terça-feira, 8 de dezembro de 2020

TEXTO: MEU PAI - GRACILIANO RAMOS - COM GABARITO

 Texto: MEU PAI

          Graciliano Ramos 

        Espanto, e enorme, senti ao enxergar meu pai abatido na sala, o gesto lento.  Habituara-me a vê-lo grave, silencioso, acumulando energia para gritos medonhos. Os gritos vulgares perdiam-se; os dele ocasionavam movimentos singulares:  as pessoas atingidas baixavam a cabeça, humilde, ou corriam a executar ordens. Eu era ainda muito novo para compreender que a fazenda lhe pertencia.  Notava diferenças entre os indivíduos que se sentavam nas redes e os que se acocoravam no alpendre. O gibão de meu pai tinha diversos enfeites; no de amaro havia numerosos buracos e remendos. As nossas roupas grosseiras pareciam-me luxuosas comparadas à chita de Sinhá Leopoldina, à camisa de José Baía, sura, de algodão cru. Os caboclos se estazavam, suavam, prendiam arame farpado nas estacas. Meu pai vigiava-os, exigia que se mexessem desta ou daquela forma, e nunca estava satisfeito, reprovava tudo, com insultos e desconchavos. Permanente, essa birra tornava-se razoável e vantajosa: curvara espinhaços, retesara músculos, cavara na piçarra e na argila o açude que se cobria de patos, mergulhões e flores de baronesa. Meu pai era terrivelmente poderoso, e essencialmente poderoso. Não me ocorria que o poder estivesse fora dele, de repente o abandonasse, deixando-o fraco e normal, num gibão roto sobre a camisa curta...

        Sentado junto às armas de fogo e aos instrumentos agrícolas, em desânimo profundo, as mãos inertes, pálido, o homem agreste murmurava uma confissão lamentosa à companheira. As nascentes secavam, o gado se finava no carrapato e na morrinha. Estranhei a morrinha e estranhei o carrapato, forças evidentemente maiores que as de meu pai. Não entendi o sussurro lastimoso, mas adivinhei que ia surgir transformação. A vila, uma loja e dinheiro entraram-me nos ouvidos. O desalento e a tristeza abalaram-me. Explicavam a sisudez, o desgosto habitual, as rugas, as explosões de pragas e de injúrias. Mas a explicação me apareceu anos depois. Na rua examinei o ente sólido, áspero com os trabalhadores, garboso nas cavalhadas. Vi-o arrogante, submisso, agitado, apreensivo – um despotismo que às vezes se encolhia, impotente e lacrimoso. A impotência e as lágrimas não nos comoviam. Hoje acho naturais as violências que o cegavam. Se ele estivesse embaixo, livre de ambições, ou em cima, na prosperidade, eu e o moleque José teríamos vivido em sossego. Mas no meio, receando cair, avançando a custo, perseguido pelo verão, arruinado pela epizootia, indeciso, obediente ao chefe político, à justiça e ao fisco, precisava desabafar, soltar a zanga concentrada. Aperreava o devedor e afligia-se temendo calotes. Venerava o credor e, pontual no pagamento, economizava com avareza. Só não economizava pancadas e repreensões. Éramos repreendidos e batidos.

    Graciliano Ramos – Infância. São Paulo, Record, 1992. P. 25-27.

     Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 86-8.

Entendendo o texto: 

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Acocoravam-se: agachavam-se, ficavam de cócoras.

·        Alpendre: área coberta diante da casa.

·        Gibão: casaco de couro.

·        Sura: surrada.

·        Estazavam: cansavam, fatigavam.

·        Desconchavos: disparates, despropósitos.

·        Retesara: enrijecera, tornara rijo, duro.

·        Piçarra: rocha argilosa, cascalho.

·        Inertes: paradas, sem força.

·        Agreste: rústico, rude, áspero.

·        Morrinha: sarna epidêmica do gado.

·        Sisudez: seriedade, gravidade.

·        Ente: ser.

·        Garboso: elegante.

