terça-feira, 23 de maio de 2017

EDITORIAL: SELEÇÃO NECESSÁRIA - (VESTIBULAR) - O GLOBO - COM GABARITO

 EDITORIAL:SELEÇÃO NECESSÁRIA

        Se há mais candidatos do que vagas nas universidades, é indispensável que se proceda a alguma forma de seleção para o ingresso. Esta consideração obvia deu origem ao exame de vestibular, no distante ano de 1911. Já naquela época admitia-se que uma prova única, ou um conjunto de provas, uma para cada matéria, não era o meio ideal de se avaliar quem estava mais bem capacitado para ingressar num curso superior; mas esta foi a forma encontrada então, que mais tarde deveria ser substituída por algum processo mais adequado.
        O vestibular, portanto, pode ser considerado como uma improvisação que está completando quase nove décadas. Finalmente, agora, o Conselho Nacional de Educação aprovou novas regras de acesso ao ensino superior, permitindo às universidades que criem sistemas alternativos ao vestibular.
        O maior mérito das normas instituídas pelo CNE (que dependem ainda do ministro da Educação) não é admitir outras formas de seleção, mas proibir expressamente alguns procedimentos duvidosos, que já tem sido adotados por algumas universidades como reserva de vagas, convênios com colégios e até mesmo cartas de recomendação. O CNE exige que os candidatos, em qualquer hipótese, sejam testados no que se refere a conhecimento e aptidão, assim como, particularmente, domínio do português.
        O risco de se permitir alternativas ao vestibular é justamente que a maior liberdade dê margem para a criação de uma espécie de balcão de negócios. Seria ideal que se adotasse universalmente o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), aferindo periodicamente o desempenho dos alunos do Segundo Grau; mas é justo conceder autonomia às universidades, deixando que elas escolham o sistema que julgam mais apropriado. As novas normas atendem a esse propósito, ao mesmo tempo que reconhecem a necessidade de existir sempre alguma forma de seleção.

                                                                                               O Globo, 21/12/1998.
1 – Transcreva a tese defendida pelo autor do editorial.
       Se há mais candidatos do que vagas nas universidades, é indispensável que se proceda a alguma forma de seleção para o ingresso.

2 – Que vocábulo, constante da tese, funciona enfaticamente para confirmar a posição assumida?
       “Indispensável”.

3 – No corpo do primeiro parágrafo, no desenvolvimento, o autor cita um argumento para a comprovação da sua tese; no entanto, expões um contra-argumento.
a)     Que argumento é esse?
Já se admitia que o tipo de concurso não era ideal.

b)    Que contra-argumento é esse?
A forma de concurso deveria ser substituída mais tarde.

c)     Que conector faz a ligação entre uma ideia e a outra?
MAS.

4 – No segundo parágrafo, o autor expõe uma conclusão, seguida do registro de um fato que serve de recurso para justificar os argumentos que dão sustentação à tese.
a)     Qual foi a conclusão?
O vestibular pode ser considerado uma improvisação.

b)    Que fato foi citado?
A aprovação pelo CNE de novas regras para o acesso à Universidade.

5 – Qual o maior mérito do Conselho Nacional de Educação a respeito da seleção para o ingresso nas Universidades?
       Proibir alguns procedimentos de ingresso.

6 – No terceiro parágrafo, de que expediente se utilizou o autor para fortalecer a linha argumentativa desenvolvida?
       Exemplos.

7 – O autor, no último parágrafo, ao colocar a posição do CNE, utiliza-se de expressão que revela contundência, irrefutabilidade.
       Qual expressão é essa?
        “Em qualquer hipótese”.

8 – Sobre o quarto parágrafo:
a)     Qual o risco que se corre, segundo o autor, ao permitirem-se alternativas ao Vestibular? Não use palavras do texto.
Transformar o ingresso à universidade em um comércio de notas para passar.

b)    O autor, na exposição que faz em sua conclusão, posicionando-se, insere uma ressalva. Qual é a sua posição assumidamente clara e qual a ressalva feita?
A adoção do ENEM como aferição para o ingresso à universidade. / É justo conceder às universidades liberdade para escolher o sistema de aferição.

