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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

POEMA: UM DIA TÍPICO DE UM ESCRITOR BRASILEIRO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Poema: Um dia típico de um escritor brasileiro

              Ulisses Tavares

        Há mais de quarenta anos (estou com 56, comecei cedo, aos 9) que me revezo entre oito profissões para ganhar a vida.

        Me acostumei a, quando me interessa e preciso, exercer uma ou outra atividade e muitas vezes fazer tudo ao mesmo tempo.

        Tenho sido jornalista, professor de pós-graduação, compositor, dramaturgo, roteirista de cinema e televisão, criativo publicitário, marketeiro político e treinador de executivos em web business e criatividade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6KXu0RfWtUwsX58quMNux8697rPdGPG5hCXnSxKGZbKzBHFejauIkB95qPd_6o5mF_465Ikayfp5RjVLezszuokE24vMKI4btpE_IKdjkIMRZZR2Y_o3nU_R_wlDEQWUqV9eUNLPcF9KwiIEuQlfWDYQAlFpOclPDWvxKV2OYMyNd6KV7QBhlZOcZ8vQ/s320/EACRITOR.jpg


        Nos intervalos, nunca deixei de ser poeta e, talvez por isso, ter uma montanha de livros de poesia para crianças, jovens e adultos, e estar com mais de quatro milhões de exemplares vendidos, o que, no Brasil, até a mim espanta.

        Daí, de três anos para cá, resolvi ser apenas escritor profissional.

        A decisão foi difícil mas estou satisfeito pelo seu principal efeito colateral: como meu status caiu de um carro importado para um fusquinha, nunca mais serei rico a ponto de atrair mulheres interesseiras.

        Quem me amar vai me amar pelo que sou: um poeta tupiniquim, apaixonado, mas durango.

        Meio chato é quando novos conhecidos me perguntam minha profissão e eu respondo que sou poeta.

        Inevitavelmente, vem a pergunta seguinte:

        – Tá bom, mas você trabalha em quê?

        Como poeta não trabalha mesmo nunca, segundo o senso comum, acordo eu bem cedinho disposto a escrever meu artigo para esta revista, já atrasado.

        Mas, antes, abro os e-mails e vejo se tem alguma coisa urgente para resolver.

        Tem várias, pela ordem:

        Uma editora não quer aceitar meu contrato de um novo livro porque não abro mão dos 10% de direitos autorais. Como a maioria dos escritores possui outra fonte de renda paralela, também a maioria das editoras se acostumou a pagar menos de 10% já que o autor não vai depender dessa renda para sobreviver. Ou seja, escritor brasileiro é mal pago por culpa dele mesmo, tsc, tsc.

        Outra editora alega que é impossível adiantar um dinheiro para que eu escreva um livro histórico, ou seja, um projeto que vai me consumir um ano inteiro. Ao contrário dos estados desunidos e das ôropas, aqui a editora lança uma porção de livros sem custo autoral inicial. Se colar, colou. Se for sucesso, ótimo. Lá fora, o critério é mais rígido. Lança-se menos títulos, mas se investe no projeto do escritor rotineiramente. O Brasil é um dos países que maior quantidade de livros edita no mundo. Mais de 10 títulos novos por dia! E as tiragens são cada vez menores.

        E finalmente outro e-mail me informa que minha agente literária é uma chata porque teima em discutir item por item dos meus contratos. Traduzindo: a Maria Moura, minha agente, é uma pentelha porque é profissional cuidadosa. As editoras gostam de escritor que assina tudo sem ler nada, como eu já fiz muitas vezes.

        Para não ficar ainda mais careca de preocupação com esses problemas que já estou careca de saber, deixo de lado e me concentro em escrever.

