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quinta-feira, 9 de maio de 2019

POEMA: TABACARIA - FERNANDO PESSOA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: TABACARIA
          
    Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
[...]
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
[...]
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
[...]
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
[...]
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa:
Ática, 1944 (imp. 1993). - 252. Obra poética, cit. p. 362-6.
Entendendo o poema:
01 – O eu lírico do poema faz considerações a respeito de si mesmo, de sua identidade e de sua relação com o mundo.
a)   Como o eu lírico se sente diante da realidade em que vive?
Sente-se desagregado, não compartilha os valores da realidade.

b)   Tendo como referência a questão da identidade individual e social de cada ser humano, explique a crítica e a autocrítica existente nestes versos: “Quando quis tirar a máscara, / Estava pegada à cara”.
O autor refere-se às máscaras que cada um de nós usa socialmente. No caso do eu lírico, quando quis romper com essas convenções e ser ele mesmo, já havia perdido sua própria identidade.

02 – De acordo com o texto, o que significa as palavras:
·        Algibeira: bolso.
·        Dominó: túnica com capuz e mangas para disfarce de mascarados no carnaval.

03 – No texto, são feitas três referências à metafísica. Metafísica (além da física), no sentido habitual, é todo conhecimento ou especulação filosófica relacionados com o ser ou com sua transcendência. No poema, é com certo desprezo que o eu lírico trata a metafísica, como no verso “Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates”.
a)   Apesar disso, o eu lírico pratica a metafísica no poema? Justifique.
Sim, pois suas reflexões sobre o ser – a identidade, o sentido da vida, o futuro do mundo, et. – são temas metafísicos.

b)   Qual a vantagem, segundo a visão expressa no texto, em comer bombons, como faz a menina, ou ser como “o Esteves sem metafísica”?
Essas pessoas são o que são e, por não terem despertado para certos problemas da existência, não ficam filosofando, vivem de forma natural e simples.

c)   Com base na opinião do eu lírico sobre a metafísica, explique os sentidos dos versos: “Se eu casasse com a filha da minha lavadeira / Talvez fosse feliz”.
Provavelmente, a filha da lavadeira é uma pessoa simples, como o Esteves. Se o eu lírico se casasse com ela, talvez aprendesse a ser simples também e a não complicar as coisas. Esse pensamento é apenas uma especulação, pois a consciência e irreversível.

04 – Observe que, na 5ª estrofe, o eu lírico faz uma verdadeira “viagem” mental, especulando sobre seu próprio futuro e sobre o futuro do mundo. Suas reflexões são interrompidas por um fato concreto; um homem (Esteves) entra na tabacaria, fazendo com que a “realidade plausível” caia sobre o eu lírico. Este, agora “acordado”, diz: “Semiergo-me enérgico, convencido, humano, / E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário”.
a)   Com base nesses versos, levante hipóteses: É provável que eu lírico pretendesse tratar de temas metafísico ou de temas reais? Por quê?
De temas reais, pois se ergue “enérgico” e “humano”, o que pressupõe uma interação com o mundo concreto, real.

b)   Ele conseguiu seu objetivo? Justifique.
Não, pois, conforme afirma, tenciona escrever “versos em que digo o contrário”, o que nos leva a crer que acabou escrevendo versos metafísicos.

c)   Ao dizer, então, que “a metafísica é uma consequência de estar mal disposto”, o eu lírico está blefando ou não? Por quê?
Está blefando, pois obviamente, para o eu lírico, ela não é apenas resultado de uma indisposição física, e, sim, parte integrante de um ser que está em crise com o mundo e consigo mesmo.


terça-feira, 2 de outubro de 2018

POEMA: AUTOPSICOGRAFIA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

Poema: Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. 
                                      Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro' 

Entendendo o poema:
01 – De acordo com o poema, é específico do processo de criação literária o fato de o poeta:
I – Escrever não o que pensa, mas aquilo que deveras sente.
II – Ser capaz de captar e expressar os sentimentos dos leitores.
III – Transformar um elemento extraliterário, como a dor, em objeto estético.
Está certo o que se afirma apenas em:
a)   I.
b)   II.
c)   III.
d)   I e II.
e)   I e III.

