terça-feira, 23 de abril de 2019

CRÔNICA: PAUSA - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

Crônica: PAUSA
       
      MÁRIO QUINTANA

        Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.
        Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
        Com algum ciclista tombado?
        Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
        E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
        E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho – vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...
        E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
        Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.
        E agora?
        Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:
        "Io sonno un poeta o sonno un imbecile?"
        Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...
        A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar, e não pensar por ele.
        E daí?
        -- Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança –, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

Do livro A vaca e o hipogrifo. By Elena Quintana. São Paulo, Globo.
Entendendo a crônica:

01 – Quais as duas atividades que o autor interrompe ao pousar os óculos sobre a mesa? Responda traduzindo o trocadilho do primeiro parágrafo.
      O autor interrompe a leitura de obras alheias (“leitura de coisas feitas”) ou a criação de suas próprias obras (“feituras de minhas próprias coisas”).

02 – Que imagem ocorre ao poeta ao contemplar os óculos sobre a mesa?
      A imagem de um inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas e a de um ciclista tombado.

03 – A inquietação provocada pela necessidade de captar a “imagem-poema” dos óculos leva o autor a pensar em sua profissão de escritor e de poeta. Mais ainda que isso, leva-o a pensar na função da poesia. Seu senso comum (Sancho Pança) entra em conflito com o seu senso poético (Dom Quixote).
a)   O que são os óculos, segundo o senso comum?
Segundo o senso comum, os óculos são apenas aquilo que parecem ser: duas lentes fixadas em uma armação.

b)   Segundo o autor, por que existe em nós a necessidade de recriar as contas e a vida em imagens?
Para que as coisas tenham mais vida e para que a vida seja vivida mais intensamente.

c)   O autor consegue explicar essa necessidade?
Não, para ele essa necessidade é um “eterno mistério”, um “enigma”.

04 – Diante da “insolubilidade da coisa”, o autor resolve passar o problema para o leitor. Segundo ele, qual é a função do poeta?
      O poeta não tem a função de resolver e sim de propor enigmas; de fazer o leitor pensar, e não de pensar por ele.

05 – “... o melhor é repor depressa os óculos no nariz”. Qual o significado desse conselho?
      É o senso prático do autor aconselhando-o a retomar o trabalho e deixar de lado as questões insolúveis como a função do poeta e da literatura que lhe ocorrem à mente.
     

POEMA: AS POMBAS - RAIMUNDO CORREIA - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: As Pombas
      
      Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

In: Benjamim Abdala Jr., org. Antologia da poesia brasileira –
Realismo e Parnasianismo. São Paulo: Ática, 1985. p. 35.
Entendendo o poema:

01 – Qual o tema do poema? Com o que é comparado?
      O tema do poema é inicialmente o revoar das pombas. Que acaba por estabelecer uma comparação com as fases da vida humana. 

02 – Qual é o símbolo representado pelas pombas?
      A pomba, é símbolo da pureza, da paz e da elevação espiritual.

03 – Por que a pomba como todos os pássaros, tem o sinônimo de liberdade?
      Porque eles podem voar, fazendo a conexão entre o céu e a terra, eles vivem nos dois ambientes.

04 – Pesquise no dicionário, o significado de:
·        Nortada: vento que sopra do norte.
·        Ruflar: agitar, fazer tremular.
·        Célere: rápido, veloz.

05 – De acordo com o poema, o que a pomba traz com relação a vida humana?
      As pombas, nos versos parnasianos acima, trazem também à tona a efemeridade da vida e o sentimento de transitoriedade do tempo. 

06 – De acordo com os termos dessa comparação, identifique a que correspondem, no plano da vida:
a)   A madrugada e a tarde.
A madrugada representa o nascimento da vida, já a tarde representa o fim da vida.

b)   A nortada, que as pombas encontram, à tarde, fora dos pombais.
Representa as dificuldades e transtorno que o ser humano passa na vida.

