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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

FÁBULA: A REDE - LEONARDO DA VINCI - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: A Rede 
               
                Leonardo Da Vinci

      Naquele dia, como todos os dias, a rede subiu carregada de peixes. Carpas, barbos, lampreias, trutas, enguias e muitos, muitos outros peixes foram para as cestas dos pescadores.
  Lá no fundo da água do rio, os sobreviventes, assustados e com medo, não ousavam se mexer. Famílias inteiras já haviam sido enviadas para o mercado. Diversos cardumes tinham caído na rede e terminado na frigideira. Que fazer?
          Um grupo de jovens peixes promoveu uma reunião atrás de uma pedra e decidiu se revoltar.
          - É uma questão de vida ou morte - disseram eles - todos os dias essa rede afunda na água, cada vez num local diferente, para nos aprisionar e nos levar embora de nosso lar. Vai acabar nos matando a todos, e o rio ficará sem peixe algum. Nossos filhos têm direito à vida e precisamos fazer alguma coisa para livrá-los deste flagelo.
         - E que podemos fazer? - perguntou uma truta que seguira os conspiradores.
        - Destruir a rede - responderam os outros em coro
        As enguias encarregaram-se de rapidamente espalhar a notícia dessa corajosa decisão e convocaram todos os peixes para um encontro na manhã seguinte, numa pequena enseada protegida por altos salgueiros.
        No dia seguinte, milhões de peixes de todos os tamanhos e idades reuniram-se para declarar guerra à rede.
      A liderança foi entregue a uma sábia e velha carpa, que por duas vezes conseguira escapar da prisão, mordendo as malhas da rede.
     - Ouçam com atenção - disse a carpa - a rede é da largura do rio, e todas as malhas têm um chumbo preso por baixo, para que a rede afunde. Dividam-se em dois grupos. Um dos grupos suspenderá os pesos de chumbo e os carregará até a superfície, e o outro segurará as malhas por cima com firmeza. As lampreias vão serrar com os dentes a corda que mantém a rede esticada entre as duas margens. As enguias vão partir já, para fazer uma inspeção e nos informar em que local a rede foi lançada.
         As enguias partiram. Os peixes formaram grupos ao longo das margens. Os barbos encorajavam os mais tímidos, relembrando-lhes o triste fim de tantos amigos e exortando-os a não terem medo de ficarem presos na rede, porque daquele dia em diante nenhum homem seria mais capaz de arrastá-la para a margem.
       As enguias retornaram, missão cumprida. A rede fora lançada a uma milha dali.
       Então todos os peixes, como uma frota gigantesca, partiram atrás da velha carpa.
       - Tomem cuidado - disse a carpa - pois a correnteza pode arrastar vocês para dentro da rede. Sigam devagar e usem bem as nadadeiras.
       E então viram a rede, cinzenta e sinistra.
       Os peixes, acometidos de súbita fúria, nadaram para atacar.
       A rede foi suspensa por baixo, as cordas que a seguravam foram cortadas, as malhas foram rasgadas. Mas os peixes, enfurecidos não largavam mais sua presa. Cada um segurava na boca um pedaço de malha e abanando fortemente as caudas e as nadadeiras, puxavam de todos os lados a fim de rasgar e destruir a rede. E a água parecia estar fervendo enquanto os peixes finalmente libertavam o rio daquele perigo.

(Fábulas e lendas: São Paulo, Círculo do Livro, s/d.)
Fonte: Português – Linguagem & Participação, 5ª Série- MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas – Ed. Saraiva, 1999, p.8-11.
ESTUDO DO TEXTO

1)   Você já leu muitas histórias e deve ter observado que elas acontecem em algum lugar, o que é importante para compreendermos melhor os acontecimentos. Em literatura, o lugar onde a história acontece é chamado de cenário. Escreva qual é o cenário em que a história acontece.
O cenário em que a história acontece é o fundo da água do rio.

2)   Outro elemento importante nas histórias são as personagens. São elas que fazem tudo acontecer. Em A rede, quem são as personagens?
São peixes de diferentes espécies.

3)   Em toda boa história, sempre há um problema (conflito). Qual é o problema que as personagens têm de enfrentar?
Encontrar um meio para destruir a rede de pesca que está acabando com os peixes do rio.

