segunda-feira, 1 de maio de 2017

AMOR E SANGUE - ALCÂNTARA MACHADO - (FRAGMENTO) COM GABARITO

LITERATURA -  AMOR E SANGUE
                                  ÂLCANTARA MACHADO


        Sua impressão: a rua é que andava, não ele. Passou entre o verdadeiro de grandes bigodes e a mulher de cabelo despenteado.
        --- Vá roubar no inferno, Seu Corrado!
        Vá sofrer no inferno, Seu Nicolino! Foi o que ele ouviu de si mesmo.
        --- Pronto! Fica por quetrocentão.
        --- Mas é tomate podre, Seu Corrado!
        Lá indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da Quitanda Tripoli Italiana eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, continuou bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado.
        Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino estava negra.
        --- Ei, Nicolino! Nicolino!
        --- Que é?
        --- Você está ficando surdo, rapaz! A Grazia passou agorinha mesmo.
        --- Des-gra-ça-da!
        --- Deixa de fita. Você joga amanhã contra o Esmeralda?
        --- Não sei ainda.
        --- Não sabe? Deixa de fita, rapaz! Você...
        --- Ciao.
        --- Veja lá, hein! Não vá tirar o corpo na hora. Você é a garantia da defesa.
        A desgraçada já havia passado.
        Ao Barbeiro Submarino.
        Barba: 300 réis. Cabelo: 600 réis.
        Serviço Garantido.
        --- Bom dia!
        Nicolino Fior d`Amore nem deu resposta. Foi entrando, tirando o paletó, enfiando outro branco, se sentando no fundo à espera dos fregueses. Sem dar confiança. Também Seu Salvador nem ligou.
        A navalha ia e vinha no couro esticado.
        --- São Paulo corre hoje! É o cem contos!
        O Temístocles da Prefeitura entrou sem colarinho.
        --- Vamos ver essa barba muito bem feita! Ai, ai! Calor pra burro. Você leu no Estado o crime de ontem, Salvador? Banditismo indecente.
        --- Mas parece que o moço tinha razão de matar a moça.
        --- Qual tinha razão nada, seu! Bandido! Drama de amor cousa nenhuma. E amanhã está solto. Privações de sentidos. Júri indecente, meu Deus do céu! Salvador, Salvador... – cuidado aí que tem uma espinha - ... este país está perdido!
        --- Todos dizem.
        Nicolino fingia que não estava escutando. E assobiava a Scugnizza.
        As fábricas apitavam.
        Quando Grazia deu com ele na calçada abaixou a cabeça e atravessou a rua.
        --- Espera aí, sua fingida.
        --- Não quero mais falar com você.
        --- Não faça mais assim pra mim, Grazia. Deixa que eu vá com você. Estou ficando louco, Grazia. Escuta. Olha, Grazia! Grazia! Se você não falar mais amigo eu me mato mesmo. Escuta. Fala alguma cousa por favor.
        --- Me deixa! Pensa que eu sou aquela fedida da Rua Cruz Branca?
        --- O quê?
        --- É isso mesmo.
        E foi almoçar correndo.
        Nicolino apertou o fura-bolos entre os dentes.
        As fábricas apitavam.
        Grazia ria com a Rosa.
        --- Meu irmão foi e deu uma bruta surra na cara dele.
        --- Bem feito! Você é uma danada, Rosa. Xi! ...
        Nicolino deu um pulo monstro.
        --- Você não quer mesmo mais falar comigo, sua desgraçada?
        --- Desista!
        --- Mas você me paga, sua desgraçada!
        --- N Ã-Ã-O!
        A punhalada derrubou-a.
        --- Pega! Pega! Pega!
        --- Eu matei ela porque estava louco, Seu Delegado!
        Todos os jornais registaram essa frase que foi dita chorando.

                                   Eu estava louco,                   B
                                   Seu Delegado!                       I
                                   Matei por isso,                      S
                                   Sou um desgraçado!

         O estribilho do Assassino Por Amor (Canção da atualidade para ser cantada com a música do “Fubá”, letra de Spartaco Novais Panini) causou furor na zona.
              ALCÂNTARA MACHADO. Amor e sangue. In:--- Novelas paulistanas.
                                                     4. ed. São Paulo, Jose Olympio, 1976. p. 22-5.

1 – O texto está dividido em cinco partes, separadas por um espaço em branco. Na primeira parte, identifique os elementos do ambiente físico que indicam uma paisagem urbana moderna.
        O Ford, as chaminés das fábricas.

