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domingo, 18 de julho de 2021

CRÔNICA(FRAGMENTO): CAMELOS E BEIJA-FLORES... RUBEM ALVES - COM GABARITO

 CRÔNICA(Fragmento): Camelos e beija-flores...

                           Rubem Alves

 A revisora informou delicadamente que era norma do jornal que todas as “estórias” deveriam ser grafadas como “histórias”. É assim que os gramáticos decidiram e escreveram nos dicionários.

Respondi também delicadamente: “Comigo não. Quando escrevo ‘estória’ eu quero dizer ‘estória’. Quando escrevo ‘história’ eu quero dizer ‘história’. Estória e história são tão diferentes quanto camelos e beija-flores...”

Escrevi um livro baseado na diferença entre “história” e “estória”. O revisor, obediente o dicionário, corrigiu minhas “estórias” para “história”. Confiando no rigor do revisor, não li o texto corrigido. Aí, um livro que era para falar de camelos e beija-flores, só falou de camelos.

Foram-se os beija-flores engolidos pelo camelo...

Escoro-me no Guimarães Rosa. Ele começa o Tutameia com esta afirmação: “A estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve

ser contra a história”.

Qual é a diferença? É simples. Quando minha filha era pequena eu lhe inventava estórias. Ela, ao final, me perguntava: “Papai, isso aconteceu de verdade?” E eu ficava sem lhe poder responder porque a resposta seria de difícil compreensão para ela. A resposta que lhe daria seria: “Essa estória não aconteceu nunca para que aconteça sempre...”

A história é o reino das coisas que aconteceram de verdade, no tempo, e que estão definitivamente enterradas no passado. Mortas para sempre. [...]

Mas as estórias não aconteceram nunca. São invenções, mentiras. O mito de Narciso é uma invenção. O jovem que se apaixonou por sua própria imagem nunca existiu. Aí, ao ler o mito que nunca existiu eu me vejo hoje debruçado sobre a fonte que me reflete nos olhos dos outros. Toda estória é um espelho. [...]

[...]

A história nos leva para o tempo do “nunca mais”, tempo da morte. As estórias nos levam para o tempo da ressurreição. Se elas sempre começam como o “era uma vez, há muito tempo” é só para nos arrancar da banalidade do presente e nos levar para o tempo mágico da alma.

Assim, por favor, revisora: quando eu escrever “estória” não corrija para “história”. Não quero confundir camelos e beija-flores...

(Folha de S. Paulo, 14/11/2006.)

Fonte da imagem -https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbrasilescola.uol.com.br%2Fanimais%2Fcamelo.htm&psig=AOvVaw3YTR5ne04U-Fk-idVNsEL8&ust=1626737151036000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCLCvmqbi7fECFQAAAAAdAAAAABAD

Fonte: Livro- Português: Linguagens, 1/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p.249/50.

 ENTENDENDO O TEXTO

 1. O texto comenta uma oposição de natureza ortográfica que, ao ser desconsiderada, resulta, na opinião do autor, em perdas de sentido. De acordo com o texto:

a) Por que a revisora corrigiu a palavra estória, mudando-a para história?

Porque esse procedimento era norma do jornal, uma vez que a forma estória é considerada anacronismo pelos dicionários, isto é, uma forma fora de uso.

b) Por que o autor da crônica não concorda com o procedimento da revisora?

Porque, para ele, estória e história são palavras que têm sentidos bastante diferentes.

2. Associe os termos história e estória às palavras e expressões da coluna da direita, de acordo com o texto:

a) história       b) estória

1. invenções, mentiras

2. reino das coisas que aconteceram de verdade

3. tempo do “nunca mais”

4. tempo da ressurreição

5. tempo mágico da alma

6. tempo da banalidade do presente

1b, 2a, 3a, 4b, 5b, 6a.

3. Conclua: Para o autor do texto, qual é a diferença de sentido entre história e estória?

Para ele, história é o relato de fatos reais, e estória é um relato  ficcional, poético.

4. O autor conta que escreveu um livro baseado na diferença entre história e estória. Segundo ele:

a) Por que, quando publicado, o livro falava só de camelos?

Porque todas as palavras estória foram trocadas por história.

 b) O que esse fato revela sobre a compreensão do texto pela revisora?

Revela que ela não compreendeu o que leu, tendo feito apenas uma leitura técnica.

c) Levando em conta a analogia estabelecida pelo autor do texto entre história/estória, de um lado, e beija-flor/camelo, de outro lado, interprete a afirmação: “Foram-se os beija-flores, engolidos pelos camelos”.

