terça-feira, 25 de junho de 2019

CONTO: PROMETEU - BERNARD EVSLIN - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: PROMETEU
   
         Bernard Evslin

        Prometeu era um jovem Titã que não tinha lá muito respeito por Zeus. Embora soubesse que o soberano dos céus se irritava quando lhe faziam perguntas muito diretas, não hesitava em confrontá-lo sempre que queria saber alguma coisa.
        Certa manhã, dirigiu-se a Zeus e disse:
   − Oh, grande Senhor dos Raios, não compreendo seu propósito. O senhor colocou a raça humana sobre a Terra, mas insiste em mantê-la na ignorância e na escuridão.
      − Da raça humana cuido eu – respondeu Zeus. 
   – O que você chama de ignorância é inocência. O que você chama de escuridão é a sombra da minha vontade. Os mortais estão felizes como estão. E foram concebidos de tal forma que vão continuar felizes até que alguém os convença do contrário. Para mim esse assunto está encerrado.
        Mas Prometeu continuou:
        − Olhe para a Terra. Olhe para os homens. Eles vivem nas cavernas, andam à mercê dos animais selvagens e das mudança do tempo. Comem carne crua! Se existe algum propósito nisso, eu imploro, diga-me qual é! Por que o senhor se recusa a dar aos homens o dom do fogo?
        Zeus respondeu:
        − Por acaso você não sabe, jovem Prometeu, que para cada dom existe uma punição? É assim que as Moiras fiam o destino, ao qual até mesmo os deuses devem se submeter. Os mortais não conhecem o fogo, é verdade, nem os ofícios que dele advêm. Por outro lado, também, não conhecem a doença, a velhice, a guerra, nem aquela peste interior chamada preocupação. Acredite em mim, eles estão felizes sem o fogo. E assim devem permanecer.
        − Felizes como os animais – argumentou Prometeu. – Qual é o sentido de criar os humanos e fazer deles uma raça distinta, dotando-os de escassa pelagem, de certa inteligência e do curioso charme da imprevisibilidade? Se devem viver dessa maneira, por que separá-los dos animais?
        − Os humanos têm ainda outra qualidade – disse Zeus – Eles possuem o dom da adoração: uma para admirar nosso poder, para ficarem intrigados diante de nossos enigmas, para se maravilharem diante de nossos caprichos. Foi para isso que foram criados.
        − Mas não ficariam mais interessantes se dominassem o fogo e criassem maravilhas com ele?
        − Mais interessantes, talvez, porém infinitamente mais perigosos. Pois os humanos contam ainda com mais esta característica: a vaidade, um orgulho próprio que, ao menor estímulo, pode adquirir proporções descomunais. Dê a eles o progresso, e eles imediatamente se esquecerão daquilo que os torna seres assim tão aprazíveis: a humildade e a disposição para adorar. Vão ficar todos cheios de si e vão começar a se considerar deuses também. Corremos o risco de vê-los bem aqui, à nossa porta, prontos para invadir o Olimpo. Agora chega, Prometeu! Tenho sido paciente com você, mas minha paciência tem limites! Agora vá embora, e não me perturbe mais com suas especulações.
        Prometeu não se deu por satisfeito. Passou toda aquela noite acordado, fazendo planos. Na madrugada, levantou-se de seu sofá e, pé ante pé, atravessou o Olimpo. Segurava um caniço dentro do qual havia um pavio de fibras secas. Assim que chegou à beira do monte, esticou o braço em direção ao horizonte leste – onde brilhavam os primeiros raios de sol – e deixou que o pavio se acendesse no fogo. Em seguida, escondeu o caniço em sua túnica e desceu à Terra.
