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quarta-feira, 20 de maio de 2020

POEMA: CÉU - MANUEL BANDEIRA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Céu
             Manuel Bandeira

A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha,
Quer tocar o céu.

Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão.
                                Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970. p. 195.
                    Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – Atual Editora -1998 – p. 217-8.
Entendendo o poema:

01 – O poema apresenta duas estrofes.
a)   Na 1ª estrofe, é feita uma descrição. O que se descreve?
As ações de uma criança: ela olha o céu, levanta a mão.

b)   Na 2ª estrofe, o eu lírico faz uma consideração sobre o gesto da criança. Quem é o eu lírico: um adulto ou uma criança? Por quê?
Um adulto, porque reflete sobre as atitudes de uma criança.

02 – Observe os períodos e orações que estruturam a 1ª estrofe.
a)   Qual é o número de períodos?
Dois períodos.

b)   Os períodos são simples ou compostos?
O 1° é simples, e o 2° composto.

c)   Quantas orações há no 2° período dessa estrofe?
Duas orações.

d)   As orações do 2° período são coordenadas ou subordinadas entre si?
São orações coordenadas.

03 – Com relação à 2ª estrofe:
a)   Qual é o número de orações existentes nessa estrofe?
Possui cinco orações.

b)   As orações se ligam predominantemente entre si por coordenação ou por subordinação?
Por subordinação.

04 – Compare as duas estrofes quanto às ideias. Em qual delas predomina:
a)   A ingenuidade, a simplicidade e a pureza?
Na 1ª estrofe.

b)   O pensamento abstrato, a reflexão?
Na 2ª estrofe.

05 – Na 2ª estrofe, o eu lírico afirma que “o céu é ilusão” e que a criança “o tem na mão”. Observe algumas das associações que normalmente são feitas com céu e criança:
·        Céu: paraíso, pureza, leveza, inocência.
·        Criança: pureza, inocência, ingenuidade.
Com base nos sentidos dessas palavras, explique por que, segundo o texto, a criança tem o céu na mão.
      Porque ela é o próprio céu, ou seja, é a pureza, a leveza, a inocência.

06 – Como conclusão, relacione as ideias de cada uma das estrofes com a maneira como estão estruturados os períodos e as orações que apresentam. Em seguida, identifique as afirmativas verdadeiras:
a)   Na 1ª estrofe, predominam o período simples e a coordenação. No plano das ideias, essa estrutura, mais simples, corresponde a formas mais sofisticadas do pensamento.
b)   Na 1ª estrofe, predominam o período simples e a coordenação. Essa estrutura, sintaticamente mais simples, corresponde à simplicidade e à pureza dos gestos infantis.
c)   Na 2ª estrofe, predomina o período composto por subordinação. Essa estrutura corresponde normalmente, a formas mais complexas do pensamento, o que coincide, no plano das ideias, com as abstrações e reflexões feitas pelo eu lírico.
d)   Na 2ª estrofe, predomina o período composto por subordinação, estrutura sintática que coincide com o pensamento simples e direito do eu lírico, que se coloca no lugar de uma criança.


segunda-feira, 24 de junho de 2019

POEMA: PROFUNDAMENTE - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

POEMA: PROFUNDAMENTE
    

                                                                      Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Entendendo o poema

1)   O tema central do poema de Manuel Bandeira é:
a)   A morte de pessoas queridas.
b)   As alegrias e estrondos das festas de São João.
c)   Os ruídos e músicas que cortavam o silêncio noturno.
d)   As brincadeiras ao pé das fogueiras.

2)   Na primeira parte do poema, o poeta relata um fato que ocorreu:
a)   No dia anterior ao momento da fala.
b)   Na época em que ele tinha seis anos de idade.
c)   Em um tempo em que ainda se festejava São João.
d)   Quando seus parentes estavam dormindo.

3)   Analise as seguintes afirmações.
I.             Utilizando-se das lembranças de uma noite de São João, o poeta exprime sua angústia pela ausência das pessoas queridas.
II.           Na primeira parte do poema “dormir profundamente” tem sentido denotativo, na segunda parte, sentido conotativo.
III.          Na segunda parte, o poeta não ouve mais as vozes do passado porque as pessoas a que se refere estão todas mortas.
IV.         As perguntas “onde estavam” (primeira parte) e “onde estão” (segunda parte) expressam os dois tempos a que se refere o poema.

