segunda-feira, 11 de outubro de 2021

CONTO: A LIGA DOS CABEÇAS VERMELHAS - ARTHUR CONAN DOYLE - COM GABARITO

 CONTO: A liga dos cabeças vermelhas

         Arthur Conan Doyle

        Um dia de outono do ano passado, ao fazer uma visita a meu amigo Mr. Sherlock Holmes, encontrei-o entretido numa conversa com um cavalheiro de certa idade, muito gordo, rosto vermelho e uma cabeleira cor de fogo. Pedindo desculpas pela intromissão, já me retirava quando Holmes me puxou abruptamente para a sala e fechou a porta atrás de mim.

        — Não poderia ter chegado em melhor hora, meu caro Watson — disse cordialmente.

        — Receei que estivesse ocupado.

        — De fato, estou. E muito.

        — Nesse caso, posso esperar na outra sala.

        — De maneira alguma. Sr. Wilson, este cavalheiro tem sido meu assistente e colaborador em muitos dos meus casos mais bem-sucedidos, não tenho dúvidas de que me será de grande valia também no seu.

        O gordo cavalheiro soergueu-se ligeiramente e fez-me um cumprimento de cabeça, lançando-me uma olhadela inquisitiva com seus olhinhos empapuçados.

        — Acomode-se no canapé — disse-me Holmes, voltando a refestelar-se em sua poltrona e unindo as pontas dos dedos, como era seu costume quando imerso em reflexão. — Sei, meu caro Watson, que você partilha do meu gosto por tudo que é extravagante, que escapa das convenções e da pasmaceira do dia a dia. Mostrou seu gosto por essas coisas com o entusiasmo com que se dispôs a relatar, e, se me permite dizê-lo, a embelezar um pouco, tantas de minhas pequenas aventuras.

        — Seus casos realmente foram do maior interesse para mim.

        — Talvez lembre que comecei outro dia, pouco antes de enfrentarmos aquele problema muito simples apresentado por Miss Mary Sutherland, que, se quisermos encontrar efeitos estranhos e combinações extraordinárias, devemos procurar na própria vida, que vai sempre muito mais longe do que qualquer esforço da imaginação.

        — Uma posição que tomei a liberdade de pôr em dúvida.

        — De fato, doutor, mas terá de concordar comigo, pois do contrário continuarei a impingindo fato sobre fato, até que sua razão desabe sob o peso deles e reconheça que estou certo. Pois bem, Mr. Jabez Wilson, aqui, teve a bondade de recorrer a mim esta manhã e iniciar uma narrativa que promete ser das mais singulares que ouço nos últimos tempos. Você já me ouviu observar que as coisas mais estranhas e insólitas estão muitas vezes associadas não aos maiores, mas aos menores crimes, e às vezes mesmo a casos em que há margem para se duvidar de algum crime propriamente dito foi cometido. Pelo que ouvi até agora não me é possível dizer se o presente caso configura ou não um crime, mas o curso dos acontecimentos está sem dúvida entre os mais incomuns de que já tive notícia. Talvez pudesse fazer a grande gentileza, Mr. Wilson, de recomeçar sua narrativa. Peço-o não apenas porque meu amigo, o Dr. Watson, não ouviu o início, mas também porque a natureza peculiar da história deixa-me ansioso por não ouvir dos seus lábios todos os detalhes possíveis. Em regra, depois de ouvir uma ligeira indicação do curso dos eventos, sou capaz de me orientar com base nos milhares de outros casos semelhantes que me acorrem à memória. Na presente situação, porém, sou obrigado a admitir, em sã consciência, que os fatos parecem inauditos.

        O corpulento cliente estufou o peito, revelando uma ponta de orgulho, e puxou do bolso interno do paletó um jornal sujo e amassado. Enquanto ele passava os olhos pela coluna de anúncios, a cabeça espichava e o jornal alisado sobre os joelhos, dei-lhe uma boa espiada, esforçando-me por detectar, ao estilo de meu companheiro, os indícios que seu traje ou sua aparência poderiam conter.

