domingo, 21 de maio de 2017

A CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA - FRAGMENTO - COM GABARITO

A CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA

        Num dos trechos de sua carta a D. Manuel, Pero Vaz de Caminha descreve como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins, que aconteceu em 24 de abril de 1500: “O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés de uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, muito grande, ao pescoço (...) Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra, e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! (...) Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhes dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço, e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejamos! Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, por que não lhe havíamos de dar! E depois tornou as contas a quem lhes dera. E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de esconder suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam raspadas e feitas. O Capitão mandou pôr por baixo de cada um seu coxim; e o da cabeleira esforçava-se por não a estragar. E deitaram um manto por cima deles; e, consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.”

                                                 Coleção Brasil 500 anos, Fasc. I, Abril, SP. 1999.

Alcatifa: tapete, carpete.
Fanadas: murchas.
Coxim: almofada que serve de assento.

1 – De acordo com o texto, assinale a(s) proposição(ões) verdadeira(s), indicando a soma delas:
01)Pero Vaz de Caminha, um dos escrivães da armada portuguesa, escreve para o rei de Portugal, D. Manuel, relatando como foi o contato entre os portugueses e os tupiniquins.
02)Em: “E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a ninguém”, fica implícito que os tupiniquins desconheciam hierarquia ou categoria social lusitanas.
04)O trecho”... e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se davam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós nesse sentido, por assim o desejamos”, evidencia que havia problemas de comunicação entre portugueses e tupiniquins.
08)Nada, na embarcação portuguesa, pareceu despertar o interesse dos tupiniquins.
      Soma (07).

2 – A propósito do texto, é correto afirmar que (indique a soma das proposições):
01)A expressão “... folgou muito com elas...” pode ser substituída por “divertiu-se muito com as contas do rosário”.
02)Os tupiniquins, bastante comunicativos, falaram aos marinheiros que havia muita riqueza na terra descoberta.
04)Pelo trecho “... E também olhou para um castiçal de prata, e assim mesmo acenava para a terra...”, entende-se que os tupiniquins estavam dentro da embarcação portuguesa.
08)Os tupiniquins ficavam constrangidos com a presença dos portugueses e logo abandonaram o navio.
        Soma (05).





POEMA- A ROSA DE HIROSHIMA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

POEMA: A ROSA DE HIROSHIMA
                 Vinícius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

1 – Em que medida podemos dizer que A Rosa de Hiroshima pertence ao conjunto dos poemas engajados de Vinícius de Moraes?
       A partir do momento que tematiza as consequências causadas pela “bomba”, invenção do homem, levando o leitor a refletir sobre problema tão grave para a sociedade.

2 – A “Rosa” é uma palavra que, tradicionalmente, tem um valor poético diferente deste que depreendemos acima. Você diria que a força do poema vem desse deslocamento? Justifique.
       SIM. Já que a palavra, com a significação com que foi empregada, chama a atenção do leitor para o fato que é inusitado, despertando-o para a realidade dos fatos expostos, pois não é utilizada como metáfora de paz, amor ou pureza, mas sim como dor, causada pelo “cogumelo atômico”.

3 – Cite duas características formais do texto que o remetam ao Modernismo.
       A liberdade total de expressão.
       E a temática de cunho social e realista.

VIDAS SECAS - QUESTÕES COM GABARITO

TEXTO LITERÁRIO:VIDAS SECAS
                                        Graciliano Ramos

