quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: O MUNDO PARA TODOS - CRISTOVAM BUARQUE - COM GABARITO

 TEXTO: O MUNDO PARA TODOS


    Durante debate recente, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro.

           Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro, eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre   a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
           Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
           Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
          Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos Estados Unidos. Por isso eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
         Se os Estados Unidos querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos Estados Unidos. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
        Nos debates, os atuais candidatos  à  presidência  dos Estados Unidos têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidades de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
        Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

Cristovam Buarque- O Globo, Rio de Janeiro, 23 out.2000.

ESTUDO DO TEXTO
1)Quando o jovem que fez a pergunta determinou que queria a resposta de um humanista e não de um brasileiro, o que você imagina que ele esperava ouvir?
 Que o autor defende-se a Amazônia como patrimônio nosso.

2)Cristovam Buarque, em seu contra-argumento incorpora a tese defendida por um humanista. Qual a sua intenção ao adotar essa estratégia?
Sua intenção é de internacionalizar todos os patrimônio histórico como mundial.

3)  Na sua opinião, a resposta de Cristovam Buarque foi convincente? Justifique.
Resposta pessoal.
  
4)Seguindo o raciocínio desenvolvido no texto, que outros patrimônios você acha que o autor poderia ter citado? Justifique.

Parques Nacionais, Cidades Históricas, Ilhas.  Por serem patrimônio históricos.

5) Na sua opinião, qual a relação do título O Mundo para Todos com a argumentação que o autor usou no texto?
Resposta pessoal.




TEXTO: O REI MIDAS - ALAIN QUESNEL - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: O rei Midas