        De início, os homens ficaram assustados com o presente. Era tão quente, tão fugaz... Não se deixava tocar e, por puro capricho, fazia dançar as sombras que criava sobre o chão. Eles agradeceram a Prometeu e pediram que ele levasse o presente de volta. Mas Prometeu buscou a carne de um cervo caçado recentemente e a segurou sobre o fogo. Quando a carne começou a assar e a crepitar, impregnando a caverna com seu cheiro delicioso, as pessoas se deixaram levar pela fome e se lançaram sobre o assado, devorando-o voluptuosamente e queimando suas línguas.
        − Isto que trouxe de presente chama-se “fogo” – explicou Prometeu. – Trata-se de um espírito indomável, um pequeno irmão do Sol. Mas se for tratado com cuidado, poderá mudar a vida de toda a humanidade. Também é um espírito guloso; vocês devem alimentá-lo com galhos e folhas, porém somente até que ele atinja um tamanho adequado. Depois disso, não o alimente mais, ou ele devora tudo que estiver ao seu alcance, inclusive vocês. Somente uma coisa será capaz de detê-lo: a água. O espírito do fogo teme o espírito da água. Se for tocado pela água, ele desaparece até que seja chamado novamente.
        Prometeu saiu da caverna onde estava e deixou ali uma fogueira acesa. Criancinhas com olhos arregalados se juntaram em torno da novidade. Em seguida, percorreu todas as cavernas sobre a face da Terra e repetiu o mesmo discurso.
        Algum tempo depois, Zeus olhou do alto do Olimpo e ficou perplexo. Tudo havia mudado. Os homens haviam deixado suas cavernas. Zeus viu cabanas de lenhadores, fazendas, vilarejos, cidades muradas, e até mesmo um castelo ou dois. Os homens cozinhavam os alimentos e carregavam tochas para iluminar seu caminho à noite. No interior de oficinas flamejantes, fabricavam cochos, quilhas, espadas e lanças. Construíam navios e costuravam velas, ousando se aproveitar da fúria dos ventos para se locomover. Usavam capacetes e travavam batalhas montados em bigas, assim como faziam os próprios deuses.
        Zeus ficou furioso e imediatamente apanhou o maior raio de que dispunha.
        − Se eles querem fogo – disse a si mesmo –, então fogo eles terão! E muito mais do que pediram! Vou transformar aquele mísero planeta que eles chamam de Terra em um monte de cinzas! – Mas, de repente, uma ideia surgiu em sua mente e Zeus abaixou o braço. – Além de vingança – prosseguiu – quero diversão! Que eles se destruam com suas próprias mãos e suas próprias descobertas! Vai ser um espetáculo longo, muito interessante de se ver! Deles posso cuidar depois. Meu assunto agora é com Prometeu!
        Zeus chamou sua guarda de gigantes e ordenou que eles prendessem Prometeu, levassem-no até o Cáucaso e o amarrassem ao pico de uma montanha com correntes tão fortes – especialmente forjadas por Hefesto – que nem um Titã em fúria seria capaz de arrebentá-las. Feito isso, chamou dois abutres e mandou que eles comessem lentamente o fígado daquele obstinado amigo dos mortais.
        Os homens sabiam que algo de terrível acontecia no alto da montanha, mas não sabiam exatamente o quê. O vento uivava como um gigante atormentado e, às vezes, gritava como as aves de rapina.
        Prometeu permaneceu ali durante muitos séculos, até nascer outro herói suficientemente corajoso para desafiar os deuses. Esse herói foi Héracles, que subiu até a montanha, cortou as correntes que prendiam Prometeu e matou os abutres.
        Bernard Evslin. Heróis, deuses e monstros da mitologia grega.  
São Paulo: Benvirá, 2012. (Texto adaptado)