Assinale a alternativa que contempla as afirmativas corretas.
a)   I e II
b)   II, III e IV
c)   III, IV
d)   I, II, III e IV

4)   O poema pode ser dividido em dois blocos, tendo em vista o aspecto temporal presente neles.
a)   Que blocos seriam esses? Comprove sua resposta recorrendo aos verbos que os compõem.
 Os blocos seriam divididos em duas partes, a primeira que representa o tempo presente do autor, enquanto a segunda representa memórias de sua infância

b)   Que sentidos têm os advérbios ontem (primeiro verso da quinta estrofe) no poema?
"Ontem" tem sentido temporal, significando que, o momento no qual o autor escreve o poema ocorre após o acontecimento que o autor leva como tema do poema.

c)   Você diria que há paralelismo entre os blocos? Justifique.
Sim, há paralelismo. O autor compara a mesma data festiva nos dois blocos, além de também comparar as coisas presentes nesta data, que antes eram de seus familiares, enquanto ele era criança e em seu tempo atual eram de outras pessoas e crianças na rua, enquanto ele era o mais velho.

5)   Sabendo que o tempo assume papel decisivo na construção do poema, explique a relação paralelística entre dois blocos do poema e as cenas que os constituem.
O foco do poema não se encontra no resgaste de um passado morto, mas no modo como o passado não deixou de atuar, fazendo parte do presente como lembrança que amplia a percepção do mundo.   



domingo, 2 de junho de 2019

POEMA: POÉTICA - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: Poética
               Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis.

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare.

--- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

                        Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2. ed.
Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970. p. 108.
Entendendo o poema:

01 – Se necessário, utilize o dicionário, e de o significado das palavras abaixo:
·        Vernáculo: relativo à língua genuína, pura.
·        Ritmo: no poema, com o sentido também de métrica.
·        Barbarismos: erros gramaticais relativos à palavra, inclusive emprego de palavras estrangeiras.
·        Pungente: que causa sofrimento ou aflição.
·        Clowns: palhaços.

02 – Assinale a alternativa FALSA sobre o poema acima:
a)   No texto, a forma exterior contradiz o conteúdo que expressa.
b)   O texto retoma, radicalizando-a, a noção de poesia própria do Romantismo.
c)   Somente a libertação total do rigor das regras poéticas e da obediência a modelos permite a expressão do “profundo sentir”, segundo “Poética”.
d)   Os versos de Bandeira exprimem a reação ao exagero formal que esvaziara o conteúdo poético dos poemas.
e)   O significado desse versos se opõe à concepção de poesia da escola parnasiana.

03 – O uso do vocábulo “antes” no verso “Quero antes o lirismo dos loucos”:
a)   Indica tempo anterior.
b)   Pressupõe a existência de um lugar anterior.
c)   Sugere uma ação passada num tempo passado.
d)   É equivalente ao emprego de “nesse interin” e “nesse meio tempo”
e)   Remete à ideia de preferência.

04 – Qual das características presentes nas alternativas abaixo é mais clara no poema de Bandeira?
a)   Liberdade formal.
b)   Originalidade linguística.
c)   Crítica aos estilos do passado.
d)   Procura de novos temas.
e)   Tentativa de originalidade.

05 – Além da função poética sempre presente na poesia, quais as outras funções de linguagem mais predominantes no texto?
a)   Função apelativa, pois o emissor refere-se constantemente ao destinatário e referencial.
b)   Função metalinguística, pois discute a própria linguagem utilizada pelo emissor e função emotiva.
c)   Função referencial, pois a mensagem é centrada no contexto e o emissor procura fornecer informações da realidade e função fática.
d)   Função fática, pois o canal é posto em destaque pelo emissor e função metalinguística.
e)   Função emotiva, pois mensagem é centrada nas opiniões e emoções do emissor e função apelativa.

06 – Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a)   Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b)   Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c)   Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d)   Propõe o retorno do movimento romântico.
e)   Propõe a criação de um novo lirismo.


quarta-feira, 15 de maio de 2019

POEMA: EVOCAÇÃO DO RECIFE - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

Poema: Evocação do Recife
              Manuel Bandeira


Recife 
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois 
-- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância.