Toda a poesia do texto desapareceu; ele virou uma história banal.

5. O autor do texto diz escorar-se na afirmação de Guimarães Rosa: “A estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a história”. Os argumentos apresentados por Rubem Alves acerca da diferença de sentido entre história e estória confirmam o ponto de vista de Guimarães Rosa? Por quê?

Sim, pois para ambos os autores os dois mundos estão em oposição, isto é, o mundo ficcional é o oposto do mundo real.

 

 

quarta-feira, 15 de julho de 2020

CRÔNICA: O RELÓGIO - RUBEM ALVES - COM GABARITO

Crônica: O relógio

            Rubem Alves

        Eu tinha medo de dormir na casa do meu avô. Era um sobradão colonial enorme, longos corredores, escadarias, portas grossas e pesadas que rangiam, vidros coloridos nos caixilhos das janelas, pátios calçados com pedras antigas… De dia, tudo era luminoso. Mas quando vinha a noite e as luzes se apagavam, tudo mergulhava no sono: pessoas, paredes, espaços. Menos o relógio… De dia, ele estava lá também. Só que era diferente. Manso, tocando o carrilhão a cada quarto de hora, ignorado pelas pessoas, absorvidas por suas rotinas. Acho que era porque durante o dia ele dormia. Seu pêndulo regular era seu coração que batia, seu ressonar, e suas músicas eram seus sonhos, iguais aos de todos os outros relógios. De noite, ao contrário, quando todos dormiam, ele acordava, e começava a contar estórias. Só muito mais tarde vim a entender o que ele dizia: “Tempus fugit”. E eu ficava na cama, incapaz de dormir, ouvindo sua marcação sem pressa, esperando a música do próximo quarto de hora. Eu tinha medo. Hoje, acho que sei por quê: ele batia a Morte. Seu ritmo sem pressa não era coisa daquele tempo da minha insônia de menino. Vinha de muito longe. Tempo de musgos crescidos em paredes húmidas, de tábuas largas de assoalho que envelheciam, de ferrugem que aparecia nas chaves enormes e negras, da senzala abandonada, dos escravos que ensinaram para as crianças estórias de além-mar “dinguele-dingue que eu vou para Angola, dingue-ledingue que eu vou para Angola” de grandes festas e grandes tristezas, nascimentos, casamentos, sepultamentos, de riqueza e decadência… O relógio batera aquelas horas – e se sofrera, não se podia dizer, porque ninguém jamais notara mudança alguma em sua indiferença pendular. Exceto quando a corda chegava ao fim e o seu carrilhão excessivamente lento se tomava num pedido de socorro: “Não quero morrer… “Aí, aquele que tinha a missão de lhe dar corda – (pois este não era privilégio de qualquer um. Só podia tocar no coração do relógio aquele que já, por muito tempo, conhecesse os seus segredos) – subia numa cadeira e, de forma segura e contada, dava voltas na chave mágica. O tempo continuaria a fugir… Todas aquelas horas vividas e morridas estavam guardadas. De noite, quando todos dormiam, elas saíam. O passado só sai quando o silêncio é grande, memória do sobrado. E o meu medo era por isto: por sentir que o relógio, com seu pêndulo e carrilhão, me chamava para si e me incorporava naquela estória que eu não conhecia, mas só imaginava. Já havia visto alguns dos seus sinais imobilizados, fosse na própria magia do espaço da casa, fosse nos velhos álbuns de fotografia, homens solenes de colarinho engomado e bigode, famílias paradigmáticas, maridos assentados de pernas cruzadas, e fiéis esposas de pé, ao seu lado, mão docemente pousada no ombro do companheiro. Mas nada mais eram que fantasmas, desaparecidos no passado, deles, não se sabendo nem mesmo o nome. “Tempus fugit”. O relógio toca de novo. Mais um quarto de hora. Mais uma hora no quarto, sem dormir… Sentia que o relógio me chamava para o seu tempo, que era o tempo de todos aqueles fantasmas, o tempo da vida que passou. Depois o sobradão pegou fogo. Ficaram os gigantescos barrotes de pau-bálsamo fumegando por mais de uma semana, enchendo o ar com seu perfume de tristeza. Salvaram-se algumas coisas. Entre elas, o relógio. Dali saiu para uma casa pequena. Pelas noites adentro ele continuou a fazer a mesma coisa. E uma vizinha que não suportou a melodia do “Tempus fugit” pediu que ele fosse reduzido ao silêncio. E a alma do relógio teve de ser desligada.

