quarta-feira, 24 de junho de 2020

CRÔNICA: O PINTINHO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

Crônica: O pintinho

               Carlos Drummond de Andrade

     Foi talvez de um filme de Walt Disney que nasceu a moda de enfeitar com pintinhos vivos as mesas de aniversário infantil. Era uma excelente ideia, no mundo ideal do desenho animado; conduzida para o mundo concreto dos apartamentos, também alcançou êxito absoluto. Muitos garotos e garotas jamais tinham visto um pinto de verdade, e queriam comê-lo, assim como estava, imaginando ser uma espécie de doce mecânico, mais saboroso. Houve que contê-los e ensinar-lhes noções urgentes de biologia. As senhoras e moças deliciaram-se com a surpresa e gula dos meninos, e foram unânimes em achar os pintos uns amorecos. Mas estes, encurralados num centro de mesa, entre flores que não lhes diziam nada ao paladar, e atarantados por aquele rumor festivo e suspeito, deviam sentir-se absolutamente desgraçados.

        Como a celebração do aniversário terminasse, e ninguém sabia o que fazer com os pintos, pareceu à dona da casa que seria gentil e cômodo oferecer um a cada criança, transferindo assim às mães o problema do destino a dar-lhes. O único inconveniente da solução era que havia mais guris do que pintos, e não foi simples convencer aos não contemplados que aquilo era brincadeira para guris ainda bobinhos, e que mocinhas e rapazinhos de nível mental superior não se preocupam com essas frioleiras.

        Os pintos, em consequência, espalharam-se pela cidade, cada qual com seu infortúnio e seu proprietário exultante. O interesse das primeiras horas continuava a revestir-se de feição ameaçadora para a integridade física dos recém-nascidos (se é que pinto produzido em incubadora realmente nasce). Um deles foi parar num apartamento refrigerado, e posto a um canto da copa, sobre uma caixinha de papelão forrada de flanela. Semeou-se em redor o farelinho malcheiroso que o gerente do armazém recomendara como alimento insubstituível para pintos tenros, e que (o pai leu na enciclopédia) devia ser, teoricamente, farinha de baleia. A ideia da baleia alimentando o pinto encheu o garotinho de assombro, e pela primeira vez o mundo lhe apareceu como um sistema.

        O pinto sentia um frio horroroso, mas desprezava a flanela, e a todo instante se descobria, tentando fugir. Procurava algo que ele mesmo não sabia se era calor da galinha ou da criadeira. À falta de experiência, dirigiu seus passinhos na direção das saias que circulavam pela copa. As saias nada podiam fazer por ele, senão recolocá-lo em seu ninho, mas o pinto procurava sempre, e piava.

        O garoto queria carregá-lo, inventava comidas que talvez interessassem àquele paladar em formação. Não, senhor — explicou-lhe a mãe:

        — Não se pode pegar, não se pode brincar, não se pode dar nada, a não ser farelo e água.

        — Nem carinho?

        — Meu amor, carinho de gente é perigoso para bicho pequeno.

        Mas o pinto, mesmo sem saber, estava querendo era um palmo sujo de terra, com insetos e plantas comestíveis, o raio de sol batendo na poça d’água caída do céu, e companhia à sua altura e feição, e, numa casa assim tão bonita e confortável, esses bens não existiam. E piava.

        A situação começou a preocupar a dona da casa, que telefonou à amiga doadora do pinto: que fazer com ele?

        — Querida, procure criá-lo com paciência, e no fim de três meses bote na panela, antes que vire galo. É o jeito.

        Não virou galo, nem caiu na panela. No fim de três dias, piando sempre e sentindo frio, o pinto morreu. Foi sua primeira e única manifestação de vida, propriamente dita.

        O menino queria guardá-lo consigo, supondo que, inanimado, o pinto se transformara em brinquedo, manuseável. Foi chamado para dentro, e quando voltou o corpinho havia desaparecido na lixeira.

                                                   Carlos Drummond de Andrade, no livro “Fala, amendoeira”. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Entendendo a crônica:

01 – Muitos dos meninos convidados para a festa de aniversário retratada pelo narrador nunca tinham visto um pintinho de verdade.

a)   Segundo o narrador, qual era o desejo desses meninos em relação aos pintinhos?