        Nem começo e já sou interrompido por dois telefonemas:

        O primeiro, um convite para bolar um artigo para uma revista de educação, dirigida as professoras. Pedem minha compreensão para o fato que só podem pagar cem reais pelas quatro páginas de texto. Olho o pedreiro que contratei para consertar as telhas estragadas pelas últimas chuvas em Sampa, com inveja. Ele está me cobrando o preço de 3 artigos da revista!

        O segundo telefonema é um convite da secretaria de cultura para um mega evento de poetas e escritores paulistanos. Acontecimento bonito, bem organizado e bem divulgado. O único detalhe dissonante é que o edital não prevê nenhum cachê para os participantes. A alma da festa não irá receber um tostão para o pão nosso de cada dia. Escritores e poetas devem se contentar com os aplausos, desde que tenham dinheiro para a passagem até o palco, claro.

        Mas vamos escrever que essa é a vida que escolhi e quis.

        Paro na primeira frase porque chegou o carteiro com uma pilha de cartas. Nenhuma cartinha simpática de leitor. Nenhum cartão de feliz aniversário atrasado. Apenas contas a pagar e malas-diretas me oferecendo cartões de crédito. O correio eletrônico tornou o carteiro apenas um portador de más notícias!

        Desanimado, leio que esqueci de pagar uma conta de IPTU de anos atrás. Mas posso ficar tranquilo que a Prefeitura me oferece parcelamento da dívida. Desde que eu perca metade do dia indo até a tesouraria, evidente!

        E nem isso posso fazer porque meus rendimentos de direitos autorais não cobrem o valor do IPTU. Acho que nem minha modesta casa vale tanto assim. Como são férias escolares, meus livros infanto-juvenis despencam nas vendas. Há muito tempo que as escolas, via programas do governo, são as únicas e principais compradoras de livros infanto-juvenis. E evidentemente não compram nas férias. E se amanhã o governo deixar de dar verbas para aquisição de livros para distribuição gratuita aos alunos, a maioria das editoras fecha as portas em seguida. Todos os envolvidos nessa questão, se fazem de cegos em tiroteio. Afinal, é chocante saber que em mais de uma década de distribuição gratuita de livros para estudantes de escolas públicas…não se formou um leitor a mais! Simplesmente porque a educação continua uma porcaria frita e os alunos, coitados, mal passados, não aprendem a ler. Sem saber ler, vão fazer o que com os livros que ganham? É como dar rapadura para um banguela. Simples e trágico assim.

        Já que não consigo escrever o artigo para a Revista Discutindo Literatura, relaxo e vou para o lançamento de amigos escritores num bar de Vila Madalena. Vai ser bom rir um pouco que não sou de ferro e minha coluna muito menos. Tenho a popular “coluna de escritor”. De tanto escrever horas a fio com a coluna torta, o escritor é um candidato à corcunda de Notre Dame.

        O lançamento é interrompido violentamente, o bar fecha as portas, todo mundo sai correndo porque o PCC acabou de incendiar um ônibus na rua ao lado.

        Volto pra casa, ligo a televisão e vejo o governador dizendo que a violência está sob controle, que ataques dos bandidos não irão intimidar as autoridades. Como não sou autoridade…fico intimidado.

        O dia está terminando e talvez dê tempo de escrever, afinal este é meu ofício.

        Mas, humanamente, durmo.

        Quem sabe amanhã eu acorde e resolva mudar para uma profissão menos folgada que esta de típico escritor brasileiro.

        Sei que minto para mim mesmo, para me consolar.

        Escrever, para quem gosta, já não é ofício. Rimando sem querer, é um vício.

Fonte: http://www.ulissestavares.com.br

Entendendo o poema:

01 – Qual é a profissão principal do autor do poema?

      O autor do poema é um escritor.

02 – Quantas profissões diferentes o autor já exerceu ao longo de sua vida?

      O autor já exerceu oito profissões ao longo de sua vida.

03 – Qual foi a decisão difícil que o autor tomou nos últimos três anos?

      Nos últimos três anos, o autor decidiu ser apenas um escritor profissional.