·        Despotismo: autoritarismo, tirania.

·        Epizootia: doença, contagiosa ou não, que ataca numerosos animais ao mesmo tempo e no mesmo lugar.

·        Aperreava: aborrecia, incomodava.

·        Calotes: logros, fraudes, danos.

·        Avareza: apego excessivo ao dinheiro, mesquinhez.

02 – Copie a alternativa correta. O narrador é:

a)   Um menino assustado pela agressividade do pai.

b)   Um adulto lembrando das impressões causadas por seu pai em sua infância.

c)   Um adulto falando das relações com seu pai.

03 – Que observações levam o narrador, ainda criança, a deduzir que seu pai era um homem poderoso?

      Ele percebia a diferença na roupa que vestiam, nas atitudes submissas das pessoas que viviam à volta do pai.

04 – O narrador está contando fatos acontecidos em que época de sua vida?

      Na primeira infância.

05 – Quais as características psicológicas do pai presentes no texto?

      O pai aparece como autoritário, violento, déspota, parcimonioso, pontual em seus pagamentos.

06 – Copie a alternativa correta. No texto, o pai:

a)   Tem sempre o mesmo comportamento.

b)   Apresenta uma mudança de comportamento.

c)   Apresenta constantes alterações em seu comportamento.

07 – Por que o narrador se surpreende com a mudança de comportamento do pai?

      Porque ele se acostumara ao seu modo grave de ser, sempre gritando com os empregados.

08 – Por que o pai repreendia e castigava os filhos?

      Para descarregar as frustações dele.

09 – Ao justificar, depois de adulto, o violento comportamento paterno, a que ele atribui esta atitude?

      A tentativa de manter uma posição social em meio ao verão, à epizootia, à política local e ao fisco.

10 – O narrador, quando criança, estranha o fato de haver forças maiores que as de seu pai. Que forças são essas?

      As forças da natureza (seca, doenças nos animais) e as forças políticas (chefe político local, justiça, fisco).

11 – As fortes pressões sofridas pelo pai para manter-se nos negócios faziam-no adquirir uma dimensão mais humana, tornavam-no “normal”. Pode-se dizer que, nessas ocasiões, estabelecia-se alguma afetividade entre o pai e os filhos? Retire do texto uma frase que justifique sua resposta.

      Não. Eles apenas o temiam, não o amavam: “A impotência e as lágrimas não nos comoviam”.

 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

TEXTO INFORMATIVO: COMO JOGAR FREE FIRE - PARA INICIANTES - COM GABARITO

 

TEXTO INFORMATIVO: Como jogar Free Fire – para iniciantes

 1. Celular para jogar: os requisitos mínimos

Free Fire é compatível com celulares Android e iOS, mas nem todos. Para Android o aparelho deve ter a versão do sistema Android 4.0.3 ou superior, além de 2GB de memória RAM e, pelo menos, 1GB de espaço livre no armazenamento.

Já para iOS Free Fire exige, no mínimo, iOS versão 8.0, além de iPhone que tenha, pelo menos, 2GB de memória RAM e 1GB de espaço livre no armazenamento.

2. Conexão com a Internet

Free Fire é um jogo de partidas multiplayer e, por isso, conexão com a Internet é obrigatória. Porém, é possível jogar tanto no Wi-Fi, quanto via rede de dados, 3G ou 4G, por exemplo.

3. Atenção aos personagens diferentes

Os itens cosméticos, ou seja, de decoração, não modificam a jogabilidade e suas habilidades dentro do game. Os personagens, sim.

O jogador começa com Adam e Eve, que não possuem habilidades. Com o tempo, ou com dinheiro, podem destravar outros.