        Mas minha inspeção não me revelou grande coisa. Nosso visitante tinha todas as características do comerciante britânico banal e mediano; era gordo, presunçoso e bronco. Usava calças bem largas de lã cinza quadriculada, uma sobrecasaca preta cuja limpeza deixava a desejar, desabotoada, e um colete pardacento sobre o qual brilhava uma grossa corrente Albert de latão de que pendia, como um berloque, uma peça de metal quadrada e furada. Em cima de uma cadeira, a seu lado, via-se um desbotado sobretudo marrom, a gola de veludo amassada. No conjunto, por mais que eu olhasse, nada havia de notável no homem, exceto seu cabelo de um ruivo chamejante e uma expressão de extrema consternação e contrariedade estampada no rosto.

        O olhar arguto de Sherlock Holmes percebeu rapidamente do que eu me ocupava, e, sacudiu a cabeça com um sorriso ao notar meu exame atento, comentou: — Além das evidências de que ele trabalhou como operário em alguma época, cheira rapé, é maçom, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não consigo deduzir mais nada.

        Mr. Jabez Wilson teve um sobressalto na sua cadeira; seu dedo indicador estava no jornal, mas os olhos no meu companheiro.

        — Céus! Como ficou sabendo de tudo isso, Mr. Holmes? — perguntou. — Como soube, por exemplo, que fui trabalhador braçal? É a mais perfeita verdade, comecei como carpinteiro de navio.

        — Suas mãos, meu caro senhor. A direita é bem maior que a esquerda. Trabalhou com ela e os músculos são mais desenvolvidos.

        — Mas e o rapé. E a maçonaria?

        — Não insultarei sua inteligência dizendo-lhe como adivinhei isso, especialmente porque, e na verdade contrariando as severas regras de sua ordem, o senhor usa um alfinete de gravata com arco e compasso.

        — Ah! Claro, esqueci-me disso. Mas, e a escrita?

        — Que outra coisa poderia indicar esse seu punho direito com uns doze centímetros tão lustrosos e a manga esquerda puída perto do cotovelo, onde a esfrega na mesa?

        — Bem, e a China?

        — O peixe que tem tatuado logo acima do pulso direito só poderia ter sido feito na China. Fiz um pequeno estudo das tatuagens e cheguei mesmo a contribuir para a literatura sobre o assunto. Essa habilidade de pintar escamas de peixe de um cor-de-rosa delicado é inteiramente peculiar à China. Quando, além disso, vejo uma moeda chinesa pendurada na corrente do seu relógio, a questão se torna ainda mais simples.

        Mr. Jabez Wilson deu uma gargalhada.

        — Vejam só! A princípio pensei que o senhor havia feito algo de extraordinário, mas vejo que, afinal, não foi nada de mais.

        — Começo a achar, Watson — disse Holmes —, que cometo um erro ao explicar. Omne ignotum pro magnifico, você sabe, e minha reputação, já modesta, ficará arruinada se eu continuar sendo tão franco.

        [...]

DOYLE, Arthur Conan. A liga dos cabeças vermelhas. As aventuras de Sherlock Holmes. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro Zahar, 2010.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 177-180.

Entendendo o texto:

01 – Quais são as personagens que aparecem no texto?

      Sherlock Holmes, Watson e Jabez Wilson.

02 – Transcreva um trecho do texto que nos permite imaginar que Sherlock Holmes é um detetive.

      Sr. Wilson, este cavalheiro tem sido meu assistente e colaborador em muitos dos meus casos mais bem-sucedidos, não tenho dúvidas de que me será de grande valia também no seu.” Ou “Pois bem, Mr. Jabez Wilson, aqui, teve a bondade de recorrer a mim esta manhã e iniciar uma narrativa que promete ser das mais singulares que ouço nos últimos tempos. Você já me ouviu observar que as coisas mais estranhas e insólitas estão muitas vezes associadas não aos maiores, mas aos menores crimes, e às vezes mesmo a casos em que há margem para se duvidar de algum crime propriamente dito foi cometido.”