04 – Por que o autor menciona que nunca mais será rico a ponto de atrair mulheres interesseiras?

      O autor menciona isso porque sua decisão de ser apenas um escritor profissional levou a uma queda em seu status financeiro.

05 – Qual é a reação comum das pessoas quando o autor diz que é poeta?

      Quando o autor diz que é poeta, é comum as pessoas perguntarem qual é o seu trabalho.

06 – Por que as editoras no Brasil costumam pagar menos de 10% de direitos autorais aos escritores?

      Muitas editoras no Brasil pagam menos de 10% de direitos autorais aos escritores porque a maioria dos escritores possui outras fontes de renda, e, portanto, as editoras não acreditam que os escritores dependam dessa renda para sobreviver.

07 – O que é mencionado como o principal critério das editoras estrangeiras ao contrário das editoras brasileiras?

      As editoras estrangeiras são mencionadas como tendo um critério mais rígido, investindo nos projetos dos escritores rotineiramente, ao contrário das editoras brasileiras.

08 – Qual é a principal fonte de renda do autor a partir de seus livros infanto-juvenis?

      A principal fonte de renda do autor a partir de seus livros infanto-juvenis são as escolas, que os compram através de programas do governo.

09 – Por que o autor se diz "intimidado" em relação à violência mencionada no final do poema?

      O autor se diz "intimidado" em relação à violência porque não é uma autoridade e não tem controle sobre a situação.

10 – Como o autor descreve sua relação com a escrita no final do poema?

      No final do poema, o autor descreve sua relação com a escrita como um vício, afirmando que escrever, para quem gosta, não é mais um ofício, mas um vício.

 

 

sexta-feira, 16 de junho de 2023

POEMA: PRETENSÃO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 POEMA: Pretensão

               Ulisses Tavares

eu quero um grande amor,

tá bem, pode ser pequeno,

ok, mas que seja de verdade.

de mentira também serve,

mas que dure bastante,

aceito um rapidinho.

entre o nada e qualquer coisa,

meu coração dança miudinho.

TAVARES, Ulisses. Pretensão. In: Caindo na real.

São Paulo: Moderna, 2004. p. 38.

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.68.

 Fonte da imagem -https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiobt2QBreauwKiu-aSuetx5YHBRbtTj1rW6PaWJ7web0Jgdqk45PaHE1ebNrwh0xsatet-UdFJ9Vfax2LViAgJIaxbtVU1qDDEEMqVTdZ_pdp6EQCctv0a9ymnf2zAKwBx2XLjKyE_upB8mUv_cs2r4YWcZHtMQpGUDt5kvItwXWzk9OXq5wtG_lE/s320/amor.jpg


Entendendo o texto

 

01.  O eu poético está à procura de quê? Como deve ser o que ele procura?

Está à procura de um amor. Deve ser grande ou pequeno, de verdade ou de mentira, duradouro ou breve.

02.  Nesse poema, são utilizadas formas verbais por meio das quais o eu poético quer indicar ao leitor que fala de coisas que para ele são certas. Releia o poema e identifique quais das formas verbais utilizadas indicam certeza.

quero, pode, serve, aceito, dança. 

03.  Duas das formas verbais utilizadas no poema aparecem em versos que indicam coisas que podem ou não acontecer. Quais são elas?

seja, dure

04.  Você considera que, ao utilizar essas duas formas verbais, o poeta quis expressar dúvida, uma condição ou um desejo de que algo realmente aconteça?

Um desejo.

domingo, 27 de março de 2022

POEMA: ESSE NÓ(S) - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 Poema: Esse Nó(s)


Eu me chamo eu.

A turma me chama nós.
Longe da turma
Me sinto só


Mas sou eu.

Com a turma sou nós
Mas quero ser eu.
De nós em nós
Eu sou mais eu.


