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sábado, 13 de agosto de 2022

ROMANCE: MÃOS DE CAVALO / "O CICLISTA URBANO" - (FRAGMENTO) - DANIEL GALERA - COM GABARITO

 Romance: Mãos de cavalo / “O Ciclista Urbano” – Fragmento

                   Daniel Galera

          Capa do livro Mãos de cavalo, de Daniel Galera. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Nessa obra, um cirurgião lembra fatos marcantes de sua infância e adolescência, em que se cruzam as sensações de heroísmo e covardia, e os associa ao presente, no qual ainda busca sua identidade.

        [...]

        Após esses segundos iniciais de avaliação do percurso, [...], o Ciclista Urbano se joga ladeira abaixo pedalando numa velocidade suicida que deixa perplexo qualquer observador.

        Com um punhado de giros nos pedais, a velocidade cresce tanto que a trepidação das rodas contra as pedras da rua se torna quase insuportável. Mas o Ciclista conhece bem aquele trecho e sabe que precisa aguentar com os pulsos firmes por mais alguns instantes até que, numa manobra angulosa para a esquerda que pareceria loucura a um ciclista comum, ele salta sobre o canteiro central da rua do Canteiro aproveitando um ponto rebaixado do meio-fio, cruza a pista oposta, sobe na calçada em trajetória diagonal por uma rampa de garagem e maneja com destreza o guidom da bicicleta para fazer uma rápida correção da roda para a direita, bem a tempo de evitar o choque frontal com um muro de cimento sem reboco cuja superfície parece bastante aderente a pedaços de pele e carne humana. É o primeiro ponto delicado, de um total de cinco, no percurso que ele completará hoje, supondo, é claro, que não haja surpresas. Atravessa agora as calçadas de cinco casas em sequência, sem grandes desníveis ou mudanças de terreno, de modo que o Ciclista se sente à vontade para relaxar por alguns segundos, reacomodar a palma das mãos nos manetes, afrouxar a tensão dos joelhos e cotovelos e apreciar rapidamente a vista até que o olhar trave na água do Guaíba lá longe, salpicada do branco das velas dos veleiros. À sua direita, agora, os quarteirões são ocupados por casas construídas há não mais de um ano, várias delas com a pintura e as telhas ainda imaculadas, separadas entre si por miniaturas de matas fechadas. À sua esquerda predomina um terreno árido coberto por longas faixas de areia dura, alaranjada e erodida que se estendem em declive até a base do morro e dão lugar a uma zona plana onde ruas rigorosamente retas delimitam quarteirões retangulares subdivididos em lotes à venda. [...]

GALERA, Daniel. Mãos de cavalo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 11-12. (Fragmento).

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 303-4.

Entendendo o romance:

01 – Os demais capítulos do livro apresentam a narrativa em 1ª pessoa. Como o leitor reconhece, nesse capítulo, que o relato dos fatos se faz em 3ª pessoa?

      Pela flexão dos verbos, principalmente.

02 – Releia os três primeiros períodos do texto. Que efeito o narrador obtém com o uso da 3ª pessoa para referência a suas próprias ações, já que ele é o Ciclista Urbano?

      O uso da 3ª pessoa faz dele um personagem, aproximando o relato de suas experiências ao relato de aventuras ou ações dos personagens de ficção.

03 – No primeiro período, qual verbo sugere que o movimento feito com a bicicleta é extremamente rápido? Que outra expressão confirma essa característica?

      A forma verbal joga sugere rapidez, confirmada pela expressão velocidade suicida.

04 – O terceiro período é o mais longo do trecho. Qual foi o critério para a segmentação, isto é, para marcar seu começo e seu fim?

      O terceiro período agrupa todas as ações feitas para superar um determinado trecho do percurso, que é considerado “delicado”.

05 – Releia o seguinte trecho do mesmo período: “[...] ele salta sobre o canteiro central da rua do Canteiro [...], cruza a pista oposta, sobe na calçada em trajetória diagonal por uma rampa de garagem e maneja com destreza o guidom da bicicleta para fazer uma rápida correção da roda para a direita, bem a tempo de evitar o choque frontal [...]”. A escolha do tempo verbal descreve uma ação anterior, simultânea ou posterior ao momento da fala?

