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sábado, 12 de fevereiro de 2022

PARÓDIA: SENHORITA VERMELHO - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

 Paródia: SENHORITA VERMELHO

               Pedro Bandeira

        Chapeuzinho Vermelho era a mais solteira das amigas de Dona Branca (de Neve) e uma das poucas que não era princesa. A história dela tinha terminado dizendo que ela ia viver feliz para sempre ao lado da Vovozinha, mas não falava em nenhum príncipe encantado. Por isso, Chapeuzinho ficou solteirona e encalhada ao lado de uma velha cada vez mais caduca.

        Com a cestinha pendurada no braço e com o capuz vermelho na cabeça, Dona Chapeuzinho entrou com o lacaio atrás. Dona Branca correu para abraçar a amiga.

        -- Querida! Há quanto tempo! Como vai a Vovozinha?

        -- Branca!

        As duas deram-se três beijinhos, um numa face a dois na outra, porque o terceiro era para ver se a Chapeuzinho desencalhava.

        -- Minha amiga Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?

        -- Ora, deixa de besteira, Chapéu!

        -- Ahn... quer dizer.... desculpe, Branca. É que eu sempre me distraio.... - atrapalhou-se toda Chapeuzinho. - Sabe? É que eu estou sempre pensando na minha história. Ela é tão linda, com o Lobo Mau, tão terrível, e o Caçador, tão valente...

        -- Até que a sua história é passável, Chapéu – Comentou Dona Branca, meio despeitada. – Mas linda mesmo é a minha, que tem espelho mágico, maçã envenenada, bruxa malvada, anõezinhos e até caçador generoso.

        -- Questões de gosto, querida....

        Dona Chapeuzinho sentou-se confortavelmente, colocou a cestinha ao lado (ela não largava aquela bendita cestinha!), tirou um sanduíche de mortadela e pôs-se a comer (aliás, Dona Chapeuzinho tinha engordado muito desde aquela aventura com o Lobo Mau).

        -- Aceita um brioche? – ofereceu-lhe a comilona, de boca cheia.

        -- Não, obrigada.

        -- Quer uma maçã?

        -- Não! Eu detesto maçã. [...]

        Dona Branca jogou para trás os cabelos cor de ébano e tomou uma decisão:

        -- Vou convocar uma reunião de todas nós!

        -- Boa ideia! Chame os príncipes também!

        -- Os príncipes não adianta chamar. Estão todos gordos e passam a vida caçando. Além disso, príncipe de história de fada não serve para nada. A gente tem de se virar sozinha a história inteira, passar por mil perigos, enquanto eles só aparecem no final para o casamento.

        Chapeuzinho concordou:

        -- É... Os únicos decididos são os caçadores. Eu devia ter casado com o caçador que matou o Lobo...

        Dona Branca tocou a campainha de ouro. Imediatamente, Caio, o lacaio, estava à sua frente.

        -- Às ordens, princesa!

        -- Caio, monte o nosso melhor cavalo. Corra, voe e chame todas as minhas cunhadas de todos os reinos encantados para uma reunião aqui no castelo. Depressa!

Pedro Bandeira. O fantástico mundo de Feiurinha. São Paulo: FTD, 1987.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP 3ª edição São Paulo 201 p. 154-156.

Entendendo a Paródia:

01 – Que personagem de histórias conhecidas estão presentes no texto?

      Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve.

02 – Transcreva do texto as características dadas a Chapeuzinho e responda: qual é a visão do narrador sobre a personagem?

      Solteirona, comilona, distraída, enfim, o narrador tem uma visão pejorativa, que ridiculariza e deforma a personagem.

03 – Que fala da personagem Chapeuzinho revela um apego ao passado?

      A fala: “É que estou sempre pensando na minha história. Ela é tão linda, com o Lobo Mau, tão terrível, e o Caçador, tão valente...”

04 – O diálogo entre Branca e Chapeuzinho revela um jeito de se expressar mais moderno ou mais antigo? Transcreva do texto uma frase que confirme sua resposta.