9 – Resumindo:
       - Tese = Resposta pessoal.
       - Argumentos básicos = Resposta pessoal.
       - Recursos estratégicos utilizados = Resposta pessoal.

10 – Em função do ponto de vista do autor, você:
(   ) É radicalmente contra tudo o que foi apresentado;
(   ) É totalmente a favor;
(   ) Aceita parcialmente as ideias colocadas.
       Resposta pessoal.

11 – De acordo com a resposta dada no item anterior, justifique sua posição.
       Resposta pessoal.
   

SENHORA - JOSÉ DE ALENCAR - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

SENHORA

        Seixas ajoelhou aos pés da noiva; tomou-lhe as mãos que ela não retirava; e modulou o seu canto de amor, essa ode sublime do coração que só as mulheres entendem, como somente as mães percebem o balbuciar do filho.
        A moça com o talhe languidamente recostado no espaldar da cadeira, a fronte reclinada, os olhos coalhados em uma ternura maviosa, escutava as falas de seu marido; toda ela se embebia dos eflúvios, de que ele a repassava com a palavra ardente, o olhar rendido, e o gesto apaixonado.
        --- É então verdade que me ama?
        --- Pois duvida, Aurélia?
        --- E amou-se sempre, desde o primeiro dia que nos vimos?
        --- Não lho disse já?
        --- Então nunca amou a outra?
        --- Eu lhe juro, Aurélia. Estes lábios nunca tocaram a face de outra mulher, que não fosse minha mãe. O meu primeiro beijo de amor, guardei-o para a minha esposa, para ti...
        Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva.
        Aurélia estava lívida, e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizava.
        --- Ou de outra mais rica! ... disse ela retraindo-se para fugir ao beijo do marido, e afastando-o com a ponta dos dedos.
        A voz da moça tomara o timbre cristalino, eco da rispidez e aspereza do sentimento que lhe sublevava o seio, e que parecia ringir-lhe nos lábios como aço.
        --- Aurélia! Que significa isto?
        --- Representamos uma comédia, na qual ambos desempenhamos o nosso papel com perícia consumada. Podemos ter este orgulho, que os melhores atores não nos excederiam. Mas é tempo de pôr termo a esta cruel mistificação, com que nós estamos escarnecendo mutuamente senhor. Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.
        --- Vendido! exclamou Seixas ferido dentro d`alma.
        --- Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento.
        Aurélia proferiu estas desdobrando um papel, no qual Seixas reconheceu a obrigação por ele passada ao Lemos.
       Não se pode exprimir o sarcasmo que salpicava dos lábios da moça, nem a indignação que vazava dessa alma profundamente revolta, no olhar implacável com que ela flagelava o semblante do marido.
        Seixas, trespassado pela cruel insulto, arremessado do êxtase da felicidade a esse abismo de humilhação, a princípio ficara atônito. Depois quando os assomos da irritação vinham sublevando-lhe a alma, recalcou-os esse poderoso sentimento do respeito à mulher, que raro abandona o homem de fina educação.
        Penetrado da impossibilidade de retribuir o ultraje à senhora a quem havia amado, escutava imóvel, cogitando no que lhe cumpria fazer; se matá-la a ela, matar-se a si, ou matar a ambos.

                  Senhora. Edição crítica de José Carlos Garbuglio. Rio de Janeiro:
                                    Livros Técnicos e Científicos. São Paulo: EDUSP, 1979.

EFLÚVIO: emanação de energia.
SUBLEVAR: erguer, revoltar.
TRASTE: móvel caseiro, móvel ou utensílio velho.
CONTO DE RÉIS: um milhão de réis.

1 – Logo no início do texto, o personagem Seixas tem uma atitude que a Literatura Romântica soube tipificar, quando o homem apaixonado rendia-se diante da amada.
       Que atitude é essa, ou seja, como é denominada literariamente?
       Vassalagem amorosa.

2 – Como pode ser entendida a passagem “modulou o seu canto de amor”?
       Declaração de amor.

3 – No segundo parágrafo, que trecho pode ser transcrito como prova de que Aurélia se envolvera e estava sensibilizada com as palavras de Seixas?
       “... toda ela se embebia dos eflúvios de amor... o olhar rendido e o gesto apaixonado”.

