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quarta-feira, 6 de outubro de 2021

CRÔNICA: PSICOPATA AO VOLANTE - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 CRÔNICA: PSICOPATA AO VOLANTE

                    Fernando Sabino

David Neves passava de carro às onze horas de certa noite de sábado por uma rua de Botafogo, quando um guarda o fez parar:

— Seus documentos, por favor.

 Os documentos estavam em ordem, mas o carro não estava: tinha um dos faróis queimado.

— Vou ter de multar– advertiu o guarda.

— Está bem– respondeu David, conformado.

— Está bem? O senhor acha que está bem?

 O guarda resolveu fazer uma vistoria mais caprichada, e deu logo com várias outras irregularidades:

— Eu sabia! Limpador de para-brisa quebrado, folga na direção, freio desregulado. Deve haver mais coisa, mas para mim já chega. Ou o senhor acha pouco?

— Não, para mim também já chega.

— Vou ter de recolher o carro, não pode trafegar nessas condições.

— Está bem– concordou David.

— Não sei se o senhor me entendeu: eu disse que vou

ter de recolher o carro.

— Entendi sim: o senhor disse que vai ter de recolher o carro. E eu disse que está bem.

— O senhor fica aí só dizendo está bem.

— Que é que o senhor queria que eu dissesse? Respeito sua autoridade.

— Pois então vamos.

— Está bem.

Ficaram parados, olhando um para o outro. O guarda, perplexo: será que ele não está entendendo? Qual é a sua, amizade? E David, impassível: pode desistir, velhinho, que de mim tu não vê a cor do burro de um tostão. E ali ficariam o resto da noite a se olhar, em silêncio, a autoridade e o cidadão flagrado em delito, se o guarda enfim não se decidisse:

— O senhor quer que eu mande vir o reboque ou prefere levar o carro para o depósito o senhor mesmo?

— O senhor é que manda.

— Se quiser, pode levar o carro o senhor mesmo.

 Sem se abalar, David pôs o motor em movimento:

— Onde é o depósito?

 O guarda contornou rapidamente o carro pela frente, indo sentar-se na boleia:

— Onde é o depósito…O senhor pensou que ia sozinho? Tinha graça!

 Lá foram os dois por Botafogo afora, a caminho do depósito.

— O senhor não pode imaginar o aborrecimento que ainda vai ter por causa disso — o guarda dizia.

— Pois é — David concordava: — Eu imagino.

 O guarda o olhava, cada vez mais intrigado:

— Já pensou na aporrinhação que vai ter? A pé, logo numa noite de sábado. Vai ver que tinha aí o seu programinha para esta noite…E amanhã é Domingo, só vai poder pensar em liberar o carro a partir de Segunda-feira. Isto é, depois de pagar as multas todas…

 — É isso aí– e David o olhou, penalizado: — Estou pensando também no senhor, se aborrecendo por minha causa, perdendo tempo comigo numa noite de Sábado, vai ver que até estava de folga hoje…

 — Pois então? — reanimado, o guarda farejou um entendimento: — Se o senhor quisesse, a gente podia dar um jeito…O senhor sabe, com boa vontade, tudo se arranja.

— É isso aí, tudo se arranja. Onde fica mesmo o depósito?

 O guarda não disse mais nada, a olhá-lo, fascinado. De repente ordenou, já à altura do Mourisco:

— Pare o carro! Eu salto aqui.

 David parou o carro e o guarda saltou, batendo a porta, que por pouco não se despregou das dobradiças. Antes de se afastar, porém, debruçou-se na janela e gritou:

— O senhor é um psicopata! 

(Fernando Sabino. A falta que ela me faz. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 94)

Entendendo o texto

01. Qual seria a função social ou intenção da crônica lida?
  (A) informar.                                  (C) relatar memórias.
  (B) entreter/divertir.                       (D) trazer uma reflexão.