02 – Qual é o tema desse poema?
     O tema é a criação do poema como resultado do fingimento poético. Se trata de uma reflexão sobre o fazer poético por meio da metalinguagem, que consiste em criar um poema por meio do qual se discute o próprio processo de construção.

03 – A palavra título indica que:
a)   O texto apresentará a visão do eu lírico sobre os outros com quem convive.
b)   O poema tecerá considerações sobre a subjetividade do próprio eu lírico.
c)   O texto discutirá a formação do leitor.
d)   O poema dialogará com os leitores em potencial.
e)   O poema tecerá considerações sobre o amor.

04 – Qual o significado de autopsicografia?
      Exprime a noção de próprio, de si próprio, por si próprio. Diz respeito a uma pessoa, no caso, o poeta Fernando Pessoa, que faz a descrição da sua própria alma, do fazer literário do poeta.

05 – Qual é o impasse vivenciado pelo poeta no processo de criação?
      O impasse consiste em fingir que está sentindo o que sente de verdade.

06 – Qual é a alternativa que NÃO se relaciona ao poema?
a)   Uso de redondilhas menores, forma poética popular em Portugal.
b)   A primeira estrofe apresenta a relação entre autor e obra.
c)   A segunda estrofe apresenta a relação entre leitor e obra.
d)   A terceira estrofe mostra a consequência da relação entre autor, leitor, obra, emoção e razão.
e)   O mundo fictício criado pelo poeta é percebido pelo leitor como verdade.

07 – Que alternativa NÃO está de acordo com o poema.
a)   O poema expressa os sentimentos reais imediatos vivenciados pelo poeta.
b)   O poema é fruto da criação e do trabalho de linguagem elaborado pelo poeta.
c)   “Autopsicografia” é um poema metalinguístico, pois tematiza o processo de criação.
d)   Há um diálogo entre eu do escritor (Ser criador, real) e o eu poético (personalidade fictícia).
e)   Cada leitor vivencia a dor fingida pelo poeta de acordo com sua experiência pessoal.

08 – Qual é a unção dos versos que vêm após o primeiro: “O poeta é um fingidor”?
      Eles têm a função de explicar e confirmar o tema do fingimento poético.

09 – A que se referem os termos a seguir, extraídos ao poema?
a)   “Calhas de roda”:
Refere-se à razão, ao intelecto, ao raciocínio, ao juízo. Na terceira estrofe, a “razão” está relacionada ao trabalho intelectual, ao ato de pensar (com lógica), à criação do poema por meio da linguagem.

b)   “Comboio de corda”:
Refere-se ao coração, às sensações, aos sentimentos reais e inventados. Na terceira estrofe, o coração simboliza a imaginação, as sensações (de dor, por exemplo) que podem motivar o ato criativo.

10 – Em língua portuguesa de Portugal, “Calhas de roda” são trilhos e “Comboio de corda” é um trem de brinquedo. Ambas as expressões são utilizadas pelo poeta na última estrofe.
Releia-a e responda: o que gira nos “calhas de roda”?
a)   A dor.
b)   O coração.
c)   A poesia.
d)   A palavra.
e)   A razão.

11 – Leia atentamente o trecho: “E os que leem o que escreve / Na dor lida sentem bem / Não as duas que ele teve / Mas só a que eles não têm”. (2ª estrofe). Qual o sujeito das formas verbais destacadas?
a)   Poetas.
b)   Eu lírico.
c)   Leitores.
d)   Corações.
e)   Razão e coração.

12 – O poema apresenta como tema a criação artística, desenvolvendo-o em três planos ou em três níveis, demarcados pelas estrofes. De que trata cada uma das estrofes?
      A 1ª estrofe trata do poeta e da criação literária.
      A 2ª estrofe trata do leitor e de sua relação com o texto literário.
      A 3ª estrofe trata do jogo entre a razão e emoção, existente no fenômeno literário.