      Os verbos no presente do indicativo descrevem uma ação simultânea ao momento da fala.

06 – Que efeito se obtém com essa referência temporal?

      Os verbos no presente dão dinamismo às ações e levam o leitor a compartilhar as emoções do personagem.

07 – Compare agora o trecho lido com outra sequência do texto: “[...] o Ciclista se sente à vontade para relaxar por alguns segundos, reacomodar a palma das mãos nos manetes, afrouxar a tensão dos joelhos e cotovelos e apreciar rapidamente a vista”. Que impressão o conjunto dos verbos cria? Como ela contrasta com os verbos anteriores?

      Esses verbos criam a impressão de ações menos vigorosas, mais descontraídas, o que contrasta com a tensão do bloco anterior.

08 – A sequência de orações iniciadas por verbos no infinitivo, nesse trecho, sugere ações simultâneas ou progressivas? Como ela contribui para criar um ritmo diferente do que havia na narrativa?

      Sugere ações simultâneas e ajuda a criar um ritmo mais distenso, menos acelerado, que contrasta com o anterior.

09 – Releia os dois últimos períodos do texto. Que palavra indica que o Ciclista continua em movimento? Justifique.

      A palavra agora, que sugere uma mudança em relação ao momento e à paisagem anteriores.

10 – Por que o leitor tem a impressão de que o ritmo diminuiu?

      Porque o texto passa a descrever detalhadamente o cenário.

11 – Divida mentalmente o texto em duas partes: uma antes do verbo atravessar e outra depois. Em que se concentra o protagonista em cada uma delas?

      Na primeira parte, ele se concentra na condução da bicicleta; na segunda, um trecho menos acidentado, ele se concentra na paisagem.

12 – De que posição o leitor “vê” o protagonista: está longe ou próximo dele? Justifique sua resposta.

      O leitor está bastante próximo, parecendo acompanhá-lo na bicicleta, visto que experimenta rapidez e tensão, na primeira parte, bem como o relaxamento e a contemplação da paisagem, na segunda parte.

 

ROMANCE: CAPITU - OLHOS DE RESSACA - CAP. XXXII - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Romance: Capitu – Olhos de ressaca – Cap. XXXII

    Machado de Assis

        [...]

        Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez ambas as coisas, como eu. É o que contarei no outro capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal, nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.

        — Está na sala, penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.

        Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode ser que não fosse; era um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede, entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé. Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos, toda ela voou pelos ares, e só lhe ouvi esta pergunta:

        — Há alguma coisa?

        — Não há nada, respondi; vim ver você antes que o Padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?

        — Eu bem. José Dias ainda não falou?

        — Parece que não.

        — Mas então quando fala?

        — Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por alto e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita...

        — Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho.

        — Teimo; hoje mesmo ele há de falar.

        — Você jura?

        — Juro! Deixe ver os olhos, Capitu.

        Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...

        Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dante; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe, — para dizer alguma coisa, — que era capaz de os pentear, se quisesse.

        — Você?

        — Eu mesmo.

        — Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.

        — Se embaraçar, você desembaraça depois.

        — Vamos ver.

        [...].

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Machado de Assis: obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. v. 1, p. 842-843. Fragmento.

      Fonte: Língua Portuguesa – Se liga na língua – Literatura, Produção de texto, Linguagem – 2 Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2016 – Moderna – p. 88-90.

Entendendo o romance:

01 – Com um propósito bastante objetivo, o narrador estabelece uma relação entre a metonímia (“espelhinho de pataca”, “comprado de um mascate italiano”, de “moldura tosca”, “argolinha de latão”, etc.) e a condição social de Capitu e de sua família. Qual é o interesse do narrador em revelar a condição econômica de Capitu?

