domingo, 24 de janeiro de 2021

DIÁLOGO: MENINAS NA LINHA WWW - GILBERTO DIMENSTEIN E HELOISA PRIETO - COM GABARITO

 Diálogo: Meninas na linha WWW

            Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto

        Chatter: Oi!

        Mano: E aí? Tá em casa em pleno sábado à noite?

        Chatter: Eu tinha uma festa mas fiquei com preguiça de sair. Tá frio pra caramba. Melhor navegar.

        Mano: Eu não tinha nada pra fazer. Entrei num site idiota.

        [...]

        Chatter: Eu adoro filme de terror.

        Mano: Mas terror mesmo é ficar com a garota que a gente gosta. Cara, dá um branco, já me aconteceu.

        Chatter: Como foi?

        Mano: Era uma garota da minha escola, ela já foi embora, mudou de cidade. Eu ficava mudo, derrubava tudo, ou então falava sem parar.

        Chatter: É engraçado. Você é tímido.

        Mano: Eu não, é que eu gostava dela. Meu irmão disse que é assim mesmo. Gostou, travou. Tipo terrir.

        Chatter: O quê?

        Mano: Filme terrir, trash, terror do mais ridículo que existe.

        Chatter: Então eu acho legal, é divertido ver terror pra rir.

        Mano: Eu também. A gente compra os vídeos aqui em casa.

        Chatter: Me dá seu endereço.

        Sílvia: Oi.

        Mano: Oi.

        Chatter: Oi.

        Sílvia: Vocês querem conversar comigo?

        Chatter: Sobre o quê?

        Sílvia: Sobre a beleza do amor juvenil, o primeiro beijo, tão inesquecível, a delícia da primeira carícia. Me contem, meus jovens, me contem como foi...

        Mano: Tô fora!

        Chatter: Tô fora também!

        Sílvia: Mas não foi por isso que vocês entraram nesse chat? Para abrir-se por inteiro? Este é um espaço para confidências femininas! O cantinho certo pra descobrir tudo que se esconde no fundo do coração!

        Mano: Dona, me desculpe, pensei que Meninas na Linha era tipo revista Playboy, sabe como é...

        Chatter: Ei, Mano, é roubada, vamos embora, mas me dá seu endereço, me conte dos filmes...

        Mano: Cara, tá certo, meu endereço é Mano@swift.br e o seu?

        Chatter: Vou escrever mandando meu endereço.

        Mano: Vou esperar.

        Sílvia: Esperem, meus jovens, a confidência faz parte do amor...

        Mano: Bye, bye, tia. Obrigado e me desculpe...

        Chatter: Mano, espere, eu vou mandar o e-mail.

        Mano: Vou lá ver.

        Chatter@...

        Mano, aquela Sílvia do chat era igual à mulher do 0800: disque-estrela e descubra seu destino. Metralhadora de palavras.

        Parece que é tudo combinado, sempre a mesma coisa.

        Eu gosto de ler história de amor, mas tem que ser emocionante.

        Aqui em casa tem livro pra caramba porque minha mãe é professora de literatura e meu pai também gosta de ler, por causa da minha avó que também adora livros. Eu sei ler em francês e inglês, mas na minha classe o pessoal só pega gibi.

        Você gosta de ler? De escrever? De ficar em casa?

        Mano@...

        Ei, Chatter, cara, foi divertido fugir daquele chat. Confidências femininas, tá louco!

        Bom, eu gosto de livro de terror e mistério.

        Sou igual você, tenho um avô que lê sem parar. Ele se chama Hermano, como eu. É por isso que tenho esse apelido. Bom, tenho preguiça de escrever na escola, mas gosto de conversa virtual. Que mais?

        Ah, eu ficava bastante em casa, ultimamente tô preferindo a rua.

        Primeiro porque fiquei amigo do Pipoquinha, filho do pipoqueiro da escola. Cara, seu João Pipoca, o pai dele, faz uns desenhos de areia dentro de garrafinhas. É muito legal. Ele está me ensinando.