13 – Levando em conta que o poeta é um fingidor, levante hipóteses: Por que, de acordo com a 1ª estrofe, o poeta “chega fingir que é dor / A dor que deveras sente”?
      No jogo literário, experiência e imaginação se fundem, construindo uma nova realidade, a do texto.
      A emoção contida no texto nem sempre corresponde a emoção real; esta pode servir de base para a “emoção fingida”, que se torna real no poema.

14 – De acordo com a 2ª estrofe:
a)   A que dores se refere o texto no verso “Não as duas que ele teve”?
As duas dores do poeta: a vivida e a fingida.

b)   Os leitores não sentem as duas dores do poeta, “Mas só a que eles não têm”. Levante hipóteses: Que dor pode ser essa sentida pelos leitores?
Com uma visão moderna sobre a recepção do texto. Pessoa abre espaço para a imaginação do leitor, que não é visto aqui como elemento passivo no jogo literário, mas como coadjuvante da escritura do texto, pois é ele que atribui o sentido final à sua leitura.

15 – Na última estrofe, são aproximados dois elementos que, historicamente, são a base da criação artística em todos os tempos, ora com o predomínio de um, ora com o predomínio de outro.
a)   Quais são esses elementos?
Razão e emoção.

b)   Que importância têm esses elementos no jogo da criação literária?
Historicamente, sempre houve predomínio de um ou de outro. Depreende-se que, para Fernando Pessoa, a criação literária é a confluência da emoção (ligada à experiência), da razão (ligada à consciência e à técnica) e da imaginação.

16 – O poema tem como título “Autopsicografia”. O termo psicografia significa relação mediúnica estabelecida entre dois seres humanos, um morto e um vivo, sendo este o meio pelo qual aquele se manifesta por escrito; o prefixo auto significa “por si mesmo”. Levando em conta esses dados e considerações sobre realidade, imaginação ou fingimento observadas no poema, dê uma interpretação coerente ao título do poema.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O título sugere que a criação literária parte de um eu e transforma a experiência vivida em “experiência fingida” imaginada. Nesse processo de recriação, atuam três elementos: razão, emoção e imaginação. Essas relações, que ocorrem no plano da expressão, se repetem no momento da recepção, da leitura.




sábado, 19 de maio de 2018

CRÔNICA DA VIDA QUE PASSA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

Crônica da vida que passa
               Fernando Pessoa


      Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade.
          A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações — ridiculamente humanas às vezes — que ele quereria invisíveis, côa-as a lente da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.
      Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz.
        E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos.
        Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que “homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos.

(FERNANDO PESSOA. Páginas íntimas e de auto-interpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.], p. 66-67.)

01- Na crônica apresentada, Fernando Pessoa atribui três características negativas à celebridade, descrevendo-as no segundo, terceiro e quarto parágrafos. Releia esses parágrafos e aponte os três substantivos empregados pelo poeta que sintetizam essas características negativas da celebridade.
Resolução As três características negativas comentadas nos parágrafos apontados podem ser sintetizadas nos três substantivos que são os núcleos dos “tópicos frasais” ou frases introdutórias de cada um desses parágrafos: plebeísmo, contradição e fraqueza.

 02 - Considerando que os dicionários apontam diversas acepções para “obscuridade”, nem todas limitadas ao plano sensorial, verifique atentamente os empregos dessa palavra que Fernando Pessoa faz no terceiro parágrafo de sua crônica e, em seguida, identifique a acepção mobilizada pelo autor.
 Resolução Fernando Pessoa emprega o substantivo obscuridade em sentido figurado, como antônimo de celebridade, fama, designando com ele a condição de quem é desconhecido, ignorado.

03 -  Explique, com base no texto como um todo, a imagem empregada por Pessoa no segundo parágrafo: “tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica”.
 Resolução A imagem das paredes de vidro sugere a ausência de privacidade a que a celebridade condena os seus “eleitos”, que devem suportar que mesmo os aspectos mais íntimos de sua vida – e especialmente estes – se tornem objeto de interesse geral e sejam esquadrinhados de forma vulgar e rebaixante

domingo, 6 de maio de 2018

POESIA: MAR PORTUGUÊS - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO


Poesia: MAR PORTUGUÊS
              Fernando Pessoa

             
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar,
Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu.