4)   Para que essa história convença o leitor da possibilidade de ela acontecer, as personagens ganham características que são próprias de um ser humano. Quais são elas?
Os peixes pensam, falam, decidem resolver o problema, reúnem-se em grupo, escolhem um líder, seguem etapas de um plano, etc.

5)   A história apresenta, nos seus momentos finais, a solução para o problema (o desfecho). Como as personagens conseguem solucionar o problema?
Os peixes se unem, cada um cumpre o combinado e eles destroem a rede.

6)   Que lição podemos tirar desta história?
A lição de que “a união faz a força”.

7)   O que você achou do comportamento dos peixes?
Resposta pessoal.



terça-feira, 10 de setembro de 2019

A FÁBULA DO LEÃO E DOS BÊBADOS - LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

fábula do leão e dos bêbados
                           Lourenço Diaféria


Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia um deles ao entardecer à sombra do parque onde o prenderam.
Assim levava a vida, ou assim esperava a morte.
Sua missão não era valorosa; incumbia-lhe, todos os dias, e de preferência aos sábados e domingos, fingir que era de fato um leão feroz e assustar os visitantes com pálidos rugidos.
Em troca, recebia três fartas refeições ao dia (fora o breakfast), água fresca, sombra, agradável companhia, e o título honorífico de rei das selvas, que na verdade era o que mais o comovia.
Mas não era de fato um leão de verdade; faltavam-lhe a certeza de sua intrepidez, o horizonte aberto, a liberdade, que não ia além do arame farpado entre as sebes disfarçado.
Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.
Um belo dia aconteceu, porém, que três bebuns, enganando-se de boteco, erraram o atalho e foram cair, por puro acaso, nos domínios reservados ao leão domesticado. E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam: a moita onde dormiam desmaiados nada mais era que a juba da fera enjaulada.
Surpreendeu-se o leão com tamanha audácia, que não constava nas cláusulas contratuais que assinara com o empresário-empregador. E logo lhe veio à mente, num impulso atávico, o justo desejo de provar daquele banquete que se oferecia assim de mão-beijada. De fato, há muito o leão não saboreava um prato humano, como nos velhos tempos de antanho.
Já se lambia o bicho, com sua língua áspera e salivada.
Mas a civilização também cobra os seus tributos - e o leão, que conhecia algo de Direito, antes de se lançar ao ataque, resolveu reler o seu contrato, a ver se nas entrelinhas (sábio leão!) não constava algo que o prejudicasse: pois não queria o rei das selvas perder o emprego por justa causa. Pra tanto procurou um leão mais velho - e presumidamente mais experiente - e lhe propôs a delicada questão: se era lícito, naquela conjuntura, devorar os três bebuns incautos, que haviam invadido o parque e ali dormiam.

O velho leão examinou o contrato, verificou se não era falso, e concluiu que, pelo escrito, nada impedia legalmente que o leão mais novo os devorasse. Mas enquanto consultavam a lei, corria o tempo, de sorte que, por sorte, os três bebuns, passada a carraspana despertaram para a vida. Sobressaltados, antes que o leão, apoiado na lei, voltasse e os atacasse, trataram os três de fazer o que a situação impunha: mandar-se.
E foi desta maneira que o leão perdeu o acepipe, frustrando-se o ensejo de fartar-se com carne de primeira, tenra e fresquinha (ainda por cima regada a canjebrina). 
Amuado, foi novamente ao leão mais velho (e mais experiente) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato. 
Ao que o mais velho respondeu, com a sabedoria própria dos leões fabulosos:
- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato. Mas não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem. Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.

Vocabulário:
decrépito: velho, caduco
espairecer: entreter-se
honorífico: honroso
intrepidez: coragem
sebe: arbusto
juba: crina
audácia: coragem
cláusula: artigo; preceito
atávico: reaparecimento de uma característica dos ascendentes
antanho: antigamente
incauto: imprudente
carraspana: bebedeira
acepipe: guloseima
ensejo: oportunidade
canjebrina: cachaça
escrúpulo: cuidado

  Trabalhando com o texto

1. O texto que você acabou de ler apresenta os elementos essenciais da narrativa: personagens, fato, tempo, lugar (espaço), narrador.

a)   Quem são as personagens?
O leão, o leão mais velho e três bêbados.

b)   O que acontece?
Um leão pensa em devorar três bêbados que, desavisados, vão parar em seu domínio. Mas acaba deixando-os escapar.

c)   Onde acontece a história?
Num parque.

d)   Quando ocorrem os fatos?
Tempo indeterminado (“Um belo dia...”)

e)   Quem narra a história: um narrador-personagem ou um narrador-observador? Justifique.
Narrador-observador. Narra em terceira pessoa, não participa dos acontecimentos narrados (“Surpreendeu-se o leão...”).

