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quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CRÔNICA: PALAVREADO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Palavreado

               Luís Fernando Veríssimo

Gosto da palavra “fornida”. É uma palavra que diz tudo o que quer dizer. Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é. Não gorda mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com “forno”. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtuGa02wfZUpZof9tkNRMPAt9gRNVRndRVn6PZ7WYvanCUBuFvCwU1dAs3QdTFa5fJhtc2DgvO1JLoE1RaiUmE8USm4NYr9x7XcIxLhA3YyVfpKxX6aBupkXBMso735wuhEV4a1tYH7aq0KcmjpC-YquUTnr6yjBAWDsrzkJ7Om12GXn5gLWVQLgBSFVc/s320/PALAVREADO.jpeg

Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida. Lascívia, imperatriz de Cântaro, filha de Pundonor. Imagino-a atraindo todos os jovens do reino para a cama real, decapitando os incapazes pelo fracasso e os capazes pela ousadia.

Um dia chega a Cântaro um jovem trovador, Lipídio de Albornoz. Ele cruza a Ponte de Safena e entra na cidade montado no seu cavalo Escarcéu. Avista uma mulher vestindo uma bandalheira preta que lhe lança um olhar cheio de betume e cabriolé. Segue-a através dos becos de Cântaro até um sumário – uma espécie de jardim enclausurado -, onde ela deixa cair a bandalheira. É Lascívia. Ela sobe por um escrutínio, pequena escada estreita, e desaparece por uma porciúncula. Lipídio a segue. Vê-se num longo conluio que leva a uma prótese entreaberta. Ele entra. Lascívia está sentada num trunfo em frente ao seu pinochet, penteando-se. Lipídio, que sempre carrega consigo um fanfarrão (instrumento primitivo de sete cordas), começa a cantar uma balada. Lascívia bate palmas e chama:

– Cisterna! Vanglória!

São suas escravas que vêm prepará-la para os ritos do amor. Lipídio desfaz-se de suas roupas – o sátrapa, o lúmpen, os dois fátuos – até ficar só de reles. Dirige-se para a cama cantando uma antiga minarete. Lascívia diz:

– Cala-te, sândalo. Quero sentir o seu vespúcio junto ao meu passe-partout.

Atrás de uma cortina, Muxoxo, o algoz, prepara seu longo cadastro para cortar a cabeça do trovador.

A história só não acaba mal porque o cavalo de Lipídio, Escarcéu, espia pela janela na hora em que Muxoxo vai decapitar seu dono, no momento entregue aos sassafrás, e dá o alarme. Lipídio pula da cama, veste seu reles rapidamente e sai pela janela, onde Escarcéu o espera.

Lascívia manda levantarem a Ponte de Safena, mas tarde demais. Lipídio e Escarcéu já galopam por motins e valiums, longe da vingança de Lascívia.

“Falácia” é um animal multiforme que nunca está onde parece estar. Um dia um viajante chamado Pseudônimo (não é o seu verdadeiro nome) chega à casa de um criador de falácias, Otorrino. Comenta que os negócios de Otorrino devem estar indo muito bem, pois seus campos estão cheios de falácias. Mas Otorrino não parece muito contente. Lamenta-se:

– As falácias nunca estão onde parecem estar. Se elas parecem estar no meu campo é porque estão em outro lugar.

E chora:

– Todos os dias, de manhã, eu e minha mulher, Bazófia, saímos pelos campos a contar falácias. E cada dia há mais falácias no meu campo. Quer dizer, cada dia eu acordo mais pobre, pois são mais falácias que eu não tenho.

– Lhe faço uma proposta – disse Pseudônimo. – Compro todas as falácias do seu campo e pago um pinote por cada uma.

– Um pinote por cada uma? – disse Otorrino, mal conseguindo disfarçar o seu entusiasmo. – Eu devo não ter umas cinco mil falácias.

– Pois pago cinco mil pinotes e levo todas as falácias que você não tem.

– Feito.

Otorrino e Bazófia arrebanharam as cinco mil falácias para Pseudônimo. Este abre o seu comichão e começa a tirar pinotes invisíveis e colocá-los na palma da mão estendida de Otorrino.

– Não estou entendendo – diz Otorrino. – Onde estão os pinotes?

– Os pinotes são como as falácias – explica Pseudônimo. – Nunca estão onde parecem estar. Você está vendo algum pinote na sua mão?

– Nenhum.

– É sinal de que eles estão aí. Não deixe cair.

E Pseudônimo seguiu viagem com cinco mil falácias, que vendeu para um frigorífico inglês, o Filho and Sons. Otorrino acordou no outro dia e olhou com satisfação para o seu campo vazio. Abriu o besunto, uma espécie de cofre, e olhou os pinotes que pareciam não estar ali!