        E o Pipoquinha e eu estamos fazendo um rolimã. Parece skate, a gente vai pintar depois que terminar. A gente também gosta de bolinha de gude.

        Bom, a rua está muito melhor que a minha casa porque meu irmão, o Pedro, tá meio pirado. Cara, eu trocava muita ideia com ele, mas agora não dá mais.

        Você tem irmãos? Mora em prédio? Tem alguma mania maluca?

        Mano descobre o @mor. São Paulo, Senac/Ática, 2001.

Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p.126-130.

Fonte da imagem - https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.casanadisney.com.br%2Fsites-blogs-bacanas-sobre-orlando-florid%2F&psig=AOvVaw1cz4jMxOqMgG7I8-hc-Gwk&ust=1611610296211000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLjoqq3Cte4CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o diálogo:

01 – O uso da Internet ainda provoca discussão. Mesmo você não seja um usuário da rede, com certeza tem uma opinião: conversar com alguém pela Internet é tão bom quanto fazer isso ao vivo? A Internet impede o contato entre as pessoas?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A Internet constitui um eficiente e rápido meio de comunicação e, sem dúvida, é válida como forma de ampliarmos conhecimentos e travarmos relações. Não substitui, entretanto, o contato pessoal.

02 – Você sabe o que é site, chat, e-mail? Reúna-se com seus colegas, pesquisem e registrem no caderno o que descobrirem.

      Site (pronuncia-se “sáiti”) quer dizer “sítio, lugar”. Sites são áreas dentro de um servidor de Internet que podem ser visitadas por usuários de computadores conectados à Internet. Para entrar em um site, é preciso conhecer o endereço dele, que geralmente tem esta estrutura: www.(nome do site).com.br – Chat (“bate papo”, em inglês), na linguagem dos computadores, significa “correspondência por escrito entre duas ou mais pessoas”. Equivale a uma conversa telefônica, porém feita por escrito. E-mail (abreviatura de electronic mail, “correio eletrônico”) é um tipo de programa usado em computadores para o envio de bilhetes, arquivos ou mensagens pela Internet. O termo também serve para indicar “endereço eletrônico”.

03 – O texto inicia com um breve cumprimento de Chatter e em seguida ele e Mano começam a conversar pela Internet. Você acha que eles já se conheciam? Justifique sua resposta.

      Deduz-se que eles não se conheciam, pois, ao saírem do chat, pedem um ao outro os respectivos endereços eletrônicos. Além disso, as perguntas revelam que eles desconhecem os hábitos e gostos um do outro.

04 – A certa altura, uma pessoa chamada Sílvia entra na conversa dos garotos. Eles quiseram conversar com ela? Por quê?

      Não quiseram. O assunto proposto por Sílvia, confidências femininas, não era o que Mano esperava encontrar naquele chat, e Chatter também o considerou uma roubada.

05 – É comum a opinião de que nas conversas pela Internet só se falam bobagens. Você concorda com isso? Na conversa que tiveram, Chatter e Mano contaram apenas coisas sem importância? Dê sua opinião, justificando-a com exemplos tirados das mensagens de um e de outro.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Chatter e Mano iniciam sua conversa em um chat chamado “Meninas na linha”. Pesquise em um dicionário os significados da palavra linha. Em seguida, converse com um colega e tentem explicar por que o nome do chat pode ser entendido de mais de uma forma, ou seja, é ambíguo.

      Linha: fio de fibras torcidas usada para costurar ou bordar; fio metálico para transmissões telegráficas ou telefônicas; serviço regular de transportes entre dois pontos; elegância, beleza do corpo; jogadores de ataque de um time; cada um dos traços horizontais de um papel.

07 – O português é a língua falada no Brasil. Entretanto, ele apresenta muitas variações, conforme a região onde é falado, o grupo social a que pertence o falante, a idade dele e o tipo de situação de comunicação. As personagens de “Meninas na linha WWW” usam uma variante da língua própria de sua idade. Identifique no texto e copie no caderno pelo menos cinco expressões que exemplifiquem essa afirmação.

