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sexta-feira, 6 de julho de 2018

CONTO: TELECO, O COELHINHO - MURILO RUBIÃO - COM GABARITO

Conto: Teleco, O Coelhinho
                                                       Murilo Rubião

        “Três coisas me são difíceis de entender. E uma quarta eu a ignoro completamente: O caminho da águia no ar. O caminho da cobra sobrea pedra, O caminho da nau no meio do mar, e o caminho do homemna sua mocidade.” Provérbios, XXX, 18 e 19.
        — Moço, me dá um cigarro?
   A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças. O importuno pedinte insistia:
        — Moço, oh! moço! Moço, me dá um cigarro?
    Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei:
    — Vá embora, moleque. Senão chamo a polícia.
        — Está bem, moço. Não se zangue. E, por favor, saia da minha frente que eu também gosto de ver o mar.
        Exasperou-me a insolência de quem assim me tratava e virei-me, disposto a escorraçá-lo com um pontapé. Fui desarmado, entretanto. Diante de mim estava um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente:
        — Você não dá é porque não tem, não é, moço?
        O seu jeito polido de dizer as coisas comoveu-me. Dei-lhe o cigarro e afastei-me para o lado, a fim de que melhor ele visse o oceano. Não fez nenhum gesto de agradecimento, mas já então conversávamos como velhos amigos. Ou, para ser mais exato, somente o coelhinho falava. Contava- me acontecimentos extraordinários, aventuras tamanhas que o supus com mais idade do que realmente aparentava.
        Ao fim da tarde, indaguei onde ele morava. Disse não ter morada certa. A rua era o seu pouso habitual. Foi nesse momento que reparei nos seus olhos. Olhos mansos e tristes. Deles me apiedei e convidei-o a residir comigo. A casa era grande e morava sozinho — acrescentei.
        A explicação não o convenceu. Exigiu-me que revelasse minhas reais intenções:
        — Por acaso, o senhor gosta de carne de coelho?
        Não esperou pela resposta:
        — Se gosta, pode procurar outro, porque a versatilidade e o meu fraco,
        Dizendo isto, transformou-se numa girafa.
        — À noite — prosseguiu — serei cobra ou pombo. Não lhe importará a companhia de alguém tão instável?
        Respondi-lhe que não e fomos morar juntos.
        Chamava-se Teleco.
        Depois de uma convivência maior, descobri que a mania de metamorfosear-se em outros bichos era nele simples desejo de agradar ao próximo. Gostava de ser gentil com crianças e velhos, divertindo-os com hábeis malabarismos ou prestando-lhes ajuda. O mesmo cavalo que, pela manhã, galopava com a gurizada, à tardinha, em lento caminhar, conduzia anciãos ou inválidos as suas casas.
        Não simpatizava com alguns vizinhos, entre eles o agiota e suas irmãs, aos quais costumava aparecer sob a pele de leão ou tigre. Assustava-os mais para nos divertir que por maldade. As vítimas assim não entendiam e se queixavam à polícia, que perdia o tempo ouvindo as denúncias. Jamais encontraram em nossa residência, vasculhada de cima a baixo, outro animal além do coelhinho. Os investigadores irritavam-se com os queixosos e ameaçavam prendê-los.
        Apenas uma vez tive medo de que as travessuras do meu irrequieto companheiro nos valessem sérias complicações. Estava recebendo uma das costumeiras visitas do delegado, quando Teleco, movido por imprudente malícia, transformou-se repentinamente em porco do mato. A mudança e o retorno ao primitivo estado foram bastante rápidas para que o homem tivesse tempo de gritar. Mal abrira a boca, horrorizado, novamente tinha diante de si um pacifico coelho:
        — O senhor viu o que eu vi?
        Respondi, forçando uma cara inocente, que nada vira de anormal.
        O homem olhou-me desconfiado, alisou a barba e, sem se despedir, ganhou a porta da rua.
        A mim também pregava-me peças. Se encontrava vazia a casa, já sabia que ele andava escondido em algum canto, dissimulado em algum pequeno animal. Ou mesmo no meu corpo sob a forma de pulga, fugindo-me dos dedos, correndo pelas minhas costas. Quando começava a me impacientar e pedia-lhe que parasse com a brincadeira, não raro levava tremendo susto. Debaixo das minhas pernas crescera um bode que, em disparada me transportava até o quintal. Eu me enraivecia, prometia-lhe uma boa surra. Simulando arrependimento. Teleco dirigia-me palavras afetuosas e logo fazíamos as pazes.
        No mais, era o amigo dócil, que nos encantava com inesperadas mágicas. Amava as cores e muitas vezes surgia transmudado em ave que as possuía todas e de espécie inteiramente desconhecida ou de raça já extinta.