4 – Diz-se do amor que ele é extremista; portanto, as atitudes – ações e reações – expressas por quem ama são incoerentes e instintivas.
       Comente a passagem do texto que justifique essa afirmação.
       Tudo indicava que Aurélia já se havia convencido do amor que Seixas declarava; no entanto, quando este procurou dar a ela uma prova do que lhe dissera, aproximando-se para beijá-la, Aurélia recuou tornando-se desconfiada e grosseira, atingindo-o com duras palavras.

5 – Cite a passagem através da qual Aurélia se refere ironicamente ao casamento, dizendo-o uma exigência dos escrúpulos da sociedade da época em que vivia.
        Ela se refere a Seixas, seu marido, como um “traste indispensável às mulheres honestas”.

6 – O “final feliz” é típico das obras romanceadas do Romantismo. Senhora é exemplo da história em que tudo acaba bem, isto é, o casal se encontra na vida de realizações amorosas.
        A respeito do que dissemos, de que meio Aurélia se utilizou para salvar o amor?
       Aurélia se utiliza da agressão moral, estimulando Seixas a reagir com a finalidade de recuperá-lo.

7 – A traição é tema do romance Senhora, mas não é de abordagem constante nas obras do Romantismo. O mesmo não diríamos do Realismo e do Naturalismo diante da presença do tema em questão.
        Explique esse comentário.
        No Romantismo, a traição é perdoada por conta do grande e sincero amor que, em essência, une os enamorados.
        No Realismo, essa atitude, considerada desvio de caráter, é imperdoável por tratar-se, segundo visão materialista, de uma afronta moral.
        No Naturalismo, visto com reflexo da fisiologia patológica que domina os personagens, é abordado de moto a mostrar, a partir dessa ação, uma reação animalesca: a briga entre “machos” na disputa pela “fêmea”.

8 – “Soerguendo-se para alcançar-lhe a face, não viu Seixas a súbita mutação que se havia operado na fisionomia de sua noiva. Aurélia estava lívida, e a sua beleza, radiante há pouco, se marmorizava.
        Reexaminando esse trecho que nos fala da “súbita mutação” da personagem feminina do texto, podemos associá-lo diretamente ao perfil comportamental dos personagens típicos do Romantismo.
        A que aspecto característico do Romantismo essa atitude do personagem pode estar associada?
        A “súbita mutação” está associada à vida subjetiva, emotiva, sentimental, que caracterizou os personagens do Romantismo.

9 – As três orações do texto têm na sua construção morfossintática a marca das escrituras românticas, ao delinear o perfil personalístico de seus personagens.
        Que aspecto da personalidade dos personagens românticos fica registrado através desse trecho?
        O grau de dramaticidade e extremismo dos personagens desse estilo.

10 – A partir do que ficou estudado nas questões 6 e 7, quanto aos personagens do Romantismo, delimite características dos personagens do Realismo/Naturalismo que se oponham às registradas nas referidas questões.

        Os personagens do Realismo/Naturalismo são racionais, frios, calculistas e não idealizados.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

TEXTO: OS DOUTORES - DARCY RIBEIRO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO -

 OS DOUTORES

        Há muita gente especializada que, sem ser sábio, sabe alguma coisinha. O diabo é que, quanto mais aprofundam no saber do que sabem, mais ignorantes ficam no resto.
        Os advogados sabem como enrolar as leis para defender criminosos e ladrões. Vez por outra, defendem um inocente também. Os médicos sabem algumas das doenças, mas ignoram as outras todas. São muito sujeitos à moda. Quando dão de operar as amígdalas, arrancam as amigdalas de todo mundo. O mesmo fazem quando a moda é operar apêndice. Agora, acham que todo mundo está loucão e precisa de pílulas tranquilizantes ou psico-qualquer-coisa.
        Para procurar médico, a gente precisa, primeiro, prestar atenção para ver que doença tem, senão gasta muito dinheiro à toa. Ir a um otorrinolaringologia com dor nos rins é perca de tempo: eles só sabem de otites, dor de garganta e espirito desenfreado. Os ortopedistas encaram perna quebrada direitinho, mas não sabem nada de quem sofre do coração. Os engenheiros também são especializados demais: o que sabe fazer pontes só faz pontes; o que sabe fazer casas, só faz casas.
        Às vezes, até penso que quem sabe mesmo é o povo, ou as pessoas que não sabem nada.
        Mas cada um se vira com o pouco que sabe para ganhar a vida. Se todos os sábios do mundo desaparecessem amanhã, não faria muita falta. Se o povo acabasse, isso sim seria um desastre. Os sábios morreriam de fome e de sede.
        Trate de aprender tudo o que puder. Saber demais não ocupa lugar. Ignorância, sim. A sabedoria anda solta por aí, para a gente aprender o que quiser.