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, de o significado das palavras abaixo:
·        Advir: resultar, ocorrer como consequência.
·    Biga: entre os romanos, carro de duas ou quatro rodas, puxado por dois cavalos.
·        Caniço: cana comprida e flexível.
·        Crepitar: estalar, arder ao fogo fazendo barulho.
·        Quilha: peça estrutural básica do casco das embarcações.

02 – Nesse mito, Prometeu e Zeus se põem em confronto.
a)   Qual é o conflito entre eles?
Prometeu considera injusto manter os seres humanos na ignorância e na escuridão e pretende dar-lhes o dom do fogo. Zeus, no entanto, alega que os humanos não são ignorantes, mas inocentes, e que não estão na escuridão, mas sob a sombra da vontade divina. Para Zeus, se os mortais perderem esse estado em que se encontram, perderão a felicidade.

b)   Zeus é o Deus supremo do Olimpo, a morada grega dos deuses. Ao confrontá-lo, que característica Prometeu revela?
Prometeu revela ser ousado e independente.

03 – Prometeu desejava que os humanos saíssem da escuridão e da ignorância e por isso deu a eles o fogo. O que o fogo simboliza nesse mito?
      O fogo simboliza a possibilidade de ver a realidade com mais clareza, o conhecimento, a sabedoria, a instrução e, como consequência, o desenvolvimento, a evolução.

04 – Releia: “[...] Os mortais não conhecem o fogo, é verdade, nem os ofícios que dele advêm. Por outro lado, também, não conhecem a doença, a velhice, a guerra, nem aquela peste interior chamada preocupação. Acredite em mim, eles estão felizes sem o fogo.”

a)   Você concorda com o argumento usado por Zeus? Se sim, justifique. Se não, apresente um contra-argumento, ou seja, um argumento que se oponha ao usado por Zeus.
Resposta pessoal do aluno.

b)   Ao negar o fogo aos mortais, o que Zeus também está negando?
Zeus está negando aos seres humanos a liberdade. Ele prefere mantê-los na ignorância do bem e do mal da vida a vê-los fazerem escolhas erradas.

c)   Afinal, as previsões de Zeus se cumprem ou não depois que os seres humanos conquistam o fogo?
Sim. Os humanos, que a princípio se encantam com o fogo para cozinhar os alimentos e torna-los mais saborosos, em pouco tempo passam também a usar o fogo para fabricar espadas, lanças, capacetes e travar batalhas.

05 – Prometeu recebe um castigo terrível por ter se rebelado contra Zeus em favor dos humanos.
a)   O que pretendia Prometeu ao roubar o fogo?
Prometeu pretendia das aos humanos um presente que, tratado com cuidado, poderia mudar a vida de toda a humanidade, livrando-a da escuridão e da ignorância.

b)   Na sua opinião, a rebeldia de Prometeu valeu a pena, apesar do castigo sofrido?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Zeus não se vinga dos mortais, pois prefere que eles “se destruam com suas próprias mãos e suas próprias descobertas”. O que provavelmente Zeus quis dizer com essa frase?
Ele quis dizer que os seres humanos, em nome de crenças, de ideologias, de desejo de poder, lutarão uns contra os outros, e suas invenções e descobertas os levarão não só ao progresso, mas também à destruição.

06 – Releia: “Algum tempo depois, Zeus olhou do alto do Olimpo e ficou perplexo”.
a)   Se Zeus “Olhou do alto do Olimpo”, onde estão as pessoas para quem ele olha?
Em algum lugar abaixo do Olimpo. Na Terra, de acordo com o texto.

b)   O Olimpo era a morada dos deuses gregos e ficava no alto. Considerando sua função e sua posição, o que o Olimpo podia significar para os seres humanos.
Provavelmente, o Olimpo era considerado um lugar sagrado e digno de reverência. Devia ser um lugar inatingível para os humanos.

07 – O mito que Prometeu nos conta sobre a origem do fogo. É possível determinar em que tempo acontece a história? Explique.
      Não. Sabemos que os fatos narrados se ligam aos primórdios da humanidade, mas não é possível determinar o ano, o século ou o milênio em que ocorreram.

08 – Quais expressões de tempo marcam a narrativa lida?
      As marcas de tempo são imprecisas: “Certa manhã, dirigiu-se a Zeus [...]”; “Algum tempo depois, Zeus olhou do alto do Olimpo [...]”; “Prometeu permaneceu ali durante muitos séculos [...]”.

09 – Quanto tempo dura a história narrada nesse mito?
      Não há um tempo determinado. A história tem início em um tempo relacionado à época da origem da humanidade, quando os seres humanos não haviam começado a usar o fogo. Estende-se por tempo suficiente para que eles abandonem as cavernas, passem a habitar vilas, comecem a produzir artefatos complexos e a guerrear munidos de espadas e capacetes. Faz referência aos séculos posteriores em que Prometeu permanece acorrentado.


HISTÓRIA EM QUADRINHOS - SUJEITO INDETERMINADO - COM QUESTÕES GABARITADAS

      HISTÓRIA EM QUADRINHOS                                                                
 Snoopy, de Charles Schulz.

