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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

TEXTO LITERÁRIO:SOLO DE CLARINETA - (FRAGMENTO) - ÉRICO VERÍSSIMO - COM GABARITO

Texto: SOLO DE CLARINETA
           Érico Veríssimo

        Fui devidamente matriculado no ginásio episcopal por minha mãe, que pagou a matrícula com o seu dinheiro.
        Andei macambúzio naqueles meses de princípios de 1920. Doía-me a ideia de ter de passar nove meses inteiros longe de minha gente e de minha casa. Um novo capítulo na minha vida estava por começar.
        Nunca minha terra natal me pareceu mais suave e bela naquele verão do primeiro ano da década dos 20. Eu saía em passeios de despedida pelas ruas da cidade, em casa olhava com uma ternura particular para a ameixeira-do-Japão, que tanta coisa parecia dizer-me em seu silêncio.
        O meu “drama” era consideravelmente agravado por um fato sentimental da maior relevância. Eu estava então seriamente enamorado duma menina pouco mais moça que eu e que correspondia ao meu afeto. Chamava-se Vânia, tinha nas veias sangue italiano, um rosto redondo e corado e uma vivacidade que frequentemente embaraçava o Tibicuera de D. Bega.
        Chegou o dia da partida. Despedi-me de Vânia na véspera, com um simples aperto de mão. Combinamos a melhor maneira de manter uma correspondência secreta durante minha ausência. Juramo-nos amor eterno.

                          VERÍSSIMO, Érico. Solo de clarineta. 1. 5. ed. Porto Alegre.
                                                                                           Globo, 1974. p. 122-3.
Macambúzio: taciturno, triste.

Entendendo o texto:
01 – O texto é narrado em primeira ou em terceira pessoa? Transcreva verbos e pronomes do segundo parágrafo que justifiquem sua resposta.
       O texto é narrado em primeira pessoa. (Andei, doía-me, minha.)

02 – No texto narram-se um fato principal, um fato secundário e as impressões no narrador diante desse fatos.
     a) Identifique o fato principal.
      O narrador muda-se para outra cidade, para estudar.

     b) Identifique o fato secundário.
      O namoro com Vânia.

03 – O narrador atribui maior importância aos fatos ou a seus sentimentos diante dos fatos? Justifique sua resposta.
       No texto prevalece o registro dos sentimentos do narrador. Os fatos ocupam apenas o primeiro parágrafo e parte do quarto parágrafo.

04 – No texto predomina a subjetividade (visão pessoal, particular, individual do assunto). Transcreva um verbo do terceiro parágrafo que justifique tal afirmativa.
       Parecer. (Ocorre duas vezes).

05 – O objetivo principal do narrador é informar o leitor ou expor seus sentimentos?
       O texto caracteriza-se, sobretudo, pela exposição dos sentimentos do narrador.

terça-feira, 2 de maio de 2017

UM CERTO CAPITÃO RODRIGO - ÉRICO VERÍSSIMO - (FRAGMENTO) COM GABARITO

UM CERTO CAPITÃO RODRIGO

        Antes de começar o ataque ao casarão, Rodrigo foi à casa do vigário.
        --- Padre! – gritou, sem apear. Esperou um instante. Depois: --- Padre! A porta da meiágua abriu-se e o vigário apareceu.
        --- Capitão! – exclamou ele, aproximando-se do amigo e erguendo a mão, que Rodrigo apertou com força
        --- Foi só pra saber se vosmecê estava aqui ou lá dentro do casarão. Eu não queria lastimar o amigo...
        --- Muito obrigado, Rodrigo, muito obrigado. --- O Padre Lara sacudiu a cabeça, desalentado. --- Vosmecê vai perder muita gente, capitão. Os Amarais são cabeçudos e tem muita munição.
        --- Eu também sou cabeçudo e tenho muita munição.
        --- Por que não espera o amanhecer?
        Rodrigo deu de ombros.
        --- Pra não deixar a coisa esfriar.
        --- Olhe aqui. Vou lhe dar uma ideia. Antes de começar o assalto, por que vosmecê não me deixa ir ao casarão ver se o Cel. Amaral consente em se render pra evitar uma carnificina?
        --- Não, padre. Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti. Não é assim que diz nas Escrituras? Se alguém me convidasse pra eu me render eu ficava ofendido. Um homem não se entrega.
        --- Mas não há nenhum desdouro. Isto é uma guerra entre irmãos.
        --- São as mais brabas, padre, são as mais brabas.
        De cima do cavalo Rodrigo ouvia a respiração chiante e dificultosa do sacerdote. Lembrou-se das muitas conversas que tiveram noutros tempos.
        --- Vosmecê é um homem impossível... – disse o padre, desolado.
        --- Acho que esta noite vou dormir na cama do velho Ricardo. – Sorriu. – Mas sem a mulher dele, naturalmente... E amanhã de manhã quero mandar um próprio levar ao chefe a notícia de que Santa Fé é nossa. A Província toda está nas nossas mãos. Desta vez os legalistas se borraram! Até logo, padre.
        Apertaram-se as mãos.
        --- Tome cuidado, capitão. Vosmecê se arrisca demais.
        --- Ainda não fabricaram a bala que há de me matar! – Gritou Rodrigo, dando de rédea.
        --- A gente nunca sabe – retrucou o padre.
        --- E é melhor que não saiba, não é?
        --- Deus guie vosmecê!
        --- Amém! – replicou Rodrigo, por puro hábito, pois aprendera a responder assim desde menino.
        O padre viu o capitão dirigir-se para o ponto onde um grupo de seus soldados o esperava. A noite estava calma. Galos de quando em quando cantavam nos terreiros. Os galos não sabem de nada – refletiu o padre. Sempre achara triste e agourento o canto dos galos. Era qualquer coisa que o lembrava da morte. Voltou para casa, fechou a porta, deitou-se na cama com o breviário na mão, mas não pode orar. Ficou de ouvido atento, tomado duma curiosa espécie de medo. Não era medo de ser atingido por uma bala perdida. Não era medo de morrer. Não era nem medo de sofrer na carne algum ferimento. Era medo do que estava para vir, medo de ver os outros sofrerem. No fim de contas – se esmiuçasse bem – o que ele tinha mesmo era medo de viver, não de morrer.
                                    VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento 1; o continente.
                                                             São Paulo, Círculo do livro, s.d. p. 314-5.

Meiágua: habitação com telhado de um só plano.
Desdouro: descrédito, desonra.
Próprio: mensageiro, portador.
Breviário: livro de rezas.

1 – Com que finalidade Rodrigo foi à casa do vigário?
       Rodrigo queria verificar se o padre não estava no casarão que is ser atacado.

2 – Qual era a posição assumida pelo padre na luta entre Rodrigo e a família Amaral?
       O padre servia de intermediário, tentando apaziguar as duas famílias que brigavam.

3 – Rodrigo apesenta algumas características de comportamento semelhantes às de seus inimigos. Que características são essas?
        A teimosia e a persistência.

4 – Rodrigo justifica sua atitude ao padre por meio de um recurso bastante convincente. Que recurso é esse?
        Rodrigo utiliza versículos bíblicos.

5 – Que frases do texto revelam um traço supersticioso do padre? Transcreva-as.

        “Sempre achara triste e agourento o canto dos galos. Era qualquer coisa que o lembrava da morte”.