2 – Qual é a profissão de Nicolino?
        Ele é barbeiro.

3 – O nome das personagens (Nicolino Fior d`Amore, Grazia, Corrado) Identificam sua origem. De que origem se trata?
        São italianos ou descendentes de italianos.

4 – Na segunda parte do conto, para introduzir o ambiente (uma barbearia) onde terá lugar a cena, o narrador utiliza um recurso diferente da simples descrição. De que recurso se trata?
        Reproduz-se o cartaz ou placa que está na entrada da barbearia (utilização da linguagem da propaganda).

5 – Entre a penúltima e a última do conto, fica implícito que aconteceu algum fato que não é narrado mas que o leitor pode deduzir. Esse é um recurso típico da linguagem cinematográfica. Que fato, na sequência da narrativa, fica implícito nesse trecho?
        A prisão de Nicolino e sua condução à Delegacia.

     

sexta-feira, 28 de abril de 2017

O ATENEU - RAUL POMPEIA - (FRAGMENTO) COM GABARITO

 O ATENEU
Raul Pompéia


        A mais terrível das instituições do Ateneu não era a famosa justiça do arbítrio, não era ainda a cafua, asilo das trevas e do soluço, sanção das culpas enormes. Era o livro das notas.
        Todas as manhãs, infalivelmente, perante o colégio em peso, congregado para o primeiro almoço, às oito horas, o diretor aparecia a uma porta, com a solenidade tarda das aparições, e abria o memorial das partes.
        Um livro de lembranças comprido e grosso, capa de couro, rótulo vermelho na capa, ângulos do mesmo sangue. Na véspera cada professor, na ordem do horário, deixava ali a observação relativa à diligência dos seus discípulos. Era o nosso jornalismo. Do livro aberto, como as sombras das caixas encantadas dos contos de maravilha, nascia, surgia, avultava, impunha-se a opinião do Ateneu. Rainha caprichosa e incerta, tiranizava essa opinião sem corretivo como os tribunais supremos. O temível noticiário, redigido ao sabor da justiça suspeita de professores, muita vez despedidos por violentos, ignorantes, odiosos, imorais, erigia-se em censura irremissível de reputações. O julgador podia ser posto fora por uma evidenciação concludente dos seus defeitos; a difamação estampada era irrevogável.
        E pior é que lavrava o contágio da convicção e surpreendia-se cada um consecutivamente de não haver reparado que era mesmo tão ordinário tal discípulo, tal colega, reforçando-se passivamente o conceito, até consumar-se a obra de vilipêndio quando, por último, o condenado, sem mais uma sugestão de revolta, achava aquilo justo e baixava a cabeça. A opinião é um adversário infernal que conta com a cumplicidade, enfim, da própria vítima.
        Com exceção dos privilegiados, os vigilantes, os amigos do peito, os que dormiam à sombra de uma reputação habilmente arranjada por um justo conchavo de trabalho e cativante doçura, havia para todos uma expectativa de terror antes da leitura das notas. O livro era um mistério.

                   POMPÉIA, Raul. O Ateneu. 9. ed. São Paulo, Ática, 1986. p. 43-4.

Cafua: quarto escuro onde e prendiam os alunos castigados.
Sanção: medida repressiva.
Ao sabor de: conforme a vontade de.
Vilipêndio: desprezo, aviltamento.

1. Em O Ateneu, Raul Pompeia denuncia, como exemplifica o texto:

a) perversidade do sistema educacional           d) vontade de poder do educador.
b) relação perigosa entre os adolescentes.              e) política interesseira da escola.
c) brutalidade física na educação

2.(UFSC) A(s) citação(ões extraída(s) do livro O Ateneu é (são):

a)”Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chama-lo – Ubirajara.”

b) “…chegou a senhora do diretor, D. Ema. Bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos de Balzac, formas alongadas por graciosa magreza, erigindo, porém, o tronco sobre quadris amplos, fortes como a maternidade…”

c)“ Aristarco todo era anúncio. Os gestos calmos, soberanos, era um rei – o autocrata excelso.”

d) “ Ralf pega a velha maleta do Homig, abre-a devagarinho, como quem abre uma gaiola de pássaro, para pegá-lo mansamente.”
e) “Entrei apressado, atravessei o corredor do lado direito e no meu quarto dei com algumas pessoas soltando exclamações. Arrede-as e estanquei; Madalena estava estirada na cama, branca, de olhos vidrados, espuma nos cantos da boca.”

