Mostrando postagens com marcador STANISLAW PONTE PRETA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador STANISLAW PONTE PRETA. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

CONTO: CONTO DE MISTÉRIO - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

 Conto: Conto de mistério

           Stanislaw Ponte Preta

        Com a gola do paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era quase impossível qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que tinham já estipulado à maneira de senha. Parou debaixo do poste, acendeu o cigarro e soltou a fumaça em três baforadas compassadas. Imediatamente um sujeito mal-encarado, que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.

        Era aquele. Atravessou cautelosamente a rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou: “Siga-me!” – foi a ordem dada com voz cavernosa. Deu apenas um gole no guaraná e saiu. O outro entrou num beco úmido e mal iluminado e ele – a uma distância de uns dez a doze passos – entrou também.

        Ali parecia não haver ninguém. O silêncio era sepulcral. Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça gemeu e a porta abriu-se discretamente.

        Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de pobre trabalhador parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou – porém – quando o homem que entrara na frente apontou para o que entrara em seguida e disse: “É este”.

        O que estava por trás da mesa pegou um dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e perguntou se trouxera o dinheiro. [...]

        Saiu então sozinho, caminhando rente as paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um taxi que passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O motorista obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher:

        -- Julieta! Ó Julieta... consegui.

        A mulher veio lá de dentro enxugando as mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo, depois de tanto esforço e economia, comprar aquilo que eles não viam há tanto tempo naquele barraco. Ali estava: um quilo de feijão.

                                 Stanislaw Ponte Preta. “Conto de mistério”. In: Dois amigos e um chato. 25. ed. São Paulo, Moderna, 1986. p. 65-6.

                                               Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.22-3.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        À guisa de: À maneira de, ao modo de.

·        Compassado: Pausado, cadenciado.

·        Cava: Rouca, cavernosa.

·        Tocaia: Espreita ao inimigo, emboscada.

·        Hesitar: Ficar indeciso, vacilar.

·        Triunfal: Vitorioso, superior.

02 – Qual o código usado pela personagem para identificar-se como a pessoa esperada?

      A fumaça em três baforadas compassadas.

03 – Em que momento a linguagem é usada para apelar ao homem de paletó que fizesse ou deixasse de fazer alguma coisa?

      Quando o outro homem diz “Siga-me!”.

04 – Que fala da segunda personagem tem por objetivo fazer referência ao homem de paletó para transmitir uma informação ao sujeito de barba?

      “É este”.

05 – Como o homem de paletó expressa os seus sentimentos de triunfo para a mulher?

      Entra em casa a berrar: -- Julieta! Ó Julieta... consegui.

06 – Que providências tomou o homem para que ninguém o reconhece-se?

Ele levantou a gola do paletó e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era quase impossível qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto.

07– Ao sair do café, o homem não caminhou ao lado do outro que encontrara. Por quê?

Não poderia vê-los juntos, então um entrou num beco e a uma distância de uns dez a doze passos – entrou o outro.

08 – Como era o beco onde os dois entraram? Quem os homens encontraram na sala pequena e enfumaçada?

O  beco era úmido e mal iluminado. Por trás da mesa  um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de pobre trabalhador parecia ter medo do que ia fazer.

09 – Que tipo de negócio parecia estar sendo feito ali? Por quê?

Parecia vender algo ilícito, devido a tanto mistério.

10 – Que trecho do último parágrafo mostra que a compra do feijão não é vista como um ato rotineiro, comum, mas sim como um desafio para o personagem?