        — Não existe pássaro assim!
        — Sei. Mas seria insípido disfarçar-me somente em animais conhecidos.
        O primeiro atrito grave que tive com Teleco ocorreu um ano após nos conhecermos. Eu regressava da casa da minha cunhada Emi, com quem discutira asperamente sobre negócios de família. Vinha mal-humorado e a cena que deparei, ao abrir a porta da entrada, agravou minha irritação. De mãos dadas, sentados no sofá da sala de visitas, encontravam-se uma jovem mulher e um mofino canguru. As roupas dele eram mal talhadas, seus olhos se escondiam por trás de uns óculos de metal ordinário.
        — O que deseja a senhora com esse horrendo animal? — perguntei, aborrecido por ver minha casa invadida por estranhos.
        — Eu sou o Teleco — antecipou-se, dando uma risadinha.Mirei com desprezo aquele bicho mesquinho, de pelos ralos, a denunciar subserviência e torpeza. Nada nele me fazia lembrar o travesso coelhinho.
        Neguei-me a aceitar como verdadeira a afirmação, pois Teleco não sofria da vista e se quisesse apresentar-se vestido teria o bom gosto de escolher outros trajes que não aqueles.
        Ante a minha incredulidade, transformou-se numa perereca. Saltou por cima dos móveis, pulou no meu colo. Lancei-a longe, cheio de asco.
        Retomando a forma de canguru, inquiriu-me, com um ar extremamente grave:
        — E isso? — apontei para a mulher. — É uma lagartixa ou um filhote de salamandra?
        Ela me olhou com raiva. Quis retrucar, porém ele atalhou:
        — É Tereza. Veio morar conosco. Não é linda?
        Sem dúvida, linda. Durante a noite, na qual me faltou o sono, meus pensamentos giravam em torno dela e da cretinice de Teleco em afirmar-se homem.
        Levantei-me de madrugada e me dirigi à sala, na expectativa de que os fatos do dia anterior não passassem de mais um dos gracejos do meu companheiro.
        Enganava-me. Deitado ao lado da moça, no tapete do assoalho, o canguru ressonava alto. Acordei-o, puxando-o pelos braços:
        — Vamos. Teleco, chega de trapaça.
        Abriu os olhos, assustado, mas, ao reconhecer-me, sorriu:
        − Teleco?! Meu nome é Barbosa. Antônio Barbosa, não é. Tereza? Ela, que acabara de despertar, assentiu, movendo a cabeça. Explodi, encolerizado:
        — Se é Barbosa, rua! E não me ponha mais os pés aqui, filho de um rato!
        Desceram-lhe as lágrimas pelo rosto e, ajoelhado, na minha frente, acariciava minhas pernas, pedindo-me que não o expulsasse de casa, pelo menos enquanto procurava emprego.
        Embora encarasse com ceticismo a possibilidade de empregar-se um canguru, seu pranto me demoveu da decisão anterior, ou, para dizer a verdade toda, fui persuadido pelo olhar súplice de Tereza que, apreensiva, acompanhava o nosso diálogo.
        Barbosa tinha hábitos horríveis. Amiúde cuspia no chão e raramente tomava banho, não obstante a extrema vaidade que o impelia a ficar
        Basta esta prova?Basta. E daí? O que você quer?De hoje em diante serei apenas homem. Homem? — indaguei atônito. Não resisti ao ridículo da situação e dei uma gargalhada: horas e horas diante do espelho. Utilizava-se do meu aparelho de barbear, da minha escova de dentes e pouco serviu comprar-lhe esses objetos, pois continuou a usar os meus e os dele. Se me queixava do abuso, desculpava-se, alegando distração.
        Também a sua figura tosca me repugnava. A pele era gordurosa, os membros curtos, a alma dissimulada. Não media esforços para me agradar, contando-me anedotas sem graça, exagerando nos elogios a minha pessoa.
        Por outro lado, custava tolerar suas mentiras e, às refeições, a sua maneira ruidosa de comer, enchendo a boca de comida com auxílio das mãos.
        Talvez por ter-me abandonado aos encantos de Tereza, ou para não desagradá-la, o certo é que aceitava, sem protesto, a presença incômoda de Barbosa.
        Se afirmava ser tolice de Teleco querer nos impor sua falsa condição humana, ela me respondia com uma convicção desconcertante:
        — Ele se chama Barbosa e é um homem.
        O canguru percebeu o meu interesse pela sua companheira e, confundindo a minha tolerância como possível fraqueza, tornou-se atrevido e zombava de mim quando o recriminava por vestir minhas roupas, fumar dos meus cigarros ou subtrair dinheiro do meu bolso.
        Em diversas ocasiões, apelei para a sua frouxa sensibilidade, pedindo-lhe que voltasse a ser coelho.
