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sábado, 27 de julho de 2019

CONTO: O COMPADRE DA MORTE - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: O Compadre da Morte
                Luís da Câmara Cascudo


       Diz que era uma vez um homem que tinha tantos filhos que não achava mais quem fosse seu compadre. Nascendo mais um filhinho, saiu para procurar quem o apadrinhasse e depois de muito andar encontrou a Morte a quem convidou. A Morte aceitou e foi a madrinha da criança. Quando acabou o batizado voltaram para casa e a madrinha disse ao compadre:
       - Compadre! Quero fazer um presente ao meu afilhado e penso que é melhor enriquecer o pai. Você vai ser médico de hoje em diante e nunca errará no que disser. Quando for visitar um doente me verá sempre. Se eu estiver na cabeceira do enfermo, receite até água pura que ele ficará bom. Se eu estiver nos pés, não faça nada porque é um caso perdido.
        O homem assim fez. Botou aviso que era médico e ficou rico do dia para a noite porque não errava. Olhava o doente e ia logo dizendo:
      - Este escapa!
     Ou então:
     - Tratem do caixão dele!
     Quem ele tratava, ficava bom. O homem nadava em dinheiro.
      Vai um dia adoeceu o filho do rei e este mandou buscar o médico, oferecendo uma riqueza pela vida do príncipe. O homem foi e viu a Morte sentada nos pés da cama. Como não queria perder a fama, resolveu enganar a comadre, e mandou que os criados virassem a cama, os pés passaram para a cabeceira e a cabeceira para os pés. A Morte, muito contrariada, foi-se embora, resmungando.
       O médico estava em casa um dia quando apareceu sua comadre e o convidou para visitá-la.
      - Eu vou, disse o médico - se você jurar que voltarei!
      - Prometo! - disse a Morte.
      Levou o homem num relâmpago até sua casa.
      Tratou muito bem e mostrou a casa toda. O médico viu um salão cheio-cheio de velas acessas, de todos os tamanhos, uma já se apagando, outras viva, outras esmorecendo. Perguntou o que era:
      É a vida do homem. Cada homem tem uma vela acessa. Quando a vela acaba, o homem morre.
      O médico foi perguntando pela vida dos amigos e conhecidos e vendo o estado das vidas. Até que lhe palpitou perguntar pela sua. A Morte mostrou um cotoquinho no fim.
      - Virgem Maria! Essa é que é a minha? Então eu estou, morre-não-morre!
     A Morte disse:
    - Está com horas de vida e por isso eu trouxe você para aqui como amigo mas você me fez jurar que voltaria e eu vou levá-lo para você morrer em casa.
     O médico quando deu acordo de si estava na sua cama rodeado pela família. Chamou a comadre e pediu:
    - Comadre, me faça o último favor. Deixe eu rezar um Padre-Nosso. Não me leves antes. Jura?
   - Juro -, prometeu a Morte.
   O homem começou a rezar o Padre-Nosso que estás no céu... E calou-se. Vai a Morte e diz:
   - Vamos, compadre, reze o resto da oração!
   - Nem pense nisso, comadre! Você jurou que me dava tempo de rezar o Padre-Nosso mas eu não expliquei quanto tempo vai durar minha reza. Vai durar anos e anos...
     A Morte foi-se embora, zangada pela sabedoria do compadre.
     Anos e anos depois, o médico, velhinho e engelhado, ia passeando nas suas grandes propriedades quando reparou que os animais tinham furado a cerca e estragado o jardim, cheio de flores. O homem, bem contrariado disse:
       - Só queria morrer para não ver uma miséria destas!...
        Não fechou a boca e a Morte bateu em cima, carregando-o. A gente pode enganar a Morte duas vezes mas na terceira é enganado por ela.