O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo, depois de tanto esforço e economia, comprar aquilo que eles não viam há tanto tempo naquele barraco.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

CRÔNICA: DOIS AMIGOS E UM CHATO - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

Crônica: Dois amigos e um chato
                 
                 Stanislaw Ponte Preta

   Os dois estavam tomando um cafezinho no boteco da esquina, antes de partirem para as suas respectivas repartições. Um tinha um nome fácil: era o Zé. O outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era o Flaudemíglio.
        Acabado o café o Zé perguntou: — Vais pra cidade?
  — Vou — respondeu Flaudemíglio, acrescentando:  
— Mas vou pegar o 434, que vai pela Lapa. Eu tenho que entregar uma urinazinha de minha mulher no laboratório da Associação, que é ali na Mem de Sá.
        Zé acendeu um cigarro e olhou para a fila do 474, que ia direto pro centro e, por isso, era a fila mais piruada. Tinha gente às pampas.
        — Vens comigo? — quis saber Flaudemíglio.
        — Não — disse o Zé: — Eu estou atrasado e vou pegar um direto ao centro.
        — Então tá — concordou Flaudemíglio, olhando para a outra esquina e, vendo que já vinha o que passava pela Lapa: — Chi! Lá vem o meu… — e correu para o ponto de parada, fazendo sinal para o ônibus parar.
        Foi aí que, segurando o guarda-chuva, um embrulho e mais o vidrinho da urinazinha (como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na véspera para o exame de laboratório…), foi aí que o Flaudemíglio se atrapalhou e deixou cair algo no chão.
        O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra. Flaudemíglio só teve tempo de berrar para o amigo: — Zé, caiu minha carteira de identidade. Apanha e me entrega logo mais.
        O 434 seguiu e Zé atravessou a rua, para apanhar a carteira do outro. Já estava chegando perto quando um cidadão magrela e antipático e, ainda por cima, com sorriso de Juraci Magalhães, apanhou a carteira de Flaudemíglio.
        — Por favor, cavalheiro, esta carteira é de um amigo meu —disse o Zé estendendo a mão.
        Mas o que tinha sorriso de Juraci não entregou. Examinou a carteira e depois perguntou: — Como é o nome do seu amigo?
        — Flaudemíglio — respondeu o Zé.
        — Flaudemíglio de quê? — insistiu o chato.
        Mas o Zé deu-lhe um safanão e tomou-lhe a carteira, dizendo: — Ora, seu cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada!

                                                      Stanislaw Ponte Preta
Entendendo a crônica:

01 – O que nos diz o narrador sobre o nome de cada um dos amigos?
      Um tinha o nome fácil: era Zé. O outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era Flaudemíglio.

02 – Por que os dois amigos não pegaram o mesmo ônibus?
      Porque Flaudemíglio tinha que entregar a urinazinha da mulher no laboratório.

03 – Retire do texto a passagem em que, ironicamente, o narrador se refere ao comportamento do motorista do 434.
      “O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra.”     

04 – É possível, pelo texto, descobrir o sentido da expressão “mais piruado”?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: mais cheia de gente.

05 – Como o narrador caracteriza o chato que surge na crônica?
      Como cidadão magrela e antipático e, ainda por cima, com sorriso de Juraci Magalhães.

06 – Qual a razão apresentada pelo Zé para pôr fim à chatice do cidadão magrela?
      “— Ora, seu cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada!”     

07 – Você já passou por um apuro semelhante ao narrado nesse texto? O que aconteceu?
      Resposta pessoal do aluno.


terça-feira, 23 de julho de 2019

CONTO: LATRICÉRIO - STANISLAW PONTE PRETA - COM QUESTÕES GABARITADAS

CONTO: Latricério
                   (Stanislaw Ponte Preta)