02. No trecho “— Se o senhor quisesse, a gente podia dar um jeito…O senhor sabe, com boa vontade, tudo se arranja.” A expressão “boa vontade” significa
    (A) propina.                                                   (C) recompensa.
    (B) dinheiro.   
                                               (D) desacato.

 03. Associe conforme o seguinte código

      (A) Apresentação do conflito.                          
      (B) Desenvolvimento do conflito.
      (C) Clímax.
      (D) Desfecho do texto.
    (D) O momento em que o policial sai do carro e xinga o motorista de psicopata.                                           
    (B) As ameaças sucessivas de multar e prender o carro.
    (C) É o momento em que o policial propõe explicitamente  “um
            entendimento”.
    (A) O trecho em que o motorista é parado pelo policial.

04. Marque o vocábulo no qual apresenta ironia.

      (A) “Psicopata ao volante.”
      (B) “... O senhor acha que está bem?”
      (C) “O guarda resolveu fazer uma vistoria mais caprichada,...”
      (D) “Pare o carro! Eu salto aqui.”

 05. O objetivo do texto é

       (A) mostrar a inversão de valores, entre o policial e o motorista.
       (B) mostrar a imprudência no trânsito.
       (C) mostrar o movimento de propina por infratores no trânsito.
       (D) mostrar a vistoria de documentos feito no trânsito.

06. De modo concluído, o tema do texto é

      (A) ética e cidadania.
      (B) propina e suborno.
      (C) autoridade e cidadão flagrado em delito.
      (D) desacato e infração.

 07. Marque o vocábulo em que há registro de informalidade.

       (A) “... quando um guarda o fez parar: ...”
       (B) “... Se o senhor quisesse, a gente podia dar um jeito…”
       (C) “David parou o carro e o guarda saltou, ...”
       (D) “O guarda o olhava, cada vez mais intrigado: ...”

 08. No trecho “Os documentos estavam em ordem, mas o carro não estava: ...”, de quem é esta fala?

       (A) do motorista.                                (C) do narrador.
       (B) do policial.                                    (D) de outro personagem.

09. O texto apresenta com maior ênfase, um dos recursos de sinalização, muito utilizado em uma conversa

       (A) a reticência.                                  (C) as aspas.
       (B) os dois pontos.                             (D) o travessão.

10. No trecho do texto a seguir “... E David, impassível: pode desistir, velhinho, que de mim tu não vê a cor do burro de um tostão.” A palavra IMPASSÍVEL pode ser trocada sem perda de sentido por

     (A) tranquilo.                               (C) aborrecido.
     (B) perturbado.                           (D) indiferente.

 

 

 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

CONTO: UMA AVENTURA NA SELVA (FRAGMENTO) - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Conto: Uma aventura na selva (Fragmento)


     Fernando Sabino

        [...]

        Enquanto os demais escoteiros cumpriam cada um sua missão armando o acampamento, a patrulha do Lobo, chefiada pelo Toninho, foi encarregada de catar galhos secos na mata, que servissem de lenha para cozinhar e para o Fogo do Conselho, depois do jantar. Fui com os oito escoteiros, pois ficara mais ou menos agregado a eles, adotado por aquela patrulha como uma espécie de mascote.

        Usando suas machadinhas e facões, os escoteiros se espalharam entre as árvores, cortando galhos aqui e ali. Também eu levava, com orgulho, dependurada ao cinto, a minha faca de campanha. Mas não precisei de usá-la, pois, de acordo com as instruções do comandante da patrulha, minha missão se limitava a recolher do chão todo graveto que encontrasse.

        Distraído com a tarefa, não reparei que me distanciava dos outros, embrenhando-me cada vez mais no meio do mato. Quando percebi que já não mais os via, nem mesmo ouvia suas vozes, procurei regressar, mas não sabia por onde, tantas eram as voltas que havia dado. O mato era denso ao redor, impedindo que eu visse qualquer coisa à distância de uns poucos metros. Mesmo a luz do dia mal chegava onde eu tinha ido parar, impedida pela copa das árvores que se fechavam como um telhado sobre minha cabeça. E o pior é que já começava a anoitecer.

