quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

CRÔNICA: LEITE - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

 CRÔNICA - LEITE   

                                Millôr Fernandes

         Vocês que têm mais de 15 anos, se lembram quando a gente comprava leite em garrafa, na leiteria da esquina? (...)

         Mas vocês não se lembram de nada, pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é leite. Estou falando isso porque agora mesmo peguei um pacote de leite − leite em pacote, imagina, Tereza! − na porta dos fundos e estava escrito que é pasterizado ou pasteurizado, sei lá, tem vitamina, é garantido pela embromatologia, foi enriquecido e o escambau.

          Será que isso é mesmo leite? No dicionário diz que leite é outra coisa: “líquido branco, contendo água, proteína, açúcar e sais minerais”. Um alimento pra ninguém botar defeito. O ser humano o usa há mais de 5.000 mil anos. É o único alimento só alimento. A carne serve pro animal andar, a fruta serve para fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer outra galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou bota fora.

         Esse aqui examinando bem, é só pra botar fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais água do que leite, tem serragem, sou capaz de jurar que nem vaca tem por trás desse negócio.

         Depois o pessoal ainda acha estranho que os meninos não gostem de leite. Mas, como não gostam? Não gostam como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!

Millôr Fernandes. O Estado de São Paulo. 22/08/1999.


Descritor 18 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão

01. Ao criar a palavra “embromatologia” (ℓ. 6), o autor pretendeu ser

(A) conciso.

(B) sério.

(C) formal.

(D) cordial.

(E) irônico.

TEXTO: ANIMAIS NO ESPAÇO - FOLHA DE SÃO PAULO - COM GABARITO

 ANIMAIS NO ESPAÇO   

Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas.


      Os russos já usaram cachorros em suas experiências. Eles têm o sistema cardíaco parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com eles, os cientistas descobrem quais problemas podem acontecer com as pessoas.

           A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço, em novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astronauta Gagarin.

           Os norte-americanos gostam de fazer experiências científicas espaciais com macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpanzé é o preferido porque é inteligente e convive melhor com o homem do que as outras espécies de macacos. Ele aprende a comer alimentos sintéticos e não se incomoda com a roupa espacial.

           Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a bordo, como acionar os comandos das naves, quando as luzes coloridas acendem no painel, por exemplo.

            Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961, a bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e salvo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito depressa as pastilhas de banana durante as refeições.

(Folha de São Paulo, 26 de janeiro de 1996).


Descritor 9 – Diferenciar as parte principais das secundárias em um texto

01. Entre as informações do texto acima, uma das principais é que

(A) o chimpanzé mais famoso viajou para o espaço a bordo da Mercury-Atlas 5.

(B) os cientistas descobrem problemas que podem acontecer com as pessoas.

(C) a cadela Laika viajou ao espaço quatro anos depois de Gagarin. 

(D) a viagem do mais famoso macaco para o espaço aconteceu em 1961.

(E) na nave espacial serviam pastilhas de banana durante as refeições.

TEXTO: O TEATRO DA ETIQUETA - REVISTA SUPERINTERESSANTE - COM GABARITO

 O TEATRO DA ETIQUETA

     No século XV, quando se instalavam os Estados nacionais e a monarquia absoluta na Europa, não havia sequer garfos e colheres nas mesas de refeição: cada comensal trazia sua faca para cortar um naco da carne – e, em caso de briga, para cortar o vizinho. Nessa Europa bárbara, que começava a sair da Idade Média, em que nem os nobres sabiam escrever, o poder do rei devia se afirmar de todas as maneiras aos olhos de seus súditos como uma espécie de teatro. Nesse contexto surge a etiqueta, marcando momento a momento o espetáculo da realeza: só para servir o vinho ao monarca havia um ritual que durava até dez minutos.

           Quando Luís XV, que reinou na França de 1715 a 1774, passou a usar lenço não como simples peça de vestuário, mas para limpar o nariz, ninguém mais na corte de Versalhes ousou assoar-se com os dedos, como era costume. Mas todas essas regras, embora servissem para diferenciar a nobreza dos demais, não tinham a petulância que a etiqueta adquiriu depois. Os nobres usavam as boas maneiras com naturalidade, para marcar uma diferença política que já existia. E representavam esse teatro da mesma forma para todos. Depois da Revolução Francesa, as pessoas começam a aprender etiqueta para ascender socialmente. Daí por que ela passou a ser usada de forma desigual – só na hora de lidar com os poderosos.

Revista Superinteressante, junho 1988, nº 6 ano 2.


Descritor 7 – Identificar a tese de um texto

01. Nesse texto, o autor defende a tese de que

(A) a etiqueta mudou, mas continua associada aos interesses do poder.

(B) a etiqueta sempre foi um teatro apresentado pela realeza.

(C) a etiqueta tinha uma finalidade democrática antigamente.

(D) as classes sociais se utilizam da etiqueta desde o século XV.

(E) as pessoas evoluíram a etiqueta para descomplicá-la.

LENDA - O QUIROMANTE - CRISTINA DA COSTA PEREIRA - COM GABARITO

 LENDA - O QUIROMANTE

 

    Há muitos anos atrás, havia um rapaz cigano que, nas horas vagas, ficava lendo as linhas das mãos das pessoas.  

      O pai dele, que era muito austero no que dizia respeito à tradição cigana de somente as mulheres lerem as mãos, dizia sempre para ele não fazer isso, que não 5 era ofício de homem, que fosse fazer tachos, tocar música, comerciar cavalos.

         E o jovem cigano teimava em ser quiromante. Até que um dia ele foi ler a sorte de uma pessoa e, quando ela se virou de frente, ele viu, assustado, que ela não tinha mãos.