      Possibilidades: “e aí?”; “tá frio pra caramba”; “ficar com a garota”; “cara, dá um branco”; “vcs”; “tô fora”; “é roubada”; “tá louco”, etc.

08 – Você já escreveu um bilhete ou uma carta para alguém?  Quando? Você tem o hábito de escrever cartas? Comente com seus colegas.

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Os assuntos tratados por Chatter e Mano por e-mail poderiam ter sido tratados, da mesma forma, por carta ou bilhete?

      Resposta pessoal do aluno.

RELATO/POEMA: O SONHO - JOSÉ PAULO PAES - COM GABARITO

 Relato/poema: O sonho

                    José Paulo Paes

        Alguns anos atrás tive um sonho estranho com a casa de Taquaritinga onde vivi até os 11 anos. Sonhei que era um menino voador que fora pousar, feito passarinho, no teto da velha casa, para de lá ficar espiando o que se passava dentro dela. Escrevi então um poema a que dei o título de “A casa”.

Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas.

Na livraria, há um avô que faz cartões de boas-festas com corações de purpurina.

Na tipografia, um tio que imprime avisos fúnebres e programas de circo.

Na sala de visitas, um pai que lê romances policiais até o fim dos tempos.

No quarto, uma mãe que está sempre parindo a última filha.

Na sala de jantar, uma tia que lustra cuidadosamente o seu próprio caixão.

Na copa, uma prima que passa a ferro todas as mortalhas da família.

Na cozinha, uma avó que conta noite e dia histórias do outro mundo.

No quintal, um preto velho que morreu na Guerra do Paraguai rachando lenha.

E no telhado um menino medroso que espia todos eles; só que está vivo: trouxe-o até ali o pássaro dos sonhos.

Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa.

Antes que ele acorde e se descubra também morto.

        O sonho só me deu a base e a atmosfera fantasmagórica do poema; para o resto, recorri às lembranças que tinha dos meus familiares, quase todos mortos àquela altura. A velha casa de Taquaritinga estava, abandonada havia anos, arruinando-se.

     Quem, eu? – Um poema como outro qualquer. São Paulo, Atual, 1996.

Fonte: Livro – Ler, entender, criar – Português – 6ª Série – Ed. Ática, 2007 – p. 115-6.

Fonte da imagem- https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.lpm-blog.com.br%2F%3Fp%3D7411&psig=AOvVaw0tWCGdMA-L-6dGqf5fw1oO&ust=1611609935150000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJCXiIXBte4CFQAAAAAdAAAAABAO

Entendendo o relato/poema:

01 – O texto “O sonho” faz parte da autobiografia de José Paulo Paes de onde foi tirado também o texto “A casa”. Quando o autor teve o sonho descrito e quando escreveu o poema: na infância ou na idade adulta?

      Na idade adulta.

02 – Quem são os fantasmas da casa e o menino que os espia mencionados no poema?

      Os fantasmas são os familiares do autor, já mortos, e o menino é o próprio poeta, quando criança.

03 – Quais das personagens mencionadas no poema já haviam aparecido em “A casa”?

      O avô, o pai, a tia, a avó, o menino (o próprio poeta).

04 – No poema, as personagens aparecem caracterizadas da mesma forma como o foram no trecho escrito em prosa? Aponte semelhanças e/ou diferenças.

      Não. A caracterização no texto em prosa é mais detalhada e desenvolvida. No poema, é sintética e simbólica, havendo uma redução: cada personagem aparece no lugar da casa ao qual o poeta a associava, realizando apenas uma ação, a que ficou na memória do poeta (a mãe, no quarto, parindo; o pai, na sala de visitas, lendo, etc.).

05 – Leia:

        Vendam logo esta casa, ela está cheia de fantasmas”.

        Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-na depressa”.

a)   Em que tempo estão os verbos destacados? O que eles exprimem?