      Mais moderna. Alguns exemplos possíveis são: “—Ora, deixa de besteira, Chapéu!”; “—Até que a sua história é passável, Chapéu [...]”.

05 – Além de depreciar a personagem do conto antigo, “Chapeuzinho Vermelho”, o narrador, pelas falas da personagem Branca, ridiculariza outras personagens comuns aos contos de fadas. Identifique essas personagens e enumere suas características negativas, de acordo com Branca.

      As personagens ridicularizadas são os príncipes das histórias. Segundo Branca, eles só aparecem no final dos contos, deixam as princesas desamparadas diante dos obstáculos, passam a vida caçando e, após o casamento, ficam todos gordos.

06 – Como você ilustraria as personagens dessa história? Faça a apresentação delas e compare com as ilustrações de seus colegas. Depois, exponha o material num painel da sala.

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Em seu caderno, reproduza o quadro a seguir e complete-o com as informações que estão faltando.

·        Frase marcante da personagem Chapeuzinho:

História original: Por que esses olhos tão grandes? Pergunta de Chapeuzinho para a “avó”.

Nova história: Pergunta de Chapeuzinho para Branca de Neve: Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?”  

·        Humor no texto:

História original: Não apresenta humor.

Nova história: É uma paródia, efeitos de humor possíveis por meio personagens e o conteúdo do diálogo entre elas.

·        Característica de Chapeuzinho:

História original: Uma menina comum que leva lanche para a avó doente.

Nova história: Uma solteirona encalhada, gorda, comilona, que faz comentários impropriados e vive se apegando às lembranças do passado.

·        Desfecho da história:

História original: E viveram felizes para sempre.

Nova história: Chapeuzinho está frustrada com seu destino e se lamenta por não ter se casado com o caçador que matou o lobo.

a)   Seria possível reconhecer os efeitos de humor do texto de Pedro Bandeira sem conhecer a história original? Por quê?

Não, pois é o confronto entre o texto original e o novo que garante o humor, já que na nova história as personagens são retratadas de uma maneira grotesca, caricata, que provoca o riso.

b)   Copie a afirmação que melhor descreve a relação entre “Senhorita Vermelho” e “Chapeuzinho Vermelho”.

I – O texto é bastante semelhante ao conto “Chapeuzinho Vermelho” e mantém seus elementos principais, inclusive as características das personagens.

II – O texto nega completamente o conteúdo do texto original. É um protesto a Chapeuzinho, mas sem provocar humor.

III – O texto se parece com o original, mantém as mesmas personagens, mas altera parte de seu conteúdo e, ao fazer isso, constrói o humor.

08 – Paródia é a imitação cômica de uma composição literária ou musical. Com base nessa explicação, responda: o texto “Senhorita Vermelho” é uma paródia? Explique.

      Sim, pois usa personagens de histórias para criar uma nova história com humor.

terça-feira, 30 de março de 2021

POESIA: IDENTIDADE - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

 Poesia: Identidade

             Pedro Bandeira

Às vezes nem eu mesmo
sei quem sou.
Às vezes sou.
"o meu queridinho",
às vezes sou
"moleque malcriado".
Para mim
tem vezes que eu sou rei,
herói voador,
caubói lutador,
jogador campeão.
Às vezes sou pulga,
sou mosca também,
que voa e se esconde
de medo e vergonha.
Às vezes eu sou Hércules,
Sansão vencedor,
peito de aço
goleador!

Mas o que importa
o que pensam de mim?
Eu sou quem sou,
eu sou eu,
sou assim,
sou menino.

BANDEIRA, Pedro. Cavalgando o arco-íris. 4. Ed. São Paulo: Moderna, 2009.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição- 2018. p. 45-7.


Entendendo a poesia:

01 – Quantas linhas há na poesia “Identidade”?

      Vinte e cinco linhas.

02 – Essas linhas encontram-se agrupadas ou separadas por espaços em branco?