   Em Bromionte, na Macedônia, bem no norte da Grécia, vivia em paz o rei Midas, um soberano ávido de prazeres refinados e de todo tipo de riqueza.  Gostava especialmente de percorrer as alamedas do imenso e maravilhoso jardim que margeava seu suntuoso palácio.
 Nesse jardim, o que o rei mais apreciava era aspirar o perfume das rosas cultivadas para ele.
        Um dia, quando os jardineiros estavam guardando as ferramentas, um deles ouviu um barulho estranho, que vinha de uma moita.  Fez sinal aos companheiros para que se calassem, e todos ouviram um ruído surdo e regular, às vezes interrompido por resmungos.
        Aproximando-se com cuidado, os jardineiros descobriram um ser estranho, encolhido no chão.  Tinha corpo de homem e pés de bode.  Era um sátiro que, quase morto de tanto vinho, estava deixando a bebedeira passar.
        Agarraram a estranha criatura e levaram-na ao rei.  Ainda cambaleando e falando com voz pastosa, o sátiro declarou a Midas que se chamava Sileno e que era companheiro e amigo de Dioniso, o deus das uvas e do vinho.
        Ao conhecer a identidade de seu visitante, Midas mandou soltá-lo e, depois que Sileno descansou e comeu, foi levá-lo a Dioniso.
        A alegria do deus ao reencontrar Sileno foi enorme.  Mandou abrir vários barris de vinho e deu uma festa ao som de flautas e pandeiros.  Quando as danças finalmente cessaram, Dioniso disse que desejava agradecer a Midas.  Propôs satisfazer um desejo do rei.  Qualquer um.
        Acontece que Midas era muito cobiçoso, e isso o fez responder sem pensar:
        --- Meu maior desejo no mundo é que tudo em que eu toque se transforme em ouro.
        O deus achou bem maluca a ideia, mas, já que tinha prometido, concordou e proporcionou o dom que Midas acabara de pedir.
        Assim que ficou sozinho em seus aposentos, o monarca começou a experimentar seus novos poderes.   Tocou a mesa e foi um deslumbramento: o móvel de simples madeira se transformou em ouro maciço.  Aconteceu o mesmo com uma taça de estanho e uma espada de bronze. Maravilhado, Midas ficou frenético. Saiu tocando tudo o que estava a seu alcance.  Em pouco tempo, tudo no palácio tinha virado ouro maciço.  Tudo quanto era enfeite, móvel, as próprias colunas do prédio, as árvores do jardim...   Ouro puro, brilhante, cintilante.  De longe dava para ver o brilho do palácio de ouro de Midas, faiscando sob os raios do sol poente.
        No entanto, o rei percebeu que a noite se aproximava.  Ele estava com fome.  Chamou os escravos e mandou servir o jantar, sendo imediatamente obedecido.  Faminto, Midas jogou-se sobre os pratos deliciosos que lhe traziam.  Mas as carnes douradas, as frutas suculentas, os queijos que queria levar à boca, tudo se transformava em ouro no instante que ele os tocava.
        Inquieto e desapontado em sua gulodice, fez outra tentativa. Aconteceu o mesmo.  Chamou os empregados, mas todos se afastaram dele, querendo ficar bem longe de um homem que tinha um poder tão terrível.
        Então Midas, alucinado de fome e de solidão, começou finalmente a refletir e percebeu que o dom de Dionísio condenava-o a uma morte rápida.  Ficou apavorado, e chorando, implorou ao deus que o livrasse daquele poder assustador e mortal.
        Dioniso deu boas gargalhadas quando viu a que ponto a cobiça levara Midas.  Mas ficou com pena e aconselhou-o logo tomar um banho na nascente do Páctolo, um rio próximo ao monte Tmolo.  Midas obedeceu e, ao sair da água, viu com alívio que seu dom funesto desaparecera.  Desde esse dia, as águas do Páctolo carregam sempre uma porção de pepitas de ouro.
        Depois de uma aventura tão desastrosa, Midas devia ter aprendido a ser mais cuidadoso com os deuses.  Mas não aprendeu e meteu-se em outra enrascada.
        Apolo, deus do Sol, ia disputar um concurso de música com o sátiro Mársias.  Midas, que tinha sido aluno do célebre músico Orfeu, foi designado um dos juízes.  Quando os dois terminaram de tocar, ficou evidente para todo mundo que Apolo era muito melhor que Mársias, mas Midas resolveu dizer o contrário, numa teimosia estúpida.  Apolo foi declarado vencedor, mas resolveu castigar Midas por sua total falta de sensibilidade musical - e transformou ao orelhas do rei num par de orelhas de burro, bem grandes.
        Midas ficou muito sem graça.  Para disfarçar, só aparecia em público com um gorro de lã, escondendo as orelhas.  Não o tirava nem para dormir, com medo de que os outros ficassem sabendo.
        Mas o tempo foi passando, e a barba e o cabelo do rei foram crescendo.  Chegou o momento em que não dava mais para adiar o corte.  Então, mandou chamar o barbeiro e, quando ficou sozinho com ele, fez o homem jurar que guardaria segredo sobre o que ia ver.  O barbeiro levou o maior susto quando viu as peludas e imensas orelhas do rei, mas não disse nada.  Fez direitinho seu trabalho e foi-se embora do palácio o mais depressa que pôde.
        Depois, porém, foi ficando difícil para o barbeiro guardar um segredo tão grande, apesar de ter dado sua palavra e de temer a cólera do rei.  No fim, quando já não aguentava mais, teve uma ideia.  Foi a um lugar isolado, perto do rio, cavou um buraco na terra e, quase encostando a boca no chão, murmurou lá para dentro:
        --- O rei Midas tem orelhas de burro...
        Tapou rapidamente o buraco e foi embora.
        Mas um caniço bem ao lado, curvado pela brisa, começou a murmurar:
        --- O rei Midas tem orelhas de burro...
        Todos os caniços das redondezas fizeram a mesma coisa.
        O murmúrio cresceu e virou um clamor.  Dava para ouvir até na cidade.  Dali a algumas horas, todo mundo falava das orelhas do rei.  Todo mundo ria.  O pobre soberano caiu no ridículo e passou a viver para sempre trancado em seu palácio, lamentando, mais uma vez, não ter tido prudência e bom senso.  Mas já era tarde.


