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domingo, 31 de julho de 2022

CRÔNICA: AI DE TI, COPACABANA - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: Ai de ti, Copacabana

               Rubem Braga

        1. AI DE TI, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.

        2. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.

        3. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia.

        4. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas.

        5. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão.

        6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão.

        7. E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska.

        8. Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum.

        9. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão.

        10. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação.

        11. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência.

        12. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.

        13. Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia.

        14. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações.

        15. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?

        16. Antes de te perder eu agravarei s tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão.

        17. E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela habitará.

        18. E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.

        19. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.

        20. A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará.

        21. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares.

        22. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas joias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!

Rio, janeiro, 1958

BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 80-3.

             Fonte: Livro Língua Portuguesa – Trilhas e Tramas – Volume 1 – Leya – São Paulo – 2ª edição – 2016. p. 106-9.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Iniquidade: injustiça.

·        Setentrião: vento norte.

·        Jamanta: arraia-gigante; peixe dos mares tropicais que atinge até 3 metros comprimento e 5 metros de diâmetro.

·        Mero: peixe do Atlântico tropical que atinge até 3 m de comprimento e pesa até 450 kg.

·        Mancebo: rapaz, jovem.

·        Lambreta: veículo motorizado semelhante à motocicleta; motoneta; vespa.

·        Concupiscência: prazer; desejo intenso de bens ou gozos materiais.

·        Quebrantar: vencer, domar, amansar.

·        Badejos, garoupas e tainhas: peixes do Oceano Atlântico.

·        Fariseu: com o sentido de indivíduo que aparenta santidade não a tendo; indivíduo hipócrita, fingido.

·        Rapina: ato de roubar, tirar, subtrair com violência.

·        Libação: ato de tomar bebidas alcoólicas por prazer e para fazer brindes.

·        Hetaira: na antiga Grécia, mulher dissoluta, cortesã; prostituta elegante e distinta.

·        Alfonje: sabre, espada de lâmina curta e larga.

·        Cação: peixe da família do tubarão.

02 – Caracterize o narrador de “Ai de ti, Copacabana” usando passagens da crônica.

      O narrador é um ser superior, um profeta, que tem o poder de prever o futuro. Trechos do texto que justificam a resposta: “[...] minha voz te abalará até as entranhas”; “Já movi o mar de uma parte e de outra parte [...]”; “[...] eu agravarei a tua demência [...]”; “[...] eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá.”.

03 – A quem o narrador se dirige? Com que objetivo?

      Ele se dirige ao bairro boêmio de Copacabana em tom ameaçador e irônico, profetizando seu fim.

04 – “Ai de ti, Copacabana” é uma crônica intertextual. Releia estes trechos:

        Ai de ti; referver de espumas; bando de carneiros em pânico; as muralhas ruirão; a hora da provação; Por que rezais em vossos templos, fariseus [...]; a multidão de vossos pecados; porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá; Pois o fogo e a água te consumirão. Com qual texto a crônica dialoga? Justifique.

      A crônica dialoga com o texto bíblico (a Bíblia), apropriando-se de imagens e de trechos do livro do Apocalipse.

05 – Explique a presença de numeração nos parágrafos.

      Os 22 parágrafos são numerados como se fossem versículos da Bíblia.

06 – O que o narrador de “Ai de ti, Copacabana” expressa por meio do texto?

a)   Ironia e rancor.

b)   Ameaça e lamento.

c)   Desprezo e horror.

d)   Queixa e dor.

e)   Arrogância e alerta.

07 – Releia os trechos a seguir e explique o que motivou as “profecias apocalípticas” do narrador.

·        [...] estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia. (3).

·        Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas. (8).

·        Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? (8)

·        [...] desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão. (9).

·        Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto. [...]. (10).

·        E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações. (14).

·        Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados? (19).

·        Pois grande foi a tua vaidade [...]. (19).

      O que motivou essas e outras “profecias apocalípticas” do narrador foram a desigualdade social, o desprezo pela natureza, a corrupção e a especulação imobiliária, a prostituição, as futilidades, os vícios.