FÁBULA: A CIGARRA E A FORMIGA - ESOPO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: A cigarra e a formiga 
                     ESOPO

        Estava a cigarra, saltitante, a cantarolar pelos campos, quando encontrou uma formiga que passava carregando um imenso grão de trigo.
        -- "Deixe essa trabalheira de lado" – disse a cigarra - "e venha aproveitar este dia ensolarado de verão".
        -- "Não posso. Preciso juntar provimentos para o inverno" – disse a formiga, - "e recomendo que você faça o mesmo".
        -- "Eu, me preocupar com o inverno?" – perguntou a cigarra. "Temos comida de sobra por enquanto". 
        Mas a formiga não se deixou levar pela conversa da cigarra e continuou o seu trabalho. 
        Quando o inverno chegou, a cigarra não tinha o que comer, enquanto as formigas contavam com o suprimento de alimentos que haviam guardado.
        Morrendo de fome, a cigarra teve de bater à porta do formigueiro, onde foi acolhida pelas formigas, e assim aprendeu sua lição. 
        Moral: É necessário preparar-se para os dias de necessidade.

                                                     ESOPO. Fábulas de Esopo.
Entendendo a fábula:

01 – Pelo que você entendeu da leitura dessa fábula, quais seriam as características principais da cigarra e da formiga?
      A cigarra preocupa-se em viver o presente. Já a formiga está voltada para prover o futuro.

02 – Você acha que essas características têm alguma relação com o comportamento real dessas duas espécies de animais? Explique.
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim. As formigas são um tipo de animal social, cuja atividade está relacionada ao provimento e ao bem-estar do grupo. Já a cigarra não tem esse tipo de comportamento.

03 – Qual é a moral dessa fábula? Você concorda com ela? Por quê?
      A moral é: É necessário preparar-se para os dias de necessidade. Resposta pessoal do aluno.

04 – Em sua opinião, por que, em história como essa, as personagens são animais em vez de humanas?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque os personagens animais permitem que se fala de características humanas de forma geral e universal.

05 – A cigarra é uma cantora. A formiga faz trabalhos braçais. Pense nas atividades dessas duas personagens: por que para o autor dessa fábula, cantar não seria uma forma de trabalho?
      Porque a canção não iria armazenar as provisões necessárias, com o serviço braçal.

TEXTO: BISA BIA, BISA BEL - ANA MARIA MACHADO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: Bisa Bia, Bisa Bel
                   
             Ana Maria Machado

        Sabe? Vou lhe contar uma coisa que é segredo. Ninguém desconfia. É que Bisa Bia mora comigo.
        Ninguém sabe mesmo. Ninguém consegue ver.
        Pode procurar pela casa inteira, duvido que ache. Mesmo se alguém for bisbilhotar num cantinho da gaveta, não vai encontrar. Nem se fuçar debaixo do tapete. Nem atrás da porta. Se quiser, pode até esperar uma hora em que eu esteja bem distraída e pode espiar pelo buraco da fechadura do meu quarto. Pensa que vai conseguir ver Bisa Bia?
        Vai nada...
        Sabe por quê? Ë que Bisa Bia mora comigo, mas não é do meu lado de fora. Bisa Bia mora muito comigo mesmo. Ela mora dentro de mim. E até pouco tempo atrás, nem eu mesma sabia disso. Para falar a verdade, eu nem sabia que Bisa Bia existia.

                   Ana Maria Machado. Bisa Bia, Bisa Bel. São Paulo: Salamandra, 2000.
Entendendo o texto:

01 – Qual é o segredo que o narrador nos conta?
      O segredo, anunciado nesse trecho do texto, é a identificação da narradora com sua bisavó Beatriz.

02 – Depois de ler e observar bem o texto, responda:
a)   O que a imagem representa?
Representa o buraco de uma fechadura.

b)   A imagem ajuda a entender melhor o texto? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.

c)   Você se lembra de outros textos que são compostos por uma combinação de palavras e imagens? Que textos são esses?
Resposta pessoal do aluno.

03 – Você acha que a imagem tem alguma relação com a ideia de segredo? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Observar pelo buraco da fechadura é uma atitude que tem relação com a ideia de bisbilhotar, fuçar, que aparece no texto, e que isso, em geral, está relacionado ao desejo de se descobrir algum segredo ou algo que não se conhece.