Eles queriam comê-los, assim como estava, imaginando ser uma espécie de doce mecânico, mais saboroso.

b)   A pessoa responsável pela festa teve como preocupação principal o sucesso da festa, mas não planejou o destino que seria dado aos pintinhos. Como ela resolveu esse problema ao final da festa.

Distribui no final da festa para alguns convidados, porque não tinha para todos.

02 – A crônica conta uma história que poderia acontecer no dia-a-dia, uma moda que, no desenrolar da história, se tornaria um grande problema. Assinale a opção que apresenta o tema/assunto destacado nessa crônica.

a)   A alegria das crianças que puderam compartilhar a vida urbana com a vida rural.

b)   O problema da sociedade quando um objeto (ou animal, neste caso) é usado por causa de uma simples moda e depois esquecido pelo próprio consumidor.

c)   O final trágico do pintinho, mas a satisfação da criança por ter convivido com esse animal em sua casa.

03 – Que crítica podemos perceber nessa crônica?

      Ela critica um problema da sociedade, quando um objeto (ou animal, neste caso) é usado por causa de uma simples moda e depois esquecido pelo próprio consumidor.

04 – O narrador refere-se inicialmente a uma nova decoração das mesas em festa de aniversário infantil.

a)   Na festa que ele relata, o aniversariante é destacado como figura principal?

Não.

b)   Qual é o destaque da festa?

O pintinho.

05 – A pessoa responsável pela festa teve como preocupação principal o sucesso da festa.

a)   Ela planejou o destino que seria dado aos pintinhos?

Não.

b)   Como ela resolveu esse problema?

Não tinha o que fazer com os pintinhos e a dona da festa resolveu dar para os convidados.

06 – A partir do terceiro parágrafo do texto o narrador conta o que aconteceu com os pintinhos depois da festa.

a)   Como foi a adaptação desse pintinho ao novo ambiente?

Muito difícil, o apartamento era refrigerado, e o colocaram num canto da copa, sobre uma caixinha de papelão forrada de flanela.

b)   Na sua opinião os outros pintinhos passaram por uma situação muito diferente da vivida por esse pintinho?

Resposta pessoal do aluno.

07 – O narrador imagina que o pintinho, mesmo sem saber, procurava algo no apartamento em que estava.

a)   O que o pintinho procurava?

Procurava algo que ele mesmo não sabia se era calor da galinha ou da criadeira.

b)   Na verdade, a ave sentia falta de quê?

Ele estava querendo era um palmo sujo de terra, com insetos e plantas comestíveis, o raio de sol batendo na poça d’água caída do céu, e companhia à sua altura e feição.


CRÔNICA: EMBARAÇO NO MERCADINHO - KATIA REGINA PESSOA - COM GABARITO

Crônica: Embaraço no mercadinho


           
  KATIA REGINA PESSOA

-- Pode me ajudar?

-- O que deseja?

-- É puro?

-- É puro como água mineral saída da Fonte São Lourenço.

-- Você usaria?

-- Sim. De olhos fechados.

-- Vou levar um vidro.

No caixa...

-- Deu erro no cartão.

-- Por favor, tente de novo.

-- Senha errada.

-- 234547

-- Sena inválida.

-- 432547.

-- Cartão bloqueado.

-- Tente esse.

A fila se constrói.

-- Não passou.

-- Quanto é mesmo?

A fila aumenta. Clientes resmungam.

-- São trintas reais.

As moedas rolam pelo chão. A fila triplica. Os clientes resmungam mais ainda. Alguns ajudam a pegar as moedas.

-- Só um minuto, por favor. Não posso ir para casa sem isso.

Bolsa aberta moedas recolhidas. Fila em caracol. Criança chorando. Muita reclamação.

-- Eu vou tirando da bolsa e você conta

As moedas brotavam e sobre o balcão trinta reais redondo. A fila em caracol olhava torto.

Após colocar o produto na sacola, saiu chegou ao estacionamento. Plaft: o vidro se estatelou chão. A sacola plástica conseguiu conter o “sangue” melado e o cheiro de abelha se mostrou pôr inteiro.