 3. (ITA-SP)  Sobre o Ateneu, de Raul Pompeia, não se pode afirmar que:

a) o colégio Ateneu reflete o modelo educacional da época, bem como os valores da sociedade da época.
b) o romance é narrado em um tom otimista, em terceira pessoa.
c) a narrativa expressa um tom de ironia e ressentimento.
d) as pessoas são descritas, muitas vezes, de forma caricatural.
e) são comuns comparações entre pessoas e animais.

4.(UFTM-MG)
“ Assim,  pela primeira vez irrompe na ficção brasileira a psicologia infantil, visto que o romance romântico preferia focalizar o adolescente ou adulto enredado nas malhas do amor e da honra, reservando à criança um olhar complacente e via de regra puxado ao folclórico e ao melodramático, o que redundava fatalmente em estereotipia e superficialidade.”
Esse filão, que procura aprofundar a análise da alma infantil, foi aberto por:

a)Aluísio Azevedo, em O Mulato
b) José de Alencar, em O Sertanejo.
c) Raul Pompeia, em O Ateneu.
d) Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas.
e) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um Sargento de Milícias.

5.(FGV-SP) Raul Pompeia é consagrado na literatura brasileira pela obra O Ateneu, de largo senso psicológico e preciosidade de estilo. A temática da obra, a par do seu valor literário, é um depoimento que ilustra:
a) as discussões e os conflitos entre os escritores do Ateneu Literário do Rio de  Janeiro, nos fins do Império.
b) a vida social e os hábitos quotidianos da aristocracia imperial, pouco antes da República.
c) a vida escolar no Império Brasileiro, tendo o sistema de internato como modelo educacional de elite na época.
d) a influência da cultura clássica e dos valores greco-romanos na formação da personalidade dos intelectuais brasileiros da época.
e) os hábitos e o comportamento urbano da classe média em ascensão no Rio de Janeiro, após a Proclamação da República.

6.(UFRGS-RS) Leias as afirmações sobre o romance O Ateneu, de Raul Pompeia.
I. Sérgio, em seu relato memorialista, revela a outra face da fachada moralista e virtuosa que circundava O Ateneu, a face em que se incluem a corrupção, o interesse econômico, a bajulação, as intrigas e a homossexualidade entre os adolescentes.
II.A narrativa, ainda que feita na primeira pessoa, evita o comentário subjetivo e as impressões individuais, uma vez que o narrador adota uma postura rigorosa, condizente com o cientificismo da época.
III. Através da figura de Dr. Aristarco, diretor do colégio, com sua retórica pomposa e vazia, Raul Pompeia critica o sistema educacional da época e a hipocrisia da sociedade.
Quais estão corretas:
a) apenas I         b) apenas II    c) apenas I e III     d) apenas II e III     e) I, II e III

7.(Umesp) Assinale a alternativa correta sobre o romance O Ateneu, de Raul Pompeia.
a)O romance se realiza pelo processo memorialista do narrador, permeado por uma profunda visão crítica.
b) Trata-se de uma crônica de saudades, em que o narrador revela, a cada instante, vontade de voltar.
c) O Ateneu representa uma apologia aos colégios internos como forma ideal para a formação do adolescente.
d) Apesar da tentativa de atingir um estilo realista, a obra mantém uma estrutura romântica aos moldes de José de Alencar.
e) Todas as personagens do romance buscam identificar-se.


MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - MACHADO DE ASSIS - (FRAGMENTO) COM GABARITO

 MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

        Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madrid, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos. Cosas de Espanã. Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e tísico, --- uma pérola.
        Vi-a, pela primeira vez, no Rossio Grande, na noite das luminárias, logo que constou a declaração da independência, uma festa de primavera, um amanhecer da alma pública. Éramos dois rapazes, o povo e eu; vínhamos da infância, com todos os arrebatamentos da juventude. Vi-a sair de uma cadeirinha, airosa e vistosa, um corpo esbelto, ondulante, um desgarre, alguma coisa que nunca achara nas mulheres puras. --- Segue-me, disse ela ao pajem. E eu segui-a, tão pajem como o outro, como se a ordem me fosse dada, deixei-me ir namorado, vibrante, cheio das primeiras auroras. A meio caminho, chamaram-lhe “linda Marcela”; lembrou-me que ouvira tal nome a meu tio João, e fiquei, confesso que fiquei tonto.
        Três dias depois perguntou-me meu tio, em segredo, se queria ir a uma ceia de moças, nos cajueiros. Fomos; era em casa de Marcela. O Xavier, com todos os seus tubérculos, presidia ao banquete noturno, em que eu pouco ou nada comi, porque só tinha olhos para a dona da casa. Que gentil que estava a espanhola! Havia mais uma meia dúzia de mulheres, --- todas de partido, --- e bonitas, cheias de graça, mas a espanhola... O entusiasmo, alguns goles de vinho, o gênio imperioso, estouvado, tudo isso me levou a fazer uma coisa única; à saída, à porta da rua, disse a meu tio que esperasse um instante, e tornei a subir as escadas.
        --- Esqueceu alguma coisa? perguntou Marcela de pé no patamar.
        --- O lenço.
        Ela ia abrir-me caminho para tornar à sala; eu segurei-lhe nas mãos, puxei-a para mim, e dei-lhe um beijo. Não sei se ela disse alguma coisa, se gritou, se chamou alguém; não sei nada; sei que desci outra vez as escadas, veloz como um tufão, e incerto como um ébrio.

                MACHADO DE ASSIS. Memórias de Brás Cubas. In: obra completa.
1.     v. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1985. p. 532-4. 3v.

1 – Transcreva do primeiro parágrafo as frases e expressões que caracterizam Marcela e que opõem às personagens femininas tipicamente românticas.
        Não possuía a inocência rústica; mal chegara a entender a moral do código; sem escrúpulos; luxuosa; impaciente, amiga do dinheiro e dos rapazes.

2 – Releia o segundo parágrafo. Na caracterização de Marcela o narrador enfatiza a descrição física ou psicológica?
        Descrição física.

3 – A expressão “morrer de amor” (linha 25) é ocorrência muito comum no Romantismo. Nesse texto, ela aparece utilizada em sentido irônico. Copie da linha 24 a expressão responsável por esse efeito irônico.
        “Naquele ano...”

4 – No fim do terceiro parágrafo, o narrador personagem justifica sua atitude (voltar e beijar Marcela), atribuindo-a a três fatores. Quais?
        O entusiasmo, alguns goles de vinho e o gênio imperioso e estouvado.

(FUVEST-SP) As questões 5, 6, 7 e 8 referem-se ao trecho seguinte:
"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: a diferença radical entre este livro e o Pentateuco."
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas).
5. (FUVEST-SP) o autor afirma que:
  1. vai começar suas memórias pela narração de seu nascimento.
  2. vai adotar uma seqüência narrativa invulgar.
  3. que o levou a escrever suas memórias foram duas considerações sobre a vida e a morte.
  4. vai começar suas memórias pela narração de sua morte.
  5. vai adotar a mesma seqüência narrativa utilizada por Moisés.
6. (FUVEST-SP) Definindo-se como um "defunto autor", o narrador:
  1. pôde descrever sua própria morte.
  2. escreveu suas memórias antes de morrer.
  3. ressuscitou na sua obra após a morte.
  4. obteve em vida o reconhecimento de sua obra.
  5. descreveu a morte após o nascimento.
7. (FUVEST-SP) Segundo o narrador, Moisés contou sua morte no:
  1. promontório.
  2. meio do livro.
  3. fim do livro.
  4. intróito.
  5. começo da missa.
8. (FUVEST-SP) O tom predominante no texto é de:
  1. luto e tristeza.
  2. humor e ironia.
  3. pessimismo e resignação.
  4. mágoa e hesitação
  5. surpresa e nostalgia.
9. (E.E. Mauá-SP) Sobre o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, não é correto afirmar que:
  1. é uma obra inovadora do processo narrativo, que introduz o Realismo no Brasil.
  2. Brás Cubas atua como defunto-narrador, capaz de alterar a seqüência do tempo cronológico.
  3. memorialismo exacerbado acaba por conferir à obra um caráter de crônica.
  4. constitui um romance de crítica ao Romantismo, deixando entrever muita ironia em vários momentos da narrativa.
  5. revela crítica intensa aos valores da sociedade e ao próprio público leitor da época.
10. (UFRGS)
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria"
O texto acima é:
  1. final do testamento de Quincas Borba, que faz de Rubião seu herdeiro, sob a condição de que cuide de seu cachorro.
  2. um comentário de Bentinho, o protagonista de Dom Casmurro, cujo temperamento azedo e melancólico lhe valeu o apelido.
  3. a conclusão pessimista do Dr. Bacamarte, ao final do conto O Alienista, após dedicar sua vida ao estudo da "patologia cerebral".
  4. desabafo do "defunto-autor" das Memórias Póstumas de Brás Cubas, ao final da narrativa.
  5. a reflexão do Conselheiro Aires ao encerrar a narrativa do drama de Flora, em Esaú e Jacó.