Alguns dos principais personagens, e suas habilidades, são:

  • Caroline – 3% mais de velocidade com espingarda
  • Paloma – 30 Munição AR não ocupam espaço na mochila
  • Antonio – Receba 10HP quando a rodada começar
  • Kelly – Velocidade de corrida aumentada em 1%
  • Nikita – Velocidade de recarregar metralhadora aumenta em 4%
  • Misha – 5% menos de dano no veículo e velocidade do veículo aumenta em 2%
  • Ford – Reduz o dano fora da área de segurança em 4%


 Entendendo do texto

        1. Marque a opção incorreta.

          a)Os itens de decoração não modificam suas habilidades dentro do game.

a)                     b)Para se jogar o Free Fire a Internet é obrigatória.

b)                    c)Free Fire é compatível com todos os celulares Android e IOS.

c)                  d)O jogador começa com Adam e Eve mas que não possuem habilidades.

 

2. Uma característica presente nas instruções de jogos digitais que é possível encontrar no texto lido é

a) A presença de verbos no modo imperativo

b) O fato do texto possuir explicações sobre como se jogar acompanhado de um amigo.

c) Explicações básicas que permitirão o jogador iniciante a conhecer mais sobre o jogo e como jogá-lo.

d) O texto coloca o jogar em uma situação e depois ensina como sair dela.

 

3. Marque a alternativa incorreta sobre o gênero textual “Instruções de jogos digitais”.

a) São textos voltados para o oferecimento de explicações capazes de levar o leitor a realizar um objetivo.

b) Poderá haver diferenças nos textos instrucionais de acordo com a plataforma em que o jogo se realizar.

c) A semelhança entre as instruções de jogos e o tutorial é que ambos buscam orientar alguém a realizar um objetivo.

d) A tipologia textual desse gênero é descritiva.

 

 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): SAPATO 36 - RAUL SEIXAS - COM GABARITO

 Música(Atividades): Sapato 36

                                                            Raul Seixas

Eu calço é 37
Meu pai me dá 36
Dói, mas no dia seguinte
Aperto meu pé outra vez
Eu aperto meu pé outra vez

Pai eu já tô crescidinho
Pague prá ver, que eu aposto
Vou escolher meu sapato
E andar do jeito que eu gosto
E andar do jeito que eu gosto

Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai

Pai já tô indo-me embora
Quero partir sem brigar
Pois eu já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar
Que não vai mais me apertar

Por que cargas d'águas
Você acha que tem o direito
De afogar tudo aquilo que eu
Sinto em meu peito
Você só vai ter o respeito que quer
Na realidade
No dia em que você souber respeitar
A minha vontade
Meu pai
Meu pai

Pai já tô indo-me embora
Eu quero partir sem brigar
Já escolhi meu sapato
Que não vai mais me apertar (Êêêê)
Que não vai mais me apertar (Aaaa)
Que não vai mais me apertar (Êêêê)

                        Composição: Raul Seixas. In: Sylvio Passos e Toninho Buda. Uma antologia. São Paulo, Martin Claret, 1992. P. 223.

      Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 89-90.

Entendendo a canção:

01 – De acordo com o texto, como é o pai presente na canção?

      Ele é autoritário e violento e não respeita a vontade dos filhos.

02 – O que há de comum no filho presente neste texto?

      É vítima do autoritarismo do pai.

03 – Qual é atitude do filho com relação ao pai?

      A partir de certa idade, ele se revolta contra o autoritarismo do pai. Ele procura, no presente, justificativas para as atitudes violentas de seu pai. “Hoje acho naturais as violências que o cegavam.”

04 – Pense no que vimos sobre linguagem conotativa.

a)   Se entendermos os versos “Eu calço é 37 / Meu pai me dá 36” como uma imagem literária, um recurso utilizado pelo autor para que melhor compreendamos o que sente o eu poético, que sentido ganha esse trecho?

Sente que os horizontes do vão muito além daquilo que o pai lhe oferece e lhe permite.

b)   E os versos: “Quero partir sem brigar / Pois eu já escolhi meu sapato / Que não vai mais me apertar”?

Quero partir em busca de meus próprios caminhos, de minha liberdade.

 

CONTO: LUZ E EMOÇÃO - JOÃO GUIMARÃES ROSA - COM GABARITO

 Conto: LUZ E EMOÇÃO

JOÃO GUIMARÃES ROSA

        De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro da roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.

