terça-feira, 12 de outubro de 2021

MÚSICA(ATIVIDADES): SEGUE O SECO - CARLINHOS BROWN - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): SEGUE O SECO

                                                    Carlinhos Brown

A boiada seca

Na enxurrada seca

A trovoada seca

Na enxada seca

 

Segue o seco sem sacar que o caminho é seco

sem sacar que o espinho é seco

sem sacar que o seco é o Ser Sol

Sem sacar que algum espinho seco secará

E a água que sacar será um tiro seco

E secará o seu destino, seca


 Ô chuva vem me dizer

Se posso ir lá em cima pra derramar você

Ó chuva preste atenção

Se o povo lá de cima vive na solidão

Se acabar não acostumando

Se acabar parado calado

Se acabar baixinho chorando

Se acabar meio abandonado

Pode ser lágrimas de São Pedro

Ou talvez um grande amor chorando

Pode ser o desabotoado céu

Pode ser coco derramado.

A boiada seca

Na enxurrada seca

A trovoada seca

Na enxada seca

 

 Entendendo o texto

01. Nesse texto, o eu lírico se refere

(A) a seca e o sofrimento que ela causa as pessoas.

(B) a ausência da chuva.

(C) aos danos causados ao homem.

(D) a saída do homem do campo.

 

02. Que palavra da letra da canção pode sintetizar o texto?

(A) sofrimento. 

(B) solidão.

(C) chuva.                                                      

(D) seca.    

 

03. A certa altura da letra, o eu lírico se dirige a um interlocutor que foi personificado e lhe fez um pedido. Quem é esse interlocutor?

  (A)  a água. 

  (C) o povo.

  (B)  a chuva.       

  (D) a trovoada.

04. O trecho da canção utiliza diferentes recursos de construção textual, para a criação do efeito de seca. Um dos recursos consiste:

  (A) na ausência de pontuações.

  (B) no emprego de pleonasmos.

  (C) na repetição de um mesmo som.

  (D) na utilização de léxico regional.

 

 

MÚSICA(ATIVIDADES): SÚPLICA CEARENSE - O RAPPA - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): Súplica Cearense

                O Rappa

 Oh! Deus, perdoe esse pobre coitado,

Que de joelhos rezou um bocado,
Pedindo pra chuva cair, cair sem parar

Oh! Deus será que o senhor se zangou,
E é só por isso que o sol se arretirou,
Fazendo cair toda chuva que há

Oh! Senhor, pedir pro sol se esconder um pouquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho,
Pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão

Oh! Meu Deus, se eu não rezei direito,
A culpa é do sujeito,
Desse pobre que nem sabe fazer a oração.

Meu Deus, perdoe encher meus olhos d'água,
E ter-lhe pedido cheio de mágoa,
Pro sol inclemente, se arretirar, retirar

Desculpe, pedir a toda hora,
Pra chegar o inverno e agora,
O inferno queima o meu humilde Ceará

Oh! Senhor, pedi pro sol se esconder um pouquinho,
Pedi pra chover, mas chover de mansinho,
Pra ver se nascia uma planta no chão, planta no chão

Violência demais, chuva não tem mais,
Roubo demais, política demais,
Tristeza demais. Interesse tem demais!

Ganância demais, fome demais,
Falta demais, promessa demais,
Seca demais, chuva não tem mais!

Oh! Deus. Só se tiver Deus. Oh! Deus.

                                                   Composição: Gordurinha / Nelinho.

Entendendo o texto

01 . Pode-se dizer que o texto "Súplica cearense" une duas modalidades de texto, que são:

    a) oração e narração.     

    b) drama e dissertação.

    c) crônica e carta comercial.

    d) oração e editorial.

    e) receita e narração.

 

02. Que abordagem a canção relata?

Esta canção, traz consigo as dificuldades sofridas pelo povo do nordeste do Brasil, numa perspectiva de um sertanejo que reclama à “Deus” o sofrimento ocasionado pela seca.