TAVARES, Ulisses. Viva a Poesia viva. São Paulo: saraiva, 1998. p. 10.

Fonte: Gramática Reflexiva – 6° ano – Atual Editora – William & Thereza – 2ª edição reformulada – São Paulo. 2008. p. 163-4.

Entendendo o poema:

01 – O poema estabelece uma oposição entre o eu lírico (o locutor) e sua turma.

a)   Que pronome identifica o eu lírico?

O pronome eu.

b)   Que perfil você acha que tem o eu lírico: ele é criança, adolescente ou adulto?

Provavelmente é um adolescente.

c)   Quem você acha que são as pessoas que formam a turma?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Provavelmente é uma turma de amigos da escola ou do bairro.

02 – A turma chama o eu lírico de nós.

a)   Classifique esse pronome e indique a pessoa e o número (singular ou plural) em que ele está.

Pronome pessoal do caso reto, 1ª pessoa do plural.

b)   Pela forma como a turma trata o eu lírico, é possível supor que ele é bem aceito ou não? Por quê?

Sim, pois ele é incluído no grupo.

03 – Leia e compare estes versos:

        “Longe da turma / Me sinto só / Mas sou eu”.

        “Com a turma sou nós / Mas quero ser eu”.

        Dos itens que seguem, marque aquele que melhor expressa o pensamento ou o sentimento do eu lírico.

        Medo        Tristeza        Contradição        Rejeição.

04 – Nos versos “Com a turma sou nós / Mas quero ser eu”, o eu lírico parece ter receio de perder sua identidade. Você mudaria suas características ou sua identidade para fazer parte de um grupo?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – O poema faz um jogo com a palavra nó(s).

a)   Quais são os sentidos da palavra nó(s) no título?

O título pode ser lido como nó (esse problema) e esse nós (essa palavra nós).

b)   Qual é a classe gramatical da palavra, de acordo com cada um desses sentidos?

No primeiro sentido, é substantivo; no segundo, é um pronome substantivado.

 



domingo, 12 de setembro de 2021

POEMA: OURIÇO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

 POEMA: OURIÇO

sei não,

do jeito que me dão conselho
dá pra desconfiar a beça,
ou estou sempre errado
ou eles não entendem nada de conversa.

Ulisses Tavares. Caindo na real: poemas. São Paulo; Moderna,2004.

                 O ouriço é um animal que arrepia seus espinhos quando se sente ameaçado.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP 4ª Edição São Paulo 2015 p. 41.


Entendendo o poema:

01 – Qual é o problema de quem fala, no poema?

      Quem fala no texto se incomoda com o excesso de conselhos dados por outras pessoas e não sabe como agir.

02 – Quem fala, no texto, desconfia do fato de muitas pessoas darem conselhos a ele. Transcreva os versos que expressam essa desconfiança.

      “sei ‘não, / do jeito que me dão conselho / dá pra desconfiar à beça [...].   

03 – Que expressão indica essa cisma, essa desconfiança?

      A expressão “sei não”.

04 – Em sua opinião, quem são ''eles'' a que se faz referência no poema? Como você chegou a essa conclusão?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “Eles” se refere aos adultos, que sempre vivem aconselhando, pois acreditam que sabem mais da vida.    

05 – O ouriço é um tipo de animal cheio de espinhos que, para se proteger quando se sente ameaçado por predadores, arrepia seus espinhos e prepara-se para soltá-los na direção da ameaça. Com base nessa informação, explique por que o título do texto é “Ouriço”.

      As pessoas geralmente têm uma reação semelhante à de um ouriço quando se sentem pressionadas ou incomodadas com a opinião alheia.

06 – O tipo de desconfiança, de reclamação apresentado no texto combina mais com a fala de um jovem ou de um adulto? Por quê?

      Combina mais com a fala de um jovem reclamando dos adultos. Esse fato é bastante comum na vida do jovem, assim como o comportamento dele em se proteger (ou se isolar) quando se sente incomodado (assim como ocorre com o ouriço).