08 – Releia o trecho a seguir e explique a que ele se refere.

        “Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite?”

      O trecho refere-se à fusão de cultos religiosos, chamada de “sincretismo religioso”.

09 – Qual é o efeito provocado pela citação de nomes de bairros, espaços públicos, casas noturnas, galerias comerciais, personalidade, etc.?

      A citação de nomes dá um tom documental, de registro de locais, cenários e fatos, que é uma das marcas do gênero crônica.

 

 

 

domingo, 26 de junho de 2022

CRÔNICA: CARTA AO PREFEITO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: Carta ao Prefeito

               Rubem Braga

        Senhor Prefeito do Distrito Federal:

        Eu sou um desses estranhos animais que têm por habitat o Rio de Janeiro; ouvi-me, pois, com o devido respeito.

        Sou um monstro de resistência e um técnico em sobrevivência – pois o carioca é, antes de tudo, um forte. Se às vezes saio do Rio por algum tempo para descansar de seus perigos e desconfortos (certa vez inventei até ser correspondente de guerra, para ter um pouco de paz) a verdade é que sempre volto. Acostumei-me, assim, a viver perigosamente. Não sou covarde como esses equilibristas estrangeiros que passeiam sobre fios entre os edifícios. Vejo-os lá em cima, longe, dos ônibus e lotações, atravessando a rua pelos ares e murmuro: eu quero ver é no chão.

        Também não sou assustado como esse senhor deputado Tenório Cavalcanti, que mora em Caxias e vive armado; moro bem no paralelo 38, entre Ipanema e Copacabana, e às vezes, nas caladas da noite, percorro desarmado várias boates desta zona e permaneço horas dentro da penumbra entre cadeiras que esvoaçam e garrafas que se partem docemente na cabeça dos fiéis em torno. E estou vivo.

        Ainda hoje tenho coragem bastante para tomar um ônibus ou mesmo um lotação e ir dentro dele até o centro da cidade. Vivo assim, dia a dia, noite a noite, isto que os historiadores do futuro, estupefatos, chamarão a Batalha do Rio de Janeiro. Já fiz mesmo várias viagens na Central. Eu sou um bravo, senhor.

        Sei também que não me resta nenhum direito terreno; respiro o ar dos escapamentos abertos e me banho até no Leblon, considerado um dos mais lindos esgotos do mundo; aspiro o perfume da curva do Mourisco e a brisa da Lagoa e – sobrevivo. E compreendo que, embora vós administreis à maneira suíça, nós continuaremos a viver à maneira carioca.

        Eu é que não me queixo; já me aconteceu escapar de morrer dentro de um táxi em uma tarde de inundação e ter o consolo de, chegando em casa, encontrar a torneira perfeitamente seca.

        Prometestes, senhor, acabar em 30 dias com as inundações no Rio de Janeiro; todo o povo é testemunha desta promessa e de seu cumprimento: é que atacaste, senhor, o mal pela raiz, que são as chuvas. Parou de chover, medida excelente e digna de encômios.

        Mas não é para dizer isso que vos escrevo. É para agradecer a providência que vossa administração tomou nestas últimas quatro noites, instalando uma esplêndida lua cheia em Copacabana. Não sei se a fizestes adquirir na Suíça para nosso uso permanente, ou se é nacional. Talvez só possamos obter uma lua cheia definitiva reformando a Constituição e libertando Vargas.

        Mas a verdade é que o luar sobre as ondas me consolou o peito. E eu andava muito precisado. Obrigado, Senhor.

Rubem Braga – Rio, junho de 1951.

Rubens Braga. Carta ao prefeito. São Paulo: Ática, 1979. p. 43-4. (Para gostar de ler, 4).

Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 112-3.

Entendendo a crônica:

01 – A crônica que você leu foi escrita em forma de uma carta. Está endereçada ao prefeito do Distrito Federal (na época, o Rio ainda era o Distrito Federal). Que cuidados em relação à linguagem o autor tomou, para fazer a carta parecer verdadeira?