No imperativo afirmativo. Exprimem ordem ou pedido.

b)   Identifique no texto os advérbios e as locuções adverbiais que manifestam a urgência do menino em que a casa seja vendida.

Logo, depressa, antes que.

06 – Exceto o primeiro e os dois últimos versos, os outros escrevem ações dos familiares mortos e do menino. Identifique e copie no caderno os verbos empregados nesses versos. Em que tempo eles estão?

      Há, faz, imprime, lê, lustra, passa, conta, espia, está: presente do indicativo; morreu: pretérito perfeito; está parindo e (está) rachando: locuções verbais com o verbo auxiliar estar no presente e o verbo principal no gerúndio.

07 – Vimos que no texto “A casa” o tempo verbal predominante era o pretérito. No poema, o autor emprega principalmente o presente. Por quê?

      Na autobiografia ele narrava fatos antigos, de sua infância. No poema, descreve as cenas como se as estivesse visualizando no momento em que escreve.

08 – Reúna-se com um colega e escrevam no caderno um parágrafo explicando como vocês interpretam os sentimentos do poeta nos versos seguintes:

        “Deixem o menino dormir, mas vendam a casa, vendam-se depressa.

         Antes que ele acorde e se descubra também morto”.

      Resposta pessoal do aluno.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

CONTO: O ARQUIVO - VICTOR GIUDICE - COM GABARITO

 CONTO: O arquivo 

                  Victor Giudice

 No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.

Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.

— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

joão transformou-se num arquivo de metal.

(GIUDICE, Victor. In: Setecontos setecantos. São Paulo: FTD, 1986.v.2)

Fonte: Livro – Práticas de Linguagem – v.4 – São Paulo: Editora Scipione, 2000, p.37- 41.

SOBRE O TEXTO

1.   Como devemos entender as constantes “promoções” de joão?

Devemos interpretá-las como constantes “despromoções”. Realça que toda a carga irônica do texto está centrada numa absoluta inversão de valores.

2.   Qual seria a maior de todas as “promoções”?

Após estar “desassalariado”, a promoção seguinte daria a joão o “direito” de pagar para trabalhar.

3.   Como você percebeu, o personagem principal tem seu nome grafado com inicial maiúscula apenas na primeira frase do texto; a partir daí, seu nome aparece grafado com a inicial minúscula. Por que o autor teria usado esse recurso?

O texto trabalha com o crescente coisificação de joão, a qual atinge o clímax quando o personagem transforma-se em arquivo, isto é, literalmente numa coisa, num objeto. O uso da inicial minúscula reforça a ideia de joão como um objeto, um substantivo comum. Ao perder a individualidade, a personalidade, joão perdeu também a inicial maiúscula dos nomes próprios.

4.   O narrador participa dos fatos ou se coloca como observador?

O narrador se coloca como observador (narração em terceira pessoa).

5.   O texto poderia ser narrado em primeira pessoa? Por quê?

Sim. No entanto, como o texto trabalha com o aniquilamento e a absoluta desumanização do personagem, transformar joão em personagem-narrador exigiria uma apuradíssima técnica de composição da narrativa.

6.   Quando os fatos ocorrem?

Os fatos se sucedem ao longo de 40 anos, desde a primeira “promoção” até a coisificação de joão.

7.   Onde eles ocorrem?

Fundamentalmente, no escritório onde joão trabalha; no mais, há referências vagas aos lugares onde joão morou. No entanto, embora esses lugares não sejam propriamente descritos, desempenham papel importante na construção da narrativa: à medida que ele é “promovido”, vai se mudando para lugares mais distantes, até “não ter mais problemas de moradia” (passa a viver nos campos).

8.   Que conflito há na história? Quem é o protagonista? E o antagonista? Comente.

João é o protagonista; seu chefe seria o antagonista. O conflito está presente na relação (joão x empresa, explorado x explorador, etc). O interessante é que o autor soube usar muito bem a ironia, dando ao conflito a aparência de harmonia, isto é, transformando em “promoção” a crescente exploração do trabalhador.