      Katia Regina Pessoa.

Entendendo a crônica:

01 – Identifique, no trecho do texto abaixo, as três personagens e o narrador.

-- Pode me ajudar? (Personagem 1).

-- O que deseja? (Personagem 2).

-- É puro?

-- É puro como água mineral saída da Fonte São Lourenço.

-- Você usaria?

-- Sim. De olhos fechados.

-- Vou levar um vidro.

No caixa... (Narrador).

-- Deu erro no cartão. (Personagem 3).

02 – Observe:

        A fila se constrói – A fila aumenta –

        A fila triplica – Fila em caracol –

        A fila em caracol olhava torto.

        Fila é, por exemplo, uma maneira de organizar as pessoas (uma atrás da outa) para que aguardem a vez de serem atendidas. Essa disposição de pessoas, de acordo com o texto, acontece, mas vai gradativamente se:

a)   Desmanchando.

b)   Avolumando.

c)   Esvaziando.

d)   Desorganizando.

03 – Com base no texto, localize a causa para os trechos abaixo:

Consequência          --           Causa

-- A fila se constrói.  Falha no cartão.

-- A fila triplica.         As moedas rolam pelo chão.

-- A fila em caracol

    olhava torto.         As moedas brotavam no balcão.

04 – As causas possuem uma mesma origem? E as consequências? Com base nos fatos que se sucedem na narrativa, explique como isso se dá.

      A origem da causa é a demora para pagar pelo produto o que, consequentemente, faz a fila crescer, se avolumar e a irritar os clientes.

05 – A história apresenta vários indícios de conflitos. O primeiro deles inicia-se a partir da frase:

a)   “Pode me ajudar?”

b)   “Vou levar um vidro.”

c)   “Deu erro no cartão.”

d)   “Você usaria?”

06 – Qual foi a solução do problema?

      O problema foi solucionado, depois de um tempo, após o produto ser pago com trinta reais em moedas.

07 – Busque no texto, um exemplo das seguintes figuras de linguagem:

a)   Uma Metáfora.

“A sacola plástica conseguiu conter o ‘sangue’ melado [...]”.

b)   Uma Comparação.

“É puro como água mineral saída da Fonte São Lourenço”.

c)   Uma prosopopeia ou personificação.

“A fila em caracol olhava torto”.

 

 


CRÔNICA: A CASA MATERNA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Crônica: A Casa Materna          

                 Vinícius de Moraes

   Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão tem uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões e samambaias, que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.

  É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em preces, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mutuamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas careciam sonhar.

        A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo em que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta, de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras aberturas para os quartos cheios de sombra. Na estante junto à escada há um Tesouro da juventude com o dorso puído de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema da beleza: o verso.

        Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas, untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoitos de araruta – pois não há lugar mais propício do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima ficam os guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe porque queima às vezes uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia.

        A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha poltrona da sala e como que se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre de sua casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas e as mãos filiais ainda mais unidas em torno à grande mesa, onde já agora vibram também vozes infantis.

 Vinícius de Moras.

Entendendo a crônica:

01 – Pesquise e responda:

·        Dorido: que tem e/ou expressa alguma dos (física ou moral).

·        Untuoso: gorduroso.

·        Votivo: ofertado em promessa.

02 – No 1° parágrafo se observa um sentimento de saudosismo do narrador em relação à casa materna, sugerido pela passagem do tempo. Segundo o texto, o que NÃO sugere a passagem do tempo, quando ele entra em casa?

a)   A ferrugem nas grades do portão.

b)   A lembrança do local do trinco do portão, que só os filhos conheciam.

c)   O pequeno jardim transformado desde a entrada da casa.

d)   O hábito infantil de tirar as folhas da haste de samambaia.

03 – O silêncio estende-se por toda a casa materna, cheia de imagens do passado. Nesta frase: “As coisas vivem em prece [...]”, o significado é:

a)   Os problemas começaram a se resolver com tranquilidade.

b)   Os fatos vão acontecendo pouco a pouco, sem atropelos.

c)   Com o passar do tempo, tudo se modifica rápido.

d)   A vida parece igual, tudo continua da mesma forma.