03 – Releia o trecho a seguir:

        “O olhar arguto de Sherlock Holmes percebeu rapidamente do que eu me ocupava, e, sacudiu a cabeça com um sorriso ao notar meu exame atento, comentou: — Além das evidências de que ele trabalhou como operário em alguma época, cheira rapé, é maçom, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não consigo deduzir mais nada.”. Qual era a possível intenção de Sherlock Holmes ao fazer uma análise minuciosa da figura de seu cliente, Jabez Wilson?

      Sherlock quis provar a Wilson que era um bom investigador e, portanto, capaz de desvendar o crime que ele havia lhe contado. Além disso, quis mostrar a Watson que conseguia, sem esforço de imaginação, encontrar evidências sobre a história de vida de seu cliente.

04 – Identifique cada detalhe que Sherlock observou para descobrir os aspectos da vida de seu cliente. Em seguida, indique o que cada detalhe lhe revelou.

      As mãos: a direita era mais desenvolvida que a esquerda, o que lhe permitiu concluir que o cliente trabalhara em serviço pesado utilizando as mãos. Ser maçom: o cliente usava um prendedor de gravata com esquadro e compasso, símbolos da maçonaria. Escrever muito nos últimos tempos: o homem apresentava uma marca lustrosa no punho direito da camisa e outra, puída, no cotovelo esquerdo, demonstrando que se apoiava em uma escrivaninha. Ter estado na China: a tatuagem de peixe no punho, com as escamas coloridas de rosa próprias daquela região, e a confirmação com o uso de moeda chinesa pendurada à corrente. Cheirar rapé: O cheiro que ele exalava.

05 – Além de excelente observador, Sherlock possui outras características que o ajudam a tirar suas conclusões. Quais são elas?

      Além de observador, Sherlock é uma pessoa vivida, que tem experiências: já escreveu um tratado sobre as tatuagens chinesas, conhece os símbolos da ordem da maçonaria, etc. Seus conhecimentos lhe permitem estabelecer relações e tirar conclusões. Ele também domina o método dedutivo, essencial para relacionar os detalhes que observa ao repertório que acumulou.

06 – A expressão latina “Omne ignotum pro magnifico” pode ser traduzida da seguinte forma: “tudo que é ignorado é tido como magnífico”. Baseando-se nessa informação, responda: Por que Sherlock afirma que sua reputação ficará arruinada se ele continuar sendo tão franco?

      Sherlock sabe que, se continuar mostrando para as pessoas como chega às suas conclusões, elas perceberão que seu método não é sobrenatural, mas simples, pois trabalha com a lógica e as evidências.

07 – Releia o primeiro parágrafo do texto e responda: Que marcas textuais nos permitem afirmar que o narrador da história e uma personagem que participa da trama?

      O uso do verbo e dos pronomes pessoais na primeira pessoa do singular: “encontrei-o”, “já me retirava quando Holmes me puxou abruptamente para a sala e fechou a porta atrás de mim”.

08 – Que personagem nos conta a história? Identifique-a e copie o trecho do texto em que o detetive demonstra ter consciência de que essa personagem é a divulgadora de suas aventuras.

      Watson é o narrador das histórias de Sherlock. “— Sei, meu caro Watson, que você partilha do meu gosto por tudo que é extravagante, que escapa das convenções e da pasmaceira do dia a dia. Mostrou seu gosto por essas coisas com o entusiasmo com que se dispôs a relatar, e, se me permite dizê-lo, a embelezar um pouco, tantas de minhas pequenas aventuras.”

09 – Em sua opinião, qual pode ser a intenção de um escritor ao optar pelo foco narrativo em 1ª pessoa?

      Se o foco narrativo está em 1ª pessoa, o leitor lê os fatos narrados como verdadeiros, pois eles foram testemunhados por uma personagem que os vivenciou. Nesse caso, portanto, o modo de ver os fatos restringe-se à visão de uma personagem, que pode ou não contar a verdade dos fatos ao leitor.

10 – Leia estes trechos do texto:

I – “Um dia, no outono do ano passado, ao fazer uma [...]”.

II – “De fato, estou. [...]”.

III – “[...] Peço-o não apenas [...]”.

IV – “Bem, e a China?”.