      As linhas 1 a 19 estão separadas das linhas 20 a 25 por um espaço em branco.

03 – Quantos versos formam a poesia “Identidade”? E quantas estrofes?

      A poesia é formada por 25 versos e duas estrofes.

04 – Leia a fonte que indica o livro do qual essa poesia foi retirada e responda às questões a seguir.

a)   De que livro essa poesia foi retirada?

Do livro Cavalgando o arco-íris.

b)   Qual é o nome do autor da poesia?

Pedro Bandeira.

c)   Pedro Bandeira é um autor adulto. Mas a voz que fala na poesia não é a de um adulto. Considerando essa afirmação, responda: A quem podemos atribuir a fala do texto? Qual verso traz essa indicação?

A um menino. O último verso.

05 – Releia os versos a seguir.

        Às vezes sou.
        "o meu queridinho",
        às vezes sou
        "moleque malcriado".

        Os versos destacados acima aparecem entre aspas. Isso acontece porque o eu lírico:

a)   Quer dar destaque a duas maneiras de ser que ele atribui a si mesmo.

b)   Pretende mostrar duas maneiras de ser que ele atribui a si mesmo e que se opõem.

c)   Destaca duas maneiras de ele ser na voz de outras pessoas.

06 – Em que situação o eu lírico é considerado “o meu queridinho”?

      Provavelmente, quando faz coisas boas e as pessoas elogiam o comportamento dele.

07 – E em qual situação ele é considerado “moleque malcriado”?

      Provavelmente, quando responde mal às pessoas, principalmente aos adultos.

08 – Reproduza a poesia “Identidade” em uma folha à parte. Escreva os itens a seguir ao lado dos versos da poesia a que cada um deles corresponde.

·        Como os outros veem o menino – Corresponde ao trecho que vai do 3° ao 6° verso.

·        Como o menino se vê – Corresponde ao trecho que vai do 7° ao 19° verso.

·        O menino rejeita a opinião dos outros a seu respeito – Corresponde ao 20° e 21° verso.

·        O menino se aceita como é – Corresponde aos quatro últimos versos.

09 – Na poesia que você reproduziu, circule a expressão que indica que o menino vai falar sobre como ele se vê?

      Os alunos deverão circular a expressão “Para mim”.

10 – O menino fala que é “rei”, “herói”, “caubói” e “mosca”.

a)   Essas identidades fazem parte da imaginação ou da realidade do menino? Por quê?

Elas fazem parte da imaginação dele, pois são identidades irreais.

b)   Podemos dizer que essas palavras estão relacionadas à identidade dele? Por quê?

Sim, pois o eu lírico revela que se vê dessa maneira: como rei, herói, caubói e mosca.

 

 

 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

POEMA: NOME DA GENTE - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

 POEMA:  Nome da gente


            
        Pedro Bandeira

 

Por que é que eu me chamo isso

e não me chamo aquilo?
Por que é que o jacaré

não se chama crocodilo?



Eu não gosto

do meu nome 
Não fui eu

quem escolheu. 
Eu não sei

por que se metem 
com um nome

que é só meu!


O nenê

que vai nascer 
vai chamar

como o padrinho,

vai chamar

como o vovô, 
mas ninguém

vai perguntar
o que pensa

o coitadinho.


Foi meu pai quem decidiu 
que meu nome fosse aquele. 
Isto só seria justo 
se eu escolhesse

o nome dele.


Quando eu tiver um filho, 
não vou pôr nome nenhum. 
Quando ele for bem grande, 
ele que procure um!

 Pedro Bandeira. Cavalgando o arco-íris. São Paulo: Moderna, 1984.

Livro: Português – 5ª série – Palavra Aberta – Isabel Cabral – Atual Editora – p.47.


ATIVIDADE ESCRITA

Pense e responda:
1) Quem escolheu seu nome?

    Resposta pessoal.

2) Se você não se chamasse ________ que nome gostaria de ter?     

    Resposta pessoal.

3) Qual o assunto principal do poema?