                                Alain Quesnel. A Grécia: mitos e lendas. Tradução de Ana Maria Machado.
São Paulo: Ática, 2005. p.8 (fragmento).
Entendendo o texto:
01 – Para o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa mito é um "relato [maravilhoso] de tradição oral, geralmente protagonizado por seres que encarnam, sob forma simbólica, as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana. O rei Midas é a personagem principal da história. Qual aspecto da natureza humana ele poderia representar?
      A cobiça.

02 – Por que o mito é narrado em 3ª pessoa?
      Porque tem tradição oral e como é uma história contada, essa pessoa assume o papel de narrador observador.

03 – A descoberta do sátiro Sileno e o concurso de música provocaram mudanças na vida do rei. Ele vivia tranquilo em seu luxuoso palácio, apreciando a beleza das flores de seus jardins. O que a descoberta do sátiro conseguiu comprovar quanto ao caráter do rei?
      O rei era extremamente ambicioso, pois não se contentava com os bens que tinha, além de ser insensato, por agir de forma tempestiva.

04 – Ao conhecer a identidade de Seleno, o rei Midas mandou soltá-lo e o levou até Dioniso, deus das uvas e do vinho. Midas já esperava uma recompensa do deus Dioniso por sua "boa ação"?
      Sim, pois ele tinha muita cobiça e ainda queria mais poder e riqueza.

05 – Dioniso achou maluca a ideia de Midas?
      Sim, pois aí percebeu a sua insensatez e mostrando sua cobiça de riqueza e poder.

06 – Midas sentiu-se maravilhado com seu extraordinário poder. Durante algum tempo, experimentou seu novo dom. Midas obteve o que mais sonhava: transformar em ouro tudo o que tocasse. Que consequências foram produzidas por essa conquista?
      Ele passou fome e ficou solitário.

07 – Consciente do seu ato impensado, Midas suplicou humildemente ao deus Dioniso que o livrasse daquele poder. Que lição de vida se pode aprender com a experiência do rei Midas?
      O poder e a riqueza não são os maiores bens de uma pessoa, pois em excesso prejudicam.

08 – Livre do terrível poder, Midas ainda se mostrou insensato (característica que um rei não pode ter), ao desafiar o deus Apolo, declarando-o inferior a Mársias, como músico, apenas por teimosia. O que há de comum entre essa atitude e o pedido que Midas fez a Dioniso?
      Ele não media as consequências de seus atos, agindo impensadamente.

09 – O castigo do deus Apolo causou imensa vergonha a Midas, que passou a esconder suas enormes orelhas com um gorro. Por que a atitude de Apolo afetou tanto a vida do rei Midas?
      Porque as orelhas grandes lembravam a de um burro, o que mexeu com sua autoimagem de rei onipotente.


TEXTO : O DRAMA DAS PAIXÕES PLATÔNICAS NA ADOLESCÊNCIA - COM GABARITO

O DRAMA DAS  PAIXÕES PLATÔNICAS NA ADOLESCÊNCIA


    Bruno foi aprovado por três dos sentidos de Camila: visão, olfato e audição. Por isso, ela precisa conquistá-lo de qualquer maneira.

Matriculada na 8ª série, a garota está determinada a ganhar o gato
do 3º ano do Ensino Médio e, para isso, conta com os conselhos de  Tati, uma especialista na arte da azaração. A tarefa não é simples, pois o moço só tem olhos para Lúcia - justo a maior "crânio" da escola.
E agora, o que fazer? Camila entra em dieta espartana e segue as leis da conquista elaboradas pela amiga. 

                                                     Revista Escola, março 2004, p. 63
Pode-se deduzir do texto que Bruno
(A) chama a atenção das meninas.
(B) é mestre na arte de conquistar.
(C) pode ser conquistado facilmente.

(D) tem muitos dotes intelectuais.

REPORTAGEM: TRANSGÊNICOS - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: Transgênicos

        A sociedade civil ainda não foi esclarecida sobre o problema.