V – “Suas mãos, meu caro senhor”.

        Quando lemos esses trechos isoladamente, sem nos esquecermos de que foram retirados de um texto, quais deles não podem ser compreendidos? Por quê?

      O primeiro e o terceiro enunciados, pois não apresentam uma ideia completa, não têm sentido completo.

11 – Agora, leia estes outros enunciados:

I – “Vejam só!”.

II – “Mas e a escrita?”.

a)   Eles apresentam sentido completo?

Sim, ambos têm sentido completo.

b)   Observe sua estrutura e indique em que se diferenciam.

O enunciado I possui verbo e o II, não.

 

REPORTAGEM: COM MEDO DO AEDES, 85% DOS BRASILEIROS AFIRMAM TER MUDADO HÁBITOS (FRAGMENTO) - YARA AQUINO - COM GABARITO

 Reportagem: Com medo do Aedes, 85% dos brasileiros afirmam ter mudado hábitos (fragmento)

         Yara Aquino

        A população foi considerada a principal responsável pela proliferação do mosquito Aedes aegypti por 74,7% dos entrevistados ouvidos na 130ª Pesquisa Confederação Nacional do Transporte (CNT/MDA), divulgada hoje (24). Outros 7,4% responderam que as prefeituras são culpadas pela proliferação do mosquito que transmite dengue, vírus zika e a febre chikungunya. Para 6,2%, o responsável é o governo federal e, 1% os governos estaduais. A maioria dos entrevistados (88%) disse que tem receio de contrair alguma doença transmitida pelo mosquito e 85,2% afirmaram que, para se proteger, adotaram alguma medida ou mudaram hábitos.

        [...]

        A pesquisa da CNT, encomendada ao Instituto MDA, entrevistou 2.002 pessoas de 137 municípios de 25 unidades da Federação entre os dias 18 e 21 de fevereiro de 2016.

           AQUINO, Yara. Com medo do Aedes, 85% dos brasileiros afirmam ter mudado hábitos. Portal Agência Brasil, 24 fev. 2016. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-02/com-medo-do-aedes-85-dos-brasileiros-afirmam-ter-mudado-habitos. Acesso em: 18 mar. 2019.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 97.

Entendendo a reportagem:

01 – Quem são os entrevistados da pesquisa e a quem eles responsabilizam pela proliferação do Aedes aegypti?

      A população, ou seja, eles mesmos.

02 – Considerando a porcentagem de entrevistados que responsabilidade o governo estadual, reescreva a oração em destaque iniciando-a por “Aproximadamente 1% [...]”.

      Aproximadamente 1% dos entrevistados acredita que a proliferação do mosquito Aedes aegypti é de responsabilidade do governo estadual.

03 – Que hábitos você costuma adotar para se proteger dos mosquitos e prevenir a proliferação deles?

      Resposta pessoal do aluno.

NOTÍCIA: O INIMIGO MORA AO LADO - VALENTINA LEITE - COM GABARITO

 Notícia: O inimigo mora ao lado

            Valentina Leite

        Fala do biólogo Sérgio Luz, que mostra um dos resultados da utilização da técnica com o larvicida:

        I – “Antes de colocarmos em prática o método, havia uma mortalidade de, no máximo, 10% das larvas dos mosquitos”.

        II – “Com a execução da nova estratégia, a taxa de mortalidade das larvas foi superior a 90%”.

LEITE, Valentina. O inimigo mora ao lado. Ciência Hoje, n. 325, maio 2015. Disponível em: http://cienciahoje.org.br/o-inimigo-mora-ao-lado/. Acesso em: 17 mar. 2019.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 95.

Entendendo a notícia:

01 – Reescreva o trecho I começando o período com: “Aproximadamente 10% das larvas [...]”, e mantendo a coerência de sentido.

      Aproximadamente 10% das larvas dos mosquitos morrem antes de se colocar o método em prática.

02 – Agora reescreva o trecho II começando a reestruturação com: “Mais de 90% das larvas [...]”, também mantendo a coerência de sentido.

      Mais de 90% das larvas morreram após a execução da nova estratégia.