        – Voltar a ser coelho? Nunca fui bicho. Nem sei de quem você fala.
        – Falo de um coelhinho cinzento e meigo, que costumava se transformar em outros animais.
        Nesse meio tempo, meu amor por Tereza oscilava por entre pensamentos sombrios, e tinha pouca esperança de ser correspondido. Mesmo na incerteza, decidi propor-lhe casamento.
        Fria, sem rodeios, ela encerrou o assunto:
        — A sua proposta é menos generosa do que você imagina. Ele vale muito mais.
        As palavras usadas para recusar-me convenceram-me de que ela pensava explorar de modo suspeito as habilidades de Teleco.
        Frustrada a tentativa do noivado, não podia vê-los juntos e íntimos, sem assumir uma atitude agressiva.
        O canguru notou a mudança no meu comportamento e evitava os lugares onde me pudesse encontrar.
        Uma tarde, voltando do trabalho, minha atenção foi alertada pelo som ensurdecedor da eletrola, ligada com todo o volume. Logo, ao abrir a porta, senti o sangue afluir-me à cabeça: Tereza e Barbosa, os rostos colados, dançavam um samba indecente.
        Indignado, separei-os. Agarrei o canguru pela gola e, sacudindo-o com violência, apontava-lhe o espelho da sala:
        — É ou não é um animal?— Não, sou um homem! — E soluçava, esperneando, transido de medo pela fúria que via nos meus olhos.À Tereza, que acudira, ouvindo seus gritos, pedia: — Não sou um homem, querida? Fale com ele.
        — Sim, amor, você é um homem.
        Por mais absurdo que me parecesse, havia uma trágica sinceridade na voz deles. Eu me decidira, porém. Joguei Barbosa ao chão e lhe esmurrei a boca. Em seguida, enxotei-os.
        Ainda da rua, muito excitada, ela me advertiu:
        — Farei de Barbosa um homem importante, seu porcaria! Foi a última vez que os vi. Tive, mais tarde, vagas notícias de um mágico chamado Barbosa a fazer sucesso na cidade, À falta de maiores esclarecimentos, acreditei ser mera coincidência de nomes.
        A minha paixão por Tereza se esfumara no tempo e voltara-me o interesse pelos selos. As horas disponíveis eu as ocupava com a coleção. Estava, uma noite, precisamente colando exemplares raros, recebidos na véspera, quando saltou, janela adentro, um cachorro. Refeito do susto, fiz menção de correr o animal. Todavia não cheguei a enxotá-lo.
        — Sou o Teleco, seu amigo — afirmou, com uma voz excessivamente trêmula e triste, transformando-se em uma cotia.
        — E ela? — perguntei com simulada displicência.
        — Sem que concluísse a frase, adquiriu as formas de um pavão.
        — Havia muitas cores… o circo… ela estava linda… foi horrível… — prosseguiu, chocalhando os guizos de uma cascavel. Seguiu-se breve silêncio, antes que voltasse a falar: — O uniforme… muito branco… cinco cordas…amanhã serei homem…— as palavras saíam-lhe espremidas, sem nexo, à medida que Teleco se metamorfoseava em outros animais. Por um momento, ficou a tossir, Uma tosse nervosa. Fraca, a princípio, ela avultava com as mutações dele em bichos maiores, enquanto eu lhe suplicava que se aquietasse. Contudo ele não conseguia controlar-se.
        Debalde tentava exprimir-se. Os períodos saltavam curtos e confusos.
        — Pare com isso e fale mais calmo — insistia eu, impaciente com as suas contínuas transformações.
        — Não posso — tartamudeava, sob a pele de um lagarto.
        Alguns dias transcorridos, perdurava o mesmo caos. Pelos cantos, a tremer. Teleco se lamuriava, transformando-se seguidamente nos mais variados animais. Gaguejava muito e não podia alimentar-se, pois a boca, crescendo e diminuindo, conforme o bicho que encarnava na hora, nem sempre combinava com o tamanho do alimento. Dos seus olhos, então, escorriam lágrimas que, pequenas nos olhos miúdos de um rato, ficavam enormes na face de um hipopótamo.
        Ante a minha impotência em diminuir-lhe o sofrimento, abraçava-me a ele, chorando. O seu corpo, porém, crescia nos meus braços, atirando-me de encontro à parede.
        Não mais falava: mugia, crocitava, zurrava, guinchava, bramia, trissava.
        Por fim, já menos intranquilo, limitava as suas transformações a pequenos animais, até que se fixou na forma de um carneirinho, a balir tristemente. Colhi-o nas mãos e senti que seu corpo ardia em febre, transpirava.
        Na última noite, apenas estremecia de leve e, aos poucos, se aquietou. Cansado pela longa vigília, cerrei os olhos e adormeci. Ao acordar, percebi que uma coisa se transformara nos meus braços. No meu colo estava uma criança encardida, sem dentes. Morta.