         Quase duas décadas de debates.
        A polêmica em torno dos organismos geneticamente modificados (OGMs), popularmente conhecidos como transgênicos já fez história. Começou nos anos 1990, quando ocorreram as primeiras colheitas de grãos alterados geneticamente.
        O movimento de resistência surgiu em torno da Campanha por Segurança Alimentar e agregou diversas organizações não-governamentais. Desde então, o número de entidades envolvidas e as ações empreendidas se ampliaram. No Brasil, a mobilização civil começou com a campanha por um Brasil Livre de transgênicos, que publicou cartilhas impressas e boletins eletrônicos, promoveu eventos e manifestações públicas, e divulgou resultados de testes realizados em alimentos.

        Pressão Multinacional

        A encrenca começou em outubro de 1998, quando foi liberado o primeiro plantio de soja geneticamente modificada no país produzido pela multinacional Monsanto, uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo. A liberação ocorreu depois que produtores do Rio Grande do Sul usaram sementes de países fronteiriços, como a Argentina, onde esse tipo de cultivo já era permitido, e pressionaram o governo para que sua safra pudesse ser comercializada. A autorização saiu, por medida provisórias, para as safras 2003 / 2004, 2004 / 2005 e 2005 / 2006. A liberação definitiva, no entanto, veio acompanhada de algumas condições, entre elas a necessidade de o agricultor assinar uma declaração reconhecendo o uso de OGMs e comprometendo-se a não usar os grãos gerados em uma próxima safra. Em relação à soja, é nesse pé que as coisas se encontram em 2006, após a aprovação e a regulamentação da Lei de Biossegurança.
        O algodão Bollyard Evento 531, também da Monsanto, é outro capítulo. Seu cultivo foi liberado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), também com algumas exigências. Uma delas: 20% de algodão convencional deve ser cultivado em áreas cercadas e isoladas para evitar contaminação.

        Níveis de Tolerância

        Desde 2003, vigora no Brasil o Decreto-Lei n° 4.680, que exige a informação, no rótulo de alimentos e ingredientes que contenham mais de 1% de componentes transgênicos. Anteriormente era a partir de 4%. Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), entretanto, a alteração ainda não é satisfatória e tem duas reclamações nessa área. A primeira é que muitos alimentos contêm menos de 1% de ingredientes geneticamente modificados – e o consumidor ignora a informação. A outra é que produtos como bolachas, bolos, massas, chocolates, óleos, margarinas e seus derivados, que sofrem processamento térmico mais agressivo, têm suas proteínas destruídas, o que impede a detecção de organismos geneticamente modificados.
        “Nos supermercados não há produtos que tragam o símbolo indicando a existência de OGMs, não porque eles não existam, mas porque a informação desaparece quando entra em fabricação, e não existe fiscalização”, afirma Gabriela Vuolo, coordenadora da área de consumidores da campanha de transgênicos do Greenpeace. Na União Europeia, desde 2004 o limite para não rotular um produto como geneticamente modificado é 0,9%. Na Suíça, 0,1%. Na Rússia e no Japão, 5%.
        O milho transgênico já está autorizado para plantio em países europeus, como Portugal e Alemanha, mas ainda não está liberado no Brasil.
        Muitas questões ainda estão pendentes. O peso dos custos variará, também, conforme a localização da lavoura, as condições de transporte, o armazenamento. Nada disso foi ainda avaliado. O que existem são estimativas. "O incremento poderá representar apenas 0, 5% do valor de 1 tonelada de grãos de soja em regiões próximas aos portos. Entretanto, poderá alcançar de 6% a 8% se as cargas passarem por vários transbordos, diferentes tipos de armazéns e regiões mistas. Isso ocorre com o produto do Centro-Oeste, onde será necessário segregar os grãos transgênicos dos tradicionais", diz o engenheiro agrônomo José Maria da Silveira, pesquisador do Núcleo de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor nas áreas de Microeconomia e Métodos Quantitativos.
        A identificação dos carregamentos, com informações claras e precisas sobre o nome da variedade e o gene modificado, é obrigatória, por força de acordo internacional, mas é também uma providência de interesse nacional, fundamental para a biossegurança. Então, o dinheiro que os produtores terão de investir adquire um colorido diferente. Passa a compor um interesse difuso, de toda a sociedade. "Os gastos não serão muito altos e as empresas terão de arcar com isso. E os investimentos iniciais eventualmente serão incorporados ao orçamento dos empreendimentos", afirma Paulo Pacini, coordenador de ações judiciais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
        Está visto que, para o debate se transformar em algo mais produtivo, que possa resultar em ações coerentes, justificáveis e efetivas, falta ainda muita informação. Pesquisadores em agronegócios, economistas e especialistas em prospectar mercados têm trabalho de sobra a fazer nessa área. E há urgência. Afinal, seis anos passam num piscar de olhos.