    O poema fala sobre o nome das pessoas.

4) Quem escolheu o nome da pessoa do poema?

     Foi o pai que escolheu o nome.

5) O que o menino diz sobre o seu nome?

     Que não gosta de seu nome, porque não foi ele que escolheu.

6) O que ele vai fazer quando tiver um filho?

     Não vou por nome nenhum.

 

domingo, 20 de setembro de 2020

POEMA: O CARVALHO E O JUNCO - PEDRO BANDEIRA - SME RIO - COM GABARITO

 POEMA: O CARVALHO E O JUNCO

                    Pedro Bandeira

Na beira da de um riacho, espalhava-se um carvalho.

Forte, belo, majestoso, da raiz até o galho.

 

Bem pertinho ali crescia um caniço, um mato à-toa

Era um junco muito fino, a fraqueza era em pessoa.

 

Lá na sombra do carvalho, pobre junco assim vivia.

Nada tinha pra fazer e era isso que fazia.

 

“Que matinho mais sem jeito!”, disse orgulho só o carvalho.

“Não tem flor e nem tem fruto, não tem folhas, nem tem galho!”

 

“Mil perdões se eu lhe incomodo e perturbo sua altivez.

Não sou mato, sou um junco...”,respondeu com timidez.

 

“Isso pra mim é o mesmo, se é capim, se é junco ou grama.

Pois eu vivo aqui em cima, você não: vive na lama!”

 

“Eu lhe peço mil desculpas por ser tão inferior.

Nem prato dos é possível nascer tão grande senhor...”

 

“Olhe, eu digo que dá pena ver um junco fraco assim.

Tão feioso, tão pelado, tão estranho isso é pra mim!”

O matinho ficou triste, até mesmo se ofendeu,

e, olhando para cima, decidido respondeu:

 

“Não estranhe a natureza, que não faz nada por mal.

Nela tudo tem valor, mas nem sempre é tudo igual...”

 

Foi aí que uma aragem, um ventinho passageiro,

soprou leve pelos campos, bem fresquinho, bem ligeiro.

 

O carvalho, lá em cima, nem prestou muita atenção,

mas o junco, coitadinho, viu-se em má situação.

 

Fraco e fino como era, pelo vento era dobrado,

arrastava-se no chão e tombava para o lado.

 

“Ui, carvalho, me acuda, se não for muito trabalho!”

Lá do alto só se ouvia a risada do carvalho:

 

“Ah, ah, ah! E a natureza? Fez o vento para quê?

Ah, pois se ela nunca erra, errou quando fez você!”

 

Muito triste estava o junco quando a tal brisa passou

e ficou bem caladinho depois que se endireitou.

 

E o tempo foi passando lá na beira do riacho,

com o junco e o carvalho, um por cima, outro por baixo.

Mas um dia, de repente, veio um vento furioso.

Um tufão logo seguido de um barulho pavoroso!

 

Todo bicho correu logo, percebendo o perigo.

Qualquer canto protegido serviria como abrigo.

 

Lá na copa do carvalho, até mesmo os passarinhos

resolveram ir embora e deixaram os seus ninhos.

 

Vai que o junco, tão fraquinho, contra a força do tufão

resistir não poderia e dobrou-se rente ao chão.

 

O carvalho, no entanto, não poderia se dobrar.

Resistiu com toda a força, agarrando-se ao lugar.

 

Mas o vento era  demais e ele não aguentou.

O tufão forçou sua copa e na terra o derrubou!

 

Quando tudo se acalmou, foi a vez de o junco ver

que o enorme do carvalho nunca mais ia se erguer.

 

“Ainda bem que sou fraquinho!”, disse o junco, aliviado.

Se eu fosse como ele, já estaria derrubado!”

 

BANDEIRA, Pedro. Fábulas palpitadas. São Paulo: Moderna, 2007.

SME Rio - LP5 4BIM ALUNO 2013 - Else Lopes Emrich Portilho - Elaboração.