       O mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o sul. O casal agoniado sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado.
       Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando. Foi sentar-se no banco do copiar, examinou o céu limpo, cheio de claridade de mau agouro, que a sombra das arribações cortava. Um bicho de penas, matar o gado! Provavelmente Sinhá Vitória não estava regulando.
       Fabiano estirou o beiço e enrugou mais a testa suada: impossível compreender a intenção da mulher. Não atinava, um bicho tão pequeno! Achou a coisa obscura e desistiu de aprofundá-la. Entrou em casa, trouxe o aió, preparou um cigarro, bateu com o fuzil na pedra, chupou uma tragada longa. Espiou os quatro cantos, ficou alguns minutos voltados para o norte, coçando o queixo.
       --- Chi! Que fim de mundo!
       Não permaneceria ali muito tempo. No silêncio comprido só se ouvia um rumor de asas.
       Como era que a Sinhá Vitória tinha dito? A frase dela tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apareceu. As arribações bebiam a água. Bem o gado curtia sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas Sinhá Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade próxima, riu-se encantando com a esperteza de Sinhá Vitória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias, sim senhor, tinha muita coisa no miolo. Nas situações difíceis encontravam saída. Então! descobrir que as arribações matavam o gado! É, matavam. Àquela hora o mulungu do bebedouro, sem folhas e sem flores, uma garrancharia pelada, enfeitava-se de penas.
       Desejou ver aquilo d perto, levantou-se, botou o aió a tiracolo, foi buscar o chapéu de couro e a espingarda de pederneira. Desceu o copiar, atravessou o pátio, avizinhou-se da ladeira pensando na cachorra Baleia. Coitadinha. Tinham-lhe aparecido aquelas coisas horríveis na boca, o pelo caíra, e ele precisava matá-la. Teria procedido bem? Nunca havia refletido nisso. A cachorra estava doente. Podia consentir que ela mordesse os meninos? Podia consentir? Loucura expor as crianças à hidrofobia. Pobre da Baleia. Sacudiu a cabeça para afastá-la do espírito. Era o diabo daquela espingarda que lhe trazia a imagem da cadelinha. A espingarda, sem dúvida. Virou o rosto defronte das pedras no fim do pátio, onde a Baleia aparecera fria, inteiriçada, com olhos comidos pelos urubus.
       Alargou o passo, desceu a ladeira, pisou a terra de aluvião, aproximou-se do bebedouro. Havia um bater doido de asas por cima da poça de água preta, a garrancheira do mulungu estava completamente invisível. Pestes. Quando elas desciam do sertão, acabava-se tudo. O gado ia finar-se, até os espinhos secariam.
       Suspirou. Que havia de fazer? Fugir de novo, aboletar-se noutro lugar, recomeçar a vida. Levantou a espingarda, puxou o gatilho sem pontaria. Cinco ou seis aves caíram no chão, o resto se espantou, os galhos queimados surgiram nus. Mas pouco a pouco se foram cobrindo, aquilo não tinha fim.
       Fabiano sentou-se desanimado na ribanceira do bebedouro, carregou lentamente a espingarda com chumbo miúdo e não socou a bucha, para a carga espalhar-se e alcançar muitos inimigos. Novo tiro, novas quedas, mas isto não deu nenhum prazer a Fabiano. Tinha ali comida para dois ou três dias; se possuísse munição, teria comida para semanas e meses.
       Examinou o polvarinho e o chumbeiro, pensou na viagem, estremeceu.
Tentou iludir-se imaginou que ela não se realizaria se ele não a provocasse com ideias ruins. Reacendeu o cigarro, procurou distrair-se falando baixo. Sinhá Terta era pessoa de muito saber naquelas beiradas. Como andariam as contas com o padrão? Estava ali o que ele não conseguia nunca decifrar. Aquele negócio de juros engolia tudo, e afinal o branco ainda achava que fazia favor. O soldado amarelo...
       Fabiano, encaiporado, fechou as mãos e deu murros na coxa. Diabo. Esforçava-se por esquecer uma infelicidade, e vinham outras infelicidades. Não queria lembrar-se do patrão nem do soldado amarelo. Mas lembrava-se, com desespero, enroscando-se como uma cascavel assanhada. Era um infeliz, era a criatura mais infeliz do mundo. Devia ter ferido naquela tarde o soldado amarelo, devia tê-lo cortado a facão. Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o caminho. Esfregou a testa suada e enrugada. Para que recordar vergonha? Pobre dele. Estava então decidido que viveria sempre assim?
                                                                                               GRACILIANO RAMOS.

1 – Graciliano Ramos traz uma inovação para o romance brasileiro:
a)     O ambiente nordestino pela primeira vez na Literatura Brasileira.
b)    A solução para os problemas da classe trabalhadora está no melhor aproveitamento do ambiente.
c)     A agressividade da paisagem nordestina.
d)    A abordagem psicológica no Romance do Nordeste.
e)     O tratamento ficcional das estruturas socioeconômicas.

2 – A estrutura dramática do texto está realçada a partir de imagens em torno:
a)     Das consequências da seca e do soldado amarelo.
b)    Das aves de arribação e dos pensamentos de Sinhá Vitória.
c)     Da fuga da seca e dos pensamentos de Sinhá Vitória.
d)    Do patrão opressor e da busca de uma nova vida.
e)     Da fome e da luta pela sobrevivência.

3 – NÃO é característica do texto lido:
a)     O predomínio de orações coordenadas que emprestam ao texto um conjunto de imagens visuais.
b)    A presença do monólogo interior do personagem, estreitando a distância entre este e o narrador.
c)     Embora escreva rigorosamente dentro dos padrões cultos do português, o autor permeia sua linguagem de regionalismos e coloquialismos.
d)    Os personagens são delineados a partir da inteligência, do instinto e da emoção.
e)     O contexto social integra a narrativa como mero cenário onde se passam as ações em que se envolvem os personagens.

4 – Retire do texto passagens que exemplifiquem o discurso indireto livre.
       “Uma pessoa como aquela valia ouro”.
       “Cabra ordinário, mofino...”