      O autor dirige-se a um interlocutor, a quem ele chama de “senhor”, e usa a segunda pessoa do plural. Escreve em primeira pessoa e inicia seu texto com a evocação: “Senhor prefeito do Distrito Federal”.

02 – Explique como o autor consegue fazer críticas contundentes à administração da cidade, sem atacar diretamente as autoridades.

      Ele usa a ironia: diz exatamente o contrário do quer fazer parecer. Faz os piores ataques à administração da cidade, ao mesmo tempo que elogia o prefeito.

03 – Raramente os políticos cumprem o que prometem, mas o prefeito do Rio acabou com as inundações e mereceu os elogios do cronista. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno: Sugestão: O aluno deverá discordar. Dizer que o prefeito atendeu seu pedido providenciando o final das chuvas para acabar com as inundações também é ironia.

04 – Relendo os três últimos parágrafos do texto, a quem seria possível atribuir o pronome de tratamento “senhor” utilizado pelo autor?

      Nos três últimos parágrafos do texto, fica claro que o “senhor” não é o prefeito. Pode ser uma referência a um ser sobrenatural poderoso, que teria poderes sobre a natureza.

05 – Na sua opinião, o que seria administrar à maneira suíça? E viver à maneira carioca?

      Administrar à maneira suíça seria administrar uma cidade como se ela fosse de primeiro mundo; viver à maneira carioca seria viver num país de terceiro mundo.

06 – Na “Carta ao Prefeito”, escrita em junho de 1951, Rubem Braga faz referência à “Batalha do Rio de Janeiro”. Comparando esse texto com os acontecimentos citados em “As meninas da linha 174 – um elogio”, a que conclusões é possível chegar?

      Pode-se concluir que a violência no Rio de Janeiro, já descrita em 1951, continua, apresentando-se de forma ainda mais acentuada.

07 – Verifique se a descrição do Rio de Janeiro, da forma feita pelo autor, corresponde ao conceito de cidade elaborado pela classe na abertura da unidade.

      Provavelmente, não haverá correspondência. O conceito de cidade, elaborado pela classe, deve referir-se à cidade como um lugar no qual o cidadão poderá viver em condições dignas.

domingo, 10 de outubro de 2021

CRÔNICA: CAFEZINHO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 CRÔNICA: CAFEZINHO

                      Rubem Braga

 Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado e lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho. Ele esperou longamente, e chegou à conclusão de que o funcionário passou o dia inteiro tomando café.

Tinha razão o rapaz de ficar zangado. [...]

A vida é triste e complicada. Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas.

O remédio é ir tomar um “cafezinho”. Para quem espera nervosamente, esse “cafezinho” é qualquer coisa infinita e torturante. Depois de esperar duas ou três horas dá vontade de dizer:

– Bem cavalheiro, eu me retiro. Naturalmente o Sr. Bonifácio morreu afogado no cafezinho.

Ah, sim, mergulhemos de corpo e alma no cafezinho. Sim, deixemos em todos os lugares este recado simples e vago: – Ele saiu para tomar um café e disse que volta já.

Quando a bem-amada vier com seus olhos tristes e perguntar: – Ele está? – alguém dará o nosso recado sem endereço. Quando vier o amigo e quando vier o credor, e quando vier o parente, e quando vier a tristeza, e quando a morte vier, o recado será o mesmo: – Ele disse que ia tomar um cafezinho...

Podemos, ainda, deixar o chapéu. Devemos até comprar um chapéu especialmente para deixá-lo. Assim dirão: – Ele foi tomar um café. Com certeza volta logo. O chapéu dele está aí...

Ah! Fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim. A vida é complicada demais.

Gastamos muito pensamento, muito sentimento, muita palavra. O melhor é não estar.

Quando vier a grande hora de nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café. Vamos, vamos tomar um cafezinho.

BRAGA, Rubem. Disponível em: .

Acesso em: 17 fev. 2012.

https://www.objetivo.br/arquivos/desafio/fundamental2/Resolucao_Desafio_8ano_Fund2_Portugues_101216.pdf

Entendendo o texto

 01. Segundo a crônica, o aborrecimento do repórter decorre do fato de

a) o delegado tomar café demais.

b) o funcionário não voltar para suas funções.

c) os funcionários públicos nunca trabalharem.

d) o delegado tomar cafezinho durante o expediente de trabalho.

e) necessitar de uma informação e não obtê-la.