Na cozinha, Bazófia botava veneno no seu pirão.

*

“Lorota”, para mim, é uma manicura gorda. É explorada pelo namorado, Falcatrua. Vivem juntos num pitéu, um apartamento pequeno. Um dia batem na porta. É Martelo, o inspetor italiano.

– Dove está il tuo megano?

– Meu quê?

– Il fistulado del tuo matagoso umbráculo.

– O Falcatrua? Está trabalhando.

– Sei. Com sua tragada de perônios. Magarefe, Barroco, Cantochão e Acepipe. Conheço bem o quintal. São uns melindres de marca maior.

– Que foi que o Falcatrua fez?

– Está vendendo falácia inglesa enlatada.

– E daí?

– Daí que dentro da lata não tem nada. Parco manolo!

ENTENDENDO O TEXTO

01. Qual é a sensação transmitida pela palavra "fornida" na perspectiva do autor?

     a) Magrez

     b) Cheiura e roliçez

     c) Freeza

     d) Delicadeza

02. Como o autor descreve a personificação da palavra "lascívia" na crônica?

     a) Uma rainha reclusa

     b) Uma princesa audaciosa

     c) Uma imperatriz atraente

     d) Uma condessa impiedosa

03. Qual é o nome do jovem trovador que chega ao Cântaro na crônica?

     a) Lipídio de Albornoz

     b) Muxoxo

     c) Escarcéu

     d) Pundonor

04. O que salva Lipídio da vingança de Lascívia na crônica?

      a) Sua habilidade em cantar

      b) A intervenção de Escarcéu, seu cavalo

     c) O silêncio arrependido de Lascívia

     d) A chegada de Muxoxo

05. Qual é a relação entre "falácia" e "pseudônimo" na segunda parte da crônica?

     a) Pseudônimo é o criador de falácias

     b) Pseudônimo é um viajante que compra falácias

    c) Pseudônimo é o algoz de Otorrino

    d) Pseudônimo é o cavalo de Lipídio

06. O que Otorrino recebe em troca das falácias vendidas a Pseudônimo?

     a) Dinheiro

     b) Pinotes

     c)Verdade

    d) Mais falácias

07. Como Pseudônimo explica a Otorrino a natureza dos pinotes?

     a) São visíveis e tangíveis

     b) Nunca estão onde parecem estar

     c) São como falácias, sempre no campo

     d) Representam uma riqueza verdadeira

08. Qual é a relação entre "lorota" e "Falcatrua" na terceira parte da crônica?

     a) São rivais em negócios

     b) São parceiros em um esquema de venda

     c) São parentes distantes

     d) São inimigos declarados

09. Quem é Martelo na crônica e quem ele acusa Falcatrua de fazer?

      a) Um inspetor italiano; vender falácia inglesa enlatada

      b) Um comerciante local; explorar lorota

      c) Um trovador; cantar para Lascívia

     d) Um cavalheiro; salvar Lipídio

10. Qual é o desfecho da situação envolvendo Falcatrua e a acusação de Martelo?

     a) Falcatrua é presa

     b) Lorota é expulsa

     c) Falcatrua escapa ileso

    d) Falcatrua e Lorota se casam

CRÔNICA: O JARGÃO - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: O JARGÃO

                Luís Fernando Veríssimo 

Nenhuma figura é tão fascinante quanto o Falso Entendido. É o cara que não sabe nada de nada, mas sabe o jargão. E passa por autoridade no assunto. Um refinamento ainda maior da espécie é o tipo que não sabe o jargão. Mas inventa. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0OfWV6aT5jhCSVNaSYIFQ4ovpQq6vxw-aNEyr2PT1jNxKlhvDPKW5_JoZ_fON9QXofvR6UX9F_4poiVWNLpJ9cHMBlvXPlx-ujRC6fIcYxMOBFhZ0tji2t__WoV5AnvKvN0L1vAkeB6iMMbvzndwMCbZIfR-g_z7Tq6WsBA_7HIAzttOUQlEumkds0Lw/s320/JARGAO.png


      - Ó Matias, você que entende de mercado de capitais...

      - Nem tanto, nem tanto... (Uma das características do Falso Entendido é a falsa modéstia.) 

      - Você, no momento, aconselharia que tipo de aplicação? 

      - Bom. Depende do yield pretendido, do throwback e do ciclo refratário. Na faixa de papéis top market – ou o que nós chamamos de topimarque –, o throwback recai sobre o repasse e não sobre o release, entende? 