(CASCUDO, Luís da Câmara.Contos tradicionais do Brasil. Belo Horizonte; São Paulo, Itatiaia, Editora da Universidade de São Paulo, 1986. Texto Adaptado)
Fonte: Livro: JORNADAS.port – Língua Portuguesa - Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.120 a 123.
Nas linhas do texto

1)   No início da história, a personagem principal é chamada apenas de um homem ou o homem.
a)   Como o narrador passa a se referir à personagem principal depois que a Morte batiza seu filho?
Compadre.

b)   A partir de qual fato a personagem passa a ser chamada de médico?
A partir do momento em que a Morte lhe dá o poder de predizer a morte das pessoas.

2)   Qual foi a forma escolhida pela Morte para enriquecer seu compadre?
Fazê-lo médico: sempre que fosse visitar um doente, o homem veria a Morte. Conforme o lugar da cama onde ela estivesse sentada, o homem saberia se o doente iria se curar ou não: se na cabeceira, o doente se salvaria se nos pés, ele seria levado pela Morte.

3)   Quando o príncipe adoeceu gravemente, qual foi o plano do homem para enganar a Morte?
Como a Morte estava sentada nos pés da cama do jovem, o homem mandou os criados virarem a cama, trocando os pés pela cabeceira; desse modo, a Morte ficou na cabeceira e não pôde levar o príncipe.

4)   O homem enganou a Morte uma segunda vez. Quando foi isso e o que ele fez?
Quando o homem estava para morrer, pediu para rezar um padre-nosso e não ser levado enquanto não terminasse a oração. Só que ele parou no meio da reza, dizendo que não tinha dito quando ia terminá-la. Assim, a Morte não pôde levá-lo.

5)   O homem conseguiu enganar a Morte pela terceira vez? Explique sua resposta.
Não conseguiu: desatento, disse que preferia morrer a ver o jardim estragado. Tomando essa frase como pretexto, a Morte levou-o.

6)   Ao salvar o filho do rei, o homem desafiou a Morte. Marque a alternativa mais adequada para explicar o motivo dessa decisão dele.
a)   Medo do rei.
b)   Vaidade pessoal.
c)   Ganância de mais riqueza.
d)   Provocação feita à Morte.

7)   O homem foi finalmente levado pela Morte porque:
a)   não se pode enganar a Morte mais de duas vezes.
b)   ela foi mais esperta, aproveitando-se de uma distração dele.
c)   ele não conseguiu rezar o padre-nosso até o fim.
d)   ele estava muito velhinho e vivia contrariado, desejando morrer.

8)   No final da história, o médico diz: “Só queria morrer para não ver uma miséria destas!...”. No mesmo instante, a Morte se aproveitou dessa frase para leva-lo.
a)   Ele queria mesmo morrer ao dizer isso? Explique sua resposta.
Não, ele apenas queria expressar seu descontentamento com o estrago no jardim.

b)   De que outro modo ele poderia se expressar para não dar à Morte a chance de leva-lo?
“Daria todo meu dinheiro para não ver esta desgraça!”, “Não acredito que estou vendo uma desgraça destas!”, etc.

domingo, 26 de agosto de 2018

CONTO: O SAPO E O COELHO - LUÍS CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: O Sapo e o Coelho
           Luís Câmara Cascudo


        O Coelho vivia zombando do Sapo. Achava-o preguiçoso e lerdo, incapaz de qualquer agilidade. O sapo ficou zangado:
        --- Quer apostar carreira comigo?
        --- Com você? – assombrou-se o coelho.
        --- Justamente! Vamos correr amanhã, você na estrada e eu pelo mato, até a beira do rio...
        O coelho riu muito e aceitou o desafio. O sapo reuniu todos seus parentes e distribuiu-os na margem do caminho, com ordem de responder aos gritos do coelho.
        Na manhã seguinte, os dois enfileiraram-se e o coelho disparou como um raio, perdendo de vista o sapo que saíra aos pulos. Correu, correu, correu, parou e perguntou:
        --- Camarada Sapo?
        Outro sapo respondia dentro do mato:
        --- Oi?
        O coelho recomeçou a correr. Quando julgou que seu adversário estivesse bem longe, gritou:
        --- Camarada Sapo?
        --- Oi? – coaxava um sapo.
        Debalde o coelho corria e perguntava, sempre ouvindo o sinal dos sapos escondidos. Chegou à margem do rio exausto, mas já encontrou o sapo, sossegado e sereno, esperando-o. O coelho declarou-se vencido.