                                       Trechos da matéria “Quanto custa o rótulo”.
                                               Revista Desafios do Desenvolvimento.
Entendendo o texto:
01 – Qual o título do texto? E o subtítulo?
      Transgênicos. A Sociedade Civil ainda não foi esclarecida sobre o problema.

02 – A polêmica sobre os transgênicos, já faz décadas. Desde quando começou?
      Começou nos anos de 1990, quando ocorreram as primeiras colheitas de grãos alterados geneticamente.

03 – Com o movimento de resistência aos transgênicos. Qual foi a atitude tomada no Brasil?
      No Brasil, a mobilização civil começou com a campanha por um Brasil Livre de transgênicos, que publicou cartilhas impressas e boletins eletrônicos, promoveu eventos e manifestações públicas, e divulgou resultados de testes realizados em alimentos.

04 – Quando foi liberado o primeiro plantio de soja geneticamente modificada no País? E por quem é produzida as sementes?
      Foi liberada em outubro de 1998, produzido pela multinacional Monsanto.

05 – Os produtores brasileiros, conseguiram autorização para comercialização de que safras? E qual condição imposta aos agricultores?
      A autorização saiu para as safras de 2003/2004; 2004/2005 e 2005/2006.
      A liberação definitiva, no entanto, veio acompanhada de algumas condições, entre elas a necessidade de o agricultor assinar uma declaração reconhecendo o uso de OGMs e comprometendo-se a não usar os grãos gerados em uma próxima safra.

06 – O algodão Bollyard Evento 531, também da Monsanto. Por qual órgão foi liberado o seu plantio e qual a exigência?
     Seu cultivo foi liberado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), também com algumas exigências. Uma delas: 20% de algodão convencional deve ser cultivado em áreas cercadas e isoladas para evitar contaminação.

07 – A partir de quando foi aprovado o Decreto-Lei que exige a informação no rótulo sobre o componentes transgênicos?
      Desde 2003, vigora no Brasil o Decreto-Lei n° 4.680, que exige a informação, no rótulo de alimentos e ingredientes que contenham mais de 1% de componentes transgênicos.

08 – Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, ainda não é satisfatório e tem duas reclamações. Quais são elas?
       A primeira é que muitos alimentos contêm menos de 1% de ingredientes geneticamente modificados.
      A segunda é que produtos como bolachas, bolos, massas, chocolates, óleos, margarinas e seus derivados, que sofrem processamento térmico mais agressivo, têm suas proteínas destruídas, o que impede a detecção de organismos geneticamente modificados.

09 – De acordo com o texto; Quais os países que é obrigatório a descrição no rótulo dos produtos e qual a porcentagem?
      Na União Europeia, desde 2004 o limite é 0,9%.
      Na Suíça é de 0,1%.
      Na Rússia e no Japão é de 5%.

10 – Em quais países, já foi liberado o plantio do milho transgênico?
      Nos países da Europa, como Portugal e Alemanha.