Entendendo o conto:                    
01 – Com base na leitura e análise do conto “Teleco, o Coelhinho”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (F) Teleco e o narrador conheceram-se em um zoológico.
b)  (F) Quando o narrador encontrou Teleco pela primeira vez e levou-o para casa, Ele estava metamorfoseado em mulher.
c) (F) O narrador levou Teleco para casa sem saber que ele se metamorfoseava em outros bichos.
d)   (F) A mania de metamorfosear-se em outros bichos fazia parte do gênio ruim de Teleco e da sua aversão aos humanos.
e)   (V) Antes de ir para a casa do narrador, Teleco avisou que poderia virar cobra, pombo, girafa. Mesmo assim o narrador aceitou-o.

02 – Com base na leitura e análise do conto “Teleco”, o Coelhinho classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (V) Quando o narrador se irritava com as brincadeiras de Teleco, o coelho fingia arrependimento, e os dois faziam as pazes.
b)   (V) Certa vez, Teleco virou uma girafa no quintal, assustando o delegado que revistava a residência.
c)   (V) O primeiro atrito grave entre o narrador e Teleco ocorreu quando o coelho se transformou em cobra.
d)   (F) O coelho transformou-se em homem: chamava-se Barbosa e tinha uma namorada, Tereza.
e)   (F) Quando Teleco virou canguru e arranjou uma namorada (Tereza), o narrador expulsou-o de casa imediatamente.

03 – Com base na leitura e análise do conto “Teleco, o Coelhinho”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (F) A convivência com Barbosa era tolerável porque o canguru era asseado e gentil.
b)   (F) O narrador, com o tempo, passou a gostar de Barbosa.
c)   (V) O narrador aceitava Barbosa por causa dos encantos de Tereza.
d)   (V) Tereza tinha convicção de que Barbosa era um homem e não um canguru.
e)   (V) Na condição de Barbosa, Teleco negava ter sido bicho algum dia.

04 – Com base na leitura e análise do conto “Teleco, o Coelhinho”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (V) O narrador, mesmo sentindo que seu amor não era correspondido, propôs casamento a Tereza.
b)   (F) Tereza aceitou casar-se com o narrador, desde que continuasse amante de Barbosa.
c)   (V) Os ciúmes do narrador levaram-no a esmurrar Barbosa e expulsá-lo, junto com Tereza, de casa.
d)   (V) O narrador esmurrou Barbosa quando o flagrou dançando indecentemente com Tereza.
e)   (F) Por causa de Tereza, o narrador e o canguru brigaram; este venceu, mas foi expulso de casa.

05 – Com base na leitura e análise do conto Teleco, o Coelhinho, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (V) Depois de ser expulso da casa do narrador, Barbosa fez sucesso como mágico de um circo.
b)   (F) Tereza, meses depois de ser expulsa, abandonou Barbosa e voltou para a casa do narrador.
c)   (V) O narrador ocupava sua horas de folga com filatelia.
d)   (V) Teleco voltou à casa do narrador, mas não soube explicar direito o que aconteceu a Tereza.
e)   (V) No final, com a forma fixa de carneiro, Teleco morreu nos braços do narrador.
f)    (V) A última metamorfose de Teleco foi de carneirinho para criança morta, encardida e sem dentes.



quinta-feira, 5 de julho de 2018

CONTO: O EDIFÍCIO - MURILO RUBIÃO - COM GABARITO

Conto: O EDIFÍCIO
         Murilo Rubião

        Chegará o dia em que os teus pardieiros se transformarão em edifícios; naquele dia ficarás fora da lei. (Miquéias, VII, 11).

        "Mais de cem anos foram necessários para se terminar as fundações do edifício que, segundo o manifesto de incorporação, teria ilimitado número de andares. As especificações técnicas, cálculos e plantas, eram perfeitas, não obstante o ceticismo com que o catedrático da Faculdade de Engenharia encarava o assunto. Obrigado a se manifestar sobre a matéria, por alunos insatisfeitos com o tom reticencioso do mestre, resvalava para a malícia afirmando tratar-se de "vagas experiências de outra escola de concretagem". Batida a última estaca e concluídos os alicerces, o Conselho Superior da Fundação, a que incumbia a direção geral do empreendimento, dispensou os técnicos e operários, para, em seguida, recrutar nova equipe de profissionais e artífices.