ENTENDENDO O POEMA

1)   Você consegue deduzir o significado de majestoso? Essa palavra se parece com uma outra que você conhece...

Resposta pessoal.

Sugestão: A palavra lembra majestade. Majestoso significa “que tem porte, imponente, grandioso”.

2)   O Junco “Nada tinha pra fazer e era isso que fazia. ”A que se refere a palavra em negrito? Que sentido tem essa palavra no verso?

Refere-se à falta do que fazer do junco. O sentido é o de que o junco tinha uma existência praticamente inútil.

 3)   Na fala do carvalho “Pois eu vivo aqui em cima, você não: vive na lama!”, qual a função dos dois pontos?

Os dois pontos indicam que haverá uma explicação, um complemento.

 4)   Agora, experimente substituir os dois pontos por uma vírgula e, depois, por um ponto. Leia com os seus colegas e observe se mudou o sentido. Tente também um ponto de exclamação.

Resposta pessoal.

Atividades de leitura dramatizada auxiliam na compreensão do uso dos sinais de pontuação e, como consequência direta, na compreensão e interpretação dos textos.

         5)             Vamos mexer mais uma vez na pontuação do trecho anterior! Veja o que acontece se você ler o trecho ignorando os dois pontos. Escreva o que você descobriu.

Resposta pessoal.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

CONTO: CAPÍTULO ZERO E MEIO - PEDRO BANDEIRA - COM GABARITO

 Conto: CAPÍTULO ZERO E MEIO


        Pedro Bandeira

        A uma vez, há muitos, muitos anos atrás mais vinte e cinco anos, uma senhora de cabelos negros como o ébano, onde já começavam a aparecer alguns fios brancos como a neve, bem da cor da pele dela, que também era branca como a neve.

        O nome da tal senhora era Branca Encantado. Nos tempos de solteira, o sobrenome dela era "De Neve", mas, depois que se casou com o Príncipe Encantado, Dona Branca passou a usar o sobrenome do marido.

        Dona Branca estava com uma barriga enorme, esperando o seu sétimo filho, para ser afilhado do sétimo anãozinho, que vivia reclamando pelo fato de todos os outros anões já serem padrinhos de filhos de Dona Branca e faltar um para ser afilhado dele.

        Dali a uma semana ia fazer vinte e cinco anos que Dona Branca havia se casado para ser feliz para sempre. E, como você sabe, quem fica vinte e cinco anos casado com a mesma pessoa faz uma bruta festa para comemorar as Bodas de Prata.

        Feliz com tudo isso, Dona Branca tricotava um casaquinho de lã para o principezinho que ia nascer, sozinha no grande salão do castelo, forrado de mármore cor-de-rosa e veludo vermelho. Os filhos maiores estavam na escola e os menores com as amas.

        O Príncipe Encantado, como sempre, estava caçando. Foi aí que a grande porta do salão abriu-se e entrou Caio, o lacaio, anunciando:

        -- Alteza, a Senhorita Vermelho acaba de chegar ao castelo e pede...

        -- Chapeuzinho?! – interrompeu Dona Branca. – Que ótimo! Peça para ela entrar. Vamos, Caio, rápido!

        Caio, o lacaio, inclinou-se numa reverência e foi buscar a visitante.

        Chapeuzinho Vermelho era a mais solteira das amigas de Dona Branca e uma das poucas que não era princesa. A história dela tinha terminado dizendo que ela ia viver feliz para sempre ao lado da Vovozinha, mas não falava em nenhum príncipe encantado. Por isso, Chapeuzinho ficou solteirona e encalhada ao lado de uma velha cada vez mais caduca.

        Dona Chapeuzinho entrou com a cestinha pendurada no braço e com o capuz vermelho na cabeça. Dona Branca correu para abraçar a amiga.

        -- Querida! Há quanto tempo! Como vai a Vovozinha?

        -- Branca, querida!

        As duas deram-se três beijinhos, um numa face e dois na outra, porque o terceiro era para ver se Chapeuzinho desencalhava.