03. O que o título sugere?

       Ele sugere um nordestino suplicando a Deus os problemas que estão acontecendo e, inserido na cultura local, culpando-se, dentro de sua religiosidade, por não haver chuva que torne sua região menos inóspita e, de certa forma, perguntando ao ser superior à que levanta suas preces os motivos de ser tão castigada a região.

04.  Quais os problemas sociais que a letra da música "Súplica Cearense " aborda?   

Seca, inundação, fome, pobreza, violência, corrupção e ganância.

 

CRÔNICA: DIÁLOGO FINAL - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: DIÁLOGO FINAL

                 Carlos Drummond de Andrade


 - É tudo que tem a me dizer? - perguntou ele.

- É - respondeu ela.

- Você disse tão pouco.

- Disse o que tinha pra dizer.

- Sempre se pode dizer mais alguma coisa.

- Que coisa?

 - Sei lá. Alguma coisa.

- Você queria que eu repetisse?

- Não. Queria outra coisa.

- Que coisa é outra coisa?

- Não sei. Você que devia saber.

 - Por que eu deveria saber o que você não sabe?

- Qualquer pessoa sabe mais alguma coisa que outro não sabe.

- Eu só sei o que eu sei.

- Então não vai mesmo me dizer mais nada?

- Mais nada. - Se você quisesse ...

- Quisesse o quê?

 - Dizer o que você não tem pra me dizer. Dizer o que não sabe, o que eu queria ouvir de você. Em amor é o que há de mais importante: o que a gente não sabe.

- Mas tudo acabou entre nós.

- Pois isso é o mais importante de tudo: o que acabou. Você não me diz mais nada sobre o que acabou? Seria uma forma de continuarmos.

(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. p. 70.)

Fonte: Livro: Conecte : interpretação de textos : volume único/ William Roberto Cereja, Ciley Cleto. - 2. ed. - São Paulo : Saraiva, 2013. p. 33/35.

 Entendendo o texto

01.               O texto "Diálogo final" apresenta frases curtas, linguagem truncada, e esse traço formal pode estar relacionado com o conteúdo do texto.

a)   Que situação, vivida pelo casal, o texto aborda?

             O fim do relacionamento amoroso.

b)   Que relação pode haver entre essa situação e o modo como as personagens travam o diálogo?

A linguagem truncada reforça o clima tenso, a falta de comunicação, as dificuldades do relacionamento.

         c) O que supostamente o homem gostaria que a mulher dissesse?

     Provavelmente gostaria que ela explicasse o rompimento amoroso.

d)   Qual é a verdadeira intenção do homem ao insistir nas perguntas?

Manter o diálogo com ela e, assim, discutindo e esclarecendo o que não deu certo, talvez continuar o relacionamento.

 

POEMA: MEUS OITO ANOS - CASIMIRO DE ABREU - COM GABARITO

 POEMA: MEUS OITO ANOS

            Casimiro de Abreu


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Entendendo o poema

01.        No poema o eu lírico fala de quê?

Fala do sentimento de saudades da infância e os

elementos da natureza reforçam uma idealização tipicamente romântica.

02.               De que forma o eu lírico demonstra a sua proximidade com a natureza?

Ele retrata que viveu sua infância num lugar de belas paisagens, como mar, cachoeiras, campinas, laranjais, borboletas azuis, diz ele “céu bordado d’estrelas”.

03.   Em que versos fica perceptível que o eu lírico já não tem mais aquela felicidade plena e a inocência da infância agora está exposto às dificuldades e dores da vida adulta?

"Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!"

04.               O eu lírico busca por meio  da volta ao passado, sua infância, como um escape. Por quê?

Por não aceitar a realidade em que se encontra.