 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

TEXTO: TERRA: O PLANETA DA VIDA - NEIDE SIMÕES MATTOS - COM GABARITO

 Terra: o Planeta da Vida

    Até o momento, não se conhece nenhum outro lugar do universo, além da Terra, que reúna condições para a existência de vida. As atividades humanas no nosso planeta, porém, têm reduzido cada vez mais essas condições.

    O crescimento constante da população e o consequente aumento do consumo vêm causando a destruição progressiva dos recursos disponíveis e modificando rapidamente o ambiente.

    A maioria dos seres vivos só se utiliza daquilo que realmente precisa para subsistir. O homem não, pois com seus instrumentos e máquinas é capaz de multiplicar infinitamente o trabalho que seria feito por um só indivíduo. Assim, ele se apropria intensiva e rapidamente dos recursos e rompe o equilíbrio frágil e extremamente complexo da natureza. Desse modo, prejudica os demais seres vivos, ocasionando, muitas vezes, sua total destruição.

    O número de habitantes do planeta, porém, cresce sem parar, e muitas áreas produtivas da Terra já foram, e continuam sendo, ocupadas sem planejamento e exploradas de modo inadequado. Se continuarmos a agir assim, esgotando os recursos da natureza, em pouco tempo só restarão na Terra ambientes impróprios para a vida e sem possibilidade de recuperação.

    Mas uma espécie como a nossa, capaz de realizações magníficas no campo das artes, das ciências e da filosofia, deverá saber organizar-se e encontrar soluções adequadas para garantir sua permanência na Terra.

MATTOS, Neide Simões de et al. “Nós e o ambiente”. São Paulo: Scipione, 1990. p.8-9. (O Universo da Ciência).

Livro: Práticas de Linguagem - Vol. 4 - Editora Scipione: São Paulo, 2000.p.128-9.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.bomdiaonline.com%2Fnoticia%2F30379%2Fterra-planeta-aacutegua&psig=AOvVaw0r5aWEFBknJXfuE5PybIa4&ust=1611250482479000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCLjVhYqGq-4CFQAAAAAdAAAAABAE

 Teoria & Prática

1. O texto está estruturado em cinco parágrafos. Divida-os em introdução, desenvolvimento e conclusão.

Introdução: primeiro parágrafo; desenvolvimento: segundo, terceiro e quarto parágrafos; conclusão: quinto parágrafo.

2. Qual a ideia básica apresentada no primeiro parágrafo?

    As atividades humanas  têm reduzido as condições de vida na Terra.

3. Qual o recurso utilizado pelas autoras no terceiro parágrafo?

    Há uma comparação entre o homem e os demais seres vivos. Estes só utilizam o necessário para a subsistência; aquele, não: apropria-se dos recursos naturais e rompe o equilíbrio da natureza.

4. Qual a ideia básica apresentada no último parágrafo?

    O homem, por ter a capacidade de pensar, saberá organizar-se e encontrar soluções que garantam as condições de vida na Terra.

5. Essa ideia básica apresentada no último parágrafo é coerente com o desenvolvimento e a introdução do texto? Explique sua resposta.

    Resposta pessoal.

6. O texto tem o propósito de:

a) formar uma opinião no leitor.

b) entreter o leitor.

c) informar o leitor.

d) emocionar o leitor.

 7.  Aponte as causas, segundo o texto, da contínua modificação do ambiente:

     O crescimento constante da população e o consequente aumento do consumo.

 8. “As atividades humanas no nosso planeta, porém, têm reduzido cada vez mais essas condições.”. A que condições o texto se refere?

     O texto refere-se às condições para a existência de vida.