                                                                       DARCY RIBEIRO, Noções das coisas.

        Marque a opção em que se formula uma afirmação que NÃO encontra apoio no texto:
a)     A especialização não constitui um aprofundamento do saber.
b)    O comportamento dos médicos está sujeito a oscilações ditadas por situações conjunturais.
c)     Talvez resida no homem do povo a verdadeira sabedoria, na sua permanente luta pela vida.
d)    A extinção dos sábios não teria a mesma importância que a eliminação do povo.

e)     Deve-se buscar sempre aprender mais, através do conhecimento de coisas bem específicas, que não ocupam lugar.


domingo, 21 de maio de 2017

TEXTO: FOME ZERO - MARCELO NERI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO- II


 FOME ZERO

        A fome não é um problema de exclusiva permanência nacional e vem se agravando mundialmente a cada década. Governantes e sociedades, como um todo, precisam atentar conscientemente para essa calamidade e buscar soluções imediatas após um estudo apurado de suas causas e consequências.
        Certamente, não é a escassez de alimentos no mundo que acarreta esse estado aflitivo, pois a produção nesse setor vem alcançando patamares significativos. Quando muito, pode ser que o egoísmo e os interesses político-econômicos dos países detentores do mercado provoquem a má distribuição de gêneros alimentícios aos menos favorecidos. Possibilidade também não descartável está no fato de que, em países de terceiro mundo, a política desenvolvimentista esteja engessada por interesses escusos prejudiciais às necessidades sociais. Exemplos outros existem, em países africanos, onde esse setor primário está longe de ser o ideal para a população desnutrida.
        A miséria, infelizmente, é cartão-postal de áreas populacionais em nosso planeta. Tal condição se instala em algumas sociedades tão perversamente, que reverter o quadro torna-se quase impossível. Se não há mercado de trabalho, não há chances de o homem buscar o seu sustento e o da sua família. E passa a não haver família. A mortalidade infantil se agrava. Epidemias se alastram, dizimando milhares de pessoas. E, para citar uma ocorrência não menos preocupante e realista, a criminalidade cresce nas comunidades em que o homem não tem como buscar o seu sustento por vias legais e legítimas.
        Trata-se de uma discussão extensa, mas não interminável, pois soluções existem se houver vontade política em todos nós. Os dirigentes mundiais precisam pensar num futuro promissor para a humanidade, mas não aplicando os valores éticos estabelecidos na atualidade, já que penalizam a maior parte da população e salvaguardam o bem-estar de uma minoria com uma vida de excelência.
        Vejamos, agora, aplicações do que foi dito até então, com uma ou outra variação:
        Imaginemos um tema – ou, como exposto abaixo, uma discussão já iniciada acerca de um tema:
        “Verifica-se que a sociedade brasileira começa a demonstrar um profundo interesse em participar, em todos os campos, das decisões referentes às questões da vida nacional.”
        Como vimos, precisamos de argumento para justificar o ponto de vista apresentado. Talvez devêssemos perguntar: Por quê? E a resposta poderia se dar em termos de uma causa da ideia exposta – que poderia ser a seguinte:
        “As últimas revelações sobre a corrupção dos políticos têm revoltado a população.”
       Em seguida, devemos encontrar um consequência deste estado de coisas, através da pergunta: O que acontece, ou pode acontecer, em razão disso? A resposta poderia:
        A sociedade tem se manifestado frequentemente, através de passeatas ou de abaixo-assinados, contra a imoralidade dos corruptos e exigido punição para os ladrões.
        Desse modo, o parágrafo ficaria assim:
        Verifica-se que a sociedade brasileira começa a demonstrar um profundo interesse em participar, em todos os campos, das decisões referentes às questões da vida nacional. E isso tem acontecido porque as últimas revelações sobre a corrupção dos políticos tem revoltado a população. A sociedade, como consequência, tem se manifestado frequentemente, através de passeatas ou de abaixo-assinados, contra a imoralidade dos corruptos e exigido punição para os ladrões.
        Existem outras causas e consequências para este tema, mas analisamos apenas estas, para facilitar o trabalho. Você pode mencionar outras.
        “Defendo um choque de capitalismo nos pobres. Eles não precisam ser protegidos, precisam de meios para sobreviver numa economia de mercado, precisam ter capacidade de geração de renda. Talvez por tabu nunca foi tentado neste país.”