        Tenho saudades dele. Por sua tranquila honestidade, repetindo sempre, incansável, “Tempus fugit”. Ainda comprarei um outro que diga a mesma coisa. Relógio que não se pareça com este meu, no meu pulso, que marca a hora sem dizer nada, que não tem estórias para contar. Meu relógio só me diz uma coisa: o quanto eu devo correr, para não me atrasar. Com ele, sinto-me tolo como o Coelho da estória da Alice, que olhava para seu relógio, corria esbaforido, e dizia: “Estou atrasado, estou atrasado…”.

        Não é curioso que o grande evento que marca a passagem do ano seja uma corrida, corrida de São Silvestre?

        Correr para chegar, aonde?

        Passagem de ano é o velho relógio que toca o seu carrilhão.

        O sol e as estrelas entoam a melodia eterna: “Tempus fugit”.

        E porque temos medo da verdade que só aparece no silêncio solitário da noite, reunimo-nos para espantar o tenor, e abafamos o ruído tranquilo do pêndulo com enormes gritarias. Contra a música suave da nossa verdade, o barulho dos rojões…

        Pela manhã, seremos, de novo, o tolo Coelho da Alice: “Estou atrasado, estou atrasado…”.

        Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria:

        Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será…

Rubem Alves. Tempus fugit. São Paulo: Paulinas, 1990, p. 8-11.

              Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 91-4.

Entendendo a crônica:

01 – O narrador conta que, na infância, tinha medo de dormir na casa do avô. Que relação tinha relógio com esse medo?

      No escuro e no silêncio da noite, só o relógio não dormia, continuava batendo as horas.

02 – Só mais tarde o narrador entende por que o relógio lhe causava medo, na infância. Explique as causas que ele dá para esse medo.

a)   “Eu tinha medo. Hoje, acho que sei por quê: ele batia a Morte”. Leia o trecho que se segue a essa frase e explique: por que o bater do relógio lembrava a Morte?

Porque ele já batia em tempos passados, na época de fatos e pessoas que já tinham desaparecido, já tinham morrido.

b)   Identifique na crônica esta frase que introduz outra causa para o medo: “E o meu medo era por isto:” Isto o quê?

O bater do relógio levava a criança a perceber que fazia parte de uma história passada que ela não conhecia.

03 – O narrador declara que só mais tarde entendeu o que relógio dizia: “Só muito mais tarde vim a entender o que ele dizia: “Tempus fugit”.

a)   Relógio não fala... como o relógio dizia: “Tempus fugit”?

Batendo regularmente seu pêndulo, tocando o carrilhão a cada quarto de hora.

b)   Por que o que o relógio dizia era “Tempus fugit”?

Porque suas batidas indicam que o tempo estava passando, estava fugindo.

04 – Localize este trecho na crônica: “Todas aquelas horas vividas e morridas estavam guardadas. De noite, quando todos dormiam, elas saíam.”

a)   A expressão “horas vividas” se refere a que acontecimento? E a expressão “horas morridas”?

Horas vividas – as horas em que as pessoas tinham vivido fatos, acontecimentos (festas e tristeza, nascimentos, casamentos, sepultamentos...).

Horas morridas – as horas de acontecimentos que já tinham passado.

b)   O que fazia que as “horas vividas e morridas” saíssem, quando todos dormiam?

No silêncio da noite, o bater do relógio trazia a lembrança das horas que ele tinha marcado, no passado – lembrança das horas durante as quais as pessoas tinham vivido, fatos tinham acontecido, e lembrança das horas que tinham desaparecido no passado, tinham morrido.

05 – Localize esta frase na crônica: “Já havia visto alguns dos seus sinais imobilizados...”.

a)   “... seus sinais” – sinais de quem?

Sinais da estória passada, que a criança não conhecia.

b)   Que sinais o narrador, quando criança, já havia visto?

Marcas do passado que tinham ficado na casa, fatos de pessoas que já tinham desaparecido.

c)   Por que esses sinais estavam imobilizados?

Porque eram sinais estáticos, parados, já não tinham vida, movimento.

06 – Recorde este trecho em que o narrador explica sua saudade do relógio da casa de seu avô: “Tenho saudades dele. Por sua tranquila honestidade, repetindo sempre, incansável, ‘Tempus fugit’.” Por que o narrador considera que o relógio era honesto?

      Porque ele informava escrupulosamente, francamente, que o tempo estava fugindo.