04 – Quem narra essa história é um menino ou uma menina? Há no texto alguma parte que comprove isso?
      Nos trechos: “Em que eu esteja bem distraída” e “Nem eu mesma sabia disso”. As palavras distraída e mesma permitem constatar que se trata de uma menina.

05 – Você consegue imaginar quem é Bisa Bia? Converse com seus colegas sobre isso.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Você tem algum segredo? Alguma vez já sentiu necessidade de contar um segredo a alguém? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Encontre no dicionário, se necessário, outras palavras ou expressões que tenham o mesmo sentido de bisbilhotar, que aparece no trecho: “Mesmo se alguém for bisbilhotar num cantinho da gaveta, não vai encontrar.”
      Procurar, xeretar, vasculhar.

08 – Dizem que duas palavras são sinônimas quando têm, sentidos equivalentes ou muito próximos. No texto “Bisa Bia, Bisa Bel”, há alguns sinônimos de bisbilhotar. Quais?
      Procurar, fuçar e espiar.

09 – Mesmo sendo sinônimas, as palavras que você mencionou na resposta anterior apresentam pequenas diferenças de sentido que só podemos perceber ao ler o texto.
a)   Localize os trechos do texto em que aparecem essas palavras sinônimas de bisbilhotar.
“Pode procurar pela casa inteira”; “Nem se fuçar debaixo do tapete”; “Pode espiar pelo buraco da fechadura do meu quarto”.

b)   Que diferenças de sentido elas apresentam nos trechos em que aparecem?
Procurar e fuçar acentuam a ideia de intensidade e apresentam o sentido de uma busca minuciosa; já espiar marca mais fortemente o caráter casual da busca.

10 – “Para falar a verdade, eu nem sabia que Bia Bisa existia”. Nesse trecho, que diferença de sentido haveria se, em vez de nem, utilizássemos não?
      A diferença é que nem é uma forma negativa mais forte do que não.


segunda-feira, 22 de abril de 2019

POESIA: A FOCA - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

Poesia: A Foca
          Vinícius de Moraes

Quer ver a foca
Ficar feliz?
É por uma bola
No seu nariz.

Quer ver a foca
Bater palminha?
É dar a ela
Uma sardinha.

Quer ver a foca
Fazer uma briga?
É espetar ela
Bem na barriga.
                           

Entendendo a poesia:

01 – Qual o título da poesia?
      O título é “A Foca.”
02 – Quem é o autor?
      Vinícius de Moraes.

03 – Cite algum trecho que repete na poesia.
      “Quer ver a foca”.

04 – Quantas estrofes tem e quantos versos?
      Possui 03 estrofes e 12 versos.

05 – Por qual motivo a foca briga?
      Quando espeta a barriga dela.

06 – Qual é a comida da foca, de acordo com a poesia?
      Ela alimenta-se de sardinha.

07 - Num dos versos do poema, um pronome foi empregado de uma maneira que foge ao que recomenda a variedade padrão da língua.
     a) Copie o verso em que isso ocorre.
          É espetar ela.

     b) Modifique o verso, adaptando-o à variedade padrão.
         É espetá-la.

08 - Como ficariam os versos seguintes, caso substituíssemos por pronomes oblíquos átonos os termos destacados?
    a) "Quer ver a foca"  - Quer vê-la.
    b) "É pôr uma bola/ no seu nariz." É pô-la no seu nariz.
    c) "É dar a ela/ uma sardinha". É dar-lhe uma sardinha.
     



