terça-feira, 30 de julho de 2019

FÁBULA: O ASNO E O VELHO PASTOR - ESOPO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: O asno e o velho pastor
      
            Esopo

       Enquanto descansava, um velho pastor observava tranquilo seu asno pastando em um campo muito verde. De repente, ouviu ao longe os gritos de uma tropa de soldados inimigos que se aproximavam rapidamente.
      - Corra o mais rápido que puder, levando-me na garupa! implorou ao animal. – Senão nós dois seremos capturados.
      Então, com calma, o asno falou:
      - Por que eu deveria temer o inimigo? Você acha provável que o conquistador coloque em mim outros dois cestos de carga, além dos dois que já carrego?
      - Não – respondeu o pastor.
      - Então! – retrucou o animal. – Contanto que eu carregue os dois cestos que já possuo, que diferença faz a quem estou servindo?
MORAL: Ao mudar o governante, para o pobre, nada muda além do nome de seu novo senhor.
Esopo.
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.177/178.
Entendendo a fábula
1)   Quais são os personagens dessa fábula?
O asno e o velho pastor.

2)   Todas as ações da fábula se passam no mesmo dia? Explique.
Sim, os acontecimentos surgiram quando o velho pastor descansava.

3)   A história narrada por ESOPO refere-se a um fato:
(   ) real
(    ) histórico
( x ) fictício

4)   As respostas e os argumentos que o asno apresentou ao velho pastor:
(   ) eram sem fundamentos.
(  x ) forma respostas com fundamentos, válidas e justas.
(  ) eram respostas que o velho pastor  não conseguia entender.

5)   Explique, com suas palavras, a moral da história.
     Resposta pessoal.

6)   Qual o desfecho (situação final) da fábula?
O asno disse ao velho pastor que não importaria a quem ele ia servir, pois o trabalho seria o mesmo.



domingo, 28 de julho de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): PRIMEIROS ERROS - KIKO ZAMBIANCHI - COM QUESTÕES GABARITADAS

MÚSICA(ATIVIDADES): PRIMEIROS ERROS

                          Kiko Zambianchi

Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde vou
Meu destino não é de ninguém
Eu não deixo os meus passos no chão
Se você não entende, não vê
Se não me vê, não entende

Não procure saber onde estou
Se o meu jeito te surpreende
Se o meu corpo virasse Sol
Minha mente virasse Sol
Mas só chove chove
Chove chove

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros, ow

O meu corpo viraria sol
Minha mente viraria
Mas só chove chove
chove chove

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros, ow

O meu corpo viraria Sol
Minha mente viraria
Mas só chove chove
Chove chove, ow

O meu corpo viraria Sol
Minha mente viraria Sol
Mas só chove chove
Chove chove, ow

Chove chove, ow
Chove chove, ow
Chove chove

Kiko Zambianchi. Primeiros erros. Intérprete: Kiko Zambianchi. Em: Choque. Emi/Odeon, 1985.
Fonte: Livro - Para Viver Juntos - Português - 7º ano - Ensino Fundamental- Anos Finais - Edições SM - p.207.

ENTENDENDO A CANÇÃO

1)   O que a letra da canção expressa sobre o sentimento do eu lírico?
O eu lírico parece infeliz, com uma vida sem sol, sem alegria.

2)   Que palavra ou frase representa esse sentimento na canção?
“Mas só chove”.

3)   Há um desejo não realizado pelo eu lírico. Qual é ele? Como ele aparece?
O desejo de ficar alegre. Está representado pelo verso “O meu corpo viraria sol”.

4)   Quais marcas de subjetividade aparecem na letra?
A presença de pronomes como meu, minha e também as emoções vividas pelo eu lírico expressas pelas imagens poéticas.

5)   Na canção, aparece a repetição do verbo chove. Que sentido essa repetição acrescenta ao sentimento expresso pelo eu lírico?
A repetição intensifica o sentimento de tristeza do eu lírico.

6)   A chuva e o sol são metáforas utilizadas para se referir a quê, respectivamente?
À erros e acertos.