      - Francamente, não. Aí o Falso Entendido sorri com tristeza e abre os braços como quem diz “É difícil conversar com leigos...”. Uma variação do Falso Entendido é o sujeito que sempre parece saber mais do que ele pode dizer. A conversa é sobre política, os boatos cruzam os ares, mas ele mantém um discreto silêncio. Até que alguém pede a sua opinião, e ele pensa muito antes de se decidir a responder: 

     - Há muito mais coisa por trás disso do que você pensa... 

   Ou então, e esta é mortal: 

     - Não é tão simples assim...

   Faz-se aquele silêncio que precede as grandes revelações, mas o falso informado não diz nada. Fica subentendido que ele está protegendo as suas fontes em Brasília. E há o falso que interpreta. Para ele, tudo o que acontece deve ser posto na perspectiva de vastas transformações históricas que só ele está sacando. 

    - O avanço do socialismo na Europa ocorre em proporção direta ao declínio no uso de gordura animal nos países do Mercado Comum. Só não vê quem não quer. 

   E se alguém quer mais detalhe sobre a sua insólita teoria, ele vê a pergunta como manifestação de uma hostilidade bastante significativa a interpretações não ortodoxas, e passa a interpretar os motivos de quem o questiona, invocando a Igreja medieval, os grandes hereges da história, e vocês sabiam que toda a Reforma se explica a partir da prisão de ventre de Lutero? 

Mas o jargão é uma tentação. Eu, por exemplo, sou fascinado pela linguagem náutica, embora minha experiência no mar se resume a algumas passagens em transatlânticos onde a única linguagem técnica que você precisa saber é “Que horas servem o bufê?”. Nunca pisei num veleiro, e se pisasse seria para dar vexame na primeira onda. Eu enjoo em escada rolante. Mas, na minha imaginação, sou um marinheiro de todos os calados. Senhor de ventos e velas e, principalmente, dos especialíssimos nomes da equipagem. 

  Me imagino no leme do meu grande veleiro, dando ordens à tripulação: 

     - Recolher a traquineta! 

     - Largar a vela bimbão, não podemos perder esse Vizeu. 

   O vizeu é um vento que nasce na costa ocidental da África, faz a volta nas Malvinas e nos ataca a boribordo, cheirando a especiarias, carcaças de baleia e, estranhamente, a uma professora que eu tive no primário. 

    - Quebra o lume da alcatra e baixar a falcatrua! 

    - Cuidado com a sanfona de Abelardo! 

   A sanfona é um perigoso fenômeno que ocorre na vela parruda em certas condições atmosféricas e que, se não contido a tempo, pode decapitar o piloto. Até hoje não encontraram a cabeça do Comodoro Abelardo. 

   - Cruzar a spínola! Domar a espátula! Montar a sirigaita! Tudo a macambúzio e dos quartos de trela senão afundamos, e o capitão é o primeiro a pular. 

   - Cortar o cabo de Eustáquio! 

VERÍSSIMO, Luís Fernando. As mentiras que os homens contam. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, pp. 69-71 (Adaptado).

Entendendo o texto

01. Quem é o personagem principal da crônica "O JARGÃO"?

      O personagem principal da crônica é o Falso Entendido, que se destaca por sua falta de conhecimento real, mas habilidade em usar jargões para parecer uma autoridade em diversos assuntos.

02. Qual é a característica marcante do Falso Entendido?

      O Falso Entendido possui a habilidade de utilizar jargões, mesmo sem entender completamente seu significado, criando uma falsa impressão de expertise nos assuntos discutidos.

03. Como o Falso Entendido reage quando questionado sobre sua suposta especialidade?

      O Falso Entendido muitas vezes responde com falsa modéstia, sorri com tristeza e utiliza termos técnicos e complexos, deixando os interlocutores confusos.

04. Quais são algumas variações do Falso Entendido demonstrações na crônica?

       Além do Falso Entendido clássico, há o que parece saber mais do que diz, o que interpreta eventos de forma peculiar e o que guarda o silêncio estratégico, indicando conhecimento privilegiado.

05. Como o autor descreve a tentativa de jargão em sua própria vida?

       O autor revela ser fascinado pela linguagem náutica, mesmo sem experiência no mar, criando uma imaginação de si mesmo como um hábil marinheiro comandando um veleiro e utilizando termos técnicos fictícios.

06. Qual é a importância do jargão na narrativa?

      O jargão serve como uma ferramenta para ilustrar a falsa expertise e a tentativa de aparentar conhecimento em áreas específicas, mesmo quando a compreensão real é limitada.

07. Como o autor explora o humor na crônica?

      O autor utiliza o contraste entre a falta de conhecimento real dos personagens e a confiança aparente gerada pelo uso de jargões, criando situações cômicas e irônicas.

08. Existe um clímax na crônica "O JARGÃO"?

      O texto não apresenta um clímax tradicional, mas sim uma sucessão de situações humorísticas envolvendo o Falso Entendido e suas interações com os outros personagens.