CONTO: LONGE COMO O MEU QUERER - (FRAGMENTO) - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

Conto: Longe como o meu querer - Fragmento
                                     Marina Colasanti

        Regressava ao castelo com suas damas, quando do alto do cavalo o viu, jovem de longos cabelos à beira de um campo. E embora fossem tantos os jovens que cruzavam seu caminho, a partir daquele instante foi como se não houvesse mais nenhum. Nenhum além daquele.
        À noite, no banquete, não riu dos saltimbancos, não aplaudiu os músicos, mal tocou na comida. As mãos pálidas repousavam. O olhar vagava distante.
        --- Que tens, filha, que te vejo tão pensativa? – Perguntou-lhe o pai.
        --- Oh! pai, se soubesses! – Exclamou ela, feliz de partilhar aquilo que já não lhe cabia no peito. E contou do rapaz, do seu lindo rosto, dos seus longos cabelos.
        O que o pai pensou, não disse. Mas no dia seguinte, senhor que era daquele castelo e das gentes, ordenou que se decapitasse o jovem e se atirasse seu corpo ao rio. A cabeça entregou à filha em bandeja de prata, ele que sempre havia satisfeito todas as suas vontades.
        --- Aqui tens o que tanto desejavas.
        E sem esperar resposta, sem sequer procurá-la em seus olhos retirou-se.
        Saído o pai, a castelã lavou aquele rosto, perfumou e penteou os longos cabelos, acarinhou a cabeça no seu colo. À noite pousou-a no travesseiro ao lado do seu, e deitou-se para dormir.
        Porém, no escuro, fundos suspiros barraram a chegada seu sono.
        --- Por que suspiras, doce moço? – Perguntou voltando-se para o outro travesseiro.
        --- Porque deixei a terra arada no meu campo. E as sementes preparadas no celeiro. Mas não tive tempo de semear. E no meu campo nada crescerá.
        --- Não te entristeças – respondeu a castelã.  Amanhã semearei teu campo. No dia seguinte chamou sua dama mais fiel, pretextou um passeio, e saíram ambas a cavalo.
        Apearam no campo onde ela o havia visto a primeira vez. A terra estava arada. No celeiro encontraram as sementes. A castelã calçou tamancos sobre seus sapatinhos de cetim, não fosse a lama denunciá-la ao pai. E durante todo o dia lançou sementes nos sulcos.
        À noite deitou-se exausta. Já ia adormecer, quando fundos suspiros a retiveram à beira do sono.
        --- Por que suspiras, doce moço, se já semeei teu campo?
        --- Porque deixei minhas ovelhas no monte, e sem ninguém para trazê-las ao redil serão devoradas pelos lobos.
        --- Não te entristeças. Amanhã buscarei tuas ovelhas.
        No dia seguinte, chamou aquela dama que mais do que as outras lhe era fiel e, pretextando um passeio, saíram juntas além dos muros do castelo.
        Subiram a cavalo até o alto do monte. As ovelhas pastavam. A castelã cobriu sua saia com o manto, não fossem folhas e espinhos denunciá-la ao pai. Depois, com a ajuda da dama reuniu as ovelhas e, levando o cavalo pelas rédeas, desceu com o rebanho até o redil.
        Que tão cansada estava à noite, quando o suspiro fundo pareceu chamá-la!
        --- Por que suspiras, doce moço, se já semeei teu campo e recolhi tuas ovelhas?
        --- Porque não tive tempo de guardar a última palha do verão, e apodrecerá quando as chuvas chegarem.
        --- Não te entristeças. Amanhã guardarei a tua palha.
        Quando no dia seguinte mandou chamar a mais fiel, não foi preciso explicar-lhe aonde iriam. Pretextando desejo de ar livre, afastaram-se ambas do castelo.
        Os feixes de palha, amontoados, secavam ao sol. A castelã calçou os tamancos, protegeu a saia, enrolou tiras de pano nas mãos, não fossem feridas denunciá-la a seu pai. E começou a carregar os feixes para o celeiro. Antes do anoitecer tudo estava guardado, e as duas regressaram ao castelo.
        Nem assim manteve-se o silêncio no escuro quarto da castelã.
        Por que suspiras, doce moço? – Perguntou ela mais uma vez. – Por que suspiras, se já semeei teu campo, recolhi tuas ovelhas, e guardei tua palha?
        --- Porque uma tarefa mais é necessária. E acima de todas me entristece. Amanhã deverás entregar-me ao rio. Só ele sabe onde meu corpo espera. Só ele pode nos juntar novamente antes de entregar-nos ao mar.
        --- Mas o mar é tão longe! – Exclamou a castelã num lamento.
        E naquela noite foram dois a suspirar.
        Ao amanhecer a castelã perfumou e penteou os longos cabelos do moço, acarinhou a cabeça, depois a envolveu em linhos brancos e chamou a dama.
        Os cavalos esperavam no pátio, o soldado guardava o portão. – Vamos entregar alguma comida para os pobres – disseram-lhe. E saíram levando seu fardo.
        Seguindo junto à margem, afastaram-se da cidade até encontrar um remanso. Ali apearam. Abertos os linhos, entregaram ao rio seu conteúdo. Os longos cabelos ainda flutuaram por um momento, agitando-se como medusas. Depois desapareceram na água escura.
        De pé, a castelã tomou as mãos da sua dama. Que lhe fosse fiel, pediu, e talvez um dia voltassem a se ver. Agora, cada uma tomaria um rumo. Para a dama, o castelo. Para ela, o mar.
        --- Mas é tão longe o mar! – exclamou a dama.
        Montaram as duas. A castelã olhou a grande planície, as montanhas ao fundo. Em algum lugar além daquelas montanhas estava o mar. E em alguma praia daquele mar o moço esperava por ela.
        --- A distância até o mar – Disse tão baixo que talvez a dama nem ouvisse – Se mede pelo meu querer.
        E esporeou o cavalo.
                  Marina Colasanti. Longe como o meu querer. São Paulo: Ática, 2001.
Entendendo o conto:
01 – Pelo assunto abordado, é possível dizer que esse texto nunca poderia ser publicado em uma revista como Scientific American Brasil. Por quê?
      Por que trata-se de um texto de ficção, inadequado para uma revista de teor científico.