07 – Segundo o narrador, o relógio de pulso, ao contrário do relógio da casa de seu avô, “marca a hora sem dizer nada”. Por que o relógio de pulso não diz nada?

      Porque ele é silencioso, não bate as horas, não marca com sons a passagem do tempo.

08 – Por que “é curioso” que o grande evento que marca a passagem do ano seja a corrida de São Silvestre?

      Porque, tal como a corrida de São Silvestre é um correr em direção a algum lugar, também a passagem do ano é vista como o tempo correndo em direção ao ano seguinte.

09 – Quando criança, o narrador tinha medo – recorde as duas primeiras questões. No final da crônica, o narrador fala de novo de medo, um medo que todos temos: localize este trecho: “E porque temos meda da verdade que só aparece no silêncio solitário da noite...”.

a)   Que verdade é essa de que temos medo?

O tempo está sempre fugindo.

b)   Por que esse medo aparece na noite de passagem de ano?

Porque é uma ocasião em que prestamos atenção no relógio, na passagem do tempo, esperando a meia-noite que vai marcar a chegada de outro ano.

c)   Segundo o narrador, o que fazemos para espantar esse medo?

Fazemos barulho, gritamos, soltamos rojões.

10 – Recorde este trecho no final da crônica: “Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria.”

a)   O relógio não desiste de quê?

Não desiste de dizer que o tempo está fugindo.

b)   Que mensagem sábia nos dá o relógio?

Sabendo que o tempo está fugindo, devemos descobrir a beleza do momento presente, que é único, pois logo fugirá, logo deixará de existir.

 


sábado, 30 de maio de 2020

FÁBULA: URUBUS E SABIÁS - RUBEM ALVES - COM GABARITO

Fábula: Urubus e sabiás
             Rubem Alves


    “Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores.

E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
        — Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

        — Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
        E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...”.
        MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.

O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poética — São Paulo, 1995, pág. 81.
Entendendo a fábula:

01 – Identifique o fato que motivou a fábula.
      Foi motivado pelo interesse dos urubus em se tornarem cantores, apesar de se tratar de algo que não faz parte da sua natureza.

02 – No trecho: “Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores”.
        As palavras e a passagem em destaque exprimem, respectivamente, relações de:
a)   Oposição, finalidade e consequência.
b)   Adversidade, finalidade e concessão.
c)   Adição, lugar e exceção.
d)   Oposição, local e condição.
e)   Adversidade, objetividade e exclusão.

Considere o trecho a seguir par responder:
“E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem”.
03 – Não mudaria o sentido da frase, se substituíssemos a palavra “perplexas” por:
a)   Tristes.
b)   Magoadas.
c)   Felizes.
d)   Comprometidas.
e)   Hesitantes.

04 – Sobre a moral da fábula: “Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá”, assinale a opção correta.
a)   O período é composto por duas orações.
b)   O sujeito do verbo ouvir é canto de sabiá.
c)   Nessa frase, houve exploração da ênclise.
d)   O texto está na voz ativa.
e)   “... de urubus diplomados” é sujeito simples.

05 – Assinale a alternativa que aponte o clímax da fábula.
a)   Os urubus decidiram se tornar cantores.
b)   Os urubus fizeram competições de canto entre si.
c)   Os pássaros invadiram a floresta.
d)   Os velhos urubus convocaram os pássaros para um inquérito.

06 – Como termina a fábula?
a)   “... quando ‘Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa...’”.
b)   “[...] quando as pobres aves se olharam perplexas [...]”
c)   “[...] quando apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar [...]”
d)   “[...] quando os urubus expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás”.

07 – Julgue se os itens abaixo estão corretos (C) quanto aos aspectos semânticos e gramaticais. (E) errado.
a)   (E) “Cantar sem titulação devida é um desrespeito à ordem”. Em tal contexto, eram ordeiros apenas os intitulados.
b)   (E) O segmento “o rancor encrespou a testa” caracteriza uma comparação como figura de linguagem.
c)   (E) O termo “gargarejaram” pode ser substituído por “gargantearam” sem prejuízos de ordem semântica.
d)   (E) A mudança topológica do adjetivo acarreta variações semânticas no segmento “Os velhos urubus” assim como em: os velhos marinheiros e marinheiros velhos.