Luís da Câmara Cascudo. Os compadres corcundas e
Outros contos brasileiros. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 88.
Entendendo o conto:
01 – Identifique a finalidade do texto:
      A finalidade do texto é levar as pessoas a refletirem sobre a necessidade de não se colocarem como superiores aos outros.

02 – Há o predomínio no texto da:
a) comparação entre o sapo e o coelho.
b) narração de fatos ocorridos.
c) opinião sobre os episódios da história.
d) descrição de personagens e ambientes.

03 – Assinale a alternativa em que o sapo é caracterizado segundo a visão do coelho:
a) “Achava-o preguiçoso e lerdo, incapaz de qualquer agilidade.”
b) “[...] o coelho disparou como um raio, perdendo de vista o sapo que saíra aos pulos.”
c) “O coelho recomeçou a correr. Quando julgou que seu adversário estivesse bem longe [...]”
d) “Chegou à margem do rio exausto, mas já encontrou o sapo, sossegado e sereno [...]”

04 – Em todos os segmentos, os verbos sublinhados indicam fatos totalmente concluídos no momento em que são narrados, exceto em:
a) “O Coelho vivia zombando do Sapo.”
b) “- Com você? – assombrou-se o coelho.”
c) “O coelho riu muito e aceitou o desafio.”
d) “O coelho declarou-se vencido.”

05 – Na parte “[...] e distribuiu-os na margem do caminho, com ordem de responder aos gritos do coelho.”, o pronome destacado substitui, considerando-se o contexto:
      “Todos seus parentes”.     

06 – Na passagem “[...] os dois enfileiraram-se e o coelho disparou como um raio [...]”, a palavra grifada introduz:
a) uma exemplificação
b) um comentário
c) uma comparação
d) uma fala de um personagem.

07 – Em “Debalde o coelho corria e perguntava, sempre ouvindo o sinal dos sapos escondidos.”, o termo destacado poderia ser substituído por:
a) velozmente
b) eloquentemente
c) insistentemente
d) inutilmente.

08 – No trecho “Chegou à margem do rio exausto, mas já encontrou o sapo, sossegado e sereno [...]”, a conjunção sublinhada estabelece entre as orações a relação de:
a) adição
b) oposição
c) condição
d) causa.­­­



quinta-feira, 16 de agosto de 2018

CONTO: O MACACO PERDEU A BANANA - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

Conto: O Macaco perdeu a banana
          Luís da Câmara Cascudo


        O macaco estava comendo uma banana num galho de pau quando a fruta lhe escorregou da mão e caiu num oco de árvore.  O macaco desceu e pediu que o pau lhe desse a banana:
        — Pau me dá a banana!
        O pé de pau nem-como-cousa.  O macaco foi ter com o ferreiro e pediu que viesse com o machado cortar o pau.
        — Ferreiro, traga o machado para cortar o pau que ficou com a banana!
        O ferreiro nem se importou.  O macaco procurou o soldado a quem pediu que prendesse o ferreiro.  O soldado não quis.  O macaco foi ao rei para mandar o soldado prender o ferreiro para este ir com o machado cortar o pau que tinha a banana.  O rei não prestou atenção. O macaco apelou para a rainha.  A rainha não o ouviu. O macaco foi ao rato para roer a roupa da rainha. O rato recusou. O macaco recorreu ao gato para comer o rato. O rato nem ligou. O macaco foi ao cachorro para morder o gato. O cachorro recusou. O macaco procurou a onça para comer o cachorro. A onça não esteve pelos autos. O macaco foi ao caçador para matar a onça. O caçador se negou. O macaco foi até a Morte.
        A Morte ficou com pena do macaco e ameaçou o caçador, este procurou a onça, que perseguiu o cachorro, que seguiu o gato, que correu o rato, que quis roer a roupa da rainha, que mandou o rei, que ordenou ao soldado que quis prender o ferreiro, que cortou com o machado o pau onde o macaco tirou a banana e comeu.
 Contos tradicionais do Brasil (folclore) de Luís da Câmara Cascudo,
Rio de Janeiro, Edições de Ouro:1967.
Entendendo o conto:
01 – Quantos parágrafos tem o texto?
      Possui 06 parágrafos.