03 – Os verbos ficaram no singular ou no plural após a reestruturação?

      No plural.

     

REPORTAGEM: A IMPORTÂNCIA DA CIÊNCIA DE QUALIDADE(FRAGMENTO) - RITA LOIOLA - COM GABARITO

 Reportagem: A importância da ciência de qualidade (Fragmento)

                    Rita Loiola

        A última edição da revista Science chama atenção para esse conhecido paradoxo da ciência: a valorização do número de publicações, que indica a produtividade acadêmica, mas, por outro lado, pode incentivar a queda de qualidade e favorecer a desonestidade. De acordo com dois comentários publicados no periódico, a avaliação quantitativa tem feito a ciência evoluir de forma “dramática e inquietante” e ajudado a promover fraudes, a falta de transparência e uma série de equívocos.

        “Há, certamente, uma possibilidade de que os incentivos para a publicação constante de artigos esteja impedindo o próximo Newton, ou prêmio Nobel, de surgir. Todos os grandes pesquisadores têm muito trabalho, mas apenas um ou dois flashes de brilhantismo pelos quais são lembrados”, disse ao site de VEJA a geofísica Marcia McNutt, editora-chefe da Science e autora de um dos textos publicados na revista. “Temos que prestar atenção a poucos e bons artigos, e não a um grande número de textos medíocres, publicados facilmente na internet.”

        LOIOLA, Rita. A importância da ciência de qualidade (e não de quantidade). São Paulo: Veja, 9 maio 2016. Disponível em: https://veja.abril.com.br/ciencia/a-importancia-da-ciencia-de-qualidade-e-nao-de-quantidade/. Acesso em: 17 mar. 2019.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 93-4.

Entendendo a reportagem:

01 – Chama-se paradoxo ideias que se contradizem ou são aparentemente sem lógica ou nexo. Que paradoxo da ciência é apontado no texto?

      A valorização do número de publicações, indicando a produtividade acadêmica, mas que acaba favorecendo a queda da qualidade e a publicação de pesquisas medíocres.

02 – De que modo a Ciência é posta em risco por esse paradoxo?

      Se os pesquisadores precisam produzir muito, acabam cometendo equívocos e a transparência do processo de pesquisa diminui. Eles ficam sobrecarregados e não conseguem amadurecer suas pesquisas de modo inovador, o que demanda tempo.

03 – Você conhece o periódico científico Science? Pesquise e registre informações que indiquem seu público leitor e a importância científica que ele possui.

      Science é uma revista científica publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência desde 1880. É um dos periódicos científicos mais prestigiados do mundo, lido por quase 600 mil pessoas, já que conta com suporte on-line. Publica pesquisas científicas e comentários sobre elas, notícias ligadas à Ciência e outros assuntos de interesse científico e tecnológico. É destinada à comunidade acadêmica e também lida por jornais e revistas de divulgação científica.

04 – Por que Marcia McNutt cita ser importante surgir o “próximo Newton, ou Prêmio Nobel”? Que importância têm sir Isaac Newton e o Prêmio Nobel? Pesquise para responder.

      Newton foi um físico e matemático muito importante para a história da ciência. No final do século XVII, descreveu a lei gravitacional universal e três leis – as chamadas Leis de Newton – que embasaram as teorias e aplicações da mecânica clássica. Sua produção foi bastante brilhante e expressiva para a Ciência. O Prémio Nobel consiste em seis premiações concedidas por instituições suecas e norueguesas a pessoas que contribuíram de modo significativo nas áreas de ativismo pela paz, economia, física, literatura, medicina e química. A geofísica Marcia McNutt usa esses exemplos para mostrar que a produtividade excessiva impede o progresso de pesquisas de qualidade, que possam ser reconhecidas.

05 – Que função o verbo (disse) em destaque possui?

      Possui a função de delimitar uma fala e indicar a sua autoria.

06 – Reescreva o último parágrafo em discurso indireta.