2. O que seria necessário para que o animal desta fábula fosse “um autêntico leão”?
    Ser feroz, estar em liberdade, entregue a seus próprios instintos.

3. Por que o leão não devorou os bêbados? Marque a alternativa correta.

(A) Porque as cláusulas contratuais o proibiam.

(B) Porque, enquanto ele e o leão mais velho consultavam o contrato, os três bêbados, conscientes do risco que corriam, fugiram.

(C) Porque, além de não querer perder o emprego, não estava faminto.



4. Explique o uso da expressão destacada na frase:

“E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam [...]”.
O autor brinca com a palavra tresloucados (loucos, desvairados): como eram três os bêbados incautos, usou “três-loucados”.

5. Inverossimilhante é tudo aquilo que não tem aparência de verdadeiro. Releia o último parágrafo e transcreva um trecho inverossímil.
“Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados”.

6. De onde provém a comicidade do texto? Escolha a alternativa correta.

(A) Do fato de um leão estar preso.

(B) Do fato de dois leões conversarem com humanos.

(C) Da presença de um animal renegar seus instintos em nome de um contrato.

(D) Do fato de um leão pedir ajuda a um amigo mais velho.


7. No texto alteram-se termos próprios de uma linguagem formal e termos característicos de uma linguagem bem coloquial (informal).

a) Procure alguns exemplos de uso mais formal da linguagem.
     Vocabulário cuidado e pouco comum (atávico, antanho, honorífico, conjuntura, acepipe...).

b) Procure exemplos de uso coloquial.
     Uso de gírias e expressões populares (bebuns, carraspana, boteco, mão-beijada, mandar-se).

8. Para reproduzir as falas das personagens, o autor utiliza dois tipos de discurso: o discurso direto e o discurso indireto.
Localize trechos em que aparecem exemplos desses dois tipos de discurso. Justifique sua resposta.

Discurso direto: “Ao que o mais velho respondeu(...):
- Queixas-te de barriga cheia (...). A vida não está difícil só para os animais, rapaz.” O autor reproduz as palavras da personagem. Aparece travessão introduzindo a fala.

Discurso indireto: “Amuado, foi novamente ao leão mais velho (...) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato”. O narrador conta com suas próprias palavras o que o leão teria dito ao amigo.


domingo, 4 de agosto de 2019

FÁBULA: O LOBO E O CORDEIRO - LA FONTAINE - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: O Lobo e o Cordeiro

       La Fontaine

Na água limpa de um regato,
matava a sede um Cordeiro,
quando, saindo do mato,
veio um Lobo carniceiro.

Tinha a barriga vazia,
não comera o dia inteiro.
-- Como tu ousas sujar
a água que estou bebendo?
-- rosnou o Lobo, a antegozar
o almoço. – Fica sabendo
que caro vais me pagar!

-- Senhor – falou o Cordeiro –
encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis, mas acho
que vos enganais: bebendo,
quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.

-- Não importa. Guardo mágoa
de ti, que ano passado,
me destrataste, fingindo!
-- Mas eu nem tinha nascido.
-- Pois então foi teu irmão.
-- Não tenho irmão, Excelência.
-- Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciência!
-- Não vos zangueis, desculpai!
-- Não foi teu irmão? Foi teu pai
ou senão foi teu avô –
disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.

        Moral da história: Onde a lei não existe, ao que parece, a razão do mais forte prevalece.
                    La Fontaine. Fábulas. Trad. por Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Revan, 1997.

Entendendo a fábula:
01 – Os as personagens estavam antes de se encontrarem?
      O cordeiro, na beira do riacho; o lobo, na mata.

02 – Na fábula, o lobo apresenta alguns argumentos para justificar sua ação. Quais são?
      Primeiro diz que o cordeiro está sujando sua água; depois que o cordeiro andara falando mal dele, e, finalmente, que, se não fora o cordeiro quem o ofendera, havia sido alguém de sua família.