        Procurei prestar atenção, aguçando os ouvidos, para ver se escutava alguma coisa. Realmente deu para captar, ao longe, uns farrapos de conversas e risadas cada vez mais fracas, à medida que se afastavam, eu não conseguia distinguir em que direção. Gritei, gritei, mas não deviam ter me ouvido, pois fiquei esperando um tempão e ninguém apareceu. Senti vontade de chorar, mas resisti: um escoteiro não chora.

        Dava para perceber em que lado o sol se afundava no horizonte, pois seus últimos raios conseguiam varar a parede de árvores, deixando no ar uma cortina de luz. Eu sabia me orientar pelo sol. Bastava virar à esquerda para o poente, e tinha à minha frente o norte, às costas o sul e â direita o leste. Mas de que adiantava? Eu não sabia se o nosso acampamento estava na direção do norte, do sul, do leste ou do oeste. Distraído em olhar o chão à procura de gravetos, eu não havia prestado atenção a nada, e muito menos por onde ia. O que era imperdoável num escoteiro, que deve estar sempre alerta.

        Agora eu descobria que estava completamente perdido, e em breve seria noite. Sabia que tinha ido parar bem longe do acampamento. Devia ter me afastado dos outros uma longa distância, andando sem rumo pela floresta. Era inútil tentar voltar. Eu ia acabar me perdendo de vez, e quando viessem à minha procura, jamais me achariam.

        [...].

      Fernando Sabino. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1986.

                       Fonte: Português – Palavra Aberta – 5ª série – Isabel Cabral – Atual Editora – São Paulo, 1995. p. 02-05.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fpatrulha-lobo23rn.blogspot.com%2F2011%2F01%2Fpatrulha-lobo.html&psig=AOvVaw3jiQYVFp__HoTEBAj0W5FS&ust=1608335567636000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJiw2ZKb1u0CFQAAAAAdAAAAABAP

Entendendo o conto:

01 – Vamos observar os elementos dessa narrativa.

a)   Quais são as personagens dessa história?

O menino e o grupo de escoteiros.

b)   O narrador é uma personagem?

Sim.

c)   Onde acontece a história?

No meio da mata.

d)   Quando acontece a história?

Quando os escoteiros cumpriam suas missões.

02 – Vamos relembrar o que acontece nessa história:

a)   Em primeiro lugar, vamos dividi-la em quatro partes, destacando os fatos principais. Os primeiros fatos já foram destacados. Observe:

1 – Em um acampamento de escoteiros, um grupo de meninos é encarregado de recolher galhos secos na mata.

2 – Um dos meninos, considerado como mascote, distrai-se recolhendo gravetos e distancia-se dos demais.

Escreva o que aconteceu de importante nas outras duas partes.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: 3 – O menino percebe que está sozinho e grita pelos companheiros. 4 – Quase noite, completamente só, permanece quieto, esperando que o busquem no meio do mato.

b)   Agora, reconte a história em forma de desenho. Em seu caderno, faça quatro quadrinhos e desenhe em cada um deles uma parte importante da história. Dê um título para cada quadrinho.

Resposta pessoal do aluno.

03 – Você deve ter notado que quem conta essa história é a personagem menino. Em um momento do texto, o menino diz o seguinte: “Também eu levava, com orgulho, dependurada ao cinto, a minha faca de campanha”.

a)   Para que os escoteiros usavam facas, machadinhas e facões?

Para cortar os galhos secos das árvores.

b)   Por que o menino tinha orgulho de carregar uma faca?

Possuir uma faca significava já ser um escoteiro, ser grande.

c)   Ele usou a faca? Por quê?

Não. O comandante da patrulha deu-lhe como missão apenas recolher os gravetos que já estavam no chão. Tudo indica que era pequeno para usar uma faca.