09. Como a crônica se desenvolve até seu estágio final?

      A crônica se desenvolve explorando as diversas facetas do Falso Entendido, suas interações e a tentativa do uso de jargões. Não segue uma narrativa linear, mas sim uma sequência de episódios humorísticos.

10. Qual é a mensagem subjacente na crônica "O JARGÃO"?

      A crônica aborda satiricamente a vaidade de parecer explorador utilizando jargões, destacando a falta de substância por trás de uma linguagem técnica aparentemente sofisticada.

 

CRÔNICA: TINTIM - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica:Tintim

               Luís Fernando Veríssimo

Durante alguns anos, o tintim me intrigou. Tintim por tintim: o que queria dizer aquilo? Imaginei que fosse alguma misteriosa medida de outros tempos que sobrevivera ao sistema métrico, como a braça, a légua, etc. Outro mistério era o triz. Qual a exata definição de um triz? É uma subdivisão de tempo ou de espaço. As coisas deixam de acontecer por um triz, por uma fração de segundo ou de milímetro. Mas que fração? O triz talvez correspondesse a meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz. Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao obscuro mundo das microcoisas. Há quem diga que não existe uma fração mínima de matéria, que tudo pode ser dividido e subdividido. Assim como existe o infinito para fora - isto e, o espaço sem fim, depois que o Universo acaba - existiria o infinito para dentro. A menor fração da menor partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes, e cada triz por dois tintins, e cada tintim por dois trizes, e assim por diante, até a loucura.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvoRf6DriSsg3ulaG8f1aPPtyRHTBQ9ycFtz3t9MuawpCxbQVc8bMOd1HhNFuk3YBj8wsVxkU3z25BGumTEkafqXiVshMlWAhj5Y1-qoyfgnLHGkAJm4gBU-XcEpTAJClCe26f51jdI2zPzSRTSc6st83hJIYgKGrrSfAC80-VReXKsumyEvTbUo30ucI/s320/TINTIM.jpg


Descobri, finalmente, o que significa tintim. É verdade que, se tivesse me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, minha ignorância não teria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, e a última coisa que nos ocorre. Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomatopaico que evoca o tinido das moedas. Originalmente, portanto, "tintim por tintim" indicava um pagamento feito minuciosamente, moeda por moeda. Isso no tempo em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao contrário de hoje, quando são feitas de papelão e se chocam sem ruído. Numa investigação feita hoje da corrupção no país tintim por tintim ficaríamos tinindo sem parar e chegaríamos a uma nova concepção de infinito.

Tintim por tintim. A menina muito dada namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo incontrolável progrediria pela vida quindim por quindim. O telespectador habitual viveria plim-plim por plim-plim. E você e eu vamos ganhando nosso salário tin por tin (olha aí, a inflação já levou dois rins). Resolvido o mistério do tintim, que não é uma subdivisão nem de tempo nem de espaço nem de matéria, resta o triz. O Aurelião não nos ajuda. "Triz", diz ele, significa por pouco. Sim, mas que pouco? Queremos algarismos, vírgulas, zeros, definições para "triz". Substantivo feminino. Popular. "Icterícia." Triz quer dizer icterícia. Ou teremos que mudar todas as nossas teorias sobre o Universo ou teremos que mudar de assunto. Acho melhor mudar de assunto. O Universo já tem problemas demais.


- Extraído do livro Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo

Entendendo o texto

01. O que intriga o autor durante alguns anos na crônica?

      a) O espaço infinito

      b) O sistema métrico

      c) O significado de "tintim"

      d) Uma fração mínima de matéria

02. Como o autor descreve a relação entre "tintim" e "moedas"?

      a) Tintim representa uma medida de tempo.

      b) Tintim é uma subdivisão de espaço.

      c) Tintim evoca o tinido das moedas.

     d) Tintim é uma unidade de medida métrica.

03. De acordo com o autor, o que indicava a expressão "tintim por tintim" originalmente?

     a) Uma medida de tempo precisa.

     b) Um pagamento feito minuciosamente, moeda por moeda.

     c) Uma subdivisão de matéria.

    d) Um ruído produzido por moedas de papelão.

04. Como o autor descreve o mundo das microcoisas na crônica?

      a) Infinitamente expansivo.

      b) Incapaz de ser subdividido.

     c) Composto por tintins e trizes.

     d) Limitado e estático.

05. O que o autor descobre sobre o significado de "tintim" ao consultar o dicionário?

     a) Representa uma subdivisão de tempo.

      b) Evoca o tinido das moedas.

     c) Refere-se a uma medida métrica.

     d) Indica um espaço sem fim.