CONTO: ANANSE VIRA O DONO DAS HISTÓRIAS - ADWOA BADOE E BABA WAGUÉ DIAKITÉ - COM GABARITO

Conto: Ananse vira o dono das histórias


        Apenas uma coisa preocupava Ananse: como ele seria lembrado quando morresse! Seria bom poder deixar uma reputação. Seria bom poder ser lembrado entre os grandes e cantado como herói.
        Mas Ananse não dispunha de bravura militar, força assombrosa e sábios provérbios. Tinha apenas sua astúcia. Ele vivia de sua astúcia.
        “Seria bom”, pensou, “se todas as histórias me pertencessem”.
        -- “As histórias de Ananse” – ele proferiu, em voz alta, e achou que soava bem. Todos se lembrariam dele quando passassem as noites contando histórias.
        Ananse não perdeu tempo vangloriando-se do título. Mas, quando o rei das florestas ouviu falar daquilo, disse a Ananse:
        -- Nomes grandiosos são dados àqueles que empreendem grandes façanhas. O que você fez para merecer tal honra?
        Submeta-me a uma prova, grande rei, e descobrirá que não mereço menos – respondeu Ananse, ser se deixar perturbar.
        -- Até hoje ninguém capturou, com vida, três coisas: Wowa, a família inteira de abelhas melíferas; Aboatia, da floresta de gnomos; e Nanka, a píton. Realize esse feito e as histórias serão suas.
        -- Estou à sua disposição, majestade – respondeu Ananse – Embora seja pequeno, aprendi a descobrir as fraquezas dos grandes. Em três dias, terá prova de minha superioridade.
        Ananse passou a noite seguinte planejando suas conquistas e, de manhã cedo, iniciou sua jornada.
        Todo mundo sabe como as abelhas são ocupadas e como ficam zangadas quando as perturbamos e como aferroam quando as aborrecemos. Ananse levou isso em consideração quando se aventurou até a colmeia.
        -- Deve existir muitas de vocês por aqui – ele disse, como forma de saudação.
        -- Somos trezentas – respondeu a operária-chefe.
        -- O que? – gritou Ananse. – Disse que são duzentas?
        -- Trezentas – repetiu a abelha.
        -- Oh. Ouvi dizer que eram duzentas, na semana passada – mentiu Ananse. – Deve haver duzentas de vocês.
        -- Trezentas – zumbiu a operária-chefe, irritada.
        -- Duzentas – insistiu Ananse, em tom de desafio.
        Em pouco tempo, muitas abelhas entraram na discussão e todas gritavam os números que haviam contado.
        -- Muito bem – bradou Ananse, calando o zumbido.
        -- Para resolver essa questão de uma vez por todas, por que não me deixam conta-las?
        A sugestão pareceu justa aos interessados. Ananse mostrou às abelhas uma garrafa e disse:
        -- Basta que voem, uma de cada vez, para dentro da garrafa, que eu as contarei.
        A primeira foi a operária-chefe e, uma de cada vez, todas entraram na garrafa, até mesmo a rainha.
        -- Quantas somos? – Indagaram as abelhas.
        -- Trezentas – respondeu Ananse, selando a boca da garrafa.
        -- Eu falei – disse a operária-chefe.
        -- Sim, mas agora capturei todas vocês! – Disse Ananse. Embora zunissem com toda sua força, ela as carregou até sua casa.
        [...]
        O monarca ficou impressionado. Ele reconheceu a grandeza de Ananse e o consagrou como dono das histórias.
        Até hoje, em todo lugar onde se contam histórias, o nome de Ananse é mencionado como o senhor das melhores narrativas.

                Adwoa Badoe e Baba Wagué Diakité. Histórias de Ananse. São Paulo: SM, 2006.

Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.136 a 138.

Entendendo o conto:

01 – Releia este trecho do conto: “Mas Ananse não dispunha de bravura militar, força assombrosa e sábios provérbios. Tinha apenas sua astúcia. Ele vivia de sua astúcia.”
a)   Pensando nas atitudes de Ananse na história, explique o significado da palavra ASTÚCIA.
Astúcia é habilidade para não se deixar enganar ou para enganar outras pessoas.

b)   Você conhece outra personagem de conto ou lenda que seja famosa por tua astúcia?
Resposta pessoal do aluno. Possibilidade: A raposa.