04 – “Eu sabia me orientar pelo sol. Bastava virar à esquerda para o poente, e tinha à minha frente o norte, às costas o sul e à direita o leste.”. Você também sabe se orientar pelo sol? Descubra onde estão norte, sul, leste e oeste em sua classe.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Podemos afirmar que o menino teve medo? Procure no texto e escreva em seu caderno um trecho que comprove a sua resposta.

      Provavelmente, sim. “Senti vontade de chorar.”

06 – Como você se sentiria se estivesse no lugar do menino? O que você faria?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – O que você acha que aconteceu ao menino, durante a noite, sozinho, perdido na mata? Imagine que você é o escoteiro perdido e escreva um final para a história.

      Resposta pessoal do aluno.

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

CRÔNICA: NA ESCURIDÃO MISERÁVEL - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: Na escuridão Miserável

                Fernando Sabino


        
“Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava, enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar, através do vidro da janela, junto ao meio-fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquítica, um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:

        – O que foi, minha filha? – perguntei, naturalmente pensando tratar-se de esmola.

        – Nada não senhor – respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.

        – O que é que você está me olhando aí?

        – Nada não senhor – repetiu. – Esperando o bonde…

        – Onde é que você mora?

        – Na Praia do Pinto.

        -- Vou para aquele lado. Quer uma carona?

        Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:

        – Entra aí, que eu te levo.

        Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade, ia olhando duro para a frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:

        – Como é o seu nome?

        – Teresa.

        – Quantos anos você tem, Teresa?

        – Dez.

        – E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?

        – A casa da minha patroa é ali.

        – Patroa? Que patroa?

        Pela sua resposta pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: lavava, varria a casa, servia a mesa. Entrava às sete da manhã, saía às oito da noite.

        – Hoje saí mais cedo. Foi jantarado.

        – Você já jantou?

        – Não. Eu almocei.

        – Você não almoça todo dia?

        – Quando tem comida pra levar, eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida para mim.

        – E quando não tem?

        – Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos – um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.

        – Mas não te dão comida lá? – perguntei, revoltado.

        – Quando eu peço eles me dão. Mas descontam no ordenado, mamãe disse pra eu não pedir.

        – E quanto você ganha?

        – Mil cruzeiros.

        – Por mês?

        Diminuí a marcha, assombrado, quase parei o carro, tomado de indignação. Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.

        – Como é que você foi parar na casa dessa… foi parar nessa casa? – perguntei ainda, enquanto o carro, ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da Praia do Pinto. Ela disparou a falar:

        – Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras e aí noutro dia pediu à mamãe pra eu trabalhar na casa dela então mamãe deixou porque mamãe não pode ficar com os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são soldados pode parar que é aqui moço, brigado.

        Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto.”

As melhores histórias. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 197-199.

         Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 143/8.

Entendendo a crônica:

01 – Ao ver a menina, o narrador pensou que ela queria esmola: “– O que foi, minha filha? – perguntei, naturalmente pensando tratar-se de esmola.”

a)   A menina não era uma pedinte: trabalhava, estava à espera de um ônibus, para voltar para casa; o que leva o narrador a pensar que ela queria esmola?

A aparência da menina: negrinha, mirrada, raquítica. 

b)   Por que o narrador considera natural que aquela menina estivesse pedindo esmola?

Porque negrinha, mirradas, raquíticas em geral estão nas ruas pedindo esmolas.

02 – Observe as comparações:

“... dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho...”.

“... um fiapo de gente, encostada ao poste como um animalzinho...”.

Por que a menina lembra um bicho, um animalzinho?

      Pelo seu aspecto físico (mirrada, raquítica), sua atitude (espiando com olhos grandes e parados), sua solidão (sozinha, junto ao meio-fio), não lembram um ser humano, mas um bicho, um animalzinho.

03 – Compare:

·        Impressão do narrador: “... não teria mais que uns sete anos...”

·        Resposta da menina ao narrador: “Quantos anos você tem, Teresa?” – “Dez”.

·        Como o narrador descreve a aparência da menina: “... suas feições de criança... podiam ser as de uma velha.”

a)   Por que do narrador achou que uma menina de dez anos tinha sete?