      Sugestão: A geofísica Marcia McNutt, editora-chefe da Science e autora de um dos textos publicados na revista considera ser bem possível que os incentivos para a publicação constante de artigos estejam impedindo o próximo Newton, ou Prêmio Nobel, de surgir. Todos os grandes pesquisadores têm muito trabalho, mas apenas um ou dois flashes de brilhantismo pelos quais são lembrados. Ela alerta para a importância de prestarmos atenção aos poucos e bons artigos, e não a um grande número de textos medíocres, publicados facilmente na internet.

 

 

 

 

CONTO: EXERCÍCIO PARA - NATHALIE LOURENÇO - COM GABARITO

 Conto: Exercício para

           Nathalie Lourenço

        Existe uma foto que sempre me fazia chorar. São duas crianças de etnias inimigas, mas quase não se vê qual é qual, pois as duas estão cobertas de fuligem, sentadas sobre uns escombros e vestidas apenas com fraldas e sapatinhos. Quem tirou essa foto fui eu. Depois, ela estamparia capas de jornais do mundo todo, ganharia prêmios, me tiraria do nada e me levaria a ser uma das fotógrafas mais procuradas do meio. Nunca foi nada disso que fazia despertar tremores e inundações dentro de mim, e sim a mesma coisa indefinível que me levou a fazer o clique. Uma penugem de cinzas cobrindo os cílios das crianças. A forma que suas mãozinhas se entrelaçavam, sem saber que tinham nascido para se odiar. A vida que continua no meio de um mundo destroçado.

        Essa foto (chama-se Castor e Pólux) foi impressa em um painel de 3 metros de altura. Eu fiquei de frente para ela na exposição em minha homenagem organizado pela fundação de Janus e, pela primeira vez em mais de 30 anos, os meus olhos permaneceram secos. Doutor Kobayashi disse que a perda gradual da emotividade é um sintoma comum de quem usa há muito tempo o CyberCortex: o cérebro artificial tem dificuldade para sinalizar a produção de endorfinas. Assim, pediu que eu fizesse alguns exercícios.

        Exercício para tristeza
        Fa
ça um prato de comida. Assista enquanto ele esfria.
        Ao esquent
á-lo novamente, imagine se o sabor é o mesmo ou se algo se perdeu.
        Pense sobre isso por dois minutos.

        Hoje vou tomar um café com Janus. Impossível não associar sua figura barbuda a um acampamento, uma mochila surrada e uma câmera no pescoço. Ninguém entende melhor as zonas de guerra do que ele.

        O medo nunca passa nas zonas de guerra. Mesmo depois de muitos anos e muitas guerras diferentes. Você precisa se concentrar no que está a sua frente, no visor da câmera, e pode não perceber algo importante, como um estilhaço ou uma bala vindo em direção à sua cabeça. Graças ao medo, fui uma das primeiras a fazer o download de memórias para a tecnologia do CyberCortex, em uma época em que isso ainda era considerado excêntrico e antinatural. Hoje, apenas um louco faria o que eu e Janus fazíamos sem antes fazer um upload cerebral completo. Hoje, apenas Janus continua a fazê-lo. Eu não. E quando o estilhaço veio, morte cerebral não significava mais morte. Na volta, foi difícil me acostumar. Caía muito. A maior diferença é o peso da cabeça. Um chip não pesa muito, mesmo com a espuma de alta densidade que é usada para que a cabeça não fique – literalmente – oca.

        Era perigoso, e eu era inconsequente. Janus arranjou trabalhos freelance para mim em revistas de notícia e de moda, mas não era isso que eu queria fazer. Em pouco tempo estava de volta às trincheiras. Sei que perdi o equilíbrio perto de um campo minado por causa das pernas cibernéticas que uso hoje. Mandei que deletassem a memória do meu HD, por causa do stress pós-traumático. Assim, a única lembrança que tenho desse momento é uma foto tirada sem querer, por um dedo crispado de dor, um borrão 85% terra e 15% céu.

        Meus arquivos saltam diretamente para o momento que acordei na ala de BioTech do hospital. Janus está lá, o que me preocupou de imediato. Seu contrato previa ainda 2 meses no campo de refugiados. Ele explicou sobre o funcionamento dos joelhos mecânicos, primeiro receoso, mas logo voltou a ser ele mesmo, brincando que eu sempre tive umas belas dumas pernas e que agora elas seriam eternas. Se gabou de ter feito com que fossem modeladas a partir de umas fotos de quando eu tinha 25 anos. As duas longas traquitanas se dobram de forma involuntária quando eu começo a rir.