      Capitu cobra insistentemente de Bentinho uma posição sobre a intervenção de José Dias junto a D. Glória para que o filho deixe o seminário. Logo depois é indicada ao leitor a condição social da moça. Com isso, o narrador talvez tenha querido dizer que Capitu estava interessada em casar-se logo com ele por causa da condição social privilegiada do rapaz.

02 – A agressividade explícita contida na fala de Capitu, reproduzida a seguir, permite-nos inferir duas leituras sobre suas motivações para desejar tanto a saída de Bentinho do seminário.

        “— Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho.”

a)   Qual seria a primeira leitura (a favor de Capitu)?

A primeira leitura – mais romântica – estaria ligada ao profundo amor que Capitu nutre por Bentinho, o que justificaria seu aborrecimento com ele, com José Dias e com D. Glória.

b)   Qual seria a segunda leitura (contra ela)?

A segunda leitura estaria ligada aos interesses de ascensão social de Capitu. Nesse ponto de vista, não se casar com Bentinho – pelo fato de ele ser obrigado a ser padre – representaria permanecer naquela situação financeira modesta, cuja metonímia do espelho denuncia e reforça.

c)   Explique de que maneira essas duas possibilidades de leitura reforçam a ambiguidade de Capitu.

Capitu – filtrada pelos olhos de Bentinho – Dom Casmurro – poderia ser vista tanto como uma mulher ingênua, motivada unicamente pelo amor, quanto como uma mulher manipuladora, motivada por interesses financeiros.

03 – Por que Bentinho se lembra de observar os olhos de Capitu depois de ela pedir a ele que jure que José Dias vai tentar convencer D. Glória?

      Porque, de alguma forma, Bentinho – ainda que adolescente e ingênuo – desconfia de que está sendo manipulado, o que confirmaria a definição de José Dias para os olhos de Capitu: “[...] de cigana oblíqua e dissimulada”.

04 – Uma das metáforas mais conhecidas da literatura brasileira, ligadas à caracterização dos olhos de uma mulher, está no capítulo que você acabou de ler.

a)   Que comparação o narrador faz para construir sua metáfora?

O narrador compara os olhos de Capitu à ressaca do mar.

b)   Explique a metáfora utilizada por Betinho ao falar dos olhos de Capitu.

Bentinho defende que, assim como as ondas do mar quando recuam da praia em dias de ressaca, os olhos de Capitu possuíam uma força misteriosa que poderia arrastar o observador “para dentro” deles e, eventualmente, afoga-lo.

 

domingo, 7 de agosto de 2022

ROMANCE VIDAS SECAS: "FESTA" - (FRAGMENTO) - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 Romance Vidas secas: Festa – Fragmento

                 Graciliano Ramos

        [...]

        Tinham percebido que havia muitas pessoas no mundo. Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intrincada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conseguiria tão grande soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem. [...]

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 48. ed. Rio de Janeiro: Record, 1981. p. 83-84.

               Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 240-1.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Tolda: o mesmo que toldo (cobertura em forma de telhado usada para abrigar carga ou passageiros).

·        Intrincada: obscura, confusa; custosa de perceber.

02 – Para você por que as coisas têm nome? Quem dá nome às coisas?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O que aconteceria se as coisas não tivessem nome?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – A que classe gramatical pertencem as palavras que nomeiam pessoas, seres imaginários, objetos, sentimentos, ações, fenômenos e que podem ser flexionadas em gênero e número?

      Pertencem a classe dos substantivos.

05 – Qual é o tema desse trecho da obra Vidas secas?

      A perplexidade das crianças (o menino mais velhos e o mais novo) diante da infinidade de objetos/coisas que descobrem e a necessidade de nomeá-los, para que sejam entendidos.

06 – O que as coisas vistas pelos meninos provocam neles? Explique.

      Surpresa e dúvidas. Eles ficam admirados com tanta beleza; querem saber quem criou tantas coisas, qual é o nome de cada uma delas, assim como entender a capacidade das pessoas de guardar tantos nomes.

07 – Leia:

        “Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente.” Como você interpreta o trecho acima?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As personagens dão importância aos nomes das coisas porque, sem eles, fica difícil entender o mundo.