02 – Para quem o macaco apela para conseguir sua banana de volta?
      Apela para o pé-de-pau.

03 – Qual foi o único personagem que ouviu o macaco?
      Foi a morte.

04 – Por que essa personagem resolveu ajudar o macaco?
      Porque ficou com pena do macaco.

05 – Por que o caçador fez o que a morte e o macaco queriam?
      Porque a morte ameaçou o caçador.

06 – Como a morte deve ter falado com o caçador?
a)   Com brandura e amor.
b)   Ordenando de forma grosseira.
c)   Com simpatia e felicidade.

07 – Qual das alternativas abaixo melhor definem a mensagem da história?
a)   Não se preocupe com os outros, cada um com seus problemas.
b)   É preciso ameaçar os outros para conseguir o que quer.
c)   Não desista dos seus objetivos, em algum momento você conseguirá alcança-lo.

08 – De acordo com o texto, o macaco pediu ajuda a várias pessoas e animais:
a)   Quais as pessoas?
O ferreiro; o soldado; o rei; a rainha; o caçador.

b)   Quais os animais?
O rato; o gato; o cachorro; a onça.

09 – Quem é o autor? De onde foi tirado o texto?
      Luís da Câmara Cascudo. Contos Tradicionais do Brasil.

10 – A quem o macaco apelou para que mandasse o soldado prender o ferreiro?
      Apelou para o Rei.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

CONTO: PEDRO MALASARTES E A SOPA DE PEDRAS - LUÍS DA CÂMARA CASCUDO - COM GABARITO

CONTO: Pedro Malasartes e a Sopa de Pedras
                Luís da Câmara Cascudo