08 – Julgue os itens quanto aos aspectos morfossintáticos e semânticos. (C) correto. (E) errado.
a)   (E) O texto classifica-se como fábula ou um apólogo, por atribuir a seres inanimados características de seres humanos.
b)   (E) O objetivo dos urubus era coibir o direito de canto dos pintassilgos; caçá-los, portanto.
c)   (E) Tornou-se impossível urubus e pintassilgos coabitarem a mesma floresta.
d)   (E) Trata-se de uma estrutura exclusivamente dissertativa.

09 – Julgue os itens com (C) correta e (E) errada.
a)   (C) “O saber institucionalizado não aceita outras formas de saber que não as controladas por lei”. A proposição identifica-se com a moral do texto.
b)   (C) O poder dos urubus pode ser comparado ao das corporações ditatoriais que não aceitam o sucesso de quem não podem controlar.
c)   (C) Considerando a ordem estabelecida na floresta pelos urubus, pode-se afirmar que os canários, pintassilgos e sabiás são amorais.
d)   (E) A exceção dos sabiás, os outros pássaros poderiam viver na floresta desde que participassem dos concursos.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

FÁBULA: A PIPA E A FLOR - RUBEM ALVES - COM QUESTÕES GABARITADAS

FÁBULA: A PIPA E A FLOR
            
                       Rubem Alves

        Era uma vez uma pipa. 
    O menino que a fez estava alegre e imaginou que a pipa também estaria. Por isso fez nela uma cara risonha, colando tiras de papel de seda vermelho: dois olhos, um nariz, uma boca...
      Ô pipa boa: levinha, travessa, subia alto...
    Gostava de brincar com o perigo, vivia zombando dos fios e dos galhos das árvores.
        -- “Vocês não me pegam, vocês não me pegam...”
        E enquanto ria sacudia o rabo em desafio.
        Chegou até a rasgar o papel, num galho que foi mais rápido, mas o menino consertou, colando um remendo da mesma cor.
Mas aconteceu que num dia, ela estava começando a subir, correndo de um lado para o outro no vento, olhou para baixo e viu, lá num quintal, uma flor. Ela já havia visto muitas flores. Só que desta vez os seus olhos e os olhos da flor se encontraram, e ela sentiu uma coisa estranha. Não, não era a beleza da flor. Já vira outras, mais belas. Eram os olhos...
        Quem não entende pensa que todos os olhos são parecidos, só diferentes na cor. Mas não é assim. Há olhos que agradam, acariciam a gente como se fossem mãos. Outros dão medo, ameaçam, acusam, quando a gente se percebe encarados por eles, dá um arrepio ruim no corpo. Tem também os olhos que colam, hipnotizam, enfeitiçam...
        Ah! Você não sabe o que é enfeitiçar?!
        Enfeitiçar é virar a gente pelo avesso: as coisas boas ficam escondidas, não têm permissão para aparecer; e as coisas ruins começam a sair. Todo mundo é uma mistura de coisas boas e ruins; às vezes a gente está sorrindo, às vezes a gente está de cara feia.
        Mas o enfeitiçado fica sendo uma coisa só...
        Pois é, o enfeitiçado não pode mais fazer o que ele quer, fica esquecido de quem ele era...
        A pipa ficou enfeitiçada. Não mais queria ser pipa. Só queria ser uma coisa: fazer o que a florzinha quisesse. Ah! Ela era tão maravilhosa! Que felicidade se pudesse ficar de mãos dadas com ela, pelo resto dos seus dias...
        E assim, resolver mudar de dono. Aproveitando-se de um vento forte, deu um puxão repentino na linha, ela arrebentou e a pipa foi cair, devagarzinho, ao lado da flor.
        E deu a sua linha para ela segurar. Ela segurou forte.
        Agora, sua linha nas mãos da flor, a pipa pensou que voar seria muito mais gostoso. Lá de cima conversaria com ela, e ao voltar lhe contaria estórias para que ela dormisse. E ela pediu:
        -- “Florzinha, me solta...” E a florzinha soltou.
        A pipa subiu bem alto e seu coração bateu feliz. Quando se está lá no alto é bom saber que há alguém esperando, lá embaixo.
Mas a flor, aqui de baixo, percebeu que estava ficando triste. Não, não é que estivesse triste. Estava ficando com raiva. Que injustiça que a pipa pudesse voar tão alto, e ela tivesse de ficar plantada no chão. E teve inveja da pipa.
        Tinha raiva ao ver a felicidade da pipa, longe dela... Tinha raiva quando via as pipas lá em cima, tagarelando entre si. E ela flor, sozinha, deixada de fora.
        -- “Se a pipa me amasse de verdade não poderia estar feliz lá em cima, longe de mim. Ficaria o tempo todo aqui comigo...”
        E à inveja juntou-se o ciúme.
        Inveja é ficar infeliz vendo as coisas bonitas e boas que os outros têm, e nós não. Ciúme é a dor que dá quando a gente imagina a felicidade do outro, sem que a gente esteja com ele.
E a flor começou a ficar malvada. Ficava emburrada quando a pipa chegava. Exigia explicações de tudo. E a pipa começou a ter medo de ficar feliz, pois sabia que isto faria a flor sofrer. 
        E a flor aos poucos foi encurtando a linha. A pipa não podia mais voar.
        Via ali do baixinho, de sobre o quintal (esta essa toda a distância que a flor lhe permitia voar) as pipas lá em cima... E sua boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava tanto da flor, como no início...
        Essa história não terminou. Está acontecendo bem agora, em algum lugar... E há três jeitos de escrever o seu fim. Você é que vai escolher.
        Primeiro: A pipa ficou tão triste que resolveu nunca mais voar.
        -- “Não vou te incomodar com os meus risos, Flor, mas também não vou te dar a alegria do meu sorriso”.
        E assim ficou amarrada junto à flor, mas mais longe dela do que nunca, porque o seu coração estava em sonhos de voos e nos risos de outros tempos.
        Segundo: A flor, na verdade, era uma borboleta que uma bruxa má havia enfeitiçado e condenado a ficar fincada no chão. O feitiço só se quebraria no dia em que ela fosse capaz de dizer não à sua inveja e ao seu ciúme, e se sentisse feliz com a felicidade dos outros. E aconteceu que um dia, vendo a pipa voar, ela se esqueceu de si mesma por um instante e ficou feliz ao ver a felicidade da pipa. Quando isso aconteceu, o feitiço se quebrou, e ela voou, agora como borboleta, para o alto, e os dois, pipa e borboleta, puderam brincar juntos...
        Terceiro: a pipa percebeu que havia mais alegria na liberdade de antigamente que nos abraços da flor. Porque aqueles eram abraços que amarravam. E assim, num dia de grande ventania, e se valendo de uma distração da flor, arrebentou a linha, e foi em busca de uma outra mão que ficasse feliz vendo-a voar nas alturas.