9.  O autor do texto dialoga diretamente com o leitor na passagem:

a) “Até o momento, não se conhece nenhum outro lugar do universo […]”

b) “A maioria dos seres vivos só se utiliza daquilo que realmente precisa para subsistir.”

c) “O número de habitantes do planeta, porém, cresce sem parar, e muitas áreas produtivas […]”

d) “Se continuarmos a agir assim, esgotando os recursos da natureza […]”

10.  Pela leitura do último parágrafo do texto, podemos concluir que o autor, em relação ao tema abordado, mostra-se:

a) pessimista

b) receoso

c) esperançoso

d) indiferente

 11.  O texto foi construído em uma linguagem:

a) culta

b) informal

c) técnica

d) científica

 


CONTO: SOFIA - LUIZ VILELA - COM GABARITO

 CONTO: SOFIA

                Luiz Vilela

          Já tinham brincado muito, e agora estavam reunidos ao pé do poste, pensando numa nova coisa para fazer.

          Ainda era cedo, a noite apenas começara.

          - Vamos mexer com a Sofia? - propôs um.

          Sofia era a dona do mercadinho - a vítima predileta deles. Pintavam o sete com ela. Sofia assustava-se com nada, e isso os deliciava. Viviam assombrando-a: vozes estranhas chamando lá fora, e ninguém (estavam no telhado), caveira de mamão verde com vela acesa dentro, capas, máscaras horrorosas, o caixote de lixo que sumia, o ferro de abaixar a porta que sumia, ratos, sapos, lagartixas aparecendo de repente, minha nossa! quase desmaiava, dessa vez eu chamo o guarda, mas nunca chamava o guarda, e tudo o que fazia era ameaçar os meninos, agitando o braço gordo:

        - Eu vai contar bra seu pai, menino! Eu vai contar bra seu pai!

        Eles riam, alegres, distantes do braço dela.

        - Raledine baculé, pé de turco tem chulé!

        - Moleques! Sembrefonhas!

        - Sofia guer gombra galinha de raça? Cadê os urubus que ocê comprou hem Sofia? Cadê as galinhas de raça?

        Caíam na risada.


(VILELA, Luiz. Contos da infância e da adolescência. Ática: São Paulo, 1996. p.15-6).

Fonte: Livro - Práticas de Linguagem.Vol.4. Editora Scipione: São Paulo, 2000.p.94-6).

Teoria & Prática

1. Observe as falas de Sofia:

    "- Eu vai contar bra seu pai, menino! Eu vai contar bra seu pai!"

    "- Moleques! Sembregonhas!"

Como elas ficariam se fossem registradas no padrão formal da língua portuguesa?

- Eu vou contar para seu pai, menino! Eu vou contar para seu pai!

- Moleques! Sem-vergonhas!

2. Em sua opinião, qual é a nacionalidade de Sofia?

    Embora não fique explícito, provavelmente  Sofia era de origem síria, armênia ou libanesa. Na brincadeira dos meninos, ela é chamada de "turca". Pois aqui em nosso país, os imigrantes de origem árabe são erroneamente designados "turcos".

3. A linguagem utilizada pelo personagem Sofia é coerente com sua provável nacionalidade?

O autor procura reproduzir o modo de falar dos imigrantes "turcos".

4. Qual foi a intenção do autor ao reproduzir as falas de Sofia daquele modo, e não no padrão formal?

Porque tem a função estilística importante, sendo através dela é possível caracterizar o personagem.

5. Além da linguagem utilizada pelos personagens, que  outros elementos do texto revelam coerência?

As atitudes dos meninos (provocações e brincadeiras para assustar Sofia) são típicas de garotos, sendo, portanto, coerentes com os personagens.



















terça-feira, 19 de janeiro de 2021

TEXTO: A CUCA - SÁVIA DUMONT - COM GABARITO

 TEXTO: A CUCA

    Quem nunca escutou a cantiga de ninar que as mães cantam para adormecer criança que não quer saber de pagar no sono?

       Nana, neném, que a Cuca vem pegar

      Papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar....

      A Cuca é uma velha feiíssima, com jeito de bruxa, cabelos desgrenhados. Traz nas costas um saco enorme onde enfia as crianças malcriadas que não querem ir para a cama na hora certa.