        -- Minha amiga Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?

        -- Ora, deixe de besteira, Chapéu!

        -- Ahn... quer dizer... desculpe, Branca. É que eu sempre me distraio... – atrapalhou-se toda a Chapeuzinho. – Sabe? É que eu estou sempre pensando na minha história. Ela é tão linda, com o Lobo Mau, tão terrível, e o Caçador, tão valente...

        -- Até que a sua história é passável, Chapéu – comentou dona Branca, meio despeitada. – Mas linda mesmo é a minha, que tem espelho mágico, maçã envenenada, bruxa malvada, anõezinhos e até caçador generoso...

        -- Questão de gosto, querida...

        Dona chapeuzinho sentou-se confortavelmente, colocou a cestinha ao lado dela, não largava aquela bendita cestinha, tirou um sanduíche de mortadela e pôs-se a comer (aliás, Dona Chapeuzinho tinha engodado muito desde aquela aventura com o Lobo Mau).

        -- Aceita, um brioche? – ofereceu a comilona, de boca cheia.

        -- Não, obrigada.

        -- Quer uma maçã?

        -- Não! Eu detesto maçã!

        Dona Chapeuzinho acabou o lanche e olhou para a amiga com aquele olhar que as comadres usam quando estão conversando por cima do muro do quintal.

        -- Menina, você não imagina o que aconteceu...

        Dona Branca arregalou os olhos negros como ébano:

        -- Aconteceu? O que foi que aconteceu? Ah, vamos, conta logo! Sou doida por uma fofoca. Vai ver foi aquela sirigaita da Gata que...

        -- Branca, Branca! – censurou Chapeuzinho, balançando a cabeça. – Você sabe que Cinderela Encantado detesta ser chamada de Gata Borralheira...

        -- Ah, deixa pra lá. Continue!

        Olhando em volta, para ver se ninguém a ouvia, Chapeuzinho perguntou:

        -- O Príncipe está no castelo?

        -- O Príncipe? Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Seu marido.

        -- Ah, não está não. Foi à caça.

        -- Pois então vamos ao assunto. Eu falei com Rapunzel Encantado e ela me disse que o Príncipe...

        -- Príncipe? Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Marido da Rapunzel.

        -- Ah...

        -- Pois é. O marido da Rapunzel encontrou-se com o Príncipe...

        -- O Príncipe? Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Marido da Cinderela.

        -- Ah...

        A família Encantado tinha fornecido muitos príncipes para casar com as heroínas dos contos de fada. Por isso, quase todas as princesas tinham o mesmo sobrenome e eram cunhadas entre si. É claro que isso trazia uma certa confusão.

        -- Resumindo: o Príncipe da Rapunzel encontrou-se com o Príncipe da Cinderela, que tinha passado pelo castelo da Feiurinha...

        -- A Feiurinha! – exclamou Dona Branca. – Há quanto tempo não vejo minha querida Feiurinha Encantado...

        -- Pois é exatamente essa a fofoca: há muito tempo ninguém vê a Feiurinha!

        -- Ela desapareceu?

        -- Isso mesmo. O Príncipe deve estar desconsolado...

        -- Que Príncipe?

        -- O Príncipe Encantado. Marido da Feiurinha.

        -- Ah...

        -- Dona Branca interpretou à sua maneira o desaparecimento da Feiurinha.

        -- Será... será que ela abandonou o marido?

        -- E fugiu com outro? Acho difícil. A essa altura não existe mais nenhum Príncipe Encantado solteiro. Eu que o diga! Estou cansada de ser solteirona e aguentar aquela Vovó caduca. Tenho procurado feito louca, mas só encontro príncipe casado...

        Dona Branca raciocinou:

        -- Então, se Feiurinha desapareceu, isso significa que ela pode estar correndo perigo. E, se isso for verdade, será a primeira vez que uma de nós corre perigo desde que casamos para sermos felizes para sempre!

        -- Menos eu... – suspirou Dona Chapeuzinho. 

        [...]