                                     MARCELO NERI – entrevistado pela Veja, 19/01/2004.

1 – Encontre uma causa e uma consequência para cada tema dado e, a seguir, monte um parágrafo:
a)     “A cada dia torna-se mais difícil encontrar emprego nas grandes cidades.”
Causa: resposta pessoal.
Consequência: resposta pessoal.

b)    “O Brasil tem enfrentado graves problemas na área de saúde e previdência públicas.”
Causa: resposta pessoal.
Consequência: resposta pessoal.

c)     “A campanha contra a miséria e a fome, promovida pelo Betinho, ainda mobiliza toda a nação.”
Causa: resposta pessoal.
Consequência: resposta pessoal.

2 – Reescreva as frases abaixo, estabelecendo:
      I – Relação de causa.
      II – Relação de consequência.
      Veja o exemplo:
a)     Vamos viajar amanhã. Está chovendo muito.
I – Vamos viajar amanhã, porque está chovendo muito.
II – Está chovendo muito e por isso vamos viajar amanhã.

b)    O jogador foi cortado da seleção. Ele sofreu uma fratura.
I – O jogador foi cortado da seleção, porque sofreu uma fratura.
II – O jogador sofreu uma fratura, por isso foi cortado da seleção.

c)     A estrada estava cheia. Era feriado nacional.
I – A estrada estava cheia, porque era feriado nacional.
II – Era feriado nacional e por isso a estrada estava cheia.

d)    Os motoristas fizeram greve. Os salários estavam baixos.
I – Os motoristas fizeram greve, porque os salários estavam baixos.
II – Os salários estavam tão baixos que os motoristas fizeram greve.

e)     O estudante fez boas provas. Estudou muito.
I – O estudante fez boas provas, já que estudou muito.
II – O estudante estudou tanto que fez boas provas.

f)      O cinema nacional está em decadência. Não há incentivo federais.
I – O cinema nacional está em decadência, porque não há incentivos federais.
II – Não há incentivos federais e por isso o cinema nacional está em decadência.

g)     Os inquilinos entraram na justiça. Os aluguéis aumentaram além da inflação.
I – Os inquilinos entraram na justiça, porque os aluguéis aumentaram além da inflação.
II – Os aluguéis aumentaram tão além da inflação que os inquilinos entraram na justiça.



A CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA - FRAGMENTO - COM GABARITO

A CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA

        Num dos trechos de sua carta a D. Manuel, Pero Vaz de Caminha descreve como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins, que aconteceu em 24 de abril de 1500: “O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés de uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, muito grande, ao pescoço (...) Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra, e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! (...) Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhes dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço, e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejamos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que não lhe havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhes dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de esconder suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam raspadas e feitas. O Capitão mandou pôr por baixo de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e, consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.”

                                                 Coleção Brasil 500 anos, Fasc. I, Abril, SP. 1999.

Alcatifa: tapete, carpete.
Fanadas: murchas.
Coxim: almofada que serve de assento.