08 – Volte ao texto e identifique os termos que foram usados para substituir as palavras:

a)   Pessoas:

Gente, homens, indivíduos.

b)   Objetos:

Coisas, maravilhas, preciosidades, surpresas.

09 – As palavras pessoas, gente, homens, indivíduos, objetos, coisas, maravilhas, preciosidades, surpresas, usadas para nomear, funcionam como substantivos. Elas foram empregadas para manter o assunto do texto e evitar repetições desnecessárias. No texto “Festa”, que palavras foram usadas com essa mesma função para substituir o substantivo dúvida?

      As palavras dificuldade, questão. Não basta que os alunos identifiquem e classifiquem os substantivos. O importante é que eles percebam que os diferentes substantivos são empregados para manter a continuidade temática, isto é, o assunto dos textos e evitar repetições desnecessárias.

10 – Identifique no trecho de Vidas secas reproduzido anteriormente substantivos que nomeiam partes do corpo.

      Ombros, ouvido, olhos.

 

 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

ROMANCE: A JANGADA DE PEDRA - (FRAGMENTO) - JOSÉ SARAMAGO - COM GABARITO

 Romance: A jangada de pedra – Fragmento

                 José Saramago

        [...]

    Na história dos rios nunca acontecera um tal caso, estar passando a água em seu eterno passar e de repente não passa mais, como torneira que bruscamente tivesse sido fechada, por exemplo, alguém está a lavar as mãos numa bacia, retira a válvula do fundo, fechou a torneira, a água escoa-se, desce, desaparece, o que ainda ficou na concha esmaltada em pouco tempo se evaporará. Explicando por palavras mais próprias, a água do Irati retirou-se como onda que da praia reflui e se afasta, o leito do rio ficou à vista, pedras, lodo, limos, peixes que saltando boquejam e morrem, o súbito silêncio.

        Os engenheiros não estavam no local quando se deu o incrível facto, mas aperceberam-se de que alguma coisa anormal acontecera, os mostradores, na bancada de observação, indicaram que o rio deixara de alimentar a grande bacia aquática. Num jipe foram três técnicos averiguar o intrigante sucesso, e, durante o caminho, pela margem do embalse, examinaram as diversas hipóteses possíveis, não lhes faltou tempo para isso em quase cinco quilómetros, e uma dessas hipóteses era que um desabamento ou escorregamento de terras na montanha tivesse desviado o curso do rio, outra que fosse obra dos franceses, perfídia gaulesa, apesar do acordo bilateral sobre águas fluviais e seus aproveitamentos hidroeléctricos, outra, ainda, e a mais radical de todas, que se tivesse exaurido o manancial, a fonte, o olho-d’água, a eternidade que parecia ser e afinal não era. Neste ponto dividiam-se as opiniões. Um dos engenheiros, homem sossegado, da espécie contemplativa, e que apreciava a vida em Orbaiceta, temia que o mandassem para longe, os outros esfregavam de contentamento as mãos, podia ser que viessem a transferi-los para uma das barragens do Tejo, o mais perto de Madrid e da Gran Vía. Debatendo estas ansiedades pessoais chegaram à ponta extrema do embalse, onde era o desaguadouro, e o rio não estava lá, apenas um fio escasso de água que ainda ressumbrava das terras moles, um gorgolejo lodoso que nem para mover uma azenha de brincar teria força, Onde é que raio se meteu o rio, isto disse o motorista do jipe, e não se poderia ser mais expressivo e rigoroso. Perplexos, atónitos, desconcertados, inquietos também, os engenheiros voltaram a discutir entre si as já explicadas hipóteses, posto o que, verificada a inutilidade prática do prosseguimento do debate, regressaram aos escritórios da barragem, depois seguiram para Orbaiceta, onde os esperava a hierarquia, já informada do mágico desaparecimento do rio. Houve discussões ácidas, incredulidades, chamadas telefónicas para Pamplona e Madrid, e o resultado do fatigante trabalho e trato veio a exprimir-se numa ordem muito simples, disposta em três partes sucessivas e complementares. Subam o curso do rio, descubram o que aconteceu e não digam nada aos franceses.