03 – O cordeiro, ao responder ao lobo, procura provar que este estava enganado quanto à acusações que fazia. Procure no texto trechos que comprovem essa afirmação.
      O cordeiro diz que não estava sujando a água, pois o lobo estava num local bem acima de onde ele, o cordeiro, se encontrava. Depois, diz que não poderia ter falado mal do lobo no ano anterior, pois nem havia nascido. Finalmente, quando o lobo lhe diz que deveria pagar pelo que o irmão fizera, diz que não tem nenhum irmão.

04 – Nas fábulas, os animais falam, pensam e agem como seres humanos. Fale um pouco sobre as personagens da fábula lida, dando pelo menos três características de cada uma.
      Cordeiro: frágil, respeitoso, quer convencer seu opositor de que não é culpado das acusações e que, portanto, não merece punição.
      Lobo: o mais forte, o animal faminto, “o carniceiro” que quer abocanhar sua presa.

05 – Em sua opinião, a leitura do texto permite ao leitor deduzir que, desde o início, o lobo ia devorar o cordeiro de qualquer jeito? Justifique.
      Sim. Sabia que era o mais forte e que venceria o cordeiro com facilidade. Por isso, o texto diz que ele antegozava o almoço.

06 – Com base no que você respondeu na atividade anterior, conclua: por que, então, o lobo não devorou logo o cordeiro e ficou justificando o que ia fazer?
      Porque queria que o cordeiro, antes de ser devorado, ficasse convencido de que ele, o lobo, tinha razão.

07 – Pelo diálogo entre as personagens, podemos dizer que o lobo e o cordeiro eram velhos amigos conhecidos? Justifique.
      Não. O lobo diz que sim, ao afirmar que sabia que o cordeiro o insultara no ano anterior. Porém, quando o cordeiro diz que nem havia nascido ou quando rebate a afirmação a respeito de seu irmão, ficamos sabendo que se trata apenas de acusações falsas do lobo.

08 – Você acha que o cordeiro respondeu bem a todas as acusações que lhe foram feitas pelo lobo? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Mesmo tendo demonstrado que o lobo estava enganado, o cordeiro foi devorado. Por que ocorreu isso?
      Porque o lobo não estava preocupado com a veracidade das acusações; ele ia devorar o cordeiro porque estava faminto, e o animalzinho era bem mais fraco que ele.


terça-feira, 30 de julho de 2019

FÁBULA: O ASNO E O VELHO PASTOR - ESOPO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: O asno e o velho pastor
      
            Esopo

       Enquanto descansava, um velho pastor observava tranquilo seu asno pastando em um campo muito verde. De repente, ouviu ao longe os gritos de uma tropa de soldados inimigos que se aproximavam rapidamente.
      - Corra o mais rápido que puder, levando-me na garupa! implorou ao animal. – Senão nós dois seremos capturados.
      Então, com calma, o asno falou:
      - Por que eu deveria temer o inimigo? Você acha provável que o conquistador coloque em mim outros dois cestos de carga, além dos dois que já carrego?
      - Não – respondeu o pastor.
      - Então! – retrucou o animal. – Contanto que eu carregue os dois cestos que já possuo, que diferença faz a quem estou servindo?
MORAL: Ao mudar o governante, para o pobre, nada muda além do nome de seu novo senhor.
Esopo.
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.177/178.
Entendendo a fábula
1)   Quais são os personagens dessa fábula?
O asno e o velho pastor.

2)   Todas as ações da fábula se passam no mesmo dia? Explique.
Sim, os acontecimentos surgiram quando o velho pastor descansava.

3)   A história narrada por ESOPO refere-se a um fato:
(   ) real
(    ) histórico
( x ) fictício

4)   As respostas e os argumentos que o asno apresentou ao velho pastor:
(   ) eram sem fundamentos.
(  x ) forma respostas com fundamentos, válidas e justas.
(  ) eram respostas que o velho pastor  não conseguia entender.

5)   Explique, com suas palavras, a moral da história.
     Resposta pessoal.

6)   Qual o desfecho (situação final) da fábula?
O asno disse ao velho pastor que não importaria a quem ele ia servir, pois o trabalho seria o mesmo.



quarta-feira, 17 de julho de 2019

FÁBULA: O CARACOL E A PITANGA - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

FÁBULA: O CARACOL E A PITANGA
                      MILLÔR FERNANDES


Há dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira, subindo e parando e subindo.
Quarenta e oito horas de esforço  tranquilo, de caminhar quase filosófico. De repente, enquanto ele fazia mais um movimento para avançar, desceu pelo tronco, apressadamente, no seu passo fustigado e ágil, uma formiga-maluca, dessas que vão e vêm mais rápidas que coelho de desenho animado. Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol e disse: “Volta, volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga.” “Vou indo, vou indo.” – respondeu calmamente o caracol. -“quando eu chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga.”
         Moral: No Brasil não há pressa!