        -- Deus te abençoe, pequenino. Como é o teu nome?

        -- Miguilim. Eu sou irmão do Dito.

        -- E o seu irmão Dito é dono daqui?

        -- Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.

        O homem esbarrava o avanço do cavalo, que ere zelado, manteúdo, formoso como nenhuma outro. Redizia:

        -- Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas, que é que há, Miguilim?

        Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.

        -- Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em sua casa?

        -- É Mãe, e os meninos...

        Estava Mãe, estava Tio Terêz, estavam todos. O Senhor alto e claro se apeou. O outro que vinha com ele era uma camarada. O senhor perguntava a Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: __ “Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”

        Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.

        -- Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim...

        E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.

        -- Olha, agora!

        Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava o que tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha, a Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu: -- “Miguilim, você é piticego...” E ele respondeu: -- “Donazinha”...                                                   

        Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.

        “Você está triste, Miguilim?” __ Mãe perguntou.

        Miguilim não sabia. Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente, eram grandes demais.

        -- Pra onde ele foi?

        -- A foi pra a Vereda do Tipã, onde os caçadores estão. Mas amanhã ele volta, de manhã, antes de ir s’embora para a cidade. Disse que, você, querendo, Miguilim, ele junto te leva... -- O doutor era homem muito bom, levava o Miguilim, lá ele comprava uns óculos pequenos, entrava para a escola, depois aprendia ofício. -- “Você mesmo quer ir?”

        Miguilim não sabia. Fazia peso para não soluçar. Sua alma, até ao fundo, se esfriava. Mas Mãe disse:

       Vai meu filho. É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar. Vai. Fim do ano, a gente puder faz a viagem também. Um dia todos se encontram...

 Corpo e alma. Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro, Jose Olympio. V. 1. P. 100-102.

           Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 105-8.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Está em glória: está morto.

·        Descompassado: num ritmo irregular.

·        Esbarrava: impedia, detinha.

·        Careceu: precisou.

·        Manteúdo: bem cuidado.

·        Piticego: que tem problemas de visão.

·        Apeou: desceu do animal, desmontou.

02 – Faça um resumo do texto, completando o parágrafo abaixo:

        Miguilim é a personagem principal dessa história. Seu irmão Ditomorreu. O visitante chama-se José Lourenço. Ele é um homem poderoso. Percebe que Miguilim precisa de óculos e faz à mãe do menino a seguinte proposta: leva-lo à cidade, comprar óculos para o menino, matriculá-lo numa escola e ensinar-lhe um ofício.

03 – O texto é narrado em terceira pessoa. Entretanto, o narrador identifica-se com Miguilim em seu modo de ver e interpretar a realidade. O que o narrador procura passar para o leitor com as duas orações iniciais do texto?

      A dificuldade de Miguilim em enxergar. Ele vê apenas um velho, inicialmente, que depois se desdobra em dois vultos.

04 – Observe a primeira fala de Miguilim. O que ela nos revela?

      Ela nos revela sua forte ligação com o irmão que morrera, pois é como “irmão do Dito” que ele se apresenta ao estranho.

05 – É possível imaginar como seria a vida dessa família no lugar onde morava? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É um lugar bastante afastado, sem nenhum recurso. Um lugar onde o progresso ainda não chegou.

06 – Qual a reação do menino diante da experiência de enxergar com clareza o mundo à sua volta?

      O menino ficou extremamente emocionado, querendo falar sobre o que via.

07 – Por que o coração de Miguilim bateu descompassado ao colocar os óculos do doutor?

      Ele emocionou-se com a riqueza de detalhes de tudo que o rodeava. O que viu era tudo novidade para ele.

08 – Copie a alternativa correta:

        Miguilim não sabia se estava triste porque o médico partira.