        A LENDA

        Ao engenheiro responsável, recém-contratado, nada falaram das finalidades do prédio. Finalidades, aliás, que pouco interessavam a João Gaspar, orgulhoso como se encontrava de, no início da carreira, dirigir a construção do maior arranha-céu de que se tinha notícia. Ouviu atentamente as instruções dos conselheiros, cujas barbas brancas, terminadas em ponta, lhes emprestavam aspecto de severa pertinácia. Davam-lhe ampla liberdade, condicionando-a apenas a duas ou três normas, que deveriam ser corretamente observadas. A sua missão não seria somente exercer funções de natureza técnica. Envolvia toda a complexidade de um organismo singular. Os menores detalhes do funcionamento da empresa construtora estariam a seu cargo, cabendo-lhe proporcionar salários compensadores e constante assistência ao operariado. Competia-lhe, ainda, evitar quaisquer motivos de desarmonia entre os empregados. Essa diretriz, conforme lhe acentuaram, destinava-se a cumprir importante determinação dos falecidos idealizadores do projeto e anular a lenda corrente de que sobreviveria irremovível confusão no meio dos obreiros ao se atingir o octingentésimo andar do edifício e, consequentemente, o malogro definitivo do empreendimento. No decorrer das minuciosas explicações dos dirigentes da Fundação, o jovem engenheiro conservou-se tranquilo, demonstrando absoluta confiança em si, e nenhum receio quanto ao êxito das obras. Houve, todavia, uma hora em que se perturbou ligeiramente, gaguejando uma frase ambígua. Já terminara a entrevista e ele recolhia os papéis espalhados pela mesa, quando um dos velhos o advertiu:
        — Nesta construção não há lugar para os pretensiosos. Não pense em terminá-la, João Gaspar. Você morrerá bem antes disso. Nós que aqui estamos constituímos o terceiro Conselho da entidade e, como os anteriores, jamais alimentamos a vaidade de sermos o último.

        A  ADVERTÊNCIA

        A mesma orientação que recebera dos seus superiores, o engenheiro a transmitiu aos subordinados imediatos. Nem sequer omitiu a advertência que o encabulara. E vendo que suas palavras tinham impressionado bem mais a seus ouvintes do que a ele as do ancião, sentiu-se plenamente satisfeito.

        A COMISSÃO 

        João Gaspar era meticuloso e detestava improvisações. Antes de encher-se a primeira forma de concreto, instituiu uma comissão de controle para fiscalizar o pessoal, organizar tabelas de salários e elaborar um boletim destinado a registrar as ocorrências do dia. Essa medida valeu maior rendimento de trabalho e evitou, por diversas vezes, dissensões entre os assalariados. A fim de estimular a camaradagem entre os que lidavam na construção, desenvolviam-se aos domingos alegres programas sociais. Devido a esse e outros fatores, tudo corria tranquilamente, encaminhando-se a obra para as etapas previstas. De cinquenta em cinquenta andares, João Gaspar oferecia uma festa aos empregados. Fazia um discurso. Envelhecia.

        O BAILE

        Inquietante expectativa marcou a aproximação do 800° pavimento. Redobraram-se os cuidados, triplicou-se o número de membros da Comissão de Controle, cuja atividade se tornara incessante, superando dificuldades, aplainando divergências. Deliberadamente, adiou-se o baile que se realizava ao termo de cada cinquenta pisos concluídos. Afinal, dissiparam-se as preocupações. Haviam chegado sem embaraços ao octingentésimo andar. O acontecimento foi comemorado com uma festa maior que as precedentes. Pela madrugada, porém, o álcool ingerido em demasia e um incidente de pequena importância provocaram um conflito de incrível violência. Homens e mulheres, indiscriminadamente, se atracaram com ferocidade, transformando o salão num amontoado de destroços. Enquanto cadeiras e garrafas cortavam o ar, o engenheiro, aflito, lutava para acalmar os ânimos. Não conseguiu. Um objeto pesado atingiu-o na cabeça, pondo fim a seus esforços conciliatórios. Quando voltou a si, o corpo ensanguentado e dolorido pelas pancadas e pontapés que recebera após a queda, sentiu-se vítima de terrível cilada. De modo inesperado, cumprira-se a antiga predição.