FERNANDES, Millôr. 100 fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Record, 2003. [s.p.].

Interpretação em movimento

1)   Copie as frases retiradas do texto, substituindo os termos em destaque por outros de sentido semelhante:
a)   “Há dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira...” subia

b)   “Quarenta e oito horas de esforço tranquilo, de caminhar quase filosófico”. reflexivo

c)   “...desceu pelo tronco, apressadamente, com seu passo fustigado e ágil...” esforçado

d)   “Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol...” brincalhona, com ar de gozação.

2)   A fábula caracteriza-se por ser uma narrativa que traz uma moral. Encontre os elementos básicos da narrativa, respondendo ao que se pede.
a)   Qual é o foco narrativo?
Narrador-observador.

b)   Quem são as personagens?
Caracol e a formiga.

c)   Qual é o tempo e o lugar da narrativa?
Não determinado.

d)   Qual é o fato principal?
Um caracol sobe uma pitangueira e encontra uma formiga.

e)   Escolha frases que apresentem discurso direto.
“Volta, volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga.”; “Vou indo, vou indo...” e “...quando eu chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga.”

3)   De acordo com o texto, há quantos dias o caracol estava subindo na árvore?
Estava subindo há dois dias.

4)   Quem ele encontrou, descendo pelo tronco apressadamente?
Uma formiga-maluca.

5)   A que outro elemento, também de natureza ficcional, a formiga foi comparada nessa fábula? Por quê?
A formiga foi comparada a um coelho de desenho animado por sua rapidez.

6)   Por que, segundo o texto, a formiga, ao ver o caracol subindo a pitangueira, olhou-o com uma certa expressão de zombaria? O que ela pediu a ele?
Ela pensou que o caracol queria pitanga, por isso estranhou o fato de ele estar subindo a árvore naquela época. A formiga pediu a ele que voltasse, por ainda não era tempo de pitanga.

7)   O que o caracol respondeu à formiga, justificando sua subida? A resposta do caracol lhe parece estranha? Por quê?
Respondeu que continuaria subindo a árvore porque, até que ele chegasse ao topo, já seria tempo de pitanga. A resposta realmente parece estranha, pois o caracol poderia estar fazendo outras coisas enquanto não fosse tempo de pitanga, em vez de subir tão lentamente.

8)   Entendendo que uma fábula apresenta personagens inanimados, que representam certos tipos de pessoas que se comportam de modo característico, marque a alternativa que melhor responde à seguinte pergunta:
Se o caracol e a formiga representassem dois tipos de trabalhadores, como eles seriam, segundo as indicações do texto?
a)   O caracol seria um funcionário que não tem pressa ou empenho em fazer sua obrigação e vai levando seu trabalho da forma mais ineficiente possível, porque, ao contrário da formiga, não faz questão de demonstrar dinamismo e eficiência, mas só de mostrar que sabe ser esperto.
b)   O caracol seria um funcionário que não se deixa levar pelo estresse e vai trabalhando continuamente, sempre fazendo um pouco por dia, enquanto a formiga é afobada e acaba querendo fazer mais do que o necessário.
c)   A formiga seria uma péssima funcionária, pois não demonstra respeito por outro trabalhador, olhando para ele com ar de zombaria, o que revela pouca ética no convívio profissional.
d)   A formiga, apesar de muito dinâmica, é uma má funcionária, pois acaba confundindo, sem querer, outro funcionário que, com o seu jeito de ser, tenta fazer um bom trabalho.

9)   Todo final de fábula apresenta uma moral, que pretende trazer um ensinamento ou sugerir uma reflexão. Releia a moral dessa fábula de cunho humorístico e explique o que você entendeu, levando em conta que ela se refere a questões que envolvem nosso país especificamente.
Resposta Pessoal.
Sugestão: O que se entende é que no Brasil, segundo a opinião do autor da fábula, não há pressa em resolver os problemas e que os responsáveis por buscar soluções deixam o tempo passar, a exemplo do caracol, sem fazer nada para evitar problemas que são previsíveis, ou mesmo solucionar os já existentes.