        Pedro Malasartes, um caipira danado de esperto, estava morto de fome e sem dinheiro algum. Precisava arranjar alguma ocupação que lhe desse o dinheiro suficiente para conseguir comprar comida.
        Cansado de perambular em Porrete Armado, o nome do lugarejo em que se encontrava, decidiu parar e descansar na porta de um pequeno armazém de secos e molhados; desses encontrados no interior e onde é possível comprar de tudo que se pode imaginar.
         Pegou sua viola e começou a cantar uma moda, na esperança de que alguém lhe desse alguns trocados. Mas além de nada conseguir, os fregueses que bebiam no balcão quase o expulsaram por “incomodar” sua conversa. Eles conversavam sobre uma senhora, Dona Agromelsilda, moradora da região e que era conhecida por sua excessiva avareza.
         A conversa caminhava assim:
         --- Gente, vocês não imaginam como é “unha de fome” aquela Dona Agromelsilda, que mora para os lados do estradão da Grota Funda!
         Disse o dono do armazém.
         --- Unha de fome é pouco! Aquela velha é capaz de não comer banana só pra não ter que jogar a casca fora. Completou o segundo, um dos fregueses que bebiam na venda.
         Um terceiro freguês afirmou:
         --- Aquela velha é tão “pão dura” que nem comida para os coitados dos cachorros ela dá. Os bichinhos estão todos passando fome. Magros, magros de dar dó. Acho até que o estômago deles já encostou nas costelas.
         --- Está para nascer o homem que conseguira tirar alguma coisa daquela velha. Duvido que alguém consiga esta proeza.
         --- Nunca vi coisa assim nesses anos que moro aqui em Porrete Armado. E olha que eu já vi coisas com esses olhos que a terra há de comer. Terminou o dono do armazém.
         Pedro decidiu que era hora de agir, se quisesse comer e ganhar algum dinheiro. Era hora também, de dar uma lição naquela velha que o tratara mal da outra vez em que passara por Porrete Armado. Dona Agromelsilda era conhecida pelos seus péssimos modos com as pessoas e acima de tudo por ser muquirana até o último fio de cabelo. Pedro disse:
           --- Eu aposto o que vocês quiserem como pra mim a velha vai dar alguma coisa de bom grado. E mais ainda: Ela mesma é quem vem aqui contar que me encheu de presentes.
           --- Você está ficando doido Pedro Malasartes? Aquela velha, além de não dar nada para ninguém, também anda armada com uma baita de uma espingarda. Disse o dono do armazém.
          --- Não se preocupe com isso que é problema meu e eu sei como resolver; disse o Pedro. –Mas, se vocês duvidam do que eu disse, porque não apostam comigo, como ela vai me encher de presentes e vem aqui contar para vocês?
          O dono do armazém, rindo muito, respondeu:
         --- Se você conseguir esta proeza, com a velha lhe dando presentes e vindo aqui contar para nós, te dou todo o dinheiro que eu ganhar numa semana de trabalho.
         Os outros dois fregueses, animados com a aposta “jogaram lenha na fogueira” e provocando Pedro Malasartes disseram:
         --- Nós dois também apostamos nossos ganhos da semana. Temos certeza de que a velha nem vai querer conversa com você. Muito menos te dar algo. Mas se conseguir ganhar e fazer com que ela venha nos contar, você ganha o dinheiro que nós conseguirmos nesta semana.
         Uma dúvida, porém, surgiu e o dono do armazém, o mais malandro dos três queria saber:
         --- Seu Pedro Malasartes, você ganhara nosso dinheiro de uma semana de serviço se conseguir que a velha lhe dê presentes e venha nos contar aqui no armazém, mas se você não conseguir o que nós três ganharemos? Pelo que sabemos você não tem nenhum dinheiro. Vai apostar oque?
         Pedro muito convicto e com certeza da vitória, respondeu:
          --- Eu trabalharei de graça para vocês três. Uma semana na fazenda de um, outra semana na fazenda de outro e por fim uma semana em seu armazém. Combinado?
          --- Combinado. Responderam os três.
         Pedro tratou de arranjar um panelão fundo, uma sacola, mais algumas coisinhas e partiu para a casa da velha a toda velocidade. Para ganhar uma aposta o malandro não poupava esforços e nem tinha preguiça.
         Chegando perto da porteira da casa da velha, que morava numa enorme fazenda, Pedro fez um bom fogo, encheu o panelão com a água do riacho, e juntando muitas pedras do chão, jogou-as na água. Depois ficou de olho no movimento da casa de Dona Agromelsilda.
         Quando a velha abriu a janela do quarto e viu Pedro fazendo aquele fogareiro, na frente de sua fazenda, pensou:
         --- Mas o que será que aquele doido está fazendo na entrada das minhas terras? Vou lá ver.
Chegando ao local em que Pedro estava, perguntou muito irritada:
         --- Será que dá para o senhor explicar o que está pensando em fazer com todo este fogo na frente da porteira de minha fazenda?