        O EQUÍVOCO

        Depois do incidente, João Gaspar trancou-se em casa, recusando-se a receber os seus mais íntimos colaboradores, para não ouvir deles palavras de consolo. Já que se fazia impossível continuar as obras, desejava, ao menos, descobrir o erro em que incorrera. Acreditava ter obedecido fielmente às instruções do Conselho. Se fracassara, a culpa deveria ser atribuída à omissão de algum detalhe desconhecido da profecia. A insistência dos auxiliares venceu sua teimosia e concordou em atendê-los. Queriam saber por que desanimara, não mais comparecera ao edifício. Ficara ressentido pela briga?
        — Que adiantaria a minha presença? Não lhes satisfez a minha humilhação?
        — Como? — indagaram.
        — Aquilo fora uma simples bebedeira.
        — Estavam todos envergonhados com o que acontecera e lhe pediam desculpas.
        — E ninguém abandonou o trabalho? Ante a resposta negativa, ele se abraçou aos companheiros:
        — Daqui para frente nenhum obstáculo interromperá nossos planos! (Os olhos permaneciam umedecidos, mas os lábios ostentavam um sorriso de altivez.)

        O RELATÓRIO

        Em ambiente calmo, todos se empenhando nas suas tarefas, mais noventa e seis andares foram acrescidos ao prédio. As coisas seguiam perfeitas, a média de trabalho dos assalariados era excelente. Empolgado por um delirante contentamento, o engenheiro distribuía gratificações, desfazia-se em gentilezas com o pessoal, vagava pelas escadas, debruçava-se nas janelas, dava pulos, enrolava nas mãos as barbas embranquecidas. Para prolongar o sabor do triunfo, que o cansaço começava solapar, ocorreu-lhe redigir um circunstanciado relatório aos diretores da Fundação, contando os pormenores da vitória. Demonstraria também a impossibilidade de surgir, no futuro, outras profecias que pudessem embaraçar o prosseguimento das obras. Ultimado o memorial, ele se dirigiu à sede do Conselho, lugar em que estivera poucas vezes e em época bem remota. Em vez dos cumprimentos que julgava merecer, uma surpresa o aguardava: haviam morrido os últimos conselheiros e, de acordo com as normas estabelecidas após a desmoralização da lenda, não se preencheram as vagas abertas. Ainda duvidando do que ouvira, o engenheiro indagou ao arquivista — único auxiliar remanescente do enorme corpo de funcionários da entidade — se lhe tinham deixado recomendações especiais para a continuação do prédio. De nada sabia, nem mesmo por que estava ali, sem patrões e serviços a executar. Ansiosos por descobrir documentos que os orientassem, atiraram-se à faina de revolver armários e arquivos. Nada conseguiram. Só encontraram especificações técnicas e uma frase que, amiúde, aparecia à margem de livros, relatórios e plantas: "É preciso evitar-se a confusão. Ela virá ao cabo do octingentésimo pavimento".

        A DÚVIDA

        Esvaíra-se a euforia de João Gaspar. Vago e melancólico, retornou ao edifício. Da última laje, as mãos apoiadas na cintura, teve um momento de mesquinha grandeza, julgando-se senhor absoluto do monumento que estava a seus pés. Quem mais poderia ser, desde que o Conselho se extinguira?! Fugaz foi o seu desmedido orgulho. Ao regressar a casa, onde sempre faltara a diligência de uns dedos femininos, as dúvidas o perseguiam. Por que legavam a um mero profissional tamanho encargo? Quais os objetivos dos que tinham idealizado tão absurdo arranha-céu? As perguntas iam e vinham, enquanto o edifício se elevava e menores se faziam as probabilidades de se tornar claro o que nascera misterioso. Sorrateiro, o desânimo substituiu nele o primitivo entusiasmo pela obra. Queixava-se aos amigos do tédio que lhe provocava o infindável movimento de argamassa, pedra britada, fôrmas de madeira, além da angústia que sentia, vendo o monótono subir e descer de elevadores. Quando a ansiedade ameaçou levá-lo ao colapso, convocou os trabalhadores para uma reunião. Explicou-lhes, com enfática riqueza de detalhes, que a dissolução do Conselho obrigava-o a paralisar a construção do edifício.
        — Falta-nos, agora, um plano diretor. Sem este não vejo razões para se construir um prédio interminável — concluiu.
        Os operários ouviram tudo com respeitoso silêncio e, em nome deles, respondeu firme e duro um especialista em concretagem:
        — Acatamos o senhor como chefe, mas as ordens que recebemos partiram de autoridades superiores e não foram revogadas.

        O DESESPERO

        João Gaspar, inutilmente, apelaria para a compreensão dos servidores. Usava recursos convincentes, numa linguagem branda, porque seus propósitos eram pacíficos. Igualmente corteses, os empregados repeliam a ideia de abandonar o trabalho. — Ouçam-me — pedia ele, impaciente com a obstinação dos subordinados. — É inexequível um monstro de ilimitados pavimentos!
Murilo Rubião
Entendendo o conto:

01 – Com base na leitura e análise do conto “O Edifício”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (F) O Edifício havia sido planejado para 800 andares, mas os operários, por conta própria, continuaram a erguê-lo indefinidamente.
b)   (V) Só para concluir as fundações do edifício, demoraram mais de cem anos.
c)   (V) Havia a lenda de que adviria completa confusão entre os obreiros ao se atingir o octingentésimo andar do edifício e, em função disso, o malogro definitivo de empreendimento.
d)   (F) O conto é narrado na primeira pessoa; o narrador é João Gaspar.
e)   (V) De cinquenta em cinquenta andares, João Gaspar oferecia uma festa aos empregados. Fazia um discurso. Envelhecia.