06. Como o autor sugere que seria uma investigação de corrupção no país “tintim por tintim”?

     a) Sem ruído.

     b) Minuciosa e detalhada.

     c) Feito de papelão.

     d) Infinitamente expansiva.

07. O que "triz" significa, de acordo com o dicionário Aurelião na crônica?

     a) Subdivisão de tempo.

     b) Por pouco.

     c) Medida métrica.

    d) Espaço sem fim.

08. Qual é a definição popular de "triz" segundo o dicionário Aurelião na crônica?

    a) Fração mínima de matéria.

    b) Icterícia.

    c) Infinito para dentro.

    d) Subdivisão de espaço.

09. O que o autor sugere ao final da crônica sobre as teorias do Universo?

    a) Devem ser reavaliadas devido a tintins e trizes.

    b) São perfeitas e imutáveis.

    c) Precisam ser esquecidas.

    d) Tem problemas demais.

 

CRÔNICA: PÁ, PÁ, PÁ - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Pá, Pá, Pá

               Luís Fernando Veríssimo

A americana estava há pouco tempo no Brasil. Queria aprender o português depressa, por isto prestava muita atenção em tudo que os outros diziam. Era daquelas americanas que prestam muita atenção. Achava curioso, por exemplo, o "pois é". Volta e meia, quando falava com brasileiros, ouvia o "pois é". Era uma maneira tipicamente brasileira de não ficar quieto e ao mesmo tempo não dizer nada. Quando não sabia o que dizer, ou sabia mas tinha preguiça, o brasileiro dizia "pois é". Ela não aguentava mais o "pois é". Também tinha dificuldade com o "pois sim" e o "pois não". Uma vez quis saber se podia me perguntar uma coisa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlMX7U9mxhO9nCTVcIqCEmSKnAaV0owDcQ9DPtNRKkDdE-TMlqTEBfpZrR_DhRQvmSVQshV_r1BmywnZzu4uZkBz6adNLwJSojsfIueQQOunqv6NAoWvoGTqUuBj6lrnrfWbba9x5heiLV-5n2u9vUuLuvBjwtgPIWMuK9PbZX7o21ujJ4eLTvNNopl8w/s1600/POIS%20SIM.jpg


- Pois não - disse eu, polidamente.
- É exatamente isso! O que quer dizer "pois não"?
- Bom. Você me perguntou se podia fazer uma pergunta. Eu disse "pois não". Quer dizer, "pode, esteja à vontade, estou ouvindo, estou às suas ordens..."
- Em outras palavras, quer dizer "sim".
- É.
- Então por que não se diz "pois sim"?
- Porque "pois sim" quer dizer "não".
- O quê?!
- Se você disser alguma coisa que não é verdade, com a qual eu não concordo, ou acho difícil de acreditar, eu digo "pois sim".
- Que significa "pois não"?
- Sim. Isto é, não. Porque "pois não" significa "sim".
- Por quê?
- Porque o "pois", no caso, dá o sentido contrário, entende? Quando se diz "pois não", está-se dizendo que seria impossível, no caso, dizer "não". Seria inconcebível dizer "não". Eu dizer não? Aqui, ó.
- Onde?
- Nada. Esquece. Já "pois sim" quer dizer "ora, sim!". "Ora se aceitar isso." "Ora, não me faça rir. Rã, rã, rã."
- "Pois" quer dizer "ora"?
- Ahn... Mais ou menos.
- Que língua!
Eu quase disse: "E vocês, que escrevem 'tough' e dizem 'tâf'?", mas me contive. Afinal, as intenções dela eram boas. Queria aprender. Ela insistiu:
- Seria mais fácil não dizer o "pois".
Eu já estava com preguiça.
- Pois é.
- Não me diz "pois é"!
Mas o que ela não entendia mesmo era o "pá, pá, pá".
- Qual o significado exato de "pá, pá, pá".
- Como é?
- "Pá, pá, pá".
- "Pá" é pá. "Shovel". Aquele negócio que a gente pega assim e...
- "Pá" eu sei o que é. Mas "pá" três vezes?
- Onde foi que você ouviu isso?
- É a coisa que eu mais ouço. Quando brasileiro começa a contar história, sempre entra o "pá, pá, pá".
Como que para ilustrar nossa conversa, chegou-se a nós, providencialmente, outro brasileiro. E um brasileiro com história:
- Eu estava ali agora mesmo, tomando um cafezinho, quando chega o Túlio. Conversa vai, conversa vem e coisa e tal e pá, pá, pá...
Eu e a americana nos entreolhamos.
- Funciona como reticências - sugeri eu. - Significa, na verdade, três pontinhos. "Ponto, ponto, ponto."
- Mas por que "pá" e não "pó"? Ou "pi" ou "pu"? Ou "etcéterá'?
Me controlei para não dizer - "E o problema dos negros nos Estados Unidos?".
Ela continuou:- E por que tem que ser três vezes?
- Por causa do ritmo. "Pá, pá, pá." Só "pá, pá" não dá.
- E por que "pá"?
- Porque sei lá - disse, didaticamente.
O outro continuava sua história. História de brasileiro não se interrompe facilmente.
- E aí o Túlio com uma lengalenga que vou te contar. Porque pá, pá, pá...
- É uma expressão utilitária - intervim. - Substitui várias palavras (no caso toda a estranha história do Túlio, que levaria muito tempo para contar) por apenas três. É um símbolo de garrulice vazia, que não merece ser reproduzida. São palavras que...
- Mas não são palavras. São só barulhos. "Pá, pá, pá."
- Pois é - disse eu. Ela foi embora, com a cabeça alta. Obviamente desistira dos brasileiros. Eu fui para o outro lado. Deixamos o amigo do Túlio papeando sozinho.