LITERATURA - A BAGACEIRA - INTERPRETAÇÃO COM GABARITO


LIVRO: A BAGACEIRA - OS SALVADOS

       A casa grande, situada numa colina, sobranceava o caminho apertado, no trecho fronteiro, entre o cercado e o açude.
       Num repentino desenfado, Dagoberto estirou o olhar, por cima das mangueiras meãs enfileiradas ladeira abaixo, para a estrada revolta.
       Parecia a poeira levantada, a sujeira do chão num pé de vento.
       Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com aspecto terroso e o teor das covas podres.
       Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas em vez de ser lavado por elas.
       Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar, não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos do seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
       Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo.
       Adelgaçados na magreira cômica, cresciam como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
       Vinham escoteiros, menos os hiprópicos – doentes de alimentação tóxica – com os fardos das barrigas alarmantes.
       Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma.
       Meninotas, com as pregas da súbita velhice, caretavam torcendo as carinhas decrépitas de ex-voto. Os vaqueiros másculos, como titãs alquebrados em petição de miséria. Pequenos fazendeiros, no arremesso igualitário, baralhavam-se nesse anônimo aniquilamento.
       Fariscavam o cheiro enjoativo do melado que lhes exacerbava os estômagos jejunos. E, em vez de comerem, eram comidos pela própria fome numa autofagia erosiva.
       Lúcio almoçava com o sentido nos retirantes. Escondia côdeas nos bolsos para distribuir com eles como quem lança migalhas e aves de arribação.
       (...)
       --- Vem tirar a barriga da miséria...
       Párias da bagaceira, vítimas de uma emperrada organização do trabalho e dependência que os desumanizava, eram os mais insensíveis ao martírio das retiradas.
       A colisão dos meios pronunciava-se no contato das migrações periódicas. Os sertanejos eram malvistos nos brejos. E o nome de brejeiro cruelmente pejorativo.
       Lúcio responsabilizava a fisiografia paraibana por esses choques rivais. A cada zona correspondiam tipos e costumes marcados. Essa diversidade criava grupos sociais que acarretavam os conflitos de sentimentos.
       Estrugia a trova repulsiva:
       Eu não vou na sua casa,
       Você não venha na minha,
       Porque tem a boca grande,
       Vem comer minha farinha...
       Homens do sertão, obcecados na mentalidade das reações cruentas, não convocaram as derradeiras energias num arranque selvagem. A história das secas era uma história de passividades.
       Limitavam-se a fitar os olhos terríveis nos seus ofensores. Outros ronronavam, como se estivessem engolindo golfadas de ódio.
       E nas terras copiosas, que lhe denegavam as promessas visionadas, goravam seus sonhos de redenção.
       Dagoberto olhava por olhar, indiferente a essa tragédia viva.
       A seca representava a valorização da sara. Os senhores de engenho, de uma avidez vã, refaziam-se da depreciação dos tempos normais à custa da desgraça periódica.

                                                José Américo Almeida. A Bagaceira, 12ª ed. Rio:
                                                                 Livraria José Olympio Ed, 1972, p. 4-6.
1 – Assinale a afirmativa falsa:
a)     A Bagaceira é o primeiro romance regionalista do chamado Modernismo brasileiro.
b)    A linguagem do autor do texto é culta, com vocabulário erudito e até com construções clássicas.
c)     A titulação do texto refere-se aos retirantes sertanejos, como restos que escapavam do flagelo da seca.
d)    Há presença de imagens criadas a partir de elementos científicos.
e)     Há ausência da análise crítica das estruturas sociais brasileiras que caracterizou a segunda geração do Modernismo.

2 – Assinale a afirmação FALSA sobre a linguagem do texto:
a)     Predominam os períodos curtos, incisivos.
b)    Há muitas frases nominais, como, por exemplo, todo o décimo segundo parágrafo.
c)     O autor faz largo uso dos paroxítonos e de longos proparoxítonos, criando um ritmo áspero e forte, como, por exemplos, “fantasmas estropiados, trôpegos e trêmulos adelgaçados na magreira cômica...”.
d)    O texto é predominantemente descritivo, com digressões do autor. Como exemplo, o décimo sétimo parágrafo.
e)     No texto só ocorrem imagens visuais.

3 – Sobre o texto, NÃO se pode afirmar:
a)     O autor projeta poeticamente o antagonismo de estruturas sociais.
b)    O autor preocupa-se com a linguagem bem selecionada e expressiva.
c)     Há a presença do enfoque da problemática da seca e da vida nordestina.
d)    O ambiente é apenas um pano de fundo para a ação dos personagens, é motivação para a escritura.
e)     Quanto à forma de narrar, o texto mantém uma aproximação maior do Romantismo do que do Realismo/Naturalismo.