02 – A narrativa trata de um fato possível no plano real ou só possível como ficção? Como você chegou à sua resposta?
      O fato é apenas ficção. Entre os índices mais importantes dessa ficcionalidade estão a possibilidade de a cabeça do moço manter-se viva depois de desligada do resto do corpo e a posterior reintegração do corpo, que se supõe acontecer.

03 – De todas as tarefas que o camponês solicitou à castelã, uma foi a que mais o entristeceu.
a)   Qual foi essa tarefa?
Que ela entregasse a cabeça dele ao rio para que encontrasse o resto do corpo.

b)   Por que essa tarefa teria feito o camponês ficar tão triste?
Porque ele sabia que, realizada a tarefa, ficaria para sempre longe da castelã.

04 – Cada ação oculta da castelã, se descoberta, poderia comprometê-la perante o pai. Por isso, ela elimina os indícios das tarefas que realizava para o moço.
a)   Identifique esses indícios.
Lama; folhas e espinhos; ferimentos (feridas).

b)   Por que esses indícios seriam estranhos no dia-a-dia de uma castelã?
Porque se relacionam com o trabalho braçal, realizado no campo, impensável para um nobre.

05 – Releia: “Amanhã deverás entregar-me ao rio. Só ele sabe onde meu corpo espera. Só ele pode nos juntar novamente antes de entregar-nos ao mar.”
        A que(m) se referem os pronomes destacados?
      Ao corpo e à cabeça, que, novamente juntos, comporiam a pessoa do jovem.

06 – Resuma o que acontece com a castelã e sua dama no final da história.
      A castelã vai para o mar procurar o camponês. A dama volta ao castelo.

07 – Qual dos provérbios seguintes se relaciona mais diretamente com o final da história?
a)   No amor e na guerra tudo vale.
b)   O fim da paixão é o começo do arrependimento.
c)   É o amor que faz o mundo girar.
d)   O amor não conhece distâncias.

08 – Não teria sido mais fácil simplesmente a princesa e o jovem se casarem? Por que a história precisou de tantas peripécias?
      Porque o rei certamente não autorizaria o casamento da filha com um camponês.