        Exercício para amor
        Escolha uma parte pequena de uma pessoa
à sua escolha.
        Observe detalhes como: uma dobra da orelha, a forma que as cores se alteram na borda das pupilas. N
ão pare até encontrar a beleza insuportável que há nisto.

        Janus está atrasado para nosso café. Peço mais um duplo, correndo o risco de desregular o PH do meu estômago químico. Passam-se duas horas, e nada de Janus. Envio mensagens para seu aparelho pessoal e para o serviço de nanomensagens. É desagradável, mas faço uma ligação para sua casa, torcendo que sua nova esposa não atenda, e sim um Janus esquecido e de pijamas. Segundo Vivian, ele saiu há mais de duas horas. Saio do café e caminho no ar gelado da rua. De costas, algumas pessoas se parecem com ele, mas apenas de costas. De frente, vemos os vidros e as chapas metálicas, os braços mecânicos e unhas microchipadas. Apenas Janus é todo carne e obsolescência. Recebo uma ligação de Lóris, da exposição, pedindo que eu vá para lá o quanto antes.

        É dia de semana, e às 17h, há quase ninguém no hall. Distingo logo a figura de Janus, pequeno contra a gigantesca reprodução de Castor e Pólux. Lóris está ao seu lado e diz em voz tranquilizadora Está Vendo, Cali Chegou, Cali Está Aqui, e ele se cala e me mede com os olhos gelatinosos, os mesmos olhos com que nasceu, e pelo modo que abre e fecha boca, vejo que não sabe quem eu sou. Abana a cabeça e, sem dizer palavra, ergue os olhos para as duas crianças titânicas, cobertas de cinza e desamparo.

        Ainda não consigo chorar.

LOURENÇO, Nathalie. Exercício para. In: Raimundo – Revista de nova literatura brasileira. Disponível em: http://www.revistaraimundo.com.br/9/nl1_c.php. Acesso em: 27 fev. 2019.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 34-40.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Endorfinas: neurotransmissor produzido pelo corpo humano cuja elevação reduz a ansiedade, os sintomas de depressão e o apetite.

·        Titânica: adjetivo utilizado para caracterizar algo grande e forte; relativo a titãs, divindades clássicas que enfrentaram Zeus.

·        Traquitanas: engrenagem; módulo móvel de ferro para sustentação e deslocamento.

02 – Retorne o que pensou a respeito do título da narrativa e responda por que o título parece estar incompleto?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Antes de ler o texto, você levantou hipóteses sobre os exercícios mencionados. O que você havia imaginado se confirmou após a leitura do texto?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – No início do conto, a personagem descreve uma fotografia que retrata uma questão social.

a)   Qual é a questão social retratada?

A imagem retrata duas crianças, de etnias inimigas, cobertas por poeira de escombros.

b)   Em que cenário a foto tirada por Cali foi ambientada?

Provavelmente em uma guerra entre duas etnias num futuro não datado.

c)   O retrato fotográfico criado pela narradora tem um nome e faz referência a uma figura mítica. Qual?

A foto recebe o título de “Castor e Pólux” e faz referência aos irmãos por parte de mãe Castor e Pólux, personagens da mitologia grega, mas apenas o segundo é filho de Zeus e, portanto, imortal. Diante de um conflito, Pólux divide sua imortalidade com Castor para que permaneçam juntos para sempre. Ela foi utilizada como título da foto, provavelmente, para marcar a fraternidade entre as duas crianças, que, mesmo sendo de etnias diferentes, estavam ligadas como irmãs numa situação de conflito.

05 – Para se referir à imagem que retratou, a narradora utiliza duas palavras diferentes.

a)   Quais são essas palavras?

Para se referir à imagem, Cali utiliza foto e clique.

b)   Que outras palavras poderiam ser utilizadas pela autora para evitar repetição dessa palavra?