    05. O poema de Casimiro de Abreu reflete sobre a infância, vista no texto de maneira idealizada. De acordo com o eu-lírico:

a)   A infância sempre parecerá aos olhos do indivíduo como pura e perfeita, porém logo percebe-se de que tudo é idealização.

b)   Apenas a infância vivida no campo, no meio da natureza, pode ser considerada feliz e completa.

c)   As saudades que sentimos da infância revelam nosso grau de contentamento com essa fase da vida.

d)   O modo como vivemos na infância influenciará na maneira como iremos vivenciar nossa vida adulta.

e)   O presente revela-se triste e repleto de desilusões, contrastando com um passado feliz, cheio de realizações.

 06. A palavra abaixo que pode definir a infância do eu lírico é:

a) angústia.

b) melancolia.

c) contentamento.

d) aspereza. 


07. A finalidade do eu lírico no poema é:

a) revelar sua saudade da meninice e da terra natal.

b) impactar o leitor com narrativas infelizes.

c) instruir as pessoas a valorizarem o passado.

d) idealizar a vida adulta em detrimento da infância.

08. O sentimento que o eu lírico possui pela infância que não volta mais é:

a) recordação nostálgica.

b) melancolia extrema.

c) ternura profunda.

d) consternação prazerosa.

09. Sobre o poema, assinale a opção INCORRETA.

a) O eu lírico viveu sua infância em um lugar rodeado por muita natureza. 

b) O eu lírico sente um desejo profundo de retornar ao passado. 

c) As rotinas urbanas e rurais fizeram parte da infância do eu lírico.

d) Existe um sentimento de lembranças deleitosas pelo passado.


10. O verso que melhor expressa um sentimento do eu lírico é:

a) “Como são belos os dias”

b) “À sombra das bananeiras”

c) “O céu bordado d’estrelas”

d) “Que amor, que sonhos, que flores”


11. No verso: “Naquelas tardes fagueiras”, a palavra grifada significa

a) contrariedade.

b) adversidade.

c) satisfação.

d) ansiedade.


12. Subentende-se que o eu lírico, agora adulto, está exposto a uma vida

a) simples. 

b) dolorosa.

c) agradável.

d) vultosa.


13. Um verso que dá um tom coloquial na linguagem do poema é:

a) “O céu bordado d’estrelas”

b) “À sombra das bananeiras”

c) “Que aurora, que sol, que vida”

d) “O mar é – lago sereno”


14. Os versos que revelam um sentimento de liberdade e de felicidade são:

a) “Que aurora, que sol, que vida / Que noites de melodia”

b) “À roda das cachoeiras / Atrás das asas ligeiras / Das borboletas azuis!”

c) “Eu ia bem satisfeito / Da camisa aberto o peito / Pés descalços, braços nus”

d) “Oh! dias da minha infância! / Oh! meu céu de primavera!”


15. Prosopopeia ou personificação é a atribuição de características humanas a seres não humanos ou inanimados. Um verso do poema que mostra um exemplo de personificação é:

a) “Trepava a tirar as mangas”

b) “Que os anos não trazem mais!”

c) “Que amor, que sonhos, que flores”

d) “As ondas beijando a areia”

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

CONTO: A LIGA DOS CABEÇAS VERMELHAS - ARTHUR CONAN DOYLE - COM GABARITO

 CONTO: A liga dos cabeças vermelhas

         Arthur Conan Doyle

        Um dia de outono do ano passado, ao fazer uma visita a meu amigo Mr. Sherlock Holmes, encontrei-o entretido numa conversa com um cavalheiro de certa idade, muito gordo, rosto vermelho e uma cabeleira cor de fogo. Pedindo desculpas pela intromissão, já me retirava quando Holmes me puxou abruptamente para a sala e fechou a porta atrás de mim.

        — Não poderia ter chegado em melhor hora, meu caro Watson — disse cordialmente.

        — Receei que estivesse ocupado.

        — De fato, estou. E muito.

        — Nesse caso, posso esperar na outra sala.

        — De maneira alguma. Sr. Wilson, este cavalheiro tem sido meu assistente e colaborador em muitos dos meus casos mais bem-sucedidos, não tenho dúvidas de que me será de grande valia também no seu.