07 – Você já se sentiu incomodado como quem fala no poema? Explique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

08 – Leia a fonte que indica o livro do qual esse poema foi retirado e responda às questões a seguir:

a)   De que livro esse poema foi retirado?

Do Livro Caindo na real: poemas.

b)   Qual é o nome do autor do poema?

Ulisses Tavares.

09 – Ulisses Tavares é um autor adulto. Mas a voz que fala no poema não é a de um adulto. Considerando essa afirmação, responda: a quem podemos atribuir a fala do texto?

      A voz que fala no poema é a de um adolescente, um jovem.

domingo, 24 de maio de 2020

POEMA: ÚLTIMO ACORDE DO VIOLINO SOLITÁRIO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO


Poema: Último acorde do violino solitário
              

Ulisses Tavares

Nada sei sobre a vidinha
do pernilongo
que mato indiferente
na parede.
Mas desconfio que era a única
que ele tinha.

Ulisses Tavares. Caindo na real. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 27.
                      Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – Atual Editora -1998 – p.214.
Entendendo o poema:

01 – Você já aprendeu que cada verbo ou locução verbal corresponde a uma oração.
a)   Identifique e destaque os verbos do poema.
Sei, mato, desconfio, era, tinha.

    b)   Conte o número de verbos e responda: quantas orações tem o poema?
Cinco orações.

02 – A 1ª oração liga-se à 2ª por meio da palavra que.
a)   Que conjunções há nesta frase: “mas desconfio que era a única”?
Mas e que.

b)   Mas está no início da frase. Considerando o papel de elemento de coesão que as conjunções têm, qual é o papel da conjunção mas nesse texto?
Seu papel é retomar o assunto da frase anterior.

03 – Os três primeiros versos do poema contêm duas orações. Observe como as separamos:
“Nada sei sobre a vidinha do pernilongo / que mato indiferente na parede”.
        a)  Separe as orações dos dois últimos versos do poema.
        Mas desconfio / que era a única / que ele tinha.

       b)   Faça um círculo em torno das palavras que ligam as orações.
       Mas; que; que.

      c)   Destaque os verbos.
      Desconfio; era; tinha.



terça-feira, 13 de novembro de 2018

APÓLOGO: O RELÓGIO E O TRAVESSEIRO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

APÓLOGO: O relógio e o travesseiro
                        
               Ulisses Tavares

     
   -- Trimmm! Trimm!
        Era o relógio saindo do seu monótono tic-tac tic-tac e fazendo o que gostava mais: despertar escandalosamente as pessoas.
        Só que no quarto, nessa manhã da qual falamos, havia apenas o travesseiro que, como bom travesseiro, bocejou, se espreguiçou e estrilou:
        -- Ei, já ouvi, dá um tempo!
        O relógio sorriu e disse:
        -- Então acorda e levanta, preguiçoso!
        O travesseiro deu de fronha, digo, de ombros, e pensou em explicar ao relógio que cada um tem seu temperamento, seu jeito de levar a vida, mas desistiu.
        Bocejou de novo, virou para o lado e logo adormeceu novamente.
        O relógio comentou, sabendo que falava sozinho:
        -- Tem gente que não se emenda mesmo! Ele vai ver amanhã cedo. Vou tocar ainda mais alto para que ele acorde, se levante e assuma as suas responsabilidades.
        O que o relógio não sabia – por isso o travesseiro desistiu de explicar – é que a maioria das pessoas ou é travesseiro ou é relógio.
        Ou passam a vida dormindo demais. E daí perdem a chance de viverem a vida pra valer.
        Ou então sempre de olho no tempo. E daí perdem o tempo acordadas e preocupadas.
        Poucas são capazes de viver a vida como se deve:
        Fazendo e curtindo tudo, mas repousando quando se deve, sem fazer nada.
        Ás vezes, fazer nada é tudo de bom que se pode fazer por si mesmo e pelo outro, como numa chamada pra brigar, por exemplo.
        Em outras vezes, fazer tudo às pressas e sem prazer é o mesmo que nunca fazer nada, como um idiota que constrói uma piscina e nunca tem tempo para dar um mergulho nela.