         Pedro que estava de rabo de olho na velha, nem ligou para a malcriação e respondeu todo educado:
        --- Boa tarde minha Vó? Tudo bom com a senhora? Estou preparando uma deliciosa sopa de pedras.
        --- Sopa de pedras? Respondeu à velha.
        --- Isso mesmo. Uma deliciosa sopa de pedras, receita de minha finada mãe.
        --- E fica boa?
        --- Boa? Fica muito boa!
        A Velha, sovina como era, pensou em tirar proveito. Pois se a sopa ficasse boa mesmo e com a quantidade de pedras que tinha em suas terras, certamente não teria mais despesas com comida, pois comeria diversos pratos de pedra, que ela criaria: Pedra assada, pedra frita, pedra cozida, pedra ralada, pedra refogada, pedra ensopada, escondidinho de pedra, pedra, pedra, pedra...
        Fingindo-se muito educada a velha pediu:
        --- Meu filho, quando terminar você dá um pouco para eu experimentar?
         --- Claro minha Vó.
         Assim, Pedro tratou de jogar mais lenha na fogueira e deixou as pedras cozinharem.
         Passada uma hora:
         --- O meu filho: Essa sopa sai ou não sai?
         --- Claro que sai minha Vó. Daqui a pouco esta prontinha. É que leva um tempo para cozinhar direitinho as pedras. Mas se a senhora tivesse uns legumes para colocar na sopa ela ficava melhor ainda. Umas cenouras, umas batatas, umas mandioquinhas, umas abobrinhas, umas beterrabas...
         A velha faminta como estava, nem pensou duas vezes e disse:
          --- Eu tenho estes legumes todos na horta de casa. Espere um pouco, que eu já volto. E tratou de entrar em casa para colher os legumes pedidos pelo Pedro.
          Pedro pensou:
          --- Ela caiu direitinho.
          Minutos depois lá estava a velha:
          --- Pronto meu filho. Este tanto dá?
          --- Dá minha Vó.
         Pedro, recolheu os legumes que a velha trouxe. Colocou metade de tudo em sua sacola e a outra metade na sopa.
          Passada mais uma hora, a velha com mais fome, perguntou:
          --- Mas meu filho, esta sopa sai ou não sai?
         --- Tá saindo minha Vó. Tá saindo. Mas a sopa ficaria tão boa se tivesse uma linguiça defumada, um paio e uma carninha seca para colocar.
         A velha ansiosa disse:
         --- Eu tenho tudo isso em casa. Vou lá buscar. E tratou de buscar tudo que foi pedido.
         Quando voltou entregou ao Pedro que, novamente, separou dois montes, colocando metade na sopa e outra metade em sua sacola.
         Mais uma hora e a velha já estava verde de fome, quase desmaiando. Isso sem falar na fazenda que estava na maior bagunça com as vacas sem ordenha, os bezerros sem leite, as galinhas sem os ovos recolhidos.
         A velha então perguntou:
         --- Menino! Esta sopa não fica pronta nunca?
         --- Tá quase minha Vó. Se a senhora tivesse uns temperos ficaria melhor ainda. Um pouco de sal, pimenta do reino, alho, azeite, açafrão, colorau, cheiro verde, cebolinha...
         Lá foi a velha buscar os temperos pedidos.
         Quando voltou, tudo se repetiu: Metade foi para a sopa e metade foi para a sacola do Pedro.
         Depois de mais uma hora, com a velha quase desmaiando:
         --- Meu filho, se esta sopa não sair agora eu desmaio de fome!
         --- Tá prontinha minha vó. A senhora tem uns pratos para poder servir?
         A velha saiu como um raio para dentro da casa e mais rápido ainda voltou com os pratos e colheres.
         Pedro pegou o prato da velha e encheu de pedras. Quanto ao seu prato, colocou as partes boas da sopa e poucas pedras. Sentou num canto e quando foi comer uma colherada de pedras de seu prato, jogou todas elas fora.
        A velha que estava tentando mastigar as pedras, quase quebrando os dentes, não acreditou no que viu o Pedro fazer. Então perguntou:
         --- Meu filho, você não vai comer as pedras não?
         E Pedro, que já havia planejado isto também, respondeu com a maior cara de pau:
         --- Comer pedra minha Vó? Tá doida é? Se eu comer estas pedras todas vou acabar quebrando os dentes.
         Ao dizer isto pegou sua sacola, com as coisas dadas pela velha, e saiu fugindo sem olhar para traz, pois ouvia os berros indignados dela correndo atrás do malandro.
         Quando chegou ao armazém, os três amigos da aposta não acreditaram na história de Pedro. Só tiveram a confirmação de tudo que o Pedro dissera, quando a velha chegou ao armazém contando que dera para Pedro uma porção de coisas para fazer uma sopa de pedras, mas que era na verdade uma sopa de legumes com os ingredientes que ela colheu de sua horta e pertences de sua casa.
         Assim que a velha saiu, Pedro cobrou a aposta e tratou de se mandar.
         Dizem que está andando pelo mundo até hoje, aprontando e dando golpes nos que tentam enganá-lo.

