Dai-me agora um som alto e sublimado,

Um estilo grandiloco e corrente,

Por que de vossas águas Febo ordene

Que não tenham inveja às de Hipocrene.

 

V

Dai-me uma fúria grande e sonorosa,

E não de agreste avena ou frauta ruda,

Mas de tuba canora e belicosa,

Que o peito acende e a cor ao gesto muda;

Dai-me igual canto aos feitos da famosa

Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;

Que se espalhe e se cante no universo,

Se tão sublime preço cabe em verso.

CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – IBEP. 2004, p. 72-3.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Barões: homens ilustres.

·        Taprobana: designação da ilha de Ceilão, hoje conhecida por Sri Lanka.

·        Terras viciosas: terras pagãs, que não conheciam o cristianismo.

·        Libertar-se da lei da Morte: imortalizar-se.

·        Sábio grego: Ulisses, herói principal da Odisseia.

·        Troiano: Enéas, herói da Eneida e fundador de Roma.

·        Alexandre: O Grande, imperador macedônico.

·        Trajano: imperador romano.

·        Peito ilustre lusitano: o valor do povo português.

·        Netuno: deus do mar.

·        Marte: deus da guerra.

·        Musa antiga: musa inspiradora dos poetas da antiguidade.

·        Tágides: ninfas do Tejo.

·        Grandiloco: grandiloquente, que se expressa de maneira pomposa.

·        Febo: outro nome de Apolo, deus da poesia e da música.

·        Hipocreme: fonte mágica que dava inspiração aos poetas que dela bebiam.

·        Fúria grande: inspiração elevada.

·        Avena: flautinha feita do caule da planta que dá a aveia.

·        Frauta ruda: flauta rude.

·        Tuba belicosa: espécie de trombeta usada na guerra.

02 – Como você já viu, a proposição, segundo a tradição do gênero épico, constitui a primeira parte da estrutura interna da epopeia e, nessa parte, anuncia-se o propósito da obra.

a)   Transcreva o verso em que esse propósito é explicitado.

“Cantando espalharei por toda a parte”.

b)   Sabendo que a epopeia celebra “heróis fora do comum”, explique a gradação homens-heróis-mito.

A gradação guarda relação com o objetivo do poema: transformar homens valorosos que se fizeram heróis em mitos, que “se vão da lei da morte libertando”.

c)   Observe que o poeta assume uma posição de humildade face à grandiosidade de seu projeto. Justifique essa afirmativa.

O verso “se a tanto me ajudar o engenho e arte” sugere que o poeta precisa de ajuda para louvar tão grandes feitos.

03 – O herói de Os Lusíadas distingue-se do herói das epopeias clássicas.

a)   Que verso identifica, de forma sintética, o herói do poema?

“Que eu canto o peito ilustre lusitano”.

b)   Relacione com o título da obras.

Os Lusíadas é uma homenagem ao povo português. Na realidade, canta-se os valores e as bravuras de um povo.

04 – Que elementos presentes na proposição remetem à Antiguidade Clássica greco-latina?

      As referências aos mitos gregos: Ulisses, Enéias, Netuno, Marte e à própria poesia épica antiga: Musa antiga.

05 – Que parte do texto se refere aos objetivos das grandes navegações?

      Na segunda estrofe, com os versos: “Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o Império, e as terras viciosas”.

06 – Explique os dois últimos versos da terceira estrofe.

      O poeta avisa que cantará feitos que superam tudo o que já foi celebrado pelas antigas epopeias.

07 – Depois de anunciada sua proposta, o poeta pretende que seu canto seja digno da grandiosidade do povo português. Como ele pretende atingir seu objetivo?

      Com um estilo elevado, grandioso.

08 – O poeta define, muito claramente, como pretende obter um estilo grandioso.

a)   O que caracteriza esse estilo?

Um som alto e sublimado, grandiloquente.

b)   Observa-se que o poeta referiu-se a um outro estilo que se opõe ao que ele deseja. Que estilo é esse?

O estilo pastoril, simples, humilde, próprio da poesia bucólica.

c)   Que imagens foram utilizadas para simbolizar esses dois estilos?

“Avena” e “Flauta rude”, simbolizam a poesia pastoril e “Tuba canora e belicosa” simboliza a poesia épica.