        O gordo cavalheiro soergueu-se ligeiramente e fez-me um cumprimento de cabeça, lançando-me uma olhadela inquisitiva com seus olhinhos empapuçados.

        — Acomode-se no canapé — disse-me Holmes, voltando a refestelar-se em sua poltrona e unindo as pontas dos dedos, como era seu costume quando imerso em reflexão. — Sei, meu caro Watson, que você partilha do meu gosto por tudo que é extravagante, que escapa das convenções e da pasmaceira do dia a dia. Mostrou seu gosto por essas coisas com o entusiasmo com que se dispôs a relatar, e, se me permite dizê-lo, a embelezar um pouco, tantas de minhas pequenas aventuras.

        — Seus casos realmente foram do maior interesse para mim.

        — Talvez lembre que comecei outro dia, pouco antes de enfrentarmos aquele problema muito simples apresentado por Miss Mary Sutherland, que, se quisermos encontrar efeitos estranhos e combinações extraordinárias, devemos procurar na própria vida, que vai sempre muito mais longe do que qualquer esforço da imaginação.

        — Uma posição que tomei a liberdade de pôr em dúvida.

        — De fato, doutor, mas terá de concordar comigo, pois do contrário continuarei a impingindo fato sobre fato, até que sua razão desabe sob o peso deles e reconheça que estou certo. Pois bem, Mr. Jabez Wilson, aqui, teve a bondade de recorrer a mim esta manhã e iniciar uma narrativa que promete ser das mais singulares que ouço nos últimos tempos. Você já me ouviu observar que as coisas mais estranhas e insólitas estão muitas vezes associadas não aos maiores, mas aos menores crimes, e às vezes mesmo a casos em que há margem para se duvidar de algum crime propriamente dito foi cometido. Pelo que ouvi até agora não me é possível dizer se o presente caso configura ou não um crime, mas o curso dos acontecimentos está sem dúvida entre os mais incomuns de que já tive notícia. Talvez pudesse fazer a grande gentileza, Mr. Wilson, de recomeçar sua narrativa. Peço-o não apenas porque meu amigo, o Dr. Watson, não ouviu o início, mas também porque a natureza peculiar da história deixa-me ansioso por não ouvir dos seus lábios todos os detalhes possíveis. Em regra, depois de ouvir uma ligeira indicação do curso dos eventos, sou capaz de me orientar com base nos milhares de outros casos semelhantes que me acorrem à memória. Na presente situação, porém, sou obrigado a admitir, em sã consciência, que os fatos parecem inauditos.

        O corpulento cliente estufou o peito, revelando uma ponta de orgulho, e puxou do bolso interno do paletó um jornal sujo e amassado. Enquanto ele passava os olhos pela coluna de anúncios, a cabeça espichava e o jornal alisado sobre os joelhos, dei-lhe uma boa espiada, esforçando-me por detectar, ao estilo de meu companheiro, os indícios que seu traje ou sua aparência poderiam conter.

        Mas minha inspeção não me revelou grande coisa. Nosso visitante tinha todas as características do comerciante britânico banal e mediano; era gordo, presunçoso e bronco. Usava calças bem largas de lã cinza quadriculada, uma sobrecasaca preta cuja limpeza deixava a desejar, desabotoada, e um colete pardacento sobre o qual brilhava uma grossa corrente Albert de latão de que pendia, como um berloque, uma peça de metal quadrada e furada. Em cima de uma cadeira, a seu lado, via-se um desbotado sobretudo marrom, a gola de veludo amassada. No conjunto, por mais que eu olhasse, nada havia de notável no homem, exceto seu cabelo de um ruivo chamejante e uma expressão de extrema consternação e contrariedade estampada no rosto.

        O olhar arguto de Sherlock Holmes percebeu rapidamente do que eu me ocupava, e, sacudiu a cabeça com um sorriso ao notar meu exame atento, comentou: — Além das evidências de que ele trabalhou como operário em alguma época, cheira rapé, é maçom, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não consigo deduzir mais nada.