                       Fontes pesquisadas: “Contos Tradicionais Do Brasil” (Folclore)
Luís Da Câmara Cascudo Editora: Global.

Avarenta: pão-duro, unha-de-fome, pessoa que tem apego exagerado ao dinheiro
Negaceando: contra a sua própria vontade
Matutos: pessoas do campo
Matutando: pensando
Matreiro: esperto
Incrédula: que não acredita
Arranchando: acomodando

Entendendo o texto:

01 – Quais são as personagens da história?
      Pedro Malasartes, Dona Agomelsilda e os três amigos.

02 – Circule a resposta correta. No texto "Sopa de Pedras":
    * o narrador participa da história.
    * o narrador somente conta a história.

03 – “Os matutos falavam de uma velha avarenta que morava num sítio pros lados do rio." Por que a velha era considerada uma pessoa avarenta?
      Porque ela era uma pessoa que só pensava em dinheiro.

04 – Como Pedro fez para que a velha viesse falar com ele?
      Acendeu um bom fogo, na frente da porteira da fazenda.

05 – Marque a resposta correta.
Por que, no decorrer da história, a velha atendeu a todos os pedidos de Pedro Malasarte?
a) Ela gostou de Pedro e resolveu agradá-lo.
b) Ela ficou curiosa para saber que gosto tinha a tal sopa de pedra.

06 – Para vencer a aposta que Pedro fez com os matutos, o que ele precisava conseguir?
      Receber presentes da Dona Agromelsilda e ela ir no armazém e contar para os três amigos.

07 – Que adjetivos você utilizaria para explicar como é a personagem Pedro Malasarte?
( ) malvado    (X) esperto    ( ) impaciente    (X) convincente.

08 – Faça a correspondência entre as expressões e palavras em destaque e seu significado.
(1) "A velha, lá da casa, só espiando".              
(2) "E a panela fumegando."                     
(3) "E tratou de se mandar o mais depressa que pôde."  
(4) "Daí a pouco a velha já estava com água na boca!"
(2) Lançando fumaça.
(4) Com vontade de provar.
(1) Observando.
(3) Fugir.

09 – “Cozinha que cozinha, a sopa ficou pronta."
Por que o autor repetiu a palavra cozinha nessa frase? O que ele quis mostrar?
      Porque cozinhou por muito tempo. Que o tempo de cozimento da sopa, foi o tempo que ele precisava para tirar as coisas da Dona Agromelsilda.   
    
10 – No texto, aparecem nomes como Pedro Malasarte e Chico Charreteiro que são escritos com letras maiúsculas.
Por que estes nomes são escritos desta maneira?
        Porque são nomes próprios.

11 – O que Pedro estava fazendo na frente da fazenda? De quem era a receita da sopa?
       Fazendo uma sopa de pedras. Era uma receita da sua finada mãe.

12 – Quais foram os primeiros ingredientes solicitado pelo Pedro?
      Os legumes: cenoura, batata, mandioquinha, abobrinha e beterrabas.

13 – Além dos legumes, o Pedro pediu mais ingredientes, quais foram eles?
      Linguiça defumada, paio, carne seca.

14 – E para completar a sopa, faltava os temperos, o que Pedro pediu para a Dona Agromelsilda?
      Sal, pimenta do reino, alho, azeite, açafrão, colorau e cheiro verde.

15 – Por que o Pedro Malasartes, saiu correndo da fazenda? Explique com trecho do texto.
      Por causa da resposta que deu a Dona Agromelsilda. ---“Comer pedra minha Vó? Tá doida é? Se eu comer estas pedras todas vou acabar quebrando os dentes.”

16 – O Pedro contou a história aos três amigos, com quem tinha feito a aposta, mas, como eles tiveram a confirmação?
      Só tiveram a confirmação de tudo que o Pedro dissera, quando a velha chegou ao armazém contando que dera para Pedro uma porção de coisas para fazer uma sopa de pedras, mas que era na verdade uma sopa de legumes com os ingredientes que ela colheu de sua horta e pertences de sua casa.