POEMA: DIZES-ME: TU É MAIS ALGUMA COUSA - ALBERTO CAIEIRO - COM GABARITO

 Poema: Dizes-me: tu és mais alguma cousa

            Alberto Caieiro


Dizes-me: tu és mais alguma cousa

Que uma pedra ou uma planta.

Dizes-me: sentes, pensas e sabes

Que pensas e sentes.

Então as pedras escrevem versos?

Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

 

Sim: há diferença.

Mas não é a diferença que encontras;

Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:

Só me obriga a ser consciente.

 

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.

Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

 

Ter consciência é mais que ter cor?

Pode ser e pode não ser.

Sei que é diferente apenas.

Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

 

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.

Sei isto porque elas existem.

Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.

Sei que sou real também.

Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,

Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.

Não sei mais nada.

 

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.

Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.

Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;

E as plantas são plantas só, e não pensadores.

Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,

Como que sou inferior.

Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,

Digo da planta, «é uma planta»,

Digo de mim «sou eu».

E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

CAIEIRO, Alberto. In: PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Cia José Aguilar Editora, 1969, p. 234.

Fonte: Livro – Língua Portuguesa – Heloísa Harue Takazaki – ensino médio – Coleção Vitória-Régia – Volume único – IBEP. 2004, p. 22-3.

Entendendo o poema:

01 – Fernando Pessoa é o poeta português que foi citado na canção “Língua” de Caetano Veloso – “Gosto do Pessoa na pessoa”. Releia os primeiros versos do poema. Observe que o poeta parece dirigir-se a alguém. Depois da leitura de todo o poema, é possível inferir: quem pode ser esse interlocutor?

      O próprio poeta.

02 – Que dúvidas ele revela nessa primeira estrofe?

      Sobre as diferenças que existem (ou não) entre as pedras, plantas e o homem.

03 – Na segunda, terceira e quarta estrofes, o poeta desenvolve as ideias apresentadas na primeira estrofe, respondendo às questões sobre as pedras e plantas, comparadas a ele, poeta. De acordo com esses versos, que diferenças são reconhecidas?

      A diferença consiste na consciência que o homem possui. Porém essa diferença, segundo o poeta, nada mais é que apenas uma diferença. Isso não daria, ao homem superioridade, por exemplo.

04 – Observe, na quinta e sexta estrofes, a repetição dos verbos sei e existir e da expressão meus sentidos. O que o poeta sabe? O que leva o poeta ao conhecimento das coisas e dele mesmo?

      Sabe da existência de si, das pedras e plantas. A diferença que separa homens de pedras e plantas é o que lhe dá conhecimento das coisas e dele mesmo.

05 – Cada um possui uma identidade, uma essência que os distingue dos demais. Mas nenhuma dessas particularidades leva à ideia de superioridade ou inferioridade. Que verso exemplificaria tal ideia?

      “Ter consciência é mais que ter cor?”.

06 – O que você sabe sobre Literatura?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Para você quais são as diferenças existente entre textos literários e não-literários?

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Qual a importância da Literatura para você?

      Resposta pessoal do aluno.

     

 

QUADRO: A GOVERNANTA - JEAN-BAPTISTE SIMÉON CHARDIN - COM GABARITO

 Quadro: A governanta

Fonte de imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKd3wi2-2sPuRs_DiPh0pX5FXXI9vOMWTP7HFoYrQW_HZpnzqI1iKu2wyIkytQnmbAgPRiIhN0NpOP_n0bf_I6cUDrRme8cqKs6IROIX_ILzo7mEqnL3sXaS4gaqjg6TT2qPaAFFj47_UByW05qUjWx-yA51cLulIXt46k2tNEBzKKHKRSWHXFtSg8/s251/governanta.jpg
Jean-Baptiste Siméon Chardin, A governanta (1739.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 252-3.

Entendendo o quadro:

01 – Observe as roupas e o penteado das duas personagens.

a)   Que aspectos comprovam que elas pertencem a uma classe social privilegiada?

Há certo luxo nas roupas: são feitas de bons tecidos, bem cortadas; ambos estão bem calçados; a governanta usa uma espécie de touca e escova o chapéu de veludo do menino.

b)   Quem se veste de forma mais estranha para os padrões de hoje: o menino ou a governanta? Por quê?

O menino, porque usa vestido, roupa que, atualmente, só as meninas usam.

02 – No plano inferior do quadro, vemos alguns objetos no chão.

a)   Que objetos pertencem ao menino? E à governanta?