        “Todos eram maiores do que ele, as coisas reviravam sempre dum modo tão diferente...” Esse trecho do texto quer mostrar que Miguilim:

a)   É muito criança e precisa da mãe para ajudá-lo em tudo.

b)   Sente-se imaturo e não quer aceitar as imposições do mundo adulto.

c)   Sente-se impotente diante dos fatos que ocorrem e escapam de seu controle.

09 – É sempre difícil a uma mãe separar-se de um filho, principalmente quando ele é pequeno. Por que, então, a mãe de Miguilim o incentiva a partir?

      Ela sabe que, se o menino continuar naquele lugar, além de continuar não enxergando, não terá nenhuma perspectiva de vida futura.

10 – O doutor oferece melhores perspectivas de vida para Miguilim, mas ele parece não se estusiasmar. Por quê?

      Ele está dividido entre ter a oportunidade de uma vida melhor e separar-se dos entes queridos.

11 – Que frase do texto mostra uma sensação muito forte de Miguilim, que poderia ser interpretada como medo de mudar de vida ou de enfrentar o desconhecido?

      “Sua alma, até ao fundo, se esfriava”.

12 – Escolha as alternativas que se apliquem a esta frase e copie-as: “É a luz dos teus olhos, que só Deus teve poder para te dar”.

a)   “Luz” significa não apenas “enxergar melhor” mas também uma oportunidade, uma saída para a vida do menino.

b)   A mãe agradece a Deus pelo fato de o menino poder vir a enxergar melhor.

c)   O aparecimento de José Lourenço é visto pela mãe como uma providência divina.

13 – O que você notou quanto ao vocabulário e às construções sintáticas desse texto?

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

CRÔNICA: BOM PROVEDOR - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Bom provedor

                 Luís Fernando Veríssimo

        Foi um escândalo quando a Vaninha – logo a Vaninha, tão delicada – apresentou o noivo às amigas. Era um troglodita.

        -- Não – contou a Ceres, depois. – Não é força de expressão. É um troglodita mesmo. Ele babou na minha frente. Ele babou na minha frente!

        O noivo babava. Seu vocabulário era limitado. Duas ou três interjeições e algumas palavras que só a Vaninha entendia e interpretava para os outros.

        -- Ele disse que tem muito prazer em conhecê-la, mamãe.

        -- Pensei que estivesse latindo.

        É preciso dizer que a Vaninha, coitada, vinha de um casamento malsucedido, com intelectual brilhante mas complicado, e tinha dois filhos para criar. E quando sua mãe, incapaz de se controlar depois de ver o futuro genro tirar o sapato e a meia e coçar a sola do pé na frente de todo o mundo, enquanto a Vaninha fingia que não via, disse "Francamente!", respondeu simplesmente:

        -- Digam o que disserem, ele é um bom provedor.

        Para espanto e indignação de todos, Vaninha casou com o troglodita. As amigas se distanciaram dela. Não era possível. O que a Vaninha, logo a Vaninha, formada em História da Arte, vira naquele monstro? Mas um dia, meses depois do casamento, a Ceres encontrou a mãe da Vaninha. E ouviu dela, estarrecida, um elogio ao genro.

        -- É um bom provedor.

        As amigas resolveram investigar. A Ceres, designada como patrulha avançada, foi visitar a Vaninha. Encontrou-a na cozinha da casa de subúrbio para onde se mudara com o troglodita e os dois filhos, retalhando um boi inteiro. O marido estava sentado no chão, num canto da cozinha, chupando um osso. Vaninha explicou que ele só se interessava por um determinado osso do boi. Saía de casa sem dizer para onde ia e voltava com um boi inteiro, ainda quente, sobre os ombros. E salivando com a antecipação do osso. O que sobrava do boi ficava para o resto da família. A Vaninha não perguntava para onde ele ia nem como matava o boi. O importante era que o freezer estava cheio de carne. A Ceres não queria levar um pedaço de carne para casa?

        Naquela mesma noite o marido da Ceres, Carlos Augusto, um homem elegantíssimo, bem articulado, campeão de gamão, depois de avisar que era preciso cortar as despesas da casa, que a situação na galeria não estava boa não, ouviu da mulher uma palavra forte e inédita.