        Mr. Jabez Wilson teve um sobressalto na sua cadeira; seu dedo indicador estava no jornal, mas os olhos no meu companheiro.

        — Céus! Como ficou sabendo de tudo isso, Mr. Holmes? — perguntou. — Como soube, por exemplo, que fui trabalhador braçal? É a mais perfeita verdade, comecei como carpinteiro de navio.

        — Suas mãos, meu caro senhor. A direita é bem maior que a esquerda. Trabalhou com ela e os músculos são mais desenvolvidos.

        — Mas e o rapé. E a maçonaria?

        — Não insultarei sua inteligência dizendo-lhe como adivinhei isso, especialmente porque, e na verdade contrariando as severas regras de sua ordem, o senhor usa um alfinete de gravata com arco e compasso.

        — Ah! Claro, esqueci-me disso. Mas, e a escrita?

        — Que outra coisa poderia indicar esse seu punho direito com uns doze centímetros tão lustrosos e a manga esquerda puída perto do cotovelo, onde a esfrega na mesa?

        — Bem, e a China?

        — O peixe que tem tatuado logo acima do pulso direito só poderia ter sido feito na China. Fiz um pequeno estudo das tatuagens e cheguei mesmo a contribuir para a literatura sobre o assunto. Essa habilidade de pintar escamas de peixe de um cor-de-rosa delicado é inteiramente peculiar à China. Quando, além disso, vejo uma moeda chinesa pendurada na corrente do seu relógio, a questão se torna ainda mais simples.

        Mr. Jabez Wilson deu uma gargalhada.

        — Vejam só! A princípio pensei que o senhor havia feito algo de extraordinário, mas vejo que, afinal, não foi nada de mais.

        — Começo a achar, Watson — disse Holmes —, que cometo um erro ao explicar. Omne ignotum pro magnifico, você sabe, e minha reputação, já modesta, ficará arruinada se eu continuar sendo tão franco.

        [...]

DOYLE, Arthur Conan. A liga dos cabeças vermelhas. As aventuras de Sherlock Holmes. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro Zahar, 2010.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª edição São Paulo 2015 p. 177-180.

Entendendo o texto:

01 – Quais são as personagens que aparecem no texto?

      Sherlock Holmes, Watson e Jabez Wilson.

02 – Transcreva um trecho do texto que nos permite imaginar que Sherlock Holmes é um detetive.

      Sr. Wilson, este cavalheiro tem sido meu assistente e colaborador em muitos dos meus casos mais bem-sucedidos, não tenho dúvidas de que me será de grande valia também no seu.” Ou “Pois bem, Mr. Jabez Wilson, aqui, teve a bondade de recorrer a mim esta manhã e iniciar uma narrativa que promete ser das mais singulares que ouço nos últimos tempos. Você já me ouviu observar que as coisas mais estranhas e insólitas estão muitas vezes associadas não aos maiores, mas aos menores crimes, e às vezes mesmo a casos em que há margem para se duvidar de algum crime propriamente dito foi cometido.”

03 – Releia o trecho a seguir:

        “O olhar arguto de Sherlock Holmes percebeu rapidamente do que eu me ocupava, e, sacudiu a cabeça com um sorriso ao notar meu exame atento, comentou: — Além das evidências de que ele trabalhou como operário em alguma época, cheira rapé, é maçom, esteve na China e tem escrito muito ultimamente, não consigo deduzir mais nada.”. Qual era a possível intenção de Sherlock Holmes ao fazer uma análise minuciosa da figura de seu cliente, Jabez Wilson?

      Sherlock quis provar a Wilson que era um bom investigador e, portanto, capaz de desvendar o crime que ele havia lhe contado. Além disso, quis mostrar a Watson que conseguia, sem esforço de imaginação, encontrar evidências sobre a história de vida de seu cliente.

04 – Identifique cada detalhe que Sherlock observou para descobrir os aspectos da vida de seu cliente. Em seguida, indique o que cada detalhe lhe revelou.