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA - LIMA BARRETO - (FRAGMENTO) -COM GABARITO


TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA

        Noiva havia quase cinco anos, Ismênia já se sentia meio casada. Esse sentimento junto à sua natureza pobre fê-la não sentir um pouco mais de alegria. Ficou no mesmo. Casar, para ela, não era negócio de paixão. nem se inseria no sentimento ou nos sentidos: era uma ideia, uma pura ideia. Aquela sua inteligência rudimentar tinha separado da ideia de casar o amor, o prazer dos sentidos, uma tal ou qual liberdade, a maternidade, até o noivo. Desde menina, ouvia a mamãe dizer: “Aprenda a fazer isso, porque quando você se casar” ... ou senão: “Você precisa aprender a pregar botões, porque quando você se casar...”
        A todo instante e a toda hora, lá vinha aquele --- “porque, quando você se casar...” --- e a menina foi se convencendo de que toda a existência só tendia para o casamento. A instrução, as satisfações íntimas, a alegria, tudo isso era inútil; a vida se resumia numa cousa: casar.
        De resto, não era só dentro de sua família que ela encontrava aquela preocupação. No colégio, na rua, em casa das famílias conhecidas, só se falava em casar. “Sabe, Dona Maricota, a Lili casou-se, não fez grande negócio, pois parece que o noivo não é lá grande cousa”; ou então: “A Zezé está doida para arranjar casamento, mas é tão feia, meu Deus! ...”
        A vida, o mundo, a variedade intensa dos sentimentos, das ideias, o nosso próprio direito à felicidade, foram parecendo ninharias para aquele cerebrozinho; e, de tal forma casar-se se lhe representou cousa importante, uma espécie de dever, que não se casar, ficar solteira, “tia”, parecia-lhe um crime, uma vergonha.
        De natureza muito pobre, sem capacidade para sentir qualquer cousa profunda e intensamente, sem quantidade emocional para a paixão ou para um grande afeto, na sua inteligência a ideia de “casar-se” incrustou-se teimosamente como uma obsessão.
        Ela não era feia; amorenada, com os seus traços acanhados, o narizinho mal feito, mas galante, não muito baixa nem muito magra e a sua aparência de bondade passiva, de indolência de corpo, de ideia e de sentidos --- era até um bom tipo das meninas a que os namorados chamam --- “bonitinhas”. O seu traço de beleza dominante, porém, eram os seus cabelos: uns bastos cabelos castanhos, com tons de ouro, sedosos até ao olhar.
        Aos dezenove anos arranjou namoro com o Cavalcânti, e à fraqueza de sua vontade e ao temor de não encontrar marido não foi estranha a facilidade com que o futuro dentista a conquistou.

                           LIMA BARRETO. Triste fim de Policarpo Quaresma (1. frag.).    
                                                                              São Paulo, Ática, 1983. p. 38-9.

1 – A proximidade do casamento não alterou os sentimentos de Ismênia. Copie do primeiro parágrafo a frase que comprova essa afirmativa.
       “Ficou no mesmo”.

2 – Para Ismênia, o casamento baseia-se no sentimento individual ou na pressão social?
       Na pressão social, visto que lhe foi incutida, durante toda a vida, a ideia de que ficar solteira era uma grande tragédia.

3 – Qual é a denúncia que o autor faz a respeito da educação recebida por Ismênia?

       O aluno deverá deduzir que a personagem, graças à influência do meio familiar e social, tem uma ideia distorcida do amor e do casamento.

QUINCAS BORBA - MACHADO DE ASSIS - (FRAGMENTO) - COM GABARITO


QUINCAS BORBA

        --- Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo da batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

                    MACHADO DE ASSIS. Quincas Borba. In: --- Obra completa. 1. v.
                                                 Rio de Janeiro, Nova Aguilar, l985. p. 648-9. 3v.