Fotografia, registro fotográfico, retrato, entre outros sinônimos.

06 – No conto, a autora se vale de diferentes expressões para revelar o modo como a personagem não conseguia mais sentir as coisas. Quais são?

      As expressões meus olhos permaneceram secos, sempre me fazia chorar, nunca foi nada disso que fazia despertar tremores e inundações dentro de mim, etc.

07 – Releia agora um trecho do conto:

        Hoje vou tomar um café com Janus. Impossível não associar sua figura barbuda a um acampamento, uma mochila surrada e uma câmera no pescoço. Ninguém entende melhor as zonas de guerra do que ele.

        O medo nunca passa nas zonas de guerra. Mesmo depois de muitos anos e muitas guerras diferentes. Você precisa se concentrar no que está a sua frente, no visor da câmera, e pode não perceber algo importante, como um estilhaço ou uma bala vindo em direção à sua cabeça. [...]”.

LOURENÇO, Nathalie. Exercício para. In: Raimundo – Revista de nova literatura brasileira. Disponível em: http://www.revistaraimundo.com.br/9/nl1_c.php. Acesso em: 27 fev. 2019.

·        Ainda que o conto não anuncie diretamente a profissão de Janus, podemos inferi-la a partir do trecho lido. Com o que Janus trabalhava?

Janus também era fotógrafo de guerra, assim como Cali.

08 – Por que Cali perdeu a emotividade?

      Cali trabalhava como fotografa, cobrindo reportagens de guerras e conflitos. Em um desses trabalhos, um estilhaço atingiu sua cabeça e a fez sofrer uma espécie de morte cerebral. No entanto, tempos antes de isso ocorrer, a humanidade havia criado uma nova tecnologia que permitiria o upload de memórias. Dessa forma, ela teve seu cérebro transplantado e substituído por um chip, perdendo assim a capacidade de sentir as coisas e de emocionar.

09 – O que seria o CyberCortex?

      CyberCortex é o nome da tecnologia que permitiu à personagem principal permanecer viva, fazendo com que as memórias humanas fossem armazenadas em um arquivo digital e depois transferidas para um chip.

10 – Leia novamente um dos exercícios que o Doutor Kobayashi pediu a Cali que fizesse:

        Exercício para tristeza
          Fa
ça um prato de comida. Assista enquanto ele esfria.
          Ao esquent
á-lo novamente, imagine se o sabor é o mesmo ou se algo se perdeu.
          Pense sobre isso por dois minutos.”

LOURENÇO, Nathalie. Exercício para. In: Raimundo – Revista de nova literatura brasileira. Disponível em: http://www.revistaraimundo.com.br/9/nl1_c.php. Acesso em: 27 fev. 2019.

a)   Os trechos que marcam os exercícios feitos pela personagem para recuperar a sensibilidade estão destacados de que forma ao longo do texto? Por que a autora do conto optou por fazer esse destaque?

Os trechos foram destacados em itálico e obedecem a um recuo em relação ao restante do texto. A autora possivelmente optou por esses destaques porque queria dar visibilidade ao texto dos exercícios.

b)   Imagine agora que você fosse convidado a colaborar com a pesquisa do Doutor Kobayashi. Que exercícios você sugeriria que Cali fizesse para recuperar as emoções apresentadas?

Resposta pessoal do aluno.

c)   Agora pense em uma sensação ou emoção e crie uma receita para ela.

        Exercício para...

Resposta pessoal do aluno.

11 – No final do conto, o discurso direto, ou seja, as falas da personagem Lóris são marcadas de modo não convencional. Que recurso foi utilizado pela autora para marcar as falas? Por que ela utiliza esse recurso?

      A autora utiliza letras maiúsculas no trecho “Está Vendo, Cali Chegou, Cali Está Aqui”. Resposta pessoal do aluno.

12 – Outro aspecto interessante na organização da narrativa são os nomes dos personagens. Tanto Janus como Cali são referências a nomes de divindades. Faça uma breve pesquisa sobre essas figuras míticas e levante uma hipótese sobre o uso desses termos.

      Resposta pessoal do aluno.