Tinha um linguajar difícil, o Latricério. Já de nome era ruinzinho, que Latricério não é lá nomenclatura muito desejada. E era aí que começavam os seus erros.
Foi porteiro lá do prédio durante muito tempo. Era prestativo e bom sujeito, mas sempre com o grave defeito de pensar que sabia e entendia de tudo. Aliás, acabou despedido por isso mesmo. Um dia enguiçou a descarga do vaso sanitário de um apartamento e ele achou que sabia endireitar. O síndico do prédio já ia chamar um bombeiro, quando Latricério apareceu dizendo que deixassem por sua conta.
Dizem que o dono do banheiro protestou, na lembrança talvez de outros malfadados consertos feitos pelo serviçal porteiro. Mas o síndico acalmou-o com esta desculpa excelente:
— Deixe ele consertar, afinal são quase xarás e lá se entendem.
Dono da permissão, o nosso amigo — até hoje ninguém sabe explicar por quê — fez um rápido exame no aparelho em pane e desceu aos fundos do edifício, avisando antes que o defeito era “nos cano de orige”.
Lá embaixo, começou a mexer na caixa do gás e, às tantas, quase provoca uma tremenda explosão. Passado o susto e a certeza de mais esse desserviço, a paciência do síndico atingiu o seu limite máximo e o porteiro foi despedido.
Latricério arrumou sua trouxa e partiu para nunca mais, deixando tristezas para duas pessoas: para a empregada do 801, que era sua namorada, e para mim, que via nele uma grande personagem.
Lembro-me que, mesmo tendo sido, por diversas vezes, vítima de suas habilidades, lamentei o ocorrido, dando todo o meu apoio ao Latricério e afirmando-lhe que fora precipitação do síndico. Na hora da despedida, passei-lhe às mãos uma estampa do American Bank Note no valor de quinhentos cruzeiros, oferecendo ainda, como prêmio de consolação, uma horrenda gravata, cheia de coqueiros dourados, virgem de uso, pois nela não tocara desde o meu aniversário, dia em que o Bill — o americano do 602 — a trouxera como lembrança da data.
Mas, como ficou dito acima, Latricério tinha um linguajar difícil, e é preciso explicar por quê. Falava tudo errado, misturando palavras, trocando-lhes o sentido e empregando os mais estranhos termos para definir as coisas mais elementares. Afora as expressões atribuídas a todos os “malfalantes”, como “compromisso de cafiaspirina”, “vento encarnado”, “libras estrelinhas”, etc., tinha erros só seus.
No dia em que estiveram lá no prédio, por exemplo, uns avaliadores da firma a quem o proprietário ia hipotecar o imóvel, o porteiro, depois de acompanhá-los na vistoria, veio contar a novidade:
— Magine, doutor! Eles viero avalsá as impoteca!
É claro que, no princípio, não foi fácil compreender as coisas que ele dizia mas com o tempo, acabei me acostumando. Por isso não estranhei quando os ladrões entraram no apartamento de Dona Vera, então sob sua guarda, e ele veio me dizer, intrigado:
— Não compreendo como eles entraro. Pois as portas tava tudo “aritmeticamente” fechadas.
Tentar emendar-lhe os erros era em pura perda. O melhor era deixar como estava. Com sua maneira de falar, afinal, conseguira tornar-se uma das figuras mais populares do quarteirão e eu, longe de corrigir-lhe as besteiras, às vezes falava como ele até, para melhor me fazer entender.
Foi assim no dia em que, com a devida licença do proprietário, mandei derrubar uma parede e inaugurei uma nova janela, com jardineira por fora, onde pretendia plantar uns gerânios. Estava eu a admirar a obra, quando surgiu o Latricério para louvá-la.
— Ainda não está completa — disse eu — falta colocar umas persianas pelo lado de fora.
Ele deu logo o seu palpite:
— Não adianta, doutor. Aí bate muito sol e vai morrê tudo.
Percebi que jamais soubera o que vinha a ser persiana e tratei de explicar à sua moda:
— Não diga tolice, persiana é um negócio parecido com venezuela.
— Ah, bem, venezuela — repetiu.
E acrescentou:
— Pensei que fosse “arguma pranta”.

PRETA, Stanislaw Ponte. Dois amigos e um chato. São Paulo: Moderna, 1986. p. 44-6. (Veredas).
Fonte: Livro – Linguagens em Sintonia – Língua Portuguesa – Ed. Scipione- 6º ano do Ensino Fundamental.