A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
          Coelho sai!
          Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
          Roseira dá-me uma rosa
          Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)

De repente
          nos longos da noite
                                          um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.
Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de Dr. Fulano de Tal)

Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
-- Capiberibe

Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu

Foi o meu primeiro alumbramento

Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
             Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
-- Capiberibe

Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
          Ovos frescos e baratos
          Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
          Ao passo que nós
          O que fazemos
          É macaquear
          A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam

Recife...
             Rua da União...
                                      A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade

Recife...
             Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô.

                           Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira, cit. p. 114-7.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Evocação: ato de se lembrar, trazer à lembrança.
·        Mauritsstad: nome dado por Maurício de Nassau à cidade do Recife durante o domínio holandês.
·        Pataca: antiga moeda brasileira.
·        Pegão: maciço em que se apoiam os arcos das pontes.
·        Pincenê: óculos sem haste.
·        Politonar: cantar em vários tons.
·        Pregão: fala ou pequena melodia por meio das quais os vendedores ambulantes anunciam seus produtos.

02 – Na 1ª estrofe do poema, o eu lírico delimita o Recife que evoca. Não é o Recife histórico nem o Recife turístico ou cultural.
a)   Qual é o Recife que ele evoca? Destaque um verso que justifique sua resposta.
É o Recife que habita sua memória: “Recife da minha infância”.

b)   O retrato do Recife evocado é feito, portanto, de modo objetivo ou subjetivo?
De modo subjetivo.

03 – Observe estes versos do poema: “Uma pessoa grande dizia: / Fogo em Santo Antônio!”; “Tenho medo que hoje se chame de Dr. Fulano de Tal”.

Com base nesses versos, responda: O eu lírico, ao evocar o passado, coloca-se no texto como adulto ou como criança? Justifique.
      Há uma mistura de perspectiva: no 1° e 2° versos, o eu lírico revive cenas do passado, como se fosse criança outra vez; no terceiro verso, deixa transparecer a visão crítica do adulto.

04 – Procurando dessacralizar a poesia, os modernistas aproximam-na das coisas simples, como o cotidiano e a cultura popular. Identifique no texto o aproveitamento desses elementos.
      As brincadeiras de roda com suas cantigas infantis, os pregões dos vendedores, as crenças e as festas populares, os nomes de ruas, etc.

05 – Manuel Bandeira nunca aderiu às novidades modernistas como modismo. Ao contrário, empregava-as como critério, sabendo extrair efeitos delas. Observe a irregularidade métrica e a pontuação destes versos:
        “Os homens punham o chapéu saíam fumando”.
        “Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu”.

Buscando estabelecer relações entre a forma e o conteúdo, responda:
a)   Por que a ausência de pontuação torna o sentido desses dois versos mais preciso?
No primeiro verso, a ausência de pontuação sugere a rapidez das ações; no segundo verso, a violência das águas durante as cheias.

b)   Observe o tamanho do segundo desses versos. Relacionando-o com o conteúdo do verso (as cheias), o que justificaria esse tamanho?
A enumeração caótica, num único verso, dos vários elementos arrastados pela água imita formalmente os caos promovido pelas cheias, que arrastam tudo de uma vez.

06 – Assim como Mário e Oswald de Andrade, Bandeira também se uma nova língua literária. De acordo com o texto:
a)   Qual é a “língua certa do povo”?
É a língua espontânea e natural falada pelo povo.

b)   A quem possivelmente se refere o pronome nós dos versos “Ao passo que nós/O que fazemos”?
As pessoas cultas: escritores, leitores, professores, etc.

c)   É possível afirmar que Bandeira pôs em prática no poema essa concepção de língua? Justifique com palavras ou expressões do texto.
Sim, pois o poema apresenta vocabulário e construções sintáticas simples, além de empregar palavras do uso popular, como “midubim” e “macaquear”.

07 – Releia no texto do capítulo o comentário de Bandeira feito em itinerário de Pasárgada e também nos últimos versos do poema. A seguir, responda:
a)   Por que o eu lírico afirma “Meu avó morto/Recife morto[...]”?
Porque, com a morte do avô – uma das figuras centrais da mitologia da infância do poeta –, ocorre também a morte do Recife que vivia na memória do eu lírico.

b)   Que tipo de sentimento revela o eu lírico em relação ao Recife de sua infância?
Melancolia, nostalgia, tristeza.