         A partir daí, abandonou a quiromancia.

PEREIRA, Cristina da Costa. Lendas e histórias ciganas. Rio de Janeiro: Imago, 1991.

Descritor 11 – Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto

01.O trecho “A partir daí, abandonou a quiromancia” (ℓ. 8) apresenta, com relação ao que foi dito no parágrafo anterior, o sentido de

(A) comparação.

(B) condição.

(C) consequência.

(D) finalidade.

(E) oposição.

CONTO: O MATO - ARRIGUCCI, JR. - COM GABARITO

 CONTO: O MATO


   Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos.

          Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.

           Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades do mundo o rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos - mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.

ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Editora Global Ltda, 1985.


Descritor 10 – Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa

01. No texto, o elemento que gera a história narrada é

(A) a preocupação do homem com os problemas alheios.

(B) a proximidade entre a casa do homem e o morro com mato viçoso.

(C) o desejo do homem de buscar alento próximo da natureza.

(D) o toque insistente do telefone em uma casa fechada e silenciosa. (E) os ruídos vespertinos da cidade, com seus murmúrios constantes.

SERMÃO DO MANDATO - ANTÔNIO VIEIRA - COM GABARITO

 Sermão do Mandato


 Antônio Vieira

       O primeiro remédio que dizíamos, é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera? São as afeições como as vidas, que não há mais certo de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas, que partem do centro para a circunferência, que tanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não atira; embota-lhe as setas, com que já não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às cousas, descobre-lhe defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais amor? O mesmo amor é a causa de não amar, e o de ter amado muito, de amar menos.

VIEIRA, Antônio. Sermão do Mandato. In: Sermões. 8. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1980. 

Descritor 2 – Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto

QUESTÃO 01

 O tempo é a principal solução para os problemas. A frase que reproduz essa ideia é

(A) “Antigos sabiamente pintaram o amor menino...” (ℓ.5)

(B) “Atreve-se o tempo a colunas de mármore...” (ℓ.2)

(C) “O primeiro remédio que dizíamos, é o tempo.” (ℓ.1)

(D) “(...) o tempo tira a novidade às cousas...” (ℓ. 9-10)

(E) “(...) partem do centro para a circunferência...” (ℓ. 4)

SERMÃO DO MANDATO (FRAGMENTO)

O amor sempre é amoroso; mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, ajunta as extremidades mais distantes: enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos. Quais são os extremos mais distantes e mais unidos que há no mundo? O nosso corpo, e a nossa alma. São os extremos mais distantes; porque um é carne, outro espírito: são os extremos mais unidos; porque nunca jamais se apartam. Juntos nascem, juntos crescem, juntos vivem: juntos caminham, juntos param, juntos trabalham, juntos descansam: de noite e de dia; dormindo e velando: em todo o tempo, em toda a idade, em toda a fortuna: sempre amigos, sempre companheiros, sempre abraçados, sempre unidos. E esta união tão natural, esta união tão estreita, quem a divide? A morte. Tal é o amor: Fortis est ut mors dilectio*. O amor, enquanto unitivo, é como a vida; enquanto forte, é como a morte. Enquanto unitivo, por mais distantes que sejam os extremos, ajunta-os: enquanto forte, por mais unidos que estejam, aparta-os.

Antes da Encarnação do Verbo, quais eram os extremos mais distantes? Deus e o homem. E que fez o amor unitivo? Trouxe a Deus do Céu à Terra, e uniu a Deus com os homens. Depois da Encarnação, quais eram os extremos mais unidos? Cristo, e os homens. E que fez o amor forte? Leva hoje a Cristo da Terra ao Céu.

* A morte é deleite do forte.

(VIEIRA, A . Sermões. Porto: Lello e Irmão, 1959)

QUESTÃO 02

O Barroco atribui especial atenção à sintaxe textual. A esse respeito, julgue os itens:

I. Verifica-se, com frequência, no texto, a condução do raciocínio do ouvinte, a qual se constrói através da estrutura pergunta-resposta-conclusão.
II. As orações coordenadas assindéticas Juntos nascem, juntos crescem, juntos vivem constituem uma gradação de caráter temporal.
III. No fragmento O amor, enquanto unitivo, é como a vida; enquanto forte, é como a morte., há indicação de paralelismo entre as partes.


Estão corretos:

A  I e II
B  I e III
C  Todos eles
D  Nenhum deles

TEXTO: QUAL A ORIGEM DO DOCE BRIGADEIRO?ALMANAQUE DAS CURIOSIDADES - COM GABARITO

 TEXTO:Qual a origem do doce brigadeiro?

      Em 1946, seriam realizadas as primeiras eleições diretas para presidente após os anos do “Estado Novo”, de Getúlio Vargas. O candidato da aliança PTB/PSD, Eurico Gaspar Dutra, venceu com relativa folga. Mas o título de maior originalidade na campanha ficou para as correligionárias do candidato derrotado, Eduardo Gomes (da UDN).

           Brigadeiro da Aeronáutica, com pinta de galã, Eduardo Gomes tinha um apoio, digamos, entusiasmado. Para fazer o “corpo-a-corpo” com o eleitorado, senhoras da sociedade saiam às ruas convocando as mulheres a votar em Gomes, com o slogan: “Vote no brigadeiro. Ele é bonito e solteiro”. Não satisfeitas ainda promoviam almoços e chás, nos quais serviam um irresistível docinho coberto com chocolate granulado. Ao qual deram o nome, claro, de brigadeiro.

Almanaque das curiosidades, p. 89.


Descritor 12 – Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros

01.A finalidade desse gênero de texto é

(A) propor mudanças.

(B) refutar um argumento.

(C) advertir as pessoas.

(D) trazer uma informação.

(E) orientar procedimentos.