Entendendo o texto

01. Quem é o narrador da crônica?

          O narrador é uma pessoa que interage com uma americana recém-chegada ao Brasil.

    02.Como a americana caracteriza os brasileiros em relação à sua forma de expressão?

         A americana acha curioso o uso frequente da expressão "pois é" pelos brasileiros.

03.Qual é a dúvida da americana em relação à expressão "pois não"?

     A americana quer entender o significado preciso de “pois não” e questiona por que não se usa “pois sim” como equivalente.

04. Qual é a explicação dada pelo narrador sobre o significado de "pois não" e "pois sim"?

      "Pois não" significa "sim", enquanto "pois sim" significa "não", devido ao sentido contrário atribuído pelo termo "pois".

05. Como a americana reage à expressão "pois é"?

      A americana não suporta mais a expressão “pois é” e expressa sua frustração em relação a ela.

06. O que a americana não compreende sobre a expressão "pá, pá, pá"?

     A americana não entende o significado exato de “pá, pá, pá” e questiona por que os brasileiros utilizam ao contar histórias.

07. Como o narrador define o significado de "pá, pá, pá"?

      O narrador sugere que “pá, pá, pá” funciona como reticências, representando três pontinhos, interrompendo a interrupção de uma história ou narrativa.

08. Por que, segundo o narrador, a expressão "pá, pá, pá" é utilizada três vezes e não apenas duas?

      O narrador explica que a reprodução de “pá, pá, pá” três vezes é devido ao ritmo, enfatizando que apenas “pá, pá” não seria suficiente.

09. Como a americana reage à explicação do narrador sobre "pá, pá, pá"?

     A americana não compreende completamente a explicação e continua questionando a escolha da palavra “pá” e por que ela é repetida três vezes.

10. Qual é a atitude final da americana em relação aos brasileiros no estágio da crônica?

     A americana parece desistir dos brasileiros, expressando sua frustração com as descobertas da língua e cultura, e se retira com a cabeça alta.

 

 

CRÔNICA: SOZINHOS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Sozinhos

                 Luís Fernando Veríssimo

Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada. É assim: Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_C0KuQbq8julYuxIpaUrBBtyujzTV0nP3wG-pU9VgKkIbse7r4e4KUNC2FZif4vQq1Qu1VMp6KN_hD6LNbhBmUVwdDI4EwHyERoq5axvgVmYlzw1GVkzsOyJ0TziLm23S3PyXjQhfc99d6EZXwo5MiwlqjXktsLxlcIrg60YIa6mnYfpE0Kq-BCrIepE/s1600/GRAVADOR.jpg


– Ronca.
– Não ronco.
– Ele diz que não ronca – comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa. Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai cedo. Ficam os dois sozinhos.
– Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer – diz ela. E em seguida tem a ideia infeliz. – É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.
– Humrfm – diz o velho.
Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. Às ideias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias ideias e deixado de escrevê-las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor. Você tinha escolha.
Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba.
Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém roncando.
– Rarrá! – diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha também ronca!
– Rarrá! – diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio – por causa dos roncos – não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes.
É um diálogo sussurrado.
“Estão prontos?”
“Não, acho que ainda não…”
“Então vamos voltar amanhã…”

Autor: Luís Fernando Veríssimo

Entendendo o texto
01. Responda:
    a) Qual o tipo de narrador desta história?

         Narrador onisciente, não participa da história, mas há certas intromissões em 1ª pessoa.

   b) Retire um trecho que comprove o tipo de narrador.

       “Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi.”

02. Na história que você acabou de ler acontecem dois fatos muito importantes. Um deles é um acontecimento do cotidiano, ou seja, pode acontecer todo dia, o outro fato é algo diferente, absurdo, incomum que não acontece todo dia. Identifique:
a) O fato cotidiano

     O casal que discute na hora de dormir.

b) O fato diferente

   As vozes gravadas que o casal não sabe de quem é.
 