Entendendo a história:

01 – Charlie Brown está lendo no jornal as novidades sobre foguetes quando faz um comentário. A quem o verbo aparecer pode estar se referindo?
      Aos jornalistas, que publicam novidades sobre o assunto diariamente; aos cientistas, que fazem constantemente novos testes e descobertas; ou aos institutos de pesquisa para os quais eles trabalham.

02 – Gramaticalmente, como se classifica o sujeito dessa oração?
      Sujeito indeterminado.

03 – Há outros exemplos do mesmo tipo de sujeito na tira? Exemplifique.
      Sim. No terceiro quadrinho, Charlie Brown o utiliza mais duas vezes (“estavam enviando cães”; “estão enviando ratos”).

04 – A determinação do sujeito no segundo e no terceiro quadrinhos traz algum ganho para o sentido da tira? Explique sua resposta.
      Não. O importante no texto são as ações praticadas no contexto das pesquisas espaciais, e não a identificação de quem as realiza.

Mafalda, de Quino.

Entendendo a história:

01 – No primeiro quadrinho, a expressão de Mafalda revela entusiasmo e expectativa. Que sentimentos a menina parece expressar no segundo e no terceiro quadrinhos?
      No segundo, a menina parece surpresa e desapontada; e, no terceiro, verdadeiramente indignada.

02 – Qual é a causa dessas mudanças?
      O entusiasmo inicial liga-se à expectativa que Mafalda tinha de que Filipe já tivesse aprendido a escrever. Sua surpresa e desapontamento decorrem de isso não ter acontecido, apesar de ele ter passado “o dia inteiro” na escola. Sua indignação deve-se à descoberta de que o aprendizado da escrita demora meses para acontecer, e ela culpa a burocracia por essa demora.

03 – Que recurso foi usado na tira para indicar quem deveria ter ensinado Filipe a ler e a escrever?

      Mafalda emprega o sujeito indeterminado (te “ensinaram”), e, em suas respostas, Filipe a acompanha nessa opção (me “ensinassem”, “ensinarem”).




MENSAGEM ESPÍRITA: GRANDEZA DA RENÚNCIA - DIVALDO PEREIRA FRANCO(JOANNA DE ÂNGELIS) - PARA REFLEXÃO

Grandeza da Renúncia

         Alberto Dürer, o excelente pintor alemão, antes de notabilizar-se, necessitando de estudar, combinou com um jovem amigo, igualmente artista, sobre a necessidade se transladarem para um núcleo de maior cultura no qual aprimorariam o estilo. Para tanto, porque não dispusessem de um Mecenas que os ajudasse, um trabalharia na faina rude de lavador de pratos, enquanto o outro pintava, de modo que, com a venda dos primeiros quadros, o que trabalhava passaria a estudar.
             Estabelecidas as bases do cometimento, os dois amigos deram início ao labor, afirmando Alberto: Eu me dedicarei ao trabalho, pelo que o outro respondeu: Eu sou mais velho e já tenho emprego no restaurante. Aquiescendo com o amigo, Dürer começou a estudar e a pintar. Quando reuniram uma soma que permitia que o outro estudasse, o mesmo largou o trabalho e dirigiu-se à Escola.
           Percebeu, porém, que a atividade rude destruíra-lhe a sensibilidade táctil, desequilibrara-lhe o ritmo motor, dando-se conta de que nunca atingiria a genialidade, ainda mais, descobrindo a qualidade superior do amigo. Dotado de sentimentos nobres renunciou à carreira e prosseguiu trabalhando.
        Numa noite em que Dürer retornou ao estúdio, ao abrir silenciosamente a porta, estacou na sombra, vendo pela clarabóia do teto o reflexo do luar que se adentrava, iluminando duas mãos postas em atitude de prece. Era o amigo, ajoelhado, que rogava bênçãos para o companheiro triunfar na pintura.
         O artista, comovido ante a cena, imortalizou-a numa pequena tela, que passou à posteridade no Estudo para as mãos de um apóstolo, para o altar de Heller, hoje na Albertina, em Viena.
        A renúncia é a emoção dos Espíritos Superiores transformada em bênçãos pelo caminho dos homens. Quem renuncia estabelece para o próximo a diretriz do futuro em clima de paz. A renúncia é melhor para quem a oferta. Poder ceder, quando é fácil disputar; reconhecer o valor de outrem, quando se lhe está ao lado, ensejando-lhe oportunidade de crescimento; ajudar sem competir, são expressões elevadas da renúncia que dá à vida um sentido de significativa grandeza.
         O caminho, hoje juncado de cardos, de abrolhos, é o mesmo trilho abençoado e livre que ontem foi percorrido com egoísmo. A senda áspera, marcada pelo pantanal de agora, não é outra, senão aquela que ficou ao abandono. A estrada, de passagem difícil, é fruto do esquecimento a que foi relegada por quem a percorreu. Retornam sempre os pés andarilhos pelo roteiro já conhecido como os astros, no seu périplo no infinito, volvem ao mesmo curso, obedecendo à matemática da gravidade universal.
           Felizes aqueles que hoje cedem para amanhã receber; os que agora doam para mais tarde enriquecer-se; os que compreendem que a verdadeira felicidade consiste em ajudar e passar, sem impor nem tomar. Quem renuncia, enfloresce a alma de paz, granjeando a gratidão da vida pelo que recebe. Jesus, renunciando ao sólio do Altíssimo, veio conviver conosco e suportar-nos. Reconhecendo a nossa pequenez, renunciou à Sua grandeza. Para fazer-se entender, renunciou à Sua sabedoria transcendental.