1 – De acordo com o texto, assinale a(s) proposição(ões) verdadeira(s), indicando a soma delas:
01)Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da armada portuguesa, escreve para o rei de Portugal, D. Manuel, relatando como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins.
02)Em: “E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém”, fica implícito que os tupiniquins desconheciam hierarquia ou categoria social lusitanas.
04)O trecho”... e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejamos”, evidencia que havia problemas de comunicação entre portugueses e tupiniquins.
08)Nada, na embarcação portuguesa, pareceu despertar o interesse dos tupiniquins.
      Soma (07).

2 – A propósito do texto, é correto afirmar que (indique a soma das proposições):
01)A expressão “... folgou muito com elas...” pode ser substituída por “divertiu-se muito com as contas do rosário”.
02)Os tupiniquins, bastante comunicativos, falaram aos marinheiros que havia muita riqueza na terra descoberta.
04)Pelo trecho “... E também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra...”, entende-se que os tupiniquins estavam dentro da embarcação portuguesa.
08)Os tupiniquins ficavam constrangidos com a presença dos portugueses e logo abandonaram o navio.
        Soma (05).





POEMA- A ROSA DE HIROSHIMA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

POEMA: A ROSA DE HIROSHIMA
                 Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

1 – Em que medida podemos dizer que A Rosa de Hiroshima pertence ao conjunto dos poemas engajados de Vinícius de Moraes?
       A partir do momento que tematiza as consequências causadas pela “bomba”, invenção do homem, levando o leitor a refletir sobre problema tão grave para a sociedade.

2 – A “Rosa” é uma palavra que, tradicionalmente, tem um valor poético diferente deste que depreendemos acima. Você diria que a força do poema vem desse deslocamento? Justifique.
       SIM. Já que a palavra, com a significação com que foi empregada, chama a atenção do leitor para o fato que é inusitado, despertando-o para a realidade dos fatos expostos, pois não é utilizada como metáfora de paz, amor ou pureza, mas sim como dor, causada pelo “cogumelo atômico”.

3 – Cite duas características formais do texto que o remetam ao Modernismo.
       A liberdade total de expressão.
       E a temática de cunho social e realista.

VIDAS SECAS - QUESTÕES COM GABARITO

TEXTO LITERÁRIO:VIDAS SECAS
                                        Graciliano Ramos