        A expedição partiu no dia seguinte, ainda antes do nascer do sol, caminho da fronteira, sempre ao lado ou à vista do rio seco, e quando os fatigados inspectores lá chegaram compreenderam que nunca mais tornaria a haver Irati. Por uma fenda que não teria mais de uns três metros de largura, as águas precipitavam-se para o interior da terra, rugindo como um pequeno Mágara. Do outro lado já havia um ajuntamento de franceses, fora sublime ingenuidade pensar que os vizinhos, astutos e cartesianos, não dariam pelo fenômeno, mas ao menos mostravam-se tão estupefactos e desorientados como os espanhóis deste lado, e todos irmãos na ignorância. Chegaram as duas partes à fala, mas a conversa não foi extensa nem profícua, pouco mais que as interjeições de um justificado espanto, um hesitante aventar de hipóteses novas pelo lado dos espanhóis, enfim, uma irritação geral que não encontrava contra quem se voltar, os franceses daí a pouco já sorriam, afinal continuavam a ser donos do rio até à fronteira, não precisariam de reformar os mapas.

        Nessa tarde, helicópteros dos dois países sobrevoaram o local, fizeram fotografias, por meio de guinchos desceram observadores que, suspensos sobre a catarata, olhavam e nada viam, apenas o negro boqueirão e o dorso curvo e luzidio da água. Para se ir adiantando algum proveito, as autoridades municipais de Orbaiceta, do lado espanhol, e de Larrau, do lado francês, reuniram-se junto do rio, debaixo de um toldo armado para a ocasião e dominado pelas três bandeiras, a bicolor e tricolor nacionais, mais a de Navarra, com o propósito de estudarem as virtualidades turísticas de um fenômeno natural com certeza único no mundo e as condições da sua exploração, no interesse mútuo.

        [...]

SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 19-21.

                Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 136-9.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·         Irati: rio que nasce na França e passa pela Espanha. Em tupi-guarani, significa “rio de mel”.

·         Boquejar: abocanhar, bocejar.

·         Embalse: local de um rio por onde passa ou se tem acesso a uma balsa, espécie de jangada grande usada para transportar cargas pesadas, percorrendo, geralmente, pequenas distâncias.

·         Perfídia: deslealdade; falsidade; traição.

·         Gaulesa: referente a Gália, antigo território onde hoje se situa a França.

·         Orbaiceta: povoado espanhol situado na margem do rio Irati.

·         Tejo: rio mais importante e mais extenso da Península Ibérica. Nasce na Espanha e deságua no Oceano Atlântico, banhando Lisboa.

·         Ressumbrar: deixa sair ou cair líquido em pouca quantidade ou gota a gota; gotejar, destilar.

·         Gorgolejo: emitir som parecido com o de um gargarejo.

·         Azenha: moinho de roda movido a água.

·         Pamplona: capital de Navarra, comunidade da Espanha.

·         Mágara: caverna de origem vulcânica.

·         Cartesiano: racional; afeito a ideias claras e procedimentos exatos; rigorosos.

·         Estupefacto: pasmado, assombrado, atônito.

·         Profícuo: útil, proveitoso, vantajoso.

·         Aventar: perceber, pressentir; ocorrer, lembrar; imaginar; supor.

·         Larrau: pequena comunidade francesa localizada na região administrativa da Aquitânia, nas montanhas dos Pirineus, que fazem divisa com a Espanha.

·         Navarra: comunidade autônoma da Espanha cuja capital é Pamplona.

02 – Você já leu algum romance do escritor português José Saramago?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Sabe que ele foi o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – O que o título ou a metáfora “A jangada de pedra” lhe sugere?

        A metáfora da “jangada de pedra”

        No período das grandes navegações e dos descobrimentos, os países que formam a Península Ibérica − Portugal e Espanha − dominaram as fronteiras e tiveram um passado considerado rico, heroico e glorioso. Por questões políticas e econômicas, eles perderam a hegemonia para países como a Inglaterra e a França.