Inanição: enfraquecimento extremo por falta de alimentação.
Despojos: restos.
Canonizar: louvar, enaltecer.

1 – O texto pode ser dividido em duas partes: a hipótese e o exemplo. Delimite as partes.
        1ª: De “Não há morte...” até “...guerra.” (Linha 4)
        2ª: De “Supõe tu... “ até o final.

2 – Explique a afirmativa do narrador: “Não há morte”.
       Segundo a teoria de Quincas Borba, a supressão de alguma coisa é necessária à sobrevivência de outra, sempre que duas forças se enfrentam. Logo, vida = morte.

3 – Que princípio naturalista orienta esta hipótese?
       A lei do mais forte.

4 – No exemplo sugerido pelo narrador, por que uma das tribos deveria ser necessariamente eliminada?
       Porque as batatas não seriam suficientes para ambas; se a divisão fosse feita em paz, ambas sucumbiriam.


quinta-feira, 27 de abril de 2017

SIMULADO DE PRONOMES PARA ENSINO FUNDAMENTAL - COM GABARITO

SIMULADO DE PRONOMES

1)   Quais pronomes abaixo são exemplos dos classificados como INDEFINIDOS?
a)   Vossa Senhoria, Vossa Alteza
b)   Vós e eles
c)   Algum, quaisquer, pouco
d)   Cada, isso, aquilo
e)   Eu, assaz, alhures, atalho

2)   Assinale o pronome relativo que completa a frase: “O garoto _______a cobra picou, passa bem”.
a)   a quem;
b)   cuja;
c)   o qual;
d)   em quem;
e)   cuja a.

3)   Marque a única frase abaixo que NÃO tem o pronome interrogativo.
a)   Quem entende essa criança?
b)   Nosso povo está despertando.
c)   Você já leu este livro?
d)   Ninguém vai entender esse problema?
e)   Qual é a atriz principal da peça?

4)   Assinale a frase onde o pronome é indefinido.
a)   Esses livros aí não devem sair da biblioteca.
b)   Aquele jornal é bom?
c)   Ninguém quer discutir a questão.
d)   Ela sempre gostou de ler.
e)   Os estudantes participaram da festa.
  
5)   Coloque (x) na única frase que tem pronome relativo.
a)   Ontem encontrei Camila, a quem dei flores.
b)   Quando você vai trazer meus cds?
c)   Meu tio foi ao parque com minha tia.
d)   Você mora no meu coração.
e)   João vai comigo ao supermercado.

6)   O indefinido nada significa nenhuma coisa. Contudo, em qual das frases a seguir o pronome ganha o sentido de alguma coisa?
a)   Não compreendi nada do que a professora falava.
b)   O senhor não quer comer nada antes de viajar?
c)   Nada do que aconteceu importa.

7)   Complete as lacunas com o pronome demonstrativo adequado:
1)   “_______ documento que tens à mão é importante, Pedrinho?”
2)   “A estrada do mar, larga e oscilante ________ sim, o tentava.”
3)   “Na traseira do caminhão lia-se _____frase: Tristeza não paga dívida.”
4)   “Cuidado, mergulhador, _________ animais são venenosos: a arraia miúda, o peixe-escorpião, a medusa, o mangangá.”
a)   esse – esse – esta – estes;
b)   este – esta – esta – estes;
c)   este – esta – essa – esses;
d)   esse – essa – essa – esses;
e)   este – esta – essa – estes.

8)   O pronome de tratamento usado para o papa é :
a)   Vossa Excelência
b)   Vossa Magnificência
c)   Vossa Eminência
d)   Vossa Santidade
e)   N.D.A.

9)   Suponha que você deseje dirigir-se a personalidades eminentes, cujos títulos são: papa, juiz, cardeal, reitor e príncipe. Assinale a alternativa que contém a abreviatura certa da “expressão de tratamento” correspondente ao título enumerado:
a)   Papa....... V.Sª
b)   Juiz..........V.
c)   Cardeal ......V.Exª
d)   Reitor ........V.A
e)   Príncipe ...... V.A.

10)                Marque (x) na alternativa que NÃO tem pronome possessivo.
a)   O meu boné é azul e o seu é vermelho.
b)   Ela fez boas provas e suas notas foram ótimas.
c)   Seu chapéu é de palha e o meu é de pano.
d)   Aquela bicicleta é minha.
e)   N.D.A.


“Grandes resultados requerem grandes ambições.” (Heróclito)