                                Rubens Alves, A pipa e a flor. São Paulo, Loyola, s/d.,3ª edição.
Entendendo o texto:
01 – Responda com base no texto:
a) O que a pipa sentiu quando subiu bem alto?
      Sentiu-se levinha, travessa, subir alto...

b) Para a pipa, o que era bom saber quando estava lá no alto?
      Ele gostava de brincar com o perigo, zombando dos fios e dos galhos de árvore.

c) Quem, lá embaixo, esperava a pipa?
      A flor, sua amada.

02 – Complete as frases com as palavras do quadro, de acordo com o texto: Ciúme – Triste – Inveja – Raiva.
a)      A flor percebeu que estava ficando triste.
b)      Ela estava também com raiva.
c)      E teve inveja da pipa.
d)     E a inveja juntou-se o ciúme.

03 – Complete as duas frases do texto que mostram as razões de a flor ficar com tanta raiva da pipa:
a) Tinha raiva ao ver a felicidade da pipa, longe dela...
b) Tinha raiva quando via as pipas lá em cima, tagarelando entre si.

04 – Copie do texto o que a flor pensava quando a pipa estava longe dela:
      “Se a pipa me amasse de verdade não poderia estar feliz lá.

05 – O que o narrador escreveu sobre:
a) A inveja
      “Inveja é ficar infeliz vendo as coisas bonitas e boas que os outros têm, e nós não.”

b) O ciúme
      “É a dor que dá quando a gente imagina a felicidade do outro, sem que a gente esteja com ele.”

06 – Complete as frases com as alternativas que caracterizam a flor e a pipa:
a) a flor começou a ficar
(  )arrependida                                
(  ) bondosa                          
(X) malvada.

07 – Por que a pipa não podia mais voar?
      Porque a flor aos poucos foi encurtando a linha.

08 – Qual foi o sentimento da pipa em relação à flor, quando via as outras pipas voando lá em cima?
      A sua boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava tanto da flor como no início.

09 – O que você faria se estivesse no lugar da flor?
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Quem é o autor dessa história?
      Rubens Alves.

11 – Quem são os participantes do texto e suas características pessoais?
      O menino, a pipa e a flor.

12 – O autor nos dá três possibilidades para finalizarmos o texto. Qual você considera mais adequado? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.