11 – Quanto ao preso dos custos variará, conforme a localização da lavoura, as condições de transportes, o armazenamento. Qual a região que o produto ficará mais caro?
      Na Região Centro-Oeste, onde será necessário segregar os grãos transgênicos dos tradicionais.

12 -  A identificação dos carregamentos, com informações claras e precisas sobre o nome da variedade e o gene modificado, é obrigatória, por força de acordo internacional, mas é também uma providência de interesse nacional, fundamental para a biossegurança. Isso terá um custo, quem pagará esse custo?
      "Os gastos não serão muito altos e as empresas terão de arcar com isso. E os investimentos iniciais eventualmente serão incorporados ao orçamento dos empreendimentos".

13 – Está visto que, para o debate se transformar em algo mais produtivo, que possa resultar em ações coerentes, justificáveis e efetivas, falta ainda muita informação. Quem são os responsáveis neste setor?
     Os pesquisadores em agronegócios, economistas e especialistas em prospectar mercados têm trabalho de sobra a fazer nessa área. E há urgência. Afinal, seis anos passam num piscar de olhos.


     

     

     

TEXTO- SEJA CRIATIVO: FUJA DAS DESCULPAS MANJADAS - COM GABARITO

 SEJA CRIATIVO: FUJA DAS DESCULPAS MANJADAS

  Entrevista com teens, pais e psicólogos mostram que os adolescentes dizem sempre a mesma coisa quando voltam tarde de uma festa.
Conheça seis desculpas entre as mais usadas. Uma sugestão: evite-as.
Os pais não acreditam.    
   - Nós tivemos que ajudar uma senhora que estava passando muito
mal. Até o socorro chegar...A gente não podia deixar a pobre velhinha sozinha, não é?
- O pai do amigo que ia me trazer bateu o carro. Mas não se preocupem, ninguém se machucou!   
   - Cheguei um minuto depois do ônibus ter partido. Aí tive de ficar horas esperando uma carona...
- Você acredita que o meu relógio parou e eu nem percebi?
- Mas vocês disseram que hoje eu podia chegar tarde, não se
lembram?    
 - Eu tentei avisar que ia me atrasar, mas o telefone daqui só dava
ocupado!

1. De acordo com o texto, os pais não acreditam em
(A) adolescentes.
(B) psicólogos.
(C) pesquisas.

(D) desculpas.

CRÔNICA:CARNAVAL NA PRAIA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

CRÔNICA: Carnaval na praia
                Walcyr Carrasco
 
  Poucas amizades resistem a um carnaval passado na praia. Foi o caso. Eram dois casais, tão íntimos que um era padrinho do outro.
 O engenheiro e o publicitário jogavam bola desde crianças. A mulher do primeiro, historiadora, falava todos os dias no telefone com a do segundo, ceramista. Alugaram juntos uma casa numa ensolarada praia do litoral paulista. Foram ao supermercado, encheram os carros de cerveja, macarrão e picanha. O publicitário tinha o mapa, e resolveram sair juntos. No último instante, a surpresa.
        --- É minha prima psicóloga - explicou a ceramista. - Convidei, tudo bem?
        A psicóloga sorriu, amigável. O engenheiro pensou: "E o supermercado? Ela devia dividir". Não teve coragem de tocar no assunto. Ninguém tocou. A estrada foi o martírio habitual dos feriados. A custo, na noite fechada, encontraram a casa. A chave não funcionou. Enquanto o marido entrava pelo vitro da cozinha, a historiadora suspirou.
        --- Isto aqui é um paraíso.
        --- Tem borrachudo - constatou a psicóloga. - Trouxe repelente?
        Nos olhos da historiadora, um cintilar de terror: claro que não.
        Nesse instante, o engenheiro abriu a porta pelo lado de dentro.
        Entraram, animados. A primeira reação foi semelhante à dos convidados do castelo do conde Drácula - uma perplexidade total com o odor de mofo. O publicitário sorriu:
        --- É que o sujeito que me alugou é amigo de um amigo meu e só aluga pra gente conhecida. Senão deixa fechado.
        [...]