ESTUDO DO CONTO

1)   Que tipo de narrador há nesse texto?
Narrador-personagem.

2)   De acordo com o início do texto, por onde começavam os erros do porteiro?
Pelo nome que tinha: Latricério.

3)   Apesar de bonzinho e prestativo, qual era o grande defeito de Latricério?
O de pensar que entendia de tudo.

4)   Por que razão foi despedido? O que fez que acabou fazendo o síndico perder a paciência e despedi-lo?
Justamente por achar que entendia de tudo. Ao tentar consertar um problema hidráulico de um dos apartamentos, foi mexer no gás e quase explodiu o prédio.

5)   Segundo o texto, Latricério, ao partir, deixou saudade para duas pessoas. Quem eram elas?
Uma pessoa era a namorada dele e a outra era o personagem-narrador.

6)   Em dado momento, o personagem-narrador volta a afirmar que o Latricério tinha um linguajar difícil. Por quê?
Porque ele falava tudo errado, misturava as palavras, trocava os sentidos e empregava termos incomuns para falar sobre coisas simples.

7)   Qual era a atitude do personagem-narrador em relação aos erros de linguagem de Latricério?
Não acreditava que Latricério pudesse expressar-se de outra forma. Acostumou-se ao seu jeito de falar e, às vezes, até falava de modo parecido para poder se comunicar melhor com o porteiro.

8)   O que fez o personagem-narrador para tentar explicar a Latricério o que era uma persiana?
Ao tentar explicar, comentou que persiana era algo semelhante com uma venezuela, (fazendo brincadeira com veneziana) para expressar-se de maneira parecida com a do porteiro, que declarou achar que o termo se referia a uma planta.

9)   Ao longo do texto, quais os níveis de linguagem utilizados pelo porteiro e pelo narrador-personagem?
O porteiro usava uma linguagem coloquial, ou informal, e o narrador, uma linguagem formal.



sábado, 16 de março de 2019

CRÔNICA: VAMOS ACABAR COM ESTA FOLGA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

Crônica: Vamos acabar com esta folga
            Stanislaw Ponte Preta


     O negócio aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse café, tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o diabo.
        De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocação, e logo um turco, tão forte como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:
        -- Isso é comigo?
        -- Pode ser com você também – respondeu o alemão.
        Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura que caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem pra ele ali dentro. Queimou-se então um português que era maior ainda que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu pra cima do alemão e não teve outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.
        O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o que dizia era certo. Não havia homem pra ele ali naquele café. Levantou-se então um inglês troncudo pra cachorro e também entrou bem. E depois do inglês foi a vez de um francês, depois de um norueguês etc., etc. Até que, lá do canto do café, levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia, para perguntar, como os outros:
        -- Isso é comigo?
        O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio de bossa e veio gingando assim pro lado do alemão. Arou perto, balançou o corpo e... PIMBA! O alemão deu-lhe uma cacetada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.
        Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros.

                                                              Stanislaw Ponte Preta

Entendendo a crônica:
01 – “O NEGÓCIO ACONTECEU NUM CAFÉ”. A que negócio se refere o texto?
      A um desafio pra ver quem era mais forte.

02 – Que espécie de local seria o café onde ocorreu a história?
      Seria um bar.

03 – “... um alemão... gritou que não via homem pra ele ali dentro”. O que quis dizer o alemão com esta frase?
      Que lá não tinha ninguém mais forte que ele.

04 – “Queimou-se e não conversou.” O que quer dizer essa expressão?
      Que o português aceitou o desafio e partiu pra cima sem dizer nada.

05 – Todos os personagens que enfrentam o alemão são derrotados. Por que, ao lermos a crônica, achamos que o brasileiro vai vencê-lo?
      Porque o brasileiro foi com aquela ginga de quem sabe tudo e vai derrotar o outro.