TEXTO: HOJE É DIA DO TRABALHO - GABRIEL GAIARSA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Hoje é Dia do Trabalho
         
                   GABRIEL GAIARSA

        Andréa de Oliveira; 19 anos; catadora de lixo; salário de R$ 150,00/mês; “Queria ser empregada doméstica, mas não encontro emprego”.

        Aterro sanitário de Carapicuíba. São 11 horas da manhã, e a temperatura é de quase 30 graus. Cheiro insuportável, e moscas tão grandes que parecem ter saído de um filme de ficção científica. Entre os enormes caminhões que quase atropelam os menos atentos, correm crianças, jovens, adultos e velhos, à procura daquilo que foi considerado inútil, velho ou podre pelos moradores de uma das maiores metrópoles do mundo.
        O local é popularmente conhecido por Lixão de Carapicuíba. Em meio a esse caos, circula Andréa Oliveira,19 anos.
        Andréa nasceu na favela do Porto, vizinha do Lixão. Desde pequena, fez do local o seu "jardim". Aos sete anos, começou a trabalhar catando lixo. Sua rotina é procurar papelão e plásticos na imundície que os caminhões descarregam. Chega ao Lixão às seis da manhã e não volta para casa antes das sete da noite.
    Andréa se posiciona perto da caçamba do caminhão que acaba de chegar, e disputa com os outros as embalagens e caixas. Depois, junta o papelão que conseguiu num monte e vende tudo no final do dia. Cada grupo tem seu próprio monte, e ninguém de outro grupo mexe. "Se outra pessoa roubar, dá problema", diz ela. É a lei do Lixão.
     Com os R$150 que faz por mês, a garota sustenta o filho de três anos e ajuda a mãe, com quem mora. Aos domingos, sua única folga na semana, cuida da criança e sai para se divertir.
      "Meu filho nunca vai pisar aqui. Quero que ele estude e tenha tudo que eu não tive."
    Andréa diz que gostaria de ser empregada doméstica, mas que não consegue emprego. "Trabalhar aqui é muito sofrido, mas pelo menos é honesto. É melhor que sair por aí roubando os outros."
        O filho passa o dia com uma vizinha, enquanto a mãe garante o sustento da casa. "O pai dele era um folgado, não queria saber de trabalhar. Um dia me cansei e botei o vagabundo pra correr."
      Quando sobra um tempinho, ela desafia os garotos no fliperama, onde gasta cerca de R$ 20 por mês, e vai dançar nos bailes da região. Não frequenta shopping centers e não se lembra da última vez em que foi ao cinema. Em casa, não tem TV, só um rádio, onde escuta seus grupos de rap e pagode favoritos. "Gosto do movimento hip hop. Eles falam sobre coisas que nós vemos no nosso dia-a-dia". Seu grupo preferido é o Faces da Morte.
     Andréa está namorando um rapaz que também trabalha no Lixão, mas não quer nem ouvir falar em casamento. "Sou muito nova, e os homens são muito folgados. Só faltava arrumar mais um para sustentar", brinca.
   Apesar da rotina dura, Andréa está sempre sorridente. "Queria fazer medicina para ajudar os outros. E meu sonho mesmo é conhecer Nova York."