        Para remeter à história de Portugal e Espanha e dar título ao romance, Saramago aproveita-se de um ditado popular português que compara a Península Ibérica ao formato de uma jangada, embarcação rudimentar comumente usada na costa marítima e que não conseguiria ultrapassar mares ou oceanos. Na ficção, a Península assume o papel metafórico de uma “jangada de pedra” que vai se afastando da Europa, navegando sem rumo, à deriva, pelo Oceano Atlântico.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sugere dinamismo, associado ao movimento dos ventos, deslocamentos por meio de travessia marítima. Já a palavra pedra costuma ser associada a rigidez e vista como elemento estático.

05 – Com base no boxe anterior e no trecho lido de “A jangada de pedra”, responda:

a)   Qual é o foco narrativo do texto? Qual é o cenário?

Foco narrativo em terceira pessoa. As ações se passam às margens do rio Irati, no povoado de Orbaiceta, fronteira com a França, para onde se deslocaram técnicas e autoridades espanholas.

b)   Qual é o elemento fantástico presente nesse trecho? O que esse elemento desencadeia?

O rio Irati secou: “[...] o leito do rio ficou à vista, pedras, lodo, limos, peixes que saltando boquejam e morrem [...]”. Esse fato desencadeia uma sequência de ações de especialistas e autoridades para entender o fenômeno e um encontro entre autoridades espanholas e francesas para avaliar a situação.

06 – Releia:

·         [...] obra dos franceses, perfídia gaulesa, apesar do acordo bilateral sobre águas fluviais [...]

·         [...] e não digam nada aos franceses.

·         Do outro lado já havia um ajuntamento de franceses, fora sublime ingenuidade pensar que os vizinhos, astutos e cartesianos, não dariam pelo fenômeno [...]

        O que essas passagens revelam?

      Essas passagens revelam a disputa política entre Espanha e França.

07 – Os escritores do realismo fantástico relatam fatos sobrenaturais para criticar a realidade. Que críticas podem ser inferidas com base nos fatos narrados nesse trecho?

      Há críticas: à rivalidade entre espanhóis e franceses; aos franceses, por não demonstrarem solidariedade ao perceberem que não tiveram nenhum prejuízo; às autoridades dos dois países, que logo pensaram em tirar proveito da situação; e aos técnicos, engenheiros e especialistas que não conseguem explicar o fenômeno.

08 – Releia:

        “[...] os franceses daí a pouco já sorriam [...]”

        Como você interpreta esse trecho?

            Os franceses compreenderam, aliviados, que não tinham sido prejudicados pelos fenômeno natural, pois o rio não mudara seu curso na França. Continuava o mesmo, de modo de eles não teriam de alterar os mapas ou tornar qualquer outra providência.

09 – Releia outro trecho:

        “Para se ir adiantando algum proveito, as autoridades municipais de Orbaiceta, do lado espanhol, e de Larrau, do lado francês, reuniram-se junto do rio, debaixo de um toldo armado [...]”

        Qual foi o objetivo dessa reunião?

      As autoridades municipais reuniram-se para estudar um meio de tirar proveito do fenômeno natural e concluíram que seria possível explorar turisticamente a região, de modo a atender aos interesses dos dois países.

10 – Como observamos em “A jangada de pedra”, o escritor português José Saramago tem estilo próprio e usa recursos como: a criação de frases e parágrafos longos; a transgressão de determinadas regras convencionadas da modalidade escrita; a não marcação do discurso direto com parágrafos, travessões ou aspas. Leia um exemplo:

        “[...] Onde é que raio se meteu o rio, isto disse o motorista do jipe, e não se poderia ser mais expressivo e rigoroso.”

a)   Releia o texto de Saramago e encontre outro exemplo em que ele não marca o discurso direto com parágrafos, travessões ou aspas.