       O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o sul. O casal agoniado sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado.
       Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando. Foi sentar-se no banco do copiar, examinou o céu limpo, cheio de claridade de mau agouro, que a sombra das arribações cortava. Um bicho de penas, matar o gado! Provavelmente Sinhá Vitória não estava regulando.
       Fabiano estirou o beiço e enrugou mais a testa suada: impossível compreender a intenção da mulher. Não atinava, um bicho tão pequeno! Achou a coisa obscura e desistiu de aprofundá-la. Entrou em casa, trouxe o aió, preparou um cigarro, bateu com o fuzil na pedra, chupou uma tragada longa. Espiou os quatro cantos, ficou alguns minutos voltados para o norte, coçando o queixo.
       --- Chi! Que fim de mundo!
       Não permaneceria ali muito tempo. No silêncio comprido só se ouvia um rumor de asas.
       Como era que a Sinhá Vitória tinha dito? A frase dela tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apareceu. As arribações bebiam a água. Bem o gado curtia sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas Sinhá Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade próxima, riu-se encantando com a esperteza de Sinhá Vitória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias, sim senhor, tinha muita coisa no miolo. Nas situações difíceis encontravam saída. Então! descobrir que as arribações matavam o gado! É, matavam. Àquela hora o mulungu do bebedouro, sem folhas e sem flores, uma garrancharia pelada, enfeitava-se de penas.
       Desejou ver aquilo d perto, levantou-se, botou o aió a tiracolo, foi buscar o chapéu de couro e a espingarda de pederneira. Desceu o copiar, atravessou o pátio, avizinhou-se da ladeira pensando na cachorra Baleia. Coitadinha. Tinham-lhe aparecido aquelas coisas horríveis na boca, o pelo caíra, e ele precisava matá-la. Teria procedido bem? Nunca havia refletido nisso. A cachorra estava doente. Podia consentir que ela mordesse os meninos? Podia consentir? Loucura expor as crianças à hidrofobia. Pobre da Baleia. Sacudiu a cabeça para afastá-la do espírito. Era o diabo daquela espingarda que lhe trazia a imagem da cadelinha. A espingarda, sem dúvida. Virou o rosto defronte das pedras no fim do pátio, onde a Baleia aparecera fria, inteiriçada, com olhos comidos pelos urubus.
       Alargou o passo, desceu a ladeira, pisou a terra de aluvião, aproximou-se do bebedouro. Havia um bater doido de asas por cima da poça de água preta, a garrancheira do mulungu estava completamente invisível. Pestes. Quando elas desciam do sertão, acabava-se tudo. O gado ia finar-se, até os espinhos secariam.
       Suspirou. Que havia de fazer? Fugir de novo, aboletar-se noutro lugar, recomeçar a vida. Levantou a espingarda, puxou o gatilho sem pontaria. Cinco ou seis aves caíram no chão, o resto se espantou, os galhos queimados surgiram nus. Mas pouco a pouco se foram cobrindo, aquilo não tinha fim.
       Fabiano sentou-se desanimado na ribanceira do bebedouro, carregou lentamente a espingarda com chumbo miúdo e não socou a bucha, para a carga espalhar-se e alcançar muitos inimigos. Novo tiro, novas quedas, mas isto não deu nenhum prazer a Fabiano. Tinha ali comida para dois ou três dias; se possuísse munição, teria comida para semanas e meses.
       Examinou o polvarinho e o chumbeiro, pensou na viagem, estremeceu.
Tentou iludir-se imaginou que ela não se realizaria se ele não a provocasse com ideias ruins. Reacendeu o cigarro, procurou distrair-se falando baixo. Sinhá Terta era pessoa de muito saber naquelas beiradas. Como andariam as contas com o padrão? Estava ali o que ele não conseguia nunca decifrar. Aquele negócio de juros engolia tudo, e afinal o branco ainda achava que fazia favor. O soldado amarelo...
       Fabiano, encaiporado, fechou as mãos e deu murros na coxa. Diabo. Esforçava-se por esquecer uma infelicidade, e vinham outras infelicidades. Não queria lembrar-se do patrão nem do soldado amarelo. Mas lembrava-se, com desespero, enroscando-se como uma cascavel assanhada. Era um infeliz, era a criatura mais infeliz do mundo. Devia ter ferido naquela tarde o soldado amarelo, devia tê-lo cortado a facão. Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o caminho. Esfregou a testa suada e enrugada. Para que recordar vergonha? Pobre dele. Estava então decidido que viveria sempre assim?
                                                                                               GRACILIANO RAMOS.

1 – Graciliano Ramos traz uma inovação para o romance brasileiro:
a)     O ambiente nordestino pela primeira vez na Literatura Brasileira.
b)    A solução para os problemas da classe trabalhadora está no melhor aproveitamento do ambiente.
c)     A agressividade da paisagem nordestina.
d)    A abordagem psicológica no Romance do Nordeste.
e)     O tratamento ficcional das estruturas socioeconômicas.

2 – A estrutura dramática do texto está realçada a partir de imagens em torno:
a)     Das consequências da seca e do soldado amarelo.
b)    Das aves de arribação e dos pensamentos de Sinhá Vitória.
c)     Da fuga da seca e dos pensamentos de Sinhá Vitória.
d)    Do patrão opressor e da busca de uma nova vida.
e)     Da fome e da luta pela sobrevivência.

3 – NÃO é característica do texto lido:
a)     O predomínio de orações coordenadas que emprestam ao texto um conjunto de imagens visuais.
b)    A presença do monólogo interior do personagem, estreitando a distância entre este e o narrador.
c)     Embora escreva rigorosamente dentro dos padrões cultos do português, o autor permeia sua linguagem de regionalismos e coloquialismos.
d)    Os personagens são delineados a partir da inteligência, do instinto e da emoção.
e)     O contexto social integra a narrativa como mero cenário onde se passam as ações em que se envolvem os personagens.

4 – Retire do texto passagens que exemplifiquem o discurso indireto livre.
       “Uma pessoa como aquela valia ouro”.
       “Cabra ordinário, mofino...”