Webmaster dedicava as férias ao trabalho
                                    AUGUSTO PINHEIRO

        Csongor Gyuricza, o “Bart”; 22 anos; webmaster; salário, “já comprei um carro, pago meu aluguel e minha faculdade”. Frase: “Nunca precisei procurar emprego, sempre fui convidado”.
        Aos 16 anos, quando estava no último ano do colégio, Csongor Gyuricza, 22, mais conhecido como "Bart" (porque já teve o cabelo espetado como o personagem dos "Simpsons"), passava as férias trabalhando para um provedor da Internet. E não se importava de perder os dias de descanso.
        "Desde os 14 anos, sempre fui louco por computador, queria aprender tudo. Comecei como estagiário e acabei efetivado. Mesmo no período de aulas, eu acordava todos os dias às 6h e fazia uns trabalhos em casa."
        Hoje, todo o esforço foi recompensado: o rapaz é webmaster de um grande provedor. Ele cuida da parte técnica dos sites, criando e reformulando páginas e implementando novidades gráficas.
        Com o trabalho, ele já comprou um carro, foi morar sozinho e banca a faculdade de ciência da computação na Unip.
        Csongor (o nome é húngaro) retomou o curso este ano: já havia começado na PUC-SP, mas resolveu largar para se dedicar apenas ao trabalho. "Não estava conseguindo conciliar."
        "Bart" afirma que tudo o que sabe aprendeu na prática, e que isso ajuda bastante na universidade. Mas nem por isso ele deixa de recomendar o curso superior: "Sem o diploma, o empregador sempre vai ter uma desculpa para pagar menos. Não é todo mundo que consegue ser bem-sucedido nessa área sem uma faculdade."
        Antes de entrar no atual emprego, ele foi webmaster da Globo Cabo, empresa que oferecia acesso à Internet pelo sistema de TV a cabo. "Nunca procurei emprego. Sempre fui convidado."
        A rotina é puxada, mas ele não dispensa as baladas. "Bart" acorda às 8h30, resolve assuntos particulares (limpeza do apê, compras etc.) e chega ao trabalho às 9h30. Só larga o trampo às 19h30 e sempre chega atrasado às aulas, que começam às 19h.
        Às 23h, já em casa, senta em frente ao computador e navega por uma hora na Internet, para se atualizar. "Às vezes, dá para sair. Gosto muito de tecno, então vou às boates U-Turn e Lov.e. Não sou freak ou nerd, tenho vida social."
        Para completar, o webmaster, de 1,80 m, tem uma "carreira paralela" de modelo. "Esporadicamente, quando dá tempo, faço editoriais de moda e desfiles, mas não é muito a minha cara."

           Folha de São Paulo, São Paulo, 1° de maio de 2000. Folhateen.
Entendendo o texto:

01 – Releia o 1° parágrafo da matéria sobre Andréa de Oliveira. Anote suas impressões sobre:
a)   O local de trabalho de Andréa.
É um local malcheiroso, sujo e perigoso à saúde e à vida das pessoas.

b)   As pessoas que trabalham com Andréa.
Os trabalhadores do lixão têm as mais variadas idades: crianças, jovens, adultos ou velhos podem trabalhar lá.

c)   A principal ocupação de catadores de lixo em aterros sanitários.
Encontrar utilidade para o que outras pessoas desprezaram, jogaram fora.

02 – Embora o texto não apresente especificamente todos os motivos que teriam levado Andréa a catar lixo, é possível tirar algumas conclusões.
a)   O que você imagina que levou Andréa a exercer essa atividade?
Ela gostaria de ser doméstica, mas não consegue emprego.

b)   O que você pensa do ambiente em que trabalham catadores de lixo?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: é um local prejudicial à saúde e a higiene.