 

02. O trecho “... lhe disseram que o homem havia ido tomar um cafezinho.” (ℓ. 3-4), o pronome destacado refere-se ao

A) repórter.

B) delegado.

C) amigo.

D) credor.

E) parente.

03.Analise atentamente os trechos a seguir.

I. “Leio a reclamação de um repórter irritado que precisava falar com um delegado”.

II. “Tinha razão o rapaz de ficar zangado”. Os trechos indicam, respectivamente,

a) causa e consequência.

b) fato e finalidade.

c) fato e causa.

d) fato e oposição.

e) fato e opinião.

 04.  Nesse texto, a expressão “... mergulhemos de corpo e alma no cafezinho.” (ℓ. 18-19) foi usada para

A) colocar em destaque os benefícios oferecidos pelo café.

B) demonstrar o sentimentalismo do autor.

C) destacar a importância do café na vida das pessoas.

D) fazer referência a elementos religiosos.

E) intensificar a ideia do cafezinho como fuga dos problemas.

 

     05.Analise as frases abaixo:

             I. “Diariamente é preciso falar com um número excessivo de pessoas”.

        II. “Para quem espera nervosamente, esse ‘cafezinho’ é qualquer coisa infinita e torturante”.

           III. “O chapéu dele está ...”.

           As palavras acima destacadas expressam, respectivamente, circunstâncias de

      a) tempo, modo e lugar.

     b) tempo, intensidade e lugar.

     c) tempo, dúvida e lugar.

    d) modo, dúvida e afirmação.

   e) modo, intensidade e lugar.

06. No trecho “Ah! Fujamos assim, sem drama, sem tristeza, fujamos assim”, a recomendação do autor é entendida como

    a) uma crítica.

    b) uma repreensão.

   c) um conselho.

  d) um alerta.

  e) uma ordem.

07. Em “Quando vier a grande hora do nosso destino nós teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café”, o conectivo em destaque pode ser substituído, sem alteração de sentido, por:

   a) Embora.

   b) Desde que.

   c) Mesmo que.

   d) Uma vez que.

   e) No momento em que.

 08. Em “...teremos saído há uns cinco minutos para tomar um café”, o trecho em destaque só não pode ser substituído, sem alteração de sentido, por:

   a) tendo em vista tomar café.

   b) conforme o horário de tomar café.

   c) com a intenção de tomar café.

   d) a fim de tomar café.

   e) com o objetivo de tomar café.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

CRÔNICA: GUERRA - RUBEM BRAGA- COM GABARITO

 Crônica: Guerra


4 de setembro de 1939

               Rubem Braga

        Nestes dias em que a guerra começa, ando eu mergulhado no trabalho de traduzir, para o José Olympio, um livro de Cronin, o autor de A Cidadela. O livro tem um título lírico – sob o olhar das estrelas – mas não tem duas linhas sequer de divagações líricas. É vivo e realista. Conta a história de uns mineiros do Norte da Inglaterra. A ação começa antes da Grande Guerra e acaba depois. Não aparece uma única cena de guerra, mas nem por isso ela deixa de estar presente, influindo sobre os personagens que embarcam para a França e mesmo sobre os que não embarcam. Há o caso interessante de um rapaz que fez “objeção de consciência” para não ir à guerra. Havia na Inglaterra daquele tempo milhares de jovens que se negaram a combater não por medo – era preciso mais coragem para ficar do que para irmos por motivos espirituais. Arthur Barras, o filho de um proprietário de mina de carvão, é um deles. E tem de comparecer perante um tribunal presidido pelo próprio pai. Os outros membros do tribunal são: um açougueiro, um militar e um pastor protestante. O açougueiro, um tal Ramage, homem truculento de pescoço taurino, interroga:

        -- Por que se nega a combater?

        -- Não quero matar meus semelhantes.

        -- Mas, por quê?

        -- Minha consciência se recusa a isso.