4 – Assinale a opção indicadora das obras cuja temática é a mesma que a do texto lido:
a)     Gabriela Cravo e Canela e São Bernardo.
b)    Vidas secas e O Quinze.
c)     Menino de Engenho e Fogo Morto.
d)    Jubiabá e Caetés.
e)     Usina e Banguê.


quinta-feira, 18 de maio de 2017

FÁBULA: A CORUJA E A ÁGUIA - MONTEIRO LOBATO -COM GABARITO

FÁBULA: A coruja e a águia
                   Monteiro Lobato
Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
– Basta de guerra – disse a coruja. – O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
– Perfeitamente – respondeu a águia. – Também eu não quero outra coisa.
– Nessa caso combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
– Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
– Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
– Está feito! – concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
– Horríveis bichos! – disse ela. – Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca, a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.
– Quê? – disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
Moral da história: quem ama o feio, bonito lhe parece.
(Monteiro Lobato. FÁBULAS. 50 edição, Editora Brasiliense, São Paulo, 1994)
Após a leitura do texto, responda às questões:
  1. Quem são os personagens dessa fábula?
  2. A fábula se divide em duas parte. Quais são elas?
  3. Como a coruja descreveu seus filhotes?
  4. Por que a águia não reconheceu os filhotes da coruja?
  5. Segundo a moral da história, há uma diferença no modo como as pessoas vêem umas às outras. Explique porquê.
Gabarito
  1. A coruja e a águia.
  2. A narração da história e a moral da história.
  3. Uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave.
  4. Porque a descrição da coruja não correspondia à realidade. Para a coruja, eles eram muito bonitos e especiais, mas a águia achou-os “uns monstrenguinhos”.
  5. Os alunos devem perceber que há sempre diferença no modo como as pessoas vêem as coisas e isso se deve a vários fatores: o conhecimento que se tem, o envolvimento afetivo entre um e outro, e a opinião que nós temos a respeito das pessoas e das coisas ao nosso redor.


quarta-feira, 17 de maio de 2017

POEMA: ODE AO BURGUÊS - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

POEMA: ODE AO BURGUÊS
                 Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
O burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
É sempre um cauteloso pouco a pouco!



Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
E gemem sangue de alguns mil-réis fracos
Para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
E tocam os “Printemps” com as unhas!

                                        Mário de Andrade. In: Poesias completas. São Paulo:
                                                                               Círculo do Livro, 1976, p. 45-7.

1 – O texto é modernista. Só NÃO o comprova:
a)     A utilização poética de imagens consideradas antipoéticas pela tradição.
b)    O repúdio ao comportamento conservador da burguesia.
c)     A referência a situações cotidianas.
d)    A permanência da temática tradicional.
e)     O uso da liberdade métrica.

2 – O texto, realmente, compõe o Discurso do Insulto. Que elementos formais comprovam tal afirmação?
       O uso de substantivos e adjetivos fortes na caracterização do burguês e as metáforas caricaturais.

3 – Em que passagem a crítica socioeconômica se encontra mais evidente? Transcreva-a.
        Na 2ª estrofe.

4 – Que interpretação podemos dar à expressão “burguês-burguês”?
       É a imagem do burguês autêntico, com toda as suas características exemplares de dominador capitalista.


LITERATURA - MACUNAÍMA - COM GABARITO

MACUNAÍMA
          Mário de Andrade

        No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
        Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar exclamava:
        --- Ai! Que preguiça! ...
        E não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, Trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape, já velhinho, e Jiquê, na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas se punha os olhos sem dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz – que habitando – água doce por lá. No mucambo se alguma cunhatã se aproximava dele para fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
        Quando era pra dormir, trepava no macuru pequenino sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço miava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.
        Nas conversas das mulheres no pino do dia, o assunto era sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpatizadas, falando que “espinho que pinica, de pequeno já traz ponta”, e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
                                                                                               MÁRIO DE ANDRADE.

1 – O personagem do texto está inserido na galeria dos heróis tradicionais da nossa literatura? Justifique.
       Não, porque o herói tradicional típico é perfeito, idealizado.

2 -  O autor utiliza-se de expressões populares e vocabulário da língua tupi-guarani. Qual o objetivo que pretende alcançar? A que postulado modernista tal atitude estava relacionada?
       Valorizar a língua falada no Brasil. / Destaque à cultura brasileira.

3 – Uma das propostas do Modernismo brasileiro é a incorporação da linguagem coloquial à Literatura. Escreva duas passagens do texto que provem essa atitude artística.
       “Si o incitavam a falar...” / “Macunaíma dandava pra ganhar vintém.”