03 – A matéria afirma que “Desde pequena, [Andréa] fez do local o seu jardim”.
a)   A partir de informações dadas pelo texto, o que você entende por essa imagem?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Pode-se supor que a menina considerava o lixão como uma extensão de sua casa, um local de diversão, um espaço socializado.

b)   Que sinais de pontuação sugerem que a palavra “jardim” foi usada de maneira especial no texto?
As aspas.

c)   Ainda que trabalhe no lixão, Andréa não pretende que seu filho de três anos frequente o local. Copie do texto a frase que confirma isso.
“Meu filho nunca vai pisar aqui. Quero que ele estude e tenha tudo o que eu não tive”.

04 – Sabendo que o valor do salário mínimo na época da publicação da reportagem equivalia a R$ 151,00 e levando em conta as informações sobre o trabalho de Andréa, transcreva para o caderno a alternativa que é mais fiel à matéria publicada pela Folha de São Paulo.
a)    No lixão, Andréa recolhe todo tipo de material, trabalha cerca de onze horas por dia, 6 dias por semana e ganha menos de um salário mínimo por mês.
b)   Andréa recolhe apenas plástico e, proporcionalmente ao que trabalha, ganha bem.
c)   Andréa recolhe somente plástico e papelão, trabalha cerca de treze horas por dia, somente aos domingos, e ganha um pouco mais de um salário mínimo por mês.
d)   Andréa recolhe somente plástico e papelão, folga duas vezes por semana e, proporcionalmente ao que trabalha, ganha pouco.
e)   Andréa recolhe somente plástico e papelão, trabalha cerca de treze horas por dia, com exceção de domingo, e ganha um pouco menos que um salário mínimo por mês.

05 – Além de falar sobre sua profissão, catadora de lixo, Andréa faz referência também a outras ocupações.
a)   Que profissão Andréa desejaria ser, mas não consegue?
Empregada doméstica.

b)   Qual seria o sonho profissional de Andréa?
Fazer medicina.

c)   Na sua opinião, no campo profissional, Andréa teria mais chances de realizar seu desejo ou seu sonho?
Resposta pessoal do aluno.

06 – Ao contrário de Andréa, Csongor Gyuricza, conhecido como Bart, teve melhores oportunidades e, assim, conseguiu se tornar webmaster.
a)   Que oportunidades Bart teve que Andréa provavelmente não teve?
Ele pôde estudar, tinha acesso ao equipamento necessário para desenvolver suas habilidades e começou a trabalhar cedo na sua área de interesse.

b)   De acordo com o texto jornalístico, o que faz um webmaster?
Cuida da parte técnica dos sites, criando e reformulando páginas e implementando novidades gráficas.

07 – Andréa reconhece que é sofrido catar lixo, mas para ela há uma maneira pior de viver. Que maneira é essa?
      Tornar-se ladrão.

08 – Andréa e Bart trabalham muitas horas por dia.
a)   Em vez de declarar seu salário à reportagem, como fez Andréa, o que faz Bart?
Ele revela que, com o seu salário, já comprou um carro e consegue se manter sozinho, pagando o próprio aluguel e as mensalidades de sua faculdade.

b)   O que essa declaração dá a entender sobre o salário de Bart em relação ao de Andréa?
Provavelmente ele recebe muito mais por seu trabalho do que Andréa.

c)   Ao observar as atividades exercidas por Andréa e Bart e a remuneração que recebem por elas, o que você conclui?
Resposta pessoal do aluno.

09 – Além de trabalhar, Bart também frequenta uma faculdade.
a)   De acordo com a reportagem, por que Bart considera indispensável um diploma universitário: para saber mais sobre sua profissão ou para ganhar mais?
O rapaz dá a entender que, apesar de achar o diploma algo importante, o que sabe e o que ganha são resultado de sua própria prática e experiência, independentemente do curso universitário.

b)   Assim como Bart, você acha importante ter curso superior para obter sucesso na profissão?
Resposta pessoal do aluno.