09 – Identifique o sentido que o verbo vagar adquire no segundo parágrafo de “Longe como o meu querer”. Em seguida, escreva uma frase utilizando o mesmo verbo com sentido diferente.
      Tem o sentido de percorrer vagando, ao acaso. Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia este trecho com atenção: “No dia seguinte, chamou sua dama mais fiel, pretextou um passeio, e saíram ambas a cavalo.”
O verbo destacado aparece mais uma vez no conto. Pelo contexto, qual é o significado desse verbo?
       Dar como pretexto ou desculpa; dissimular o motivo real para algum feito ou ação.

11 – Compare: “... acarinhou a cabeça no seu colo. À noite pousou-a no travesseiro ao lado do seu...”. “Ao posar para a foto, segurava o queixo.”
Os verbos pousar e posar têm formas parecidas, mas significados diferentes. São parônimos.
a)   Procure no dicionário o significado adequado de pousar e posar nas frases acima.
Pousar: pôr, colocar. Posar: ficar imóvel em determinada posição, para ser fotografado.

b)   Procure no dicionário as palavras seguintes e leia seu significado. Você encontrará também os parônimos dessas palavras. Procure-os, observe seu significado e, no caderno, escreva frases com eles.
Emergir: trazer ou vir à tona. Imergir: estar imerso, mergulhar.
Pião: brinquedo geralmente de madeira. Peão: Aquele que anda a pé; homem da plebe.

12 – No castelo havia muitas damas a serviço da castelã, mas uma delas sobressaía no conjunto por uma característica. Empregando apenas um substantivo abstrato, indique essa característica.
      É a palavra fidelidade.

13 – No trecho abaixo, observe a palavra destacada, um coletivo: “Os feixes de palha, amontoados, secavam ao sol.” Nos itens a seguir, trocamos nessa frase a palavra palha por outras. Com essa mudança, que substantivo você precisa colocar no lugar de feixes para manter a coerência? Reflita e copie no caderno as frases completando-as com o coletivo adequado:
a)   As réstias/enfiadas de alho, amontoadas, secavam ao sol.

b)   Os cachos de uva, amontoados, secavam ao sol.

c)   Os buquês/ramalhetes de flores, amontoados, secavam ao sol.

14 – “Longe como o meu querer” é uma narrativa que chamamos de conto. Identifique nesse conto:
a)   As personagens.
A castelã, o moço decapitado, a dama fiel e o pai da castelã.

b)   A ação principal de cada uma dessas personagens.
A castelã: realiza os desejos do moço decapitado. A dama: acompanha a castelã e a ajuda. O moço decapitado: diz à castelã o que deseja que seja feito. O pai: manda decapitar o moço.

15 – A partir de que ação (ações) indicada(s) na resposta anterior a narrativa avança, evolui?
      A partir da ação do moço decapitado: é pelo fato de a castelã fazer o que ele diz que a narrativa caminha / evolui para o desfecho.

16 – Dentre as personagens, indique aquela cuja ação desencadeia todas as outras ações no conto.
      O pai da castelã: sua ação é o ponto de partida para as demais.

17 – Em muitas narrativas, há uma busca: as personagens agem de modo a (re)encontrar seu objeto do desejo. A respeito desse conto de Marina Colasanti, responda no caderno.
a)   O que buscam as personagens?
A castelã busca o amor, representado pelo moço decapitado.
O moço busca cumprir suas tarefas cotidianas, as quais se vê impossibilitado de realizar.
O pai da castelã busca realizar o desejo da filha.
A dama busca acompanhar sua senhora.

b)   Qual é, na sua opinião, a busca mais importante, aquela que mais contribui para que a narrativa atinja o seu desfecho?
É a da castelã, cuja busca a leva a abandonar o castelo, ação essa que contribui o desfecho da narrativa.

18 – Antagonista é a personagem (ou um outro elemento da narrativa) que retarda o desenrolar dos fatos, agindo contra a busca principal. Na sua opinião, quem ou o que seria o antagonista desse conto?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão; O antagonista mais evidente é a distância que separa a castelã do moço decapitado.