03. Retire do texto uma opinião e um fato.

     . Opinião: “Não, acho que ainda não…” Fato: “Ficam os dois sozinhos.”

04. Qual fato dá início a toda a história?

     O autor ter uma ideia para um conto de terror.
 
5. Retire do texto duas expressões de tempo e duas expressões de lugar.

Expressões de tempo. “Então vamos voltar amanhã…”
“E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro.”
Expressões de lugar. “Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário.” “Os velhos sozinhos na casa.”

06. Identifique os elementos da narrativa da história.
a) Personagens: um casal de idosos
b) Enredo: um casal de idosos que coloca um gravador para identificar quem ronca e acaba ouvindo vozes.
c) Lugar: A casa do casal de idosos.

07. Na sua opinião de quem podem ser as vozes ouvidas pelo casal de velhos?

      Resposta pessoal.

08. Qual era o motivo de briga do casal de velhos?

      Se acusavam de roncar.
09. Qual a ideia da velha para comprovar suas acusações contra o velho?

      Utilizar um gravador de voz.
 
10. Retire do texto uma comparação.

Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro.

CRÔNICA: SUFLÊ DE CHUCHU - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Suflê de Chuchu

               Luís Fernando Veríssimo

 Houve uma grande comoção em casa com o primeiro telefonema da Duda, a pagar, de Paris. O primeiro telefonema desde que ela embarcara, mochila nas costas (a Duda, que em casa não levantava nem a sua roupa do chão!), na Varig, contra a vontade do pai e da mãe. Você nunca saiu de casa sozinha, minha filha! Você não sabe uma palavra de francês! Vou e pronto. E fora. E agora, depois de semanas de aflição, de "onde anda essa menina?", de "você não devia ter deixado, Eurico!", vinha o primeiro sinal de vida. Da Duda, de Paris.



- Minha filha...

- Não posso falar muito, mãe. Como é que se faz café?

- O quê?

- Café, café. Como é que se faz?

- Não sei, minha filha. Com água, com... Mas onde é que você está, Duda?

- Estou trabalhando de "au pair" num apartamento. Ih, não posso falar mais. Eles estão chegando. Depois eu ligo. Tchau! O pai quis saber detalhes. Onde ela estava morando?

- Falou alguma coisa sobre "opér".

- Deve ser "operá". O francês dela não melhorou... Dias depois, outra ligação. Apressada como a primeira. A Duda queria saber como se mudava fralda. Por um momento, a mãe teve um pensamento louco. A Duda teve um filho de um francês! Não, que bobagem, não dava tempo. Por que você quer saber, minha filha?

- Rápido, mãe. A criança tá borrada! Ninguém em casa podia imaginar a Duda trocando fraldas. Ela, que tinha nojo quando o irmão menor espirrava.

- Pobre criança... - comentou o pai. Finalmente, um telefonema sem pressa da Duda. Os patrões tinham saído, o cagão estava dormindo, ela podia contar o que estava lhe acontecendo. "Au pair" era empregada, faz-tudo. E ela fazia tudo na casa. A princípio tivera alguma dificuldade com os aparelhos. Nunca notara antes, por exemplo, que o aspirador de pó precisava ser ligado numa tomada. Mas agora estava uma opér "formidable". E Duda enfatizara a pronúncia francesa. "Formidable." Os patrões a adoravam. E ela prometera que na semana seguinte prepararia uma autêntica feijoada brasileira para eles e alguns amigos.

- Mas, Duda, você sabe fazer feijoada?

- Era sobre isso que eu queria falar com você, mãe. Pra começar, como é que se faz arroz? A mãe mal pôde esperar o telefonema que a Duda lhe prometera, no dia seguinte ao da feijoada.

- Como foi, minha filha. Conta!

- Formidable! Um sucesso. Para o próximo jantar, vou preparar aquela sua moqueca.