02 – De que forma Ananse engana as abelhas?
      Provoca uma discussão sobre o número de abelhas na colmeia; propõe-se a conta-las para tirar a dúvida e, com isso, consegue aprisiona-las em uma garrafa.

03 – Ananse diz: “Aprendi a descobrir as fraquezas dos grandes”. Qual é a fraqueza das abelhas?
      A zanga ou ira e o fato de quererem mostrar que estavam certas.

04 – Releia estes trechos:
        “Todos se lembrariam dele quando passassem as noites contando histórias.”
        “Até hoje, em todo lugar onde se contam histórias, o nome de Ananse é mencionado como o senhor das melhores narrativas.”
Quais são as características do conto popular que podemos reconhecer nesses trechos?
      A tradição oral e sua transmissão de geração a geração.

05 – Os fatos vividos por Ananse são contados na terceira pessoa, mas há um momento em que o narrador se dirige diretamente ao leitor. Localize o trecho no texto e copie-o em seu caderno.
      Todo mundo sabe como as abelhas são ocupadas e como ficam zangadas quando as perturbamos e como aferroam quando as aborrecemos.

06 – Copie em seu caderno a frase que indica, nesse conto, que a história está chegando ao fim.
a)   “Quantas somos? – indagaram as abelhas”.
b)   “Trezentas – respondeu Ananse, selando a garrafa.”
c)   “Basta que voem, uma de cada vez, par dentro da garrafa, que eu as contarei.”
d)   “A primeira foi a operária-chefe e, uma de cada vez, todas entraram na garrafa, até mesmo a rainha.”

07 – Consulte um dicionário se necessário for, e define as palavras abaixo:
·        Consagrar: conferir um título, uma honra.

·        Gnomo: anão sem idade definida, que, segundo certa crença, vive no interior da Terra e tem a guarda de seus tesouros em pedras e metais preciosos.

·        Melífero: que produz mel.

·        Píton: serpente de até 8,5 m de comprimento, da região indo-malaia.

·        Vangloriar-se: ostentar os próprios méritos e conquistas, reais ou não.

          

TEXTO: O QUE VOCÊS ESTÃO OLHANDO? ESTADÃO - COM GABARITO

Texto: O que vocês estão olhando?

        Não tem escapatória. Onde quer que aterrisse, o Google Street View sempre deixa um rastro de polêmica a respeito do direito à privacidade. Para quem ainda não ouviu falar, trata-se de um serviço de mapas do Google que oferece vistas reais das ruas e avenidas de uma porção de cidades. [...]
        No que o Google Street View difere das câmeras de segurança que nos vigiam dia e noite, em todo lugar? Ele se limita a fotografar cenas urbanas, não se trata de uma vigilância constante em tempo real. As câmeras de segurança, por outro lado, nos filmam não só nas ruas, mas em lojas, edifícios e em outros locais privados de acesso público, sob o pretexto de controle da criminalidade.

               Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos, o-que-voces-estao-olhando, 622858,0. htm. Acesso em: 10 jul. 2011.

Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.142

Entendendo o texto:

01 – O Google é um site organizador de informações que oferece serviços de busca, de correio eletrônico e outros produtos. Você já conhecia o Google Street View?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Reescreva no caderno a oração que explica a função desse recurso “Ele se limita a fotografar cenas urbanas”, substituindo o adjetivo urbanas por uma expressão de sentido equivalente.
      Ele se limita a fotografar cenas das cidades.

03 – Essa troca alterou o sentido geral da oração? Por quê?
      Não, porque cenas urbanas é o mesmo que cenas das cidades.
           


sábado, 27 de julho de 2019

POEMA: O SABIÁ E O GAVIÃO - PATATIVA DO ASSARÉ - COM GABARITO

Poema: O Sabiá e o Gavião

Patativa do Assaré

Eu nunca falei à toa.
Sou um cabôco rocêro,
Que sempre das coisa boa
Eu tive um certo tempero.
Não falo mal de ninguém,
Mas vejo que o mundo tem
Gente que não sabe amá,
Não sabe fazê carinho,
Não qué bem a passarinho,
Não gosta dos animá. 