Outro exemplo de discurso direto sem uso de parágrafo, travessão ou aspas: “Houve discussões ácidas, incredulidades, chamadas telefónicas para Pamplona e Madrid, e o resultado do fatigante trabalho e trato veio a exprimir-se numa ordem muito simples, disposta em três partes sucessivas e complementares. Subam o curso do rio, descubram o que aconteceu e não digam nada aos franceses.”

b)   Esse tipo de pontuação do discurso direto pode ter qual finalidade?

Pode ter a finalidade de marcar o fluxo mais veloz do pensamento e da fala, como se a história fosse contada oralmente, sem interrupções.

11 – Você concorda com a visão de que a vida apresenta muitos aspectos absurdos e de que o real e o fantástico costumam se cruzar? Converse com os colegas e o professor.

      Resposta pessoal do aluno.

12 – Ao ler esse trecho da obra de Saramago, você deve ter percebido algumas diferenças entre a língua falada e escrita em Portugal e a falada e escrita no Brasil.

a)   Identifique diferenças de grafia e escreva-as no caderno.

Uso da letra c em palavras como facto, inspectores, etupefactos, hidroeléctricos. Uso de acento agudo em palavras que, no Brasil, recebem acento circunflexo, como atónitos, quilómetros, telefónicas.

b)   O que essas diferenças de grafia revelam?

Revelam diferenças de pronúncia.

c)   Que palavras e expressões presentes no texto não são comumente usadas no português atual do Brasil?

Azenha, gorgolejo, ressumbrava, boquejam, embalse, bacia (com sentido de pia) etc.

d)   No Brasil, que forma verbal seria mais usual que a destacada em: “[...] alguém está a lavar as mãos numa bacia [...]”.

O gerúndio (“alguém está lavando as mãos numa bacia”) ou o imperfeito do indicativo (“alguém lavava as mãos numa bacia”).

 

segunda-feira, 18 de julho de 2022

ROMANCE: FLORES ARTIFICIAIS - FRAGMENTO - LUIZ RUFFATO - COM GABARITO

 Romance: Flores artificiais – Fragmento  

                  Luiz Ruffato

        [...] Na passagem do milênio, fui para o Brasil. Desembarquei no Galeão no dia 27 de dezembro de 1999, o apartamento estava limpo graças a dona Vera, que o areja de quinze em quinze dias. No começo da noite do dia 31, sentei na sala, enchi uma taça de vinho tinto, coloquei um CD de músicas antigas do Roberto Carlos, e preparei para esperar o século. A cidade fervia, foguetes estouravam, a vizinhança era um barulho só. Uma hora, cheguei na janela e de repente pessoas que nunca tinha visto me cumprimentavam, desejando Feliz Ano 2000.

        Sentei de novo na poltrona e comecei a pensar. O que tinha feito da vida? Não casei, não tive filhos, nunca mais tinha falado com meu irmão e nem com minhas irmãs. Não tinha amigos para conversar comigo. Quanto mais aproximava a meia-noite, mais angustiado ficava. Lembrei da minha mãe, que morreu quando eu tinha dezessete anos. Lembrei do meu pai, que na época ainda estava vivo, mas que eu não procurava há anos. Lembrei das mulheres que cruzaram o meu caminho. Parecia que naquela sala vazia estavam todos os meus fantasmas.

        Ouvi a contagem regressiva, jogado no sofá, de roupa e tudo, os olhos abertos, mas não vendo nada. Os barulhos da rua aumentaram, carros passaram buzinando, o som nos apartamentos vizinhos era ensurdecedor. Depois foi tudo diminuindo, e num momento determinado podia até ouvir a conversa do porteiro lá embaixo. O dia amanheceu e aos poucos a cidade foi acordando, deu meio-dia, veio a tarde, e de novo a noite, e eu deitado no mesmo lugar.

RUFATO, Luiz. Flores artificiais. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 12-13.

                Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 53-5.

Entendendo o romance:

01 – A ação é um elemento fundamental em sequências narrativas. O trecho lido pode ser determinado em três partes, de acordo com o desenvolvimento cronológico das ações. Determine quando inicia e quando termina cada uma dessas partes.

a)   1ª parte (no dia 27 de dezembro).