      As mãos: a direita era mais desenvolvida que a esquerda, o que lhe permitiu concluir que o cliente trabalhara em serviço pesado utilizando as mãos. Ser maçom: o cliente usava um prendedor de gravata com esquadro e compasso, símbolos da maçonaria. Escrever muito nos últimos tempos: o homem apresentava uma marca lustrosa no punho direito da camisa e outra, puída, no cotovelo esquerdo, demonstrando que se apoiava em uma escrivaninha. Ter estado na China: a tatuagem de peixe no punho, com as escamas coloridas de rosa próprias daquela região, e a confirmação com o uso de moeda chinesa pendurada à corrente. Cheirar rapé: O cheiro que ele exalava.

05 – Além de excelente observador, Sherlock possui outras características que o ajudam a tirar suas conclusões. Quais são elas?

      Além de observador, Sherlock é uma pessoa vivida, que tem experiências: já escreveu um tratado sobre as tatuagens chinesas, conhece os símbolos da ordem da maçonaria, etc. Seus conhecimentos lhe permitem estabelecer relações e tirar conclusões. Ele também domina o método dedutivo, essencial para relacionar os detalhes que observa ao repertório que acumulou.

06 – A expressão latina “Omne ignotum pro magnifico” pode ser traduzida da seguinte forma: “tudo que é ignorado é tido como magnífico”. Baseando-se nessa informação, responda: Por que Sherlock afirma que sua reputação ficará arruinada se ele continuar sendo tão franco?

      Sherlock sabe que, se continuar mostrando para as pessoas como chega às suas conclusões, elas perceberão que seu método não é sobrenatural, mas simples, pois trabalha com a lógica e as evidências.

07 – Releia o primeiro parágrafo do texto e responda: Que marcas textuais nos permitem afirmar que o narrador da história e uma personagem que participa da trama?

      O uso do verbo e dos pronomes pessoais na primeira pessoa do singular: “encontrei-o”, “já me retirava quando Holmes me puxou abruptamente para a sala e fechou a porta atrás de mim”.

08 – Que personagem nos conta a história? Identifique-a e copie o trecho do texto em que o detetive demonstra ter consciência de que essa personagem é a divulgadora de suas aventuras.

      Watson é o narrador das histórias de Sherlock. “— Sei, meu caro Watson, que você partilha do meu gosto por tudo que é extravagante, que escapa das convenções e da pasmaceira do dia a dia. Mostrou seu gosto por essas coisas com o entusiasmo com que se dispôs a relatar, e, se me permite dizê-lo, a embelezar um pouco, tantas de minhas pequenas aventuras.”

09 – Em sua opinião, qual pode ser a intenção de um escritor ao optar pelo foco narrativo em 1ª pessoa?

      Se o foco narrativo está em 1ª pessoa, o leitor lê os fatos narrados como verdadeiros, pois eles foram testemunhados por uma personagem que os vivenciou. Nesse caso, portanto, o modo de ver os fatos restringe-se à visão de uma personagem, que pode ou não contar a verdade dos fatos ao leitor.

10 – Leia estes trechos do texto:

I – “Um dia, no outono do ano passado, ao fazer uma [...]”.

II – “De fato, estou. [...]”.

III – “[...] Peço-o não apenas [...]”.

IV – “Bem, e a China?”.

V – “Suas mãos, meu caro senhor”.

        Quando lemos esses trechos isoladamente, sem nos esquecermos de que foram retirados de um texto, quais deles não podem ser compreendidos? Por quê?

      O primeiro e o terceiro enunciados, pois não apresentam uma ideia completa, não têm sentido completo.

11 – Agora, leia estes outros enunciados:

I – “Vejam só!”.

II – “Mas e a escrita?”.

a)   Eles apresentam sentido completo?

Sim, ambos têm sentido completo.

b)   Observe sua estrutura e indique em que se diferenciam.

O enunciado I possui verbo e o II, não.