        Há um silêncio, e depois Ramage observa rudemente:

        -- Consciência demais sempre faz mal a uma pessoa.

        Aí o reverendo intervém, olhando paternalmente o acusado:

        -- Vamos ver uma coisa. Você não é cristão? Não há nada, na religião cristã, que proíba matar legitimamente pela salvação do país.

        -- Não há assassinato legítimo.

        -- Como?

        -- Não consigo imaginar Jesus Cristo metendo uma baioneta na barriga de um soldado alemão. Não posso imaginar Jesus atrás de uma metralhadora derrubando homens inocentes.

        O reverendo Low fica vermelho:

        -- Isso é uma blasfêmia!

        Depois é o próprio pai que interroga. Em certo momento explica ao filho:

        -- Fazemos esta guerra para que seja a última.

        -- É o que sempre se diz. É o que se repetirá mais tarde para que os homens se trucidem, quando rebentar a próxima guerra!

        Depois vem um rápido interrogatório do militar – e Arthur Barras acaba condenado a dois anos de cadeia, com trabalhos forçados.

        Está visto que Arthur tinha razão – mas seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está. Nem muito menos para evitar que outro personagem – o bravo Joe Gowland – ficasse podre de rico dirigindo uma fábrica de munição.

                      Uma fada no front. Porto Alegre, Artes e Ofícios.

            Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 55-7.

Fonte de imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fmemoria.oglobo.globo.com%2Fjornalismo%2Fprimeiras-paginas%2Ffim-da-paz-8898913&psig=AOvVaw0lgk6wQirEKl9uE8tLrxE2&ust=1606601324061000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNiY4L3eo-0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Lírico: poético, emotivo.

·        Taurino: de touro.

·        Divagações: devaneios, desvio de rumo ou assunto.

·        Reverendo: sacerdote, pastor.

·        Objeção: oposição, contestação.

·        Trucidem: matem com crueldade, com carnificina.

·        Truculento: feroz, cruel.

02 – O texto apresenta duas informações que nos permitem localizá-lo no tempo. Quais são elas?

      A primeira (data logo abaixo do título e início do texto) indica que o texto foi escrito no início da Segunda Guerra Mundial (3/9/1939 a 8/5/1945). O assunto da crônica remete a acontecimentos ocorridos durante a Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918 (“... seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está.”).

03 – Como o narrador entrou em contato com o assunto do texto?

      Ao traduzir um livro para a editora José Olympio, chamado Sob o olhar das estrelas.

04 – Quem é Arthur Barras? O que o torna especial?

      Arthur Barras é filho de um proprietário de mina de carvão. Ele se recusa a partir para a guerra em que teria de matar seus semelhantes.

05 – Como se forma o tribunal que julga Arthur Barras? Como você interpreta a profissão de cada um deles?

      Há sem dúvida uma certa ironia na formação do tribunal: o açougueiro é um matador profissional, o pastor protestante está a favor da guerra e o próprio pai é contra o filho.

06 – Dos argumentos apresentados pelos três acusadores de Arthur Barras, qual lhe parece mais absurdo? Comente-o.

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Como você entendeu: “Está visto que Arthur tinha razão – mas seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está.”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O gesto do Arthur, embora moralmente correto e louvável, foi inútil por se tratar de uma ação individual.

CRÔNICA: MISSA PARA ALUNO EXTERNO - RUBEM BRAGA - COM GABARITO

 Crônica: Missa para aluno externo

                   Rubem Braga

     Hoje é mais fácil ser católico do que no meu tempo de criança. Primeiro apareceram as missas de domingo de tarde. Agora até missa no sábado pode ficar valendo para o domingo. Acabaram com a coleta de esmolas durante a missa; não há mais aquele menino com a bandeja.

        Eu já era rapazinho quando o diretor do ginásio lá de Cachoeiro, homem muito piedoso, apareceu com uma novidade: os alunos externos, cujos pais fossem católicos, também teriam de ir à missa domingo. A gente devia ir cedinho ao colégio, lá se juntar aos internos, formar fila e ir para a igreja, que era perto – só atravessar o pátio e subir um barranco.