       Pedro Bandeira. O fantástico mistério de Feiurinha. São Paulo, FTD, 1993.

Fonte: Língua Portuguesa. Entre palavras – Edição renovada. Mauro Ferreira. 5ª série. Ed. FTD – São Paulo – 1ª edição – 2002. P. 86-90.

Entendendo o conto:

01 – Pelo título do texto é possível prever que a história terá um conteúdo humorístico? Justifique.

      Sim. O “número” “zero e meio”, por não existir, dá uma informação absurda e antecipa, assim, a ocorrência de situações humorísticas.

02 – Logo no primeiro parágrafo, o que o narrador insinua, isto é, dá a entender de maneira indireta, a respeito da senhora de cabelos negros? Transcreva desse parágrafo trechos que confirmem sua resposta.

      O narrador insinua que ela está ficando velha. Trechos: “muitos anos atrás mais vinte e cinco anos”; “onde já começavam a aparecer alguns fios brancos como a neve” e a própria palavra “senhora”.

03 – Releia: “...Dona Branca tricotava um casaquinho de lã para o principezinho que ia nascer, sozinha no grande salão do castelo, forrado de mármore cor-de-rosa e veludo vermelho. Os filhos maiores estavam na escola e os menores com as amas.

        O Príncipe Encantado, como sempre, estava caçando.”. Ao usar a expressão “como sempre”, o narrador faz uma insinuação meio maldosa a respeito do príncipe. Explique-a.

      O narrador insinua que o príncipe não faz nada. Ele apenas se diverte, caçando.

04 – Releia este trecho do diálogo.

        “-- Minha amiga Branca! Por que você tem esses olhos tão grandes?

        -- Ora, deixe de besteira, Chapéu!”.

a)   Na história original, a quem Chapeuzinho faz a pergunta?

Essa pergunta ela faz ao Lobo Mau.

b)   Por que Branca diz para Chapéu deixar de besteira?

No diálogo com Branca, Chapéu faz uma pergunta que, na história original, ela faz ao Lobo. Como elas estão em outra história, a pergunta não faz sentido, é uma “besteira”.

05 – Releia esta passagem do texto.

        “-- Aceita, um brioche? – ofereceu a comilona, de boca cheia.

        -- Não, obrigada.

        -- Quer uma maçã?

        -- Não! Eu detesto maçã!”

a)   Quem pergunta “— Quer uma maçã?”?

Chapeuzinho pergunta a Branca.

b)   Quem responde “— Não! Eu detesto maçã!”?

Branca de Neve.

c)   O que aconteceu na história original dessa personagem que a levou a detestar maçã?

Na história original, Branca de Neve come a maçã envenenada e dorme profundamente.

06 – Chapeuzinho afirma que “Cinderela Encantado detesta ser chamada de Gata Borralheira...”. Lembre-se da história original de Cinderela e explique por que ela detesta esse apelido.

      Porque, na história original, esse apelido maldoso foi dado a ela antes de se casar com o príncipe, quando ainda era pobre e vivia sempre suja.

07 – Releia os dois últimos parágrafos e responda.

a)   O que Dona Chapéu quis dizer com “— Menos eu...”?

Ela quis dizer que ela era a única que não tinha se casado com um príncipe para ser feliz para sempre.

b)   Que sentimento Dona Chapéu revela ao suspirar?

Ela revela desânimo, decepção, frustação, etc.

08 – O narrador diz que Branca de Neve e Chapeuzinho são fofoqueiras. Releia este parágrafo.

        “Dona chapeuzinho sentou-se confortavelmente, colocou a cestinha ao lado dela, não largava aquela bendita cestinha, tirou um sanduíche de mortadela e pôs-se a comer (aliás, Dona Chapeuzinho tinha engodado muito desde aquela aventura com o Lobo Mau).” O que esse trecho permite concluir a respeito do próprio narrador? Justifique.

      Que ele também é fofoqueiro. Ele interrompe o que está contando para fazer comentários negativos sobre Dona Chapéu.