As cartas, a raquete e a peteca pertencem ao menino; a cesta de costura e o novelo de lã, à governanta.

b)   O que, provavelmente, os dois faziam durante o dia, além de estudar?

Provavelmente, em alguns momentos, eles jogavam cartas e tênis; em outros, o menino brincava sozinho, enquanto a governanta bordava ou costurava.

03 – O quadro estabelece uma oposição de ideias a partir de dois pares de elementos: livro e brinquedos, de um lado, e fechamento e abertura, de outro. O livro – que representa o conhecimento formal, oferecido pela escola – se opõe aos brinquedos, que representam o mundo lúdico (de jogos e prazeres) da infância. O ambiente particular e fechado da família se opõe à abertura da porta.

a)   O menino está segurando um livro embaixo do braço. Portanto, para onde ele deve estar indo?

Para a escola.

b)   Considerando que a casa e o ambiente familiar representam a infância e a proteção da família, o que a porta aberta representa para o menino?

Representa sua entrada no mundo adulto (ou adolescente) e as dificuldades e os prazeres imprevisíveis que o esperam.

04 – Observe os objetos na mão da governanta e as expressões do rosto dela e do rosto do menino. Note também que os dois parecem conversar.

a)   Na sua opinião, o que a governanta está fazendo com o chapéu e a escova?

Ela está escovando o chapéu, dando nele os últimos retoques antes de o menino ir para a escola.

b)   O que provavelmente ela está dizendo a ele?

Provavelmente, ela está fazendo as últimas recomendações: como ele deve se portar na escola, ser educado com colegas e professores, estudar, fazer as lições, etc.

c)   O menino está com os olhos e a cabeça voltados para baixo. O que isso revela quanto ao seu relacionamento com a governanta?

Revela que ele aceita os conselhos dela, que a respeita, que a ouve.

05 – Em pintura, as linhas e as cores têm significados especiais. Por exemplo: o vermelho (do encosto da cadeira da governanta) é uma cor forte, que geralmente transmite a ideia de firmeza, de certeza. Já o azul (cor usada na fita do cabelo e nos detalhes do casaco do menino) é uma cor que normalmente sugere fragilidade, insegurança. Associando o vermelho à governanta e o azul ao menino, responda:

a)   O que a governanta representa em relação à formação e à educação do menino?

Representa a segurança, a certeza e a firmeza, qualidades esperadas daqueles que se propõem a ensinar e a formar.

b)   Como o menino provavelmente se sente em relação ao futuro?

Indeciso, inseguro, incerto, pois, na escola, ele não poderá contar com a presença amiga e firme da governanta.

TIRA: SURIÁ E FELIPE - LAERTE - VERBOS - COM GABARITO

 Tira: Suriá e Felipe

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Laerte. Suriá, a garota do circo. São Paulo: devir / Jacaranda, 2000. p. 63.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 250-1.

Entendendo a tira:

01 – De que se trata a tira?

      Trata-se de um relacionamento entre duas pessoas. Namoro.

02 – A tira é construída com verbos no passado e verbos no presente.

a)   Quais são os verbos que estão no pretérito perfeito? Quem realizou as ações indicadas por eles?

Os verbos são disse, falou, contou e ouviu; quem realizou essas ações foram os amigos.

b)   Que verbos estão no presente? Quem realizou as ações indicadas por eles são Suriá e Felipe ou os amigos deles?

Os verbos são gosta, quer, está (namorando); quem realiza essas ações são Suriá, Felipe ou os dois.

03 – Suriá e Felipe poderiam ter ido direto ao assunto, usando somente os verbos no presente. Veja como eles poderiam ter falado:

        -- Você gosta de mim?

        -- Você quer namorar comigo?

        -- A gente está namorando?

        No entanto, Suriá e Felipe preferiram um caminho mais longo, citando amigos e coisas que foram ditas. Por que você acha que eles escolheram esse caminho?

      Dessa forma, eles não precisam falar diretamente o que sentem um pelo outro; é como se colocassem a “culpa” nos amigos.

04 – No último quadrinho, aparecem os amigos citados.

a)   Que modo verbal é utilizado em “Beija! Beija! Beija!”?

O modo imperativo.

b)   O uso desse modo verbal dá a entender que os amigos queriam ou não queriam o namoro de Suriá e Felipe?

O uso do imperativo, que expressa pedido, é a prova de que eles queriam o namoro de Suriá e Felipe.