Já eu sou bem deferente.
A coisa mió que eu acho
É num dia munto quente
Eu i me sentá debaxo
De um copado juazêro,
Prá escutá prazentêro
Os passarinho cantá,
Pois aquela poesia
Tem a mesma melodia
Dos anjo celestiá.

Não há frauta nem piston
Das banda rica e granfina
Pra sê sonoroso e bom
Como o galo de campina,
Quando começa a cantá
Com sua voz naturá,
Onde a inocença se incerra,
Cantando na mesma hora
Que aparece a linda orora
Bejando o rosto da terra.

O sofreu e a patativa
Com o canaro e o campina
Tem canto que me cativa,
Tem musga que me domina,
E inda mais o sabiá,
Que tem premêro lugá,
É o chefe dos serestêro,
Passo nenhum lhe condena,
Ele é dos musgo da pena
O maiô do mundo intêro. 

Eu escuto aquilo tudo,
Com grande amô, com carinho,
Mas, às vez, fico sisudo,
Pruquê cronta os passarinho
Tem o gavião maldito,
Que, além de munto esquisito, 
Como iguá eu nunca vi, 
Esse monstro miserave 
É o assarsino das ave
Que canta pra gente uví. 

Muntas vez, jogando o bote,
Mais pió de que a serpente,
Leva dos ninho os fiote
Tão lindo e tão inocente.
Eu comparo o gavião
Com esses farso cristão
Do instinto crué e feio,
Que sem ligá gente pobre
Quê fazê papé de nobre
Chupando o suó alêio.

As Escritura não diz,
Mas diz o coração meu:
Deus, o maió dos juiz,
No dia que resorveu
A fazê o sabiá
Do mió materiá
Que havia inriba do chão,
O Diabo, munto inxerido,
Lá num cantinho, escondido,
Também fez o gavião. 

De todos que se conhece
Aquele é o passo mais ruim
É tanto que, se eu pudesse,
Já tinha lhe dado fim.
Aquele bicho devia
Vivê preso, noite e dia,
No mais escuro xadrez.
Já que tô de mão na massa,
Vou contá a grande arruaça
Que um gavião já me fez.

Quando eu era pequenino,
Saí um dia a vagá
Pelos mato sem destino,
Cheio de vida a iscutá
A mais subrime beleza
Das musga da natureza
E bem no pé de um serrote
Achei num pé de juá
Um ninho de sabiá
Com dois mimoso fiote.

Eu senti grande alegria,
Vendo os fíote bonito.
Pra mim eles parecia
Dois anjinho do Infinito.
Eu falo sero, não minto.
Achando que aqueles pinto
Era santo, era divino,
Fiz do juazêro igreja
E bejei, como quem bêja
Dois Santo Antõi pequenino. 

Eu fiquei tão prazentêro
Que me esqueci de armoçá,
Passei quage o dia intêro
Naquele pé de juá.
Pois quem ama os passarinho,
No dia que incronta um ninho,
Somente nele magina.
Tão grande a demora foi,
Que mamãe (Deus lhe perdoi)
Foi comigo à disciprina.

Meia légua, mais ou meno,
Se medisse, eu sei que dava,
Dali, daquele terreno
Pra paioça onde eu morava.
Porém, eu não tinha medo,
Ia lá sempre em segredo,
Sempre. iscondido, sozinho,
Temendo que argúm minino,
Desses perverso e malino
Mexesse nos passarinho.

Eu mesmo não sei dizê
O quanto eu tava contente
Não me cansava de vê
Aqueles dois inocente.
Quanto mais dia passava,
Mais bonito eles ficava,
Mais maió e mais sabido,
Pois não tava mais pelado,
Os seus corpinho rosado
Já tava tudo vestido. 

Mas, tudo na vida passa.
Amanheceu certo dia
O mundo todo sem graça,
Sem graça e sem poesia.
Quarqué pessoa que visse
E um momento refritisse
Nessa sombra de tristeza,
Dava pra ficá pensando
Que arguém tava malinando
Nas coisa da Natureza. 