(Fernando Pessoa, in Mensagem)

Entendendo o poema:
01 – Segundo o poeta, o sofrimento do povo ocorreu:
a) apesar das conquistas portuguesas
b) em virtude das conquistas portuguesas v
c) para as conquistas portuguesas
d) antes das conquistas portuguesas
e) após as conquistas portuguesas.

02 – A metáfora existente nos dois primeiros versos do poema estabelece:
a) a força moral de Portugal
b) a incoerência do sofrimento diante das conquistas
c) a importância do sofrimento para que o povo deixe de sofrer
d) a profunda união entre as conquistas e o sofrimento do povo
e) a inutilidade das conquistas portuguesas.

03 – Além da metáfora, os dois primeiros versos contêm:
a) prosopopeia, epíteto de natureza, eufemismo
b) antítese, pleonasmo, eufemismo
c) apóstrofe, epíteto de natureza, metonímia
d) prosopopeia, pleonasmo, antítese
e) apóstrofe, hipérbole, sinestesia.

04 – “Quantos filhos em vão rezaram!” Com este verso, entendemos que:
a) o sofrimento do povo foi inútil.
b) o povo português da época era muito religioso.
c) muita gente perdeu entes queridos por causa das conquistas portuguesas.
d) a força da fé contribuiu efetivamente para as conquistas do país.
e) a religiosidade do povo português era inútil.

05 – As palavras que melhor definem o povo português, de acordo com as ideias contidas no texto, são:
a) fé e competência
b) inteligência e maturidade
c) orgulho e religiosidade
d) perseverança e ambição
e) grandeza e tenacidade.

06 – Segundo o texto, para se ir sempre adiante é necessário:
a) crer no destino
b) aceitar a dor
c) viver com alegria
d) vencer o sofrimento
e) objetivar sempre o progresso.

07 – Por um processo anafórico, a palavra nele (/. 12) tem como referente no texto:
a) Mar
b) Deus
c) perigo
d) abismo
e) céu.


sábado, 7 de outubro de 2017

POEMA: LIBERDADE - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quando é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

                               Fernando Pessoa. Obra Poética. Rio de Janeiro:
                                                               Nova Aguilar, 1977 p. 188-9.
Interpretação:
1 – Existe no poema uma oposição entre o dever e o prazer. A que elementos o autor associa o dever? A que outros elementos associa o prazer?
      O dever está associado às atividades de nosso mundo cultural: ler um livro, estudar, ter um dever a cumprir.
      O prazer está associado ao mundo natural: o sol, a lua, o rio, a brisa, as flores, a música, as crianças...

2 – Quanto às rimas, o que você nota? Qual a relação desse tipo de rima com o conteúdo do poema?
      As rimas são irregulares, perfeitamente adequadas ao tema do poema.

      3 – Comente esta definição do autor: “Livros são papéis pintados com tinta”.
      Resposta pessoal do aluno.

4 – Compare a visão que o poeta tem da escrita com a visão da personagem do texto “A descoberta da escrita”.
      É uma visão totalmente diferente. Enquanto o poeta “desfaz” dos livros e da literatura, a personagem de A descoberta da escrita dedica toda sua vida para encontrar um meio de poder escrever...

5 – o poeta enaltece os encantos do mundo natural, contrapondo-o à artificialidade do mundo cultural, e declara sua preferência pela natureza. Por outro lado, quando se escreve um poema, o que se pressupõe? Que contradição existe na postura do poeta?
      Ao mesmo tempo em que critica os livros, é por meio de um deles que o autor fará chegar seus versos ao leitor. É um “papel pintado com tinta” que imortaliza a voz do poeta.

6 – Observe a última estrofe do poema. Qual sua opinião sobre o argumento utilizado para convencer o leitor?

      O argumento é irrefutável.