02 – Com base na leitura e análise do conto “O Edifício”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (F) A predição de que, ao atingir o octingentésimo andar, a construção do edifício paralisar-se-ia cumpriu-se.
b)   (V) Na festa comemorativa do octingentésimo andar, houve briga incontrolável entre os obreiros do edifício.
c)   (F) Depois da morte dos conselheiros, a construção do edifício foi paralisado.
d)   (F) João Gaspar trabalhou na construção do edifício desde as fundações.
e)   (V) João Gaspar envelheceu enquanto erguia os andares do edifício.

03 – Com base na leitura e análise do conto “O Edifício”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (V) Mesmo demitindo todo o pessoal, a construção do edifício não foi interrompida.
b)   (F) O conto termina com o desabamento do edifício.
c)   (F) O conto termina com a morte de João Gaspar.
d)   (V) A construção do edifício contaminou até operários das cidades vizinhas.
e)   (V) Mesmo sem remuneração pelos serviços prestados, os operários continuaram a erguer o estranho edifício.

04 – Antes de assumir a construção do edifício, João Gaspar:
a)   (   ) Tinha esposa e filhos.
b)   (   ) Estivera algum tempo em um manicômio.
c)   (   ) Já era um construtor experiente.
d)   (X) Não empreendera nenhuma obra tão grande e tão complexa.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

CONTO: A FLOR DE VIDRO - MURILO RUBIÃO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Conto: A FLOR DE VIDRO
          Murilo Rubião
 Fonte da imagem  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTNa5WexwXaBSvd2klW1oe3szVUR0_4-C2-CVkrVFuRC62Ieb1zGbHrfVNCClaR8Zjk3hTyQq2Mo8Njgl7q8cOsZkUHS9SfxqOCS7nVXWHJ4iZCl0fJ6OwOEgMKm8Z0OGS8LTEGeKGxQQ/s320/FLOR+DE+VIDRO.jpg