- Pegue o peixe... - começou a mãe, animadíssima. A moqueca também foi um sucesso. Duda contou que uma das amigas da sua patroa fora atrás dela, na cozinha, e cochichara uma proposta no seu ouvido: o dobro do que ela ganhava ali para ser opér na sua casa. Pelo menos fora isso que ela entendera. Mas Duda não pretendia deixar seus patrões. Eles eram uns amores. Iam ajudá-la a regularizar a sua situação na França. Daquele jeito, disse Duda a sua mãe, ela tão cedo não voltava ao Brasil. É preciso compreender, portanto, o que se passava no coração da mãe quando a Duda telefonou para saber como era a sua receita de suflê de chuchu. Quase não usavam o chuchu na França, e a Duda dissera a seus patrões que suflê de chuchu era um prato típico brasileiro e sua receita era passada de geração a geração na floresta onde o chuchu, inclusive, era considerado afrodisíaco. Coração de mãe é um pouco como as Caraíbas. Ventos se cruzam, correntes se chocam, e uma área de tumultos naturais. A própria dona daquele coração não saberia descrever os vários impulsos que o percorreram no segundo que precedeu sua decisão de dar à filha a receita errada, a receita de um fracasso. De um lado o desejo de que a filha fizesse bonito e também - por que não admitir? - uma certa curiosidade com a repercussão do seu suflê de chuchu na terra, afinal, dos suflês, do outro o medo de que a filha nunca mais voltasse, que a Duda se consagrasse como a melhor opér da Europa e não voltasse nunca mais. Todo o destino num suflê. A mãe deu a receita errada. Com o coração apertado. Proporções grotescamente deformadas. A receita de uma bomba. Passaram-se dias, semanas, sem uma notícia da Duda. A mãe imaginando o pior. Casais intoxicados. Jantar em Paris acaba no hospital. Brasileira presa. Prato selvagem enluta famílias, receita infernal atribuída à mãe de trabalhadora clandestina, Interpol mobilizada. Ou imaginando a chegada de Duda em casa, desiludida com sua aventura parisiense, sua carreira de opér encerrada sem glória, mas pronta para tentar outra vez o vestibular. O que veio foi outro telefonema da Duda, um mês depois. Apressada de novo. No fundo, o som de bongos e maracas.

- Mãe, pergunta pro pai como é a letra de Cubanacã!

- Minha filha...

- Pergunta, é do tempo dele. Rápido que eu preciso pro meu número. Também houve um certo conflito no coração do pai, quando ouviu a pergunta. Arrá, ela sempre fizera pouco do seu gosto musical e agora precisava dele. Mas o segundo impulso venceu:

- Diz pra essa menina voltar pra casa. JÁ!

Entendendo o texto

01. Qual foi o acontecimento da família quando a Duda fez o primeiro telefonema de Paris?

a) Felicidade e ruptura.

b) Desconfiança e preocupação.

c) Indiferença e surpresa.

d) Despreocupação e descontração.

   02. Por que o pai e a mãe estavam preocupados com a viagem da Duda para Paris?

         a) Porque ela não sabia falar francês.

         b) Porque ela não tinha experiência em viajar sozinha.

         c) Porque ela tinha embarcado contra a vontade deles.

         d) Porque ela não gosta de café.

     03. O que a Duda pergunta à mãe no segundo telefonema?

          a) Como fazer um suflê de chuchu.

          b) Como trocar fralda de bebê.

          c) Como fazer café.

         d) Como preparar uma feijoada.

    04. Como a mãe reage quando a Duda pede a receita de suflê de chuchu?

         a) Ela dá a receita correta.

         b) Ela fica curiosa com a repercussão do suflê na França.

         c) Ela dá a receita errada.

         d) Ela se recusou a ajudar.

    05. Por que a mãe dá a receita errada do suflê de chuchu para a Duda?

         a) Para treinar a filha.

         b) Por curiosidade sobre a repercussão na França.

         c) Por medo de que a Duda não volte para casa.

         d) Porque a mãe não sabia a receita correta.

   06. Como a mãe descreve o coração quando a Duda liga pedindo a receita de suflê de chuchu?

        a) Como um deserto sem emoções.

        b) Como as Caraíbas, cheias de ventos cruzados e correntes chocadas.

        c) Como uma floresta afrodisíaca.

        d) Como uma bomba dispara a destruição.

    07. Quais foram as consequências da receita errada do suflê de chuchu?

       a) Duda se tornou uma cozinheira renomada em Paris.

       b) Duda teve sucesso e foi elogiada pelos patrões.

       c) A família ficou sem notícias da Duda por semanas.

       d) A mãe nunca mais deu receitas à Duda.

     08. O que a mãe imaginou como possível resultado da receita errada?

         a) Duda sendo elogiada na França.

         b) Problemas de saúde causados ​​pelo suflê.

         c) Duda desiludida com a aventura parisiense.

         d) Duda se consagrando como a melhor ópera da Europa.

  09. Qual foi a ocorrência do pai quando o Duda pediu a letra de "Cubanacã"?

        a) Ele ficou feliz em ser útil para a filha.

        b) Ele decidiu ajudar.

        c) Ele ficou irritado e mandou a filha voltar para casa.

       d) Ele não se importou com o pedido.

   10. Qual foi a última instrução do pai para a Duda no final da crônica?

       a) Pedir desculpas à mãe.

       b) Voltar para casa imediatamente.

       c) Continuar sua carreira como ópera em Paris.

      d) Não se preocupe com a letra de "Cubanacã".