Porque era miúda, magrinha, desnutrida.

b)   Se o narrador pensou que a menina tinha set anos, por que acha que sua aparência podia ser a de uma velha?

Porque, embora parecendo uma criança de sete anos, não tinha feições de criança: eram feições pálidas, sem energia, sem viço, como as de pessoas velhas.

04 – Localize este trecho do diálogo em que o narrador quer saber o que acontece, quando a menina não tem comida:

“– E quando não tem?

 – Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez.”.

        Diante da pergunta, a atitude da menina muda: ela parece sorrir, ela olha pela primeira vez para o narrador. Por que a pergunta desperta na menina essa reação?

      Porque a pergunta lhe parece boba, ingênua, de resposta óbvia – nas condições em que ela vive, é rotina que, quando não se tem o que comer, simplesmente não se come.

05 – Recorde os sentimentos do narrador: “Eu não me continha mais de aflição...”; “... perguntei revoltado.”; “Diminui a marcha, assombrado...”. Localize esses trechos na crônica e explique cada um desses sentimentos:

a)   O que causou aflição?

A menina às vezes não tinha o que comer.

b)   O que causou a revolta?

Não davam comida à menina, no emprego.

c)   O que causou o assombro?

O salário insignificante que a menina ganhava.

06 – Recorde esta outra reação do narrador: “... um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.” Leia o significado das palavras:

·        Sentimentalismo – excesso de emoção ou sentimento.

·        Burguês – próprio de indivíduo pertencente à classe que tem situação social e econômica confortável.

Escolha a escreva, em seu caderno, a frase que, entre as seguintes, expressa como se sentia o narrador, afogado em sentimentalismo burguês:

·        Constrangido com a diferença entre seus filhos bem nutridos e a menina.

·        Comovido com o contraste entre a sua boa condição de vida e a pobreza da menina.

·        Desgosto por ter de tomar conhecimento da pobreza, da miséria, da fome.

07 – Recorde a reação do narrador, quando soube quanto a menina ganhava:

“Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.

        – Como é que você foi parar na casa dessa… foi parar nessa casa?”

a)   O narrador interrompe a frase: “na casa dessa...”

·        Por que ele não completa a frase?

Não completa a frase porque não quis dizer um palavrão; não quis criar na menina uma atitude negativa em relação à patroa; censurou a crítica à mulher.

·        Complete você a frase: que palavra você acha que ele ia falar?

São várias as palavras que podem completar a frase, desde palavrões até outras como megera, bruxa, desnaturada, exploradora de menores...

b)   Que “culpas” tinha a mulher, para irritar assim o narrador?

Colocar uma criança para trabalhar, pagar um salário insignificante, descontar do salário o que a menina comesse.

08 – Compare as atitudes da menina no início e no fim da história:

        NO INÍCIO = “respondeu-me, a medo”; “vacilou, intimidade”; “acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco”; “não ousava fazer o menor movimento”.

        NO FIM = “disparou a falar”; “ela abriu a porta e saltou”; “saiu correndo”.

        O que explica a mudança de atitude da menina, ao aproximar-se do lugar onde morava?

      Mais provável: ânsia de libertar-se do mundo da patroa e do narrador; vontade de voltar para casa, de reencontrar-se em seu próprio meio.

09 – A expressão “na escuridão miserável” aparece duas vezes na crônica:

·        Na frase final – “... perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto”.

·        No título: Na escuridão miserável.

a)   A que se refere a expressão, quando usada no final da crônica?

À escuridão da praia, da favela, sem iluminação, e à pobreza do local, à miséria dos que ali vivem.

b)   A que se refere a expressão, quando usada como título da crônica?

Às injustas condições de vida dos pobres, dos miseráveis. (O título toma a expressão como uma metáfora: escuridão representa a falta de condições razoáveis de vida, a escuridão em que vivem os miseráveis).