06 – Quais as qualidades do brasileiro apontadas pelo autor?
      Então o brasileiro deu um sorriso cheio de bossa e veio gingando assim pro lado do alemão. Arou perto, balançou o corpo e... PIMBA!

07 – Por que a senhora que escuta a história acha que ela não havia terminado? O que faltava?
      Porque ela esperava que o brasileiro viesse vencer o alemão.

08 – Para você o que poderíamos escrever em lugar da palavra “o diabo” na última linha do 1° parágrafo?
      Resposta pessoal do aluno.  
  
09 – “... é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio...”. O que quer dizer pisar macio?
      É achar que com cautela e esperteza vem tudo.     





quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

FÁBULA: DOS DOIS LEÕES - STANISLAW PONTE PRETA(SÉRGIO PORTO) - COM GABARITO

Fábula: Dos Dois Leões
              Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

        Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. 


     Procuraram os leões de todo jeito, mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.
        Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca.  Voltou magro, faminto e alquebrado.  Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.
        Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.  Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
        Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha:
        — Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arrego, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.
        O outro leão então explicou:
        — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.  Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.
        — E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?
        — Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.

Fonte: “Primo Altamirando e Elas”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1961, pág. 153.

Entendendo a fábula:

01 – O texto de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) mostra implicitamente um hábito comum nas repartições públicas do país que perdura há décadas:
a)   A importância de se tomar café como relaxamento em horários de rotina por parte dos servidores públicos.
b)   A falta de qualificação profissional por parte do serviço público quanto ao cumprimento dos serviços.
c)   O desrespeito por parte dos servidores em estarem tomando café em horário de expediente.
d)   A discriminação dos servidores públicos graduados quanto ao serviço de um contínuo (Auxiliar de Serviços Gerais que providencia o café).
e)   A escassez de servidores públicos nas repartições públicas, principalmente as de órgãos municipais.

02 – Sobre o texto de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), a expressão alquebrado pode ser substituída sem alteração contextual por:
     a) Vigoroso.
     b) Forte.
     c) Desconfiado.
     d) Abatido.
      e) Cego.

03 – Entre os fragmentos textuais abaixo, assinale a alternativa em que a expressão grifada corresponde a um termo adjetivo.
a)   Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade.
b)   Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou.
c)   Voltou magro, faminto e alquebrado.
d)   Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
e)   — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.

04 – Assinale, entre os fragmentos textuais abaixo o que apresenta nitidamente uma linguagem figurada denominada prosopopeia.
a)   Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico.
     b) Tinham sumido, que nem o leite.
     c) Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde.
     d) Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico      Schmidt que, para certas coisas, também é leão.
     e) O outro leão então explicou: — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública.

05 – No trecho: ― Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca ‖, temos:
     a) Uma conjugação verbal no afirmativo do imperativo.
     b) Uma conjugação verbal no presente do indicativo.
     c) Uma conjugação verbal no futuro do subjuntivo.
     d) Uma   conjugação   verbal   no   pretérito   mais-que-perfeito do indicativo.
     e) Uma conjugação verbal no pretérito imperfeito do indicativo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

CRÔNICA: PROVA FALSA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

Crônica: Prova Falsa
               Stanislaw Ponte Preta

        Quem teve a ideia foi o padrinho da caçula – ele me conta. Trouxe o cachorro de presente e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho. Ele até que não é contra isso de se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente e com um mínimo de educação.
        — Mas o cachorro era um chato — desabafou.
        Desses cachorrinhos de raça, cheio de nhém-nhém-nhém, que comem comidinha especial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E, como se isto não bastasse, implicava com o dono da casa.

        — Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas, quando eu entrava em casa, vinha logo com aquele latido fininho e antipático de cachorro de francesa.
        Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da oposição, que espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro ficam mais por baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.
        — Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cínico, minha mulher brigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu é que implicava com o "pobrezinho".
        Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas, roeu a manga de um paletó de casimira inglesa, rasgara diversos livros, não podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis.
        A vida lá em sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da mulher.
        — Você é um desalmado — disse ela, uma vez.
        Venceu a guerra fria com o cachorro graças à má educação do adversário. O cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. Várias vezes exemplado, prosseguiu no feio vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na boneca da filha maior. Quatro ou cinco vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido novo de sua mulher.
        — Aí mandaram o cachorro embora? — perguntei. 
        — Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo de presente a um amigo que adora cachorros. Ele está levando um vidão em sua nova residência.
        — Ué... mas você não o detestava? Como é que arranjou essa sopa pra ele?
        — Problema da consciência — explicou: — O pipi não era dele.
        E suspirou cheio de remorso.

                   Stanislaw Ponte Preta. In: Para gostar de ler, volume 13.
Histórias divertidas, São Paulo, Ática, 1997.
Vocabulário
Espinafram – criticam, falam mal
Casimira – tecido de lã, muito produzido na Inglaterra
Desalmado – desumano, cruel
Guerra fria – desentendimento que não chega à violência física
Exemplado – castigado
Culminou – atingiu o ponto máximo.

Entendendo a crônica:
01 – O texto está escrito em prosa ou verso? Essa forma é adequada ao texto?
      O texto está escrito em prosa, forma adequada ao tipo de texto.

02 – O texto “Prova Falsa” é uma crônica, isto é, um texto em que o autor conta fatos do cotidiano, com humor, ironia, estranheza, numa linguagem informal, descontraída. Qual o fato do cotidiano que originou a história?
      O fato real são as agruras de um cão dentro de casa.

03 – Quem narra a história para o leitor?
a) O antigo dono do cachorro.
b) Um amigo do antigo dono do cachorro.

c) O novo dono do cachorro.
04 – Quem teve a ideia de dar um cachorro àquela família?
      O padrinho do caçula.

05 – Como deveria ser o cachorro para agradar ao dono da casa?
      Obediente e com um mínimo de educação.

06 – O texto apresenta linguagem formal ou informal? Cite exemplos.
      A linguagem mais utilizada é informal: “Cheio de nhém-nhém-nhém; puxa-saco, vidão, pipi”, etc.

07 – O dono da casa compara o cachorro aos políticos da oposição. O que há em comum entre os dois?
      São puxa-sacos.

08 – Que pessoas do cotidiano aparecem na história? Esta história poderia acontecer na vida real? Explique.
      As pessoas citadas pertencem a uma família: mãe, pai, filhos. Poderia acontecer na vida real, pois muitas famílias têm cachorros que estragam e bagunçam a casa.

09 – O dono da casa dizia que o cachorro implicava com ele. A mulher concordava com essa opinião? O que ela dizia sobre isso?
      Não, a mulher dizia que nunca houve cachorro fingido e que ele é que implicava com o pobrezinho.

10 – A palavra “pobrezinho” aparece entre aspas na linha 21 para indicar:
a) tamanho pequeno                    
b) pobreza                         
c) deboche.

11 – O homem enumerou várias coisas que o cachorro fez. Cite-as. / Cite três delas.
     Comeu 8 meias, roeu a manga de um paletó e rasgou diversos livros.

12 – Ele tentou mandar o cachorro embora várias vezes, mas não deu certo. Por quê?
      Porque as crianças choravam e mulher brigava com ele.

13 – Afinal, o cachorro merecia ser mandado embora? Explique.
      Não, porque foi uma armação, o cachorro não tinha culpa, o pipi não era dele.

14 – Por que o título do texto é "Prova Falsa"?
      Porque o dono criou uma falsa prova contra o cachorro para mandá-lo embora.

15 – Qual o tempo verbal que predomina no texto? Esse tempo verbal é adequado ao tipo de texto? Por quê?
      O tempo verbal predominante é o Pretérito Imperfeito. É um tempo verbal adequado ao texto, pois narra fatos que estavam acontecendo no passado.