        “E haverá um dia conhecido do Senhor que não será dia nem noite, e na tarde desse dia aparecerá a luz.” – Zacarias, XIV, 7.
        Da flor de vidro restava somente uma reminiscência amarga. Mas havia a saudade de Marialice, cujos movimentos se insinuavam pelos campos — às vezes verdes, também cinzentos. O sorriso dela brincava na face tosca das mulheres dos colonos, escorria pelo verniz dos móveis, desprendia-se das paredes alvas do casarão. Acompanhava o trem de ferro que ele via passar, todas as tardes, da sede da fazenda. A máquina soltava fagulhas e o apito gritava: Marialice, Marialice, Marialice. A última nota era angustiante.
        — Marialice!
        Foi a velha empregada que gritou e Eronides ficou sem saber se o nome brotara da garganta da Rosária ou do seu pensamento.
        — Sim, ela vai chegar. Ela vai chegar!
        Uma realidade inesperada sacudiu-lhe o corpo com violência. Afobado, colocou uma venda negra na vista inutilizada e passou a navalha no resto do cabelo que lhe rodeava a cabeça.
        Lançou-se pela escadaria abaixo, empurrado por uma alegria desvairada. Correu entre aleias de eucaliptos, atingindo a várzea.
        Marialice saltou rápida do vagão e abraçou-o demoradamente:
        — Oh, meu general russo! Como está lindo!
        Não envelhecera tanto como ele. Os seus trinta anos, ágeis e lépidos, davam a impressão de vinte e dois — sem vaidade, sem ânsia de juventude.
        Antes que chegassem a casa, apertou-a nos braços, beijando-a por longo tempo. Ela não opôs resistência e Eronides compreendeu que Marialice viera para sempre.
        Horas depois (as paredes conservavam a umidade dos beijos deles), indagou o que fizera na sua ausência.
        Preferiu responder à sua maneira:
        — Ontem pensei muito em você.
        A noite surpreendeu-os sorrindo. Os corpos unidos, quis falar em Dagô, mas se convenceu de que não houvera outros homens. Nem antes nem depois.
        As moscas de todas as noites, que sempre velaram a sua insônia, não vieram.
        Acordou cedo, vagando ainda nos limites do sonho. Olhou para o lado e, não vendo Marialice, tentou reencetar o sono interrompido. Pelo seu corpo, porém, perpassava uma seiva nova. Jogou-se fora da cama e encontrou, no espelho, os cabelos antigos. Brilhavam lhe os olhos e a venda negra desaparecera.
        Ao abrir a porta, deu com Marialice:
        — Seu preguiçoso, esqueceu-se do nosso passeio?
        Contemplou-a maravilhado, vendo-a jovem e fresca. Dezoito anos rondavam-lhe o corpo esbelto. Agarrou-a com sofreguidão, desejando lembrar-lhe a noite anterior. Silenciou-o a convicção de que doze anos tinham-se esvanecido.
        O roteiro era antigo, mas algo de novo irrompia pelas suas faces. A manhã mal despontara e o orvalho passava do capim para os seus pés. Os braços dele rodeavam os ombros da namorada e, amiúde, interrompia a caminhada para beijar-lhe os cabelos. Ao se aproximarem da mata — termo de todos os seus passeios — o sol brilhava intenso. Largou-a na orla do cerrado e penetrou no bosque. Exasperada, ela acompanhava-o com dificuldade:
        — Bruto! Ó bruto! Me espera!
        Rindo, sem voltar-se, os ramos arranhando o seu rosto, Eronides desapareceu por entre as árvores. Ouvia, a espaços, os gritos dela:
        — Tomara que um galho lhe fure os olhos, diabo!
        De lá, trouxe-lhe uma flor azul.
        Marialice chorava. Aos poucos acalmou-se, aceitou a flor e lhe deu um beijo rápido. Eronides avançou para abraçá-la, mas ela escapuliu, correndo pelo campo afora.
        Mais adiante tropeçou e caiu. Ele segurou-a no chão, enquanto Marialice resistia, puxando-lhe os cabelos.
        A paz não tardou a retornar, porque neles o amor se nutria da luta e do desespero.
        Os passeios sucediam-se. Mudavam o horário e acabavam na mata. Às vezes, pensando ter divisado a flor de vidro no alto de uma árvore, comprimia Marialice nos braços. Ela assustava-se, olhava-o silenciosa, à espera de uma explicação. Contudo, ele guardava para si as razões do seu terror.
        O final das férias coincidiu com as últimas chuvas. Debaixo de tremendo aguaceiro, Eronides levou-a à estação.
        Quando o trem se pôs em movimento, a presença da flor de vidro revelou-se imediatamente. Os seus olhos se turvaram e um apelo rouco desprendeu-se dos seus lábios.
        O lenço branco, sacudido da janela, foi a única resposta. Porém os trilhos, paralelos, sumindo-se ao longe, condenavam-no a irreparável solidão.
        Na volta, um galho cegou lhe a vista.

Fonte: RUBIÃO, MURILO. A Flor de Vidro. In
O Pirotécnico Zacarias. 16ª ed. São Paulo, Ática, 1993.
Entendendo o conto:

01 – Com base na leitura e análise do conto “A Flor de Vidro”, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a)   (F) O conto é narrado na primeira pessoa; o narrador, Eronides, conta a história em tom nostálgico.
b)   (F) O conto mistura cenário urbano com cenário rural.
c)   (V) Antes de Marialice retornar à fazenda, Eronides já perdera uma vista; por isso, usava uma venda preta.
d)   (F) Eronides recebeu Marialice friamente; a presença dela causava-lhe mal estar.
e)   (F) Eronides decepcionou-se como aspecto de velhice de Marialice.

02 – Com base na leitura e análise do conto A Flor de Vidro, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a) (F) A referência a Dagô esfriou o contentamento de Eronides; ele suspeitava que Marialice o traía.
b) (V) Os passeios campestres aconteciam diariamente; Eronides enchia-se de pavor quando julgava ter enxergado a flor de vidro.
c) (V) A flor de vidro só surgiu nitidamente quando o trem que levava Marialice pôs-se em movimento.
d) (F) Eronides, quando divisou a flor de vidro, gritou muito e fez o trem parar.
e) (F) Na curva, o trem descarrilou, e Marialice morreu.

03 – Com base na leitura e análise do conto A Flor de Vidro, classifique as afirmações seguintes de verdadeiras ou falsas:
a) (F) Depois de deixar Marialice na estação, na volta para a fazenda, Eronides caiu do cavalo e morreu.
b) (V) As razões do terror de Eronides estavam na flor de vidro, mistério que ele não contou a Marialice.
c) (V) Conclui-se que Eronides, depois da visita de Marialice, ficou totalmente cego.
d) (V) Conclui-se que a "reminiscência amarga" que restava da flor de vidro, logo no início do conto, está relacionada à perda de uma das vistas de Eronides.
e) (V) Rosária é uma velha funcionária da fazenda.