        -- O que foi que você disse, Ceres?

        -- Imprestável!

        A Ceres passou a visitar a Vaninha regularmente. Aliás, todas as amigas da Vaninha foram se reaproximando dela, uma a uma. Passavam a tarde com a Vaninha, conversavam, riam muito, e sempre levavam um pedaço de carne para casa. Comentando que "Marido era aquele! Não o que elas tinham em casa! Babava, mas e daí?".

Novas comédias da vida privada. 123 crônicas escolhidas. São Paulo, L&PM, 1996.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 115-17.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Troglodita: homem primitivo, brutal.

·        Designada: nomeada, indicada para a realização de uma tarefa.

·        Força de expressão: exagero ao emitir julgamento sobre alguém ou alguma coisa.

·        Bem articulado: que fala bem.

·        Interjeições: palavras que exprimem emoções.

·        Gamão: tipo de jogo com tabuleiro.

·        Provedor: aquele que sustenta a casa.

·        Galeria: loja onde se vendem quadros e objetos de arte.

·        Estarrecida: muito espantada.

·        Inédita: nunca usada; original, incomum.

·        Imprestável: que não presta para nada.

02 – Compare Vaninha com o marido “troglodita”. O que você percebe?

      Vaninha é totalmente diferente ao marido. São pessoas opostas: ela é delicada e ele, um troglodita, um tipo grosseiro.

03 – Compare o primeiro marido da Vaninha com o segundo. O que você percebe?

      Também são pessoas totalmente diferentes. O primeiro é intelectual e complicado, o segundo, troglodita e simples.

04 – Quais são as informações sobre o marido da Vaninha presentes no texto? Ele é uma pessoa normal?

      O marido não fala, baba, coça o pé na frente dos outros, come osso de boi sentado no chão. Não parece ser uma pessoa normal.

05 – A personalidade de Vaninha é descrita em todos os detalhes ou apenas alguns pontos dela são ressaltados?

      Apenas alguns pontos, como sua delicadeza, sua formação intelectual e o fracasso do casamento anterior são mencionados.

06 – Por que Vaninha se casou com o troglodita? Comente a escolha feita.

      Vaninha casou-se porque ele era um bom provedor. Comentário pessoal.

07 – Como o casamento dela foi recebido pelas amigas?

      O casamento foi recebido com espanto e indignação.

08 – Por que, afinal, as amigas aceitaram o casamento da Vaninha?

      Porque perceberam que ela viva bem com o marido, pois ele, como bom provedor, não permitia que o freezer ficasse vazio.

09 – Por que Ceres ofendeu o marido chamando-o de “imprestável”?

      Porque, embora educado e gentil, Carlos Augusto não era um bom provedor.

10 – Você acredita que seria possível a história contada por Luís Fernando Veríssimo acontecer na realidade? Fundamente sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O autor leva as situações ao extremo para obter um efeito cômico, por meio do qual tece sua crítica de costumes.

11 – Indique quais das frases abaixo refletem o mesmo posicionamento de Vaninha e de suas amigas diante da vida e do casamento.

a)   “Prefira sempre necessitar menos a possuir mais”. (Thomas Kempis).

b)   “Felicidade: uma boa conta bancária, uma boa cozinheira e uma boa digestão”. (Rousseau).

c)   “O marido que quiser ter um casamento feliz deve aprender a conservar a boca fechada e o talão de cheques aberto”. (Groucho Marx).

d)   “A gente não quer só comida / A gente quer comida, diversão e arte / ...A gente não quer só dinheiro / A gente quer inteiro e não pela metade”. (Titãs).

e)   “Meu marido bebe e me maltrata, mas não me separo dele porque não deixa faltar nada em casa”. (Depoimento na TV).

f)    “Beleza não se põe na mesa.” (Provérbio).

12 – Para você, qual teria sido o objetivo do autor ao escrever o texto?

      Resposta pessoal do aluno.