Na copa dos arvoredo,
Passarinho não cantava.
Naquele dia, bem cedo,
Somente a coã mandava
Sua cantiga medonha.
A menhã tava tristonha
Como casa de viúva,
Sem prazê, sem alegria
E de quando em vez, caía
Um sereninho de chuva.

Eu oiava pensativo
Para o lado do Nascente
E não sei por quá motivo
O só nasceu diferente,
Parece que arrependido,
Detrás das nuve, escondido.
E como o cabra zanôio,
Botava bem treiçoêro,
Por detrás dos nevoêro,
Só um pedaço do ôio.

Uns nevoêro cinzento
Ia no espaço correndo.
Tudo naquele momento
Eu oiava e tava vendo,
Sem alegria e sem jeito,
Mas, porém, eu sastifeito,
Sem com nada me importá,
Saí correndo, aos pinote,
E fui repará os fiote
No ninho do sabiá.

Cheguei com munto carinho,
Mas, meu Deus! que grande agôro!
Os dois véio passarinho
Cantava num som de choro.
Uvindo aquele grogeio,
Logo no meu corpo veio
Certo chamego de frio
E subindo bem ligêro
Pr’as gaia do juazêro,
Achei o ninho vazio.

Quage que eu dava um desmaio,
Naquele pé de juá
E lá da ponta de um gaio,
Os dois véio sabiá
Mostrava no triste canto
Uma mistura de pranto,
Num tom penoso e funéro,
Parecendo mãe e pai,
Na hora que o fio vai
Se interrá no cimitéro. 

Assistindo àquela cena,
Eu juro pelo Evangéio
Como solucei com pena
Dos dois passarinho véio
E ajudando aquelas ave,
Nesse ato desagradave,
Chorei fora do comum:
Tão grande desgosto tive,
Que o meu coração sensive
Omentou seus baticum.

Os dois passarinho amado
Tivero sorte infeliz,
Pois o gavião marvado
Chegou lá, fez o que quis.
Os dois fiote tragou,
O ninho desmantelou
E lá pras banda do céu,
Depois de devorá tudo,
Sortava o seu grito agudo
Aquele assassino incréu. 

E eu com o maiô respeito
E com a suspiração perra,
As mão posta sobre o peito
E os dois juêio na terra,
Com uma dó que consome,
Pedi logo em santo nome
Do nosso Deus Verdadêro,
Que tudo ajuda e castiga:
Espingarda te preciga,
Gavião arruacêro! 

Sei que o povo da cidade
Uma idéia inda não fez
Do amô e da caridade
De um coração camponês.
Eu sinto um desgosto imenso
Todo momento que penso
No que fez o gavião.
E em tudo o que mais me espanta 
É que era Semana Santa!
Sexta-fêra da Paixão! 

Com triste rescordação
Fico pra morrê de pena,
Pensando na ingratidão
Naquela menhã serena
Daquele dia azalado,
Quando eu saí animado
E andei bem meia légua
Pra bejá meus passarinho
E incrontei vazio o ninho!
Gavião fí duma égua!

    Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 2002.
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.112 e 113.
Entendendo o poema

1)   De que fala o eu poético?
De pessoas que não sabem amar.

2)   O texto procura registrar a fala característica de certa região do Brasil, por isso a flexão de substantivos para o plural não é feita como recomenda a norma-padrão. Isso se nota nos versos:

I . “Eu nunca falei à toa.
     Sou um caboco rocêro”.
II. “Não qué bem a passarinho,
    Não gosta dos animá”.
III. “Não falo mal de ninguém...”

3)   Se a regra gramatical para fazer o plural tivesse sido seguida, o que aconteceria com as rimas no final dos versos 7 e 10?
Elas se perderiam: amá/animá (amar/animais).
Perderiam também o ritmo e deixaria de ser fiel à linguagem do indivíduo que se quer retratar.

4)   Cite alguns exemplos de linguagem oral regional usada pelo autor e que contribui com as rimas, mostrando o estilo oralizado do sertanejo.
armoçá/frauta/resorvê/disciprina
Ausência de marca de plural – das coisas boa / os passarinho cantá

5)   De que trata o poeta nesse poema?
Trata de uma experiência vivida pelo poeta, em que se pode perceber, no encadeamento dos versos, a expressão, os seus pensamentos, os seus juízos sobre o que descreve e a afetividade com que trata do assunto.