04 – Em que passagem do texto é possível entender que a mãe, já idosa, ainda continua na casa e que o pai havia falecido?

a)   “Ausente para sempre de sua casa materna, a figura paterna parece mergulhá-la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se fazem mais lentas [...]”.

b)   “A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola”.

c)   “E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitação diurna. Hoje, vazia”.

d)   “Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos e presença dos passos filiais”.

05 – Com base no texto, considere as afirmativas abaixo:

I – O andar térreo continua a ser utilizado.

II – O corredor é visto como personagem dos fatos que ocorrem na casa materna.

III – O piano fechado simboliza todo passado de alegria e sonhos que ficou para trás e deu lugar à saudade.

Está CORRETO o que se afirma em:

a)   I e II, apenas.

b)   I e III, apenas.

c)   II e III, apenas.

d)   I, II e III.

06 – Qual é a função do termo destacado na oração abaixo? “As grades do portão têm uma velha ferrugem”.

a)   Objeto indireto.

b)   Adjunto adnominal.

c)   Complemento nominal.

d)   Aposto.

 


CRÔNICA: A VERDADE - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: A Verdade

                Luís Fernando Veríssimo

    Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas.

    O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:

        – Agora me lembro, não era um homem, eram dois.

        – E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse:

        – Então está com o terceiro!

        Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.

        – Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida – gritaram os aldeões. – Matem-no!

        – Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu!

        E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.

        O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo “Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor”. E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.

        Todos se viraram contra a donzela e gritaram: “Rameira! Impura! Diaba!” e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço.

        Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:

        – A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?

        O pescador deu de ombros e disse:

        – A verdade é que eu achei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador.

 Conto, Literatura Brasileira, Luís Fernando Veríssimo.

Entendendo a crônica:

01 – Por que você acha que a donzela nem tentou desmentir o homem? O que você faria no lugar dela?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Que mensagem o texto transmite?

      Que a mentira é algo ruim e reprovável, trazendo sempre consequências. Não existe tamanho de mentira; mentira é sempre mentira.

03 – Justifique as aspas utilizadas neste trecho: “Rameira! Impura! Diaba!”

      Foram usadas para realçar os xingamentos das pessoas para a donzela.

04 – Copie do texto um exemplo de polissíndeto, explicando seu raciocínio.

      “... Depois a donzela tirara a roupa e pedira e pedira que ele possuísse...”.

      Polissíndeto – consiste em repetir uma conjunção coordenativa.

05 – Você defende, em algum momento, a mentira? Ela deve ser usada em alguma ocasião? Comente.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Em que pessoa verbal o narrador conta o fato?

      Em terceira pessoa do singular e o narrador é narrador-observador.

07 – Quais são os personagens envolvidos no texto?

      A donzela, o pai, o irmão e os três suspeitos assaltantes.

08 – Em que parágrafo o autor menciona o acontecimento que derivou esta crônica?

      No primeiro parágrafo.

09 – Antes de morrer, o que a donzela disse para o pescador?

      “—A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e vão matar pela sua. Onde está afinal, a verdade?”

10 – Quais características pertinente ao gênero crônica podemos encontrar neste texto?

·        Narrativa curta.

·        Linguagem simples e coloquial.

·        Poucos personagens.

·        Espaço reduzido.

 

 


CRÔNICA: ENGRAÇADA - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Crônica: Engraçada

               Luís Fernando Veríssimo

     Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar: Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo.

  Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.

    Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em SP.

        Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta.

        Perguntei a ela onde ela gostaria de ir no nosso aniversário de casamento, “em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!” ela disse. Então, sugeri a cozinha.

        Nós sempre andamos de mãos dadas…Se eu soltar, ela vai às compras!

        Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico. Então, ela disse: “nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar”. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.

        Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento.

        Eu me casei com a “senhora certa”. Só não sabia que o primeiro nome dela era “sempre”.

        Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.

        Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.

        Ela perguntou: “O que tem na TV?”

        E eu disse: “Poeira”.

                        Luís Fernando Veríssimo.