10 – Recorde a definição de crônica:

        Crônica – texto em geral curto, que faz o registro do cotidiano – fatos, sensações, impressões – mostrando ora seu lado pitoresco ou cônico, ora seu lado trágico, ora seu lado comovente, poético.

a)   Que lado do cotidiano o cronista mostra na crônica?

O lado trágico do cotidiano (sombrio, triste, chocante); é também possível ver, na crônica, o lado comovente do cotidiano.

b)   Entre os muitos fatos do cotidiano, o cronista escolhe, para tema de sua crônica, um fato aparentemente comum, trivial: a carona que deu a uma menina. Contando esse fato trivial, o que, na verdade, o cronista quis revelar ao leitor?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O absurdo do trabalho infantil; a injustiça social; a maldade humana; o contraste entre boas condições de vida e condições miseráveis de vida.

 

 


quarta-feira, 8 de julho de 2020

CRÔNICA: ASPIRADOR - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

Crônica: ASPIRADOR         

                 Fernando Sabino

        Antes que eu lhe pergunte o que deseja, o gordinho começa a exibir-me uma aparelhagem complicada, ainda na porta da rua. São tubos que se ajustam, fio para ligar na tomada, escovinhas de sucção e outros apetrechos.

        -- Entre – ordenei.

        Ora, acontece que jamais prestei sentido na existência dos aspiradores de pó.

        Por isso é que fui logo cometendo a imprudência de convidar o gordinho a exibir-se de uma vez no interior da sala. Na porta da rua venta e faz muito pó, disse-lhe ainda, tentando um trocadilho infeliz. Entramos os dois, para a tradicional peleja entre comprador e vendedor.

        Vi o gordinho desdobrar-se, suando, estica o fio, não dá até a tomada, arrasta a cadeira um pouco para lá, não é isso mesmo? Ah, sim, com licença, quer limpar esse tapete?

        É um tapete que arrasto comigo há anos, por todos os lugares em que venho morando. Já abafou meus passos em dias de inquietação, já recebeu alguns pulos meus de alegria, e manchas de café, de tempo, de poeira dos sapatos. Pois olhe só – em dois tempos o gordinho pôs a engenhoca a funcionar, esfrega daqui e dali, praticamente mudou a cor do meu tapete.

        -- Agora é que o senhor vai ver – anunciou, feliz, revelando-me a existência, dentro do aparelho, de uma sacola onde o pó se acumulava. Exibiu-me seu conteúdo com um sorriso de puro êxtase, o tarado.

        Aquilo me decepcionou: pois se tinha de despejar o pó no lixo, por que não recolhê-lo de uma vez com a vassoura? Evidente burrice da minha parte – o gordinho devia estar pensando: com certeza eu esperava que o pó se volatilizasse dentro do aspirador, num passe de mágica?

        Deixei que ele me enumerasse as outras aplicações do miraculoso aparelho: servia para escovar um terno, por exemplo, quer ver? E voltou para mim o cano da arma, que num terrível chupão quase me leva a manga do paletó.

        -- Serve também para massagens. Com sua licença – e passou-me no rosto a ponta do tubo. Minha pele foi repuxada sob a improvisada ventosa, deslocando-se ruidosamente num violento beijo de cavalo.

        -- Basta! – protestei: – Estou convencido. Compro o aspirador.

        -- E digo mais – prosseguiu ele, sem me ouvir: – Serve para refrescar o ambiente. Duvida? E só virar ao contrário...

        -- Não duvido não. Já está comprado. – ... e funciona como um perfeito ventilador.

        Fui buscar o dinheiro, paguei e despedi sumariamente o gordinho que, perplexo, continuava ainda a recitar sua lição:

        -- Aspira o pó dos lugares mais inacessíveis: aspira atrás das estantes, aspira cinzeiros, aspira...

        -- Obrigado, obrigado – e fechei a porta atrás dele.

        Passei o resto da tarde me distraindo com a nova aquisição. De todas as maneiras: aspirei cinzeiros, estofados, cortinas, ternos, aspirei atrás das estantes, fiz desaparecer, até o último grão, o pó existente na casa.