                 TAVARES, Ulisses. A maravilhosa sabedoria das coisas: apólogos de
            Ulisses Tavares. São Paulo: Cortez, 2010. p. 26-27.
Entendendo o texto:

01 – A situação apresentada se aproxima da que você havia imaginado ao observar o título do texto?
      Resposta pessoal do aluno.

02 – Como você entende essa história? Ela apresenta algum ensinamento? Em caso afirmativo, qual?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O relógio e o travesseiro têm estilos completamente diferentes de viver, cada um em um extremo. A história tenta mostrar que o ideal seria uma mistura desses dois estilos: não deixar a vida passar por estar dormindo, nem mesmo deixa-la passar por correr e preocupar-se demais.

03 – Se fossem pra você criar uma moral da história, qual seria?
      Resposta pessoal do aluno

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

POEMA: ALÉM DA IMAGINAÇÃO - ULISSES TAVARES - COM GABARITO

Poema: Além da imaginação
           Ulisses Tavares


Tem gente passando fome.
E não é a fome que você imagina
entre uma refeição e outra.

Tem gente sentindo frio.
E não é o frio que você imagina
entre o chuveiro e a toalha.

Tem gente muito doente.
E não é a doença que você imagina
entre a receita e a aspirina.

Tem gente sem esperança.
Mas não é o desalento que você imagina
entre o pesadelo e o despertar.

Tem gente pelos cantos.
E não são os cantos que você imagina
entre o passeio e a casa.

Tem gente sem dinheiro.
E não é a falta que você imagina
entre o presente e a mesada.

Tem gente pedindo ajuda.
E não é aquela que você imagina
entre a escola e a novela.

Tem gente que existe e parece imaginação.

                                                                            
Entendendo a poesia:
01 – Em sua opinião, que ideia o título do poema expressa?
      Ele nos diz que é para ir além do que imaginamos, isso porque muitas vezes ficamos em nosso mundo e esquecemos do que está ao nosso redor.

02 – O que a leitura desse poema desperta em você?
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Esse poema faz referência a diferentes problemas sociais. Quais são esses?
      A fome, o frio, a falta de moradia, o desemprego, a falta de saúde, dentre outros.

04 – Que crítica o autor faz no poema?
      Dá para entender que ele critica a elite egoísta que de certa forma, no caso as crianças mais ricas, por não saberem o mundo que tem aqui fora.

05 – O poema foi elaborado em versos livres (estrofes não fixas) e brancos (sem rimas). Quantas estrofes e quantos versos há nesse poema?
      Uma estrofe e 22 versos.

06 – O eu lírico retrata vários problemas sociais e faz constantes apelos a seu interlocutor.
a)   Que impacto causam esses apelos?
Pretende chocar o leitor, falando que ele não conseguiria nem imaginar como é a vida das pessoas que passam necessidades.

b)   O que ele pretende enfatizar?
A desigualdade social entre as pessoas.

c)   Qual foi, em sua opinião, o apelo mais impactante? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.

07 – Quanto ao apelo contido no poema, responda às questões:
a)   A quem o eu lírico se dirige?
Às pessoas que são mais favorecidas socialmente.

b)   A que classe social supostamente pertencem as pessoas citadas nesse poema?
Provavelmente à classe menos favorecida.

c)   Com que objetivo o eu lírico dialoga com o público a que se dirige?
Com o objetivo de conscientizar esse público, que é mais favorecido, acerca de problemas sociais existentes, a fim de que ele possa refletir e tomar uma atitude para ajudar a amenizar esses problemas.