6)   No poema pode observar que é uma oposição que existe entre os dois pássaros: o sabiá e o gavião. Caracterize-os.
O sabiá – ave típica com canto melodioso que encanta e alegra.
O gavião – ave destituída dessas características e que, por se alimentar de outras aves, é considerado mau.

7)   De que o poeta deixa claro a partir da oitava estrofe?
A evidência de sua experiência ao retomar um fato acontecido em sua infância.

      8) Na 2ª estrofe, o eu lírico diz do que gosta. Comente o que ele diz.

      O eu lírico diz que gosta dos dias muito quentes em que se senta à sombra de um juazeiro e escuta, com prazer, os passarinhos a cantar... Esse canto lhe parece a mesma melodia dos anjos do céu.

 9) Na 3ª estrofe faz uma comparação. Qual é ela? E por que a faz? O que deseja transmitir?

      O eu lírico compara o canto do galo-de-campina ao som da flauta e do pistão. Nada tão fino e tão rico é tão belo quanto o canto que destaca. Ele o faz porque ama a natureza e nada, para ele, é tão belo. O eu lírico faz uso de palavras simples, mas de profunda sensibilidade comparativa.

  10) O que você entende dos versos: “Que aparece a linda orora / Beijano o rosto da terra”? Explique o sentido.

      É o amanhecer. Num sentido conotativo, ocorre a comparação do sol a surgir como se seus raios beijassem a terra.

    11) Nessa 1ª parte, o eu lírico cita algumas aves. Procure seus nomes no dicionário. Pesquise como são, se cantam, etc.

      As aves são o galo-de-campina, o sofreu, a patativa, o canário e o sabiá. Resposta pessoal do aluno.

   12) O maior dos seresteiros, para o eu lírico, quem é? Por quê? Você sabe o que é um seresteiro? Pesquise e relacione a palavra ao texto.

      O sabiá é o melhor dos seresteiros para Patativa. Resposta pessoal do aluno.

    13)Qual é o maior inimigo das aves, na região? A quem o eu lírico o compara?

      O gavião (coã), que é comparado à serpente e aos fariseus.

    14) Em que lugar deveria estar o gavião, segundo o eu lírico? E por quê?

      Morto, porque é assassino cruel.

    15) O eu lírico foi acompanhando o crescimento dos filhotes do sabiá. Descreva a cena da 2ª parte do poema.

      O eu lírico fala do crescimento dos filhotes, destacando a mudança física. “Não tava mais pelado / O seu corpinho rosado / Já tava todo vestido”.

    16) Houve o dia da desgraça. O dia em que o gavião devorou os filhotes. Observe a poesia colocada na força de cada palavra e descreva: a cena, a reação do garoto e o sentimento do garoto.

      O autor inicia dizendo que o mundo (tudo) está sem graça. Isso já indica a desgraça. Observar o fogo das palavras: sem graça / com desgraça. Havia um canto medonho da coã (acauã). E, percebendo algo anormal, o garoto sai correndo aos pinotes para procurar os filhotes. Seu sentimento de tristeza foi intenso a ponto de quase desmaiar. Chorou muito. Seu batimento cardíaco aumentou. Ajoelhou-se e pediu a Deus que o gavião fosse morto por uma espingarda traiçoeira, como castigo.

  17) Segundo o eu lírico, a natureza participava de tamanha rudeza. Por quê?

      Porque não havia alegria, sol canto alegre. Tudo parecia medonho...

18) Coã é o próprio gavião assassino. Por que, naquele difícil momento, ele soltou seu canto?

      Foi o canto da vitória para a coã (o gavião acauã); mas o da desgraça para o garoto e a mãe natureza.

19) O que diz o eu lírico a respeito do assassino?

      Que ele deveria levar um tiro de espingarda.

20) O que mais surpreendeu o eu lírico naquele dia?

      Ver a natureza fúnebre dos velhos sabiás.