De “[...] Na passagem” até “[...] de quinze em quinze dias” (1° parágrafo).

b)   2ª parte (no dia 31 de dezembro).

De “No começo da noite [...]” (1° parágrafo) até “[...] porteiro lá embaixo” (3° e último parágrafo).

c)   3ª parte (no dia seguinte ao ano novo).

De “O dia amanheceu [...]” até “[...] no mesmo lugar” (3° e último parágrafo).

d)   No 1º parágrafo, que formas verbais foram usadas para indicar as ações da personagem?

As formas verbais fui, desembarquei, sentei, enchi, coloquei, preparei, cheguei, comecei, etc. indicam a sequência das ações da personagem.

e)   Por que esses verbos estão no pretérito perfeito do indicativo?

Para indicar fatos que ocorreram antes do momento da narrativa.

02 – Releia estas duas passagens:

I. A cidade fervia, foguetes estouravam, a vizinhança, era um barulho só. Uma hora, cheguei na janela e de repente pessoas que nunca tinha visto me cumprimentavam, desejando Feliz Ano 2000.

II. O que tinha feito da vida? Não casei, não tive filhos, nunca mais tinha falado com meu irmão e nem com minhas irmãs. Não tinha amigos para conversar comigo. Quanto mais aproximava a meia-noite, mais angustiado ficava. Lembrei da minha mãe, que morreu quando eu tinha dezessete anos. Lembrei do meu pai, que na época ainda estava vivo mas que eu não procurava há anos. Lembrei das mulheres que cruzaram o meu caminho. Parecia que naquela sala vazia estavam todos os meus fantasmas.

Compare os trechos e responda:

a)   O trecho I apresenta uma descrição. Qual é o objetivo dela?

Mostrar que o cenário externo ao narrador-personagem é alegre e festivo.

b)   Em que tempo estão os verbos da descrição, no trecho I? Exemplifique.

Pretérito imperfeito: “A cidade fervia, foguetes estouravam, a vizinhança era um barulho só”; “[...] pessoas que nunca tinha visto me cumprimentavam [...]”.

c)   O trecho II, predominantemente narrativo, mostra uma reflexão do narrador. Sobre o que ele reflete?

Ele refere sobre a própria vida; faz uma retrospeção, um balanço dos fatos que viveu.

d)   No trecho II, que palavra resumo o estado de espírito do narrador-personagem?

A palavra angustiado: “Mais angustiado (eu) ficava”.

e)   Os acontecimentos narrados nos trechos I e II mantêm uma relação de causa e consequência. Que contraste podemos estabelecer entre eles?

À medida que se aproxima a virada do ano, enquanto a cidade e as pessoas vivem um clima de alegria e festa, pela passagem do ano (2000), o narrador-personagem reflete sobre a própria vida e se sente angustiado.

03 – Outra marca das sequências narrativas é o uso de palavras e expressões que indicam tempo e lugar. Identifique-as nos três parágrafos lidos. Copie a tabela a seguir no caderno e separe-as em dois blocos, preenchendo os espaços marcados com:

a)   Palavras e expressões que indicam TEMPO.

“Na passagem do milênio”; “no dia 27 de dezembro de 1999”; “de quinze em quinze dias”; “No começo da noite do dia 31”; “Uma hora”; “De repente”; “Ano 2000”; “Quanto mais aproximava a meia-noite”; “Quando eu tinha dezessete anos”; “Na época ainda estava vivo”; “há anos”; “contagem regressiva”; “depois”; “num determinado momento”; “O dia amanheceu”; “aos poucos”; “foi acordando”; “deu meio-dia”; “veio a tarde”; “e de novo a noite”.

b)   Palavras e expressões que indicam LUGAR.

“Brasil”; “Galeão”; “o apartamento”; “na sala”; “A cidade fervia”; “na janela”; “na poltrona”; “naquela sala vazia”; “jogado no sofá”; “barulhos da rua”; “nos apartamentos vizinhos”; “lá embaixo”; “a cidade”; “no mesmo lugar”.