        No primeiro domingo eu e mais dois rapazinhos fugimos na curva do barranco: tínhamos um jogo de futebol marcado para aquela manhã e não era possível deixar de ir. Lembro-me do pito que levei por causa disso do diretor, na segunda-feira, pois houve um porcaria de um menino que denunciou nossa fuga. A novidade não estava agradando a ninguém, nem mesmo a muitos pais de alunos externos; afinal o colégio não tinha nada a ver com o que a gente fazia domingo.

        Da segunda missa não houve como escapar. Sete e meia estávamos no colégio e às oito ficamos arrumados no coro da igreja. Nós todos ali chateados, até mesmo os que costumavam ir à missa todo domingo, pois era muito melhor estar lá embaixo vendo as pessoas que ali em cima com os outros alunos. Mas não havia remédio.

        Foi aí que aconteceu a coisa. Quando apareceu o menino com a bandeja. Antes de ele chegar ao lugar em que eu estava, senti que havia algo de anormal. O coroinha estava vermelho, zangado, mas sempre que abria a boca seus sussurros eram abafados por um coro de psiu! Psiu!

       Logo percebi do que se tratava. Algum rapaz maroto tivera a ideia, que todos acharam genial: a gente punha a moedinha na bandeja e tirava outra, como se fosse troco; só que o troco era maior que a esmola... Havia quem pusesse um tostão e tirasse deztões. Lembro-me de que pus duzentos réis e tirei uma pratinha de quinhentos. Isso foi naquela hora em que na igreja todo mundo deve ficar em silêncio, e se ouve apenas uma campainha tocando fininho – tlim, tlim, tlim... O menino estava com tanta raiva que a bandeja tremia em sua mão; logo depois disse um desaforo e desistiu da coleta, enquanto nós tínhamos frouxos de riso.

        Foi assim que morreu aquela ideia de obrigar aluno externo a ir à missa.

     Um cartão de Paris. Rio de Janeiro, Record, 1997.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 23-5.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.cscj-pi.com.br%2Fcscj%2FmostranoticiaNOVA.php%3Fidnoticia%3D367&psig=AOvVaw32VqdIZOnoUj8feiDhyfG2&ust=1606600227145000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCPCEo7Xao-0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo a crônica

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Coleta: arrecadação.

·        Pito: advertência, repressão, bronca.

·        Piedoso: devoto, religioso.

·        Anormal: fora do comum.

·        Alunos externos: estudantes que morram com os pais.

·        Alunos internos: estudantes que morram no colégio.

·        Sussurros: vozes baixas.

·        Maroto: esperto, malandro.

·        Frouxos: ataques, acessos.

02 – Que período de sua vida o narrador está nos apresentando?

      O narrador é um adulto que recorda um episódio de sua infância.

03 – Existe um sentido oculto no primeiro parágrafo do texto, principalmente na frase: “Hoje é mais fácil ser católico do que no meu tempo de criança”. Qual seria esse sentido?

      O parágrafo é irônico porque ser católico não é apenas ir à missa e dar esmolas.

04 – Qual foi a decisão que originou o fato central do texto?

      Foi a decisão do diretor de obrigar os alunos externos a frequentar a missa de domingo.

05 – Qual é o fato central do texto?

      O desagrado dos alunos externos por serem obrigados a frequentar a missa de domingo e suas tentativas de se livrar desse compromisso.

06 – Por que os alunos externos não aceitaram a ideia do diretor?

      Porque tinham outras atividades – como jogar futebol – para passar o domingo.

07 – No texto chocam-se duas forças opostas. Quais são essas forças? Qual é a vencedora?

      São a liberdade e o autoritarismo. A vencedora é a liberdade.

08 – Vamos resumir o texto? Considere tempo, lugar, personagens e conflito.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: No passado, quando o narrador era menino, o diretor do colégio em que estudava tentou obrigar os alunos externos a frequentar a missa domingo. Como tinham atividades mais interessantes, os alunos, contrariados, tentaram inutilmente escapar da obrigação. Finalmente, armaram tamanha confusão na missa que o diretor desistiu de sua id