CARRASCO, Walcyr. O golpe do aniversariante e outras crônicas. São Paulo:
Ática, 2002. p. 30. (Para gostar de ler, v. 20.) (Fragmento).

Entendendo o texto:

01 – Na narração, o personagem principal chama-se protagonista, e os demais são: antagonistas (vilão da história) e coadjuvantes (secundários). Quem são os personagens do texto "Carnaval na praia"?
      Protagonista: os dois casais. Antagonista: a situação da amiga convidada. Coadjuvante: a psicóloga.

02 – Por que as personagens são identificadas por suas profissões e não pelo nome?
      São pessoas comuns.

03 – A história se passa em determinado tempo (cronológico - contado no relógio ou psicológico - ideia de tempo) e espaço/lugar onde se realizam as ações dos personagens. Quando ocorrem os fatos e em que lugar?
      Durante o carnaval em uma praia.

04 – Qual é a variedade linguística (formal ou informal) empregada no texto?
      Variedade padrão/formal.

05 – Há um narrador que conta a história. O narrador participa dos fatos como personagem?
      Não, ele conta os fatos e está fora da cena. Narrador-observador.



terça-feira, 16 de janeiro de 2018

CONTO: FELICIDADE CLANDESTINA - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

CONTO: Felicidade clandestina
             Clarice Lispector


    Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

        Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
        Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
        Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
        Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
        No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.
        Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
        E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
        Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
        E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia.
        Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
        Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
        Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar ... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
        Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
        Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
                                                                                 Clarice Lispector
Entendendo o texto:

01 – O texto é narrativo, pois há o relato de certos fatos que ocorreram em uma determinada época e lugar. Quem conta a história e em que pessoa?
      Narrador - personagem, em 1ª pessoa, uma menina que sonha ler Reinações de Narizinho.

02 – Felicidade clandestina é um conto (narrativa curta com poucas personagens e lugar delimitado). Qual é a situação apresentada no início do texto?
      Uma menina que gosta de ler tem uma amiga muito perversa que é filha de dono de uma livraria.


03 – O que faz com que essa situação inicial se modifique, instaurando o conflito?
      A menina que gosta de ler livros é informada pela filha do dono da livraria de que ela possuía Reinações de Narizinho, livro muito desejado pela narradora.

04 – Como se desenvolve a situação?
      A dona do livro começa a torturar a narradora sempre adiando o empréstimo do livro.

05 – Em um dado momento, a situação se agrava, chegando-se ao clímax (maior tensão) na história. Por quê?
      Porque a mãe da dona do livro passa a interferir na história.

06 – Estabelece-se uma nova situação, o desfecho do conto. Que situação seria essa?
      A menina fica com o livro emprestado por tempo indeterminado.

07 – Uma das colegas da sala da narrada tinha acesso fácil aos livros, isso porque o pai dela era dono da livraria. Por que ela não presenteava as colegas, nos aniversários, com livros?
      Porque ela não desse importância aos livros, pois ela não daria essa alegria de dá livros a quem gostava.

08 – A atitude vingativa da colega foi se intensificando com o tempo?
      Sim, porque a filha do dono da livraria começou a planejar certas situações cruéis, não querendo limitar as humilhações já impostas a colega.

09 – Leia: 'Como casualmente, informou-me que possuía Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato'. O que o emprego da expressão em destaque indica?
      A narradora reconheceu o fingimento da filha do dono da livraria, pois ela tinha intenção de iludir e de torturar a narradora.

10 – Depois de ter consciência dos fatos e ainda profundamente surpresa, a mãe tomou suas decisões. Com base no comportamento da mãe, que se pode dizer sobre o relacionamento dela com a filha?
      A filha era ruim, com atitudes que a mãe não concordava, deixando-a surpresa.

11 – As frequentes visitas à casa da colega de escola, em busca do livro tão cobiçado, despertaram a atenção da mãe da garota. Qual foi a consequência da tortura executada tão lentamente?
      A dona do livro emprestou por tempo indeterminado o livro a narradora.