        Então tentei retirar das entranhas do aspirador a tal sacola, como o gordinho me havia ensinado. Para meu júbilo, estava bojuda como um balão. Só não me lembrei foi de desligar o aparelho que, como ele me havia ensinado também, virado ao contrário funciona como um perfeito ventilador: de súbito, explode no ar uma bomba de pó acumulado. Tudo voltou ao que era dantes, fui à cozinha buscar uma vassoura. És pó e em pó reverterás – pensei comigo.

Fernando Sabino.

Entendendo a crônica:

01 – Em relação ao gênero textual do texto “Aspirador” podemos afirmar que trata-se de uma crônica. Tal evidencia está no fato deste tipo de texto ser de:

a)   Narração rebuscada, em ordem inversa.

b)   Dissertação simples, de interesse popular.

c)   Narração simples, seguindo a ordem em que os fatos vão se dando.

d)   Descrição de pessoas em detrimento dos objetos do texto.

02 – A respeito da compreensão d texto, é correto afirmar que:

a)   O vendedor do aspirador de pó vendeu um produto com defeito.

b)   Apesar do desfecho do texto, o comprador não foi enganado pelo vendedor do aspirador de pó.

c)   No desfecho, percebemos que o produto era enganoso.

d)   O comprador do aspirador de pó ludibriou o vendedor.

03 – No excerto “Já abafou meus passos em dias de inquietação, já recebeu alguns pulos meus de alegria, e manchas de café, de tempo, de poeira dos sapatos”. O antônimo da palavra inquietação está descrito na alternativa:

a)   Causar inquietação.

b)   Impertubalidade.

c)   Não deixar tranquilo.

d)   Desassossegar.

04 – No fragmento extraído do texto: “-- Agora é que o senhor vai ver – anunciou, feliz, revelando-me a existência, dentro do aparelho, de uma sacola onde o pó se acumulava. Exibiu-me seu conteúdo com um sorriso de puro êxtase, o tarado.” O termo em destaque tem o mesmo sentido de:

a)   Arrebatamento do espírito.

b)   Livramento do espírito.

c)   Destemer-se do espírito.

d)   Enfrentamento do espírito.

05 – Leia o período a seguir para responder a questão: “Evidente burrice da minha parte – o gordinho devia estar pensando: com certeza eu esperava que o pó se volatilizasse dentro do aspirador, num passe de mágica?” podemos afirmar que a palavra em destaque é compreendida no texto como:

a)   Oficializar-se.

b)   Segregar-se.

c)   Consentir-se.

d)   Reduzir-se.

06 – Leia o período a seguir para responder a questão: “— Basta! – protestei: – Estou convencido. Compro o aspirador”. A pontuação em destaque é o ponto de exclamação, representado por (!”). Utilizamos esta pontuação quando:

a)   Desejamos assinalar uma pergunta.

b)   Desejamos separar parte de uma lista ou parte de frases.

c)   Desejamos assinalar uma interjeição, uma emoção, admiração.

d)   Desejamos o final de uma frase declarativa.

        Leia o seguinte fragmento para responder as questões de n° 7 ao n° 10.

        “— Aspira o pó dos lugares mais inacessíveis: aspira atrás das estantes, aspira cinzeiros, aspira...”.

07 – O termo “aspira”, em destaque no fragmento, funciona em sua classificação como:

a)   Verbo.

b)   Advérbio.

c)   Substantivo.

d)   Adjetivo.

08 – O termo “dos” tem importante funcionamento no período da oração porque funciona como:

a)   Pronome.

b)   Artigo.

c)   Preposição.

d)   Conjunção.

09 – A palavra “mais”, destaca no fragmento, tem a função de:

a)   Advérbio.

b)   Verbo.

c)   Sujeito.

d)   Numeral.

10 – O termo “inacessíveis” é classificado no fragmento como:

a)   Substantivo.

b)   Pronome.

c)   Verbo.

d)   Adjetivo.