      A Cuca guarda segredos na sua corcunda. Dizem que a megera faz gato parar de miar no telhado, cachorro deixar de latir quando ela passa e as folhas ficarem quietas nas árvores. Ela mete medo até em gente grande. Só de ver a figura magrela vagando na noite, a lua empalidece no céu.

        Não conheço criança que, ao ouvir uns passos se arrastando na rua no meio da noite, não pense com um arrepiozinho na espinha no saco da Cuca, que some assim que ela surrupia sua presa: criança que não quer saber de dormir.

        Mas é só fechar os olhos e cair no sono, que a velha bruxa segue em frente.

Sávia Dumont. Os meninos que viraram estrelas e outras histórias do Brasil. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2002.

Conversando sobre o texto

1.   Você já conhecia a canção da Cuca?

Resposta pessoal.

2.   Em sua opinião, a Cuca é um ser assustador?

Resposta pessoal.

3.   Você acha importante que no texto apareçam as características do ser que está sendo descrito? Por quê?

Resposta pessoal- Sugestão – Saber as características dos seres é de extrema importância para “visualização” deles ao ler um texto.

 4.   Releia o trecho.

“A Cuca é uma velha feiíssima, com jeito de bruxa, cabelos desgrenhados.”

a)   O que quer dizer a palavra em destaque? Marque a opção mais adequada.

(    ) feia          (    ) pouco feia             ( x  ) muito feia

b)   Na sua opinião, por que a autora preferiu usar o termo feiíssima no lugar da palavra feia?

Resposta pessoal – Sugestão: A autora usou o termo feiíssima para dar mais ênfase à feiura da Cuca.

 5.   Nas histórias, é comum haver trechos que explicam como são os personagens, ou seja, apresentam a aparência e o modo de ser deles. Sabendo disso, assinale as frases que descrevem a Cuca.

(     ) “Nana, neném, que a Cuca vem pegar...”

(  x  ) “A Cuca guarda segredos na corcunda,”

(  x  ) “Ela mete medo até em gente grande.”

6.   Em sua opinião, o texto foi escrito para o público infantil ou para o público adulto? Justifique sua resposta.

Possível resposta: O assunto do texto é de interesse do público infantil; a música “Nana, neném” é cantada para crianças.

TEXTO: SUPERMÁQUINAS PEQUENINAS - REVISTA GALILEU - COM GABARITO

 TEXTO: SUPERMÁQUINAS PEQUENINAS

    

  Barquinhos, carrinhos, aviõezinhos, trenzinhos. Todos surgiram da mesma maneira: inventores criavam as máquinas, como fez santos Dumont, e os fabricantes de brinquedos copiavam em menor escala. No Egito Antigo, artesãos observavam os barcos a vela no Rio nilo e imitavam em miniaturas. Napoleão III, admirador de trens movidos a corda, até construiu uma miniferrovia com estações e desvios nos jardins de seu palácio. Os carrinhos nasceram com os automóveis, no início do século 20. Inicialmente feitos de peças de madeira, exigiam seis crianças para carrega-los.

                         Revista Galileu, ano 11, nº 125. São Paulo, Globo, dezembro/2001.

1)   No texto Supermáquinas pequeninas, dois substantivos próprios foram propositalmente escritos com letra inicial minúscula. Identifique-os e reescreva-os adequadamente.

            As palavras são “Santos” e “Nilo”.

        2)   Encontre, no texto, pelo menos três substantivos comuns.

    Sugestões: barquinhos, carrinhos, aviõezinhos, trenzinhos, maneira, inventores, máquinas, fabricantes, brinquedos, escala, artesãos, barcos, vela, miniaturas, trens, corda, etc.

       3)   Releia a seguinte frase do texto:

          “Barquinhos, carrinhos, aviõezinhos, trenzinhos.”

       Agora procure explicar porque a palavra barquinhos está escrita com letra inicial maiúscula se ela é um substantivo comum.

       É devido ao fato de esse substantivo comum estar iniciando a frase/o texto.