Entendendo a crônica:

01 – Pode-se afirmar que o tema ou assunto abordado no texto é:

      Uma crítica ao sistema de relacionamentos que existe atualmente.

02 – Que marcas o texto possui que o identifica como o gênero crônica e qual é a sua finalidade? Justifique sua resposta.

      Marcas são: Um texto breve com linguagem informal e sua finalidade é contar um evento cotidiano sendo ele real ou fantasioso, podendo ser em tempo cronológico ou psicológico.

03 – O autor do texto afirma que a última briga do casal partiu de uma pergunta da esposa ao marido e da resposta dada por ele. Por que a esposa teria se irritado com a resposta do marido?

      Porque ela perguntou o que tinha (estava passando) na TV, e ele respondeu: poeira. Isso irritou a esposa, pois a chamou de desleixada com a casa.

04 – No trecho: “Nós sempre andamos de mãos dadas... se eu soltar, ela vai às compras!”, o que significa o uso das retic~encias?

      Significa a suspenção ou interrupção de uma ideia ou pensamento.

05 – Qual é o foco narrativo?

      O foco é narrador-personagem, pois conta a história através de uma perspectiva de dentro da história, usando a primeira pessoa do plural (nós).

 


CRÔNICA: DIA DO PROFESSOR DE ANACOLUTOS - LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

CRÔNICA: Dia do professor de anacolutos       

                         Lourenço Diaféria

        Levantei-me, corri a pegar o giz, aqui está, professor. Ele me olhou agradecido, o rosto cansado. Já naquela época, o rosto cansado.

        Dava aulas em três escolas e ainda levava para casa uma maçaroca de provas para corrigir.

        O aluno preparava-se para sentar, ele, o olhar fino:

        – Aproveitando que o moço está de pé, me diga: sabe o que é um anacoluto?

        É o que dá a gente querer ser legal.

        Vai-se apanhar o giz do chão, e o professor vem e pergunta o que é anacoluto. Por que não pergunta àquela turma que ficou rindo do bolso traseiro rasgado das calças dele?

        – Anacoluto... Anacoluto é... Anacoluto.

        – Pode se sentar. Vou explicar o que é anacoluto. Muito obrigado por ter apanhado o giz do chão. Estou ficando enferrujado.

        Agora era ele, no bar, tomando café.

        – Lembra de mim, professor?

        Também estou de cabelos brancos. Menos que ele, claro.

        Com o indicador da mão esquerda acerta o gancho dos óculos no alto do nariz fino e cheio de pintas pretas e veiazinhas azuladas, me encara, deve estar folheando o livro de chamada, verificando um a um o rosto da cambada da segunda fila da classe.

        – Fui seu aluno, professor!

DIAFÉRIA, Lourenço. Disponível em:

                        https://drive.google.com/file/d/0BzPewewkSxkzZXRTbHZwT2lzMEU/edit. Acesso em: 23 de julho de 2019.

Entendendo o texto:

01 – A expressão destacada em: “Estou ficando enferrujado”, tem o mesmo sentido de:

a)   Contrair doenças.

b)   Estar preguiçoso.

c)   Ser descuidado.

d)   Ter limitações.

02 – No texto, há um traço de humor no trecho:

a)   “Levantei-me, corri a pegar o giz...”.

b)   “Ele me olhou agradecido, o rosto cansado.”

c)   “É o que dá a gente querer ser legal.”

d)   “Pode se sentar. Vou explicar o que é anacoluto.”

e)   “Agora era ele, no bar, tomando café”.

03 – No trecho: “Anacoluto... Anacoluto é... Anacoluto”. A repetição da palavra “Anacoluto” sugere:

a)   Brincadeira.

b)   Confirmação.

c)   Desconhecimento.

d)   Desrespeito.

e)   Receio.

04 – Em que trecho do texto ocorre o Anacoluto.

      “[...] Pode se sentar. Vou explicar o que é anacoluto. Muito obrigado por ter apanhado o giz no chão. Estou ficando enferrujado”.

05 – Pesquise e responda o significado da figura de linguagem anacoluto.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Anacoluto é a figura que quebra a estruturação lógica da oração, mudando a construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma pausa sensível.