10 – Quando indagados sobre o que fazem se divertir, Andréa e Bart valeram-se de algumas palavras em inglês.
a)   O que Bart teria querido dizer, ao declarar: “Não sou freak ou nerd, tenho vida social”?
Ele quis deixar claro que, apesar de trabalhar muito e gostar de computadores, não era uma pessoa esquisita (freak) nem bitolada (nerd).

b)   O que você sabe sobre hip-hop e rap? Converse com seus colegas sobre os movimentos e os gêneros musicais preferidos de Andréa.
De acordo com o Dicionário Houaiss, o Hip-Hop é um movimento cultural pobre de algumas grandes cidades norte-americanas, que se manifesta de formas artísticas variadas. Segundo o Novo Aurélio século XXI, o rap é um tipo de música popular, urbana, de origem negra, com ritmo muito marcado e melodia simples, pouco elaborada.

c)   A palavra “tecno”, no sentido em que está empregada no texto, não consta dos dicionários. O que você entende por essa palavra no texto? Converse com os colegas e com o professor sobre palavras de outras línguas que passam a fazer parte do dia-a-dia dos brasileiros.
A palavra “tecno” no texto, refere-se a um tipo de música que utiliza tecnologia eletrônica.

11 – Levando em conta as entrevistas de Andréa e Bart, aponte a principal diferença entre os dois trabalhadores.
      Ao contrário de Bart, que declara ter recebido sempre ofertas de emprego, Andréa não consegue vaga na profissão que queria. Por necessidade, e não por opção, ela foi levada a ser catadora de lixo.





segunda-feira, 24 de junho de 2019

POEMA: PROFUNDAMENTE - MANUEL BANDEIRA - COM GABARITO

POEMA: PROFUNDAMENTE
    

                                                                      Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Entendendo o poema

1)   O tema central do poema de Manuel Bandeira é:
a)   A morte de pessoas queridas.
b)   As alegrias e estrondos das festas de São João.
c)   Os ruídos e músicas que cortavam o silêncio noturno.
d)   As brincadeiras ao pé das fogueiras.

2)   Na primeira parte do poema, o poeta relata um fato que ocorreu:
a)   No dia anterior ao momento da fala.
b)   Na época em que ele tinha seis anos de idade.
c)   Em um tempo em que ainda se festejava São João.
d)   Quando seus parentes estavam dormindo.

3)   Analise as seguintes afirmações.
I.             Utilizando-se das lembranças de uma noite de São João, o poeta exprime sua angústia pela ausência das pessoas queridas.
II.           Na primeira parte do poema “dormir profundamente” tem sentido denotativo, na segunda parte, sentido conotativo.
III.          Na segunda parte, o poeta não ouve mais as vozes do passado porque as pessoas a que se refere estão todas mortas.
IV.         As perguntas “onde estavam” (primeira parte) e “onde estão” (segunda parte) expressam os dois tempos a que se refere o poema.

Assinale a alternativa que contempla as afirmativas corretas.
a)   I e II
b)   II, III e IV
c)   III, IV
d)   I, II, III e IV

4)   O poema pode ser dividido em dois blocos, tendo em vista o aspecto temporal presente neles.
a)   Que blocos seriam esses? Comprove sua resposta recorrendo aos verbos que os compõem.
 Os blocos seriam divididos em duas partes, a primeira que representa o tempo presente do autor, enquanto a segunda representa memórias de sua infância

b)   Que sentidos têm os advérbios ontem (primeiro verso da quinta estrofe) no poema?
"Ontem" tem sentido temporal, significando que, o momento no qual o autor escreve o poema ocorre após o acontecimento que o autor leva como tema do poema.

c)   Você diria que há paralelismo entre os blocos? Justifique.
Sim, há paralelismo. O autor compara a mesma data festiva nos dois blocos, além de também comparar as coisas presentes nesta data, que antes eram de seus familiares, enquanto ele era criança e em seu tempo atual eram de outras pessoas e crianças na rua, enquanto ele era o mais velho.

5)   Sabendo que o tempo assume papel decisivo na construção do poema, explique a relação paralelística entre dois blocos do poema e as cenas que os constituem.
O foco do poema não se encontra no resgaste de um passado morto, mas no modo como o passado não deixou de atuar, fazendo parte do presente como lembrança que amplia a percepção do mundo.